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Plano de Desenvolvimento
Sustentável do Norte
do Estado do Rio de Janeiro

Análise Situacional – 1ª Parte

Setembro 2010
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Av. do Contorno, 8000- Sl. 1701- SAnto Agostinho


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Coordenador geral | Eduardo Nery


Gestor | Ricardo Carvalho

Projeto:
Plano de Desenvolvimento
Sustentável do Norte e Noroeste do
Estado do Rio de Janeiro

Coordenadores dos Módulos

História e Etnografia | Elisiana Alves


Meio Ambiente Natural | Luciano Cota
Meio Ambiente Modificado | Milton Casério
Economia | Nildred Martins
Social | Karen Menezes e
Samantha Nery
Rede Social | Ênio Silva
Sistema Físico e
Infraestrutura | Milton Casério
Político Administrativo,
Municipal e Regional | Eduardo Nery
Sistema de Informação | Rosângela Milagres
Cartografia | Miguel Felippe

Coordenadoras de Módulo Avaliação Situacional


dos Mercados | Samantha Nery
Karen Menezes

Aquarelas | Elisiana Alves

Canavial (Campos dos Goytacazes I)


Barco na Praia (São João da Barra)
Capela (Campos dos Goytacazes II)
A Lagoa Feia (Campos dos Goytacazes - Quissamã)
Plataforma Iluminada (Macaé III)
Navio com Containers (Macaé I)
Lagoa de Iquipari (São João da Barra)
Jongo I (Quissamã)
Navio com Containers ( Macaé IV)
Plataforma (Macaé V)
Boi Pintadinho (Itaperuna)
APRESENTAÇÃO

Os vultosos investimentos que estão sendo e serão realizados na Região Norte Fluminense
associados à Bacia de Campos constituem um forte elemento indutor do seu desenvolvi-
mento, se adequadamente geridos segundo os preceitos da sustentabilidade econômica
social e ambiental. Neste sentido, a elaboração de um plano de desenvolvimento sustentá-
vel, de longo prazo, certamente trará, depois de concluído, um diferencial estratégico com-
petitivo para os gestores públicos, empreendedores privados e do terceiro setor e, igualmen-
te, para toda a sociedade que vive nessa Região e na Noroeste, sua vizinha integrada.

Assim, o projeto do Planejamento Estratégico do Norte e Noroeste Fluminense representa,


portanto, o refinamento de um olhar focalizado no desenvolvimento continuado, baseando-
se no fato de que a sua implementação, como resultado dos esforços dos diversos agentes
socioeconômicos regionais e do Estado do Rio de Janeiro, entre outros, representa um con-
junto de ações e programas coordenados, devidamente priorizados, comprometidos com a
criação e crescimento de um estado de bem estar para sua sociedade. O seu escopo princi-
pal abrange inclusive a identificação de outras potencialidades dessas Regiões, além das já
conhecidas, qual sejam o pólo petrolífero, o pólo de extração mineral e os tradicionais pólos
de agricultura. O desenvolvimento sustentável será produzido de forma conseqüente, sobre
o conhecimento e a exploração dos fatores diferenciais que caracterizam e que as suas lo-
calidades e populações podem promover.

A metodologia utilizada no projeto, conforme a especificação consistente de seu termo de


referência, foi testada e amadurecida, com sucesso, em outros estados da federação, e os
seus resultados responderão as seguintes indagações:

onde estamos em relação ao restante da sociedade? e, onde queremos chegar numa visão
de futuro, dos próximos 25 anos?

Como produto, ao final de sua realização, estará disponível uma carteira de projetos estrutu-
rantes e articulados de curto, médio e longo prazos, capazes de induzir e promover o pro-
cesso de desenvolvimento regional. Essa carteira será incorporada ao Sistema de informa-
ção de Gestão Estratégica do Estado do Rio de Janeiro, SIGE- RIO, onde tornar-se-á aces-
sível, via Internet, para os interessados em sua implementação,

Para sua viabilização, a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão se articulou com a


Petrobras, por meio da unidade de Negócio de Exploração e Produção da Bacia de Campos
(UM-BC), a qual vem desenvolvendo um conjunto de ações regionais relevantes através do
seu Programa de Desenvolvimento Social de Macaé e Região, PRODESMAR, especifica-
mente constituído com o objetivo de aprimorar o planejamento e as ações de desenvolvi-
mento, em bases sustentáveis, para as Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Ja-
neiro, afetadas direta e indiretamente pelas atividades do setor petrolífero. Desse entendi-
mento, como uma decisão de responsabilidade social da empresa, a Petrobrás assumiu a
responsabilidade pelo aporte financeiro para a execução desse projeto, cuja gestão está a
cargo da SEPLAG, Rio de Janeiro, em um prazo de dez meses, conclusão programada para
setembro de 2010, em quatro etapas, sequenciadas, que também produzirão resultados,
parciais, da maior significação, para os processos de tomada de decisão sobre o desenvol-
vimento do Norte e Noroeste Fluminense e os seus reflexos na economia do Estado do Rio
de Janeiro.

Francisco Antônio Caldas Andrade Pinto


Subsecretário Geral
Rio de Janeiro, março de 2010

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Governo do Estado do Rio de Janeiro

Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão - SEPLAG


Sérgio Ruy Barbosa Guerra Martins
Secretário de Estado

Subsecretário Geral de Planejamento e Gestão - SUBGEP


Francisco Antonio Caldas Andrade Pinto

Av. Erasmo Braga, 118 - Centro


20.020-000 - Rio de Janeiro/RJ
Brasil

Edição Final

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


EXPLICAÇÃO INICIAL

O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro


foi desenvolvidoo em quatro etapas consecutivas, num total de dez meses.

A Etapa 1, denominada Análise Situacional, foi realizada em quatro meses e teve como pro-
dutos, os seguintes relatórios:

• Análise Situacional da Região Norte do Estado do Rio de Janeiro, Volume 1, em 2 to-


mos, o qual está estruturado em nove capítulos com os seguintes conteúdos história,
etnografia, meio ambiente natural, meio ambiente modificado, economia(1), sistema so-
cial(1), rede social, sistema físico e infraestrutura, sistema político-administrativo muni-
cipal e regional(1), nos quais os capítulos sinalizados com (1) são individualizados por
Região Norte ou Noroeste, os demais sendo comuns a ambas as Regiões;

• Análise Situacional da Região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro, Volume 2, em 2


tomos, estruturado de maneira análoga ao anterior;

• Relatório Análise da Relação Situacional de Mercados que trata especificamente dos


da inclusão da população no sistema socioeconômico regional, tendo como temas cen-
trais a estrutura social, o trabalho, a renda e a democracia econômica, designado Vo-
lume 3; e

• Cenários Prospectivos, designado como Volume 4.

Os trabalhos, que se referem à situação existente anterior, estão referenciados a menos


quinze anos, ou seja, cobrem o período 1994 a 2009, exceção à história e cultura que re-
montam às origens do processo civilizatório regional, nos idos de 1532. As evoluções futu-
ras consideram o horizonte 2035, às vezes 2040, com períodos menores intermediários,
sempre que tal condição mostre significado e agregue valor.

Para a execução da Etapa 1, foram adotados diferentes modos de participação da socieda-


de fluminense e regional, dependendo do momento em que ocorreram, a saber:

Primeiro Momento

• levantamento e compilação de dados secundários de fontes oficiais ou reconhecidas;

• conjunto de entrevistas com formadores de opinião líderes empresariais, municipais e


associações de classe e população;

• visitas técnicas e levantamentos de campo nas regiões norte e noroeste fluminense


com a realização de um novo conjunto de entrevistas e conversas com representantes
da sociedade local e regional, incluindo prefeitos municipais.

Segundo Momento

• implantação da rede social regional e realização de oficinas de trabalho regulares em


Campos dos Goytacazes e Itaperuna com os participantes que se filiaram;

• os resultados escritos pelos grupos, nessas oficinas, foram considerados como contri-
buições passando a constar do conteúdo dos relatórios;

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Terceiro Momento

• distribuição de pesquisas sistemáticas, sob a forma de questionários, para resposta


por representantes das secretarias municipais das duas Regiões;

• nova interação direta para esclarecimento e complementação de informações para a


elaboração da análise situacional.

A Etapa 2, denominada Estratégia de Desenvolvimento Regional, produziu um único relató-


rio com o mesmo nome, possuindo um conjunto de Macroprogramas de Desenvolvimento –
com seus Objetivos, Metas, Programas, Empreendimentos ou Iniciativas correspondentes -,
associados a cada um dos assuntos que configuram as realidades regionais. A partir desta
plataforma foram constituídas a Visão, os Eixos de Desenvolvimento Estratégicos e os Pro-
gramas Estruturantes que geram, na Etapa 3, o Programa de Desenvolvimento Sustentável
do Norte e Noroeste Fluminense, entre outros produtos. Para a realização desta Etapa 2,
houve duas baterias de reuniões e oficinas e um questionário que apresentaram ampla pos-
sibilidade de participação para representantes regionais (e membros da Rede Social) e re-
presentantes do Governo Estadual e PETROBRÁS, tendo sido obtidas contribuições impor-
tantes que alimentaram o relatório correspondente.

A Etapa 3 compreende a Carteira de Projetos Iniciais correspondendo ao Programa de De-


senvolvimento Regional, um relatório reunindo tudo o que se identificou deve ser feito, já
classificado e priorizado tecnicamente pelos especialistas, assim como os relatórios do mo-
delo de Regulação e Regulamentação Institucional-Legal, os Modelos de Governança e
Gestão, “Funding” e a Metodologia de Acompanhamento e Desempenho a ser usada na
implementação. Para a sua realização, duas novas oficinas nas duas Regiões, produziram
idéias e propostas muito profícuas, que foram desenvolvidas e incorporadas aos conteúdos
dos relatórios mencionados.

Do Programa de Desenvolvimento Regional, citado, foram extraídos e especificados 52 Ma-


croprojetos que serão priorizados para execução gradual. Estes Macroprojetos constituem o
Relatório Carteira de Projetos, objeto da Etapa 4.

As operações da Rede Social, passarão a operar em um Portal específico, desenvolvido


especificamente para permitir o acompanhamento da implementação deste Plano de De-
senvolvimento Sustentável Norte-Noroeste, sob a supervisão da SEPLAG. A este Portal
está igualmente conectado o Sistema de Informação de Acompanhamento, SIGEP, estru-
turado com as bases de dados e informações usadas para o desenvolvimento deste Plano,
bem como o módulo instrumental de gerenciamento da Carteira de Projetos, nos moldes
especificados pela SEPLAG.

Finalmente, mas da maior importância, cumpre lembrar que os relatórios deste Plano rece-
beram, desde sua divulgação inicial, inúmeras sugestões, comentários e ajustes, que foram
devidamente considerados em uma revisão completa de todo o material produzido, que foi ,
por conseguinte, integralmente reeditado, nesta sua versão final.

Coordenação Geral
Setembro de 2010

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


SUMÁRIO

1ª Parte

1. História .............................................................................................................. 13

2. Etnografia .......................................................................................................... 65

3. Meio Ambiente Natural ...................................................................................... 353

4. Meio Ambiente Modificado ................................................................................ 439

2ª Parte

5. Economia ........................................................................................................... 595

6. Sistema Social ................................................................................................... 721

7. Rede Social ....................................................................................................... 869

8. Sistema Físico e Infraestrutura .......................................................................... 895

9. Sistema Político-administrativo Municipal e Regional ....................................... 997

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


“ ...as formas de comportamento emergente mostram a qualidade distintiva de fica-
rem mais inteligentes com o tempo e de reagirem às necessidades específicas e
mutantes de seu ambiente...”

in Emergência, 2001.
Steven Johnson

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


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História
Capítulo 1
Autores:
Ailton Mota de Carvalho
Elisiana Alves

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
2. O CENÁRIO........................................................................................................... 13
3. COMO TUDO COMEÇOU ..................................................................................... 15
4. A CANA-DE-AÇUCAR NO NORTE FLUMINENSE ................................................ 18
5. AS PRIMEIRAS VILAS........................................................................................... 21
6. O MAIS NOVO CAPÍTULO: A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO............................. 23
7. REFERÊNCIAS...................................................................................................... 24
ANEXO .................................................................................................................. 26
ANEXO I – BREVE HISTÓRICO DOS MUNICÍPIOS ............................................. 26

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LISTAS

FOTOS

Foto 1 - Região Norte Fluminense, Senzala, Jean-Victor Frond ............................................ 5


Foto 2 – Região Norte Fluminense, Vista do Antigo Porto de São João da Barra, à Margem
do Rio Paraíba – abril de 2002 ............................................................................................ 20

TABELAS

Tabela 1 - Região Norte Fluminense, Número de Engenhos e Produção Sucroalcooleira em


Campos dos Goytacazes – 1785 ......................................................................................... 21
Tabela 2 - Criação dos Municípios por Desmembramento................................................... 22

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Foto 1 - Região Norte Fluminense, Senzala, Jean-Victor Frond

Fonte: Disponível em <http://www.portalventrelivre.com/?tag=negros> Acesso em 24/08/2010


1
Créditos: Jean-Victor Frond

1
Jean-Victor Frond (Montfaucon, França 1821 - Varredes, França 1881), fotógrafo e pintor francês, possuiu um
estúdio no Rio de Janeiro entre os anos de 1858 e 1862. Foi o primeiro fotógrafo a desenvolver projeto de mape-
ar e documentar o Brasil através da fotografia, com este objetivo manteve aberto um estúdio na cidade do Rio de
Janeiro entre os anos de 1858 e 1862. De seu projeto resultou o primeiro livro de fotografia (sob temas brasilei-
ros) do Brasil: Brésil Pittoresque (Brazil pittoresco)
Fonte: Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Victor_Frond > Acesso em 24/08/2010
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
“A história é um filme; a geografia é um quadro deste filme. A sucessão dos quadros
geográficos gera a evolução histórica”.

in Fronteiras da Geologia e da Geografia e a Unidade da Ciência,


Everardo Backheuser
RBG

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


1. INTRODUÇÃO
A Região Norte Fluminense que, para efeito deste texto, engloba tanto o Norte como noro-
este Fluminense, é um objeto de estudo muito interessante sob os mais variados pontos de
vista: social, econômico, cultural e político.
A denominação “Norte Fluminense” tem uma tradição secular, servindo para identificar uma
extensa porção do território Fluminense nas articulações entre os atores locais e os atores
externos, nas diversas escalas político-administrativas, de forma não oficial, pois só veio a
ser reconhecida pelo IBGE, em 1980.
Até 1975, a Região denominada e reconhecida como Norte Fluminense, por todos os agen-
tes públicos, pela sociedade civil e pelos técnicos, abrangia toda a parte setentrional do Es-
tado do Rio de Janeiro, sem considerar a divisão atual em Norte e Noroeste.
De acordo com Cruz, (2003), a representação social da Região Norte Fluminense ampliada,
correspondia, até 1970, ao território abrangido por três microrregiões: Microrregião Açucarei-
ra de Campos, Microrregião de Itaperuna e Microrregião de Miracema. No Censo de 1970,
esta Região era composta por 14 municípios: Campos do Goytacazes, Conceição de Maca-
bu, Macaé, São Fidelis, São João da Barra, Bom Jesus de Itabapoana, Itaperuna, Laje do
Muriaé, Natividade do Carangola, Porciúncula, Cambuci, Miracema, Itaocara e Santo Anto-
nio de Pádua. O Norte Fluminense, como denominação oficial, só veio a aparecer a partir do
Censo Agropecuário de 1975, englobando as três microrregiões citadas, mais o município
de Itaocara.
Seguindo ainda a cronologia do texto de Cruz, a partir de 1980 a denominação passa a ser
Mesorregião Norte Fluminense, ainda formada pelas três microrregiões já mencionadas.
Somente no Censo de 1991, surge a Mesorregião Noroeste Fluminense, que foi desmem-
brada do Norte, em 1987.
Desta forma, como é próprio dos estudos regionais, temos uma situação de fato histórico,
que subsiste no imaginário social e na cultura regional, que é a existência de uma grande
Região, formada pelo Norte do Estado do Rio, abrangendo parte do Sul do Espírito Santo e
parte da Zona da Mata Mineira. Por outro lado temos o desenho político-administrativo de
divisões regionais, que, via de regra, não corresponde às tradições e à realidade geográfica
e vão sendo modificadas com vários critérios com o passar dos anos, desfigurando uma
história original de construção de uma identidade regional.
Uma olhada sobre um mapa mundial, ou mesmo sobre um mapa do Brasil, nos fornece i-
números exemplos desta discordância entre o espaço real e o espaço imaginário. Assim o
relato de ocupação do vasto território Norte Fluminense será feito com esta visão ampliada,
assumindo-se a partir de agora como Região Norte, sem a inibição que os limites oficiais
impõem à análise espacial.

2. O CENÁRIO
De uma das regiões mais desenvolvidas e inovadoras do Rio de Janeiro, a Região Norte
Fluminense foi sofrendo um processo histórico de esvaziamento econômico e de perda de
influência política que a coloca hoje no outro extremo da escala estadual.
Sua posição geográfica é periférica em relação à Região Metropolitana e limítrofe com regi-
ões vizinhas pouco desenvolvidas ou que sofreram processo de recessão econômica, como
o sul do Espírito Santo e a Zona da Mata Mineira.
A base econômica regional foi fundada durante séculos no cultivo e na industrialização da
cana-de-açúcar, complementada por algumas outras atividades agrícolas como a economia
cafeeira e a pecuária extensiva.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 13
A grande lucratividade do setor canavieiro acabou por desestimular a produção agrícola de
subsistência e reduziu a tal ponto a criação de gado, que a Região passou a importar cere-
ais e gado a partir da segunda metade do século XIX.
Além da indústria açucareira, a Região se afirmava por outras atividades e eventos que a
colocaram como a mais inovadora e dinâmica do Estado. Em 1866, por exemplo, era funda-
da a fábrica de tecidos em Campos dos Goytacazes; a cerâmica já aparecia como uma das
vocações regionais; em São João da Barra se fabricavam embarcações; em 1883, Campos
passa a ter energia elétrica - o primeiro serviço de iluminação pública do Brasil e da América
Latina e em 1863 começou a ser construído um canal fluvial ligando Campos a Macaé.
Todavia, a partir dos fins do século XIX, fatores de ordem econômica e política desestrutu-
ram este sistema, e a Região começa a perder competitividade frente a outros estados, no-
tadamente São Paulo. Quatro fatores explicativos podem ser citados para o longo período
de estagnação que permeou a Região por quase todo o século XX:
i) a abolição da escravidão;
ii) os desmembramentos territoriais do município de Campos;
iii) o fim do ciclo do café e a crise da economia do Rio de Janeiro; e
iv) a perda de competitividade da agroindústria açucareira do Norte Fluminense.
Além disto, alguns outros fatores de ordem econômica contribuíram para obstaculizar o de-
senvolvimento regional, como a deficiência de energia elétrica; a elevada concentração de
renda (restrição do consumo); baixos índices de poupança agregada; baixa qualificação da
mão-de-obra e capacidade empresarial limitada.
A tradicional elite ruralista, que sempre comandou a economia e a política local, não se a-
daptou aos novos tempos e, vivendo de glórias passadas, sempre resistiu às inovações dos
métodos produtivos e das relações de trabalho.
De maneira antecipada, pode-se afirmar que estes fatores estão vigentes até hoje e que
constituem uma das principais causas para a decadência econômica regional.
Nem mesmo programas governamentais, como o Proálcool na segunda metade da década
de 1970, tiveram efeito duradouro. A década de 1980 foi crítica para a economia brasileira
como um todo e para a açucareira no Norte Fluminense especialmente, com o fechamento
de inúmeras usinas, desemprego em massa e precarização das relações trabalhistas.
A falta de diversificação das atividades econômicas e a elevada dependência da Região
com relação ao setor sucroalcooleiro ao longo do século XX levou o Norte Fluminense a
uma crise econômica sem precedentes, com graves conseqüências sociais.
A partir de 1970, em decorrência dos investimentos realizados pela Petrobrás na prospec-
ção e na exploração, a Bacia de Campos se transformou na maior produtora de petróleo do
Brasil, com cerca de 85% da produção total do país.
É óbvio que um advento de tal magnitude tem um poder enorme de gerar externalidades
positivas e negativas na Região. Sabe-se que, de uma perspectiva teórica, a chamada in-
dústria do petróleo contém um forte poder de promover a formação de uma cadeia produti-
va, com vínculos para frente e para trás. Em outros casos, ela pode se transformar num me-
ro “enclave regional”, sem os esperados efeitos de difusão.
No caso do Norte Fluminense, a percepção geral, aliada a alguns estudos empíricos, apon-
tam na direção de que os efeitos positivos ainda são muito pequenos, considerando-se o
vulto dos empreendimentos realizados e dos impostos pagos sob a forma de “royalties”. Só
para exemplificar, Campos dos Goytacazes e Macaé são os maiores beneficiários com a
receita de “royalties” no Brasil.

14 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Todavia esta riqueza econômica não se reflete em melhorias sociais, originando daí a idéia
corrente de “uma Região com municípios ricos, mas com população pobre”.
Outra vez para exemplificar, Campos e Macaé apresentam situação de muita inferioridade
no que se refere ao IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) quando compa-
rado a outros municípios de mesmo porte do Brasil. O mesmo acontece com o índice IDHM-
Longevidade, representado pelo indicador “esperança de vida ao nascer” no qual Campos e
Macaé apresentam os piores desempenhos entre os vários municípios do Brasil.
Novamente, a Região Norte parece incorrer em um equívoco econômico-histórico: uma ex-
tremada especialização e dependência de uma só atividade produtiva, lastreada em um re-
curso sabidamente esgotável, em médio prazo.
Resta pensar sobre esta situação, resgatar erros passados, propor novas formas de desen-
volvimento: mais integrado, diversificado, sustentável e justo. Integrado e justo no sentido de
que todos os interessados e atores sociais participem e usufruam do crescimento, pensado
de forma mais duradoura e equitativa.

3. COMO TUDO COMEÇOU


A história do Norte Fluminense é muito rica de acontecimentos e de certa forma, se confun-
de com a própria história da formação do Brasil Colônia.
Como se sabe, para estimular a vinda e a permanência de colonos para o Brasil, a Coroa
portuguesa concedia vantagens e poderes soberanos, aos súditos que se dispusessem a
arriscar sua integridade física na aventura da colonização da nova terra.
Para isto o Governo Português instituiu então, o sistema de capitanias hereditárias, que
consistia em dividir o litoral em 15 setores lineares, a serem doados a titulares, dotados de
muito poder e regalias.
A ocupação da Região Norte Fluminense começa com a doação da Capitania de São Tomé,
feita por Martim Afonso de Souza a Pero Góis da Silveira, em 1534, e confirmada por D.
João III, em 28 de janeiro de1536.
As terras partiam das margens do rio Macaé e avançavam 30 léguas para o Norte, incluindo
as terras planas e de campos habitadas pelos índios Goitacás, de onde surge a denomina-
ção de “Campos dos Goitacás”. Pero Góis iniciou a ocupação, criando uma localidade de-
nominada “Vila da Rainha”, pelos idos de 1538, próxima à foz do Rio Itabapoana, antes co-
nhecido como Rio Managé.
Aí, segundo conta a história, foram plantadas as primeiras mudas de cana-de-açúcar no
Norte Fluminense, aproveitando o rio, as matas para fornecimento de lenha para o engenho,
e trazendo os primeiros escravos africanos para o trabalho, uma vez que os índios nunca se
submeteram a este tipo de tarefa.
Depois de anos de árduo trabalho e atacados valentemente pelos índios Goytacazes, que
defendiam as suas terras, Pero de Góis e os colonos desistiram da empreitada e abandona-
ram o povoamento.
Os documentos históricos registram que esta primeira tentativa não deu resultado, devido à
resistência dos indígenas e à falta de apoio para a colonização.
Passados alguns anos, seu filho, Gil de Góis tentou prosseguir com a obra do pai, mas, i-
gualmente, foi derrotado pelos índios e pobre e desolado, resolveu devolver a capitania à
Coroa, o que se deu em 1619.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 15


OS ÍNDIOS

O índio Goitacaz é o senhor absoluto das terras no tempo da Capitania de São Tho-
mé, depois do Paraíba do Sul. Segundo relato de Osório Peixoto em seu livro "500
anos dos Campos dos Goytacazes", goitacaz quer dizer corredor, nadador ou caran-
guejo, grande comedor de gentes. Possuía pele mais clara, era mais alto e robusto
que os demais índios do litoral. Reunia ainda uma "força extraordinária e sabia mane-
jar o arco com destreza".
Gostava de dançar e cantar em ocasiões festivas, usando o jenipapo para a pintura
do corpo e penas de aves com as quais adornava seus objetos. Viviam nus, raspando
o cabelo no alto da cabeça, deixando-o comprido, formando uma longa cabeleira.
Sua alimentação constava de frutos, raízes, mel e, principalmente, de caça e pesca.
Eram supersticiosos quanto à água para beber, não bebendo-a de rios e lagoas, mas
sim das cacimbas.
Mantinham comércio com os colonizadores europeus, mas com uma peculiaridade:
não se comunicavam com seus colonizadores! Deixavam seus produtos em lugar
mais elevado e limpo ficando à distância, observando as trocas. Davam mel, cera,
pescado, caça e frutos em troca de enxadas, foices, aguardente e miçangas.
Assim como os demais povos indígenas, os Goitacazes guerreavam entre si e seus
vizinhos. "Quando não se julgam fortes fogem com ligeireza comparável a dos vea-
dos”.
Além do arco e da flecha faziam com perfeição trabalhos com penas de aves, multi-
coloridas, usando-as no corpo e nas armas e também em ocasiões festivas. Traba-
lhavam o barro, enterrando seus mortos em igaçabas. Faziam machados de pedra,
jangadas, trabalhavam com bambu e trançavam redes de fibra e cordas.
Os Goitacazes sofreram um massacre histórico. Após esse episódio praticamente
desapareceram. Calcula-se que eram cerca de 12 mil.
Os Goitacazes (ou Goitacás) foram homenageados por José de Alencar em seu ro-
mance 'O Guarani'. Nesta obra, o protagonista, Peri, é um índio goitacá que realiza
grandes proezas, lutando contra os aimorés, o homem branco e até contra os ele-
mentos naturais, tudo para agradar e salvar sua predileta, Cecília, filha de um nobre
português.
Fonte: Wikipedia

Alguns anos mais tarde, em 1627, sete militares solicitaram ao governador do Rio de
Janeiro, Martim Correia de Sá, que estas terras devolutas lhes fossem dadas como
recompensa pelos serviços prestados nas lutas contra os invasores holandeses e contra os
piratas ingleses e franceses que infestavam o litoral Norte Fluminense. Em 19 de agosto de
1627, Martim Correia de Sá concedeu-lhes, em sesmaria, as terras reclamadas que iam
desde o rio Macaé, correndo a costa, até o rio Iguaçu, ao Norte do Cabo de São Tomé, e
para o sertão até o cume das serras". Assim, pelo litoral, as terras iam de Macaé até quase
a foz do rio Paraíba do Sul e para o interior até as serras que formavam o vale do rio
Paraíba do Sul, na divisa com Minas Gerais. A intenção do governador Martim Correia de
Sá era povoar a Região, abandonada, pois o comércio do pau-brasil havia se esgotado.
Os famosos “Sete Capitães”, como ficaram conhecidos eram: Miguel Aires Maldonado,
Miguel da Silva Riscado, Antônio Pinto Pereira, João de Castilho Pinto, Gonçalo Correia de
Sá, Manuel Correia e Duarte Correia.
No final do ano de 1632, os Sete Capitães reuniram-se em Cabo Frio e no dia 2 de
dezembro de 1632 partiram até a aldeia de índios pacificados, localizada na foz do rio
Macaé.

16 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Iniciaram então a exploração das terras que tinham recebido em sesmaria, procurando por
pastagens naturais para criação de gado, o que encontraram nas proximidades da Lagoa
Feia e às margens do Rio Paraíba do Sul.
Os sete desbravadores ainda realizaram outras viagens de exploração, entre 1633 e 1634,
durante as quais implantaram currais e fazendas de criação de gado. Fica claro, portanto
que a pecuária foi o fator pioneiro de ocupação das terras, precedendo qualquer atividade
agrícola.
Em 1647, os “Campos dos Goitacás ou Goitacazes” já floresciam, quando Salvador Correia
de Sá e Benevides assumiu o cargo de Governador do Rio de Janeiro, iniciando um longo
período de violências, revoltas e crimes na história da Região.
Os “capitães” Miguel Aires Maldonado e João de Castilho Pinto se tornaram inimigos do
governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá e Benevides, que em vingança
promoveu uma verdadeira espoliação nas terras que tinham sido doadas aos Sete Capitães.
Alegando confusão na delimitação das propriedades, Salvador Correia de Sá e Benevides
elaborou uma "escritura diabólica" - como afirmam os cronistas - dividindo as terras
exploradas em 12 quinhões, dos quais quatro e meio foram destinados aos Sete Capitães e
seus herdeiros, três ao próprio governador, três à Companhia de Jesus , um para o provedor
da fazenda Pedro de Sousa Pereira (casado com Ana Correia, portanto genro de Manuel
Correia, primo do governador) e meio quinhão aos monges da Ordem de São Bento.
Alberto Ribeiro Lamego, o grande e ilustre estudioso da vida campista, no seu famoso livro
“O Homem e o Brejo” relata assim: “Em 1648, Salvador Correia de Sá e Benevides,
governador do Rio de Janeiro, toma conhecimento dos Campos dos Goitacás. Abusando de
seu poder e posição, de parceria com Jesuítas e Beneditinos, compele os capitães ainda
vivos a assinarem uma escritura de composição, na qual governador e religiosos são bem
aquinhoados na partilha da planície.”
Os Sete Capitães, que eram os legítimos possuidores, foram assim despojados de quase
2/3 das terras que tinham recebido e explorado. A divisão só se manteve porque, de todos
os sete, somente Miguel Aires Maldonado e João de Castilho Pinto demonstraram forte
interesse nas terras e mantiveram forte oposição ao governador e aos religiosos.
Começa assim um longo período de disputas e lutas entre os Assecas (descendentes de
Correia de Sá), religiosos e colonizadores. Estes últimos, começam a se organizar para uma
revolta armada, sob a liderança de uma mulher que se tornaria famosa - Benta Pereira de
Souza.
O rebanho criado a solta em terras mal demarcadas cresceu muito e a cana-de açúcar e os
engenhos já faziam parte da paisagem da Região, por volta de 1700. Sobre todo o comércio
de gado e açúcar incidiam tributos cada vez mais extorsivos, aumentando o
descontentamento dos primitivos colonizadores. A desorganização social e a fervilhante
inquietação que agita os Campos não se limitam à revolta do povo contra os donatários,
mas cria também desavenças entre os próprios fazendeiros.
Para tentar colocar ordem na situação, chega a Região, em 1740, o famigerado
desembargador Manuel da Costa Mimoso, recebido com gala pelos Assecas e jesuítas.
Começa uma violenta repressão, com prisões, confiscos de terras e denúncias, causando o
pânico e aumentando a insatisfação dos colonizadores, sempre sob a liderança de Benta
Pereira de Souza, em cuja casa, ocorriam as reuniões secretas dos revoltados.
Em 1748, a situação de opressão e de revolta chega ao seu clímax e começa uma
verdadeira batalha campal. De um lado a força do Governo institucional, mercenários e
escravos dos senhores de engenho e do outro, a brava gente da própria terra; cansada de
anos de exploração, comandada por Benta Pereira de Souza.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 17


Benta tinha então 73 anos e montada a cavalo com revólveres na cintura, comanda a
rebelião com destemor, e derrota os inimigos, pondo-os para correr campo afora.

