on-line e Elites Políticas”: Informação e Poder A deficiente regulamentação da informação é entre nós agravada pela ausência de disposição do Congresso em se ocupar desse tema. Por toda a parte as legislações de imprensa e telecomunicações tiveram alterações recentes. Menos por aqui. Por aqui velhas leis continuam atendendo a velhos interesses de velhos conglomerados de comunicação, um dos setores mais beneficiados pelo governo militar de 1964 (juntamente com as empreiteiras, instituições financeiras e exportadores). As relações entre meios de comunicação e governo militar a partir de 1964 foram sempre (ou quase sempre) íntimas. Em 1942 fecharam no país 62 jornais, enquanto, a partir da “revolução”, bem poucos. Todas as grandes corporações de comunicação nasceram ou se desenvolveram por essa época sob o frondoso manto protetor do autoritarismo. A imprensa não teve então a dimensão libertária que se canta. A história oficial é menos nobre. Alguns jornalistas, é justo dizer, souberam resistir. Mas as empresas foram sempre ancoradas por subsídios indecorosos, conversões sistemáticas de débitos em publicidade, financiamentos generosos a juros modestíssimos, apoio a atividades paralelas, publicidade farta dos grandes agentes econômicos do governo como Petrobrás, Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal. As críticas contra o servilismo da mídia às oligarquias não são apenas nossas, mas vêm de todas as direções. Vejamos: João Manoel Cardoso de Mello (professor da Unicamp, autor do clássico O Capitalismo Tardio): "Já disse que a ditadura militar foi substituída pela ditadura dos mercados financeiros e pela ditadura da mídia. É isso. Hoje, a mídia, com honrosas exceções que não se contam nos dedos de uma das mãos, se encarrega da manipulação das massas. Estamos agora vivendo o clima eleitoral, que na verdade é uma longa operação de encobrimento da crise." Roberto Mangabeira Unger (professor da Universidade de Harvard e principal mentor da candidatura de Ciro Gomes à presidência da República): "(...) temos de criar as bases para uma política democrática de alta energia (...). Quebrar os oligopólios da mídia, que negam à democracia brasileira o espaço coletivo para a discussão dos problemas coletivos." - Milton Santos (doutor em Geografia pela Universidade de Estrasburgo, detentor do prêmio Vautrin Lud, uma espécie de Nobel da Geografia), comentando a ligação entre os grandes conglomerados de negócios e os grandes conglomerados da mídia: "(...) Hoje são uma coisa só e o grave é que, juntos, eles reinterpretam os fatos. A história está se fazendo, mas ela nos é dada por meio de uma nova interpretação. Como essas empresas não podem perder uma fatia sequer do mercado, porque a competitividade conduz à necessidade de não perder nada, então não podem tampouco descuidar desse instrumento formidável que é a informação. (...) A elaboração das idéias está em grande parte, hoje, condicionada; é feita em razão da moda e da mídia." Esquerda deve criar territórios de mídia livre Em entrevista concedida na véspera das eleições do primeiro turno, o jornalista, escritor e professor Emiliano José, doutor em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia e responsável pelos programas de televisão da campanha de Lula à presidência, referenda algumas de nossas reflexões, feitas acima, critica a mídia e reafirma a urgência de um projeto de imprensa de esquerda para o Brasil: Rodrigo Gurgel: Os vícios e deformações da imprensa brasileira, denunciados pelo Sr. há dois anos, em seu livro Imprensa e Poder - relações perigosas, continuaram a persistir de lá para cá? Emiliano José: - Creio que se agravaram, ao contrário de serem resolvidos ou parcialmente resolvidos. Talvez, o episódio das eleições só tenha feito agravar o caráter de uma imprensa comprometida com os donos do poder no Brasil. Toda a cobertura, creio que com uma única exceção, a revista Carta Capital, e salvo a opinião deste ou daquele colunista, como Clóvis Rossi, Jânio de Freitas e Aloísio Biondi, salvo estes, a imprensa de modo geral foi oficialesca. Sempre rendeu homenagens ao príncipe, e isso de maneira desassombrada. De maneira descarada. Sem nenhum receio de evidenciar a sua parcialidade. Por conta de manter a credibilidade, disfarçando um pouquinho. Mas, legendas, textos, fotos, tudo sempre feito com o sentido de favorecer a reeleição do presidente. Até nos próprios meios, nos jornais especialmente, alguns colunistas falam e denunciam isso, tamanha a parcialidade. Ciro e Lula denunciaram isso com insistência absoluta, constante, e foram alvo dessa imprensa. Rodrigo Gurgel: Então, a chamada "isenção" da imprensa, tão falada nos meios jornalísticos e tão defendida nas faculdades de Comunicação, não existe... Ela é impossível de ser alcançada? Emiliano José: - Eu não acredito na possibilidade de isenção. Não acredito nisso. Sempre há tomada de partido. Mas é possível corresponder àqueles padrões de comportamento que a própria imprensa costuma estabelecer para si mesma. Em tese, é possível uma imprensa assim, não completamente isenta, mas que tente cobrir os acontecimentos olhando os diversos lados da realidade e trazendo para o debate todas as visões. Há países, sem levar em conta suas posições políticas, em que isso ocorre. Aqui, precisamos de uma cobertura que permita um olhar mais amplo sobre a sociedade brasileira. Nossa imprensa destrói o seu próprio receituário, desmentindo-o diariamente. Conclusão: