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ACTIVIDADE FINANCEIRA E DIREITO FINANCEIRO


 
1. Caracterização da actividade financeira
As exigências de satisfação das necessidades económicas de carácter
público e de obtenção de meios indispensáveis à respectiva cobertura impõem
ao Estado, e às outras entidades públicas, uma actividade económica com
características próprias, a actividade financeira.
Destinada a assegurar a satisfação das necessidades públicas, a actividade
financeira abrange a aquisição de meios económicos, o emprego desses meios
e a coordenação dos meios obtidos e das utilidades a realizar.
 
2. Conceito de Direito Financeiro
Trata-se da definição dos poderes das entidades públicas na obtenção e no
emprego dos meios económicos destinados à realização dos seus fins.
Este conceito, baseia-se numa ideia central de limitação de poderes das
entidades públicas, como tais. Quando as entidades públicas obtêm receitas
nos mesmos termos que os particulares não faz sentido qualquer ideia de
limitação específica dos poderes dessas entidades.
Como disciplina jurídica da utilização de meios económicos pelas entidades
públicas, o Direito Financeiro abrange um amplíssimo sector de receitas
públicas, todo o sector das despesas públicas e a coordenação das despesas e
das receitas públicas. Excluem-se do Direito Financeiro, fundamentalmente, as
receitas públicas de origem privada, cujas relações jurídicas respectivas hão-de
ser definidas por outros ramos de Direito.
 
3. Divisão interna do Direito Financeiro
O Direito Financeiro, compreende três ramos que, embora sem autonomia
científica, cada um deles, são nitidamente separáveis – o Direito das Receitas,
o Direito das Despesas e o Direito da Administração Financeira.
 
4. Noção de Direito Fiscal ou Tributário como Direito dos Impostos
O Direito dos Impostos, Direito Tributário, ou Direito Fiscal, é o ramo de
Direito Financeiro que corresponde á insuficiência do património e do domínio
para suportarem as despesas crescentes das comunidades políticas. É assim
logicamente supletório, no sentido de que visa a preencher aquela
insuficiência.
 
5. Caracteres essenciais do fenómeno tributário
O imposto pode corresponder a uma prestação, a uma relação jurídica ou a
um instituto jurídico.
A relação jurídica de imposto tem carácter obrigacional ou creditício, tem
por fim a realização de uma receita pública e não depende de outros vínculos
jurídicos, nem determina para o sujeito activo respectivo qualquer dever de
prestar específico.
Tendo carácter obrigacional, creditício, o objectivo da relação jurídica de
imposto é de natureza patrimonial. E a respectiva prestação apresenta
geralmente natureza pecuniária. No entanto tal natureza pecuniária não é
essencial.
Tendo por fim a realização de uma receita pública, a relação jurídico-
tributária é estruturada em termos de o respectivo sujeito activo apresentar
normalmente a natureza de entidade pública.
Não dependendo de outros vínculos jurídicos nem determinando para o
sujeito activo qualquer dever de prestar específico, a relação de imposto não
implica qualquer contraprestação para as entidades públicas credoras; nem
cria para as entidades públicas, o dever de reembolsar as prestações
tributárias por elas recebidas. Contudo, será logicamente admissível o
reembolso de impostos, não com fundamento num direito do contribuinte e no
correspondente dever de uma entidade pública, mas sim na base da mera
faculdade desta.
 
6. Imposto e a Taxa
O Imposto, é uma prestação obrigatória estabelecida pela lei a favor de
entidades que exerçam funções públicas e para satisfação de fins públicos que
não constituam sanção de actos ilícitos.
No plano da economia financeira a separação entre imposto e taxa pode
estabelecer-se com relativa facilidade, na base do critério da divisibilidade ou
indivisibilidade dos serviços públicos. As taxas, são progressivas porque
aumentam mais que proporcionalmente, há medida que o rendimento aumenta,
taxa progressiva, é a taxa que varia mais que proporcionalmente à variação
do rendimento. O Estado e as outras entidades públicas prestam serviços cuja
utilidade não é divisível pelos cidadãos. A defesa nacional e a diplomacia
constituem exemplos nítidos de serviços públicos indivisíveis e,
consequentemente, suportados pelo imposto. De outros serviços públicos,
porém, extraem os particulares utilidades individualizáveis. É o caso dos
serviços de instrução, de justiça e de muitos outros, ora quando através dos
serviços públicos se prestam utilidades particulares, individualizáveis, quando
esses serviços são divisíveis, em suma, há a possibilidade de realizar a sua
cobertura financeira, ou parte dela, através do pagamento de prestações
exigíveis dos particulares que utilizam tais serviços. Atendendo à diversidade
de estruturação legal, o vínculo jurídico de taxa tem por causa a prestação por
uma entidade pública de utilidades individualizadas. Quer dizer que a taxa,
como aliás o preço também apresenta origem sinalagmática. É este aspecto
precisamente que separa com nitidez a taxa de imposto. Porque a taxa tem por
causa a realização de uma utilidade individualizada, ela depende de outro
vínculo jurídico, o que não acontece com o imposto.
 
