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Citações trinitárias primitivas

Existem grupos que negam a Trindade e afirmam que a doutrina não foi
mencionada até o tempo do Concílio de Niceia (325 d.C.). Este concílio, primeiro
ecuménico, "foi convocado pelo imperador Constantino para tratar o erro do
arianismo, o qual ameaçava a unidade da Igreja cristã". Teria sido Constantino
quem introduziu a noção e o termo da Trindade.

Para refutar esta fábula que atribui a doutrina trinitária a Constantino, eis aqui
algumas citações de autores cristãos anteriores ao tempo de Constantino, que
desmentem tal erro:

As seguintes citações mostram que a doutrina da Trindade na verdade estava


vigente e generalizada muito antes do concílio de Niceia.

Policarpo (70-155/160). bispo de Esmirna, discípulo do Apóstolo João.

"Senhor Deus omnipotente: Pai de teu amado e bendito servo Jesus Cristo ... Eu te
bendigo, porque me tiveste por digno desta hora, a fim de tomar parte ... na
incorrupção do Espírito Santo... Tu, o infalível e verdadeiro Deus. Portanto, eu te
louvo ... por mediação do eterno e celeste Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, teu servo
amado, pelo qual seja glória a Ti com o Espírito Santo, agora e nos séculos
vindouros" (Martírio de São Policarpo, 14:1-3, em D. Ruiz Bueno, Ed., Padres
Apostólicos, p. 682).

Inácio de Antioquia (aprox. 35-107). bispo de Antioquia. No seu caminho para o


martírio, escreveu várias cartas em defesa da fé cristã.

"Sois pedras do templo do Pai, preparadas para o edifício de Deus Pai, levantadas
às alturas pelo guindaste de Jesus Cristo, que é a cruz, fazendo vezes de corda o
Espírito Santo." (Carta aos Efésios, 9:1; Ruiz Bueno, o.c., pág. 452-453).

"A verdade é que nosso Deus Jesus, o Ungido, foi trazido por Maria no seu seio
conforme a dispensação de Deus [Pai]; da linhagem, certamente, de David; por
obra, no entanto, do Espírito Santo." (Carta aos Efésios, 17:2; Ruiz Bueno, Padres
Apostólicos, pág. 457).

Justino Mártir (aprox. 100-165). Foi um mestre, apologista e mártir, discípulo de


Policarpo.

"A Ele [o "Deus verdadeiríssimo"] e ao Filho, que d`Ele veio e nos ensinou tudo isto
... e ao Espírito profético, damos culto e adoramos, honrando-os com razão e
verdade" (Primeira Apologia 6:2; em D. Ruiz Bueno, Ed., Padres Apologetas
Griegos, pág. 187)

"então tomam na água o banho em nome de Deus, Pai e Soberano do universo, e


de nosso Salvador Jesus Cristo, e do Espírito Santo." (Primeira Apologia 61:3; em
Ruiz Bueno, Padres Apologetas Griegos, pág. 250).

Ireneu (115-190). Originário da Ásia Menor, em jovem foi discípulo de Policarpo.


Veio a ser bispo de Lyon, nas Gálias. Foi o principal teólogo do segundo século.

"A Igreja, ainda que dispersa em todo o mundo, até os confins da terra, recebeu
dos apóstolos e seus discípulos esta fé: ... num Deus, o Pai Omnipotente, fazedor
do céu e da terra e do mar e de todas as coisas que neles há; e num Jesus Cristo, o
Filho de Deus, que encarnou para a nossa salvação; e no Espírito Santo, que
proclamou por meio dos profetas as dispensações de Deus e os adventos e o
nascimento de uma virgem, e a paixão, e a ressurreição dentre os mortos, e a
ascensão ao céu, na carne, do amadíssimo Jesus Cristo, nosso Senhor, e a Sua
manifestação desde o céu na gloria do Pai, a fim de 'reunir num todas as coisas', e
para ressuscitar renovada toda carne da inteira raça humana, para que diante de
Jesus Cristo, nosso Senhor, e Deus, e Salvador, e Rei, segundo a vontade do Pai
invisível, 'se dobre todo o joelho, das coisas nos céus, e das coisas na terra, e das
coisas debaixo da terra, e que toda a língua o confesse, e que Ele execute um justo
juízo sobre todos..." (Contra todas as heresias, I, 10:1; em Ante-Nicene Fathers
vol. 1).

Teófilo de Antioquia (Segunda metade do século II). bispo de Antioquia e


apologista. Apresentou a doutrina cristã aos pagãos. É o primeiro a utilizar o termo
"Trindade" (grego, trias).

"Igualmente também os três dias que precedem a criação dos luminares são
símbolos da Trindade, de Deus, do seu Verbo e da sua Sabedoria [o Espírito]" (Três
livros a Autólico II:15; em Ruiz Bueno, Padres Apologetas Griegos, pág. 805).

Atenágoras de Atenas (Segunda metade do século II). Defensor da fé cristã.


Dirigiu uma "Legação" ou defesa dos cristãos ao imperador Marco Aurélio e seu
filho Cómodo, em 177.

"Quem, pois, não se surpreenderá de ouvir chamar ateus aos que admitem um
Deus Pai e um Deus Filho e um Espírito Santo, que mostram a sua potência na
unidade e a sua distinção na ordem?" (Legação a favor dos cristãos, 10; em Ruiz
Bueno, Padres Apologetas Griegos, pág. 661).

Tertuliano de Cartago (160-215). Apologista e teólogo africano. De profissão


advogado, escreveu eloquentemente em defesa do cristianismo.

"Definimos que existem dois, o Pai e o Filho, e três com o Espírito Santo, e este
número está dado pelo modelo da salvação ... [o qual] traz unidade em trindade,
inter-relacionando os três, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Eles são três, não em
dignidade, mas em grau; não em substância mas em forma; não em poder, mas
em espécie. Eles são de uma substância e poder, porque há um Deus de quem
estes graus, formas e espécies se mostram no nome do Pai, Filho e Espírito Santo."
(Contra Práxeas, 23; PL 2.156-7).

Orígenes (aprox. 185-254). Teólogo de Alexandria, crítico e exegeta bíblico,


teólogo, prolífico autor. Discípulo de Clemente de Alexandria.

"Se alguém dissesse que o Verbo de Deus ou a Sabedoria de Deus tiveram um


começo, advirtamos esse tal não seja que dirija a sua impiedade também contra o
ingénito Pai, já que negaria que Ele foi sempre Pai e que Ele gerou sempre o Verbo,
e que sempre teve sabedoria em todos os tempos anteriores ou idades, ou
qualquer coisa que possa imaginar-se anteriormente. Não pode haver título mais
antigo do Deus omnipotente que o de Pai, e é através do Filho que Ele é Pai."
(Sobre os princípios 1.2.; Patrologia Graeca 11.132).

"Pois se este fosse o caso [que o Espírito Santo não fosse eternamente como Ele é,
e tivesse recebido conhecimento em algum momento e então chegado a ser o
Espírito Santo] o Espírito Santo nunca teria sido reconhecido na unidade da
Trindade, ou seja, junto com os imutáveis Pai e Filho, a menos que Ele sempre
tivesse sido o Espírito Santo... De qualquer modo, parece apropriado inquirir qual é
a razão pela qual quem é regenerado por Deus para salvação tem que ver tanto
com o Pai e o Filho como com o Espírito Santo, e não obtém a salvação senão com
a cooperação de toda a Trindade; e por que é impossível ter parte com o Pai e o
Filho, sem o Espírito Santo" (Sobre os princípios I, 3:4-5, em Alexander Roberts
and James Donaldson, eds., The Ante-Nicene Fathers, Grand Rapids: Eerdmans,
Reimpr. 1989, Vol. 4, pág. 253).
"Além disso, nada na Trindade pode ser chamado maior ou menor, uma vez que
sozinha a fonte da divindade contém todas as coisas pela Sua palavra e razão, e
pelo Espírito de Sua boca santifica todas as coisas que são dignas de santificação ...
Tendo feito estas declarações respeitantes à Unidade do Pai, e do Filho e do Espírito
Santo, voltemos à ordem em que começamos a discussão. Deus o Pai concede,
antes de tudo, a existência; e a participação em Cristo, considerando que o Seu ser
é a palavra da razão, os torna seres racionais ... [e] é a graça do Espírito Santo
presente pela qual aqueles seres que não são santos por essência, podem ser
tornados santos por participar dela" (Sobre os princípios I, 3: 7-8, em Roberts and
Donaldson, pág. 255).

Se é verdade, como sustentam os anti-trinitários, que a Trindade não é uma


doutrina bíblica nem nunca foi ensinada até o Concílio de Niceia em 325, por que
existem estes textos? A resposta é simples: A Trindade é uma doutrina bíblica e foi
ensinada antes do Concílio de Niceia.

Poderia acrescentar-se que o Concílio de Niceia não fez mais que tornar claro, de
forma consensual, o que já era, há muito tempo, a doutrina ortodoxa ensinada e
aceite pelos cristãos.

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