BENTA PEREIRA DE SOUZA

Nome completo: Benta Pereira de Souza. Heroína local. Uma senhora que viveu no
início do século XVIII. Nasceu em 1675 e morreu aos 75 anos, em 10 de dezembro de
1760. Filha do Padre Domingos Pereira Cerveira com Isabel de Souza. Casou-se com
Pedro Manhães e com ele teve seis filhos que criou, depois de enviuvar. Era uma mu-
lher de muitos bens e sozinha não só gerenciou a fortuna deixada pelo marido, como
educou os filhos.
Aos 72 anos de idade, Benta Pereira montou num cavalo e armada, liderou uma revol-
ta contra o 3º Visconde de Asseca, Diogo Correa de Sá, donatário da capitania da
Paraíba do Sul. Ela lutava não só pela liberdade de suas terras, cujas delimitações
haviam sido infringidas pelos viscondes, como contra os pesados impostos requeri-
dos pelo donatário. Criadora de gado bovino, numa terra que se transformava em um
grande canavial com a exploração do açúcar, Benta Pereira, ladeada por sua filha
Mariana de Souza Barreto, lutou sem descanso até conseguir a expulsão dos Asse-
cas da capitania. Lutou pelas terras que havia herdado de seus antepassados que,
por sua vez, as receberam, em 1627, das mãos do governador Martim Correa de Sá,
em reconhecimento pelo corajoso desempenho destes homens nas lutas contra os
guerreiros Goitacás.
Fonte: Wikipedia

O Governo da Colônia reage imediata e severamente e manda para Campos, o General


João de Almeida e Souza, com duzentos soldados armados com pesada artilharia. Benta
Pereira, sua filha Mariana Barreto e seus heróicos companheiros são derrotados e presos,
em 1751.
Os revoltosos conseguem que as notícias desta revolta cheguem aos ouvidos do Rei em
Lisboa, que contrariado com os acontecimentos, decide comprar a capitania, incorporando-a
aos bens da Coroa e terminando assim com um século de tirania dos Correia de Sá.
Nesta época, a cana-de-açúcar já começava a se transformar na grande riqueza da Região,
marcando definitivamente a história regional. O “Ciclo do Açúcar” havia começado, absor-
vendo tudo e relegando a um plano secundário qualquer outra atividade e se transformando
no grande e definitivo capítulo da história do Norte Fluminense.

4. A CANA-DE-AÇUCAR NO NORTE FLUMINENSE


Como se sabe, a cana-de-açúcar foi introduzida no Brasil no século XVI, em São Vicente,
migrando para o Nordeste, onde encontrou seu habitat adequado e apogeu de produção,
caracterizada por três aspectos básicos, que Caio Prado Júnior cita em sua obra referencial
Formação do Brasil Contemporâneo (1945): o latifúndio, a monocultura, e a utilização de
trabalho escravo.
Com relação à introdução da cultura canavieira na Região Norte Fluminense, existem dúvi-
das quanto a época exata. Porém, se aceita correntemente que foi por volta de 1538, que
Pero de Góis plantou a primeiras mudas de cana no povoado de Vila da Rainha, atual muni-
cípio de São João da Barra, como dito anteriormente. Porém, devido aos permanentes con-
flitos com os índios, Pero de Góis abandona a empreitada e retorna ao Reino por volta de
1548.
18 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
O ilustre e famoso engenheiro e historiador campista Alberto Ribeiro Lamêgo registra em
seus estudos que após esta frustrada tentativa de implementação de engenhos de açúcar
em São João da Barra, o plantio voltaria a ser feito e o primeiro engenho de açúcar na Regi-
ão somente surgiria no século XVII, com a fundação do engenho de São Salvador, em 1652.
Com a retomada da Capitania por parte da Coroa portuguesa, em parte causada pela Revol-
ta de Benta Pereira de Souza, o cultivo da cana se alastra, substituindo a criação de gado
na planície goitacá, o que coincide com a queda de produção no nordeste brasileiro, e au-
mento da demanda internacional.
Campos dos Goytacazes se transforma no centro produtor, comercial e político de todo o
Norte Fluminense, prosperando rapidamente, tanto do ponto de vista econômico como do
ponto de vista político e cultural, ocupando um lugar de destaque na estrutura social e políti-
ca do Estado do Rio de Janeiro.
Campos dos Goytacazes supria os estados do Rio de Janeiro e da Bahia com gado, cava-
los, farinha e milhares de caixas de açúcar. No final do século XVIII, a cidade, que já conta-
va com cerca de 300 engenhos, comercializava mais de 50.000 caixas de açúcar de 50 ar-
robas cada. No primeiro quarto do século XIX, o número de engenhos já se aproximava dos
700.
Como desdobramento desse processo, outro marco, que se destaca, foi a introdução do
engenho a vapor e a criação de usinas no final do século XIX, sendo o Engenho Central de
Quissamã, construído pelo Governo Imperial Brasileiro, o primeiro a entrar em funcio-
namento na América Latina, em 1877 (BARBOSA, 2003, p.113).

CAMPOS DOS GOYTACAZES

As terras dos índios goitacás começaram a ser colonizadas pelos portugueses em


1627, com a chegada dos "Sete Capitães". Pertenceram à Capitania de São Tomé e se
tornaram, cinqüenta anos depois, no dia 29 de maio, a Vila de São Salvador dos
Campos. Foi elevada à categoria de cidade em 28 de março de 1835.
O surgimento, em 1652 da agroindústria açucareira, com a instalação do primeiro
engenho em Campos, hoje menos promissor, dava início ao progresso da Região.
Em 1883, D. Pedro II inaugurou na cidade o primeiro serviço público municipal de
iluminação, tornando Campos dos Goytacazes a primeira cidade da América Latina a
receber iluminação pública elétrica, através de uma termelétrica a vapor, acionadora
de três dínamos com potência de 52 KW, fornecendo energia para 39 lâmpadas de
2000 velas cada. Ou seja, Campos foi a primeira cidade a ter luz elétrica do Brasil.

Fonte: Wikipedia

Um dos maiores entraves ao desenvolvimento da agroindústria açucareira da Região era o


escoamento da produção, principalmente para a metrópole. O transporte terrestre era dificul-
tado pelos terrenos alagadiços e pelos constantes ataques de índios e aventureiros.
Recorde-se que o principal mercado para os produtos agrícolas de Campos era o Rio de
Janeiro, que se consolidara como o centro econômico e político do país, com a vinda da
família Real em 1808.
Com o avanço do processo de industrialização da produção açucareira, a expansão do mer-
cado de bens de consumo não duráveis - sobretudo do principal mercado consumidor de
Campos, o Rio de Janeiro, a estruturação de redes eficientes de transporte colocara-se en-
tão como condição sine qua non para a expansão das atividades econômicas do Norte Flu-
minense. Houve, portanto, importantes avanços no que tange a transportes, tendo em vista
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 19
principalmente, a necessidade de um fluxo regular da produção regional para os centros
consumidores de outras regiões.
A fase ascendente do ciclo da produção açucareira no Norte Fluminense atraiu inúmeros
investimentos em atividades meio, inclusive com a participação ativa dos “barões do açú-
car”.
No ano de 1854, foi constituída a Companhia Macaé-Campos, a qual detinha uma pequena
frota de barcos a vapor que fazia o transporte fluvial facilitando o comércio e a conexão in-
tra-regional.
O comércio inter-regional que se fazia entre Campos e o Rio de Janeiro, entre 1850 e 1870,
era realizado, em grande parte, pelos barcos a vapor que, seguindo o Rio Paraíba em dire-
ção a sua foz, transportavam os produtos até o porto do município de São João da Barra.
Estes produtos, por sua vez, eram transferidos para os “vapores” - embarcações de médio e
grande porte que seguiam para o Rio de Janeiro por via marítima, com apoio em Macaé.

Foto 2 – Região Norte Fluminense, Vista do Antigo Porto de São João da Barra, à Margem do
Rio Paraíba – abril de 2002

O município de Macaé, com o seu porto, foi durante décadas, rota natural para o escoamen-
to da produção do Norte Fluminense, em especial a produção de carne bovina.
A necessidade de desenvolvimento de transportes mais eficientes ligando Campos a Macaé
era premente.
Em 1863, começou o serviço de escavação de um canal cujo objetivo era a ligação, pela via
fluvial, de Campos a Macaé. Em 19 de fevereiro de 1872, começou a navegação do canal,
partindo para Macaé, no vapor chamado Visconde. O objetivo era facilitar o escoamento da
produção, inclusive do café produzido na Região, já considerado o principal produto de ex-
portação do país.

20 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


O CANAL CAMPOS-MACAÉ

O transporte da produção açucareira tornou-se um problema para a Região, devido


ao expressivo aumento da sua produção. O escoamento era feito por carros de boi
ou por via marítima, com muitos riscos e limitações, até o porto de Imbetiba, em Ma-
caé.
Por este motivo foi concebido um canal fluvial ligando a Região produtora até Macaé,
ponto de escoamento, com uma largura de 15 m. e uma extensão de 106 km., o se-
gundo maior do mundo, menor apenas que o Canal de Suez.
O projeto data de 1837 e as obras duraram de 1844 até 1861.
Porém sua utilidade foi efêmera, entrando em declínio a partir de 1874, devido à con-
corrência da estrada de ferro Macaé-Campos, inaugurada em janeiro de 1875.

Fonte: Wikipedia

O século XIX marca o período de maior prosperidade da indústria canavieira campista, com
a paulatina substituição dos engenhos pelas usinas, cujos donos formavam uma oligarquia
com grande poder econômico e político: os “barões e baronesas do açúcar, senhores das
terras e dos escravos”. Consta que a primeira usina açucareira instalada no Brasil foi a Usi-
na do Limão, em Campos, no ano de 1879.
No final do século XVIII, a Região Norte Fluminense chegou a ter mais engenhos que a Re-
gião Nordeste do Brasil. Em 1785, eram 236 engenhos de açúcar, como mostram os dados
da Tabela seguinte.
Tabela 1 - Região Norte Fluminense, Número de Engenhos e Produção Sucroalcooleira em
Campos dos Goytacazes – 1785
Descrição Total
Engenhos 236
Engenhocas 9
Arrobas de açúcar 128.580
Medidas de aguardente 55.905
Fonte: Couto Reys, 1997

Na metade do século XX, a partir da década de 1950, começa o declínio da produção su-
croalcooleira campista, com uma significativa perda de expressividade da Região no âmbito
macrorregional e nacional, vis-à-vis ao crescimento da produção paulista, caracterizada pelo
aumento da produtividade e modernização de instalações.
Na década de 1970, a produção de açúcar e álcool tem um novo alento devido aos estímu-
los à indústria sucroalcooleira oferecidos pelo Governo Federal por intermédio do programa
Proalcool. No entanto esta recuperação durou pouco tempo e a partir de 1980 o setor entra
em definitivo colapso. Para exemplificar, o número de usinas de açúcar e álcool diminuiu de
32 para 12, entre 1930 e 2000.

5. AS PRIMEIRAS VILAS
Para tornar efetivo o processo de ocupação e controle territorial, os agraciados com as ter-
ras da coroa tinham a obrigação de criar as vilas e cidades, de preferência junto ao litoral ou
dos rios, para servirem de pontos de escoamento dos produtos agrícolas.
As localidades, surgidas espontaneamente, eram minoria, ou seja, regras gerais eram cria-
das por decisão dos donatários ou dos senhores de terras. Eram, portanto e ao mesmo
tempo, centros comerciais e centros administrativos. Algumas localidades eram criadas para
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 21
servirem de postos de vigilância, outras, surgiam em torno de alguma capela em associação
com a igreja católica. Neste sentido a principal área de interesse da Região foi o local da
antiga vila de São Salvador dos Campos, atual cidade de Campos dos Goytacazes, a pri-
meira vila a ser criada em toda a Região (1673).
Posteriormente foram fundadas as vilas de São João da Barra, em 1676, e mais tarde a de
Macaé, em 1814. São João da Barra foi instalada para ser o principal porto da região e seus
estaleiros chegaram a fabricar e exportar navios para outras regiões. Já Macaé, antiga al-
deia indígena, cresceu com a atividade portuária, servindo de conexão entre a Região Cam-
pista e a cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com Reis, 1997, (apud Faria 2006), os primórdios da colonização do Norte Flumi-
nense estão ligados, historicamente, ao processo de urbanização de Campos dos Goytaca-
zes, “a metrópole mais rica e populosa das submetidas ao Rio de Janeiro”.
Ela exerce o papel de ponto estratégico para a ocupação e organização do espaço regional,
tanto para o Norte da Província do Rio como para as aglomerações de Minas Gerais que
utilizavam o seu porto, na foz do rio Paraíba do Sul, ou a estrada de Campos a Niterói, para
transportar as mercadorias até a cidade do Rio de Janeiro.
Os quatro municípios mais antigos - Campos dos Goytacazes, São João da Barra, Macaé e
São Fidelis foram sendo desmembrados, dando origem aos outros municípios que formam o
Norte e Noroeste Fluminense, conforme Tabela seguinte.
Tabela 2 - Criação dos Municípios por Desmembramento
Município Ano de Implantação Região
Campos dos Goytacazes 1673 Norte
São João da Barra 1676 Norte
Macaé 1814 Norte
São Fidelis 1850 Norte
Itaperuna 1885 Noroeste
Santo Antonio de Pádua 1889 Noroeste
Itaocara 1890 Noroeste
Cambuci 1891 Noroeste
Miracema 1935 Noroeste
Bom Jesus de Itabapoana 1938 Noroeste
Natividade de Carangola 1947 Noroeste
Porciúncula 1947 Noroeste
Conceição de Macabu 1953 Norte
Laje do Muriaé 1963 Noroeste
Italva 1986 Noroeste
Cardoso Moreira 1989 Norte
Quissamã 1989 Norte
Aperibé 1993 Noroeste
Varre Sai 1993 Noroeste
São José de Ubá 1995 Noroeste
Carapebus 1997 Norte
São Francisco do Itabapoana 1997 Norte
Fonte: Faria (2006)

Neste resumo histórico desta tradicional Região Norte do Rio de Janeiro, cujo capítulo mais
significativo é, sem dúvida alguma, a era do açúcar, uma vez que desde o início de sua ocu-
pação, por volta de 1538, até os dias atuais, vem moldando a economia e a cultura local,
determinando a sua estrutura social e a sua vida política.

22 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Muito recentemente, dois novos fatores foram acrescentados a esta história regional: a cria-
ção do pólo universitário, pontificando a criação da Universidade Estadual do Norte Flumi-
nense, Darcy Ribeiro, em 1993; e a descoberta e exploração do petróleo na Bacia de Cam-
pos, pela Petrobras, em 1974. O tempo histórico, que exige uma prudente espera para ofe-
recer informações consistentes, ainda é muito pequeno em ambos os casos, o que não
permite tirar conclusões fundamentadas.
De qualquer maneira é possível registrar que a grandeza dos impactos destes grandes e-
ventos - um de natureza cultural, e outro de natureza econômica - começa a provocar uma
transformação pontual na economia e na sociedade da Região, estabelecendo um interes-
sante contraponto com a rigidez do tradicionalismo agroaçucareiro, que ainda não conse-
guiu compreender e aproveitar as oportunidades oferecidas por estes dois setores com di-
nâmicas inovadoras.

6. O MAIS NOVO CAPÍTULO: A EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO


Bacia de Campos, denominada assim pela sua proximidade com a cidade de Campos dos
Goytacazes, se estende do Espírito Santo até Cabo Frio, no litoral do Rio de Janeiro. Os
primeiros trabalhos exploratórios feitos pela Petrobras, nesta bacia, ocorreram em terra, na
década de 1950.
A partir de 1970, a Petrobras já dominava a tecnologia para explorar o petróleo em águas
marítimas e, no ano de 1974 foi perfurado o primeiro poço produtor de petróleo em molde
comercial na Bacia de Campos. Em 25 de novembro de 1974, foi anunciada a descoberta
de petróleo no litoral da cidade de Campos dos Goytacazes.
Em 1979, após analisar a possibilidade de localizar suas instalações em várias outras cida-
des, desde Vitória (capital do estado do Espírito Santo) até Angra dos Reis (no litoral
sul do estado do Rio de Janeiro), a Petrobras elegeu a cidade de Macaé, como base de
operações das suas atividades de prospecção e de produção na recém-descoberta bacia
petrolífera em águas continentais no Norte Fluminense. Assim, a Petrobras criou em Ma-
caé uma grande base de operações (Imboassica), e o resultado auspicioso das pesquisas
fez com que esta Região se transformasse na maior produtora de petróleo do Brasil na atua-
lidade. Desde então, um novo ciclo econômico, baseado nos reflexos diretos e indiretos dos
recursos advindos da exploração de petróleo, aconteceu na Região.
A partir desta linha de ação da Petrobras, inúmeros outros empreendimentos ligados a ca-
deia petrolífera foram atraídos para a Região, principalmente para Macaé, particularmente
no setor serviços, gerando emprego e renda (principalmente o pagamento dos royalties)
para os municípios no Norte e Noroeste Fluminense. Isto trouxe e traz conseqüências positi-
vas e negativas para todos, uma vez que os benefícios não se distribuem de maneira eqüita-
tiva, conforme demonstram os vários estudos realizados sobre o complexo produtivo do pe-
tróleo da Região. (Veja Carvalho et all, 2006).
O fato é que existe um processo de transformação em curso, que deve ser acompanhado e
analisado com o passar do tempo: de uma Região agrícola tradicional para uma Região pe-
tro-rentista.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 23


7. REFERÊNCIAS

BARBOSA, Pedro Paulo Biazzo de Castro. A Constituição de uma periferia em face da mo-
dernização: a produção de açúcar e álcool no Brasil e as transformações na região Norte
Fluminense. In: MARAFON, Gláucio José; RIBEIRO, Miguel Ângelo (Org.). Revisitando
o território fluminense. Rio de Janeiro: NEGEF, 2003, p. 111-148.

CARVALHO, Ailton M. et ali (org.) Formação Histórica e Econômica do Norte Fluminense.


Rio de Janeiro, Garamond, 2006.

CRUZ, José Luis Vianna. Projetos nacionais, elites locais e regionalismo: desenvolvimento e
dinâmica territorial no Norte Fluminense. 331 f. Tese (Doutorado em Planejamento Urbano e
Regional)-Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.

FARIA, Teresa Peixoto. Gênese da rede urbana do Norte e Noroeste Fluminense, in


Formação historica e Econômica do norte fluminense- Ailton Mota de Carvalho, Maria
Eugenia Ferreira Totti (orgs.)- Rio de Janeiro: Garamond,2006, 328p.

IBGE- Sinopse estatística do Municipio de Campos, Rio de Janeiro, 1948.

LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e o brejo. 2.ed. Rio de Janeiro: Lidador, 1974.
PARANHOS, Paulo - O Açucar no norte fluminense - retirado de
www.historica.arquivoestado.sp.gov.br, em 07/12/2009.

REYS, Manoel Martins do Couto. Manuscritos de Manoel Martins do Couto Reys, 1785. Rio
de Janeiro: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, 1997.

ROSENDO, Roberto C. Formação Econômica da Região Norte Fluminense. In: CARVALHO,


Ailton M.(org.) Estrutura, dinâmica espacial e qualidade de vida da rede urbana das regiões
norte e noroeste fluminense”. Rio de Janeiro, Faperj, 2002.

SEBRAE. Projeto inventário de bens culturais imóveis- caminhos singulares do Estado do


Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.

Sites Consultados:

www.pt.wikipedia.org

www.sjb.rj.gov.br

www.governo.rj.gov.br

www.historica.arquivoestado.sp.gov.br

24 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Anexo

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 25


ANEXO
ANEXO I – BREVE HISTÓRICO DOS MUNICÍPIOS

Região Noroeste Fluminense

Aperibé
O topônimo Aperibé vem de Ape Ribe, que em tupi-guarani significa Cachimbo Aceso.
Para ser contada, a história de Aperibé deve ser iniciada ainda ao século XIX, quando era
apenas uma região de propriedades rurais, longe das cidades e denominada Santo Antônio
do Retiro. Os primeiros habitantes, índios Puris, foram substituídos por agricultores, que se
estabeleceram na localidade de "Pito Aceso". Sentindo que a produção das lavouras crescia
paralelamente com a densidade de sua população e não podendo mais suportar o pesado
ônus que lhes acarretava os arcaicos processos de transportes, o carro de bois e a tropa de
burros, únicos que se lhes colocavam à disposição, os fazendeiros desta região, para levar
o produto ao maior e mais próximo empório comercial, que era, naquela época, a cidade de
São Fidélis, associaram-se e deram início à realização do grande sonho, que era aproximá-
los por meio de um ramal férreo.
Mapa 1 – Região Noroeste Fluminense, Aperibé, Localização

Em 1876, iniciaram-se os estudos do traçado da ferrovia, sob a responsabilidade do enge-


nheiro Dr. Vieira Braga. A extensão da linha férrea era 15 léguas e 469 metros, ou seja, 92
quilômetros e 469 metros, com a bitola de um metro, tendo no seu início na estação de
"Luca" à margem esquerda do Rio Paraíba do Sul, em São Fidélis. Oficialmente inaugura-
da em 10 de agosto de 1883, a estação denominada Chave do Faria, onde havia uma co-
mutação para desvio dos trens, se transformou em um local de comércio, impulsionado
pelas facilidades trazidas pela ferrovia. A iniciativa política de prestar justa homenagem aos
verdadeiros donos das terras fez com que, em 2 de julho de 1890, o então governador

26 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Francisco Portela acolhesse, a pedidos, a elevação a distrito policial do povoado de Santo
Antônio do Retiro, que, mais tarde, passou a ser denominado Aperibé. Tendo como ponto
de referência a Serra da Bolívia, um maciço de cerca de 400 m. de altitude, às margens da
mais importante bacia hidrográfica do Estado do Rio de Janeiro, tombada como Área de
Preservação Ambiental (APA).
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aperib%C3%A9; acesso em 28/12/2009
http://www.aperibe.rj.gov.br/portal1/intro.asp?iIdMun=100133003; acesso em 28/12/2009

Bom Jesus do Itabapoana


Itabapoana possui vários são os significados. Na língua indígena: Ita- significa pedra. Ta-
ba- significa aldeia. Poan – barulho das águas sobre as pedras. Itabapoana-pedra empina-
da da aldeia do barulho das águas.
Por volta de 1842, chegou às terras onde hoje se acha localizada a cidade de Bom Jesus de
Itabapoana, em busca de terrenos virgens adaptáveis aos tratos agrícolas, o mineiro Antônio
José da Silva Nenem. Ele procedia de Bom Jesus da Vista Alegre, lugarejo de Minas Gerais,
de onde trouxe, em sua companhia, a esposa, dois filhos e alguns empregados, desde logo
se dedicando ao desbravamento do local, construindo moradia e fazendo plantações. Cam-
po Alegre foi o primeiro nome dado à povoação nascente, em homenagem a Vista Alegre
que, para trás, o pioneiro deixara. Mais tarde, como pelas proximidades passasse o Rio Ita-
bapoana, foi mudada novamente, agora para Bom Jesus do Itabapoana, em recordação ao
lugarejo de Minas, Bom Jesus da Vista Alegre, terra natal de Antônio José da Silva Nenem.
Mapa 2 – Região Noroeste Fluminense, Bom Jesus do Itabapoana, Localização

Com o decorrer dos anos, forte corrente imigratória para lá se dirigiu, constituída quase to-
da de conterrâneos dos primitivos povoadores. É ainda a tradição que nos dá notícia da e-

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 27


xistência de tribos indígenas em terras do atual território do Município, não propriamente no
local onde hoje se encontra sua sede, mas a 15 quilômetros de distância, mais ou menos
nas vertentes da Serra do Tardin. Essas tribos, segundo informes locais, subsistiram ali até
meados de 1850.
O elemento negro foi introduzido pelos que imigravam, atraídos pela perspectiva de explorar
a terra fértil. O escravo, com o trabalho persistente e barato, representou papel primordial na
evolução da agricultura e na economia local. Em 1853, com a Lei Imperial de nº 636, foi cri-
ada a Freguesia de Novas Senhoras da Natividade do Carangola, no dia 19 de março de
1856, ante a necessidade de um policiamento mais acentuado, o Conselheiro Luiz Antônio,
Presidente da Província, resolveu criar uma sub-delegacia de polícia no novo Arraial do Bom
Jesus.
Em 1862, o arraial já apresentava grandes progressos. Muito importante, foi sem dúvida, o
Decreto nº 1.261, de 14 de novembro de 1862, que estabeleceu: "Art.1º - O Arraial do Se-
nhor Bom Jesus, na Freguesia de Nossa Senhora da Natividade, no município de Campos,
fica com predicado de Freguesia com a inovação do "Senhor Bom Jesus do Itabapoana".
Por força do Decreto nº 2.810, de 24 de novembro de 1885, Bom Jesus do Itabapoana pas-
sou à jurisdição do município de Itaperuna, criado nesta data e por este Decreto. Em 24 de
novembro de 1890, já no período republicano, a freguesia foi elevada à categoria de Municí-
pio, em virtude do progresso que em suas terras se observava, nessa época. O Decreto nº
150, desta data, rezava: "Fica criado o município de Bom Jesus do Itabapoana, com os atu-
ais limites tendo por sede a povoação de Bom Jesus de Itabapoana, com a denominação de
Vila de Itabapoana".
Apenas dois anos vigoraram os termos deste Decreto, pois, em 8 de maio de 1892, um ou-
tro Decreto, de nº 1 foi lavrado, suprimindo os municípios de Itabapoana, Monte Verde e
Natividade do Carangola. Data desse tempo a campanha de reivindicação encabeçada pe-
los elementos de maior influência na região. Entre os que mais se bateram por essa causa,
são dignos de menção os nomes de Francisco Teixeira de Oliveira, João Catarino, Jerônimo
Batista Tavares e Pedro Gonçalves da Silva. Finalmente, depois de uma luta política cheia
de vigor, foi reconquistada a autonomia de Bom Jesus do Itabapoana, em virtude do Decreto
nº 633, de 14 de novembro de 1938, tendo a instalação do município verificada à 1º de ja-
neiro de 1939.
Até hoje, o município de Bom Jesus de Itabapoana conserva quase todos os costumes e
tradições dos seus antepassados, oriundos de Minas Gerais. Com a chegada da família Tei-
xeira de Siqueira, procedente de Portugal, por volta do ano de 1780, marcava-se o início das
festas do Divino Espírito Santo, em maio de 1863.
A eles, deve-se a tradição da festa. Eles receberam das mãos da senhora Dona Felicíssima,
em 1860, quando para cá vieram, as "Relíquias da Coroa e do Cetro do Divino Espírito San-
to", chegadas de Portugal e conservadas, até aquela data, na casa da família, com autoriza-
ção do Senhor Bispo de Mariana. Com as relíquias, receberam da Dona Felicíssima a reco-
mendação de trazê-las para a Fazenda da Barra (Barra do Pirapetinga) e, logo que possível,
entregá-las à Igreja do Arraial, para aqui continuarem as devoções tradicionais: "sejam pro-
pagadores da devoção ao Divino Espírito Santo, continuem com as orações, novenários,
visitas às casas de famílias e a Oratórios". Obedecendo, os filhos trouxeram as relíquias
para a fazenda do Comendador Antônio Teixeira Siqueira e continuaram religiosamente a
cumprir a devoção, com procissões entre as fazendas. Em cada fazenda, era mantido pela
família um oratório onde se realizavam devoções e quaisquer cerimônias religiosas. Um
destes se conserva até hoje, com a família do Sr. Ernesto Lumbreiras. Anualmente, eram
escolhidos os Provedores da Festa. Em 1863, estando o menino Pedro Teixeira Reis gra-
vemente enfermo, seus pais, Joaquim Teixeira de Siqueira Reis e Dona Jovita Umbelina
Teixeira (descendentes do casal Francisco e dona Felicíssima), prometeram ao Divino Espí-
rito que, se o curasse, vesti-lo-iam a caráter como Imperador do Guarda da Coroa e do Ce-

28 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


tro. Conseguindo a cura do menino, a promessa foi cumprida, tendo o pai do menino, Joa-
quim Teixeira de Siqueira Reis, ido comprar a roupa na corte. Lá, adquiriu a febre amarela,
que então grassava. Voltou para casa e ainda assistiu à Festa do Divino, mas foi a primeira
vítima desta moléstia, na região.
Iniciou-se, desde então, a tradição de um Imperador da Guarda da Coroa e do Cedro, que
se perpetuou enquanto durou a tradição da Festa do Divino Espírito Santo, isto é, até 1955,
quando Jamil Figueiral Ribeiro foi o Imperador. Sobre esta festa, disse o vigário de Bom Je-
sus: "A coroa e o cetro do Divino Espírito Santo constituem as relíquias mais antigas da his-
tória e da fé da nossa terra e da nossa gente. Ignorá-las significaria o desconhecimento da
força da fé, representaria não ser fiel às origens e às verdadeiras tradições da nossa terra e
sobretudo, não respeitar e não amar a nossa gente". Padre Paulo Pedro Seródio Garcia
(descendente do casal Teixeira de Siqueira).
Parte integrante da história de Bom Jesus é o Padre Antônio Francisco de Mello, que che-
gou em Bom Jesus do Itabapoana, procedente da Ilha de São Miguel, em Portugal, no ano
de 1899. Aqui permaneceu por quase meio século, vindo a falecer no dia 13 de agosto de
1947, em plena festa. Grande conhecedor da língua pátria, dono de rara sensibilidade, dei-
xou vários poemas que são sempre lembrados, especialmente o que de mais perto fala o
coração do bonjesuense: "Morrer Sonhando". Entendendo de matemática e engenharia, foi
também o remodelador da Igreja Matriz, erguendo uma de suas torres em 1931, conservada
até nossos dias e tida como arrojado feito de engenharia.
Fontes:
http://www.bomjesus.rj.gov.br/portal1/dado_geral/mumain.asp?iIdMun=100133012; acesso
em 22/12/2009
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bom_Jesus_do_Itabapoana; acesso em 22/12/2009

Cambuci
O município de Cambuci teve as suas terras desbravadas no princípio do século XIX,
aproximadamente no ano de 1810.
Seu território municipal originou-se à partir da concessão de uma sesmaria doada à família
Almeida Pereira, que abrangia toda a zona conhecida ainda hoje por seu nome primitivo de
São Lourenço, situada no atual distrito de São João do Paraíso, antes conhecido como
"Paraisinho".
Outras duas localidades foram devassadas logo após a concessão da citada sesmaria, as
quais receberam as denominações de São José de Ubá e Bom Jesus do Monte Verde.
A comuna foi habitada pelos índios "Puris", originários da tribo dos Coroados, procedentes
dos estados do Espírito Santo e Minas Gerais.
A presença do elemento negro escravizado, contribuiu sobremaneira para o
desenvolvimento econômico do local, principalmente no setor agrícola.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 29


Mapa 3 – Região Noroeste Fluminense, Cambuci, Localização

No dia 4 de novembro de 1861, em virtude do progresso verificado no Curato (povoação


pastoreada por um vigário) do Senhor Bom Jesus do Monte Verde, o governo lançou o
Decreto Estadual nº 1203, cujo texto assim diz: "O Curato do Bom Jesus do Monte Verde
fica elevado a categoria de freguesia - com os limites eclesiásticos que ora tem, excluída a
vertente do Rio Paraíba, compreendida entre as fazendas do Francisco Cruz e Prudêncio
José da Silva, seguindo pelo Valão do Padre Antônio até a fazenda Joaquim Alves, a qual
vertente passará a incorporar-se ao território da freguesia de São José de Leonissa, e a
nossa freqüência pertencerá ao município de São Fidelis".
Passado um ano, por deliberação de 21 de março de 1862, foi criado neste mesmo local o
distrito de paz, cujos limites eram os mesmos da freguesia. No período compreendido entre
os anos de 1880 e 1890, tiveram início os primeiros movimentos pela criação do futuro
município, com intensa campanha, tendo logrado êxito em virtude da edição do Decreto nº
222, de 6 de maio de 1891, que o denominou de município de "Monte Verde", com sua sede
localizada no Distrito, também chamado Monte Verde. Este mesmo decreto desmembra o
distrito de Cambuci, que pertence à comarca de São Fidelis, integrando-o ao recém criado
município de "Monte Verde". Por força da Lei 231, de 13 de dezembro de 1895, transferiu-se
a sede do então município de Monte Verde para a atual localidade de Cambuci.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cambuci; acesso em 27/12/2009;
http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=Cambuci&uf=RJ&
tipo=informacoes, acesso em 27/12/2009;
http://www.governo.rj.gov.br/municipal.asp?M=60~, acesso em 27/12/2009;
http://www.cidadedorio.com.br/lista.php?ciitId=942, acesso em 27/12/2009;

30 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Italva
Primitivamente, a região era habitada por tupis-guaranis, puris e goitacases. No século XIX
passou a ser ocupada por latifundiários, que habitavam grandes extensões. Por volta de
1850, não haviam vilas nem povoados e o acesso à região era feita pelo Rio Muriaé.
Entretanto, na altura de Cardoso Moreira, o rio era cheio de corredeiras e cachoeiras.
Mapa 4 – Região Noroeste Fluminense, Italva, Localização

Em 1873, foi criado o distrito de de Santo Antônio das Cachoeiras de Muriaé, em alusão às
cachoeiras, pela lei provincial nº 1937, de 6 de novembro de 1873 e deliberação estaduais
de 25 de outubro de 1890 e de 10 de agosto de 1891, bem como pelos decretos estaduais
nºs 1 de 8 de maio de 1892 e 1-A, de 3 de junho de 1892, subordinado ao município de
Campos dos Goytacazes. O nome do distrito, em 1911, passa a Cachoeiras.
Posteriormente, assume a denominação de Monção, seguida de Purus e, até 9 de outubro
de 1944, quando passa a chamar-se Italva. O distrito foi elevado a categoria de município
com a denominação de Italva, pela lei estadual nº 681, de 11 de novembro de 1983,
desmembrado de Campos.
Fontes:
http://www.panoramio.com/photo/4955813, acesso em 02/01/2010
http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_ramais_2/itaiva.htm, acesso em 02/01/2010

Itaocara
O topônimo deriva do tupi: "ita" (pedra) e "ocara" (pedra), onde oca é a casa, ara - lugar,
ou casa de pedra.
Devido à luta entre os índios coroados e puris, os religiosos capuchinhos que colonizavam
São Fidélis, sentiram necessidade de criar no local das divergências uma nova aldeia, que
acolhendo uma das tribos, separasse os litigantes.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 31


Mapa 5 – Região Noroeste Fluminense, Itaocara, Localização

Em 1809, Frei Tomás, da cidade de Castelo, chegou às terras escolhidas para a fundação
da nova Aldeia, que denominou São José de Dão Marcos, em homenagem ao referido Vi-
ce-Rei. O nome escolhido não criou raízes no pensamento dos habitantes, que preferiram
designar o local de aldeia da pedra, em referência ao penhasco que lhe ficava fronteiro, na
margem oposta do Rio Paraíba do Sul.
Fontes:
http://www.itaocararj.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=85:historia-de-
itaocara&catid=41:nossa-cidade&Itemid=56; acesso em 27/12/2009

Itaperuana
A origem do nome "Itaperuna" vem das tribos indígenas tupi-guarani, que habitavam a
região e significa "caminho da pedra preta" (ita = pedra + per = caminho + una = preta).
A região de Itaperuna foi desbravada por José de Lannes Dantas Brandão, a partir de 1829,
após a sua deserção da milícia do Exército. Ao chegar nessa região, em 1834, se
estabeleceu num lugar que foi denominado Porto Alegre. Pelos serviços de colonização
prestados à Coroa, com o advento da economia cafeeira foi perdoado, tendo sido morto por
seus escravos, em 1852.
Em 24 de novembro de 1885, por decreto de nº 2.810, eleva a freguesia de Nossa Senhora
da Natividade de Carangola (um dos primeiros nomes da cidade) à categoria de Vila de
Itaperuna, levando esse nome por ser passagem para se chegar a Pedra do Elefante,
localizada em Carangola, Estado de Minas Gerais. Em 1887, foi criada a freguesia de São
José do Avaí, nome em homenagem às Armas Brasileiras na Guerra do Paraguai. Foram
doados 15 alqueires de terra para patrimônio dessa Vila pelo sr. Jayme Porto e Senhora.
Em 10 de maio de 1889, foi feita a primeira eleição para a Câmara dos Vereadores, sendo a
vitória dos Republicanos, que tomaram posse no dia 4 de julho do mesmo ano, sendo
32 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
portanto a primeira Câmara republicana do país, em pleno regime monárquico, regime esse
que viria a ser desbancado pelo Marechal Deodoro.
Em 6 de dezembro de 1889 foi a vila de São José do Avaí transformada em município de
Itaperuna, sendo criada a sua respectiva Comarca.
Mapa 6 – Região Noroeste Fluminense, Itaperuna, Localização

A cultura cafeeira foi um grande destaque na economia da cidade por mais de quatro
décadas, tornando-a em 1927 a maior produtora nacional.
Do território original do município de Itaperuna foram desmembrados: Bom Jesus do
Itabapoana, em 1938, Natividade e Porciúncula, em 1947, e Laje do Muriaé, em 1962,
ficando Itaperuna com seu atual contorno.
Fontes:
http://blogdamegasena.wordpress.com/2008/03/22/cidade-da-sorte-itaperuna-rj/; acesso em:
02/01/2010
http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=Itaperuna&uf=RJ
&tipo=informacoes; acesso em: 02/01/2010

Laje do Muriaé
Sobre a origem do nome, Laje do Muriaé, existem duas versões:

• "Era no tempo ainda dos bandeirantes. A povoação vinha recebendo aos poucos os
seus novos habitantes, no rio Muriaé, na altura onde se acha hoje o casario da vila, exis-
te uma laje de pedra no rio, da qual se avizinhavam os primeiros povoadores do lugar,
servindo de ponto de referência aos encontros. Daí era frequente eles disseram: "Vamos
encontrar na laje"; "vamos até a laje"; "fulano está na laje". O lugar ia crescendo e as re-
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 33
ferências a "laje" iam sendo repetidas. Por isso, o nome da atual vila de Laje do Muriaé
teve origem na laje de pedra do rio.

• Afirma-se que índios puris (primitivos habitantes) pertenciam à raça Lagide (Laje), e
que eram oriundos dos GÊS, cujo grupo pertencia aos Goitacases e aos Coroados. As-
sim sendo, o nome de Laje veio da classificação dos puris (Lágides) e não, de uma pe-
dra (laje), existente no rio.

Fundada em 1832 pelos três Josés: José Ferreira Cezar, José Bastos Pinto e José Garcia
Pereira – parentes de Constantino Pinto, protetor dos índios Puris, de São Paulo do Muria-
é. Partiram de Muriaé, rio abaixo, em busca de ouro e pesca, e encontraram uma laje que
quase estrangulava o rio.

Pararam nessa laje, a fim de prepararem a primeira refeição do dia. Seguiram, depois a-
baixo, para o local em que José Ferreira Cezar pretendia fundar a primeira fazenda, “O
Angola”. Em chegando ao sítio indicado e ao disporem os trens da cozinha, em condição
de efetuarem a refeição segunda do dia, deram falta de um determinado utensílio, procura-
ram que procuraram, até que alguém se lembrou que determinada peça tinha ficado na laje
(...) e esse acidente topográfico passou a dar o nome a toda região.

Algum tempo depois, José Ferreira Cezar abriu mão das terras do Angola, partindo para as
nascentes do Ribeirão do Campo, quando achou as barras de cinco córregos, local esse
ideal para a fundação da sua fazenda, que passou a se chamar “Fazenda das 5 Barras”.
Por seu turno, José Garcia Pereira, fundava a “Fazenda do Tanque”, a qual recebia tal no-
me por ter ele feito barrar o Ribeirão da Serra, dando origem ao açude que recebeu aquele
nome: “Tanque”.

Em 1840, teve origem o estabelecimento do ciclo do café. Isto é, o café invadiu o Norte-
Fluminense, descendo de Minas e entrando pelo Poço Fundo.

São estas as palavras do Visconde de Taunay: “Por 1840, já o café se havia até mesmo
em municípios da Zona da Mata, que ficam mais para o interior”. A Laje permanecia, então,
nesta Zona, isto é, a Zona da Mata descia o Rio Muriaé até a Serra de São Domingos, a
qual servia de limite “entre as terras altas de Minas e as terras baixas da Baixada Campis-
ta”.

Pertencendo a Baixada Campista, Laje foi politicamente anexada a São Fidelis de Sigma-
ringa, à qual pertenceu até 1872, quando passou a Santo Antonio de Pádua. Desligou-se
de Pádua em 1887, para filiar-se a São José de Avaí, que passou a ser, então, Itaperuna.

Desmembrada de Itaperuna em 7 de março de 1962, pela Lei 5045, para constituir-se no


atual Município.

34 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Mapa 7 – Região Noroeste Fluminense, Laje do Muriaé, Localização

Fontes:
http://www.pmlajedomuriae.com.br/index.php?exibir=secoes&ID=52 , acesso em:
28/12/2009
http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=LajedoMuriaé&u
f=RJ&tipo =turismo; acesso em 28/12/2009

Miracema

A colonização do território do município de Miracema é atribuída aos esforços de D.


Ermelinda Rodrigues Pereira, primitiva proprietária das terras que constituem o distrito sede.

Segundo a tradição, por volta de 1846, a referida senhora mandou erigir, no local onde
atualmente existe a praça que tem o seu nome, uma capela dedicada ao culto de Santo
Antônio.

Era intenção de D. Ermelinda transformar suas propriedades em bens de uma paróquia, que
pretendia entregar, mais tarde, a um de seus filhos, de nome Manoel, que concluíra seus
estudos no seminário de Mariana, Minas Gerais. Prosseguindo com seu intento, a referida
senhora doou 25 alqueires de terra, dos 2.000 que possuía, para a formação da futura
freguesia de Santo Antônio, posteriormente, Santo Antônio dos Brotos.

Deve-se a mudança de nome ao fato de um dos sólidos esteios da capela construída por D.
Ermelinda ter brotado, fato que a crendice popular atribuiu a um milagre, acrescentando ao
nome do padroeiro Santo Antônio, a designação de “dos Brotos”.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 35


Mapa 8 – Região Noroeste Fluminense, Miracema, Localização

O crescimento da povoação motivou em 26 de Janeiro de 1880, a criação do Distrito Policial


de Santo Antônio dos Brotos.
Em 9 de setembro de 1881, foi criado o Distrito de Paz e, em 13 de abril de 1883, atendendo
à solicitação da comunidade, através da Câmara de Pádua, o governo provincial resolveu
mudar a denominação de Santo Antônio dos Brotos para o de Miracema, que, no idioma tupi
guarani significa ybira – pau, madeira e cema – brotar e, em se tratando de eufonia da
palavra, sugeriu o Dr. Francisco Antunes Ferreira da Luz que se trocasse o Y por M.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Miracema; acesso em 28/12/2009
http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=Miracema&uf=RJ;
acesso em 28/12/2009

Natividade
Sua história acha-se vinculada à de Itaperuna, com origem na penetração do desbravador
José Lanes Brandão na área, por volta de 1831, que desencadeou o fluxo migratório para a
região. Em decorrência, em 1853, foi criada a freguesia de Nossa Senhora de Natividade do
Carangola e, a partir do final do século XIX, com o advento da ferrovia, sua colonização se
processou de forma rápida e contínua. A freguesia chegou a tornar-se vila e sede do muni-
cípio de Itaperuna, em 1885. Logo depois, contudo, perde sua hegemonia, passando por
período de modificações administrativas. Em 1947, foi promulgado o desmembramento de
Itaperuna, dos distritos de Natividade do Carangola, Varre-Sai e Ourânia, a fim de constituí-
rem o novo município de Natividade do Carangola. Enquanto essas modificações se proces-
savam, as lavouras existentes na região floresciam, permitindo aos seus proprietários usu-
36 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
fruírem lucros fabulosos em grande parte devidos ao trabalho escravo. Com o advento da lei
abolicionista, em 1888, esta situação de prosperidade sofreu um sério abalo de que, durante
longo tempo, se ressentiu a economia da localidade.
Mais recentemente, registra-se a alteração do nome para Natividade e o desmembramento
do distrito de Varre-Sai.

Mapa 9 – Região Noroeste Fluminense, Natividade, Localização

A cidade desenvolveu-se isoladamente, junto às margens do Rio Carangola e em vasta zo-


na montanhosa e fragmentada, tornando-se importante centro ferroviário para embarque da
produção cafeeira da Região. O café aproveitou antigos solos da mata e as condições climá-
ticas favoráveis. A partir da década de cinquenta, a decadência da lavoura do café teve co-
mo consequência à estagnação da dinâmica urbana. Desta maneira, Natividade dedicou-se,
no decorrer do século XX, cada vez mais à pecuária, deixando o café, de ser a cultura mais
importante na cidade. A agricultura passou a ser dirigida para o arroz, milho e feijão.
Fonte: http:// www.cide.rj.gov.br/cidinho, acesso 12/12/2009

Porciúncula
O topônimo deriva de homenagem feita ao então presidente da província fluminense - Dr.
José Thomas de Porciúncula.
O Vale do Carangola foi habitado inicialmente pelos índios puris. Depois de grandes enfren-
tamentos durante os séculos XVI e XVII com os tamoios e portugueses, membros da tribo
começaram a migrar em levas que penetraram o Noroeste Fluminense a procura de novas
áreas de habitação nas suas densas florestas. Bandeirantes, entretanto, já percorriam os
rios Carangola e Muriaé no início do século XIX, rios cujas nascentes são localizadas em
Minas Gerais e que atravessam a Região Noroeste do estado do Rio de Janeiro, banhando
suas principais cidades. Tem-se como certo que o seu desbravamento verificou-se entre os
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 37
anos de 1821 e 1831, cabendo o mérito de tal realização a José Lannes (ou de Lana) Dan-
tas Brandão, que alguns historiadores dizem ter sido um sargento da Milícia de D. João I e
outros consideram como um desertor das fileiras de uma tropa policial de Ponte Nova, Mi-
nas Gerais. Segundo a primeira das versões, procedente de Minas Gerais, seu torrão natal,
José Lannes, por volta de 1820, teria chegado à cidade do Rio de Janeiro acompanhado de
uma tropa carregada de mercadorias originárias da fazenda que seu progenitor possuía na-
quela Província.

Mapa 10 – Região Noroeste Fluminense, Porciúncula, Localização

Rezam as crônicas que, desde menino, José Lannes manifestava vivo interesse pela carrei-
ra das armas e que chegando à Metrópole, pode concretizar seus ideais alistando-se na
Milícia de D. João VI, por atos de bravura, ascendeu, rapidamente, ao posto de sargento.
Apesar de tão rápido êxito, as ambições militares do jovem sargento estavam fadadas ao
insucesso. Proveniente de Portugal chegara, logo após a promoção na Milícia, um alferes
que atendia pelo nome de Manoel de Souza, designado, também, para servir na tropa a que
José Lannes pertencia. Certo dia, estando essa tropa aquartelada em Niterói, verificou-se
entre o alferes português e o sargento brasileiro um incidente cujas consequências vieram
ligar o nome de Lannes Brandão à história de três dos atuais municípios fluminenses. In-
cumbido pelo oficial lusitano de levar cartas e presentes para sua namorada, José Lannes
recusou, revoltado, essa incumbência; o que provocou no oficial um arrebatamento colérico.
Erguendo o rebenque que trazia nas mãos tentou o oficial fustigar com ele a face do sargen-
to só não conseguindo realizar seu intento, devido à destreza com que o inferior se esqui-
vou. Perdendo o controle, ferido profundamente em seu brio, José Lannes arrebatou o chi-
cote do superior e vibrou-o em plena face do oficial, que acovardado, se refugiou, no quartel
da corporação. Voltando a si, compreendeu José Lannes a gravidade da situação melindro-
sa em que se vira envolvido e temeroso das consequências, sem dúvida alguma funestas
que forçosamente adviriam de seu gesto, resolveu desertar imediatamente.

38 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Contornando o litoral fluminense chegou ele às margens do rio Paraíba, cujo curso subiu até
o local onde as águas desse rio se juntam com as do rio Muriaé. Abandonando então, o Pa-
raíba, subiu pelo Muriaé até a primeira morada dos índios puris, na hoje, Fazenda da Con-
ceição.
Depois de um breve descanso nesse local, José Lannes prosseguiu viagem, já agora servi-
do por uma escolta dos índios puris, por ter caído nas boas graças dos chefes aborígenes.
Chegando ao rio Carangola, enveredou-se por ele atingindo a cachoeira de Tombos, de
onde retornou pelo caminho percorrido na ida assinalando, então na sua passagem, os lo-
cais de Porciúncula e Natividade.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Porci%C3%BAncula; acesso em 18/12/2009
http://culturaporciuncula.org/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=18&Item
id=56; acesso em 18/12/2009
http://www.porciuncula.rj.gov.br/ ; acesso em 17/12/2009

Santo Antônio de Pádua

A cidade foi fundada pelo frade Florido di Città di Castello no dia 26 de janeiro de 1833.
Quem consolidou sua fundação foi frei Bento Giovanni Benedetta Libilla, conhecido como
"Bento de Gênova". Frei Florido desejava aldear e catequizar os índios puris, habitantes
dessa região. Os fazendeiros João Francisco Pinheiro, sua mulher, Maria Luísa, e João Luís
Marinho doaram terras para o frei realizar seu intento. Eles deram liberdade a frei Florido de
escolher o local que desejasse, e ele escolheu as terras ao lado da Cachoeira, à margem
esquerda do rio da Pomba, como era então chamado o rio Pomba, e que essas terras
mediam cerca de cento e sessenta braças, ou 352 metros lineares.

Frei Florido construiu a capela, com mão de obra indígena, sobre uma pequena elevação
que havia onde hoje é a praça Visconde Figueira. A pedido do doador, o frade consagrou a
capela a São Félix e o arraial que ali se formou, denominou-se Arraial da Cachoeira,
passando depois a Arraial de São Félix.

No final da década de 1830 ou princípio da década de 1840, "Bento de Gênova", como


assinava, construiu uma igreja fora das terras de frei Florido, na atual praça Pereira Lima,
consagrando-a a Santo Antônio de Pádua, o nome do Curato. Aos poucos, por causa da
igreja, os moradores passaram a chamar a localidade de Santo Antônio de Pádua, que ficou
sendo o nome definitivo do arraial, passando à vila e, depois, à cidade de Santo Antônio de
Pádua.

Em 1º de junho de 1843, a lei nº.296 elevou o curato à categoria de freguesia (paróquia),


com o nome de Santo Antônio de Pádua: frei Bento de Gênova foi o seu primeiro vigário.

O documento mais antigo de que se tem notícia na história de Santo Antônio de Pádua é a
escritura, passada em cartório, da doação das terras a frei Florido citada no começo desta
seção, para fazer a divisa "de valão a valão", entre o valão que corre da rua Nilo Peçanha,
antiga rua da Chácara e outro, o valão do Botelho, que havia na saída para Miracema.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 39


Mapa 11 – Região Noroeste Fluminense, Santo Antônio de Pádua, Localização

Quando estava prestes a ser lavrada a escritura, outro fazendeiro, João Luis Marinho, que
tinha suas terras limítrofes a essas, deu, a pedido de frei Florido, outra igual porção de terra,
isto é, mais 160 braças, portanto, totalizando 704 metros lineares de terra margeando o rio.
As terras eram para frei Florido fazer, ali, sua moradia e assim a divisa ficar "de valão a
valão", no local onde, em 1850, 17 anos depois, foi construído o sobrado no qual moravam
os párocos, os padres da paróquia de Santo Antônio de Pádua, denominado, mais tarde,
"Sobrado do Padre Domingos", por ter esse sacerdote morado nele durante 26 anos,
denominação essa que perdurou durante longo tempo. O prédio ainda existe, situado à rua
Dr. Ferreira da Luz, antiga rua de Cima, ex-residência da família de José Ferreira.
Diante do progresso, principalmente no setor agrícola, não foi possível conter a sua
emancipação do então município de São Fidélis, que finalmente aconteceu a 2 de janeiro de
1882, pelo decreto número 2.597. As exigências finais para a instalação da vila foram
cumpridas em 6 de setembro do mesmo ano, quando o Visconde de Silva Figueira
depositou, na tesouraria provincial, a quantia necessária para a construção da Casa da
Câmara e da Cadeia Pública.
Então, finalmente foi instalada a vila a 26 de fevereiro de 1883. Sua história é marcada pela
mistura de raças: portugueses, italianos, sírio-libaneses, espanhóis e africanos.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santo_Ant%C3%B4nio_de_P%C3%A1dua_(Rio_de_Janeiro);
acesso em: 28/12/2009
http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=Santo Antônio de
Pádua&uf= RJ &tipo=dados+gerais; acesso em: 28/12/2009
http://www.santoantoniodepadua.rj.gov.br/index.php; acesso em: 28/12/2009

40 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


São José de Ubá
No final do século XIX, São José de Ubá era conhecida como Rancho dos Ubás, pois abri-
gava os tropeiros, vindos, na maioria, de Minas Gerais. Um dos antigos proprietários desta
terra foi o Sr. José Bastos Neto (Juca Neto), que posteriormente, doou partes destas terras
a São José (padroeiro de pequena capela nesta localidade). Daí, originar-se o nome de São
José de Ubá.
O distrito de São José de Ubá foi criado pelos Decretos Estaduais n.º 01 de 08 de maio e I -
A de 03 de junho de 1892. Pelo Decreto n.º 641, de 15 de dezembro de 1938 passou a de-
nominar-se Juca Neto. Mais tarde, por efeito do decreto-lei estadual n.º 1056, de 31 de no-
vembro de 1943, retorna a primitiva denominação de São José de Ubá.

Mapa 12 – Região Noroeste Fluminense, Santo José de Ubá, Localização

Em 1º de novembro de 1993, o projeto de criação do município de São José de Ubá foi a-


provado com unanimidade na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em 2 de
novembro de 1995, através de uma votação bastante expressiva (99,43%) a população de
São José de Ubá diz seu sim á emancipação.
O seu desenvolvimento, até 1960, se fez graças ao cultivo do café, cana-de-açúcar, feijão,
algodão e milho. Em 1960, iniciou-se o plantio de tomate, produto este, que mudou a história
econômica da cidade, sendo hoje, o segundo maior produtor de tomate do Rio de Janeiro.
Fontes:
http://www.saojosedeuba.rj.gov.br/index.php; acesso em 28/12/2009
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Jos%C3%A9_de_Ub%C3%A1; acesso em
28/12/2009
http://www.governo.rj.gov.br/municipal.asp?M=69; acesso em: 28/12/2009

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 41


Varre-Sai
O surgimento, propriamente dito, do local aconteceu em 1848, quando um fazendeiro cha-
mado Felicíssimo Faria Salgado comprou terras na região. Dessas terras, uma área foi doa-
da à igreja católica. Em 1920, foi construída a atual igreja de São Sebastião, hoje um dos
pontos turísticos mais belos do município.
Durante muito tempo, Varre-Sai foi distrito de Natividade. Graças a um movimento que mo-
bilizou toda a população, foi conquistada, em 1991, sua independência política e administra-
tiva. Começava um novo ciclo na história da centenária localidade, que dava os primeiros
passos por si só.

Mapa 13 – Região Noroeste Fluminense, Varre-Sai, Localização

A história conta que o local era visitado por muitos tropeiros, que costumavam pernoitar em
um velho rancho. Na porta, escrito a carvão, um aviso: Varre e Sai.

Todos que por ali passavam deveriam varrer o local antes de seguir seu caminho.

Eles não pagavam nada pela estadia, em troca conservavam o lugar limpo. Assim começou
a história de Varre-Sai.

Fontes:
http://www.varresai.rj.cnm.org.br/portal1/municipio/historia.asp?iIdMun=100133090;acesso
em 28/12/2009
http://estadodoriodejaneiro.com.br/artigo.php?ciitId=4074; acesso em 28/12/2009
http://pt.wikipedia.org/wiki/Varre-Sai; acesso em 28/12/2009

42 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Região Norte Fluminense

Campos dos Goytacazes


O nome da cidade advém dos índios goytacazes habitavam a região dos campos que
constituem a chamada “baixada campista”.
Essas terras dos índios goytacazes ou goitacás começaram a ser colonizadas pelos
portugueses em 1627, com a chegada dos "Sete Capitães".
Pertenceram à capitania de São Tomé e se tornaram, cinqüenta anos depois (1676), no dia
29 de maio, a Vila de São Salvador dos Campos. Foi elevada à categoria de Cidade em 28
de março de 1835, com o nome Campos dos Goytacazes.
Posteriormente, a região progrediu com a cultura da cana-de-açúcar, desde 1652, que se
expandiu pelos aluviões, entre o Rio Paraíba do Sul e a Lagoa Feia. No século XVIII, a eco-
nomia local girava exclusivamente em torno de atividades rurais.

Mapa 14 – Região Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, Localização

Alguns importantes fatos históricos se deram em Campos dos Goitacazes, entre eles figura
a partida dos primeiros voluntários para a Guerra do Paraguai, em 28 de janeiro do 1865,
pelo vapor "Ceres".
Outro momento importante foi o movimento do abolicionismo, que teve seu ponto alto em 17
de julho de 1881, com a fundação da Sociedade Campista Emancipadora, que propagava a
luta pela emancipação dos negros. O jornalista Luís Carlos de Lacerda e José Carlos do
Patrocínio, cognominado de o "Tigre da Abolição" foram os maiores expoentes da causa.
Porém, foi a última cidade brasileira a aderir a abolição da escravidão.
As visitas do imperador Dom Pedro II constiuem outro marco da história de Campos.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 43
Fontes:
http://www.cide.rj.gov.br/cidinho; acesso em 20/12/2009
Inepac e Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes

Carapebus
Seu nome se originou pela existência do peixe carapeba em grande quantidade na lagoa do
Município. O final “us” é o quantitativo da língua dos indígenas Goytacazes, que quer dizer
“boas” ou “bom”.
Os primeiros habitantes deste Município foram os índios Goytacazes. Sua colonização ini-
ciou-se, em 1627, quando a coroa concedeu suas terras a militares portugueses que lutaram
na expulsão dos franceses da Baía de Guanabara, os denominados Sete Capitães.

Mapa 15 – Região Norte Fluminense, Carapebus, Localização

No século XVIII, a maior partes de suas terras pertenciam ao Capitão Francisco José que
se dedicava a agropecuária. No final deste século, o capitão vende parte das terras a Cae-
tano Peres que funda a Fazenda São Domingos e ergue uma Igreja consagrada a Nossa
Senhora da Conceição, formando-se então um povoado, subordinado a Macaé, que se
destacou pela agricultura canavieira com a produção açucareira movimentando a economia
local. Em 1831 foi elevado a Distrito e em 1995, a Município, desmembrando-se de Macaé.
Fonte:
http://www.carapebus.rj.gov.br/site/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1; acesso em
2/01/2010

44 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Cardoso Moreira
Em homenagem ao Comendador José Cardoso Moreira, nasceu o seu topônimo.
Consta que na margem direita do rio Muriaé, freis franciscanos de nomes Paulo e Jacques
fundaram um agrupamento indígena por volta de 1672. Nessa região habitavam os índios
Puris, remanescentes da nação Goitacá que havia sido duramente perseguida pelos portu-
gueses e índios tamoios que haviam escapado em migrações sucessivas através do rio Mu-
riaé. Em virtude de epidemia de febre o aldeamento foi praticamente dizimado e os seus
habitantes se espalharam pelo leste dessa região.
Registra-se, num segundo momento, em fins de 1700, que mais de 20 engenhos já tinham
se instalado em Cardoso Moreira para moagem e beneficiamento de açúcar e aguardente.
Seu nome na época era Cachoeiras do Muriaé já que a cidade se localiza na altura da pri-
meira cachoeira do rio Muriaé que corta o Município de ponta a ponta.
Desse período até 1989, Cardoso Moreira pertenceu - como distrito - a Campos dos Goyta-
cazes, o grande centro de plantação da cana de açúcar, a partir do século XVII.

Mapa 16 – Região Norte Fluminense, Cardoso Moreira, Localização

Em Cardoso Moreira as fazendas mais importantes eram: Outeiro, da família Peixoto, San-
tana, dos Saturnino Braga, Santa Rosa, de Paulo Viana, Pau Brasil, dos Ribeiro da Rocha,
São José, do Barão da Lagoa Dourada, Santa Helena, do Comendador Cardoso Moreira e
Cachoeiras do Muriaé, pertencente ao Comendador Antônio José Ferreira Martins. Essas
fazendas tiveram seu apogeu por volta de 1870 algumas enormes e com solares ricamente
construídos. Todos esses fazendeiros necessitavam escoar sua produção e se organizaram
para construir um ramal da estrada de ferro até Carangola, em Minas Gerais. Mais tarde a
idéia passou a ser conectar esta linha com as estações construídas pela Leopoldina Rail-
ways de onde iriam até o Porto do Rio de Janeiro.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 45


O escoamento havia sido feito e ainda se fazia por barco através dos rios Paraíba e Muriaé.
Haviam trapiches localizados ao longo dos rios onde muitas tropas de animais de carga tra-
ziam seus produtos de Minas Gerais. Houve até uma companhia a União Campista Fidelen-
se que construiu barcos a vapor para o transportes dessas mercadorias. As embarcações
tinham o nome de Muriaé, Cachoeiro e União.
O Comendador Cardoso Moreira, fazendeiro que havia feito grandes investimentos em suas
fazendas e - como era comum na época - contribuído com obras que beneficiaram a cidade
- tornou-se grande acionista da Estrada de Ferro. Todos os fazendeiros acabavam por as-
sumir obras que teriam normalmente de terem sido executadas pelo governo, como constru-
ção de estradas, das Câmaras Municipais (que funcionavam como prefeituras), hospitais
para seus empregados dentro das fazendas, que acabavam servindo ao pessoal local, me-
lhorias das vias públicas da área urbana, instalação de jardins e praças ao redor de suas
casas na cidade e que acabavam por beneficiar o cidadão local, etc. Devido, provavelmente,
ao volume de investimentos do Comendador, seu nome foi dado à estação local que mais
tarde se transformou no nome do município.
D. Pedro II e a princesa Izabel compareceram no dia 29 de Novembro de 1878 para a inau-
guração da estação. D. Pedro II acompanhava de perto a construção das estradas de ferro e
sua presença prestigiava essas iniciativas. Havia grande colaboração entre o Império e es-
ses fazendeiros já que o volume das exportações desses produtos primários como o café e
o açúcar e o desenvolvimento do Brasil estavam intimamente ligados.
Enquanto distrito, sua sede ficava em um lugar chamado Taquarussu, depois denominado
Trapiche. Esse lugar Trapiche ficava perto dos 500 Réis, um pequeno local junto ao rio onde
existiam umas pedrinhas chatas e redondas que pareciam com essa moeda. Nesse período
supõe-se que o centro administrativo, para resolver os assuntos da cidade seria em Cam-
pos, mas o dia-a-dia ocorria à beira do rio. A comunicação entre os dois lados do rio se fazia
através de barcas. Em 1920 o Coronel Antônio Salgueiro Júnior adquiriu uma propriedade
entre a estrada de ferro e o rio Muriaé e organizou um loteamento. Do outro lado do rio no
local denominado Cachoeiro, foi Vicente Maiolino que iniciou o desenvolvimento desse pe-
queno povoado. Para organizar o loteamento o Coronel Salgueiro trouxe um engenheiro do
Rio de Janeiro. Ainda se percebe hoje o traçado técnico e suas ruas largas e bem dimensio-
nadas.
Em 1943, passou de Vila a Distrito, contando em 1949, com 1.450 propriedades rurais. Pro-
duzia café, arroz e milho possuindo maquinário moderno na época para seu beneficiamento.
Até 1947, quando foi construída a ponte Dr. Salo Brand, a travessia era feita por barco. Sua
emancipação deu-se em 30 de Novembro de 1989.

Fontes:
http://www.ferias.tur.br/fotos/6886/cardoso-moreira-rj.html; acesso em 29/12/2009
http://www.cardosomoreira.com/index.php?option=com_content&view=frontpage&Itemid=1;
acesso em 29/12/2009

Conceição de Macabu
Há duas versões para o seu nome:
• Conceição deriva de Nossa Senhora da Conceição, cuja nomenclatura original era Nossa
Senhora da Conceição do Rio Macabu. Essa nomenclatura surgiu oficialmente em 6 de
outubro de 1855, quando Conceição de Macabu foi elevado a categoria de freguesia, com o
nome de freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Macabu.
46 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
• Macabu tem origem controversa, podendo ser a corruptela da palavra indígena
mak'a'bium, que designava uma palmeira de frutos doces, hoje conhecida como
macaubeira; ou, como é mais provável, devido a suas fontes documentais, ter sido um
apelido que os Sete Capitães deram ao rio Macabu, quando o encontraram em 7 de janeiro
de 1634.
Originalmente habitado por tribos indígenas nômades como sacurus, coroados e goitacás, o
município foi parte da Capitania de São Tomé até ser doado em sesmaria para os Sete
Capitães. Com o fracasso da sesmaria, a região foi dividida, cabendo as terras do município
aos padres jesuítas, que a partir da Freguesia de Nossa Senhora das Neves e Santa Rita.,
exploraram o interior catequizando e aldeando os índios sacurus, habitantes do vale do rio
Macabu, no vizinho vale do rio Macaé.
Mapa 17 – Região Norte Fluminense, Conceição de Macabu, Localização

Em 1759, os jesuítas são expulsos. Nos anos seguintes os desprotegidos indígenas


retornam ao vale do Macabu formando os primeiros povoados, que logo foram tomados pelo
cultivo do café. O início das grandes plantações traz grande quantidade de escravos
africanos. A região de Macabu composta por serras cobertas de florestas foi local de refúgio
de escravos fugitivos que formaram o Quilombo de Cruz Sena e Quilombo do Carucango, o
maior que existiu na região.
No século XIX, portos fluviais, a estrada Macaé-Cantagalo e o ramal ferroviário oriundo de
Conde de Araruama (Quissamã) tornam-se vias de acesso à região contribuindo para o seu
povoamento, crescimento econômico e evolução política: freguesia em 1855 e primeira
emancipação em 1891-1892.
Durante esta época de grande crescimento econômico, ocorreu o caso da Fera de Macabu,
uma história de crime erros judiciários a partir do qual se iniciou o fim da pena de morte no
Brasil.
Em 1907, surge em Conceição de Macabu a primeira colônia de japoneses do Brasil,
liderada por Saburo Kumabe, um ano antes da data oficial de início da imigração japonesa

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 47


com a chegada do navio Kasato Maru. Infelizmente a colônia fracassou depois de 5 anos
por diversos motivos.
A primeira metade do século XX foi marcado por grande progresso, marcado pela fundação
da Usina Victor Sence e da fazenda Modelo Venceslau Bello (Rego Barros). Este teve
reflexos políticos e Conceição de Macabu, quinto distrito de Macaé, uniu-se ao 10º distrito,
Macabuzinho, originando um novo município, Conceição de Macabu em 15 de março de
1952. O processo de emancipação foi por plebiscito popular, o primeiro do Brasil e o único
unânime até hoje.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Concei%C3%A7%C3%A3o_de_Macabu; acesso em 01 /12/2009
http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=Conceição+de+M
acabu&uf=RJacesso em 01 /12/2009

Macaé

Embora as descobertas de sambaquis na Praia de Imbetiba comprovem que esta região foi
povoada por tribos selvagens milhares de anos atrás, quando os primeiros colonos chega-
ram ao local encontraram duas tribos rivais: os tamoios e os goitacás.

As terras do atual Município faziam parte da Capitania de São Tomé, indo do Rio Itabapoa-
na ao Rio Macaé e foi batizada de Baía de Salvador.

Seu povoamento iniciou-se em 1580, quando Portugal se encontrava sob o domínio da


Espanha. Para evitar invasões de inimigos, criou-se uma aldeia de índios catequizados por
padres da Companhia de Jesus (Jesuítas).

Os primeiros registros dos Jesuítas em Macaé datam de 1634. No princípio foi fundada à
margem do rio Macaé e próxima ao Morro de Sant'Anna uma fazenda agrícola, que no cor-
rer dos anos ficou sendo conhecida como Fazenda de Macaé ou Fazenda do Sant'Anna. Na
base do morro, entre este e o rio, levantaram um engenho de açúcar com todas as depen-
dências e lavouras necessárias. Além do açúcar, produziam farinha de mandioca em quan-
tidade e extraíam madeira para construções navais e edificações. No alto do morro foi cons-
truído um colégio, ao lado uma capela e um pequeno cemitério, que guarda até hoje os res-
tos mortais de alguns Jesuítas. Em 1759 a fazenda foi incorporada aos bens da coroa pelo
desembargador João Cardoso de Menezes. Nesta ocasião os Jesuítas foram expulsos do
Brasil, imposição feita pelo Marquês de Pombal. Assim nasceu Macaé, mas com a expulsão
dos padres Jesuítas os piratas tornaram a invadi-la.

Em 1813, foi elevada a Município, e em 1846 a Vila de Macaé passou a condição de Cida-
de.

48 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Mapa 18 – Região Norte Fluminense, Macaé, Localização

Como as produções açucareira e cafeeira se expandiram muito e o Porto de São João da


Barra não estava mais dando conta do movimento, inicia-se então em 1872 a construção do
canal Campos-Macaé, com 109 km.
Em 1875, constrói-se a estrada de ferro Macaé-Campos. A via férrea trouxe novo impulso e
mais tarde como Estrada de Ferro Leopoldina.
A partir de 1974, com a descoberta de petróleo na Bacia de Campos, o Município que per-
manecia rural, começou a sofrer profundas mudanças em sua economia e cultura, receben-
do grande quantidade de pessoas de várias partes do país e do mundo, a fim de atender a
crescente demanda desta cidade por mão-de-obra especializada, até hoje ainda não suprida
totalmente, tornando altos os salários oferecidos na cidade.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Maca%C3%A9#Hist.C3.B3ria, acesso em 8.02.2010

Quissamã
O topônimo Quissamã foi dado à região pelos Sete Capitães, durante uma viagem de explo-
ração em 1632, quando encontraram um grupo de índios e entre eles um negro. Os capitães
estranharam a presença do negro “em lugares incautos e sem moradores”. Ao indagarem
quem era ele e como viera parar ali, respondeu-lhes que era forro e da Nação de Quissamã,
na África. O fato inusitado, pois à época era muito difícil encontrar negros em terras ainda
não exploradas pelos portugueses, acabou por denominar o município de Quissamã. Se-
gundo o Cônsul de Angola, que visitou a cidade, Quissamã é uma palavra de origem ango-
lana que significa “fruto da terra que está entre o rio e o mar” e dá nome uma cidade que fica
a 80 km de Luanda, na foz do Rio Kwanza.
Quissamã tem uma longa história que se mistura com a própria colonização do Brasil. Esta
riqueza cultural está presente até hoje no rico patrimônio preservado e na memória da popu-
lação que tem um grande orgulho do passado de luta e trabalho.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 49


Sete capitães, proprietários de engenhos no Rio de Janeiro, recebem do Governador Martim
de Sá, em 9 de agosto de 1627, a concessão da sesmaria que ia do Rio Macaé ao Rio Igua-
çu, pertencente à Capitania de São Tomé, em troca dos serviços prestados à Coroa nas
lutas para expulsão dos franceses do litoral do Rio de Janeiro. A ocupação, segundo o livro
“Roteiro dos Sete Capitães”, se deu em 1633, com a instalação de currais para a criação de
gado na Freguesia do Furado, localidade hoje chamada de Barra do Furado.
Demoraria mais de um século para que a ocupação se tornasse efetiva, com a exploração
em larga escala da lavoura canavieira e a construção dos primeiros engenhos de açúcar.
O Brigadeiro José Caetano de Barcellos Coutinho foi o fundador da Vila, em 1749.
Mapa 19 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Localização

Trinta anos após foi erguida, em Quissamã, a casa de Mato de Pipa. Conservada até hoje,
tem valor histórico por ser o único exemplo das moradas dos primeiros senhores de enge-
nhos nos Campos dos Goitacazes.
Seu proprietário, Manoel Carneiro da Silva, a construiu em terras herdadas do seu pai, que
se encontravam encravadas no Morgado de Capivari, pertencente ao Brigadeiro.
Com a instalação definitiva do Capitão Manoel Carneiro da Silva em Mato de Pipa, iniciou-
se, a seu redor, a expansão da Vila de Quissamã. Desde o início da instalação dos primei-
ros colonizadores, o controle administrativo de Quissamã era exercido pelas autoridades da
Vila de São Salvador dos Campos dos Goytacazes, até que, em 1802, a Freguesia de Quis-
samã se tornou Cabeça de comarca, ficando subordinada a esta, a Freguesia de N.S. das
Neves. Esta situação perdurou até 1812, quando a Cabeça de comarca foi transferida para
a Freguesia de Macaé. Data daí a transferência da subordinação administrativa de Quissa-
mã, de Campos para Macaé.
No século XIX, havia sete engenhos de açúcar em Quissamã e com eles surgem os solares
dos viscondes e barões do açúcar. Este século foi o auge da economia local, com a cons-
trução do Canal Campos-Macaé – uma das obras de engenharia mais importantes do Impé-
rio e segundo maior canal do mundo – e de solares luxuosos como a Machadinha e a Man-

50 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


diqüera. Nesta época também era comum a presença de visitantes ilustres como o Impera-
dor Pedro II, Duque de Caxias e Eusébio de Queirós, deixando Quissamã com um ar de
corte.
Até o começo do século XX, Quissamã conheceu um espetacular desenvolvimento. Mas, a
partir da crise de 1929, vários fazendeiros se descapitalizaram e tiveram que vender as suas
terras em favor do Engenho Central de Quissamã, que monopolizou a economia local. A
estagnação durou até a década de 70, com a criação do programa Proálcool e com a des-
coberta do petróleo na Bacia de Campos.
Prevendo um crescimento econômico sem depender exclusivamente do engenho, a popula-
ção se organizou para a emancipação e, em 12 de junho de 1988, decidiu se separar do
município de Macaé, o que aconteceu por meio de um plebiscito.
Em 4 de janeiro de 1989, foi criado então, o município de Quissamã.
Fonte: www.quissama.rj.gov.br

São Fidelis
As primeiras notícias sobre o início da colonização do atual município de São Fidélis datam
da segunda metade do século XVIII. Habitadas por tribos de índios Coroados e Puris, suas
terras começaram a ser desbravadas em 1780. Com a instalação da primeira aldeia, foi
construída uma capela dedicada a São Fidélis de Sigmaringa, posteriormente substituída
pela construção de uma igreja, inaugurada em 1809, a atual matriz de São Fidélis.
A economia da região baseava-se na exploração de madeira e na agricultura. Em 1812, foi
estabelecido o curado do núcleo urbano, que passou a freguesia em abril de 1850. A efetiva
instalação da vila, ocorrida em março de 1855, deu novo impulso ao desenvolvimento da
localidade que recebeu foro de cidade em 3 de dezembro de 1870.
Mapa 20 – Região Norte Fluminense, São Fidelis, Localização

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 51


A cidade recebeu o nome em homenagem a São Fidelis (festa em 24 de abril) cujo nome de
batismo era Marcos Roy. Nasceu em Sigmaringen, na Alemanha, no ano de 1577. Estudou
na Universidade de Friburgo, na Suíça, formando-se em Direito, tendo exercido seu ofício
em Colmar, na Alsácia, por vários anos. Era chamado de "o advogado dos pobres" porque
prestava seus serviços gratuitamente a quem não pudesse pagar. Ingressou no convento
dos Capuchinhos de Friburgo e no ano 1612, tornou-se frade. Foi acusado de espionagem a
serviço do imperador austríaco, os calvinistas tramaram a sua morte, ocorrida em Grusch.
Em sua honra foi erguida, pelos frades capuchinhos italianos Angelo Maria de Lucca e
Vitorio de Cambiasca, a Igreja Matriz, uma das mais belas e significativas edificações do
período colonial brasileiro. Tem a forma de uma cruz e uma quase impossível enorme
cúpula oitavada. A sua construção durou dez anos (1796-1806). Sua última reforma data
das décadas de 1950/60 - quando o edifício ameaçava ruir - sob a supervisão do então
pároco Monsenhor Ovídio Simon e do engenheiro Ruy Seixas.
Fontes:
http://www.governo.rj.gov.br/municipal.asp?M=20; acesso em 30/12/2009
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Fid%C3%A9lis; acesso em 30/12/2009
http://www.brasilchannel.com.br/municipios/mostrar_municipio.asp?nome=SãoFidélis&uf=RJ
&tipo=dados+gerais; acesso em 30/12/2009

São Francisco de Itabapoana


O topônimo registra a homenagem ao padroeiro da cidade São Francisco de Paula.
O território dos municípios de São Francisco de Itabapoana, quando da divisão do Brasil
em capitanias hereditárias, passou a integrar a Capitania de São Tomé ou Paraíba do Sul,
concedida em 1536 a Pero Góis da Silveira. Esse donatário se estabeleceu na área em
1539, escolhendo para implantação do núcleo original o lugar que considerou de solo fértil
e abrigado do tempo e dos índios goytacazes, que dominavam a região.
Mapa 21 – Região Norte Fluminense, São Francisco de Itabapoana, Localização

Houve um entendimento com os indígenas, possibilitando a primeira plantação de cana-de-


açúcar, próxima ao Rio Itabapoana. Após se desentender com os locais, retornou a Portu-
52 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
gal, ficando em seu lugar alguns portugueses, até que outra expedição comandada pelo
seu filho, Gil de Góis. O plantio de cana cresceu, mas devido a desavenças com as tribos
dos coroados ao norte e goytacazes ao sul, o cultivo foi abandonado.
No ano de 1995, São Francisco de Itabapoana ganha sua autonomia, face à edição
da Lei n.º 2379, de 18 de janeiro, desmembrado de São João da Barra, sendo instalado em
1º de janeiro de 1997.
Fonte:
http://www.pmsfi.rj.gov.br/index.php; acesso em 30/01/2009

São João da Barra


Seu nome presta uma homenagem ao santo padroeiro e faz referência ao acidente geográ-
fico que ocorre no local: a foz do Rio Paraíba do Sul.
Foi a partir de 1630, com a chegada de um grupo de pescadores de Cabo Frio, que se ini-
ciou efetivamente a povoação do Norte Fluminense. Com a morte da mulher do pescador
Lourenço do Espírito Santo, este se retira do pontal da barra – onde hoje se localiza Atafona
– indo fixar residência mais para o interior num pequeno elevado de areia junto ao rio Paraí-
ba do Sul. Após construir sua pequena cabana de palha Lourenço logo foi seguido por ou-
tros pescadores, dando eles início a construção de uma pequena ermida em louvor a São
João Batista.
Mapa 22 – Região Norte Fluminense, São João da Barra Localização

Durante muitos anos o pequeno povoado pouco se modificou, sendo que já em 1644 era a
capela de São João confirmada pelo prelado D. Antônio de Maris Loureiro, época em que se
delineavam os contornos do pequeno arraial contando com algumas casas, todas de palha,
situação que vai perdurar até a elevação do povoado a categoria de Vila em 1676, segundo
o historiador Fernando José Martins. Ainda segundo Martins, a população da recém criada
Vila era de aproximadamente 30 pessoas.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 53
Dedicando-se à pesca, a algum transporte de mercadorias, criação de gado vacum e cava-
lar e ao início da cultura de cana, foi que viveu durante o século XVII a gente dessa terra.
Por essa época, foram abertas a Rua da Boa Vista, a única que existiu durante muitos anos
e a Rua Direita, inicialmente chamada, de Rua do Caminho Grande e que servia para os
moradores da barra para virem às missas e negócios na vila.
Com o alvorecer do século XVIII, tomou importância o transporte fluvial entre a vila de Cam-
pos e vizinhança com o porto da Bahia, para onde seguia toda a produção açucareira, via
São João da Barra. Isto fez crescer a entrada e saída de embarcações no porto, dando iní-
cio a um pequeno desenvolvimento urbanístico na Vila, que passa a contar com um maior
contingente populacional.
Neste período, é intensa a vinda de portugueses, o que resulta em um maior número de
casas. Ocorre a abertura de novas ruas, como a Rua do Rosário aberta em 1774, a dos
Passos, em 1778, com o nome de Rua São Benedito, a do Sacramento em 1792 e a da
Banca, que formava a parte de frente da Vila em relação à barra. São dessa época as me-
lhorias na Igreja Matriz e na Casa da Câmara e Cadeia Pública que foram reformadas, sen-
do construídas de pedra e cal com suas respectivas cobertura de telhas confeccionadas na
única olaria existente.
Com o crescimento da vila, surgem novas devoções religiosas e dessa forma o século XVIII
vê nascerem às irmandades do Santíssimo Sacramento e Senhor dos Passos, anterior a
1730, época em que se inicia a construção de sua capela anexa à igreja matriz, e a de Nos-
sa Senhora do Rosário em 12 de outubro de 1727, também logo erguendo junto à matriz
uma capela para a mãe de Deus. Tem início da devoção de São Benedito, que teve sua
irmandade criada e posteriormente, em 1816, iniciadas as obras de sua igreja.
Era, por essa época, muito pobre a vila de São João Batista da Barra, fato que se pode veri-
ficar em documentos transcritos por Fernando J. Martins, e em 1750, o Senado da Câmara
determina, através de Decreto, que sejam providenciadas alfaias decentes para a acomoda-
ção das autoridades que visitassem a vila por ocasião das correições. Também em
08/12/1751 outro decreto determina que não mais se construam, no perímetro urbano, ca-
sas cobertas de palha.
Contudo, era ainda uma Vila muito pobre, conclusão tirada pela descrição do Capitão Ma-
noel Martins do Couto Reys que, em 1785, assim a descreve: “É muito pobre e pouco popu-
losa: está situada tão bem em uma planície sobre áreas na margem do Paraíba. Distante de
sua barra, pouco mais de “meia légua”, contém dentro de si, 111 fogos unicamente tem dos
que se manifestam nos seus lugares exteriores.” É ainda Couto Reys quem nos informa
que, neste mesmo período, havia trinta e uma casas cobertas de palha e 80 de telha, das
quais cinco são ocupadas com pequenas lojas e duas com tabernas. Dessa forma, prosse-
gue o viver da Vila que conhecerá progresso e notoriedade com início do século XIX.
O alvorecer do século XIX trouxe para o Brasil a Família Real e com ela todo um “entoura-
ge” palaciano que, uma vez acomodada no Rio de Janeiro, necessitava de gêneros diver-
sos. São João da Barra, que já vinha se dedicando a esse comércio na região com aquela
cidade, passou a suprir as necessidades da recém instalada Côrte.
Se o comércio se intensificou, melhoraram as condições financeiras dos habitantes que, por
conseguinte, também melhoraram seus costumes e hábitos.
Aos poucos a vila foi conquistando melhorias; novas irmandades foram criadas, como a de
São Benedito, São Miguel e Almas e a Ordem Terceira de Nossa Senhora da Conceição e
Boa Morte e São Pedro, além das devoções de Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora
da Penha. Na Barra, foram abertas escolas públicas e particulares, prédios vistosos e ele-
gantes construídos, os Jovens das principais famílias mandados para Universidades, socie-
dades musicais e dramáticas inauguradas.

54 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Visitando a Vila, em 1847, o Imperador D. Pedro II não teve dúvidas quanto ao seu progres-
so o que lhe conferia o direito da vila de ser elevada a cidade, o que fez através de Decreto,
datado de 17 de Junho de 1850.
“Econômica e socialmente, São João da Barra alcançou seu apogeu neste período, o que
atesta a descrição do Almanaque Laemmeth. (...) A cidade edificada à margem direita do
Rio Paraíba (...) tem 804 casas entre as quais 46 sobrados de um ou dois andares; destas
casas são habitadas 758, dividindo-se em 19 ruas, 39 becos e travessas e seis praças. Tem
4.790 habitantes, dos quais 2.623 do sexo masculino e 2.167 do sexo feminino. As ruas e
praças são apenas calçadas nos passeios junto às casas, mas o terreno é todo arenoso e
enxuto (...)”.
Foi neste século que inauguraram, com o auxilio do imperador, a Santa Casa de Misericór-
dia; a Usina Barcelos, propriedade do barão de mesmo nome; duas Companhias de Nave-
gação; uma Companhia Agrícola; uma Companhia de Cabotagem; a Companhia da Valla
Navegável do Sertão de Cacimbas; a Sociedade Beneficente dos Artistas, que construiu em
1902 o Teatro São João; a Sociedade Marítima Beneficente; a Sociedade Musical e Carna-
valesca Lira de Ouro e a Banda Musical União dos Operários, sucessora da extinta Lira de
Ferro, fundada anteriormente e a loja Maçônica Capitular Fidelidade e Virtude, datada de 24
de março de 1839.
O progresso que alcançou a cidade por essa época, fez nela se instalar os vice-consulados
de Portugal, Espanha, Baviera e Países Baixos, que cuidavam dos interesses desses países
em seu comércio com São João da Barra.
As Escolas aumentaram em número e qualidade, hotéis foram abertos, bilhares, padarias,
alfaiatarias, barbearias, ferrarias, funilarias, tornearias passaram a funcionar movimentando
o comércio da cidade que chegou a contar com tipografias, relojoeiros, poleiros, açougues;
sessenta lojas de tecidos, mais de cinquenta de secos e molhados, seleiros, agência de
aluguel de carros, agências de serviços fúnebres, despachantes de embarcações, boticá-
rios, sapatarias, estaleiros de construção navais, fogueterias, marcenarias, olarias, fábricas
de charutos, cigarros e licores, lojas de matames e tintas, fotógrafos e retratistas, bilhares,
oficinas de calafetes e trapiches.
A navegação de cabotagem, os navios a velas e a vapor movimentavam o Porto Sanjoa-
nense que se desenvolvia paralelamente ao crescimento da cidade. Esta começou a rece-
ber portugueses de diversos pontos de além mar. Foi assim, que aqui chegaram os Nunes
Teixeiras, os Ribeiros de Seixas, Os Lobato, Cintra, Melo, Lisboa, Pinto da Costa, os Morei-
ra, os Carrazedo, Souza e Neves, Tinoco, Gomes Crespo, Souza Valle, Costa Araújo, Mat-
tos Alecrim, Pavão, Maia da Penha, Motta Ferraz, Macedo, Ferreira de Azevedo, Costa Co-
bra, Rebola, Lopes, ou seja, os principais troncos das famílias que ainda hoje povoam a
cidade.
Dessa forma o progresso se instalou durante o século XIX, dando-lhe prestígio e notorieda-
de. Mas, ao iniciar o século XX, mais precisamente em 1918, após a venda da Companhia
de Navegação, e com a abertura da navegação de cabotagem a navios estrangeiros, fez
todo esse progresso desmantelar-se qual castelo de areia. Do progresso, São João da Barra
conheceu a ruína que só não foi total pelo surgimento da Indústria de Bebidas Joaquim
Thomaz de Aquino Filho, sustentáculo da economia sanjoanense por todo este século. Com
o advento do petróleo, e da logística (Açu), a possibilidade do desenvolvimento retorna ao
município de São João da Barra, cento e cinquenta anos após a sua instalação.

Fontes:
http://www.sjb.rj.gov.br/cidade.asp; acesso em 02/01/2010
http://www.governo.rj.gov.br/municipal.asp?M=21; acesso em 02/01/2010

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 55


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Etnografia
Capítulo 2
Autora:
Elisiana Alves

Colaboradora:
Simara Celestino

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 65
2 DA FORMAÇÃO DA ETNIA ................................................................................... 67
2.1 Raízes.................................................................................................................... 67
2.2 Tipificações da Etnia Norte Fluminense ................................................................. 68
2.2.1 Muxuangos ............................................................................................................ 68
2.2.2 Mocorongos ........................................................................................................... 69
3. DOS EXTRATOS SOBRE A LINGUAGEM ............................................................ 70
3.1 Aspectos Lingüísticos da Baixada Campista .......................................................... 70
4. MANIFESTAÇÕES CULTURAIS ........................................................................... 71
4.1 Aspectos Existenciais da Cultura Negra no Norte Fluminense ............................... 72
4.2 O Fado................................................................................................................... 73
4.2.1 Origens .................................................................................................................. 74
4.2.2 Formato das Danças.............................................................................................. 74
4.2.3 Preservação e Sobrevivência................................................................................. 75
4.4 O Jongo ................................................................................................................. 76
4.4.1 A Territorialidade e o Jongo ................................................................................... 78
4.4.2 O Jongo nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense.............................................. 81
4.4.3 O Jongo na Atualidade........................................................................................... 81
4.4.4 Nuances da nomenclatura ..................................................................................... 84
4.5 O Boi Malhadinho................................................................................................... 87
4.6 A Folia de Reis....................................................................................................... 88
4.7 A Cavalhada .......................................................................................................... 94
4.8 Boi Pintadinho / Boi Samba.................................................................................... 95
4.9 Mineiro – pau ......................................................................................................... 96
5. SABERES E FAZERES ......................................................................................... 97
5.1 Ferreiros e Seleiros................................................................................................ 97
5.2 Medicina Popular ................................................................................................... 99
5.3 Da Gastronomia ................................................................................................... 100
6. DAS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS................................................................ 104
6.1 A participação da Igreja Católica no Processo de Ocupação Territorial ............... 104
6.2 As Aparições em Natividade ................................................................................ 107
6.3 As Rezadeiras...................................................................................................... 108
7. CULTURA ............................................................................................................ 111
7.1 Políticas Federais de Cultura ............................................................................... 112
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
7.2 Política Estadual de Cultura ................................................................................. 113
7.3 Políticas Municipais de Cultura ............................................................................ 114
7.3.1 Apreciação de Aspectos Estruturantes da Cultura nas Regiões.......................... 114
7.4 Corredor Memória de Campos ............................................................................. 118
8. ARTESANATO..................................................................................................... 119
8.1 Etimologia ........................................................................................................... 119
8.2 Conceito............................................................................................................... 119
8.3 Histórico do Artesanato ........................................................................................ 119
8.4 Os Números do Artesanato no Brasil ................................................................... 120
8.5 Políticas Públicas para o Artesanato .................................................................... 121
8.6 Caminhos do Açúcar............................................................................................ 124
8.6.1 O Circuito do Açúcar na “Fashion Rio” ................................................................. 132
8.7 O Artesanato no Norte e Noroeste Fluminense.................................................... 136
8.7.1 Matérias - primas ................................................................................................. 138
8.8 A Cerâmica .......................................................................................................... 141
8.9 O Artesanato na Expo MercoNoroeste................................................................ 147
9. PATRIMÔNIO CULTURAL................................................................................... 148
9.1 Conselho Estadual de Tombamento .................................................................... 149
9.2 Patrimônio Arquitetônico ...................................................................................... 149
9.3 Patrimônio Arquitetônico Religioso....................................................................... 152
10. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA CULTURA, IDC ....................................... 153
11. DA CULTURA DO CRESCIMENTO..................................................................... 156
12. LAZER - CONSIDERAÇÕES ............................................................................... 159
13. REFERÊNCIAS.................................................................................................... 171

ANEXOS ................................................................................................ 173


ANEXO I - RELAÇÃO DE BENS CULTURAIS TOMBADOS PELO
INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL -
INEPAC .................................................................................. 174
ANEXO II - INVENTÁRIO DAS FAZENDAS DO VALE DO PARAÍBA
FLUMINENSE ........................................................................ 184

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


LISTAS

FIGURAS
Figura 1 – Partituras de Composições do Jongo.................................................................. 85

FOTOS

Foto 1 - Região Norte Fluminense, O Goytacaz................................................................... 67


Foto 2 – Região Norte Fluminense, O Fado em Quissamã.................................................. 73
Foto 3 – Região Norte Fluminense, A Mana Chica em Campos dos Goytacazes ................ 76
Foto 4 – Região Norte Fluminense, O Jongo ....................................................................... 77
Foto 5 – Região Norte Fluminense, O Jongo em Quissamã ................................................ 78
Fotos 6 e 7 – Região Norte Fluminense, A Roda do Jongo.................................................. 80
Foto 8 – Região Noroeste Fluminense, Caxambu em Santo Antônio de Pádua................... 82
Foto 9 - Região Noroeste Fluminense, Santo Antonio de Pádua, Criança Jongueira........... 82
Foto 10 – 12º Encontro de Jongueiros em Piquete - SP, abril de 2008 ................................ 83
Foto 11 – Região Noroeste Fluminense, Jongo de Santo Antônio de Pádua, 1976. ............ 84
Foto 12 – Região Norte Fluminense, O Boi Malhadinho em Quissamã................................ 88
Foto 13 – Região Norte Fluminense, O reisado de São Fidélis............................................ 89
Foto 14 - Região Noroeste Fluminense, Encontro de Folias de Reis em Miracema -
Janeiro/2008........................................................................................................................ 90
Foto 15 - Região Noroeste Fluminense, I Encontro Regional de Folias de Reis em Italva ... 90
Fotos 16 e 17 – Região Noroeste Fluminense, Folia "Estrela do Oriente" em Miracema ..... 91
Fotos 18 e 19 – Região Noroeste Fluminense, Folia de Reis em São Fidelis ...................... 92
Fotos 20 e 21 – Região Noroeste Fluminense, Folia de Reis em Porciúncula ..................... 93
Fotos 22 e 23 -Região Norte Fluminense, Cavalhada em Santo Amaro, Campos dos
Goytacazes.......................................................................................................................... 95
Foto 24 – Região Norte Fluminense, Boi Pintadinho em Campos dos Goytacazes ............. 96
Foto 25 – Região Norte Fluminense, Sr. Edílson Trabalhando na Forja - Ferraria em Campos
dos Goytacazes ................................................................................................................... 98
Foto 26 – Região Norte Fluminense, Vista Interior da Oficina – Selaria do Sr. Álvaro (filho)
em Campos dos Goytacazes ............................................................................................... 99
Fotos 27, 28, 29 e 30 – Região Norte Fluminense, Culinária da Fazenda Machadinha em
Quissamã .......................................................................................................................... 101
Fotos 31, 32, 33 e 34 – Região Norte Fluminense, Projeto Raizes em Quissamã ............. 102
Fotos 35 e 36 – Região Norte Fluminense, Goiabada Cascão de Campos........................ 102

