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DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

GERAÇÃO, TRANSMISSÃO E DISTRIBUIÇÃO


DE ENERGIA ELÉTRICA
AUTORES

Prof. LUIZ FERNANDO BOVOLATO


Profa. MARIÂNGELA DE CARVALHO BOVOLATO

MARÇO / 2009

1
1a PARTE

2
PREFÁCIO

Este material didático foi preparado pelo Professor Luiz Fernando Bovolato e pela
Professora Mariângela de Carvalho Bovolato tendo como base, principalmente, o livro de
Fuchs, Rubens Dario, Transmissão de Energia Elétrica - Linhas Aéreas, volume 1, Rio de
Janeiro, Livros Técnicos Editora / Escola Federal de Engenharia de Itajubá, 1977 e o livro de
Stevenson Jr., William D., Elementos de Análise de Sistemas de Potência, São Paulo,
Editora McGraw – Hill do Brasil, Ltda, 1974, 1ª Edição em língua portuguesa, com o objetivo
de suprir a pequena quantidade de exemplares destes livros, existentes na biblioteca e, por
estarem esgotadas todas as edições da primeira referência e a 1ª edição da segunda referência
bibliográfica citadas.
Estes livros, principalmente o primeiro citado, tratam o conteúdo da disciplina
Transmissão de Energia Elétrica em sua totalidade e com a profundidade adequada. Os
autores deste material didático desconhecem a existência de referência bibliográfica tão
completa neste assunto. Com isto desejamos registrar nosso reconhecimento e homenagem à
memória do Professor Rubens Dario Fuchs.
A segunda referência bibliográfica é um clássico e também aborda com qualidade
diversos tópicos necessários ao desenvolvimento da referida disciplina.
Pelos motivos expostos estes livros formam a base do curso ministrado e deste
material.
Finalizando desejamos registrar nossos sinceros agradecimentos aos alunos Matheus
Bernado Menossi, Rodrigo Mazo Rocha, Rafael Borges Rodrigues e as alunas Talita
Tozetto Esteves e Vanessa Rodrigues Puggina, pela colaboração na digitação deste
material. Pelo desprendimento, construção de uma vida acadêmica séria e participativa e
ainda pelo trabalho em grupo, não temos dúvidas de que serão excelentes profissionais. A
todos, o nosso muito obrigado.

Os autores

3
1. Introdução:

A expressão linha de transmissão se aplica em todos os elementos de circuitos, que se


destinam ao transporte de energia, independente da quantidade transportada.
Nosso enfoque será dado apenas às linhas clássicas, considerando apenas aquelas
formadas por ligações físicas entre uma fonte geradora de energia e um elemento consumidor
dessa energia. Os termos fonte e consumidor de energia devem ser entendidos como
transmissor e receptor de energia respectivamente. Essa ligação física é feita por meio de
condutores, os quais são mantidos sob diferença de potencial e pelos quais circula corrente
elétrica.

Centro de Consumo
Centro de Produção
ou
ou
Linha de Transmissão Distribuição de
Geração de Energia
Energia Elétrica
Elétrica
RECEPTOR
TRANSMISSOR

Fig. 1.01 – Representação de uma linha de transmissão

2. Análise qualitativa:

As soluções matemáticas dos fenômenos físicos exigem, em geral, simplificações e


idealizações. Assim, a obtenção de uma expressão matemática, a partir de princípios
fundamentais deve, além da fórmula, fornecer todas as informações referentes às restrições,
aproximações e limitações que são impostas, sob pena de fazer-se uso indevido da mesma.
Assim, é conveniente efetuar-se uma análise qualitativa dos fenômenos eletromagnéticos que
ocorrem nas linhas antes de partir para uma solução matemática.

2.1. Energização de uma linha

Considere uma linha de transmissão ideal(resistência nula – não existe perdas por efeito
Joule), perfeitamente isolada(afastada de qualquer influência externa) e imersa em um meio
dielétrico perfeito(não existe perdas de energia no dielétrico entre os condutores),
representada na figura 2.02.
Seja C[F/km] a capacitância entre condutores, L[H/km] sua indutância, ℓ[km] o seu
comprimento e R 2 um dissipador de energia colocado junto ao terminal receptor da linha.
L∆x L∆x L∆x
t=0
V R2
C∆x C∆x C∆x

ℓ[km]
Ax[km]

Fig. 2.02 – Circuito representativo de uma linha bifilar ideal

Aplicando-se no instante t=0, uma tensão V[kV] nos terminais 1 e 1’, esta irá aparecer
nos terminais do 1o elemento infinitesimal Δt[s] depois, e assim sucessivamente até o terminal
receptor da linha, isto porque a corrente através do elemento Δx não Lpode atingir
instantaneamente seu valor I 0 [A]. Uma vez atingido o valor I 0 [A] este se mantém constante.
Esta corrente denomina-se corrente de carga da linha.
4
Cargas elétricas dão origem a campos elétricos e a movimentação delas da origem a
campos magnéticos que se propagam do gerador para o receptor.
Define-se velocidade de propagação pela seguinte relação:


υ= [km / s] (2.01)
T

Onde:
ℓ = comprimento da linha, [km];
T = tempo para que a tensão no receptor atinja o valor V, [s].

Enquanto o valor da tensão da fonte permanecer inalterado a corrente também irá


permanecer na mesma condição. Desta forma é possível definir uma impedância de entrada da
linha, logo :
V (2.02)
= [Ω]
Z0
I0

A corrente através da seção transversal do condutor pode ser escrita como segue

I0 = V C υ (2.03)

Assim como a tensão pode ser posta na seguinte forma:

V = I0 L υ (2.04)

Com base nas expressões (2.03) e (2.04) a impedância pode ainda ser colocada nas
seguintes formas:

1 (2.05)
Z0 = [Ω]

Z0 = L υ [Ω] (2.06)

Igualando as duas expressões da impedância, (2.05) e (2.06), tem-se:

1
υ= (2.07)
LC

Esta velocidade é da ordem da velocidade de propagação da luz no vácuo, isto é: 3x105


km/s.
Observando-se a expressão (2.07) é possível concluir que a velocidade depende do meio
e das dimensões do arranjo da linha (introduzidas pelas grandezas L e C)
A expressão para obtenção da impedância pode ainda ser redefinida em função dos
parâmetros elétricos da linha. Levando-se a expressão (2.07) em qualquer uma das expressões
anteriores da impedância, (2.05) ou (2.06), obtém-se:

Z0 =
L
[Ω] (2.08)
C

5
Com base na expressão acima e possível concluir que a impedância independe do
comprimento da linha, dependendo do meio e das dimensões da silhueta da torre.
Assim, têm-se valores constantes para cada linha. Esta grandeza característica
denomina-se impedância natural ou impedância de surto da linha.
Desta forma, mantendo-se a tensão constante, tem-se:

V (2.09)
I0 = = cte
Z0

Isto é, a corrente também independe do comprimento da linha. Isto é óbvio uma vez que
quando a corrente de carga I 0 começa a fluir, desconhece o comprimento da linha e a forma
como é terminada.

2.2. Energia Armazenada

Para cada Δt[s] gasto para energizar um trecho Δx[km], a fonte fornece a mesma
quantidade de energia dada por V I 0 Δt.
Sendo a linha ideal, não existem perdas e toda a energia será armazenada nos campos
elétrico e magnético.

2.2.1. No campo magnético ( 1 Li 2 )


2
Em termos do circuito representado pela figura 2.02, tem-se:

I0 L ∆x
2
(2.10)
∆E m = [ W.s]
2

2.2.2. No campo elétrico ( 1 Cv 2 )


2
Ainda com base nos elementos definidos na figura 2.02, resulta:

V C ∆x
2
(2.11)
∆E e = [ W.s]
2

Observando-se que o armazenamento ocorre simultaneamente.


1 (2.12)
V I0 ∆t = I0 L∆x + V C∆x ]
2 2
[ [ W.s]
2

Demonstra-se que a energia divide-se igualmente pelos campos elétrico e magnético,


isto é:

∆E m = ∆E e (2.13)

Caso a linha tivesse comprimento infinito, o processo de energização duraria


indefinidamente. Como as linhas têm comprimento finito, ocorrem fenômenos cujo
comportamento está diretamente ligado à forma como a linha é terminada, isto é, das
condições em sua extremidade receptora.

6
A. Linha com resistência terminal igual a Zo: R2 = Zo

Considere a linha representada na figura 2.03.


I0

V I2 R2 = Z0

ℓ[km]
Fig. 2.03 – Representação de linha com resistência elétrica no terminal receptor de
mesmo valor da impedância natural

Pelas condições estabelecidas pode-se escrever:

V V (2.14)
I0 = = I2 =
Z0 Z2

Como no terminal receptor não existe armazenamento de energia, toda a energia


fornecida pela fonte será dissipada em R2.
Logo,

V I 0 ∆t = R 2 I 02 ∆t (2.15)

e a corrente I0 continuará tendo o mesmo valor inicial. Daí as linhas assim terminadas
serem denominadas de comprimento infinito.
Na figura 2.04 representa-se o comportamento da tensão e da corrente para esta
situação.
Tensão

V
V2

Corrente

I0

I2

Fig. 2.04 – Representação da tensão e corrente para uma linha terminada com R2=Z0

Quando o valor de R2 difere do valor de Z0, o equilíbrio traduzido pela igualdade Z0 I0 =


R2 I2 é alterado. Nestas condições têm-se duas situações a considerar:

B. Linha com resistência terminal maior que Zo: R2’ > Zo


7
Considere a linha representada na figura 2.05.
I0

V I 2’ R2’ > Z0

ℓ[km]

Fig. 2.05 – Representação de uma linha com R2’ > Z0 junto ao receptor.

Nesta condição a corrente I2’ através de R2’ será menor que I0 e a potência dissipável
(I2’) R2’ será menor do que (I0)2 R2’, ou seja:
2

I2’ = V / R2’ < I0 = V / Z0 (2.16)


e
(I2’)2 R2’ < (I0)2 R2’ (2.17)

Assim um novo estado de equilíbrio deverá ser alcançado, pois o excesso de energia não
poderá ser dissipado instantaneamente em R2’.
A redução na corrente provoca uma diminuição na energia armazenada no campo
magnético. Este campo além de não poder armazenar o excesso de energia deve ainda ceder
parte da energia que possui armazenada. Assim, a partir do momento que I2’ começa a fluir
por R2’, o campo elétrico absorve a energia excedente, que se manifesta por uma elevação da
tensão no terminal receptor da linha acompanhada por uma redução no valor de I0, como
ilustrado pela figura 2.06 a seguir.
Tensão

aumento de tensão

ν
V
V2'


1 2
Corrente

I0

I '2

ν redução de corrente

Fig. 2.06 – Representação da tensão e corrente para uma linha terminada com R2’>Z0

Quando a linha está aberta junto ao receptor a resistência R2’ assume valor muito alto,
ou seja, R2’ = ∞. Neste caso tem-se:

1. A corrente se reduz a zero progressivamente do receptor para o transmissor;

8
2. O campo elétrico deve absorver toda a energia provocando um aumento progressivo
da tensão do receptor para o transmissor, tal que:

V2’=2 V (2.18)

C. Linha com resistência terminal menor que Zo: R2’’< Zo

Considere a linha representada na figura 2.07.

I0

V I2” R2”< Z0

ℓ[km]

Fig. 2.07 – Representação de linha com R2’’ < Z0 junto ao receptor.

Neste caso a corrente I2’’ através de R2’’ será maior que I0. Em conseqüência a potência
dissipável (I2’’)2 R2’’ será maior do que (I0)2 R2’’, isto é:

I2’’ = V / R2’’ > I0 = V / Z0 (2.19)


e
(I2’’)2 R2’’ > (I0)2 R2’’ (2.20)

Assim ocorrerá falta de energia junto ao receptor, que não pode ser suprido
instantaneamente pela fonte. O novo estado de equilíbrio somente será alcançado se esta falta
for suprida pela própria linha, as custa da energia armazenada durante o processo de
energização.
Como houve um aumento no valor da corrente, o campo magnético não pode ceder
energia e ainda deverá armazenar maior quantidade. Logo o campo elétrico cede energia.
Como conseqüência haverá redução na tensão junto ao receptor que se propaga em direção ao
terminal transmissor. A figura 2.08 ilustra o comportamento da tensão e corrente para esta
condição.
Tensão

V2 "

ν redução de tensão

9
Corrente

aumento da corrente

ν
I0
I2”

Fig. 2.08 – Comportamento da tensão e da corrente para uma linha terminada com R2’’<
Z0.

Quando a linha encontra-se em curto-circuito junto ao receptor a resistência R2’’ assume


valor nulo, ou seja, R2’’ = 0. Neste caso tem-se:

1. A tensão se anula progressivamente do receptor para o transmissor;


2. O campo magnético absorve toda a energia provocando um aumento no valor da
corrente progressivamente do receptor para o gerador, tal que:

I2’’= 2 I0 (2.21)

3. Ondas viajantes

No processo de energização de uma linha, saem do transmissor, simultaneamente, uma


onda de tensão de amplitude V e uma corrente de amplitude I0, que se deslocam com
velocidade υ constante em direção ao receptor. Estas ondas são denominadas diretas ou
incidentes. Em função da forma de terminação da linha podem dar origem a ondas que viajam
rumo ao transmissor com a mesma velocidade υ das ondas incidentes. Estas ondas assim
originadas são denominadas ondas reversas ou refletidas.
Todas estas ondas são polarizadas e em cada ponto ao longo da linha e a qualquer
instante o valor resultante será sempre igual à soma algébrica das duas quantidades:

Vx = Vxi ± Vxr (3.01)


I x = I ix  I rx (3.02)

O subíndice x define um ponto qualquer ao longo do comprimento da linha.


Todas as situações analisadas sob o enfoque de balanço de energia, realizadas
anteriormente, podem ser também trabalhadas sob a ótica de ondas viajantes, conforme segue:

3.1. Linha com resistência terminal maior que Zo: (R2’ > Zo)

Para esta situação, tem-se:

V2 = V2 + V 2 ⇒ V' > V
' i r
(3.03)
2
V2 = V , V2 ≠ 0
i r

I2 = I2 − I2
' i r
⇒ I 2 < I0
'
(3.04)
I 2 = I0 , I 2 ≠ 0
i r

10
Graficamente, pode-se representar a tensão e a corrente conforme a figura 3.01.

Tensão

ν
V2r
V2’
V
V2i

Corrente

Io
I i2
I 2’

ν
I r2

Fig. 3.01 – Comportamento da tensão e da corrente para uma linha terminada com R2’ >
Z0

3.2. Linha com resistência terminal igual a Zo: (R2 = Zo)

Neste caso, tem-se:

V2 = V2 + V2
i r
⇒ V2 = V (3.05)
V2 = V , V2 = 0
i r

I2 = I2 + I2
i r
⇒ I 2 = I0 (3.06)
i
= ,
I 2 I0 I 2
r
= 0

Assim, a tensão e a corrente podem ser representadas conforme a figura 3.02.


Tensão

V
V2

Corrente

I0
I2

Fig. 3.02 – Representação da tensão e da corrente para uma linha terminada com R2 = Z0

3.3. Linha com resistência terminal menor que Zo: (R2’’ < Zo)
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Para esta condição pode-se escrever:

V 2 = V 2 − V 2 ⇒ V '' < V
'' i r
(3.07)
2
V2 = V , V2 ≠ 0
i r

I 2 = I 2 + I 2 ⇒ I'' > I0
'' i r
(3.08)
2
I 2 = I0 , I 2 ≠ 0
i r

Fazendo-se a representação gráfica, obtém-se:


Tensão

V V2i
V2" ℓ
ν V2r
Corrente

ν I r2

I "2
I0
I i2

2

Fig. 3.03 – Representação da tensão e da corrente para uma linha terminada com R2’’ <
Z0

Observa-se nos resultados acima que, em qualquer uma das três situações analisadas, as
ondas refletidas de tensão têm sempre sinais contrários aos das ondas reversas de corrente.
Em qualquer das situações analisadas as ondas incidentes e refletidas gozam das
mesmas propriedades, isto é:

Vxi Vxr
= = Z0 (3.09)
I ix I rx

Entretanto, em uma linha terminada com R2 ≠ Z0, para a relação entre a tensão e a
corrente, em qualquer ponto ao longo da linha, verifica-se o resultado representado pela
expressão mostrada a seguir:

Vx = Vx ± Vx ≠
i r
(3.10)
Z0
I x Iix  I rx

12
Conhecida a impedância natural( Z0 ) de uma linha e sendo Z2 o valor da impedância em
seu terminal receptor é possível obter a amplitude das ondas refletidas, junto a este terminal,
em função das amplitudes das ondas incidentes através das expressões que se seguem.

Z 2 − Z0 i (3.11)
V2 =
r
V2
Z 2 + Z0
Z0 − Z 2 i (3.12)
I2 =
r
I2
Z 2 + Z0

Fazendo-se:
Z 2 − Z0
Kv2 = (3.13)
Z 2 + Z0

Z 0 − Z2
KI2 = (3.14)
Z 0 + Z2

As quantidades KV2 e KI2 são conhecidas como coeficientes de reflexão da tensão e da


corrente, respectivamente, definidos para o terminal receptor da linha. Esses coeficientes
variam no intervalo fechado [-1 , +1]. Observa-se que esses coeficientes têm sempre sinais
contrários, isto é: KVi = - KIi.
Para as situações analisadas, tem-se:

1. Linha aberta junto ao receptor: Z'2 = ∞

Com base nas equações (3.13) e (3.14), tem-se: KV2 = + 1 e KI2 = - 1


Para este caso pode-se escrever:

1. Para a tensão 2. Para a corrente

= V2 + V2 I2 = I2 + I2
' i r ' i r
V2
= V2 + K v 2 V2 I2 = I2 + K I 2 I2
' i i ' i i
V2
= V+V I 2 = I0 − I0
'
V'2
V'2 = 2V I2 = 0
'

2. Linha em curto-circuito junto ao receptor: Z"2 = 0

Com base nas equações (3.13) e (3.14), tem-se: KV2 = - 1 e KI2 = + 1


Para este caso pode-se escrever:

1. Para a tensão 2. Para a corrente

V2
"
= V2 + V2
i r
I"2 = Ii2 + Ir2
"
V2 = V2 + K v 2 V2
i i
I"2 = Ii2 + K I 2 I2
i

V"2 = V−V I"2 = I0 + I0


"
V2 = 0
I 2 = 2 I0
"

13
3. Linha com impedância de mesmo valor da impedância natural junto ao receptor:
Z2 = Z0
Com base nas equações (3.13) e (3.14), tem-se: KV2 = 0 e KI2 = 0
Para este caso pode-se escrever:

1. Para a tensão 2. Para a corrente

V2 = V2 + V2 I2 = I2 + I2
i r i r

V2 = V2 + K v 2 V2 I2 = Ii2 + K I 2 I2
i i i

V2 = V I 2 = I0

Da mesma forma, podem ser definidos os coeficientes de reflexão do terminal


transmissor, bastando para isto substituir nas expressões (3.13) e (3.14) o subscrito 2 por 1.
Para um terminal genérico i, pode-se definir:

Z i − Z0
K vi = e K Ii = − K Vi
Z i + Z0

Para uma fonte ideal, cuja impedância interna é nula( Z1 = 0 ), resulta: KV1 = - 1 e KI1 =
+1
O fenômeno só foi observado durante o período de tempo em que as ondas viajam pela
primeira vez do gerador ao receptor. As ondas refletidas no receptor quando chegam ao
transmissor como ondas incidentes, dependendo das condições aí existentes, são refletidas
com sinal e amplitude que são função da impedância da fonte. O processo, como observado é
transitório, com as tensões e correntes variando em torno de seus valores de regime, que, no
caso de linhas e fontes ideais, só seria atingido teoricamente após um tempo infinito.
Nos casos reais, as resistências presentes provocam amortecimento e os valores de
regime são alcançados mais rapidamente. O estudo que acabou de ser realizado encontra larga
aplicação no estudo dos surtos de sobretensões em sistemas elétricos.

4. Diagrama de Bewley-Lattice

Considere uma linha com impedância natural Z0. Suponha ainda que a fonte apresenta
uma impedância interna Zs e que Zr é a impedância no outro extremo da linha conforme figura
(4.01) a seguir.

Fig. 4.01 – Circuito equivalente representativo de uma linha.

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Para os terminais 1 e 2 da linha pode-se escrever:

Zs − Z 0 Zr − Z0
K v1 = K v2 = (4.01)
Zs + Z0 Zr + Z0

No diagrama de Lattice, a distância entre os extremos da linha é representada por uma


linha horizontal e o tempo representado por duas linhas verticais. A linha em zigzag
representa como a onda viaja entre os extremos e descontinuidades. O declive da linha em
zigzag fornece os tempos correspondentes para as distâncias viajadas. As reflexões são
determinadas multiplicando a onda incidente pelo coeficiente de reflexão apropriado. A
tensão, em um dado ponto no tempo e a uma determinada distância é encontrada pela adição
de todos os termos que estão diretamente acima daquele ponto.
A figura 4.02 mostrada a seguir é o diagrama de Bewley Lattice para o circuito dado na
figura 4.01.

2T

3T

4T

5T
5,5T
6T
6,5T
7T

8T

t t
Fig. 4.02 – Diagrama de Bewley-Lattice para o circuito representativo da linha.

O tempo definido pela variável T é aquele gasto pela onda para deslocar-se de um
extremo ao outro da linha, sendo definido pela expressão:

T =  / υ[s] (4.02)
Sendo:
 = comprimento da linha, [km];
υ = velocidade de propagação da onda, [km / s].

O conceito do diagrama de Lattice pode ser estabelecido a partir da análise de uma onda
propagando-se sobre uma linha sem perdas, conforme figura 4.03.

15
F (x,t)

x=0 x= ℓ
x1

x+

Fig. 4.03 – Representação de uma onda propagando-se sobre a linha.

Considerando o gráfico tempo versus espaço de propagação da onda, representado pela


figura 4.04, tem-se:

Fig. 4.04 – Propagação de uma onda – tempo versus espaço

O gráfico mostra as coordenadas de um ponto sobre a onda, mas não fornece


informações da magnitude ou forma da onda.
De uma análise do gráfico pode-se afirmar:

a) A velocidade de propagação é o inverso da inclinação da reta, isto é:


Δt Δx
inclinação = velocidade = (4.03)
Δx Δt
b) Uma onda viajando na direção –x teria velocidade negativa e a inclinação da reta
seria contrária, conforme a figura 4.05.

Fig. 4.05 – Representação da propagação de ondas direta e reversa – tempo versus


espaço

c) Observando-se que as ondas diretas e reversas podem cruzar em pontos quaisquer do


diagrama, isto é, duas ondas que chegam ao ponto xn no mesmo instante tn.

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A partir do diagrama de Lattice é possível obter por inspeção os seguintes perfis:

1) Perfil da tensão em um ponto qualquer da linha em função do tempo;


2) Perfil da tensão ao longo do comprimento da linha em um dado instante.

1
Para a figura 4.02 a tensão em t = 5,5T e x =  vale:
4

1   2 2 2 
V  ; 5,5T  = V1 + K V 2 + K V1K V 2 + K V1 K V 2 + K V1 K V 2 
4   
3
Para t = 6,5T e x =  , tem-se:
4

3   2 2 2 2 3 
V  ; 6,5T  = V1 + K V 2 + K V1K V 2 + K V1 K V 2 + K V1 K V 2 + K V1 K V 2 
4   

5. Análise matemática

Na análise qualitativa foram apreciadas noções físicas sobre o aparecimento e o


comportamento de ondas viajantes em linhas de transmissão face a impulsos.
Neste item o enfoque será dado no caso de linhas reais excitadas por grandezas
senoidais, em regime permanente.

5.1. Equação diferencial das linhas de transmissão

Considere um elemento de comprimento∆x de uma linha real conforme mostrado na


figura 5.01. a seguir.
i (x,t) r∆x L∆x i (x+∆x,t)

v (x,t) v (x+∆x,t)
g∆x C∆x

Fig. 5.01 – Representação de um elemento de comprimento infinitesimal ∆x de uma


linha real.

Sendo:

r[Ω/km] a resistência por unidade de comprimento da linha: representativa das perdas


nos condutores;
g[S/km] a condutância de dispersão por unidade comprimento da linha: representativa
das perdas no dielétrico.

17
Entre os extremos do elemento existe uma diferença de potencial, definida por:

∂v
∆x (5.01)
∂x

A equação diferencial desta diferença de potencial será:

∂v ∂i
− ∆x = r∆x i + L∆x (5.02)
∂x ∂t

∂i
O sinal negativo é usado porque valores positivos de i e fazem o valor de v
∂t
decrescer.
Dividindo a expressão anterior por ∆x , obtém-se:

∂v ∂i
− =r i+L (5.03)
∂x ∂t

Por analogia com a expressão (5.03) pode-se escrever a equação para a corrente:

∂i ∂v
− = gv+C (5.04)
∂x ∂t
Onde:
g v - é a corrente de deslocamento através do dielétrico;
∂v
C - é a corrente de deslocamento através da capacitância devido à variação da
∂t
tensão.

Diferenciando (5.03) com relação a x e (5.04) com relação a t obtém-se:

∂2v ∂i ∂ 2i
− 2 =r +L (5.05)
∂x ∂x ∂x∂t

∂ 2i ∂v ∂2v
− =g +C 2 (5.06)
∂x∂t ∂t ∂t

Diferenciando (5.03) com relação a t e (5.04) com relação a x obtém-se:

∂2v ∂i ∂ 2i
− =r +L 2 (5.07)
∂x∂t ∂t ∂t

∂ 2i ∂v ∂2v
− = g + C (5.08)
∂x 2 ∂x ∂x∂t

Introduzindo em (5.05) as expressões (5.04) e (5.06) e em (5.08) as expressões (5.03) e


(5.07) e reagrupando-as convenientemente, resulta:

18
∂2v ∂v ∂2v
= rg v + (rC + Lg ) + LC (5.09)
∂x 2 ∂t ∂t 2

∂ 2i ∂i ∂ 2i
= rg i + (rC + Lg ) + LC (5.10)
∂x 2 ∂t ∂t 2

As equações (5.09) e (5.10) são as equações diferenciais gerais das linhas e suas
soluções representam ondas viajantes ou progressivas que se deslocam ao longo da linha com
velocidade υ .
Da análise das linhas de transmissão, é de grande interesse conhecer seu comportamento
face a impulsos e face às correntes e tensões senoidais. Assim procura-se por soluções no
domínio do tempo, para o estudo das ondas de impulso, e no domínio da freqüência, para o
estudo das linhas alimentadas por grandezas senoidais. Aqui será dado enfoque à solução no
domínio da freqüência.