7. Classificações jurídicas de impostos
a) Impostos estaduais e não estaduais:
Nem sempre o Estado é credor do imposto, o sujeito activo da relação
jurídico-tributária. Esta constitui-se, muitas vezes, em benefício de uma
Autarquia Local ou de um Instituto Público. Daí a separação dos impostos
estaduais e não estaduais. A origem de uns e de outros é legal e, portanto,
estadual; mas só em relação aos primeiros o Estado se apresenta como
credor. Note-se que os impostos não estaduais são os estruturados no sentido
da sua atribuição a uma entidade diversa do Estado. Mas acontece
frequentemente que a receita de um imposto estadual seja cedida pelo Estado
a outra entidade pública.
b) Impostos directos e indirectos:
Os impostos directos, visam atingir faculdades contributivas permanentes,
estáveis, enquanto os indirectos, visam atingir faculdades contributivas
intermitentes, instáveis, passageiras, é aquele que geralmente tem inspirado as
leis e contabilidade pública. São impostos directos, aqueles cujo o lançamento
se baseia na elaboração prévia de um rol nominativo de contribuintes; e
indirectos os outros.
c) Impostos reais e pessoais:
Os impostos reais, visam a atribuição de bens económicos, de riqueza, em
termos objectivos, sem que nessa tributação se vão reflectir as condições
pessoais do contribuinte, os impostos pessoais, pelo contrário, procuram
atingir certos bens por pertencerem, ou respeitarem a determinadas pessoas,
cuja capacidade contributiva e outras circunstâncias pessoais, são tidas em
conta, através de alguns aspectos da tributação.
Raramente se encontrarão impostos que visem apenas aspectos pessoais.
Mas pode admitir-se a classificação na base do maior ou menor relevo desses
aspectos. Assim, segundo o critério da predominância, serão reais, além de
todos os impostos de consumo, do selo e aduaneiros, os impostos prediais.
Segundo este mesmo critério de predominância, de aspectos objectivos ou
subjectivos, serão pessoais o imposto sucessório e o IRS, cujas taxas e outros
elementos variam, não apenas em função da capacidade contributiva mas
também em função de outros factores respeitantes à pessoa do contribuinte.
Tendo de reconhecer-se que os impostos indirectos são sempre reais, ou
objectivos, nota-se facilmente que a destrinça oferece interesse escasso, do
ponto de vista jurídico, porquanto no campo dos impostos directos é fácil
distinguir diversidade de tratamento quanto ao nascimento e à estrutura da
obrigação de imposto entre reais e os pessoais.
d) Impostos de cotidade:
Cada contribuinte tem uma percentagem equivalente a uma cota (variável)
dependente do rendimento.
e) Imposto de repartição:
São todos relativos aos quais a responsabilidade dos financiadores é igual,
independentemente da sua capacidade contributiva.
 
8. Âmbito e enquadramento do Direito Fiscal
Direito Fiscal, será o sistema de normas jurídicas que disciplinam as
relações de imposto e definem os meios e os processos pelos quais se
realizam os direitos emergentes daquelas relações.
O Direito Fiscal tem natureza institucional. As suas normas não se integram
no Direito Comum, cuja disciplina é genérica, comum às mais diversas
instituições. Visam, pelo contrário, disciplinar certos tipos de relações,
constituídas na base das instituições tributárias, as quais encontram a sua
origem na ideia-força, enraizada no seu meio social, da necessidade da
contribuição dos patrimónios dos particulares para a sustentação da
comunidade. Dir-se-á mesmo que essa raiz institucional dá unidade ao Direito
Fiscal, através do sentido teleológico das suas normas, o qual provém daquela
mesma raiz.
O sistema fiscal (art. 103º/1 CRP), visa a satisfação das necessidades
financeiras do Estado, e outras entidades públicas de uma repartição justa dos
rendimentos e da riqueza.
O princípio da generalidade, a lei fiscal aplica-se a todos os contribuintes,
sejam eles activos ou passivos.

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