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Fotos 37 e 38 – Região Noroeste Fluminense, Produtos da Culinária de Porciúncula ....... 104
Foto 39 – Padre Jesuíta do Inicio da Colonização ............................................................. 104
Foto 40 - Região Norte Fluminense Mosteiro de São Bento em Campos, 2003................. 105
Foto 41 - Região Norte Fluminense Casa e Capela do Colégio Jesuíta em Campos, 1994105
Foto 42 - Região Noroeste Fluminense, Casa de Maria em Éfeso na Turquia ................... 108
Foto 43 - Região Noroeste Fluminense, Réplica construída em Natividade....................... 108
Fotos 44 e 45 - Região Noroeste Fluminense, Visões Parciais do Sítio dos Milagres ........ 108
Fotos 46, 47, 48, 49 e 50 – Produtos Feitos por Artesãos do “Caminhos do Açúcar” para o
“Fashion Rio”, 2004 ........................................................................................................... 136
Fotos 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58 e 59 – Regiões Norte e Noroeste, Mosaico da Produção
Artesanal das Regiões....................................................................................................... 137
Fotos 60, 61, 62 e 63 – Região Norte Fluminense, Oficinas do Projeto “Caminhos de Barro”
.......................................................................................................................................... 143
Fotos 64, 65, 66, 67, 68 e 69 – Região Norte Fluminense, Produtos do Projeto “Caminhos de
Barro”. ............................................................................................................................... 146
Fotos 70 e 71 – Região Noroeste Fluminense, Expo Noroeste, 2009 ................................ 147
Fotos 72 e 73 – Região Noroeste Fluminense, Produtos Artesanais na XI MercoNoroeste,
2009 .................................................................................................................................. 147
Fotos 74 e 75 – Região Noroeste Fluminense, Museu Casa Quissamã ............................ 151
Fotos 76 e 77 – Região Noroeste Fluminense, Casa Mato Pipa em Quissamã ................. 151
Fotos 78 e 79 – Região Noroeste Fluminense, Senzalas da Fazenda Machadinha em
Quissamã .......................................................................................................................... 152
Foto 80 – Campos dos Goytacazes, Capela Nossa Senhora do Rosário (Donana)........... 152
Foto 81 – Quissamã, Igreja Nossa Senhora do Desterro ................................................... 153
Fotos 82 e 83 – Região Noroeste Fluminense, Parapente, São José de Ubá.................... 159
Foto 84 – Região Noroeste Fluminense, Caminhada em Miracema .................................. 160
Foto 85 – Região Noroeste Fluminense, Montanhas do Noroeste Fluminense .................. 160
Fotos 86 e 87 – Região Norte Fluminense, Excursão de Lazer, Canal Campos-Macaé .... 160
Fotos 88 e 89 – Região Norte Fluminense, A Lagoa Feia.................................................. 161

GRÁFICOS
Gráfico 1 - Percentual de Municípios com Atividade Artesanal por Tipo, Brasil, 2006........ 121

MAPAS
Mapa 1 - Região Sudeste, Distribuição do Caxambu, Jongo e Tambor identificados pelo
IPHAN entre 2002 e 2006.................................................................................................... 79
Mapa 2 – Rio de Janeiro, Distribuição Espacial dos Municípios com Ocorrência do............ 80
Mapa 3 – Região Norte Fluminense, Mapa Índice Caminhos do Açúcar Inventário 2004 . 125
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Mapa 4 – Região Norte Fluminense, Mapa Índice Caminhos do Açúcar II - Inventário 2004
.......................................................................................................................................... 126
Mapa 5 – Região Norte Fluminense, Carta Imagem com as Localidades e Área Fonte de
Argilas ............................................................................................................................... 142
Mapa 6 – Região Norte Fluminense, Localização das Oficinas Caminhos de Barro .......... 144

QUADROS
Quadro 1 - Quadro Sinóptico dos Bens Inventariados Caminhos do Açúcar – Março/ 2004
.......................................................................................................................................... 127

TABELAS
Tabela 1 - Região Noroeste Fluminense, Relação de Padroeiros dos Municípios ............. 106
Tabela 2 - Região Norte Fluminense, Relação de Padroeiros dos Municípios ................... 107
Tabela 3 - Região Noroeste Fluminense, Relação de Pontos de Cultura, 2009 ................. 112
Tabela 4 - Região Noroeste Fluminense, Relação de Pontos de Cultura, 2009 ................. 113
Tabela 5 – Região Noroeste Fluminense, Extrato do Índice de Desenvolvimento Cultural –
IDC .................................................................................................................................... 116
Tabela 6 – Região Norte Fluminense, Extrato do Índice de Desenvolvimento Cultural – IDC
.......................................................................................................................................... 117
Tabela 7 - Rio de Janeiro, O Artesanato nos Caminhos do Açúcar.................................... 132
Tabela 8 - Síntese da Participação do Caminhos do Açúcar no “Fashion Rio”, 2004......... 135
Tabela 9 – Região Noroeste Fluminense, Índice de Desenvolvimento Cultural (IDC) ........ 155
Tabela 10 – Região Norte Fluminense, Índice de Desenvolvimento Cultural (IDC)............ 156
Tabela 11 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais, Janeiro................ 162
Tabela 12 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Fevereiro ........... 162
Tabela 13 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Março ................ 163
Tabela 14 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Abril ................... 163
Tabela 15 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Maio.................. 164
Tabela 16 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Junho................. 164
Tabela 17 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Julho.................. 165
Tabela 18 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Agosto ............... 166
Tabela 19 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Setembro........... 167
Tabela 20 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Outubro ............ 168
Tabela 21 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Novembro ......... 169
Tabela 22 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Dezembro.......... 170

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Na minha percepção, os vinténs em centavos
transfiguram-se, numa antevisão mágica,
e os vultos ao redor desta comédia trágica
são fantasmas sem luz de senhores e escravos

Sinto o cheiro do engenho antigo e da senzala,


e escuto, em cada voz, a voz da senhorinha,
do velho parapeito a me fitar sozinha,
e o seu profundo olhar a me deixar sem fala

A noite vai passando! O relógio pregado


na parede, reverte o tempo que ele marca,
e eu visto o traje, em pó, de um velho patriarca,
sob a mão singular e forte do passado

Revejo o Paraíba intrépido, incontido,


cortando os manguezais em busca do oceano;
e deixo, em sonho ardente, o meu clamor humano
sorrir, sem ter o dom!...chorar, sem ser vagido!..

in Campos,Metáforas da Alma
Paulo Roberto de Aquino Ney
ACL

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


1. INTRODUÇÃO

As regiões Norte e Noroeste Fluminense que até 1975 eram conhecidas como Norte sim-
plesmente, ao longo de sua existência sempre se defrontaram, independente da sua situa-
ção socioeconômica própria, com a inter-relação com a cidade do Rio de Janeiro que con-
centrou durante séculos a posição de capital do país, em simultaneidade à sua condição de
capital do Estado. Nestas circunstâncias, estas regiões sempre enfrentaram as conseqüên-
cias do processo de concentração espacial, abrangendo tanto a concentração associada a
linhas funcionais, quanto a relacionada aos aspectos territoriais. Entendendo-se que con-
centração não decorre da questão econômica, mas, sim, do modo pelo qual o poder e os
processos de decisão que dele emanam se distribuem, o desenvolvimento regional ainda se
deparou com o conflito de uma cultura de uma aristocracia, emergente de uma economia
rural agrária, e uma cultura de elites urbanas burocráticas que, a partir do século XIX, assu-
mem a orientação industrial predominante. Para estas estruturas de poder, a centralização
se justifica pelas economias de escala que exigem decisões dos mais altos escalões de go-
vernança e que na base, se mostram capazes de internalizar para o sistema, as manifesta-
ções de externalidades individualizadas, pelos altos níveis de realimentação que tal proces-
so proporciona de modo que o resultado de cada decisão produz a existência de outra, e,
finalmente, porque historicamente o desenvolvimento periférico mostra uma tendência cultu-
ral de desenvolver regionalmente, sistemas administrativos que, em vários casos se organi-
zam e se comportam como altamente centralizados.

Nos dilemas e conflitos desta contextualização cultural, muitas das decisões que poderiam
ter sido alocadas nos níveis de lógica operacional ou descentralizadas de Governo, foram e
se mantem nos centros superiores, em decorrência da falta de estruturas institucionais e de
financiamento que as possam conduzir nos níveis local-regional. Esta condição, que se dis-
seminou universalmente, foi reforçada pelo aumento em vários casos, e no Norte Fluminen-
se com certeza, da complexidade dos sistemas pela evolução da economia como resultado
de ciclos naturais que levaram a rápidos processos de urbanizações, aumento acelerado
das demandas de logística e de recursos de capital e sistemas financeiros, mudança e subs-
tituição acentuada de atitudes e hábitos, de valores e de confiança, elevação do grau e in-
tensidades das relações sociais, multiplicação dos negócios e dos agentes produtivos e, por
conseguinte, ao aumento das funções de governança requerendo qualificações especializa-
das, entre outras, o conjunto provocou a sua assimilação pelas unidades de governo central.

Assim, no Brasil Colônia e na República presidencialista, assumiu-se que quanto maior uma
afluência regional, maior a tendência e indicação para ser gerenciada centralmente.

O maior grau de concentração e centralização de decisão, regra geral, acentua os desequi-


líbrios inter-regionais que constituem, por excelência, um problema natural da região. Este
desequilíbrio se explica muitas vezes pela existência de um recurso ou condição singular
e/ou irremovível, cultivo da cana de açúcar ou café, exploração de petróleo, por exemplo, o
que leva, frequentemente, a uma interpretação equivocada que atribui o desenvolvimento
estratégico à localização produtiva em si mesma, enquanto o que é realmente importante é
a equidade da distribuição territorial e pessoal da oferta das condições de acesso, oportuni-
dades e dos resultados da atividade econômica – renda, trabalho, serviços com qualidade
sociais e culturais, preservação ambiental.

A sucessão de ciclos econômicos por que passou o Norte Fluminense elevou o nível de
complexidade de seus sistemas, muito provavelmente menos do que poderiam ter alcança-
do, e promoveram a sua abertura gradual em que, agora o Norte, com o petróleo, exclusive
o Noroeste, se expandiu para condições que aumentam a possibilidade de sua inserção na
economia global, assim como aumenta a sua vulnerabilidade. Os problemas estruturais do
passado persistem na atualidade com maior intensidade e as desigualdades se acentuam,
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 65
os sistemas de decisão endógenos não incorporaram os conhecimentos que sustentam uma
cultura de desenvolvimento, regra geral, o que faz com que o sistema possua quase ne-
nhuma recursividade e baixa autonomia. Mais importante, o sistema subsiste com circulari-
dade intrínseca (“looping”), principalmente cultural, as iniciativas em que comparecem os
elementos regionais realimentam condições anteriores o que permite realizar mudanças
incrementais, de primeira ordem, alinhadas ao paradigma anterior secular, mas inibe ou ate-
nua a eficácia de mudanças estruturais, de fundamentos, de segunda ordem, em consonân-
cia com um novo paradigma de governança regional articulada. Concomitantemente, a vari-
edade das descapitalizações endógenas nas Regiões (incluindo os ativos humanos e os
intangíveis), acumula um grande passivo, sendo portadora de fortes consolidações, o que a
impede de se sustentar de per si um processo de desenvolvimento. É quase uma impossibi-
lidade para essas sociedades, transformações e desenvolvimento, em curto prazo.

No entanto, há pelo menos três condições que podem ser usadas para alavancar uma mu-
dança planejada, no ambiente do Norte e Noroeste Fluminenses: a presença de agentes
empresariais privados de porte, inclusive em atividades de serviços públicos e com a mobili-
zação de expressivas associações de classes; grandes projetos de crescimento de médio
prazo com empreendimentos que não podem ser interrompidos em função de sua contribui-
ção para o país, um conjunto dissipativo de forças centrípetas, incomparavelmente maiores
do que todos os que antecederam, pela sua visibilidade e natureza; e alguns nichos de no-
vos modos de pensar e agir e relacionar diferenciados com alguns resultados, de interesse
público, já obtidos de processos em implementação, os quais representam manifestações
consensuais regionais capazes de convergir para via de desenvolvimento, na redoma da
cultura regionalista. Assim como há possibilidades favoráveis a uma cultura de evolução, há
também probabilidades muito significativas do processo atual replicar a história – o que vem
fazendo – um risco efetivo a ser prevenido.

Na análise situacional foi tratado o que há de políticas públicas para a etnografia das Regi-
ões, a começar por um rápido retrospecto da etnia. Em seguida, serão apresentados os te-
mas da cultura da Região, em que se destaca uma leitura sobre a contribuição de alguns
dos intangíveis regionais que permeiam o país, bem como os programas de desenvolvimen-
to associados à economia da cultura – artesanato, cerâmica, gastronomia, entre outros-, o
papel do ciclo de açúcar que marcaram época no processo de desenvolvimento nacional, e
a religiosidade que desde a colonização está presente nas sociedades dessas regiões, que
passam a constituir opção para a modalidade respectiva de o turismo. Para uma avaliação
científica, foi desenvolvida e aplicada a metodologia do Índice de Desenvolvimento da Cultu-
ra aos municípios e Regiões, com as análises correspondentes que permitem mostrar, com
propriedade, quais as situações existentes em cada uma e na s duas Regiões. Finalmente,
as informações do trabalho realizado ensejam uma digressão sobra a cultura do desenvol-
vimento que se presta a explicar os processos que regeram e regem os ciclos de desenvol-
vimento regional do ponto de vista da visão e comportamento da etnografia do Norte e No-
roeste Fluminense, considerados como uma unidade.

Naturalmente que este estudo não tem a pretensão de esgotar os assuntos e as dimensões
que compõem a etnografia da Região Norte Fluminense, muito mais extensa e de grande
complexidade nos seus quase cinco séculos de existência após a descoberta, mas o seu
objeto contempla, por amostragem, algumas de suas parcelas mais importantes que contri-
buem e explicam o processo de sua situação atual, visando o desenvolvimento a ser proje-
tado.

66 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


2 DA FORMAÇÃO DA ETNIA

2.1 Raízes
De um território riquíssimo em matéria orgânica, carreada pelo Rio Paraíba do Sul, o mas-
sapé de suas férteis planícies aluvionares, dos tabuleiros com suas cangas e as elevações
da cordilheira originalmente cobertas por densas florestas tropicais, a Mata Atlântica, com
um sistema hídrico e com aqüíferos medicinais invejáveis, formadores das lagoas (de tabu-
leiro, aluvião e restinga) e dos brejos, o Norte Fluminense constituía o habitat natural dos
temidos “corredores dos campos”, os goitacás ou goytacazes, um dos grupos étnicos de
nativos reconhecidos por sua capacidade guerreira, por sua tez mais branca, altura desta-
cada com longos cabelos, indígenas que construíam povoações nos ambientes lacustres,
com suas habitações de um só esteio e caçavam tubarões para armar as suas longas lan-
ças mortais. Ocupando um território de mais de cem léguas ao longo da costa brasileira, os
goitacás constituem o maior contingente aldeado (a partir de 1700) pelos portugueses, que
deu origem e contribuiu para a formação do tipo étnico Fluminense. Outras etnias indígenas,
em menor quantidade, comparecem também na Região, entre eles, os dissimulados e trai-
çoeiros Puris, que habitaram as florestas do Muriaé, assim como os Coropós, assimilados
pelos Goytacazes (com o que surgiram os Coroados), entre outros.

Foto 1 - Região Norte Fluminense, O Goytacaz

Fonte: Projeto Inventário de Bens Culturais Imóveis. Desenvolvimento Territorial dos Caminhos
Singulares do Estado do Rio de Janeiro. INEPAC - Rio de Janeiro, 2006

Com o desenvolvimento dos ciclos da pecuária e da cana-de-açúcar, num primeiro movi-


mento após a descoberta, os portugueses até dominarem os indígenas, trouxeram os ne-
gros como força de trabalho adicional para as atividades de campo. Esta etnia cresce signi-
ficativamente, inclusive com as novas culturas do Noroeste, o café e os cereais – e.g. arroz
e milho – e tem lugar um processo de mesclagem de raças e superposição/fusão de cultu-
ras. O Estado do Rio de Janeiro, na abolição, detinha a maior população de escravos do
país.

Na planície, ao longo de séculos, o português predominou.

Nas montanhas, registra-se a vinda dos italianos (alguns espanhóis), inicialmente religiosos,
depois os grupos imigrantes do grande movimento, que constroem parcela expressiva da
identidade regional e, nos dias de hoje, mesmo após o declínio da agricultura, ainda perma-
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 67
nece disseminada, em minoria, com uma concentração dominante em Varre-Sai, que pre-
serva o café como elemento propulsor de sua economia.

Conquanto a etnia resultante tenha se produzido destes três grupos predominantes, outras
vieram nos tempos mais recentes, incluindo estrangeiros, por exemplo, sírio-libaneses, ou
brasileiros, os mineiros, neste caso, migrantes pela proximidade física e pelas oportunidades
associadas ao conhecimento da cultura do café.

É importante mencionar que, nos períodos de afluência máxima da Região, os senhores que
compunham a aristocracia/nobreza rural, a maioria deles portugueses ou seus descenden-
tes, procuraram manter a continuidade de sua linhagem.

2.2 Tipificações da Etnia Norte Fluminense


2.2.1 Muxuangos
“Este homem de andar cansado, com o passo arrastado pelas botas no chão, traço caracte-
rístico de quem marcha sobre a areia e anda com dificuldade através dos atoladiços, é visto
tanto de um lado como do outro do Rio Paraíba, sempre pela margem da costa Fluminense.
Indesejável ao convívio social, este homem branco enfrentou diversos combates contra os
navios corsários e contrabandistas franceses que tentavam a todo custo explorar a costa
Fluminense. O muxuango surgiu em nossa planície pelo caminho mais fácil, mas foi parar
num deserto que o reteve e o dispersou, dificultando assim a sua progressão, seduzido pelo
alimento farto, ele se deixa ficar na aridez e na monotonia do deserto das lagoas. Mesmo
sendo pertinente à restinga, é a monotonia que o deprime e o condena, ele então involui e
se transforma num retardatário envergonhado, e os seus resíduos étnicos começam então a
se degenerar e definhar pelo isolamento da civilização.

É no aspecto físico que se consegue descobrir as suas características, com a pele branca,
cabelos louros, de olhos azuis ou esverdeados, rosto largo, lábios finos, nariz reto, corpo
magro e estatura variável. É na palidez de seu rosto, que se vê as marcas das doenças que
o afligem, como a verminose, o paludismo e a anquilostomíase. Tudo isso por causa da apa-
tia e da escassez de vitaminas na alimentação, feita de paçoca, carne-seca e peixe-salgado.
A terra onde vive e trabalha é improdutiva, cercada de brejos, areia e vegetação magra, e-
maranhada e cheia de espinhos. Ele então se deixa vencer, cansado, e seu espírito se de-
sinteressa de tudo, desaparece então a ambição, apaga-se os seus ideais, morre a iniciativa
e finda a combatividade inicial, anterior a sua chegada a planície.
Este homem que antes de aparecer era civilizado, começa então a retornar a sua condição
de selvagem, pois a terra o subjugou, e a impassibilidade da topografia já agora reproduz
nele a impassibilidade humana. A facilidade em apossar-se de sítios, morre quando desco-
bre que o solo não vale nada, a terra é pobre e barata, além disso, a dificuldade de transpor-
te não o permite criar uma cultura alimentícia que lhe dê retorno financeiro, desse modo, o
muxuango vive igual ao índio, caçando e pescando nas lagoas, cultivando apenas mandio-
cas e abóboras, e fabricando farinha, além de primitivas cestarias e cerâmicas.
O muxuango exibe-se semanalmente na feira de Gargaú, onde então aproveita para fazer
compras, vender e trocar os seus produtos, como a farinha, principal produto da feira. Ele
aparece nesta feira com seu terno de riscado e camisa de algodão, chegam no trote duro
das “pulitanas”, ou na mesa dos carros de boi arrastados horas a fio pelos areais.
Alguns possuem posses, e é nas chaminés das suas engenhocas que eles mostram a soli-
dão de suas fazendolas. A casa do muxuango é bem parecida com a dos gaúchos dos pam-
pas, a maioria é baixa e escondida, em largos descampados arenosos. É nos amplos hori-
zontes que vemos pontilhadas aqui e ali, uma ou outra casa. Este aspecto de suas residên-
cias constitui o melhor exemplo da característica muxuanga como Lamego descreve na pá-
gina XV de sua obra “A Planície do Solar e da Senzala”: “Quase sempre acaçapada, nos
largos descampados arenosos, pontilha aqui e além os horizontes amplos. É um símbolo do
68 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
homem que a plantou. Branca e humilde, desabrigada na penúria da gleba estéril, afronta as
soalheiras, os vendavais e os aguaceiros com a indiferença fatalista da gente que agasalha
e que se extingue num acabamento de raça”.

2.2.2 Mocorongos
O mocorongo é definido como moreno, de olhos castanhos escuros ou amendoados, cabe-
los negros e corredios, o osso da maçã do rosto em relevo, a barbicha de piaçava gasta, e a
boca sempre extensa num sorriso duvidoso. Apesar de tantas diferenças ambos tem uma
coisa em comum, o gosto pelas danças. Bem diferente do muxuango, em todos os aspec-
tos, o mocorongo soube vencer as adversidades do caminho escolhido até chegar à planí-
cie, enfrentou matas e montanhas, acompanhando a expansão dos canaviais e dos enge-
nhos de café. Surgiram em dois momentos da história, um no correr do século XVIII e o ou-
tro um século depois. As dificuldades pelo caminho só lhe deram cada vez mais ânimo para
continuar lutando e vencendo os desafios da floresta para cultivar a agricultura. Sente-se
como um embrião que germina. O mocorongo vive nos aluviões e nas proximidades das
vertentes das montanhas. É, pois encontrado na região de Murundu e mais ao norte do Es-
tado do Rio de Janeiro, entrando até o sul do Espírito Santo. Curiosamente os trens rústicos
e mistos que circulam nesta região por serem lentos e velhos são popularmente apelidados
de mocorongos.

Fisicamente ele possui a pele terrosa, os olhos oblongos (alongados no comprimento), os


cabelos negros e corredios, o osso da maçã do rosto em relevo, a barbicha de piaçava gas-
ta, e a boca sempre extensa num sorriso duvidoso. O mocorongo é manso e trabalhador, é
tímido e paciente, atarracado e musculoso, tem o passo miúdo, o gesto mole e porte indo-
lente. Todas estas características são também típicas do “puri”, o direto descendente da
nação indígena que se extinguiu no fim do século XIX. Ao obter contato com a floresta, de-
senvolve energia suficiente para vencer as adversidades e obter lucros com o café, mas vive
também do milho, arroz, feijão, banana e a prática da caça. O que sobra da colheita vende
na outra estação, nas vendas ou na pilação afreguesada. Uma das grandes características
típicas deste homem é o saudar, que o torna reconhecível no primeiro momento, um aperto
de mão flácida, seguido de um toque mútuo no ombro direito e finalizando com um novo
aperto de mão. Diferentemente do muxuango, o negro e o cafuzo aparecem no meio dos
mocorongos e essa renovação de cor se dá com o desmoronamento das senzalas. O seu
modo de viver é variado, por causa das mudanças do cenário onde habita, é esquivo, e vive
escondido nos matos, quando é pobre muda de patrão, e casa como tatu de cova. Quando é
remediado compra logo o seu sítio e é nas encostas dos morros ou nas vertentes que faz a
sua moradia. A casa do mocorongo é levantada sobre esteios, lembrando as cabanas dos
índios goytacazes na beirada ou no meio das lagoas, mura-a de sopapo, cobre de telhas ou
de pequenas tábuas, faz o reboco, mas na maioria das vezes não pinta. Desse modo Lame-
go (op. cit.), pagina XV, exemplifica:

“Dependurada ao lado, sorridente de balaústres, debruça-se infalivelmente a varanda convi-


dativa, sobre um esboço de jardim minúsculo. As flores favoritas são explosivas de colorido:
o lilás vivíssimo da jurujuba, o beijo cor-de-rosa, a insolência gritante das cristas de galo e o
girassol cronométrico. Os lírios escarlates e amarelos põem uma nota espanholesca de ale-
gria no terreiro ressecado. O conjunto é perfumado pelo manjericão, pela losna, pela “catin-
ga de mim”, ou “catinga de mulata”. Esta última, de nomes ternamente brasileiros, quando o
ramo lembrativo sai das mãos de uma cabocla para a lapela do namorado”.

O mocorongo apesar de ter aparecido bem depois do muxuango, é na verdade um recém-


chegado, “um intruso na terra virgem da floresta”, onde se encontra à sua revelia. Não é
imigrante, mas fugitivo; não é conquistador, mas refugiado. A motivação que o faz exaltar e

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 69


o torna capaz de resistir à absorção do meio não lhe tira o jeito arredio de “chegadiço espan-
tado”, e com isso a sua casta inferior se enobrece.

Apesar de tantas diferenças, estes dois elementos possuem duas características bem pecu-
liares, o gosto pela dança e a timidez. E é nas festas que o vemos comumente dançando
“Marrecas”, “Mineiras”, “Quindins”, “Extravagâncias” e, sobretudo, a mais conhecida e irre-
sistível, revolucionante e regionalmente campista, a “Mana-Chica”.

Na timidez, enquanto o muxuango é um ser retardatário envergonhado, o mocorongo é um


chegadiço espantado. Enquanto o muxuango encalhou nos areais da costa, o meio monta-
nhoso e florestal reabilita aos poucos o mocorongo, cujo sangue bárbaro já calmo, sente a
contaminação e a revitalização, estimulado pelo café das montanhas.

3. DOS EXTRATOS SOBRE A LINGUAGEM

Uma das maneiras de compreender a história de um povo, ou de diversos povos está no


estudo de como sucedeu a transformação da linguagem.

“Toda a estruturação da sociedade humana é devida à linguagem”.

(Bloomfield, 1933)

3.1 Aspectos Lingüísticos da Baixada Campista

“Já pelejei muito, de pé no chão. De iguá, até trotei, de picuá pelo pescoço adentro, por muitas légua, feito burro,
com peitorá vestido puxando instrumento de aradinho nas limpeza da lavora!”.

O texto é do escritor (e médico) José dos Santos Silva, inserido no livro “Carreiras Di-Já-
hojinho”, Damadá, Itaperuna, 1989, no qual ele relata vários “causos” da Baixada Campista,
descrevendo com precisão o linguajar da população do interior. José dos Santos nasceu no
sub-distrito de Goytacazes, filho de uma família de dez irmãos e cresceu dentro dos costu-
mes e passou pelas mesmas necessidades de qualquer família obrigada a sobreviver do
trabalho nas lavouras da cana. O linguajar arrastado daqueles tempos não é mais o mesmo,
porque algumas expressões sumiram do cotidiano dos moradores, na medida em que a mí-
dia comunicacional começou a invadir as casas por meio da TV, rádio, revistas e diversos
outros meios, fazendo as pessoas se adequarem ao vocabulário falado nos centros urba-
nos. Restam apenas alguns indícios do sotaque e perdidas palavras.
O livro “Antropologia Cultural – A Ciência dos Costumes” (Felix M. Keesing, p.20), fala sobre
a relação do processo de distribuição da linguagem e sua dinâmica.

O homem que viveu a vida toda no campo, mesmo tendo freqüentado a escola tem um esti-
lo próprio de falar, ainda que a televisão tenha invadido sem barreiras há maioria dos lares,
algumas palavras ditas pelos ancestrais conseguiram sobreviver às novas tecnologias. O
escritor Felix faz essa diferenciação.

Com o título, “Crônicas & Causos”, Gil Wagner Quintanilha, p.113, descreve histórias sobre
a Baixada, focalizando a língua e os costumes da população. De acordo com ele o lugar
viveu anos criando o seu linguajar regional, algumas vezes enriquecendo o vocabulário com
palavras não “dicionarizadas”.

“São maneiras próprias do nosso falar, uma espécie de cacoete ou sestro a que nos agar-
ramos como exclusividade em nossa conversação. Conheço, por exemplo, o caso de certo
campista de Santo Amaro: andava ele numa calçada de Porto Alegre, quando ouviu dois
senhores que iam pouco adiante, tendo um, respondido ao outro assim: - Rapaz, aquilo é
70 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
um “lamparão” de teimoso. Aquele “tisgo” é muito “ico”. O santamarense não aguentou e
bateu no ombro do autor daquela saborosa frase: - Se mal lhe pergunto, o senhor é de
Campos”.

Algumas palavras com origem na Baixada correm também pelo centro de Campos, um e-
xemplo é a palavra cabrunco, pronunciada quando quer dizer que alguém é ruim. Lamego
(op. cit. p.98), conta a origem da palavra: a palavra é proveniente de uma doença que atinge
o gado bovino. O carbúnculo, essa doença contagiosa é transmitida ao homem através do
contato com o couro de algum animal infectado pela doença. Mas como o homem do cam-
po, ignorante no linguajar não compreende o nome da doença ele provavelmente ao trans-
mitir a informação para outro cidadão acabava pronunciando a palavra de forma incorreta, e
o carbúnculo, vira cabrúnculo, passando posteriormente à pronúncia que hoje conhecemos;
o cabrunco.

Na realidade, a questão da linguagem muxuanga, ainda existente na memória dos mais ve-
lhos, embora possa ser mais discutida pelo ponto de vista etimológico, está sendo destruída
pelo espírito do tempo, segundo definição que passa pela leitura de Heidegger e W. Benja-
mim. Isso quer dizer que os meios de comunicação e os avanços científicos e tecnológicos
vão mudando a característica vivencial do interior, fazendo com que a grandeza de sua cul-
tura seja substituída pela cultura de massa produzida pela televisão. O próprio Pierre Lévy
(“Tecnologia da Inteligência”, Ed. 34, São Paulo, 1999) assinala que “não existe mais o inte-
rior, porque é possível estabelecer, de qualquer lugar do planeta, as formas de comunicação
criadas pelas novas tecnologias”.

No caso do linguajar da Baixada Campista e de todo o Município, foi necessário buscar no


limiar dos tempos, e em livros de lingüística a compreensão e o entendimento de como isso
ocorreu. Vale lembrar que, ali, viviam os índios goitacazes que, ao perceberem a chegada
do homem branco, intruso, fez de tudo para manter a posse da terra, mas diante da técnica
do homem, o índio aos poucos recua, se entrega ao contato, e é subjugado pelo homem,
que dizima toda uma nação. Mas a terra vinga-se e destrói no homem o espírito aventureiro
e o subjuga. Derrotado, o homem já não tem mais forças para lutar, mantém a sua riqueza
cultural, mas aos poucos vai perdendo parte dela diante do ostracismo. E assim, passa en-
tão a se deixar levar diante dos novos tempos.

É através das novas gerações que a cultura vai declinando diante do novo. O contato com
outros povos, de outras origens, de outras culturas miscigena a lingüística, perde-se os valo-
res, agrega-se novos elementos. E a riqueza cultural de um povo, aos poucos some, a vida
cotidiana absorve o novo e o velho, mas no convívio diuturno a cultura antiga cede espaço.
Os novos valores, conceitos e padrões morais são bem diferentes. As linguagens escritas e
faladas se distanciam, e assim as palavras e expressões que, outrora eram a riqueza de um
povo, desaparecem por completo.

Hoje, apesar de tanto tempo, ainda descobrimos pequenos fragmentos nítidos de uma cultu-
ra existente, de um modo de vida, de um padrão, de maneiras e formas de linguagem falada
e através do livro “Antropologia Cultural – a ciência dos costumes”, passamos a compreen-
der um pouco sobre a história do linguajar da Baixada.

4. MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

O Estado do Rio de Janeiro é muito rico em expressões da cultura popular tradicional, muito
embora esse universo ainda permaneça desconhecido para a maioria dos Fluminenses. As
danças e folguedos, vinculados aos ciclos de Natal e Reis, ao Carnaval e ao ciclo Junino,
manifestam-se também nas festas de padroeiros, em comemorações diversas (aniversários,

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 71


casamentos, batizados) ou em dias comuns, cuja motivação transita entre a vontade de brin-
car e a dançar.

As Regiões Norte e Noroeste são grandes cartões postais desse patrimônio cultural do qual
o Estado do Rio de Janeiro é portador.

4.1 Aspectos Existenciais da Cultura Negra no Norte Fluminense1

Nossa história política e cultural transformou diferenças em desigualdades que são percebidas nos
processos de aprendizagem que criam preconceitos e hierarquizam sujeitos e culturas, valorizando
os princípios fundadores de umas em detrimento de outras.

( Sérgio Luiz P.Silva, 2007)

Sempre situado num panorama adverso, o negro brasileiro guardou um traço fundamental
das culturas africanas, o que lhe garantiu a possibilidade de reconstruir novos laços identitá-
rios e de solidariedade: a relação coletiva com a terra.