5.2. Solução das Equações no Domínio da Freqüência – em regime permanente.

Alimentando a linha por corrente alternada de freqüência constante, sendo a tensão e


corrente definidas por funções senoidais do tempo.

v = v max sen (ωt ) (5.11)


i = i max sen (ωt + Φ ) (5.12)

• •
Sendo estas grandezas senoidais representáveis por seus fasores V x e I x , possibilita
que as equações sejam escritas como segue:

• • •
d2 Vx • d2 Vx
= r g V x + (r C + L g )
d Vx
+ LC (5.13)
dx 2 dt dt 2

• • •
d2 Ix • d2 Ix
x + (r C + L g )
d Ix
= r g I + L C (5.14)
dx 2 dt dt 2

d
Lembrando que = j ω , tem-se:
dt


d2 Vx • • •
= r g V x + (r C + L g ) j ω V x + L C ( j ω )2
V x (5.15)
dx 2


d2 Ix • • •
= x + (r C + L g ) jω I x + L C ( jω) I x
2
r g I (5.16)
dx 2

Logo,

19

d2 Vx • • • •
= (r + j ω L ) (g + j ω C ) V x = z y V x (5.17)
dx 2


d2 Ix • • • •
= (r + j ω L )(g + j ω C ) I x = z y Ix (5.18)
dx 2

A solução destas equações é dada pelas expressões que seguem:

• • •• • ••
+x zy
V x = A1 e + A 2 e −x zy
(5.19)

1  • +x 
• •• • ••
−x zy
Ix = − A2 e
zy

 A1 e  (5.20)
 
z 

y

• •
As constantes A1 e A 2 tem dimensão de tensão. Tomando-se o receptor da linha
como referência para a medida das distâncias, tem-se:

No terminal receptor x = 0 e:

• •
V x = V2 (5.21)
• •
Ix = I2 (5.22)

Levando as condições estabelecidas nas igualdades (5.21), (5.22) e ainda x = 0 nas


expressões (5.19) e (5.20), resulta:

• • •
V 2 = A1 + A 2 (5.23)

• 1  • • 
I2 =  A 1 − A 2  (5.24)
•  
z

y

Resolvendo o sistema de duas equações e duas incógnitas, obtém-se:


• • z
V2 + I2 •
• y
A1 = = A1 e j Ψ1 (5.25)
2

20

• • z
V2 − I2 •
• y
A2 = = A 2 e j Ψ2 (5.26)
2

Assim:

• •
• • z • • z
V2 + I2 •
V2 − I2 •
• •• ••
y +x zy y −x z y
Vx = e + e (5.26)
2 2

 • • 
• • • •
V z z 
2 + I2 V2 − I2
 • • 
1  zy 
• •• ••
y +x z y y −x
Ix = − (5.27)
• 
e e 
2 2 
z 

 
y  

Estas são as equações gerais e exatas das linhas de transmissão alimentadas por
correntes alternadas senoidais em regime permanente. Com estas equações é possível
determinar a tensão e a corrente em qualquer ponto x ao longo do comprimento da linha em
função das condições existentes em seu terminal receptor e que determinam o comportamento
da mesma.

5.3. Considerações sobre as equações


• •
As funções exponenciais quando aplicadas a fasores ( A 1 e A 2 ) mudam as
características destes, ou seja, modulam as funções senoidais representadas pelos fasores. Daí
a importância de examinar os radicais e as funções exponenciais complexas.

O radical z y , denotado por γ , denomina-se constante de propagação uma vez que a
• •

freqüência é constante para linhas operando em regime permanente. Logo,


γ=
• •
zy = (r + j ω L ) (g + j ω C) = α + j β (5.28)

Elevando-se os dois membros da expressão anterior ao quadrado e tomando-se as partes



real e imaginária de γ , resulta:


α = ℜe{γ} =
1
2
[(
rg − ω 2 LC + ) (r 2
)(
+ ω 2 L2 g 2 + ω 2 C 2 )] [Neper/km] (5.29)

β = ℑm{γ} =

2
[(
1 2
ω LC − rg + ) (r 2
)(
+ ω 2 L2 g 2 + ω 2 C 2 )] [rd/km] (5.30)

21
Assim as funções exponenciais complexas podem ser escritas como segue:

• • •
±x z y
e = e ± x γ = e ± α x e ± jβ x (5.31)

Observando-se a igualdade anterior é possível concluir que as funções senoidais às


quais foram aplicadas serão alteradas na seguinte conformidade:

a. Ocorrerá alteração exponencial, provocada por e ± α x , nas amplitudes das ondas


senoidais, à medida que a distância x do receptor ao ponto considerado aumenta. A alteração
pode ser de diminuição ou de aumento, dependendo do sinal do expoente;

b. Ocorrerá, ao mesmo tempo, alteração de ± β x na fase da onda de tensão ou corrente


à medida que a distância x do receptor ao ponto considerado varia.

A grandeza α recebe o nome de constante de atenuação. Seu valor afeta as perdas de


energia na linha. Nas linhas sem perdas, em que r = g = 0, α também se anula.
A grandeza β denomina-se constante de fase e governa a forma como as fases da
tensão e da corrente modificam-se ao longo do comprimento da linha.

z
Examinando-se o radical •
, verifica-se que para r = g = 0 ele se transforma em Z0, isto é,
y
na impedância natural ou de surto. Em muitas situações, uma vez que, r e g são valores
bastante pequenos quando comparados com ωL e ωC, respectivamente, estas duas
quantidades são confundidas, pois seus valores numéricos são bastante próximos. No caso de
r ≠ g ≠ 0 esta grandeza apresenta-se como complexa e denomina-se impedância
característica, sendo seu argumento muito pequeno. Como a impedância natural a
impedância característica também independe do comprimento da linha e é denotada por:


• z r + j ωL
Zc = •
= [Ω] (5.32)
g + j ωC
y

Retornando as equações gerais na forma das equações (5.19) e (5.20) e fazendo-se


• • •
A1 = A1 e j Ψ1 , A 2 = A 2 e j Ψ2 e Z c = Z c e j δ , pode-se reescrevê-las como segue:


V x = A1 e + α x e + j (β x + Ψ1 ) + A 2 e − α x e − j (β x −Ψ2 ) (5.33)

• A1 + α x + j (β x + Ψ1 − δ ) A 2 − α x − j (β x −Ψ2 − δ )
Ix = e e − e e (5.34)
Zc Zc

Seus valores instantâneos podem ser obtidos através das seguintes expressões:


v x = Im{ Vx 2 e j ωt } (5.35)

i x = Im{ I x 2 e j ωt } (5.36)

22
Logo, resulta:

v x = 2 {A1 e + α x sen[(ω t + β x ) + Ψ1 ] + A 2 e − α x sen[(ω t − β x ) + Ψ2 ]} (5.37)

{A1 e + α x sen[(ω t + β x ) + Ψ1 − δ] − A 2 e − α x sen[(ω t − β x ) + Ψ2 − δ] (5.38)


2
ix =
Zc

Observando-se as equações (5.37) e (5.38) verifica-se que elas são dependentes do


tempo t e da distância x.

Considerando apenas a componente incidente da onda de tensão, tem-se:

v ix = 2 A1 e + α x sen[(ω t + β x ) + Ψ1 ] (5.39)

Admitindo-se que em dado instante apenas esta componente exista e, considerando-se


ainda os pontos A e B, conforme a figura 5.02 a seguir.


Fig. 5.02 – Representação de pontos de observação ao longo do comprimento da linha.

Logo, levando na expressão de v ix as distâncias a e b, que definem, respectivamente,


as posições dos observadores A e B, tem-se:

v i a = 2 A1 e + α a sen[(ω t + β a ) + Ψ1 ] (5.40)

v i b = 2 A1 e + α b sen[(ω t + β b ) + Ψ1 ] (5.41)

Observadores colocados em A e B farão as seguintes verificações:

1. As tensões em A e B variam senoidalmente;


2. Em um mesmo instante t, medições efetuadas em A e B mostrariam que:

2 A1 e + α a < 2 A1 e + α b ⇔ (a < b)

3. Fixado um ponto qualquer de fase constante, sobre a onda  [(ω t + β x ) + Ψ1 ]


=constante, esse seria registrado primeiro pelo observador A e posteriormente por B.

Com base nas verificações precedentes, pode-se afirmar que o ponto desloca-se
descrevendo uma exponencial crescente.

23
A figura 5.03 mostrada a seguir ilustra esta situação (Fonte: figura 3.12. – página 78:
Fuchs, Rubens Dario, Transmissão de Energia Elétrica - Linhas Aéreas, volume 1, Rio de
Janeiro, Livros Técnicos Editora/Escola Federal de Engenharia de Itajubá, 1977 )

V [m/s]
t1 t2 t3
P P P
x=l x=0

+x

Fig. 5.03 – Componente direta da onda

Considerando-se isoladamente a onda refletida observa-se o mesmo resultado, a menos


do sinal, que será positivo. Isto indica que os movimentos ocorrem em sentidos opostos.
O segundo termo do segundo membro da equação da tensão permite observar que:

1. O ponto desloca- se no sentido do transmissor para o receptor, isto é, na direção -x;


2. A tensão varia exponencialmente, porém decrescendo do receptor para o transmissor.

Diante das verificações realizadas pode-se concluir que as ondas são senoidais viajantes
e atenuadas exponencialmente.

A composição destas duas ondas viajantes, em um ponto da linha, resulta na onda


estacionária da figura 5.04 abaixo (Fonte: figura 3.13 – página 79: Fuchs, Rubens Dario,
Transmissão de Energia Elétrica - Linhas Aéreas, volume 1, Rio de Janeiro, Livros Técnicos
Editora / Escola Federal de Engenharia de Itajubá, 1977).

24
i
v

r
v

Fig. 5.04 – Onda estacionária, resultante da composição das ondas viajantes, sendo uma
direta e a outra reversa.

5.4. Análise em regime permanente

O comprimento de onda (λ) de uma linhaé definido como a menor distância entre dois
pontos em uma onda senoidal, na direção de propagação, cujas fases de oscilação estejam
separadas de 2 π .

Fundamentado na definição de comprimento de onda, apresentada no parágrafo anterior,


tem-se:

{ω t + β (x + λ ) + Ψ1 } − {ω t + β x + Ψ1 } = 2 π

βλ = 2π => λ= [km]
β

A velocidade de propagação pode ainda ser posta na seguinte forma:

ω 2πf λ
υ= = = λf = (5.42)
β β T

25
Sendo f [Hz] a freqüência.

Como já visto
1
υ= (5.43)
LC

Igualando-se as expressões (5.42) e (5.43) da velocidade, mostradas acima, resulta:

1
λ= (5.44)
f LC

Para f = 60 Hz e considerando a velocidade de propagação próxima de 3x105 km/s,


resulta λ ≅ 5000 [km].

5.4.1. Linha aberta junto ao receptor



Retomando as equações gerais e considerando-se que neste caso I 2 = 0 , resulta:

•  • 
⋅ ⋅

• V 20  + γ x −γx 
V x0 = e +e
2   (5.45)

 

V 20  + γ• x • 
⋅ ⋅

−γx 
I x0 = • 
e −e 
(5.46)

2 Zc  

Desmembrando-se as equações (5.45) e (5.46), tem-se:

[ ]
• V 20 + α x
V x0 = e (cos β x + j sen β x ) + e − α x (cos β x − j sen β x ) (5.47)
2

[e (cos β x + j sen β x ) − e − α x (cos β x − j sen β x )]


• V 20 +αx
I x0 = •
(5.48)
2 Zc

As quantidades e + α x (cos β x + j sen β x ) representam no plano polar fasores que giram


com velocidade angular ω constante, no sentido anti-horário, sendo modulados pela parcela
e + α x . Para cada valor de x, o fasor gira de um ângulo β x , sendo seu módulo alterado pelo
fator e + α x . O lugar geométrico descrito é uma espiral logarítmica progressiva, pois seus
módulos crescem com o aumento de x.
Os termos e − α x (cos β x − j sen β x ) representam fasores que giram em sentido horário,
com velocidade ω constante e são modulados por e − α x , descrevendo uma espiral logarítmica
regressiva, pois seus módulos decrescem com o aumento de x.
Os valores resultantes para cada valor de x são obtidos pela soma vetorial dos fasores
correspondentes a cada valor de β x .

26
Na figura 5.05 mostra o diagrama polar das tensões para uma linha de transmissão de
comprimento λ em vazio e, em plano cartesiano, a variação das tensões ao longo da linha.

λ
4

λ λ
2


4

V20

λ λ 3λ
4 2 λ
4
λ λ λ λ
4 4 4 4

P/transmissor
+x

Fig. 5.05 – Diagrama polar e cartesiano de variação da tensão ao longo do comprimento


de linhas operando em vazio (Fonte: figura 3.15 – página 84: Fuchs, Rubens Dario,
Transmissão de Energia Elétrica - Linhas Aéreas, volume 1, Rio de Janeiro, Livros Técnicos
Editora / Escola Federal de Engenharia de Itajubá, 1977).

27
Na figura 5.06 está representado o diagrama polar das correntes, juntamente com o
diagrama cartesiano da variação das correntes ao longo do comprimento da linha.

λ
4

λ λ
2


Corrente
4

λ λ 3λ
4 2 4 λ

λ λ λ λ
4 4 4 4

Fig. 5.06 – Diagrama polar e cartesiano de variação da corrente ao longo do


comprimento de linhas operando em vazio (Fonte: figura 3.16 – página 85: Fuchs, Rubens
Dario, Transmissão de Energia Elétrica - Linhas Aéreas, volume 1, Rio de Janeiro, Livros
Técnicos Editora / Escola Federal de Engenharia de Itajubá, 1977).

Os diagramas podem ser interpretados com segue:

Nos pontos caracterizados por λ/4, λ/2, 3λ/4 e λ estão indicados os valores de tensão que
devem ser aplicados aos transmissores das linhas de comprimentos λ/4, λ/2, 3λ/4 e λ para que

se tenha V 20 nos respectivos terminais receptores.
Verifica-se, a partir dos gráficos, que para uma linha em vazio e de comprimento
próximo de λ/4 a tensão aumenta significativamente ao longo da linha com relação à tensão
aplicada, atingindo o valor máximo junto ao receptor. À medida que o comprimento da linha
aumenta para além de λ/4 a diferença entre os valores das tensões, aplicadas no transmissor e
observadas no receptor, vai diminuindo progressivamente, tornando-se mínima para λ/2.
A corrente de carga da linha também aumenta continuamente até λ/4, quando passa a
decrescer até ser mínima para λ/2.
Assim as linhas com comprimento físico próximo λ/4 êm
tde comportamento
indesejável quando operam em vazio ou com pequenas cargas.
O aumento da tensão no receptor com relação à tensão no transmissor denomina-se
efeito FERRANTI.

28
As principais conseqüências do efeito Ferranti, que diminuem à medida que a potência
no receptor aumenta, podem ser controladas com as medidas apresentadas a seguir:

1. Necessidade do aumento do nível de isolamento das linhas e equipamento terminal


em decorrência da sobretensão;
2. Apesar das perdas por dispersão, representadas principalmente pelo efeito
CORONA, atuarem favoravelmente na redução das sobretensões, essas perdas crescem em
função do quadrado da tensão. A radiofreqüência e os ruídos audíveis que acompanham o
efeito corona aumentam igualmente com o aumento da tensão. Com o propósito de mantê-las
dentro de limites razoáveis, torna-se necessário aumentar a bitola dos condutores e, como
conseqüência o custo da linha;
3. a corrente de carga, sendo elevada, limita por efeito térmico a capacidade de
transporte de energia da linha, exigindo, para uma mesma potência a ser transmitida,
condutores com seções maiores, aumentando o custo da construção. Este fato é mais sério
para as linhas em cabos subterrâneos, para as quais o comprimento de onda é bem menor do
que nas linhas aéreas, uma vez que depende essencialmente da velocidade de propagação, que
é pequena nas linhas construídas com cabos;
4. a corrente de carga que a linha absorve das máquinas que a alimentam, quando opera
em vazio ou com pouca carga, é capacitiva. Esta condição pode levar a um fenômeno
denominado auto-excitação, que dá origem a tensões incontroláveis nas máquinas, caso estas
não tenham capacidade de absorver essa carga capacitiva.

O exame das equações revela ainda que:

• i • r
V x0 V x0 •
= = Zc (5.49)
•i •r
I x0 I x0

5.4.2. Linha em curto-circuito permanente no receptor

Esta situação não existe na prática, pois a proteção deve atuar. Para esta condição tem-
se V2c = 0, logo às equações gerais tornam-se:

• •
I 2c Z c  + γ• x 
⋅ ⋅
• •

V xC = e − e − γ x  (5.50)
2  
 

•  ⋅ 


• I 2c  + γ• x −γx 
I xC = e +e
2   (5.51)

 

Desmembrando as equações (5.50) e (5.51), como feito no item anterior, tem-se:

• •

[ ]
• I Zc + α x
V xC = 2c e (cos β x + j sen β x ) − e − α x (cos β x − j sen β x ) (5.52)
2

[e (cos β x + j sen β x ) + e − α x (cos β x − j sen β x )]


• I +αx
I xC = 2c (5.53)
2

29
Comparando essas equações ( (5.52) e (5.53) ) com suas correspondentes para linhas
abertas no receptor ( (5.47) e (5.48) ), verifica-se que, guardadas as devidas proporções, o
diagrama polar das tensões terá comportamento similar ao das correntes em vazio e o
diagrama das correntes em curto-circuito terá comportamento idêntico ao das tensões em
vazio.
O exame das equações revela ainda que:

• i • r
V xc V xc •
= = Zc (5.54)
•i •r
I xc I xc

Uma linha com comprimento λ/4 operando em curto-circuito permanente, necessita de


uma tensão elevada no transmissor para fazer circular no receptor uma corrente pequena,
enquanto que para uma linha de comprimento λ/2, uma pequena ão tens
no transmissor é
suficiente para fazer circular no receptor uma corrente elevada.

5.4.3. Operação das linhas sob cargas

Nesse caso as equações são analisadas com base na variação de sua impedância
terminal, que representa a carga. Anteriormente verificou-se que o comportamento da linha

sob carga dependia fundamentalmente da relação entre a impedância no receptor da linha Z 2

e a da sua impedância característica Z c .
• • • • • •
Têm-se três casos a considerar: Z 2 = Z c , Z 2 > Z c e Z 2 < Z c
• •
a) Linha terminada com: Z 2 = Z c
• • •
Levando-se I 2 por V 2 / Z c na equação geral da tensão (5.26), obtém-se:
• • •

V x = V2 e+ γ x (5.55)

• • •
Analogamente substituindo V 2 por I 2 Z c na equação geral da corrente (5.27), resulta:

• • •
+γ x
Ix = I2 e (5.56)

Desmembrando as expressões da tensão e da corrente tem-se:

• •
V x = V 2 e + α x (cos β x + j sen β x )
• •
(5.57)
+αx
Ix = I2 e (cos β x + j sen β x )

Observando as equações anteriores, verifica-se que, como já havia sido visto


anteriormente, não existem ondas refletidas, e, portanto, o transitório de energia.
A igualdade mostrada a seguir, equação (5.58), revela que para uma linha operando
com impedância no receptor igual à impedância característica o fator de potência é constante
e o defasamento entre tensão e corrente é sempre igual a ( δ = φ 2 ), em todos os pontos ao
longo do comprimento da linha. Isto significa que a linha não necessita de energia reativa
30
externa para a manutenção de seus campos elétrico e magnético. A única energia absorvida
pela linha é energia ativa e destina-se a cobrir as perdas por efeito Joule e dispersão.

• •
Vx V2 jφ

= •
= Zc e jδ = Z 2 e 2 (5.58)
Ix I2

A potência aparente fornecida pela linha ao receptor é dada pela expressão:

• • •

S 2 = P2 + jQ 2 = V 2 I 2 [VA] (5.59)

Sendo

• •
Z 2 = Zc = Zc e jδ (5.60)


Considerando V 2 como referência, tem-se:


• V2 V2 e j 0
I2 = •
= jδ
= I 2 e − jδ (5.61)
Zc Zce

Com base na definição de potência aparente, fornecida acima, resulta:

• V2 2 j δ
S 2 = V2 I 2 e j δ = e [VA] (5.62)
Zc

Tomando-se a componente real da potência aparente, tem-se:

V2 2

P2 = ℜe{S 2 } = cos δ [W ] (5.63)
Zc

A potência ativa assim definida denomina-se potência característica. Logo

V2 2
Pc = cos δ [w] (5.64)
Zc

Em geral o ângulo δ situa -se entre 1° e 5°- é função das perdas na linha. Em
conseqüência, cos δ ≅ 1 e considerando ainda que Zc ≅ Zo, define-se potência natural por:

V2 2
P0 = [W] (5.65)
Z0

Sendo o seu valor por fase.


Considerando a tensão entre fases V2L, pode-se escrever:

P03φ = 3 V2 I 2 = 3 V2 L I 2 (5.66)

31
Lembrando que:

V2 V22L
I2 = = 5.67)
Z0 3 Z0

Resulta:

V2 L 2
P03φ = (5.68)
Z0

Esta potência é conhecida na literatura americana como SIL - Surge Impedance


Loading. Dada a sua importância, esta grandeza é, em geral, usada como unidade base de
potência, sendo os valores de potências transmitidas expressos em função de sua potência
natural.
Sendo independente do comprimento, a potência natural é importante na escolha das
tensões de transmissão em primeira aproximação e serve como orientação inicial nos estudos
técnico-econômicos para sua fixação. Estes estudos são influenciados fortemente pela relação
potência / distância de transmissão.
Logo

V2 L = P03φ Z 0 [kV] (5.69)

A tabela 5.01, apresentada a seguir, fornece valores de impedâncias e de potências


naturais para diferentes configurações de condutores e níveis de tensão.

Tabela. 5.01 – Valores de impedâncias e potências naturais para linha a circuitos


simples (Fonte: tabela 3.1. – página 91: Fuchs, Rubens Dario, Transmissão de Energia
Elétrica - Linhas Aéreas, volume 1, Rio de Janeiro, Livros Técnicos Editora / Escola Federal
de Engenharia de Itajubá, 1977).

Configuração Z0 P03φ [ MW ]
da Fase [Ω] 220 kV 345 kV 400 kV 500 kV 750 kV
400 120 300 400 - -
320 150 370 500 780 -
280 170 425 570 890 1 750
240 200 500 670 1 040 2 000
Para linhas a circuito duplo, duplicar os valores de P03φ

Embora seja a condição mais vantajosa, na prática dificilmente é alcançada, pois em


geral as potências transmitidas oscilam de acordo com a carga do sistema, principalmente
entre centros de geração e consumo. Quando se trata de interligações entre grandes sistemas,
com a finalidade de intercâmbio de energia, essa condição é mais facilmente alcançada.
A energia reativa absorvida pelas linhas deve vir do sistema que a alimenta e do sistema
por ela alimentado enquanto que energia reativa por elas gerada deverá ser absorvida por
esses sistemas. Essa energia, circulando nos sistemas provoca perdas de energia ativa e ainda
solicita os sistemas quanto à capacidade adicional em seus equipamentos terminais.

32
As grandes linhas, devido à facilidade de controle do fator de potência junto aos locais
de consumo, podem operar com fator de potência unitário, por ser, em geral, mais econômica
a produção de energia reativa no local de consumo do que seu transporte a grandes distâncias.
Assim, existe a tendência de exprimir a potência transmitida em função da potência natural da
linha.

P
P0

Fig. 5.07 – Geração e consumo de energia reativa pelas linha de transmissão(Fonte: figura
3.17 – página 92: Fuchs, Rubens Dario, Transmissão de Energia Elétrica - Linhas Aéreas,
volume 1, Rio de Janeiro, Livros Técnicos Editora / Escola Federal de Engenharia de Itajubá,
1977)
• •
b) Linha terminada em: Z 2 ≠ Z 0

Sendo P0 a potência entregue no receptor de uma linha terminada com sua impedância
natural Z0. Junto a este terminal tem-se:

V2 = Z 0 I 0 (5.70)

Resulta:

V22
P0 = = V2 I 0 (5.71)
Z0

Sendo P2 a potência entregue no receptor de uma linha terminada com impedância



+ j0
Z 2 ≠ Zo , porém com fator de potência unitário, isto é: Z 2 = Z 2 e .

Resulta

V2 = Z 2 I 2 (5.72)

33
Portanto

V22
P2 = = V2 I 2 (5.73)
Z2

Tomando-se a relação P2 / P0, tem-se:

P2 I 2 Z 0
= = =k (5.74)
P0 I 0 Z 2

• • • • • •
Introduzindo as expressões I 2 = V 2 / Z 2 , V 2 = Z 2 I 2 e k = Zo / Z 2 nas equações gerais da
tensão e da corrente tem-se como resultado:

• • •
• V2 •V2 •
V2 •

I2 = •
⇒ Vx = (1 + k )e + γ x + (1 − k )e − γ x (5.75)
2 2
Z2

• •
• • • • • •
I2  1  + γ x I2  1  − γx
V 2 = Z2 I2 ⇒ I x =  + 1  e +  1 −  e (5.76)
2 k  2  k

Examinando as equações acima é possível concluir que:

P2 < P0
• •
b1) Quando Z 2 > Z o
k <1

Como conseqüência a componente refletida da tensão conserva o sinal, isto é, a onda de


tensão refletida o faz com o mesmo sinal da onda incidente e a componente refletida da
corrente inverte o sinal, isto é, a onda de corrente refletida acontece com sinal contrário ao da
onda incidente.

P2 > P0
• •
b2) Quando Z 2 < Z o
k >1

Neste caso observa-se que ocorre troca de sinal para a componente refletida da tensão,
indicando que a onda de tensão refletida se da com sinal contrário ao da onda incidente e a
componente refletida da corrente mantém o sinal, ou seja, a onda refletida de corrente ocorre
com o mesmo sinal da onda incidente.
A figura 5.08 ilustra o comportamento das reflexões para diferentes condições
terminais.

34
+1
r
I r = Ii V = Vi
Zc
tensão
Z2 < Z0 Z2 > ZC
Z2
Z2 = 0 Z2 ∞

r
V = -Vi corrente I r = − Ii
-1

Fig.5.08 - Variação da polaridade e valor das ondas refletidas de tensão e corrente nas
linhas de transmissão em função da variação da impedância no terminal receptor (Fonte:
figura 3.18 – página 94: Fuchs, Rubens Dario, Transmissão de Energia Elétrica - Linhas
Aéreas, volume 1, Rio de Janeiro, Livros Técnicos Editora / Escola Federal de Engenharia de
Itajubá, 1977).