As comunidades afrodescendentes do Norte Fluminense são ricas em elementos estéticos e


têm valorizado o reconhecimento de seu campo simbólico com a afirmação de suas perten-
ças identitárias, por meio de suas práticas folclóricas e culturais e seus resgates históricos.
A busca pelo mapeamento desses elementos estéticos, através de registros videográficos e
fotográficos, tem sido uma prática constante, inclusive uma prática das próprias comunida-
des. Ou seja, vê-se que tais grupos, a partir de seus festejos e atividades culturais, religio-
sas etc., têm registrado esses momentos como um modo de criação de suas memórias vi-
suais. As comunidades têm se pronunciado visualmente e todo material produzido serve
como documentação visual dos valores culturais, costumes, retratos, enfim, registros que
funcionam como material etnográfico e sociocultural para análise das identidades das co-
munidades e grupos culturais. Essas pequenas populações realizam uma representação de
si através das imagens e isso se transforma numa prática mantenedora de auto-
reconhecimento e afirmação de valores simbólicos.

Os elementos simbólicos e os artefatos culturais são determinantes na investigação das


identidades visuais no sentido de realizar interpretações sobre o conteúdo imagético repre-
sentado. Tem-se como ponto fundamental que toda imagem tem um sentido cultural, sobre-
tudo quando se trata de pessoas e grupos.

O resultado documental dessa prática tem adquirido a mesma importância que a cultura
material que elas produzem. Dentro desse contexto, o processo de análise e interpretação
das imagens comunitárias deve considerar a seleção de signos presentes na imagem que
ajudem a delimitar o padrão simbólico da cultura e da identidade em questão. Esse é um
procedimento que visa associar a imagem literal à imagem simbólica para a identificação do
pronunciamento visual na análise. A proliferação de vídeodocumentários, amadores e pro-
fissionais, tenta resgatar, por meio da facilidade dos recursos digitais hoje popularizados,
valores culturais que são recriações e releituras de antigos valores, mas que ganham força
pela representação do passado e projeção do futuro dessas identidades comunitárias.
Na Região do Norte Fluminense, as comunidades tentam manter seus valores identitários
com base na propagação estética de seus valores simbólicos. A documentação visual das
atividades das comunidades possibilita a publicização das imagens culturais e identitárias
1
In: CULTURA VISUAL E AFIRMAÇÕES IDENTITÁRIAS: Novos Processos de Reconhecimento Social. SILVA
Sérgio Luiz P. 2007 - (Professor Associado do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universi-
dade Estadual do Norte Fluminense – UENF).

72 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


para além das fronteiras do Norte do Estado do Rio de Janeiro e contribui para facilitar o
mapeamento dos valores culturais da Região. As comunidades afrodescendentes da Região
Norte Fluminense mantêm suas pertenças identitárias com base na produção de seus arte-
fatos, suas formas de sociabilidade e a manutenção cultural cada vez mais afirmativa. Com
isso, o pronunciamento visual das comunidades da Região tem contribuído para dimensio-
nar as mensagens simbólicas por meio de representações estéticas, no sentido de propagar
as referências de sua imagem e suas afirmações sociais e culturais, ou seja, as representa-
ções estéticas das mesmas tem servido de cartão de apresentação e afirmação de sua iden-
tidade. As atribuições de significados, representações e valorações na afirmação da identi-
dade através da imagem são formas de pronunciamento cada vez mais utilizadas na delimi-
tação dos campos simbólicos de ação. Desse modo, as imagens ganham valores diferenci-
ados das palavras e as identidades a elas atribuídas adquirem um viés cada vez mais efeti-
vo no processo de reconhecimento dos espaços públicos, sobretudo midiáticos.

A propagação das imagens dessas comunidades ganha força publicizadora com bases nos
elementos estéticos nelas representados, sobretudo em se tratando de comunidade afro-
descendentes que têm valorizado um resgate cultural pós-colonial, o que reforça o argumen-
to de que os valores simbólicos dão legitimidades às formas de representação e reconheci-
mento das identidades culturais (Hall, 2003; Woodward, 2003; Bhabha, 2000).

Além dessa forma de resistência da cultura negra, os terreiros tem um importante papel,
pois difundem e recriam, através de suas atividades, não uma cultura monolítica, mas co-
nhecimentos, concepções filosóficas e estéticas, formas alimentares, música, dança: um
patrimônio de mitos, lendas, refrões, em constante recriação, pois são respostas às deman-
das da realidade vivenciada por negros reunidos no cativeiro. Funcionam como pólo irradia-
dor do complexo sistema cultural no qual as manifestações orais, histórias sagradas, contos,
adivinhas, lendas, expressões do canto, constituem um de seus elementos, que deve ser
compreendido em função do momento em que ocorrem, dos partícipes e dos instrumentos.

4.2 O Fado
(...) nos séculos XVIII e XIX era dança a popular do Brasil, executada ao som da viola e do adufe (...)
cuja coreografia de roda era movimentada apresentando sapateados e meneios sensuais". Parada
(1995: 204).

Foto 2 – Região Norte Fluminense, O Fado em Quissamã

Fonte:http://www.quissama.rj.gov.br/index.php/roteiro-manifestacoes-culturais/

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 73


Baile popular típico do Estado do Rio de Janeiro que só permanece preservado no Município
de Quissamã.

A suíte é dançada ao som de viola, pandeiro e coreografada por palmas e sapateados. A


festa começa com uma Cantiga de Reis, seguida de louvação ao dono da casa e a sua fa-
mília.

"Toda pesquisa o indica e ninguém mais duvida que o fado tenha nascido brasileiro e emigrado para Portugal,
onde se nacionalizou”.
2
(An'Augusta Rodrigues, 1973)

4.2.1 Origens
De origem afro-brasileira, é considerado pertencente à área dos fandangos, apresentando
ritmo original e versos rústicos, cantados por repentistas. O Fado surge em um momento da
história Fluminense em que o então distrito de Quissamã e toda Região Norte do Estado
eram conhecidos como a "Nova Zona do Açúcar", quando no final do século XIX, plantações
de cana dominavam a paisagem natural do lugar. O primeiro relato sobre sua existência foi
feita por Lamego (1934: 86) descrevendo a dança que vinha dos "casinhotos e senzalas",
comprovando-a como de origem afro-brasileira.

Mário de Andrade fala sobre o Fado praticado no Brasil no final do século XIX, que nada
teria em comum com a canção lusitana de mesmo nome. O próprio Mário também observou,
através do romance de Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias, a
existência de um baile no Rio de Janeiro com acompanhamento de viola e coreografia vari-
ada com estalidos de dedos, palmas e sapateados, curiosamente, semelhante ao estilo por-
tuguês. Ao que tudo indica, apesar do Fado manter-se ativo somente em Quissamã, já foi
bastante popular em outros municípios da Região Norte-Fluminense sendo um dos bailes
mais apreciados e freqüentados pela população de baixa renda. Também em outras cidades
do Estado tal manifestação pode ser encontrada, mas em franco processo de desapareci-
mento em detrimento da influência dos grandes centros urbanos.

4.2.2 Formato das Danças


O Fado pode ser considerado um conjunto de danças encadeadas, também conhecido co-
mo suíte, dançada ao som de viola e adufe; hoje, substituído pelo pandeiro. Assemelha-se a
uma quadrilha européia e é conduzido por repentistas. Uma série de pequenos rituais com-
põe o baile. Travassos (1987: 167) assim explica: "(...) a festa deve começar com uma can-
tiga de reis, seguida de louvações ao dono da casa e sua família. Folia de reis e Fado, por-
tanto, são manifestações habitualmente conjugadas na Região".

Em Quissamã, o Fado é apresentado em casas, salões e bairros rurais, principalmente na


localidade de Machadinha, fazenda histórica constituída por uma capela (Nossa Senhora do
Patrocínio), pelas ruínas do Solar e pela antiga senzala (hoje habitação dos descendentes
de escravos) e provável local de origem da manifestação. Atualmente ele também é apre-
sentando em festas e uma vez por mês a dança é realizada na Biblioteca Pública Municipal.

São as chamadas "Sextas Culturais", um projeto composto por uma exposição literária, se-
guida de uma apresentação da dança. Ao longo do salão, ficam dispostos pequenos grupos
de dois pares de casais formando uma cruz, ou seja, fazendo uma referência à religiosidade
dos participantes.

2 Folclorista, pesquisadora e autora de vários livros e artigos sobre o folclore Fluminense.


74 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Outra diferença entre o Fado e os demais bailes populares é que ele é, conforme o costume
local, "da parte de Deus", ou seja, pode ser realizado durante o período da Quaresma como
atesta Travassos (op. cit,): "Ele ocorre semanalmente, nas noites de sábado (...) período em
que muitos católicos se abstêm de dançar. Isto não significa, porém, que se trate de uma
festa religiosa, mas apenas que ela é aceita sem reservas na moral popular".

Apesar de a apresentação do Fado fazer parte da programação cultural da cidade, a relação


da dança com a sociedade quissamaense é dúbia. Para Ana Alice Barcelos, "existem os que
encaram o Fado como dança de gente muito humilde, com certo preconceito". Porém, por
haver um processo de inclusão da dança na programação cultural oficial da cidade, ao
mesmo tempo o Fado passa a ser legitimador desta identidade cultural postulada, pois as
apresentações são apreciadas pelo próprio público local, que entende a manifestação como
uma amostra da cultura de raiz local, uma legítima manifestação de descendentes dos es-
cravos.

4.2.3 Preservação e Sobrevivência


As principais vias de acesso à cidade de Quissamã, além das estradas vicinais, estão todas
asfaltadas; muitas linhas de ônibus ligam a Campos, Macaé, Niterói e Rio de Janeiro.
Antes de se tornar Município, não havia uma conexão direta com a freguesia, apenas estra-
das de terra. Essa avalanche de transformações ocorridas, principalmente nos últimos vinte
anos (quando o então distrito saiu de um ostracismo econômico e voltou a prosperar), mu-
dou muito a fisionomia da cidade que, antes, vivia em isolamento. Isolamento esse que tal-
vez tenha ajudado a manter o Fado no anonimato, mas deixando sê-lo genuinamente, em
suas características mais próximas das originais, sem tantos jogos de forças culturais, tanto
em seu formato típico como em forma genuína de entretenimento. Mas este é um caminho
que já não é mais possível de ser trilhado.

Desde sua emancipação, no final da década de 80, a cidade de Quissamã não soube de
imediato, como fazer para manter e preservar o Fado. A Prefeitura percebeu que se não
houvesse intervenção, aos poucos o baile iria se extinguir. Não haveria um eixo de renova-
ção, uma vez que novas formas de entretenimento como as discotecas e shows no clube da
cidade e uma série de opções conseqüentes do avanço do mercado audiovisual (reflexos da
globalização) passaram a concorrer e seduzir os mais jovens, residentes das comunidades
rurais. Pensou-se então em criar uma oficina para assim poder manter e preservar a dança,
o que, por outro lado, sacrificaria a espontaneidade do baile. De fato, se não houvesse a-
contecido tal ação pública que interferisse para a sua sobrevivência, o Fado teria acabado.

Por isso, o grupo encarregado de sua preservação começou a fazer um trabalho de valori-
zação para que a auto-estima se renovasse, assim como o interesse das gerações mais
jovens por sua cultura de raiz.

Além das apresentações na biblioteca, a Prefeitura incentiva a dança na localidade de Ma-


chadinha para que a própria comunidade se divirta e cultive suas tradições locais.

Encontra-se em andamento um projeto que visa introduzir o Fado nas escolas do Município,
dando ênfase, primeiro, às instituições rurais através de oficinas, para que o Fado se sus-
tente. Até a primeira metade da década de oitenta, os bailes na sede da associação de mo-
radores de Machadinha (fazenda principal de onde surgiu o bailado) eram sempre cheios e
só acabavam com o sol raiando de manhã. Desde então, o Fado não sofreu grandes trans-
formações em sua estrutura e características.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 75


A Mana Chica

Foto 3 – Região Norte Fluminense, A Mana Chica em Campos dos Goytacazes

Fonte: Acervo Oficina de Estudos do Patrimônio Cultural de Campos dos Goytacazes

A Mana-Chica é executada em pares, ao modo do fado e com uma formação similar à da


quadrilha, na qual ela se filia. Os instrumentos que a acompanham são de origem européia,
a sanfona e a viola. Dançada nas antigas fazendas da região, certamente, em um raro
momento de confraternização entre senhores e escravos, assemelha-se a outras danças da
"família" da quadrilha, mas também a outras, específicas de outras Microrregiões, entre elas
a marreca, a andorinha, a mineira, o mangalô, o barabadás, o feijão miúdo, o quindim, o
balão faceiro e o gambá ou extravagância. Ela é muito encontrada ainda, nas Regiões de
Campos e Quissamã.

Aí vem a Mana Chica


Mana Chica do caboio
Quem nunca comeu pimenta
Não sabe que coisa é moio
(domínio popular)

4.4 O Jongo

“(...)O jongo é uma forma de expressão que integra percussão de tambores, dança coletiva e elemen-
tos mágico-poéticos. Tem suas raízes nos saberes, ritos e crenças dos povos africanos, sobretudo os
de língua bantu. É cantado e tocado de diversas formas, dependendo da comunidade que o pratica.
Consolidou-se entre os escravos que trabalhavam nas lavouras de café e cana-de-açúcar, localiza-
das no Sudeste brasileiro, principalmente no vale do Rio Paraíba do Sul. É um elemento de identida-
de e resistência cultural para várias comunidades e também espaço de manutenção, circulação e
renovação do seu universo simbólico. (...)”
Luiz Fernando de Almeida
Presidente do IPHAN

76 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Foto 4 – Região Norte Fluminense, O Jongo

Fonte: Disponível em<http ://www.uniblog.com.br/img/posts/imagem9/92865.jpg>.


Acesso em 02/12/2009

Segundo definição de Luis da Câmara Cascudo (Dicionário do Folclore Brasileiro, Edição de


Ouro, São Paulo), Jongo é uma dança de negros, violenta, com coreografia em roda que se
movimenta em sentido lunar, isto é, em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, como
é de costume em todas as danças de africanos. É sempre acompanhado por instrumentos
de percussão - pequenos e grandes tambores chamados de tambores-de-jongo, tambu,
candongueiro ou gazunga. Pode ser, também, usado o chocalho pelo cantador, solista ou
acompanhado por outros cantadores, quase sempre respondendo em coro o refrão. No can-
to da roda exibem-se, com frenéticas umbigadas, os dançarinos, individualmente, numa co-
reografia específica e interessante. O jongo é uma forma de louvação aos antepassados,
consolidação de tradições e afirmação de identidades. Ele tem raízes nos saberes, ritos e
crenças dos povos africanos, principalmente os de língua bantu. São sugestivos dessas
origens, o profundo respeito aos ancestrais, a valorização dos enigmas cantados e o ele-
mento coreográfico da umbigada.

No Brasil, o jongo se consolidou entre os escravos que trabalhavam nas lavouras de café e
cana-de-açúcar, no Sudeste brasileiro, principalmente no vale do rio Paraíba do Sul. Forma
de expressão afro-brasileira, o jongo integra percussão de tambores, dança coletiva e práti-
cas de magia.

O jongo não possui calendário e é uma dança de terreiro, da qual participam pessoas de
todas as idades e de ambos os sexos. A coreografia é simples e livre: os participantes, dis-
postos em círculo, batem palmas e improvisam evoluções. Ao centro fica o jongueiro ou so-
lista, que também faz evoluções ao redor do grupo e dele se aproxima, convidando os dan-
çadores para o interior da roda. No entanto, acontece, em geral, nos quintais das periferias
urbanas e de algumas comunidades rurais do Sudeste brasileiro, assim como nas festas dos
santos católicos e divindades afro-brasileiras, nas festas juninas, na festa do Divino e no dia
13 de maio, dia da abolição dos escravos.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 77


Foto 5 – Região Norte Fluminense, O Jongo em Quissamã

Fonte: Disponível em :<http://www.quissama.rj.gov.br/index.php/roteiro-manifestacoes-culturais/>

Nos tempos da escravidão, a poesia metafórica do jongo permitiu que os praticantes da dan-
ça se comunicassem por meio de “pontos” que os capatazes e senhores não conseguiam
compreender. Sempre esteve, assim, em uma dimensão marginal, em que os negros falam
de si, de sua comunidade, por meio da crônica e da linguagem cifrada. Tambu, batuque,
tambor, caxambu. O jongo tem diversos nomes, e é cantado e tocado de diversas formas,
dependendo da comunidade que o pratica. Se existem diferenças de lugar para lugar, há
também semelhanças, características comuns em todas as manifestações do jongo.

4.4.1 A Territorialidade e o Jongo


Originário dos batuques e danças de rodas da tradição Bantu, o Jongo apresenta-se como
dança comunitária de origem rural que remonta à época da escravidão. Pesquisadores do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, registraram, em 2004, cerca
de 15 comunidades jongueiras nos Estados de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Mas percebem indícios de que haveria aproximadamente 20 comunidades e cerca de 25
grupos. Dentre as comunidades catalogadas, destacaram-se o Jongo de núcleos de:
• Morro do Carmo e Bracuí (Angra dos Reis) - RJ
• Barra do Piraí - RJ,
• Campelo (Bom Jesus de Itabapoana ) – RJ
• Miracema - RJ
• Pinheiral - RJ
• Santo Antônio de Pádua – RJ
• Serrinha (Rio de Janeiro) - RJ
• São José da Serra (Valença) - RJ
• Guaratinguetá - SP, Cunha - SP
• Piquete - SP
• São Luís do Piraitinga - SP
• Lagoinha - SP
• Taubaté – SP

78 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Mapa 1 - Região Sudeste, Distribuição do Caxambu, Jongo e Tambor identificados pelo IPHAN
entre 2002 e 2006

Fonte: IPHAN

No Sudeste brasileiro, em muitas das comunidades com descendentes de escravos, o jongo


desapareceu, tanto pela dispersão de seus praticantes, em conseqüência da migração, e
dos processos de urbanização, como pelo obscurecimento destas práticas por outras ex-
pressões de maior apelo, junto ao crescente mercado de bens simbólicos. Ou também devi-
do à vergonha motivada pelo preconceito.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 79


Mapa 2 – Rio de Janeiro, Distribuição Espacial dos Municípios com Ocorrência do
Jongo 2006

3
Fonte: Mapa do Rio de Janeiro e Regiões de ocorrência de Jongo (adaptado).

Ou também devido à vergonha motivada pelo preconceito. Há comunidades, nas quais o


jongo atua como um fator de integração, construção de identidades e reafirmação de valores
comuns – estratégias em que a memória e a criatividade são fundamentais. Diante das de-
sigualdades econômicas, da exclusão social e da invisibilidade deste fazer cultural junto aos
demais segmentos da sociedade brasileira, as comunidades jongueiras têm desenvolvido
soluções próprias, alternativas para a preservação de seus saberes e expressões. As crian-
ças, por exemplo, que durante muito tempo não podiam freqüentar as rodas de jongo, hoje
são estimuladas a aprender o canto e a dança de seus ancestrais. E, há comunidades, em
que não é mais necessário ser filho de jongueiro para ser considerado jongueiro.

Fotos 6 e 7 – Região Norte Fluminense, A Roda do Jongo

Crédito: Ricardo Gomes Lima

3
- In: SILVA, 2006, p. 20. Base Cartográfica IBGE 2000. Projeto Geográfico e Cartográfico by
Geog. Rafael Sanzio A. dos Anjos - CREA 15604/D - Projeto Geografia Afro-Brasileira - Centro
de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica. Apoio Técnico: Marcelo Silva e Adailton da
Silva - Deptº de Geografia - Universidade de Brasília. Brasília - DF. 2006. E-mail: ciga@unb.br.
80 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
4.4.2 O Jongo nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense
O jongo sempre foi, tradicionalmente, cantado e dançado por negros oriundos da escravi-
dão, não se estabelecendo o tempo de seu início, mas pode-se imaginar que os primeiros
jongueiros vieram para o Brasil, oriundos de Angola, e aqui desenvolveram esta cultura e a
mantiveram mesmo depois da abolição da escravatura. De acordo com o escritor Osório
Peixoto Silva, para os campistas Jongo é dança praticada em terreiro de chão batido, com
um ou dois tambores - cavados em pau ôco - e acompanhado por palmas. Forma-se o círcu-
lo dos dançadores, um deles entra no círculo, conta sua história em monólogo ou palavras
estranhas, sempre procurando o ponto que soltará e que caberá no ritmo. Há, ainda, o Jon-
go, com ligações religiosas, geralmente com a umbanda, mas igualmente com os pontos
repetidos pelos dançadores, a partir do cântico do ogã. E quando o ponto é bom pode ser
cantado por muito tempo nos terreiros, como esta estrofe seguinte:

“Toda vez que caio


Caio diferente,
Ameaço pra trás
Mas caio pra frente”.

Incontestavelmente, esta foi/é a dança mais conhecida e praticada por toda Baixada Cam-
pista, como herança forte dos escravos. O Jongo era a diversão dos fins de semana, nos
rituais das festas lúdicas e considerado a paixão de qualquer família de afro-descendente da
Região. Em quase todas as usinas, ou no que restou delas e, hoje, na periferia da cidade de
Campos, encontram-se, ainda, mas não com facilidade, resquícios de jongueiros, na sua
maioria pessoas negras que trabalharam durante muitos anos em alguma atividade relacio-
nada à cana-de-açúcar e ao trato com o gado de corte e leite. “Antônio Pinto Miranda diz
que Jongo na Angola se chama Djongô e é dança e ritual de tribos angolanas dedicadas
exclusivamente ao pastoreio. “O jongo é um ritual macumbal, sub-tribo dos bantos, ocupan-
do a zona semidesértica de toda cordilheira Chela. A maneira de dançar eles usam nas fes-
tas e nos lazeres. “A este ritual damos o nome de Djongô, que seria nosso Jongo, com suas
variações e adaptações”. Ele acrescenta, ainda, que o Jongo em Angola é sempre dançado
cultuando o boi, que para algumas tribos é quase sagrado. O boi deixou de ser um animal
para o comércio e passou a ser a imagem principal dos seus cantos, contos, lendas e músi-
cas. Talvez conservando essa tradição angolana, também se encontra em Campos vários
pontos que se fala sobre o boi:
“Encontrei meu Santo Antônio
Na cancela do currá
Levanta meu Santo Antônio,
Deixa meu gado passá”.

4.4.3 O Jongo na Atualidade


Na tentativa de ativar o conhecimento sobre as manifestações culturais resultantes de fe-
nômenos da sociedade, pesquisadores vêm promovendo e estimulando os estudos na área
da folkcomunicação - rótulo destinado a propiciar reflexões sobre a interface entre a comu-
nicação e o folclore, o que levaria/leva a uma análise aprofundada sobre o assunto.

Através da pesquisa feita pelos alunos do núcleo de iniciação a pesquisa científica em Cam-
pos dos Goytacazes O grupo conseguiu, até agora, catalogar mais de 100 pontos de jongo,
através de entrevistas com velhos aficionados dessas manifestações e a perspectiva é a de
que a médio e longo prazo, possa recolher, pelo menos, 200 a 300 composições que muito
podem contribuir, a partir da sociolingüística, com o pensamento e a inspiração dos negros
escravos ou livres nos últimos 120 anos.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 81


Foto 8 – Região Noroeste Fluminense, Caxambu em Santo Antônio de Pádua

Fonte Disponível em :<http://www.flickr.com/photos/lulassant3>


Crédito: Luis Santana

A pesquisa realizada em 2003 conseguiu a descoberta dos Quilombos de Barrinha e Deser-


to Feliz - Encontro com antigos jongueiros de Goytacazes, nas dependências do Solar do
Colégio, na Baixada Campista. Recolhimento de letras e músicas de jongos remontando os
tempos da escravidão. E mostras de jongadas, em Barrinha. (São Francisco do Itabapoana).
Também através desta mesma pesquisa foi possível colher Letras e músicas dos jongos
existentes na periferia de Campos dos Goytacazes, Quissamâ, São Francisco de Itabapoa-
na, Cardoso Moreira, Italva, São João da Barra e Miracema e Santo Antonio de Pádua. Em
Campos a pesquisa precisa ainda ser feita nos bairros mais afastados, como Parque da Al-
deia, Cidade Luz, Custodópolis, Morro de Fátima, Eldorado, Bandeirantes. E distritos como:
Travessão, Ururaí, Barcelos, Goytacazes e Santa Cruz. Em outras cidades, o grupo já este-
ve em São Francisco de Itabapoana, Cambuci e São Fidelis.

Foto 9 - Região Noroeste Fluminense, Santo Antonio de Pádua, Criança Jongueira

Fonte: Disponível em :<http://www.flickr.com/photos/lulassant3 ->


Crédito: Luis Santana

82 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


A aproximação de pesquisadores e estudiosos, bem como, mais recentemente, de jovens
das camadas médias urbanas, fez com que a participação em uma roda de jongo não esti-
vesse mais limitada aos integrantes das comunidades jongueiras. Além disso, algumas co-
munidades passaram a fazer apresentações artísticas, nas quais as rodas de jongo aconte-
cem sob a forma de espetáculo. Assim, aos jongueiros se coloca o desafio de dialogar com
os processos da cultura de massa e do universo do entretenimento e, ao mesmo tempo,
manter os fundamentos de sua prática. Essas questões têm sido tratadas de forma crítica
pelos jongueiros por meio de iniciativas como o Encontro de Jongueiros – evento anual que
reúne comunidades e praticantes do jongo. E também por meio da Rede de Memória do
Jongo, nascida a partir do Encontro de Jongueiros, com o objetivo de, segundo seus ideali-
zadores, estreitar os laços de sociabilidade entre as comunidades jongueiras e fortalecer os
canais de articulação com a sociedade em geral.

Desde 1996 realiza-se anualmente o Encontro de Jongueiros. Trata-se de uma espécie de


festival itinerante, sediado a cada ano por um grupo, em sua cidade. Até o momento têm
participado jongueiros dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas a tendência é de
se agregarem, progressivamente, outros grupos. Durante um ou dois dias consecutivos, as
comunidades se reúnem para discutir suas diferentes perspectivas sobre a tradição jonguei-
ra, seus problemas, suas estratégias e esperanças. Além disso, sempre dançam à noite, em
um logradouro público, e cada grupo se apresenta por um período determinado. O primeiro
encontro aconteceu em 1996, em Santo Antônio de Pádua (RJ), idealizado por Hélio Ma-
chado, admirador do jongo e professor do campus avançado da Universidade Federal Flu-
minense (UFF) naquela cidade.

Foto 10 – 12º Encontro de Jongueiros em Piquete - SP, abril de 2008

Fonte: Disponível em :< http://www.flickr.com/ photos/lulassant3 –>


Crédito: Luis Santana

Desde o V Encontro, realizado no ano 2000, passaram a fazer parte da programação do


evento, além das rodas de jongo, debates sobre temas de interesse dos grupos e oficinas
para intercâmbio de conhecimentos e experiências. Os encontros atraem pesquisadores,
artistas e estudantes.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 83


A partir deles surgiu o movimento chamado Rede de Memória do Jongo, que tem por objeti-
vo estreitar os laços de solidariedade entre comunidades praticantes, criar e fortalecer ca-
nais que favoreçam a articulação entre jongueiros e entre estes e a sociedade em geral.

4.4.4 Nuances da nomenclatura


O vocabulário do jongo se caracteriza pela presença importante de palavras originárias de
línguas bantu (angoma, caxambu, jongo, tambu, cumba, zambi, ganazambi, guaiá) e de no-
ções e valores que se relacionam com os das populações africanas e afro-americanas: reve-
rência aos mortos; uso mágico da palavra cantada e da metáfora, à qual se atribuem forças
que atuam sobre os vivos e sobre as coisas; crença na possessão por divindades e espíritos
ancestrais, que deve ser evitada no jongo, mas produzida em rituais religiosos da umbanda;
preferência pelas formas de canto e dança “dialogais” (Ortiz, 1985).

Tambor, tambu, angona, caxambu e jongo são palavras que têm mais de um significado. No
nível genérico, designam a totalidade da forma de expressão e o próprio evento em que
ocorre. Em outro nível, têm acepções específicas. Assim, caxambu é o nome dado ao tam-
bor de maiores dimensões do conjunto instrumental que acompanha a dança, em vários
locais.

Em Miracema e em Santo Antônio de Pádua, Região Noroeste do Estado, a palavra genera-


lizou se e designa a forma de expressão em sua totalidade, envolvendo canto, dança, festa.

Segundo Maria de Lourdes B. Ribeiro, caxambu é tanto o instrumento membranofone quan-


to a dança, em Minas Gerais. Analogamente, tambor (e tambu) é o nome de um dos tambo-
res que acompanha a dança. Faz par com o candongueiro, este de menores dimensões.
Cantar ou “tirar” um jongo é sinônimo de cantar ou “tirar” um ponto. Atualmente, parece ha-
ver preferência pela denominação genérica caxambu, no Norte Fluminense, enquanto na
Região Sul do Estado do Rio e em São Paulo (incluindo a capital), jongo é mais freqüente
como termo genérico.

Foto 11 – Região Noroeste Fluminense, Jongo de Santo Antônio de Pádua, 1976.

Fonte:JONGO NO SUDESTE, Brasília: IPHAN, 2007 (Dossiê IPHAN 05, p. 58)


Crédito: José Moreira Frade.

84 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Figura 1 – Partituras de Composições do Jongo

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 85


86 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Fonte: X Encontro dos Jongueiros. Santo Antônio de Pádua, 18/12/2005

4.5 O Boi Malhadinho


O Boi Malhadinho ocorre em Quissamã e é considerado uma variação das diversas danças
dramáticas que ocorrem em todo o país, onde o boi é o personagem central, junto com sé-
quito de personagens que o acompanha.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 87


Foto 12 – Região Norte Fluminense, O Boi Malhadinho em Quissamã

Fonte: Disponível em: <http://www.quissama.rj.gov.br/index.php/roteiro-


manifestacoes-culturais/>Acesso em 12/12/2009

Em Quissamã, o Boi Malhadinho acontece durante o período do carnaval. A brincadeira é


composta pelo Boi, a Boneca, a Mulinha, Pai João e Mãe Maria e alguns mascarados. O
grupo fantasiado percorre as ruas cantando e dançando. Durante a apresentação, o Boi
investe contra os assistentes, provocando medo e tumulto, enquanto Pai João e Mãe Maria
tentam controlá-lo. Enquanto o boi dança e corre, a Boneca dança protegida pela Mulinha,
que também dança sapateando forte. Os mascarados provocam os espectadores, fazendo
palhaçadas e dando sustos.

4.6 A Folia de Reis


A repercussão da prosperidade econômica no processo de ocupação foi enorme, de modo
que contribuiu para o surgimento de núcleos urbanos e agrícolas.

É exatamente neste cenário que surgem as manifestações das Folias de Reis, percorrendo
pelos caminhos do ouro das Minas Gerais e se estabelecendo na Região Norte e Noroeste
do Estado do Rio de Janeiro, sempre com o mesmo objetivo religioso – o da anunciação do
nascimento do Menino Jesus.

Para fazer parte de um grupo de Folia de Reis, o folião, além de cantar, aprender a tocar um
instrumento, tem obrigações e deveres propostos pelo Capitão ou Mestre. A submissão a
essas ordens é condição primeira para a sua admissão à jornada. Os grupos mais organiza-
dos preparam um verdadeiro código de ética, denominado Estatuto que é lido pelo Mestre
diante do candidato e na presença dos demais foliões, em cerimônia simples e íntima.

Encabeçada pelo mestre, folião-guia, reiseiro ou embaixador, cada folia tem como símbolo
máximo a bandeira, um estandarte colorido com a estampa de um protetor, Jesus, uma san-
ta, Nossa Senhora, os três reis ou a estrela que os guiou a Belém. Ao mestre e ao contra-
mestre juntam-se atrás, foliões com instrumentos e personagens que variam de região para
região, como os reis, pastorinhas, coroinhas e os saltitantes palhaços, com suas fardas mul-
ticoloridas e máscaras horripilantes.