Os diagramas polares das tensões e correntes das ondas incidentes e refletidas são
igualmente representados por espirais logarítmicas, sendo uma progressiva e a outra
regressiva, respectivamente. Os diagramas destas grandezas são determinados pela soma ou
subtração dos fasores que representam os valores das ondas incidentes e refletidas para um
determinado valor x.
Para linhas sem perda (α = 0) as espirais se transformam em circunferências. Os
diagramas das tensões e correntes, nesse caso, serão também figuras fechadas.
O ângulo de potência θ entre as tensões no início e fim da linha varia com a potência
entregue no receptor e pode ser determinado a partir da figura 5.09, a seguir.

• r
− Vxr
Vx

Vx

• r • r
Vx Vx

Fig. 5.09 – Variação do ângulo de potência em função da variação da potência ativa


entregue no receptor da linha(Fonte: figura 3.19 – página 95: Fuchs, Rubens Dario,
Transmissão de Energia Elétrica - Linhas Aéreas, volume 1, Rio de Janeiro, Livros Técnicos
Editora / Escola Federal de Engenharia de Itajubá, 1977)

35
Na figura 5.09, fazendo-se a projeção dos fasores sobre o eixo horizontal, obtém-se:

i r
Vx i cos θ i = Vx i cos βx i ± Vx i cos βx i (5.77)

Logo

 i  
 V ± Vr  
 x 
θ i = arc cos  i 
xi
 Vx i  cos βx i  (5.78)
  

  

Verifica-se, a partir da figura 5.09 que o ângulo de potência da linhaθ)( cresce com o
aumento da potência ativa transmitida.

6. Relações entre tensões e correntes – circuitos e modelos

A relação entre o comprimento da linha e seu comprimento de onda é importante na


escolha do processo de cálculo. Quanto maior for esta relação, mais rigoroso deverá ser o
processo.
As equações como desenvolvidas no tópico anterior apresentam forma pouco prática
para uso.
Neste tópico são desenvolvidos circuitos elétricos equivalentes e seus respectivos
modelos matemáticos através de hipóteses simplificadoras aplicadas ao equacionamento do
tópico anterior.
Fazendo-se x =  e rearranjando as equações gerais das linhas de transmissão, tem-se:

 + γ•  − γ•   •  +γ − −γ 
• •

e +e

 •
e e  [kV]
V1 = V2   + I 2 Z c   (6.01)
 2 2
   


 + γ•  − γ•    + γ•  − γ•  

e +e

 V 2 e −e 
I1 = I 2 
 2  + •  2  [A] (6.02)
  Zc  

Onde:
• •
V1 e I1 - tensão entre fase e neutro e corrente na fase, junto ao transmissor;
• •
V2 e I 2 – idem, junto ao receptor;
ℓ – comprimento da linha.

As equações acima são exatas e consideradas a paramentos distribuídos. Podem ser


colocadas na seguinte forma:

• • • • • •
V1 = V2 cosh ( γ ) + I 2 Z c senh ( γ ) (6.03)

36

• • • V2 •
I1 = I 2 cosh ( γ ) + •
senh ( γ ) (6.04)
Zc

Considerando que γ = α + j β , tem-se:


cosh ( γ ) = cosh(α) cos(β) + j senh (α)sen (β) (6.05)

senh ( γ ) = senh (α) cos(β) + j cosh(α)sen (β) (6.06)

• • • • • • •
Tem-se também que: γ  = z  y = Z Y , sendo Z e Y a impedância e a admitância
totais da linha. Desta forma tem-se:

• • • • • •
• • • ( Z Y )2 ( Z Y )4 ( Z Y )6
cosh ( γ l) = cosh( Z Y ) = 1 + + + + ... (6.07)
2! 4! 6!

• • • • • •
• • • • • ( Z Y )3 ( Z Y )5 ( Z Y )7
senh ( γ l) = senh ( Z Y ) = ZY + + + + ... (6.08)
3! 5! 7!

Maior ou menor precisão pode ser alcançada em função do número de termos das séries
consideradas.

6.1. Linhas Curtas

Neste caso considera-se apenas o primeiro termo das séries (6.07) e (6.08). Levando
esta condição nas equações gerais (6.03) e (6.04) e ainda a expressão da impedância
característica, colocada em função da impedância e da admitância totais da linha, conforme
equação (6.09), ou seja:


• z • •
Zc = •
= Z Y (6.09)
y
Resulta:

• • • • • • • • • •
V1 = V2 + I 2 Z Y Z Y = V2 + I 2 Z (6.10)

• • • • • • • • • •
I1 = I 2 + V2 Y Z Z Y = V2 Y + I 2 (6.11)

• • •
Como produto V2 Y é bastante pequeno quando comparado com I 2 , o modelo
matemático das linhas curtas fica representado pelas expressões (6.12), dadas a seguir.

37
• • • •
V1 = V2 + I 2 Z (6.12)
• •
I1 = I 2

O circuito equivalente que traduz as expressões de tensão e da corrente (6.12) é


representado na figura a seguir.

• • •
I1 = I 2 Z

• •
V1 V2

Fig. 6.01 – Circuito equivalente de uma linha curta.

• •
Sendo: Z = z  = r  + j x l  = R + j X l

Com as simplificações introduzidas estamos representando os parâmetros na forma


concentrada e desprezando os efeitos da condutância de dispersão(G) e da capacitância(C). As
linhas enquadradas nos limites estabelecidos a seguir podem ser representadas por este
modelo.

tensão < 150 kV 60 km < comprimento < 80 km


150 kV < tensão < 400 kV comprimento < 40 km
400 kV < tensão comprimento < 20 km
• •
O ângulo de potência entre as tensões V1 e V2 é de grande importância em estudos
de estabilidade. O diagrama vetorial correspondente será:

V1
• •
Z I2 •
θ jX L I 2

ϕ1 •
ϕ2 V2
R I2
• •
I1 ≡ I2
Fig. 6.02 – Diagrama vetorial de uma linha curta em carga.

6.2. Linhas Médias

Neste caso os dois primeiros termos da série devem ser considerados, isto porque para
estas linhas o segundo termo não é insignificante se comparado ao primeiro.
A partir das equações gerais, substituindo-se as funções hiperbólicas pelos dois
primeiros termos da série correspondente e, rearranjando é possível chegar-se ao modelo
matemático para estas linhas, entretanto neste processo ocorrem simplificações de difícil
compreensão. Assim, para estas linhas o caminho mais lógico é propor os circuitos
equivalentes e a partir deles obter os respectivos modelos matemáticos.
Dois circuitos equivalentes podem representar bem as linhas classificadas como médias.
São eles

38
6.2.1. Circuito T

Considere a figura 6.03 mostrada a seguir, representativa do circuito T de uma linha de


transmissão, onde a impedância série e a admitância em derivação são dadas por:

Z R X •
= +j L e Y=G + j B
2 2 2
R XL R XL
2 2 A 2

2 •
I1 I2

• α G B β •

V1 V2
Y •
V

Fig. 6.03 – Circuito T para uma linha de transmissão de energia elétrica.

Aplicando as Leis de Kirchhoff ao circuito representado na figura 6.03 obtém-se:



Z• •
Malha α: − V1+ I1 + V = 0 (6.13)
2

Z•• •
Malha β: − V + I 2 + V2 = 0 (6.14)
2
• • • •
Nó A: I1 − Y V − I 2 = 0 (6.15)

Da expressão (6.13), resulta:


• Z• •
V = I 2 + V2 (6.16)
2

Substituindo-se (6.15) em (6.14) e reagrupando a expressão resultante, tem-se:

 • •
• • •
 
 ZY •
I1 = Y V 2 + 1 + I2 (6.17)
 2 
 
 

Levando (6.15) e (6.16) em (6.12), tem-se:

 • •  • •

 •  
 ZY   ZY  • •
V1 = 1 + V 2 + 1+ Z I2 (6.18)
 2   4 
   
   

As expressões (6.17) e (6.18) representam o modelo matemático do circuito T.

39
6.2.2. Circuito π-nominal

Considere a figura 6.04, representativa do circuito π-nominal de uma linha de


transmissão, onde a impedância longitudinal e a admitância transversal são dadas por:

• Y G B
Z= R + j XL e = +j
2 2 2
• XL •
I1 1
I R 2 I2

• B B
V1 G
2 α G
2

V2
2 2

Y 
Y
2 2

Fig. 6.04 – Circuito π-nominal para uma linha de transmissão de energia elétrica.

Aplicando as Leis de Kirchhoff ao circuito representado na figura 6.04 obtém-se:


• Y• •
Nó 1: I1 − V 1 − I = 0 (6.19)
2

• Y• •
Nó 2: I − V2 − I2 = 0 (6.20)
2
• • • •
Malha α: − V1 + Z I + V 2 = 0 (6.21)

Da expressão (6.19), resulta:


• Y • •
I = V2 + I2 (6.22)
2

Substituindo-se (6.21) em (6.20) e reagrupando a expressão resultante, tem-se:

 • •

 
 ZY  • • •
V1 = 1 + V2 + Z I2 (6.23)
 2 
 
 

Levando (6.22) e (6.23) em (6.19), tem-se:

 • •  • •

   •
 ZY  • • 1 + Z Y  I 2
I1 = 1 + Y V2 + (6.24)
 4   2 
   
   

As expressões (6.22) e (6.23) representam o modelo matemático do circuito π-nominal.

40
Embora os resultados com os dois modelos estejam bastante próximos, o mais
empregado é oπ -nominal pois não introduz barras fictícias no sistema. Ainda para estes
circuitos, a representação dos parâmetros continua a ser na forma concentrada.
As linhas enquadradas nos limites estabelecidos a seguir podem ser representadas por
estes modelos.

150 kV < tensão < 400 kV comprimento < 200 km


400 kV < tensão comprimento < 100 km

6.2.3. Linhas Longas

Os modelos para estas linhas são empregados quando aqueles das situações anteriores
não forem suficientemente precisos para os fins desejados. Neste caso as equações exatas das
linhas devem ser empregadas. A representação, nesse caso, é a parâmetros distribuídos. As
equações encontram-se reescritas a seguir.

• • • • • •
V1 = V2 cosh ( γ ) + I 2 Z c senh ( γ )

• • • V2 •
I1 = I 2 cosh ( γ ) + •
senh ( γ )
Zc

Admitindo-se inicialmente que o circuito π possa ser empregado para representar estas
linhas e considerando que, para representar a linha pelo modelo π e levar em conta que os
paramentos, neste caso, devem ser considerados distribuídos, correções devem ser
introduzidas.
• •
Assim, sejam Z' e Y' a impedância série e admitância em derivação totais corrigidas da
linha. Nestas condições, pode-se escrever:

 • • 

 
 Z' Y'  • • •
V1 = 1 + V 2 + Z' I 2 (6.25)
 2 
 
 

Comparando-se a equação (6.25) com sua correspondente exata para a tensão, isto é,
equação (6.03), tem-se:
• •
• Z' Y'
cosh ( γ ) = 1 + (6.26)
2
• • •
Z c senh ( γ ) = Z' (6.27)

A partir da equação (6.25), obtém-se:

• •
cosh ( γ ) − 1 Y'

= (6.28)
2
Z'

Levando a expressão (6.27) na expressão (6.28), tem-se:

41
• •
cosh ( γ ) − 1 Y'
• •
= (6.29)
2
Z c senh ( γ )

Como

• •
cosh ( γ ) − 1 γ

= tanh (6.30)
2
senh ( γ )

Resulta

• •
Y' 1 γ
= •
tanh (6.31)
2 2
Zc

Lembrando que:
• • •
Zc = Z Y (6.32)
e ainda que

• • • • •
γ  = z  y = Z Y (6.33)

Resulta:

• • • • •
Y' Y γ ZY
= •
tanh × •
2 2
Z γ

Logo
• • •
Y' Y γ
= • tanh (6.34)
2 2
γ

Dividindo o numerador e o denominador do segundo membro da expressão (6.34) por 2,


obtém-se:


• γ•
tanh
Y' Y 2
= •
[S] (6.35)
2 2
γ
2

42
Substituindo-se as equações (6.32) e (6.33) na expressão (6.27), tem-se;

• • •
Z • ZY •

senh ( γ ) × •
= Z'
Y γ

Logo

• • senh ( γ )
Z' = Z •
[Ω] (6.36)
γ

Os fatores de correção, mostrados a seguir, tornam-se unitários para pequenos valores



de γ  .

γ •
tanh
2 senh ( γ )

e •
γ γ
2

O circuito π-nominal, assim corrigido, passa a denominar-se π-equivalente.

7. Constantes generalizadas - quadripolos

Uma linha de transmissão pode ser representada por um circuito contendo quatro
terminais conforme a figura 7.01.

• •
I1 1 2 I2
• •
V1 V2
1 2

Fig. 7.01 – Representação de um quadripolo.

Um circuito desse tipo fica perfeitamente definido por um conjunto de equações


lineares, inter-relacionadas. Cada uma dessas equações possui variáveis independentes e
dependentes relacionadas entre si pelos parâmetros dos respectivos circuitos, aos quais são
impostas as seguintes restrições:

a) Devem possuir apenas uma entrada e uma saída, representadas por dois pares de
terminais, podendo um dos terminais vir a ser comum a ambos os pares;
b) Devem ser passivos, isto é, sem fontes de tensão;

43
c) Devem ser lineares, ou seja, o sinal de saída tenha a mesma forma do sinal da entrada
– impedância e admitância constantes independente da tensão e corrente aplicada;
d) Devem ser bilaterais, isto é, a resposta de um sinal aplicado a um dos terminais deve
ser a mesma se o sinal for aplicado ao outro terminal – exclui retificadores de corrente.

• • • •
Considerando-se V2 e I 2 como variáveis independentes, V1 e I1 como variáveis
dependentes, pode-se escrever.

 •  • •  • 
 V1  = A•
B   V2 
• (7.01)
   C D  • 

 1
I    I2 

Ou ainda.
• • • • •
V1 = A V 2 + B I 2
• • • • •
(7.02)
I1 = C V 2 + D I 2

• • • •
As constantes A , B , C e D do quadripolo gozam das seguintes propriedades:

1. Para circuitos simétricos a igualdade definida a seguir é sempre válida, ou seja:

• •
A=D

2. O determinante da matriz com as constantes generalizadas, mostrada na equação


(7.01) é igual à unidade, independentemente do circuito ser simétrico ou não, isto é:

• • • •
A D − B C =1

3. Com base na equação (7.02) verifica-se que as constantes generalizadas têm as


seguintes unidades:

A - adimensional;

B - unidade de impedância, isto é, ohm [Ω];

C - unidade de admitância, ou seja, siemens [S];

D - adimensional.

7.1. Constantes generalizadas para modelos de linhas

As constantes generalizadas, dos diferentes tipos de linhas, podem ser obtidas por meio
da comparação direta dos modelos matemáticos dessas linhas com o modelo matemático
representativo de um quadripolo.

7.1.1. Constantes generalizadas para linhas curtas

Promovendo-se a comparação da equação (6.12) com a equação (7.02), obtém-se:

44
• • • • •
A = D =1 ; B= Z ; C=0

7.1.2. Constantes generalizadas para linhas médias

7.1.2.1. Modelo T

Promovendo-se a comparação das equações (6.18) e (6.17), respectivamente, com as


equações da tensão e da corrente, mostradas em (7.02), obtém-se:

 • •
• •

  • •
• • ZY  ZY  •
A = D =1 + ; B = 1+ Z; C=Y
2  4 
 
 

7.1.2.2. Modelo π-nominal

Fazendo-se a comparação das equações (6.23) e (6.24), respectivamente, com as


equações da tensão e da corrente, mostradas em (7.02), obtém-se:

 • •
• •
• • •
 
• • ZY  ZY  •
A = D =1 + ; B= Z ; C = 1+ Y
2  4 
 
 

7.1.3. Constantes generalizadas para linhas longas

Realizando-se a comparação das equações (6.03) e (6.04), respectivamente, com as


equações da tensão e da corrente para o quadripolo, mostradas em (7.02), obtém-se:

• • • • • • • 1 •
A = D = cosh ( γ ) ; B = Z c senh ( γ ) ; C= •
senh ( γ )
Zc

7.2. Interpretação das constantes generalizadas de linhas de transmissão – diagrama


fasorial

As constantes generalizadas são geralmente representadas por números complexos.


Assim, pode-se escrevê-las como segue:


A = a 1 + j a 2 = A e jβ A

B = b 1 + j b 2 = B e jβ B

C = c 1 + j c 2 = C e jβ C
• •
D = d 1 + j d 2 = D e jβ D = A

45
Estando as constantes representadas na forma cartesiana e polar e, considerando ainda a
equação da tensão do quadripolo, é possível construir o diagrama fasorial para o quadripolo
em carga.

Tomando a tensão V2 na referência e sendo a carga considerada indutiva, o diagrama
vetorial toma a forma mostrada na figura 7.02:

  I
B
V 1
2

I V b 2 I 2
V
C  1 ϕ1 A 2

2 b1I 2
c2V 2
θ

a 2V

a 1V 2
2

V

c1 V 2
2 ϕ2  I
D 2
d 2 I 2
d1I 2

Fig. 7.02 – Diagrama vetorial de um quadripolo em carga.

Com base no diagrama vetorial apresentado na figura 7.02 e nas equações do



quadripolo, para as condições de terminal receptor em vazio( I 2 = 0 ) e em curto-circuito(

V 2 = 0 ), é possível fazer as seguintes observações:

• •
1. Para uma linha operando em vazio a equação da tensão fica reduzida a A V2 . Esse é

o valor da tensão no transmissor para garantir a tensão V2 no receptor em vazio.
• • •
A componente a 1V 2 está em fase com V2 e a componente a 2 V 2 é a parcela
necessária a manutenção do campo elétrico.
• •
2. Para uma linha em vazio a equação da corrente fica reduzida a C V 2 que representa a

corrente de carga da linha. O produto c1 V 2 representa a componente da corrente através da

condutância g e c 2 V 2 representa a componente da corrente através da susceptância
capacitiva b. O argumento é, em geral, maior do que 90°;
• •
3. Para uma linha em curto-circuito a equação da tensão se reduz a B I 2 . Este é o valor
• •
da tensão no transmissor para assegurar a circulação de I 2 no receptor. A componente b1 I 2

representa a queda de tensão na resistência série e b 2 I 2 a queda de tensão na reatância
indutiva;
• •
4. Para uma linha em curto-circuito a equação da corrente fica reduzida a D I 2 . Esse é o
valor da corrente absorvida pela linha junto ao transmissor quando alimentada pela tensão
• • • •
B I 2 . A componente d1I 2 = a 1 I 2 representa a componente da corrente de curto-circuito que
• •
produz a queda de tensão na resistência série e d 2 I 2 = a 2 I 2 a componente da corrente de
curto-circuito que provoca queda de tensão na reatância indutiva.

As constantes generalizadas podem ter suas componentes reais e imaginárias


determinadas a partir das figuras 7.03, 7.04, 7.05, 7.06, 7.07 e 7.08, mostradas a seguir. Com
46
esses gráficos, conhecidas as grandezas: comprimento, relação da resistência série pela
reatância indutiva e ainda a impedância característica da linha, todas as componentes ficam
perfeitamente determinadas.


Fig. 7.03 – Componente real da constante A (Fonte: figura 6.7. – página 108:
Stevenson Jr., William D., Elementos de Análise de Sistemas de Potência, São Paulo, Editora
McGraw – Hill do Brasil, Ltda, 1974, 1ª Edição em língua portuguesa)

O módulo da constante A decresce com o aumento do comprimento da linha, valendo
1(um) para linhas curtas e aproximadamente 0(zero) para linhas com comprimento físico
igual a λ/4. Volta a crescer para valores de ℓ maiores que λ/4, tornando-se maior que a
unidade para ℓ = λ/2;


Fig. 7.04 – Componente imaginária da constante A (Fonte: figura 6.8. – página 108:
Stevenson Jr., William D., Elementos de Análise de Sistemas de Potência, São Paulo, Editora
McGraw – Hill do Brasil, Ltda, 1974, 1ª Edição em língua portuguesa)

47

Fig. 7.05 – Componente real da constante B , por unidade de Zc (Fonte: figura 6.9. –
página 109: Stevenson Jr., William D., Elementos de Análise de Sistemas de Potência, São
Paulo, Editora McGraw – Hill do Brasil, Ltda, 1974, 1ª Edição em língua portuguesa)


Fig. 7.06 – Componente imaginária da constante B , por unidade de Zc (Fonte: figura
6.10. – página 109: Stevenson Jr., William D., Elementos de Análise de Sistemas de Potência,
São Paulo, Editora McGraw – Hill do Brasil, Ltda, 1974, 1ª Edição em língua portuguesa)

48

Fig. 7.07 – Componente real da constante C , por unidade de Zc (Fonte: figura 6.11. –
página 110: Stevenson Jr., William D., Elementos de Análise de Sistemas de Potência, São
Paulo, Editora McGraw – Hill do Brasil, Ltda, 1974, 1ª Edição em língua portuguesa)


Fig. 7.08 – Componente imaginária da constante C , por unidade de Zc (Fonte: figura
6.12. – página 110: Stevenson Jr., William D., Elementos de Análise de Sistemas de Potência,
São Paulo, Editora McGraw – Hill do Brasil, Ltda, 1974, 1ª Edição em língua portuguesa)

7.3. Quadripolos representativos de outros componentes dos sistemas de potência

Pode haver a necessidade de incluir no estudo de uma linha de transmissão a influência


de equipamento ligado em seu terminal, bem como cargas a serem supridas. Considerando as
mesmas restrições estabelecidas para os circuitos, para que possam ser representados por
quadripolos, busca-se pelas constantes generalizadas de alguns componentes do sistema de
potência.

49
7.3.1. Impedância série

Considere a situação representada na figura 7.09., onde uma impedância série é


• •
percorrida pela corrente I a = I b .

I = I
a b

Z s

V 
V
a b

Fig. 7.09 – Circuito formado por uma impedância série.

Para este circuito podem ser escritas as seguintes equações:

• • • •
Va = Vb + I b Z S (7.03)
• •
Ia = Ib

Comparando as equações (7.03) com as suas respectivas equações da tensão e da


corrente, escritas para um quadripolo, obtém-se:

• • • • •
A = D =1 ; B = ZS ; C=0

7.3.2. Admitância em derivação

Considere a situação da figura 7.10., onde está representada uma admitância transversal.
I I
a b


V  
V
a Y p b

Fig. 7.10 – Circuito formado por uma admitância transversal

Para este circuito podem ser escritas as seguintes equações:

• •
Va = Vb
(7.04)
• • • •
I a = Yp Vb + I b

Comparando as equações (7.04) com as suas respectivas equações da tensão e da


corrente, escritas para um quadripolo, obtém-se:

50
• • • • •
A = D =1 ; B = 0; C = Yp

7.3.3. Transformadores

Estes podem ser representados por um circuito T ou gama( Γ ).

7.3.3.1. Circuito T

Considere o circuito mostrado na figura 7.11.

I I
a Z t Z t b
2 2


Y

V
t 
V
a b

Fig. 7.11 – Circuito T

Para esse circuito, por semelhança com o circuito T para linhas, as equações são dadas
por:

   

 • • •  • •  • •
V a = 1 +
Z t Y t  V b + 1 + Z t Y t  Z I b (7.05)
 2   4  t
   
   

 





• •
I a = Yt V b + 1 +
Z t Y t  I b (7.06)
 2 
 
 

Comparando as equações (7.05) e (7.06), respectivamente, com as equações da tensão e


da corrente, escritas para um quadripolo, obtém-se:

 
• •
• • 

• •  • • •
A = D =1 +
Z t Yt
; B = 1 + t t
Z Y  Z ; C = Yt
2  4  t
 
 

51
7.3.3.2. Circuito Γ

Na prática, normalmente, se apresenta como o mais conveniente sendo suficientemente


preciso. Existem duas situações a serem consideradas.

Ia 
Z Ib
A Z tt


V t
YY α 
V
a t b

(a)

(b)

Fig. 7.12 – Circuitos Γ - ligações (a) e (b)

Aplicando-se as Leis de Kirchhoff nos circuitos representados nas figuras 7.12(a) e


7.12(b), tem-se:

Ligação(a)

• • • • • • • •
Malha α: − Va + Z t I b + Vb = 0 → Va = Vb + Z t I b (7.07)
• • • • • • • •
Nó A: I a − Yt Va − I b = 0 → I a = Yt Va + I b (7.08)

Substituindo-se a expressão (7.07) na expressão (7.08) e reagrupando-se, resulta:

• • • • • •
I a = Yt Vb + (1 + Yt Z t ) I b (7.09)

Comparando-se as equações (7.07) e (7.09), respectivamente, com as equações da


tensão e da corrente escritas para o quadripolo, tem-se:
• • • • • • • •
A =1 ; B = Zt ; C = Yt ; D = (1 + Yt Z t )

52
Ligação(b)
• • • • • • • •
Malha α: − Va + Z t I a + Vb = 0 → Va = Vb + Z t I a (7.10)
• • • • • • • •
Nó A: I a − Yt Vb − I b = 0 → I a = Yt Vb + I b (7.11)

Substituindo-se a expressão (7.11) na expressão (7.10) e reagrupando-se, resulta:


• • • • • •
Va = (1 + Yt Z t ) Vb + Z t I b (7.12)

Comparando-se as equações (7.12) e (7.11), respectivamente, com as equações da


tensão e da corrente, escritas para o quadripolo, tem-se:

• • • • • • • •
A = (1 + Yt Z t ) ; B = Zt ; C = Yt ; D= 1

Observando-se as constantes generalizadas obtidas para as ligações (a) e (b), verifica-se


• •
que como o circuito Γ é assimétrico a constante A é diferente da constante D .

EXERCÍCIO

7.4. Constantes generalizadas de associações de quadripolos

Muitas vezes ao analisar o comportamento de uma linha é interessante fazê-lo incluindo


os elementos terminais. Para tanto se faz necessário associar os quadripolos.
Existem três maneiras básicas de fazê-lo. São elas:

a. Em cascata;
b. Em paralelo;
c. Em série.

Outras maneiras de associar quadripolos podem ser obtidas pela combinação das três
formas básicas. Na análise de sistemas de energia elétrica o maior interesse recai nas duas
primeiras maneiras.

7.4.1. Constantes generalizadas resultantes da associação de quadripolos em cascata

Considere dois quadripolos representados por suas constantes e associados como


mostrado na figura 7.13:

I I I
S R

A 
B 
A 
B
1 1 2 2


V 
V 
V
S R

C 
D 
C 
D
1 1 2 2

Fig. 7.13 – Associação em cascata de dois quadripolos.