A prática da folia deriva de devoção ou promessa quando a criação do grupo se deve a re-
tribuição do líder a uma cura ou outra graça divina. Muitas folias devocionais surgiram assim
e perduraram após a quitação das promessas, que devem ser pagas por sete anos, sob
88 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Mestres ou Responsáveis que são donos de terreiros de Umbanda, Palhaços que trazem
guias de seus orixás, visita de bandeira, durante o giro, o gongá (altar nos cultos umbandis-
tas). Tudo ainda feito por devoção ou pagamento de promessa, e como tal devendo ser
cumprido por sete anos ou múltiplos de sete.

Foto 13 – Região Norte Fluminense, O reisado de São Fidélis

Fonte: Disponível em :<http://www.saofidelis.rj.gov.br> Acesso em 20/12/2009

Em folias paulistas e mineiras, os palhaços vão adiante, enquanto nas fluminenses ficam na
retaguarda, proibidos de ultrapassar a bandeira. A ambiguidade da figura é apontada pelo
professor e pesquisador Daniel Bitter:4

“Num determinado momento, os palhaços devem pedir perdão ao Deus Menino e, para isso,
retiram as máscaras para se aproximar do altar onde estão as imagens dos santos. Ocorre
uma conversão simbólica e se diz que os palhaços se transformam nos Reis Magos. O pa-
lhaço ocupa lugar importante no sistema ritual, ao afirmar a superioridade moral do bem
sobre o mal”.

Muitas folias mineiras mantêm a tradição dos tambores forrados com couro, que produzem
som mais rouco. Entre as fluminenses, o náilon produz sonoridade mais estridente. Um dos
motivos da adesão ao produto sintético é a natureza itinerante das folias, que saem às ruas
em época pródiga em temporais e precisam ter zelo redobrado na proteção dos instrumen-
tos quando caem os aguaceiros. “O couro, quando molha, fica frouxo e não dá para tocar. O
grupo de meu pai já voltou para casa no meio de uma jornada, porque o couro estava tão
molhado que só se ouvia o toque da sanfona”, conta a fluminense Clenilza. “De couro, só o
pandeiro e um lado dos bumbos. No outro, o pessoal daqui põe náilon, para não ficar na
mão se chover forte.”

4 Autor de tese de doutorado sobre as funções rituais da bandeira e da máscara, premiada em primei-

ro lugar, em 2008, no Concurso Sílvio Romero de Monografias do Centro Nacional de Folclore e Cul-
tura Popular (CNFCP) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 89
Foto 14 - Região Noroeste Fluminense, Encontro de Folias de Reis em Miracema - Janeiro/2008
Foto 15 - Região Noroeste Fluminense, I Encontro Regional de Folias de Reis em Italva

Fonte:Disponível
em::<http://2.bp.blogspot.com/_1HRN6G_TOU8/S0UPoTwJeFI/AAAAAAAAC6Q/hOy-wAu9w8/s1600-
h/folia7.jpg>Acesso em 20/12/2009

Fonte: Disponível
em:<http://2.bp.blogspot.com/_1HRN6G_TOU8/S0TVbSHKJ2I/AAAAAAAAC6A/gUYRjLuN8zE/s1600
-h/capa_folia_italva.jpg>Acesso em 12/12/2009

Outra arte valorizada é a das máscaras, principal atributo dos palhaços na função de atrair a
atenção na peregrinação das folias. No Rio de Janeiro, um dos criadores de máscaras mais
requisitados é Manoel Batista Cordeiro Neto, de 31 anos, de Miracema, na Região Noroeste.
Batista, conta que herdou o ofício do pai. Produz mais de 60 máscaras por ano. Sua fama
se estende à Zona da Mata mineira e ao sul capixaba. As máscaras são feitas com couro de
boi curtido, ornamentado com produtos como espuma colorida e ponta de rabo de boi, nas
sobrancelhas e bigodes. “Meu pai, antigamente, usava couro de preguiça, tamanduá ou
quati”, conta Batista, que amacia o rabo de boi com sabão em pó, xampu e óleo de ovo ou
de uva. Ele recebe pedidos o ano todo, sobretudo a partir de setembro, e só deixa de fazer
máscaras às vésperas do Carnaval, quando se dedica a alegorias para essa festa, e na qua-
resma: “A procura aumenta, mas não faço mais por falta de quem ajude. Corto o couro, pin-
to, espero secar, colo – é tudo por minha conta”, diz o artesão.

Nos grupos que fazem a caminhada e as visitas, cada folião tem seu lugar e ocupa uma
hierarquia em cujo topo aparece o capitão, em certos grupos aparece o palhaço, bem como
o alferes, os cantores, o porta-bandeira e demais componentes que, segundo o costume,
totalizam de 12 a 15 componentes em cada grupo. Autodenominando-se “foliões”, esses
grupos, organizados por devoção ou pagamento de promessas, fazem sua jornada ou giro
da noite do dia 24 de dezembro ao dia 20 de Janeiro, por influência de São Sebastião, pa-
droeiro da cidade do Rio de Janeiro. Caminham no ritmo das Marchas de Rua, cantam de-
fronte ao dono da casa, cantam Jornadas dos Reis Magos ou passagens da vida de Cristo,
finalizando com o agradecimento e as despedidas. Esses grupos, em sua maioria, são inte-
grados por homens adultos e crianças, cabendo às senhoras os cargos mais importantes na
organização.

Papel dos figurantes:


O Capitão ou Mestre: principal elemento do grupo tem autoridade total. É responsável pelo
desempenho dos demais e também, encarregado das necessidades materiais da corpora-

90 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


ção: uniforme, instrumental, bandeira. É ele ainda quem puxa os cantos, entoando em pri-
meira ou segunda voz.
O Contramestre: função imediatamente inferior à do mestre, encarregado de recolher os
donativos e completar a cantoria, harmonizando uma terça acima ou abaixo da voz do mes-
tre. É quem o substitui nas faltas eventuais.
O Alferes, Bandeireiro ou Bandeirista: tem como função carregar a bandeira. É ele, tam-
bém, o responsável pela organização do grupo. Distribuem os uniformes, as toalhas e verifi-
ca todos os instrumentos. Ele também deve informar ao primeiro capitão sobre o que o gru-
po recebeu de oferenda, para que este possa cantar em agradecimento ao anfitrião.
O Palhaço é uma figura enigmática, alegre e não aparece no Livro Sagrado. Personagem
contraditório, o palhaço é o mais rejeitado pela folia. Para alguns, ele representa Herodes,
rei que queria matar o menino Jesus. Para outros, ele representa homens que se vestiam de
palhaços para atrapalhar ou despistar o rei e seus soldados na perseguição ao Menino Je-
sus.

Além desses mais comuns, costumam aparecer outros figurantes, cujo desempenho é dado
às crianças – os Três Reis do Oriente (meninos), Pastorinhas (meninas), Anjo (meninas),
Pastores (meninos).

Fotos 16 e 17 – Região Noroeste Fluminense, Folia "Estrela do Oriente" em Miracema

Fonte: Disponível em:<http://3.bp.blogspot.com/_1HRN6G_TOU8/S0JnJksEgkI/AAAAAAAAC3Q


/uDbIxhw3caA/s 1600-h/folia1.JPG>

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 91


Fotos 18 e 19 – Região Noroeste Fluminense, Folia de Reis em São Fidelis

Fonte:Disponível em:<http://2.bp.blogspot.com/_1HRN6G_TOU8/S0UPoTwJeFI/AAAAAAAAC6Q
/hOy-wAu9w-8/s1600-h/folia8.jpg>

Cantoria

As cantorias são a base dos rituais. Todos os foliões, exceto o alferes e o palhaço, desem-
penham funções musicais. Na música há regras que definem a atuação dos foliões. Em ge-
ral são sete as vozes que entoam os cânticos. O coro segue à risca a toada de preferência
do capitão, que começa tirando os versos a partir de um repertório que muitas vezes pode
ser improvisado. Como maestro, é ele quem comanda o terno e puxa a cantoria.
Depois que ele termina alguns versos, começam as respostas, repetição dos versos canta-
dos em entradas sucessivas. A segunda e a terceira voz realizam a primeira resposta inte-
gral da cantoria, geralmente fazendo a terceira nota no tom inicial do capitão. Essa primeira
resposta é conhecida como contralto.

As quarta e quinta vozes entram na metade dos versos, cantando uma oitava acima. No
final entra a sexta resposta, que é um grito muito fino, entoando um arrastado de lamento.
As melodias e as letras das músicas são tradicionais, imutáveis, mas os capitães inventam
outras, geralmente improvisadas na oportunidade de pedir uma esmola ou fazer um agrade-
cimento. Música, letra e toada, muda de grupo para grupo. Os ritmos também são diferen-
tes.

No município de São Fidélis, a instalação das Folias de Reis se deu no contexto da zona
rural nos séculos passados, cujas divisas do município com a região do Estado de Minas
Gerais, por exemplo, favoreceu para isso, inclusive o ritmo das folias, segundo o mestre
da Folia Estrela Guia de São Fidélis, Ademilton Filho, o ritmo das folias existentes, até
hoje, é o ritmo mineiro.

92 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Fotos 20 e 21 – Região Noroeste Fluminense, Folia de Reis em Porciúncula

Fonte: Disponível em:<http://www.porciuncula.rj.gov.br >Acesso em 12/12/2009

Em Porciúncula, as Folias de Reis Divino Pai Eterno, comandada pelo Mestre Joaquim Rai-
mundo Ramos, e São Sebastião, comandada pela dona Luzia da Conceição Maciel são a-
poiadas pelo premiado Projeto MOCART – Movimento Cultural Artístico Raízes da Terra e
fazem jornada pela zona urbana e rural de Porciúncula. Seu Joaquim Raimundo Ramos
explica que as folias saem em duas jornadas: de 24 de dezembro a 6 de Janeiro, em home-
nagem a Santos Reis (os Reis Magos), e de 6 a 20 de Janeiro, em homenagem a São Se-
bastião.

“O bonito da folia é estar revivendo o fato mais marcante da humanidade, que é o nasci-
mento de Jesus”, diz “seu” Joaquim. “Além de trazer de volta o nascimento de Jesus, ela
tem muita religiosidade e devoção, pois muitas pessoas são curadas através da fé na folia.
Um exemplo disso eu tenho em casa mesmo: há 35 anos, minha mãe estava cega já fazia
mais de cinco anos, e a medicina não tinha mais recursos para ela. Quando eu estava su-
bindo com a folia, ela pediu a meu irmão que a levasse até a rua para receber a folia. Ali, ela
ajoelhou, colocamos a bandeira na mão dela e meu irmão a guiou de volta para casa. En-
tramos com a folia e começamos a cantar e ninguém percebeu nada de diferente. Ao térmi-
no da cantoria, quando saímos, ela pediu para levar a bandeira até a rua e então nós perce-
bemos que ela saiu sozinha com a bandeira pelas ruas, sem precisar de ninguém para guiá-
la. Eu acredito que ela foi curada pela fé” – conclui seu Joaquim Raimundo Ramos que, com
58 anos, desde os nove anos canta folia, recita alguns versos em honra do Menino Jesus:

“Meia-noite era dada


Todo campo enfloresceu
No céu brilhou uma estrela
Na terra Cristo nasceu
Para dar exemplo ao mundo
Foi nascer tão pobrezim
Foi nascido numa gruta
Numa moita de capim
Bendito louvado seja
O Senhor daquela cruz
Intenção dos três reis magos
Para sempre Amém Jesus.”

A festa da Folia de Reis vem sofrendo modificações em virtude da migração do homem para
a cidade e da invasão de elementos urbanos nas Regiões rurais. Contribuem para isso, sem
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 93
dúvida, os meios de comunicação. Os dançadores estão inseridos num mundo em constan-
te transformação de cujas mudanças eles não querem participar e, por outro lado, não têm
como evitar.

4.7 A Cavalhada
Folguedo que remonta a Idade Média é representado no Brasil desde o período colonial.
Representa as lutas históricas entre mouros e cristãos, onde os cristãos sempre vencem.
Cavalos e cavaleiros se dividem em dois grupos ricamente vestidos e adornados, um azul,
cristãos e o outro vermelho, mouros, que engendram uma batalha – as manobras, iniciadas
com voltas no campo e seguidas de “ataques”, aos pares, às argolinhas, pães, forquilhas e
potes de barro pendurados em fios sob uma trave, tentando quebrá-los com lanças. Por fim,
percorrem novamente o campo acenando lenços brancos para o público, seguindo para a
capela na intenção de oferecerem a vitória ao Santo.

No Estado do Rio de Janeiro, realiza-se em dias de santos padroeiros, e não chega a consti-
tuir-se em um auto, pois, não há dramatização. Significa, antes, a encenação de justas e
torneios medievais: “Os grupos se defrontam representando os mouros e cristãos, mostran-
do uma representação do que aconteceu na chamada Guerra Santa, conforme o que existiu
durante séculos na Europa, particularmente na Itália”.

Toda a população dessa Região, eminentemente católica, mostra a sua religiosidade, man-
tendo acesas as chamas da fé nas festas de Santo Amaro e São Martinho, onde o ponto
alto é a procissão e a apresentação da Cavalhada. De todas as atrações da festa do padro-
eiro, a Cavalhada é a mais cobiçada, tanto pelos participantes como por espectadores for-
mados por curiosos, professores, pesquisadores e gente do povo.

“Uma festa que os participantes consideram “herança recebida para transmitir” (sic), a práti-
ca, de acordo com costumes ibéricos antiqüíssimos, que vem desde o século XVIII.

Em Campos dos Goytacazes a Cavalhada é realizada todo dia 15 de janeiro em homena-


gem a Santo Amaro, no distrito do mesmo nome. É um espetáculo desenvolvido em campo
de futebol, onde 24 cavaleiros em um torneio equestre revivem as lutas da Idade Média en-
tre mouros e cristãos. Os cristãos sempre vencem.

A primeira Cavalhada documentada em Campos dos Goytacazes aconteceu no Solar do


Colégio, em outubro de 1730, segundo Alberto Ribeiro Lamego. De um modo geral, o
torneio consta de três partes obrigatórias: visita a Igreja, corrida de argolinhas e
escaramuças (carreira de parelhas sem lanças). Em Campos dos Goytacazes, os
cavaleiros usam: camisas de cetim (azul ou encarnada), calças brancas, perneiras,
talabartes (cinturão), lanças e espadas. Os “capitães” e os “tenentes” de ambos cordões
levam plumas nos capacetes. O torneio é caracterizado por uma série de jogos que são
denominadas “manobras”. Cada manobra é executada de forma a revezar em duas
carreiras os vinte cavalheiros (dez em cada cordão).

Tratando-se de uma festa religiosa, em homenagem a Santo Amaro, os vencedores são


indefectivelmente os cavaleiros azuis que representam os cristãos, havendo no final a
conversão dos mouros à fé católica.

A importância da presença da Cavalhada, na festa de Santo Amaro, é para toda a


comunidade campista muito significativa. É uma manifestação folclórica mantida pela
comunidade local e faz parte do Patrimônio Imaterial Regional. Nela, está presente um
conjunto de conhecimentos: adestramento dos animais, habilidade do cavaleiro, confecção
dos trajes e adereços dos cavaleiros e jaezes para os animais, cantigas, músicas, etc.
94 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Fotos 22 e 23 -Região Norte Fluminense, Cavalhada em Santo Amaro, Campos dos Goytacazes

Fonte: Disponível em:<


http://www.uenf.br/Uenf/Pages/CCH/UESI/Ceramica/?&modelo=1&cod_pag=961&tabela=&np= Cava-
lhada&nc=Cultura+Regional&buscaEdicao=&grupo=CERAMICA&p=>. Acesso em 12/12/2009.
Créditos: Magnum silva

4.8 Boi Pintadinho / Boi Samba

Pertencente ao chamado ciclo do boi, o boi-pintadinho é um folguedo das Regiões Norte e


Noroeste Fluminense, à semelhança ao boi-de-mamão em Santa Catarina, o bumba-meu-
boi do Maranhão, ao boi-bumbá da região Norte e tantos outros folguedos no Brasil que
remontam ao importante papel colonizador do boi no período colonial.

Há alguns anos este folguedo migrou para o sul do Espírito Santo (e daí para o Norte
Fluminense).

Eu sou o boi pintadinho


Boi corredor de fama
Que tanto corre no duro
Como na várzea de lama
Corro fora destes campos
Corro dentro da caatinga
Corro quatro, cinco léguas
De suor nem uma pinga
Corro fora nestes campos
Que o mesmo ar se arrebenta
Corro quatro, cinco léguas
Ninguém me vê dar a venta
(domínio popular)

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 95


Foto 24 – Região Norte Fluminense, Boi Pintadinho em Campos dos Goytacazes

Fonte: Acervo Officina de Estudos do Patrimônio Cultural de Campos dos Goytacazes

Os brincantes deste boi se organizam em cordões, tomando a cor azul e encenando para
diferenciarem-se, saem cantando versos, tocando instrumentos rústicos como latas e
caixas. Em ocasiões se apresentam com um séqüito de personagens concernentes à morte
e ressurreição do boi, como Francisco e Catirina, o fazendeiro, o vigário entre outros, sem
necessariamente haver a dramatização.

Também podem contar com personagens místicos, como a burrinha, a ema e o urubu.

Em Campos dos Goytacazes, perdeu-se completamente o componente dramático, e mais


recentemente a folia do boi-pintadinho tem dado lugar ao boi-samba, que a exemplo das
escolas de samba desfilam na avenida durante ao carnaval. Assim, o boi-pintadinho perdeu
seu traço de espontaneidade, sendo substituído por uma organização mais formal e
dependente de verbas para sua realização.

No Noroeste Fluminense, o boi-pintadinho aparece como parte integrante de outro folguedo,


o mineiro-pau.

4.9 Mineiro – pau

No Noroeste do Estado, principalmente nos municípios de Itaocara, Miracema, Santo Antô-


nio de Pádua e Laje do Muriaé, encontra-se o Mineiro-pau; uma dança só de homens, que
usam bastões de madeira, com os quais desenvolvem uma complicada coreografia, cujas
batidas fazem a marcação dos tempos do compasso musical.

Nesses municípios, as figuras do boi, da mulinha, do jaraguá, do gavião, lideradas pelo tou-
reiro acompanham essa dança.

96 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


5. SABERES E FAZERES

5.1 Ferreiros e Seleiros5

Foi no bojo da economia canavieira no século XVIII, que se sentiu a necessidade de atrair
artesãos especializados. A tarefa, a princípio, parece não ter sido fácil. Pero de Góis, em
1546, escreveu “sobre a sua dificuldade em atrair um capataz competente” (Marques e Ser-
rão, 1992: 257). Se considerarmos a reduzida população portuguesa e a vasta extensão
territorial da colônia e a demanda por mão-de-obra especializada podemos admitir esta difi-
culdade.

Para Campos dos Goytacazes, é factível que, em face da existência anterior de uma eco-
nomia pecuarista, estes artesãos, além dos seleiros, já estivessem em atividade na Região,
no entanto, a escassez de documentos para o período não permite avaliar sua importância.
Sua existência pode ser notada com mais freqüência a partir de meados do século XVIII e,
sobretudo, no século XIX, quando se intensificam as atividades urbanas.

Até esta data, as unidades produtivas, voltadas para a produção de açúcar, eram ainda as
áreas de residências preferidas dos moradores na Região. Na planície as residências eram
sem sua maioria rústicas e feitas de “sopapo”, de planta baixa coberta de telhas e escassa
variedade de bens móveis. De acordo com Faria, “a riqueza estava associada ao número de
cabeças de gado e de escravos” (1998: 356), não sendo a moradia um sinal de status soci-
al. Não se pode precisar através de pesquisa documental se nestas unidades produtivas
havia oficinas de ferreiros e seleiros. De um modo geral a documentação com a qual se tra-
balhou não especifica o que seriam “as benfeitorias” que compõem a casa de morada ou
vivenda. Esta observação, que também é feita por Faria (1998: 356), não permite avaliar a
presença dos artesãos nestas unidades produtivas.

É somente a partir de 1835, quando a vila é elevada à categoria de cidade que ela adquire
novos elementos urbanos. A cidade passa lentamente a atrair a elite local iniciando assim a
construção dos belos palacetes que ainda permanecem na paisagem urbana, a raiz do cres-
cimento da economia açucareira. O trabalho do ferreiro teve uma demanda extraordinária
neste período, para atender a procura por grampos, balcões, alpendres, etc.

As atividades mineradoras no interior das Minas Gerais, que tiveram início a finais do século
XVIII, contribuíram para o desenvolvimento da metalurgia. No século XIX, são inauguradas
inúmeras fundições no Rio de Janeiro. Não havendo a tradição européia das corporações de
ofício, os artesãos exercem seus ofícios livremente e sem rigorosa fiscalização, o ferreiro
torna-se, no meio urbano, um profissional especializado empobrecido, como observa Spix e
Martius (1981: 75).

O anúncio publicado no Jornal Monitor Campista, no dia 13 de abril do ano de 1850, dá a


conhecer alguns detalhes sobre os ferreiros em Campos dos Goytacazes. Nele o anunciante
oferece "negros ferreiros" entre os pertences de sua ferraria, colocada à venda. Já de ante-
mão percebe-se a diversidade da malha social, vinculada ao ofício. Da mesma forma, fica
evidenciada a condição de “coisa”, a que estava submetida uma expressiva parcela da soci-
edade.

5
In: TEIXEIRA, Simonne (2004): “Ferreiros e Seleiros: ofícios tradicionais. Inventário e Pesquisa”. In:
MENEGUELLO, Cristina et RUBINO, Silvana (orgs.) Patrimônio Industrial: perspectivas e abordagens. Campi-
nas/SP: Ed. UNICAMP e Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio Industrial, CD Rom (ISBN 85-904944-
1-1).

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 97


“Rua da Constituição, n.º 13 – João Carlos Dubois vende sua ferraria com todos os seus utensílios,
tanto de ferraria, como de fundições de ferro, bronze, e caldeireiro, e na mesma tem muito bons ter-
nos de moendas, tanto horisontaes como verticaes, assim como três alambiques novos de um e meio
dous caldos, vende também negros ferreiros, caldeireiros, e fundidores; vende tudo por seu justo
valor, junto ou separado, como melhor convier o comprador; a quem convier poderá procurar na
mesma casa, que achará quem tratar.”

Foto 25 – Região Norte Fluminense, Sr. Edílson Trabalhando na Forja - Ferraria em Campos
dos Goytacazes

Credito: Simone Teixeira

Os mistérios do fogo e da forja foram passados de tios para sobrinhos, de pais para filhos.
Os senhores do fogo transmitem seu conhecimento na prática diária de suas atividades,
mantendo, deste modo, tradições seculares. Na cidade de Campos dos Goytacazes, encon-
tram-se atualmente, algumas oficinas de ferreiros e seleiros em atividade.

Os produtos se reduzem hoje, a poucos objetos. Fundamentalmente, produzem ferraduras e


cravos. Importante dizer que em Campos dos Goytacazes sobrevivem muitos carroceiros,
que singram o trânsito com suas carroças transportando desde areia a pequenas mudanças,
sendo estes os principais clientes das ferrarias. Mesmo porque muitas lojas especializadas
em produtos agrícolas preferem comprar fora as ferraduras que atendem aos fazendeiros da
Região. Além destes objetos, pode-se incluir molas de charretes e outras peças para carro-
ça, dobradiça de cancela, freio de cavalos, espora, espichador de arame, cavadeira, martelo
de calceteiro, marcador de animais e outros objetos para a construção civil, tais: pé-de-
cabra, talhadeira e ponteira. Para competitividade no mercado local, vendem a preços míni-
mos seus produtos às lojas do setor. Os profissionais declaram que possuem melhor mer-
cado nos municípios vizinhos – São João da Barra, Italva, São Fidelis, Itaperuna, Cabo Frio
e Cachoeiro do Itapemirim (ES) – em razão da ausência de ferreiros nestes municípios que
contam apenas com ferrador.

Lamentavelmente, não se dispõe de informações históricas sobre os seleiros. Em Campos,


dos Goytacazes, o ofício deve, sem dúvida, remontar ao período inicial de ocupação, onde
predominou a atividade pecuária. No entanto, não há registros específicos. Destaca-se a
chamada sela campista própria para a cavalgadura na Região e em processo de desapare-
cimento. Apesar das feiras agro-pecuárias terem a cada ano uma importância maior no ca-
lendário de eventos das cidades no Norte Fluminense, o trabalho do seleiro local não tem
tido o reconhecimento necessário, tendo os comerciantes dado preferência às selas prove-
nientes do sul do país e as importadas.
98 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Foto 26 – Região Norte Fluminense, Vista Interior da Oficina – Selaria do Sr. Álvaro (filho) em
Campos dos Goytacazes

Crédito: Simone Teixeira

5.2 Medicina Popular


O homem, desde seu aparecimento na terra, sentiu-se frágil diante das forças da natureza.
Muito ligado aos fenômenos que se davam em seu habitat, amedrontado e prostrado, procu-
rou, a exemplo dos animais, desenvolverem suas condições naturais e os necessários mei-
os de defesa. A crença de que o mundo se regia por bons e maus espíritos, impulsionou-o a
se preservar dos maus e tirar benefícios dos bons.

Medicina e religião sempre estiveram ligadas, desde os primórdios da humanidade através


dos rituais de invocação do sobrenatural. Para curar suas doenças recorriam à ação de feiti-
ceiros, curandeiros que lhes indicavam o caminho mais acertado para se livrarem das en-
fermidades e conjurarem os “maus espíritos”. Buscava-se a proteção em amuletos, talismãs,
orações, tatuagens e outras crenças que chegaram até nós.

A prática de uma medicina caseira no Brasil sempre foi exercida pelos leigos que usavam
seus conhecimentos empíricos para curar. Baseados em informações obtidas por transmis-
são oral e em almanaques e compêndios que chegavam às suas mãos, praticavam livre-
mente suas curas.

Na medicina popular brasileira, há três influências óbvias: dos ameríndios, dos portugueses
e dos negros, estes formando um complexo evidenciado nos catimbós e umbandas. A medi-
cina vegetal é de origem ameríndia; a animal é, principalmente, legado africano. As tradi-
ções religiosas contribuíram para a formação de um complexo de crendices que acompa-
nham até hoje o povo, confundindo fetichismo e animismo de negro e do índio com os san-
tos cristãos (amuletos, talismãs religiosos, bentinhos, patuás, figas - estes símbolos de força
e vigor contra o mal e fálico primitivo). “É bom ter uma figa cruzada em casa para afastar o
mau-olhado”.

Dentre a enorme gama de conhecedores do tratamento caseiro, três agentes se destacam


pelo saber e experiência no campo das terapias através das plantas, de produtos animais e
minerais em menor escala ou de práticas outras ligadas a crendices, superstições e rituais
de inspiração religiosa de origens diversas. Estes agentes merecem uma referência mais
profunda, dada a sua presença em todo o território Fluminense, como acontece em todo o

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 99


Brasil, sendo sua atividade permanente nas comunidades que, se em parte a consideram
marginal, de outra feita lhe proporcionam grande prestígio e influência junto aos seus clien-
tes. Alguns destes agentes fazem desta atividade profissão e outros atendem esporadica-
mente. Constituem eles as figuras do Curandeiro, do Rezador ou Benzedor e do Raizeiro.
• Rezador
Também chamado benzedor, o rezador, homem ou mulher, cura ou afasta os males através
de rezas proferidas ritualmente, às vezes associadas a simpatias. Segundo Alceu Maynard
Araújo, os rezadores ou benzedores são os que mais divulgam as simpatias. Enquanto reci-
ta a prece, o rezador faz gestos, sinais, cruzes, aspersões, exorcismos, tocando ou não o
corpo do doente quando próximo deste; pode rezar também à distância, sem ver o enfermo.
• Raizeiro
Entre os agentes de cura, o raizeiro é aquele que lida especificamente com ervas
medicinais, sabendo como prepará-las e usá-las para curar doenças diversas.
• Curandeiro
Entre os agentes de cura, ocupa lugar proeminente o curandeiro que, após experiência
como benzedor ou rezador, sobe em importância, passando a considerar-se ligado ao so-
brenatural. É confundido com o rezador e, enquanto este atende a chamados dos clientes
em seus domicílios, o curandeiro, dada a sua “alta hierarquia”, passa a atender apenas em
sua própria casa.
As Regiões Norte e Noroeste Fluminense carregam no seu histórico de formação étnica a
influência de portugueses, índios e negros. Todos esses povos trouxeram em suas baga-
gens, os seus conhecimentos e muito ainda se preserva dessa riqueza. Um estudo mais
aprofundado e sistematizado sobre esse assunto, ainda se faz necessário.

5.3 Da Gastronomia
“(...) A experiência gastronômica transcende à experiência estética, tendo em vista que a degustação
de uma iguaria típica pode constituir uma forma de consumo simbólico, de aproximação com a reali-
dade visitada, tornando esta realidade também passível de uma “degustação”. (MINTZ 2001, p.34)
Os distintos hábitos alimentares das Regiões brasileiras expõem o poder da diversidade
gastronômica que um país é capaz de oferecer aos seus moradores e aos seus visitantes.
Isso faz da gastronomia uma atividade que conecta/reúne as pessoas de uma sociedade,
desta com os seus elementos culturais em compartilhamento, o que fortalece as tradições
com a elaboração e as formas de preparos de alimentos e bebidas que, com o passar do
tempo, tornam-se “pratos e bebidas típicas”, configurando-se como um dos maiores atrati-
vos turístico-culturais.
Em Quissamã, o projeto Raízes do Sabor resgata as receitas dos afro-descendentes. Reali-
za degustações, promovidas em festas culturais dentro e fora do Município. Os visitantes
que participam de visitas guiadas à Machadinha, podem encontrar no cardápio:
• Mulato velho - (feijoada especial servida com peixe salgado e desfiado com pe-
daços de abóbora);
• Sopa de leite - (carne-seca assada coberta com pirão de leite);
• Capitão de feijão - (bolinho de feijão temperado);
• Tapioca com sassá - (tipo de peixe pequeno);
• Bolo falso - (farinha de mandioca, queijo, ovos, coco e leite);
• Sanema - (doce feito com mandioca, ovos, coco e manteiga batida). A massa é
enrolada e assada dentro da folha verde da bananeira.

100 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Fotos 27, 28, 29 e 30 – Região Norte Fluminense, Culinária da Fazenda Machadinha em
Quissamã

Fonte: Disponível em :http://www.quissama.rj.gov.br/index.php/roteiro-manifestacoes-culturais/ Aces-


so em 20/12/2009

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 101


Fotos 31, 32, 33 e 34 – Região Norte Fluminense, Projeto Raizes em Quissamã

Fonte: http://www.quissama.rj.gov.br/index.php/roteiro-manifestacoes-culturais/
Acesso em 22/12/2009

A cana-de-açúcar determinou significativamente a culinária da Região Norte Fluminense,


tornando os seus doces, delícias afamadas em todo o Brasil. O campista, por exemplo, é
conhecido como Papa-Goiaba, dado à fama de sua goiabada cascão.

Fotos 35 e 36 – Região Norte Fluminense, Goiabada Cascão de Campos

102 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Sem dúvida, os doces típicos são a maior virtude turística do município de Campos dos
Goytacazes. A terra propícia ao plantio da cana-de-açúcar, associada à colonização portu-
guesa e árabe fez com que Campos se especializasse na doceria, onde destacam-se: ba-
bas-de-moça, fios-de-ovos, rapaduras, quindins, bom-bocados, melados, goiabadas, e chu-
viscos. Este, certamente o mais famoso dos doces, que se espalhou pelo mundo. O chuvis-
co é um doce confeccionado à base de gema de ovo, sendo fabricado em Campos há mais
de 145 anos. Ele que deu fama ao Município, é um doce da culinária portuguesa, e foi trazi-
do quando a Família Real Portuguesa foi obrigada a deixar aquele país, para refugiar-se no
Rio de Janeiro. Era o doce preferido de D. Pedro I. Mas os detalhes sobre o quotidiano da
Família Real Portuguesa, bem como das suas preferências gastronômicas eram mantidos
em segredo dentro do palácio, e quase nada vazava para a Corte.