53
Com base na figura e na expressão (7.01) definidas para o quadripolo, pode-se escrever:

 •   • •  •
 •   A• •  • 
 VS  =  A1 B1  V  V  2 B 2   VR 
• (7.13) e • = (7.14)
 •   • •
I I  C
• •
 • 
 I S   C1 D1       2 D2   IR 

Substituindo (7.13) em (7.12), resulta:

 •   • •   • •  • 
 VS  =  A1 B1   A2 B 2   VR 
(7.15)
 •   • •
  • •
 • 
 I S   C1 D1   C2 D2   IR 

O produto matricial representado na equação (7.14) conduz ao seguinte resultado:

• 
 •   A •
B   VR 

V
 S =   
• 
 •   •  • 
 I S   C D   I R 

Onde:
• • • • •
A = A1 A 2 + B1 C 2
• • • • •
B = A1 B 2 + B1 D 2
• • • • •
C = C1 A 2 + D1 C 2
• • • • •
D = C1 B 2 + D1 D 2

7.4.2. Constantes generalizadas resultantes da associação de quadripolos em paralelo

Considere a figura a seguir, representativa da associação de dois quadripolos em


paralelo.
I I' I'
S S
R
I
R

A 
B
1 1

 
V
V S R


C 
D
1 1

I" I"
S R

A 
B
2 2


C 
D
2 2

Fig. 7.14 – Associação em paralelo de dois quadripolos.

As correntes injetadas e as tensões aplicadas aos nós R e S estão relacionadas por meio
da matriz de admitâncias nodais, como segue:

54
• •
 •
 •    V 
 I S  =  Y SS Y SR
  •S  (7.16)
 •  • •  V 
 IR  Y RS Y RR   R 

As admitâncias de entrada ou vistas dos nós e as admitâncias de transferência entre os


nós são definidas a partir da equação (7.16), como segue:

• •   • 

IS IS
Y SS =  •  Y SR =  • 

  •
 
Para V R = 0 ⇒ {  VS 
Para V S = 0 ⇒ {  VR 
•  •  •  • 
IR IR
Y RS =  •  Y RR =  • 
   
 VS   VR 

Para o quadripolo resultante da associação em paralelo mostrada na figura (7.14), pode-


se escrever:

• 
 •  A •
B   VR 

 VS  =    (7.17)
• 
 •   •  • 
 I S   C D   I R 


A partir da equação (7.16), fazendo-se V R = 0 obtém-se:

•  •  •
I D
=  •  = •
S
Y SS
 
 VS  B
• • •


•  • 
VS = B IR IS IR 1
• • •
⇒{ IR = ⇒ Y RS =  •  = • (7.17)
•  
IS = D I R D  VS  B

• B •
VS = •
IS
D


A partir da equação (7.16), fazendo-se V S = 0 obtém-se:


• •  •  •

B  IR  A
VR = − • IR Y RR = • =− •
• • • •  
0 = A VR + B IR A  VR  B
• • • • •
⇒{ ⇒{
•  

 • 
IS = C V R + D I R •
 B •• • 1• • IS 1
IS = C  − •  + D I R I S = • I R ⇒ Y SR =  •  = − •
 A  
  A  VR  B
(7.18)

A partir da figura 7.14 obtém-se:


55
• • •
I S = I'S + I"S
(7.19)
• • •
I R = I' R + I"R

Logo, como [I]= [Y ][V ] , para as condições da figura 7.14, pode-se escrever:

 • ''    V S 

•    • '
•I S  =   Y  +  Y    •  (7.20)
I R  
        V R 

Isto é:

  •' •
  •' •
 
 Y SS + Y '' SS   Y SR + Y '' SR  
  

     • 
•I S  =       V S
 (7.21)
I R  

 •' •
  •' •   VR 
    Y RS + Y '' RS   Y RR + Y '' RR    
     
   

Considerando as admitâncias definidas em função das constantes generalizadas,


conforme as equações (7.17) e (7.18), tem-se:

  • •   1  
 D1 D 2 
 − • + •  
1
 • + 
  

 B1

     • 
•I S  =   B 2   B1 B 2   V S
(7.22)
I R    1  • •   •
 VR 
    1   A1 A 2    
 + − • + •  
 • • 
 B1 
  B1 B 2   B2  

Desmembrando o conjunto de equações (7.22), obtém-se:

•  1  •  • •  •
IR =  • + •
1  V −  A1 + A 2 
  S  • •  VR
 B1 B 2  
 B1 B2 
Logo.
 • •  •  • •  •

 A1 A 2   B1 + B 2 
IR +  • + •  VR =  • •  VS
 B1   B1 B 2 
 B2   

 • • • •  •  • • •
•  A1 B 2 + A 2 B1   B1 B 2 
VS =  • •  VR +  • •  IR (7.23)
 +   B1 + B 2 
 B 1 B 2   

Ainda, do conjunto (7.22), tem-se:

56
•  • •  •  1  •
 D1 D 2   1 V
IS =  • + •  VS −  • + •
 B1   R
 B2   B1 B 2 

Substituindo-se a equação (7.23) na expressão imediatamente anterior, tem-se:

• • • •
  • • • •   • • •  • •  •

 D1 B 2 + D 2 B1    A1 B 2 + A 2 B1  •  B1 B 2    B1 + B 2 
IS =  • •   • •  VR +  • •  IR  −  • •  VR
   +   B1 + B 2    B1 B 2 
 B 1 B 2   B 1 B 2      

Desenvolvendo e reagrupando, tem-se:

 • • • •   • • • 
• • • •
 •
  D1 B 2 + D 2 B1   A1 B 2 + A 2 B1   • •
    D1 B 2 + D 2 B1  


IS =     −  B1 + B 2   V

+
   I•
• •
• •
  • •  R
 • •   R
   
 B1 B 2  B1 + B 2   B1 B 2    B1 + B 2 
       

 • • • •  • • • • 
• •
 • •

  D1 B 2 + D 2 B1  A1 B 2 + A 2 B1  −  B1 + B 2  B1 + B 2  
• •

IS =       V
• •
• •
  R
 B1 B 2  B1 + B 2  
    (7.24)
 • • • • 
  D1 B 2 + D 2 B1  

+    I•
• •   R
  B1 + B 2  
   

Comparando-se as equações (7.23) e (7.24) com suas correspondentes, escritas para o


quadripolo resultante da associação em paralelo de dois quadripolos, resulta:

 • • • • 
• A1 B 2 + A 2 B1 
A= • • ;
 B1 + B 2 
 

 • • 
• B1 B 2 
B= • • ;
 B1 + B 2 
 

 • • • •  • • • •   • •  • •  
  D1 B 2 + D 2 B1  A1 B 2 + A 2 B1  −  B1 + B 2  B1 + B 2  

  ;
C =     

• •  • • 
 B1 B 2  B1 + B 2  
   

57
 • • • • 
  D1 B 2 + D 2 B1  


D =  
 • •  
  B1 + B 2  
   

• • • • •
Considerando a relação A D − B C =1 , a constante C pode ainda ser colocada sob a
seguinte forma:

• •  • • 
 A 1 − A 2   D 2 − D1 
• • •
C = C1 + C 2 +   
 • • 
 B1 + B 2 
 

• • • •
• A 1 D1 − 1 • A2 D2 − 1
Onde: C1 = •
e C2 = •
B1 B2

7.4.3. Constantes generalizadas resultantes da associação de quadripolos em série

Considere a figura a seguir, representativa da associação de dois quadripolos em série.

I I
S R

A 
B
1 1
'
V '
V
S R

C 
D
1 1


V 
V
S R


A 
B
2 2

"
V "
V
S R


C 
D
2 2

Fig. 7.15 – Associação em série de dois quadripolos.

As correntes injetadas e as tensões aplicadas aos nós R e S estão relacionadas por meio
da matriz de impedâncias nodais, como segue:

• •
 •
 •    I 
 VS  =  Z SS Z SR
  •S  (7.25)
 •  • •  I 
 VR   Z RS Z RR   R 

As impedâncias de entrada ou vistas dos nós e as impedâncias de transferência entre os


nós são definidas a partir da equação (7.25), como segue:

58
•  •   •  •
VS VR
Z SS =  •  Z SR =  • 

  •
 
 IS   IS 
Para V R = 0 ⇒ { Para V S = 0 ⇒ {
•  •  •  • 
VS VR
Z RS =  •  Z RR =  • 
   
 IR   IR 

Para o quadripolo resultante da associação em série mostrada na figura (7.15), pode-se


escrever:

• 
 •  A• B   VR 

 VS  =   
• 
 •   •  • 
 I S   C D   I R 

A partir da figura 7.15 obtém-se:

• • •
V S = V'S + V"S
(7.26)
• • •
V R = V' R + V"R

Logo, como [V ]= [Z][I] , para as condições da figura 7.15, pode-se escrever:

•   •  •''   • 
V

S
=   
Z '
+ Z    •I S  (7.27)
V R         IR 
   

Isto é:

  •' •   •' •  
  Z SS + Z ''SS  Z + Z ''SR  
•      SR   • 
 VS  =       IS  (7.21)

•    •' •   •' •   • 
V R 

 Z RS + Z '' RS  Z + Z '' RR  
 IR 
   RR 
     

Com as impedâncias da matriz da equação (7.21), definidas em função das constantes


generalizadas dos dois quadripolos, determinam-se as constantes do quadripolo resultante da
associação série.

EXERCÍCIO

7.5. Obtenção direta das constantes das linhas de transmissão

As constantes podem ser obtidas através de medições efetuadas diretamente nos


terminais das linhas. Isto é feito medindo as impedâncias “vistas” do transmissor com a linha
em vazio e curto-circuito no receptor.

59
• •
Assim, considerando-se as equações de um quadripolo, escritas para V 2 e I 2 como
variáveis independentes, tem-se:

• • • • •
V1 = A V 2 + B I 2
• • • • •
I1 = C V 2 + D I 2


Para o receptor em vazio ( I 2 = 0 ), resulta:

• •
V10 A •0

= •
= Z11 (7.22)
I10 C


Para o receptor em curto-circuito ( V 2 = 0 ), logo:

• •
V1cc B • cc

= •
= Z11 (7.23)
I1cc D

• •
Considerando V 1 e I1 como variáveis independentes, as equações ficam:

• • • • •
V 2 = D V 1 − B I1
• • • • •
I 2 = − C V 1 + A I1

Sendo a tensão aplicada no receptor, o sentido da corrente considerado nas equações é


contrário ao que ocorre na medição. Assim, faz-se necessária a troca do sinal dos termos da
equação da corrente. Isto é:

• • • • •
I 2 = + C V 1 − A I1


Para o transmissor em vazio ( I1 = 0 ):

• •
V20 D •0

= •
= Z 22 (7.24)
I 02 C


Para o transmissor em curto-circuito ( V1 = 0 ):

60
• •
V2cc B • cc

= •
= Z 22 (7.25)
I cc
2
A

Portanto têm-se quatro equações e quatro incógnitas, constituídas pelas igualdades


(7.22, 7.23, 7.24 e 7.25). Resolvendo-se este sistema de equações, obtêm-se as constantes,
como segue.
Trocando-se o sinal de ambos os membros da igualdade 7.23 e somando-se com a
igualdade 7.22, resulta:

• •
A B •0 • cc


− •
= Z11 − Z11
C D

• • • •
A D − BC •0 • cc

• •
= Z11 − Z11
CD

Logo

1 •0 • cc

• •
= Z11 − Z11
CD

Introduzindo a igualdade 7.24, na expressão anterior, tem-se:

•0
Z 22 •0 • cc
= Z11 − Z11
• 2
D

Logo

•0
• Z 22
D =
•0 • cc
Z11 − Z11


Substituindo-se a constante D na igualdade 7.23, obtém-se:

•0
• • cc Z 22
B = Z11
•0 • cc
Z11 − Z11


Substituindo a constante B na relação 7.25, tem-se:

61
• cc •0
• Z11 Z 22
A =
• cc •0 • cc
Z 22 Z11 − Z11

Ou ainda

• •
A =D

• •
A constante C pode ser determinada substituindo-se a constante D na relação 7.24, ou
• • • •
ainda empregando a relação A D − B C = 1 e levando-se, nesta última, os valores das

constantes já determinadas. Substituindo-se a constante D na relação 7.24, tem-se:

•0
• 1 Z 22
C =
•0 • 0 • cc
Z 22 Z11 − Z11

Manipulando-se a expressão anterior, resulta:

• 1
C =
•0 •0 • cc
Z 22 ( Z11 − Z11 )

7.6. Linha artificial

Na análise de fenômenos transitórios os modelos elétricos representados por seus


circuitos π ou T equivalentes mostram-se inadequados devido à importância que desempenha
o efeito da distribuição dos parâmetros elétricos ao longo do comprimento das linhas.
Com o objetivo de contornar o problema, divide-se a linha em um elevado número de
células representativas de circuitos π nominal ou T de segmentos do comprimento da linha,
ligadas em série, conforme mostrado na figura 7.16.

Z 2n Z 2n Z 2n Z 2n Z 2n Z 2n
I1 I2

Y Y Y
V1 V2
n n n

n

Fig. 7.16 – Circuito equivalente da linha formado por n circuitos T.

O modelo matemático conveniente para estes estudos pode ser obtido pela associação
em cascata de um grande número de quadripolos iguais, cada um representando um trecho de
igual comprimento da linha. A figura 7.17 ilustra esta situação.

62
I1 I2
A B A B A B
V1 V2
C D C D C D

Fig. 7.17 – Quadripolos associados em cascata

As linhas assim constituídas denominam-se linhas artificiais.


Estudos mostram que se cada célula ou quadripolo representar um trecho de 20 a 25 km
de linha, obtêm-se resultados satisfatórios.

7.7. Relações de potência nas linhas de transmissão

Na modelagem das linhas admitiu-se que as mesmas terminavam em impedâncias,


definidas por:

• V2
Z2 = •
(7.26)
I2

Entretanto, as cargas alimentadas são dos mais variados tipos, cujas impedâncias nem
sempre são especificadas, além de sofrerem variação significativa com a tensão a que estão
submetidas. Assim, a representação por impedância é aproximada.
Em geral, as cargas são especificadas através das demandas em potências ativa e reativa
ou pelas potências aparentes e seus fatores de potência correspondentes. Estas grandezas
também variam com a tensão aplicada, entretanto são definidas para valores de tensão
nominais do sistema.
A potência aparente junto ao receptor da linha pode ser definida por:

• • •
S 2 = P2 + jQ 2 = V2 I *2 (7.27)

Onde:

S 2 = potência aparente por fase, [MVA];
P2 = potência ativa por fase, [MW];
Q 2 = potência reativa por fase, [MVAr];

V2 = tensão entre fase e neutro no receptor, [kV];

I *2 = conjugado da corrente junto ao receptor, [kA].

7.7.1. Relações de potência no receptor

Conforme desenvolvido anteriormente, tem-se:

• • • • •
V1 = A V2 + B I 2 (7.28)

• •
Dividindo-se a expressão (7.28) por B e isolando I 2 , obtém-se:

63
• • •
• V1 A V2
I2 = •
− •
B B

• • 0
Considerando V2 como referência, isto é, ( V2 = V2 e j0 ), tem-se:

• V1e jθ Ae jβA
I2 = jβ B
− jβ B
V2 e j0 º
Be Be

Ou ainda

• V1 j ( θ − βB) AV2 j (βA − βB)


I2 = e − e
B B

O ângulo de potência da linha( θ ) é especificado a partir das condições de estabilidade


dinâmica. Assim, o conjugado da corrente será:


V1 j ( βB − θ) AV2 j (βB − βA )
I ∗2 = e − e
B B


Logo S 2 pode ser reescrita como segue:

• V AV2 j (βB − βA ) 
S 2 = V2 e j0 º  1 e j ( βB − θ) − e  (7.29)
B B 

Da equação (7.29) obtém-se:

 •  V2 V1 AV2 2
P2 = ℜe S 2  = cos(βB − θ) − cos(βB − βA) (7.30)
  B B
2
 •  V2 V1 AV2
Q 2 = Im S 2  = sen (βB − θ) − sen (βB − βA) (7.31)
  B B

Sendo dados P2, Q2, V2, e especificado θ, calcula-se V1. Caso seja fornecido P2, Q2, V1,
e θ, determina-se V2.
A partir das expressões de P2 e Q2, para uma dada relação entre V1 e V2, obtém-se a
máxima potência ativa transmissível para θ = βB .

V2 V1 AV2 2
P2 MAX = − cos(βB − βA)
B B

A correspondente potência reativa será:

64
AV2 2
Q 2 MAX = − sen (βB − βA)
B

Em geral, quando a linha interliga dois sistemas ocorre a fixação dos valores de V1 e V2.
Quando trata-se de linhas radiais, em geral, V1 é prefixado. Para esta condição, fixados
os valores de P2 e Q2, lembrando da relação S 2 2 = P2 2 + Q 2 2 e considerando ainda as
equações (7.30) e (7.31), obtém-se a expressão (7.36) por meio do procedimento que sesegue:

2
 AV2 2   V2 V1 
2

P2 + cos(β B − β A) =  cos(β B − θ) (7.32)


 B   B 

2
 AV2 2   V2 V1 
2

Q 2 + sen (βB − βA) =  sen (β B − θ) (7.33)


 B   B 

Somando membro a membro as expressões (7.32) e (7.33) obtém-se:

2 2
 AV2 2   AV2 2   V2 V1 
2

P2 + cos(βB − βA) + Q 2 + sen (βB − βA) =   (7.35)


 B   B   B 

Desmembrando a expressão (7.35), tem-se:

A 2 V2 4 2
P2 2 + [cos(βB − βA)]2 + 2P2 2 + AV2 cos(βB − βA) +
B2 B
2
A 2 V2 4 AV2 2  V2 V1 
Q22 + [sen (βB − βA)] + 2Q 2 +
2
sen (βB − βA) =  
B2 B  B 

Reagrupando-se a equação anterior, tem-se:

2
A 2 V2 4 AV2 2
S2 2 + +2 [P2 cos(βB − βA) + Q 2 sen (βB − βA)] =  V2 V1 
B2 B  B 

Multiplicando-se ambos os membros da expressão anterior por B2 / A2 resulta:

2
B2 2 V2 2 V1 2
S + V2 4 + 2
2 2
BV2
[P2 cos(βB − βA) + Q 2 sen (βB − βA)] =
A A A2

Logo

2B  V1 2  B 2 S 2 2
V2 4 + V2 2  2
P cos(β B − β A ) + Q 2 sen (β B − β A ) − + =0 (7.36)
A  2AB  A2

A solução geral da equação (7.32) é dada por:

65
− b ± b 2 − 4ac
V2 = ±
2a

Sendo:

a = 1;
2B  V1 2 
b=  2
P cos(β B − β A ) + Q 2 sen (β B − β A ) − ;
A  2AB 
B 2S 2 2
c= .
A2

Para que a solução seja aceitável, deve-se ter: b 2 − 4ac ≥ 0 .


Dentre as raízes reais deve-se optar pela de maior valor.
Considerando o transmissor alimentado por um barramento de tesão constante (V1=cte),
a figura a seguir mostra as curvas de variação da tensão no receptor de uma linha em função
das variações das potências ativa e reativa no receptor.
Pelas curvas verifica-se ser possível existir duas raízes para uma mesma potência ativa
transmitida, além dos limites máximos de transmissão. A menor raiz leva a correntes elevadas
e perdas inadmissíveis.

Fator de Potência Fator de Potência


Indutivo Capacitivo

Crescente Decrescente

Fator de Potência
Unitário

Fig. 7.18 – Variação da tensão no receptor de uma linha em função da potência ativa
entregue no mesmo terminal, para tensão constante no transmissor(Fonte: figura 4.13. –
página 146: Fuchs, Rubens Dario, Transmissão de Energia Elétrica - Linhas Aéreas, volume
1, Rio de Janeiro, Livros Técnicos Editora/Escola Federal de Engenharia de Itajubá, 1977 )

66
7.7.2. Relações de potência no transmissor

• • • •
Considerando V1 e I1 como variáveis independentes, V 2 e I 2 como variáveis
dependentes, as equações do quadripolo podem ser escritas como segue:

• • • • •
V 2 = D V 1 − B I1
• • • • •
I 2 = − C V 1 + A I1

• •
Dividindo ambos os membros da equação da tensão por B , isolando I1 e considerando,
• •
neste caso, V1 como referência, isto é, V1 = V1e j0 º , é possível escrever:

• D V
I1 = V1e j ( βD − βB ) − 2 e − j ( βB + θ )
B B

Onde V2 = V2 e − j θ .


O conjugado de I1 será:


D V
I1∗ = V1e j ( βB − βD ) − 2 e j ( βB + θ )
B B

Logo

• • •
D 2 j ( βB − βD ) V2 V1 j ( βB + θ )
S1 = V1 I1∗ = V1 e − e
B B

Portanto

 •  D VV
P1 = ℜe S1  = V1 2 cos( βB − βD) − 2 1 cos(βB + θ)
  B B

 •  D 2 VV
Q1 = Im S1  = V1 sen ( βB − βD) − 2 1 sen ( βB + θ)
  B B

Os valores máximos ocorrem para βB + θ = 180° . Logo:

D 2 VV
P1 MAX = V1 cos( βB − βD) + 2 1
B B

D 2
Q1 MAX = V1 sen ( βB − βD)
B

67
7.7.3. Perdas de potência e rendimento

A perda de potência na transmissão é dada por:

∆P = P1 − P2

Define-se o rendimento de uma linha por:

 ∆P 
η (%) = 1 −  ⋅ 100
 P1 

As perdas de potência em linhas de transmissão podem ser compostas por:

• perdas por efeito Joule nos condutores;


• perdas por dispersão no dielétrico entre os condutores;
• perdas causadas por correntes de Foucault e por histerese magnética na alma de aço
de condutores e em peças metálicas próximas às linhas;
• perdas por circulação de corrente nos cabos pára-raios.

As perdas por efeito Joule representam a maior parcela de perdas em linhas de


transmissão.
As perdas no dielétrico entre condutores são quase que exclusivamente devido ao efeito
Corona, podendo ocorrer ainda, em menor escala, no dielétrico dos isoladores. Nos cabos
subterrâneos além das perdas por Corona, existem ainda as perdas provocadas pelas correntes
de fuga ou de absorção do dielétrico.
As perdas por correntes Foucault e histerese magnética predominam nos cabos
subterrâneos, podendo ocorrer nos cabos com alma de aço em linhas aéreas.
Considerando a corrente constante ao longo do comprimento da linha, as perdas por
efeito Joule são dadas por:

∆P = 3 × 10 −3 I 2 r  [kW]

Sendo:
I [A] = corrente na linha;
r [Ω/km] = resistência efetiva dos condutores;
 [km] = comprimento da linha.

A corrente varia ao longo do comprimento da linha e no caso de linhas longas essa


variação é mais acentuada e a expressão anterior torna-se imprecisa.
Neste caso, o cálculo deve utilizar as expressões da potência ativa para o transmissor e
receptor, considerando que nelas as perdas por dispersão estão implícitas nos valores das
• •
constantes generalizadas através de Z c e γ .
Assim, procedendo, obtém-se:

2 2
V D V A 2V V
∆P = P1 − P2 = 1 cos(βB − βD) + 2 cos(βB − βA) − 1 2 cos(βB) cos(θ)
B B B

68
A grandeza ∆Q representa a energia reativa que a linha necessita para a manutenção de
seus campos elétricos e magnéticos, sendo calculável por:

2 2
V1 D V A 2V V
∆Q = Q1 − Q 2 = sen (βB − βD) + 2 sen (βB − βA) − 1 2 cos(βB)sen (θ)
B B B

Caso seja positiva, significa que a energia reativa necessária ao seu funcionamento
provém do sistema ligado à linha. Sendo negativa, significa que a linha gera reativos e os
fornece ao sistema. Será nula quando a linha operar com potência característica.

∆Q > 0 ⇒ Q1 − Q 2 > 0 ⇒ Q1 > Q 2

∆Q < 0 ⇒ Q1 − Q2 < 0 ⇒ Q1 < Q2

∆Q = 0 ⇒ Q1 − Q2 = 0 ⇒ Q1 = Q2

7.7.4. Regulação de tensão

Pode ser definida como segue: “A regulação de tensão de uma linha de transmissão é o
aumento da tensão na barra receptora, dado em porcentagem da tensão de plena carga, quando
toda a carga, a um determinado fator de potência, é retirada da linha, mantendo constante a
tensão da barra transmissora.”
A representação matemática da definição de regulação é mostrada na expressão a
seguir.

V2 vazio − V2 c arg a
ℜ(%) = 100 (7.37)
V2 c arg a

Com V1 = cte .

• • • • •
Para uma linha curta a expressão V1 = A V 2 + B I 2 transforma-se em:

• • • •
V1 = V 2 + B I 2


Logo para a linha em vazio ( I 2 = 0) , tem-se:

• •
V1 = V 2

Portanto, com a consideração de linha curta, a expressão (7.37) da regulação pode ser
reescrita como segue:

V1 − V2
ℜ(%) = 100
V2

69
O efeito da variação do fator de potência na carga sobre a regulação de tensão da linha
pode ser melhor visualizado para uma linha curta, através dos diagramas fasoriais
representados na figura 7.19.

V1 V1
V1 XI 2
XI 2

V2
I2
RI 2 RI 2
I2 I2 V2 RI 2 V2

Fig. 7.19 – Efeito da variação do fator de potência na carga sobre a regulção de tensão
de uma linha curta.

A relação entre o fator de potência e a regulação para linhas mais longas é semelhante à
das linhas curtas, embora não possa ser visualizada facilmente. Neste caso, a expressão da
regulação toma a forma da expressão a seguir.

V1
− V2
A
ℜ(%) = 100
V2

8.Bibliografia

1. FUCHS, R. D. Transmissão de energia elétrica: linhas aéreas. Rio de Janeiro: LTC,


1977. 2v.
2. STEVENSON, W. D. Elementos de análise de sistemas de potência. São Paulo:
McGraw-Hill do Brasil, 1974.
3. STEVENSON, W. D. Elementos de análise de sistemas de potência. 2.ed. São Paulo:
McGraw-Hill do Brasil, 1986.
4. GÖNEN, T. Electric power transmission system engineering: analysis and design. New
York: John Wiley & Sons, 1988.
5. MAGNUSSON, P.C.; ALEXANDER, G.C.; TRIPATHI, V.K. Transmission lines and
wave propagation. 3.ed. Boca Raton: CRC Press, 1992.
6. ELGERD, O. I. Introdução a teoria de sistemas de energia elétrica. São Paulo:
McGraw-Hill do Brasil, 1976.
7. MONTICELI, A.; GARCIA, A. Introdução a sistemas de energia elétrica. Campinas:
Editora da UNICAMP, 1999.
8. GUILE, A.E.; PATERSON, W. Electrical power systems. 2.ed. Oxford: Pergamon
Press, 1977. 2v.
9. CLARKE, E. Circuit analysis of AC power systems. New York: John Wiley & Sons,
1943. 2v.
10. LABEGALINI, P. R..; LABEGALINI, J. A.; FUCHS, R. D.; ALMEIDA, M. T. Projetos
mecânicos das linhas aéreas de transmissão. 2.ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.

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