Nize Teixeira de Vasconcellos, conhecida como Mulata Teixeira, ganhou esta receita de
uma pessoa da capital, Rio de Janeiro, que estava em Campos dos Goytacazes. Esta mes-
tra da arte da doceira, a mais famosa de Campos, recebeu em sua casa o ex-presidente
Getúlio Vargas quando visitou Campos e também o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que
encomendava os chuviscos produzidos por ela, para serem saboreados no Palácio do Alvo-
rada, em Brasília. Mulata Teixeira nasceu em Campos, em 1897, onde também faleceu, em
outubro de 1986, com 89 anos.

A partir dela, algumas doceiras ganharam fama, e por terem uma boa clientela, tiveram con-
dições de abrir e expandir seus próprios negócios, como é o caso de Maria Eugênia de Mo-
raes e Souza, proprietária da “M. Eu... Doce”. Outras doceiras, que não possuíam capital, se
uniram e fundaram, em 1989, a COOPERDOCE, a única cooperativa de doceiras do Brasil,
fundada apenas por mulheres. A sua sede constitui ponto turístico de gastronomia em diver-
sos guias, como o Guia Quatro Rodas, da Editora Abril Cultural. Cada receita, na Cooperati-
va, produz 800 chuviscos, independente da quantidade de ovos. Uma doceira chega a fazer
três receitas diariamente, o que dá um total de 2.400 chuviscos por dia. Em uma semana, a
quantidade média é de 12.000 chuviscos, e em um mês a média produtiva é de 48.000 chu-
viscos. O chuvisco, que era um doce eminentemente artesanal, hoje é produzido em larga
escala no Município por três empresas: a COOPERDOCE, a Doces Nolasco, a Doces Ca-
seiros Boas Novas e também pelas principais docerias do Município, como a “M. Eu... Doce,
e a Marry & Quel”.

Além dos doces, Campos dos Goytacazes tem no robalo outro ponto forte de sua gastrono-
mia. Muito apreciado na Região, o robalo é servido de diversas maneiras, mas o forte é a
moqueca, considerada sem igual.

A culinária árabe, de tão apreciada, já faz parte do cotidiano das tradições gastronômicas da
Região.

A Região Noroeste, por causa da sua proximidade com o Estado de Minas Gerais, carrega
em seu aporte culinário, traços fortes dessa influência. Em praticamente todos os municípios
há um leque de receitas de doces caseiros, como doce de leite, licores, doces cristalizados,
compotas de frutas etc., aproveitando a produção de frutas da Região.

Em Santo Antônio de Pádua, há uma série de receitas a base de peixes, tanto de água sal-
gada quanto doce. Reflexo da piscicultura da Região, Lage do Muriaé aparece como um dos
maiores produtores de alevinos do Brasil.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 103


Fotos 37 e 38 – Região Noroeste Fluminense, Produtos da Culinária de Porciúncula

6. DAS MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS

6.1 A participação da Igreja Católica no Processo de Ocupação Territorial


A atividade açucareira foi muito impulsionada pelas ordens religiosas. Os jesuítas em 1549 e
beneditinos, em 1584, entraram no país e passaram a participar decisivamente do projeto
colonizador.
Em terras do Norte Fluminense – reconhecidas como das mais férteis para o cultivo da cana
de açúcar, os jesuítas comandavam os engenhos do Colégio, Campos dos Goytacazes, e
Sant’Ana, em Macaé.

Foto 39 – Padre Jesuíta do Inicio da Colonização

Fonte: www.planeta.terra.com.br

A estreita relação entre Estado e Igreja se expressava na complementaridade de suas a-


ções, funcionando esta última como mediadora entre as culturas indígena e portuguesa, não
só do ponto de vista religioso, mas também no exercício do poder civil. As incursões que
faziam essas ordens religiosas, partindo das igrejas-matriz estabelecidas no litoral, seguindo
geralmente as margens dos rios, subindo as montanhas, foram as principais responsáveis
pela primeira ocupação do interior das terras conquistadas. Nesse percurso, os religiosos
fundavam colégios, promoviam a catequese e o aldeamento dos indígenas, construíam tem-
plos.

A igreja-matriz, geralmente situada em posição privilegiada nessas primeiras vilas (conjunto


de freguesias mais sede urbana) e depois nas cidades, exercia um duplo papel, sediando os
104 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
ofícios religiosos e guardando os principais registros da vida civil da freguesia – certidões de
nascimento, casamento, óbito. Tinha também uma função de vigilância do território.
A organização espacial assim produzida, formada pela igreja-matriz e as capelas subordina-
das (chamadas de curatos, quando localizadas dentro da mesma freguesia), serviu perfei-
tamente às conveniências do poder civil que, com freqüência, dela se apropriou para a ad-
ministração dos primeiros povoamentos.6 Em torno da igreja-matriz, também era comum a
realização de feiras, quermesses, festas diversas, polarizando a vida social do local e suas
circunvizinhanças. Na proximidade desses prédios, instalaram-se os primeiros pequenos
comércios, ranchos, moradias, formando arraiais.
Esse papel da Igreja na produção do espaço arquitetônico e urbanístico da Região Norte
Fluminense, assim como em outras partes do Brasil, constitui um dos aspectos da influência
que ela teve na formação da nacionalidade brasileira. A Igreja esteve à frente da educação,
da cultura, da catequese e da assistência social – agente fundamental do método católico
de colonizar.

Coube à Igreja contribuir para a formação da nacionalidade, aspecto mais nobre da coloni-
zação. Quase tudo o que se fazia em matéria de educação, cultura, catequese e assistência
social, corria por conta de sua hierarquia, de seu clero secular, das ordens religiosas e das
corporações de leigos – irmandades e ordens terceiras. 7Na escola do engenho, era um pa-
dre-mestre que ensinava aos meninos.

Foto 40 - Região Norte Fluminense Mosteiro de São Bento em Campos, 2003


Foto 41 - Região Norte Fluminense Casa e Capela do Colégio Jesuíta em Campos, 1994

Fonte: Acervo INEPAC

A capela completava o quadrilátero das edificações, que eram o coração do engenho, além
da casa-grande, da senzala e da fábrica. Podia estar isolada, contígua ou integrando o cor-
po da casa grande, próxima ao engenho e na vizinhança da senzala.

A Igreja lucrava na intimidade com a família patriarcal, através do prestígio e da autoridade


política8. E também favorecia a manutenção e ao exercício do poder da aristocracia açuca-
reira, uma vez que por muito tempo a educação esteve nas mãos de religiosos, numa con-
veniente associação o poder temporal desempenhado pelo Senhor de Engenho.

6 ITERJ - Op. Cit.


7 HOLLANDA, Sergio Buarque de.História Geral da Civilização Brasileira. Op Cit
8 PAES, Sylvia Márcia. Op. Cit.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 105


Na capela, eram rezadas as missas que congregavam todas as pessoas da comunidade
aos domingos e dias santos, além das datas como batizados, casamentos, funerais e sepul-
tamento.
Não era incomum, as capelas superarem as casas-grandes, nos acabamentos e no luxo9.

A planta da capela traduzia as conexões e os isolamentos necessários à circulação e per-


manência das diversos segmentos da comunidade do engenho. Sacristias e coros interliga-
dos, privativos das mulheres e dos filhos da família nuclear, uma nave para a família esten-
dida, e o copiar, para os escravos, que também ocupavam a área aberta.

O Brasil é hoje o país com a maior população católica e é também o país com maior diversi-
dade de credos.

Além dos santos padroeiros, o catolicismo está presente nas manifestações culturais nos
municípios sob a forma do reizado e da cavalhada; heranças da colonização portuguesa da
herança católica.

As Tabelas 1 e 2 registram as festas típicas nos municípios das Regiões Noroeste e Norte
realizadas em homenagem aos santos padroeiros. Várias cidades tem o mesmo santo como
padroeiro.

Tabela 1 - Região Noroeste Fluminense, Relação de Padroeiros dos Municípios

Data Padroeiro Município


• Varre-Sai
20/01 São Sebastião
• Aperibé
04/02 São José de Leonissa • Itaocara
• Itaperuna
19/03 São José
• São José de Ubá
• Miracema
13/06 Santo Antônio • Porciúncula,
• Santo Antônio de Pádua
06/08 Senhor Bom Jesus • Bom Jesus do Itabapoana
15/08 Nossa Senhora da Piedade • Laje do Muriaé
08/09 Nossa Senhora da Natividade • Natividade
• Cambuci
08/12 Nossa Senhora da Conceição
• Italva

Feriados Religiosos Católicos:


• Corpus Christi – (data móvel) – todos os municípios
• Nossa Senhora da Soledade - (último domingo de maio) - Procissão
• Carros de boi em Raposo, distrito de Itaperuna
• Santa Filomena – 10/8 – Festa e procissão em Varre-Sai

9 GOMES, Geraldo. Entrevista ao Jornal do Commercio de Recife, 1998.


106 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Tabela 2 - Região Norte Fluminense, Relação de Padroeiros dos Municípios

Data Padroeiro Município

17/02 Nossa Senhora do Desterro • Quissamã


19/03 São José • Cardoso Moreira
21/04 São Francisco de Paula • São Francisco do Itabapoana
24/04 São Fidélis de Sigmaringa • São Fidélis
• Macaé
24/06 São João Batista
• São João da Barra
06/08 São Salvador • Campos dos Goytacazes
08/12 Nossa Senhora da Conceição • Conceição de Macabu

Feriados Religiosos Católicos:

• Santo Amaro - 15/1 – Cavalhada - realizada há quase 330 anos- Campos dos Goyta-
cazes
• São Cristóvão - julho - Quissamã
• Corpus Christi – (data móvel) – Todos os municípios
• Nossa Senhora da Aparecida – 12/12 – Cavalgada – Quissamã
• Nossa Senhora da Penha – abril/maio – Penha - Quissamã

6.2 As Aparições em Natividade


As Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio trazem influências religiosas atribuídas à
condição de colonização do território.

Há uma grande influência católica, devido à colonização portuguesa e italiana e cultos afro-
descendentes pelo grande número de africanos trazidos para o trabalho escravo. Mesmo
saindo de suas casas, de suas comunidades, o homem traz consigo aquilo que acredita. E
essa crença permanece principalmente em casos de opressão, como foi o caso dos negros.
O umbandismo, na atualidade, segundo o presidente da Federação Espírita de Umbanda de
Campos, Geraldo Alves Filho, é representado, neste Município, por cerca de 400 centros e
cerca de quatro mil aficionados.

Há inúmeros templos de distintas igrejas evangélicas, espalhados em todo o território e nas


sedes dos municípios, reunindo milhares de crentes.

Na Região Noroeste, a cidade de Natividade possui, na religiosidade, uma das suas maiores
expressões. O templo, inspirado na última residência de Maria, mãe de Jesus Cristo, em
Éfeso, na Turquia, foi erguido pelo médico e advogado, Dr. Fausto de Faria. Com os pés
dentro de um regato Nossa Senhora apareceu 5 (cinco) vezes para ele, em 9/05/1967,
17/05/1967, 12/07/1967, 12/07/1968 e dez anos depois, em 12/07/1978. Na terceira apari-
ção ditou-lhe uma mensagem e deixou-lhe uma cefas (pedra), mistério este testemunhado
por mais cinco pessoas. Na quarta mensagem, ditou-lhe uma frase sigilosa. Na quinta apari-
ção, em sua última mensagem, deu o seu segundo e último adeus desde Éfeso. A partir
destas aparições, o vidente foi até a casa de Maria, na Turquia, registrou todos os detalhes
e construiu no local da aparição, no interior de sua fazenda, uma réplica da casa original,
Fotos seguintes.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 107


Foto 42 - Região Noroeste Fluminense, Casa de Maria em Éfeso na Turquia
Foto 43 - Região Noroeste Fluminense, Réplica construída em Natividade

Em um cofre para exibição, defronte a entrada, encontra-se a cefas (pedra em aramaico), de


cor escura pesando 175 gramas, minério de ferro classificado como hematita especular, ali
colocada em atenção ao pedido feito em uma aparição. Uma amiga da família fez o retrato
falado. Numa das mensagens, constou também que as mensagens fossem divulgadas. O
santuário de Nossa Senhora da Natividade, muito próximo da sede do Município, é aberto à
visitação, com entrada franca. O local é parte integrante da fazenda da família, que continua
em atividade regular. Construído com recursos próprios e de amigos é mantido pelos filhos
do vidente. Anualmente, em julho, mês da maioria das aparições da Santa, cerca de 25.000
pessoas visitam o local.
Fotos 44 e 45 - Região Noroeste Fluminense, Visões Parciais do Sítio dos Milagres

6.3 As Rezadeiras
A força das rezadeiras ainda marca forte presença no interior e muitas ainda conseguem
sobreviver, na periferia das cidades do Norte Fluminense. O poder de invocar Deus pedindo
forças ecoa por todo ambiente, refletindo na pessoa que carece da prece e das graças. São
rezas simples, no fundo do quintal, mas que, para muitos, são os caminhos da cura.
A publicação do “Abecedário da Religiosidade Popular”, de Frei Chico e Lélia Coelho Frota,
relaciona com clareza a religião dentro das camadas mais humildes e mostra a fragilidade
da vida material da maior parte da população.
Nos relatos das rezadeiras que, ainda, se perpetuam no tempo, apesar dos avanços nas
novas tecnologias, a fé na religião engloba pessoas de todas as classes sociais: “Vem gente
de tudo quanto é lugar e, algumas vezes, vem tanta gente que nem tem lugar para todo
108 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
mundo. Eu rezo quebranto, membros torcidos, espinhela caída e tudo quanto é enfermida-
de”, afirma a conhecidíssima dona Maria Preta, famosa na localidade de Mineiros. Sem me-
dir esforços trata todos com a mesma atenção e tenta transmitir a mesma força no sentido
de curar todas as doenças. É dela o seguinte fragmento:

“Lacraia não come,


lacraia não bebe
corta o rabo,
corta a cabeça,
nas três pessoas da
Santíssima Trindade.”

Na localidade de Saturnino Braga, em Campos dos Goytacazes, Dona Irene Gama, 71 anos
- mas os anos não escondem a sua disposição, de dar inveja a muito jovem. Na casa sim-
ples, sinais de quem vive na e pela a religiosidade. Na sala apertada, três quadros dividem a
pequena parede: Santa Ceia, Nossa Senhora Aparecida e outro com a imagem do Sagrado
Coração de Jesus e de Maria. A reza aprendeu com seu avô, Antônio Simão, famoso reza-
dor daquelas paragens até o final do século passado. Diariamente, dezenas de pessoas
freqüentam sua casa a procura de alivio para as doenças do corpo e da alma. A maneira de
rezar de dona Irene é através de uma tesoura. “O aço da tesoura faz com que o mau olhado
não volte para mim. Eu curo qualquer doença, mau olhado, alergia e tudo que faz mal para o
coração”. Na hora da reza apenas algumas palavras são nítidas. Na maioria das vezes é um
confuso balbucio. Segue uma oração a Santa Bárbara:

“Santa Bárbara se vestiu, Santa Bárbara descansou. Nosso senhor perguntou: aonde vai Bárbara?
Vou para o monte, Senhor. Levaste a maldade, o mal de inveja, mal de feitiçaria para os montes sa-
grados. Para ver o galo cantar. Salve Rainha cravo divino, rosa de amor Nosso Senhor. Se tiver dor-
mindo acordai, acordada ela está vendo esta cruz. Eu rezo essa oração para que no final aprende
quem souber, não ensinai. No dia do juízo um grande castigo terá. Obrigado meu pai por mais um
dia”.

Enquanto ela reza mais uma pessoa com “mau olhado”, com muita fé e devoção, foi possí-
vel anotar mais uma oração:

“Filho, sua cama tem quatro cantos, cada canto um santo, cada canto da sua cama tem o Espírito
Santo. Sua cama tem quatro cantos, cada canto tem um santo, no meio da cama tem um letreiro com
Divino Espírito Santo. Sua cama tem quatro cantos, quatro anjos te acompanham: meu São Roque,
São Matheus, Virgem Maria e meu Senhor Jesus”.

Impossível não se encantar com a situação. Numa casa simples, uma senhora de 71 anos
dedica seus dias para ajudar os mais necessitados através de suas orações. Tida para to-
dos como uma líder da comunidade, dá conselhos para qualquer tipo de problema. Até hoje
sempre que acontece alguma coisa no lugarejo, as pessoas tratam logo de comunicar à
dona Irene, para saber dela o que fazer. Há décadas, quando os trabalhadores da antiga
usina de Baixa Grande ficaram sem receber, ela fez um repente para cantar para os donos.
A letra dizia assim:

“A usina de Baixa Grande só tem tamanho e beleza faz pagamento ao rico e sacrifica a pobreza.
Doutorzinho não demora vai mudar para o céu. Doutorzinho vai fazer companhia a Noel. Doutorzinho
este ano fez um papel engraçado, guardou o dinheiro que tinha para não pagar os empregados.
Como o salário aumentou ele se arrependeu adizou, o empregado e o dinheiro apareceu. Doutorzi-
nho que quero ver a coisa como é que, quanta infelicidade essa fábrica de papel. Doutorzinho escute
bem vê a coisa como é que os pobres passam com café (sic)”.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 109


Os versos feitos por dona Irene falam de política e tentam orientar os moradores da locali-
dade para a realidade social e é dessa forma que os líderes espirituais acabam se tornando
também lideranças política. Nos versos abaixo descreve a política nacional, da Região, ho-
micídios e casos de acidentes na estrada próxima a Saturnino Braga. Uma espécie de re-
portagem sobre os acontecimentos de seu tempo.

“Na estrada do Axéu se deu um causo maneiro. Um caminhão de Coca-Cola em uma Rural bateu. Eu
vou falar com Zé Barbosa para ele ter compaixão para fazer uma estrada reta de Donana a Santo
Antônio”.
“No dia três de outubro teve uma revolução mataram o chefe político por causa da eleição. Chora
toda família, não há dinheiro que pague. Leôncio perdeu a vida por causa de Getúlio Vargas”.

“Na estrada do Espinho se deu um causo maneiro. Na rompida do caminho apertaram Batista no
dedo. Ai meu Deus que coisa triste, meu Deus que coisa feia. Até hoje não descobriu a máscara ver-
melha”.

“Getúlio Dornelles Vargas foi grande herói varonil, para pobreza foi pai, enfrentou guerra a fuzil, mor-
reu e deixou seu nome no coração do Brasil. A classe proletária deu apoio e proteção, libertou o em-
pregado da cadeia e do patrão. Por isso todos operários traz (sic) ele em seu coração”.

O país inteiro sentiu se cala e não diz, mas no coração dos pobres seu nome deixou raiz. Pelas faltas
que Getúlio tem feito em nosso país. Para o burguês foi amigo e a pobreza foi pai. O país inteiro sen-
te desta lembrança não saí.
“Enquanto existir Brasil o nome dele não caí”.

As rezadeiras continuam trabalhando por todos os lados, nos bairros mais escondidos e
ruas mais remotas. Na localidade de Xexé, pertencente ao distrito de Farol, Tereza Silva
Santos, de 67 anos, atende todos os dias, a mais de 20 pessoas nos fundos de sua casa,
onde construiu um pequeno centro espírita de umbanda para abrigar seus inúmeros santos
e atender aqueles que procuram pela paz espiritual. No altar, uma mistura de devoção ao
catolicismo e a prática da umbanda. A continuidade do sincretismo religioso dos tempos da
escravidão. As imagens de São Jerônimo, Santa Bárbara, São Pedro, São Cosme e Dami-
ão, São João Batista, Santo Antônio, São Sebastião, São Lázaro e São Jorge, ficam juntos
aos caboclos e a adorada Iemanjá. Todos dividem um pequeno altar e recebem adorações
em suas datas especiais. Junto com sua irmã, Olga Benedita Silva, 66 anos, Terezinha, co-
mo gosta de ser chamada, atende aos enfermos, sem ter dia e nem horário marcado.

“Fazem fila aqui em casa para conversar comigo. Se Deus me deu de graça tenho que ajudar aque-
les que precisam. Comecei a me dedicar a isso quando minha filha tinha seis anos, ela sumia de den-
tro de casa, ficava perturbada. Levei em tudo quanto foi médico e nada deu jeito, até que uma entida-
de conversou comigo e me pediu ajuda, em troca curou minha filha. Hoje, ela é feliz e tem uma vida
normal como todo mundo”.

Contabilizar todos os casos que Terezinha resolveu fica difícil, entre eles, ela se lembra do
caso de um menino, de seis anos, que estava com anemia profunda e, totalmente desenga-
nada pelos médicos, quando procurou a rezadeira. Depois de muita oração e de beber al-
gumas ervas o menino ficou bom, precisando apenas de uma transfusão de sangue para
melhorar por completo. De acordo com Terezinha, a correria do dia-a-dia é gratificante
quando consegue resolver o problema das pessoas que chegam até sua casa. “Faço tudo
em nome da caridade, se eu puder ajudar é só vir até minha casa simples que será com
muita satisfação que atenderei”.

110 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


7. CULTURA

É preciso situar a cultura no coração da política nos nossos países;


porque o tempo da cultura é o tempo da cidadania.
No âmbito econômico, impulsionar a cultura implica modernizar o tecido produtivo dos nos-
sos países, acabar completamente com o modelo da depredação e avançar em direção a
um modelo mais centrado na inteligência e na sensibilidade.
10
(Ángeles González-Sinde Reig, 2009).

A economia da cultura, que envolve produção, circulação e consumo de produtos e serviços


culturais, já responde por 7% do PIB mundial. Os produtos culturais são o principal item da
pauta de exportações dos Estados Unidos e representam 8% do PIB da Inglaterra. O setor
vem ganhando atenção11.

O Brasil tem evidente vocação para tornar a economia da cultura um vetor de desenvolvi-
mento qualificado, em razão de nossa diversidade e alta capacidade criativa. Temos impor-
tantes diferenciais competitivos, como a excelência dos produtos, a disponibilidade de pro-
fissionais de alto nível e a facilidade de absorção de tecnologias. O setor depende pouco de
recursos esgotáveis e tem baixo impacto ambiental. Gera produtos com alto valor agregado
e é altamente empregador. Seu desenvolvimento econômico vincula-se ao social pelo seu
potencial inclusivo e pelo aprimoramento humano inerente à produção e à fruição de cultu-
ra.12

A segunda pesquisa lançada pelo convênio MinC-IBGE, Pesquisa de Informações Básicas


Municipais (a Munic2006); levantou dados relativos à presença da cultura nas 5.564 cida-
des brasileiras. O investimento público dos municípios em cultura ainda é bastante restrito,
não ultrapassa a média de 0,9% do orçamento total das prefeituras (proporção praticamente
idêntica ao orçamento do MinC, frente ao orçamento da União). Recife atualmente é uma
das poucas cidades onde esse índice é mais elevado, chega próximo ao recomendado pela
UNESCO (2%).

A atividade cultural mais presente nos municípios é o artesanato (64,3%), seguida pela dan-
ça (56%), bandas (53%) e a capoeira (49%), esta última além da expressiva presença no
país é, ao lado da música, um dos segmentos que maior interesse desperta no exterior. Os
festivais apresentam-se como a mais dinâmica forma de difusão cultural no país: 49% das
cidades contam com festival de cultura popular, 39% com festival de música, 36% com festi-
val de dança, 26% com festival de teatro e 10% com festival de cinema.

Para Sind Reig, no âmbito pessoal, incentivar a cultura é investir na liberdade, é dotar cada
cidadã e cada cidadão de mais ferramentas para que se desenvolvam individualmente. Mas,
se a cultura nos cultiva, é não somente porque aumenta as nossas capacidades, mas tam-
bém porque nos nutre de valores imprescindíveis, como a responsabilidade e o compromis-
so, o esforço e a tolerância. Ela altera o modo como nos vemos e, ao fazê-lo, melhora nossa
autoestima e, ademais, transforma nossa maneira de ver os outros. Por essa mesma razão,
no âmbito cívico, incentivar a cultura significa fortalecer a convivência, reforçar o respeito e
lutar contra todas as formas de discriminação.

10
ÁNGELES GONZÁLEZ-SINDE REIG , roteirista e diretora de filmes, e ministra da cultura da Espanha.
11 Global Entertainment and Media Outlook 2004-2008″. Price Waterhouse Coopers, 2004
12
Economia da Cultura - Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, 3/2/2008

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 111


7.1 Políticas Federais de Cultura

Dentro do Programa Cultura Viva do Governo Federal, as Regiões Norte e Noroeste Flumi-
nense foram contempladas com 13 Pontos de Cultura no Norte e 9 Pontos na Noroeste.
Cada projeto recebe a quantia de R$ 180.000,00 para desenvolver suas atividades num
período de 4 anos. Ao todo, o Estado do Rio de Janeiro recebeu 187 Pontos de Cultura no
último Edital, os quais se somaram aos 75 que já se encontravam em andamento. Neste
Edital foi considerada a distribuição dos recursos de acordo também com o número de habi-
tantes por região. As Tabelas (3 e 4 ) listam as instituições e projetos contemplados no edital
de 2009.

Tabela 3 - Região Noroeste Fluminense, Relação de Pontos de Cultura, 2009

Projeto Instituição Município


Associação Grupo Sócio Cultural
De Cara na Cultura Miracema
Cara da Rua
Associação de Bordadeiras de
Bordando o Futuro Itaperuna
Itaperuna
Associação Itaocarense de Artis-
Centro Cultural AIA Itaocara
tas
Santo Antônio
Dó, Ré, Mi, Faz Arte e Cultura Sociedade Musical Lyra de Arion
de Pádua
Cooperativa Agrária do Vale do Bom Jesus do
Festival de Chorinho e Sanfona de Rosal
Itabapoana Itabapoana
Itaperuna de Todos os Credos Associação Religiosa de Esino Itaperuna
Mambiação - Meio Ambiente, Arte e Ação na
Associação de Moradores e Pro-
Comunidade Rural da Microbacia do Marim- Italva
dutores Rurais de Marimbondo
bondo
Plantando Idéias e Colhendo Soluções: Res-
São José de
gate do Histórico Cultural da Comunidade Associação Cantagalo
Ubá
Rural de Vila de Campo Grande
Ponto de Cultura Sementes da Capoeira Associação Caminho da Capoeira Porciúncula
Projeto Atenas do Noroeste Fluminense Grupo Nativo de Teatro Natividade
Associação Educacional Cultural
Religar Laje do Muriaé Assistencial e Pré-Profissionali- Laje do Muriaé
zante
Associação de Desenvolvimento
Talentos da Roça Cultura e Cidadania em
Comunitário em Purilândia - Porciúncula
Purilândia
ASPUR

112 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Tabela 4 - Região Noroeste Fluminense, Relação de Pontos de Cultura, 2009
Projeto Instituição Município
Grupo de Desenvolvimento
Arte de Fibra Tecnológico, Harmonia, Homem Quissamã
Habitats – 3HH
Casa de Cultura Hip Hop Centro Integrado de Estudos do
Macaé
CIEM H² Movimento Hip Hop
APRAZUP - Associação
Assentamento dos Produtores Rurais
Campos
Multicultural do Projeto de Assentamento
Zumbi dos Palmares
Cavalgando Saberes, Dedilhando Fazeres:
Ass. de Moradores e Amigos
Ação de Salvaguarda da Cultura Popular da Campos
de Santo Amaro - AMASA
Baixada Campista
Associação de Desenvolvimento
Cultura Ambiental Meio Ambiente Arte e Cul-
Comunitário de Valão Cardoso Moreira
tura
dos Pires
Implantação do Centro de Cultura e Memória APRAAF - Associação dos
da Microbacia do Rio Ururaí: Cultura, Meio Produtores Rurais do Assenta- Campos
Ambiente e Cidadania mento Antonio de Farias
Pro Beach de Vólei de Campos- São Francisco de
Jongo de Barrinha
PBVC Itabapoana
CREDEQ - Centro de Recupera- São Francisco de
Mana Chica de Gargaú
ção de Dependência Química Itabapoana
Missão Kerigma. Centro de For-
Mestre Fantoche Escola Macaé
mação do Artista Cristão- EFAC
Associação de Moradores
São Francisco de
Nossa Gente, Nossa Cultura e Produtores Agrícolas
Itabapoana
de Carrapato
Confederação Brasileira de
Ponto de Cultura Fazenda Machadinha Quissamã
Caminhadas Anda Brasil
Resgate da Memória Musical de São João Centro Musical e Cultural União São João
da Barra dos Operários da Barra
Associação Cultural Teatral Nós
Sorriso de Criança
na Rua

7.2 Política Estadual de Cultura


O "Projeto de Inventário de Bens Culturais Imóveis – Caminhos Singulares do Estado do Rio
de Janeiro" é resultado de uma parceria entre o SEBRAE-RJ, a UNESCO-Brasil e a Secre-
taria de Estado de Cultura, através do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, INEPAC.
Dentre seus objetivos o projeto pretende resgatar parte da história social, econômica e cultu-
ral do Rio de Janeiro e que contribuiu para formação do nosso Estado. O inventário identifi-
ca os vestígios materiais sobreviventes ao processo de ocupação do território Fluminense e
registra os elementos arquitetônicos e paisagísticos que constituem o "Patrimônio Cultural"
edificado pelo homem ao longo dos séculos. Além de relevante pesquisa histórica desenvol-
vida e disponibilizada no site.13 São eles os caminhos:
• Caminhos do Ouro;
• Caminhos do Café;
• Caminhos do Sal;
• Caminhos do Açúcar;
• Caminhos Urbanos.
Os Caminhos do Café se detém no vale do rio Paraíba do Sul, na Região Sul do Estado e
não contempla, por exemplo, os municípios de Porciúncula e Varre-Sai, da Região Noroeste

13
http://www.sebraerj.com.br
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 113
que se dedicam à cafeicultura. No entanto, Anexo figura o extrato com as fazendas que fa-
zem parte do Projeto “Inventário de Bens Culturais Imóveis Desenvolvimento Territorial dos
Caminhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro”, INEPAC, 2004, do Ciclo do Café, situa-
das na Região Noroeste Fluminense.

Os Caminhos do Açúcar abrangem a Região Norte Fluminense.

7.3 Políticas Municipais de Cultura


A existência de uma política cultural no município é um dos principais indicadores da impor-
tância que o setor tem do ponto de vista da sua gestão. Essa é a tarefa mais relevante e
indicadora do compromisso com que se encara a Cultura como atividade essencial integran-
te do viver da população. Dos municípios brasileiros, 42,1% não têm uma política cultural
formulada, o que significa dizer que a Cultura ainda não está incluída na agenda das políti-
cas públicas de uma alta porcentagem de governos municipais.

A formação de pessoal voltada especificamente para atender as demandas da Cultura é


uma das maneiras eficazes para incluí-la na agenda das políticas públicas locais e regio-
nais. Os 57,9% de municípios que afirmam ter uma política cultural revelam, pelo menos, a
compreensão de que Cultura não se resume a promoção de eventos (um reducionismo fre-
quente e equivocado).14

O organismo gestor da Cultura, no ambiente municipal, tem como responsabilidade, em


princípio e idealmente, formular e programar uma política a partir da realidade do município,
não apenas em termos de seus valores, atitudes, crenças, mitos, imaginário, entre outros,
mas também considera a sua realidade socioeconômica. Além de se estribar nas caracterís-
ticas do município, esta política deve, como qualquer outra política pública, estabelecer prio-
ridades e metas em curto, médio e longo prazo, determinar pessoas, instrumentos e mobiliá-
rios necessários assim como prever mecanismos de avaliação de resultados.

Do ponto de vista das demandas específicas do setor cultural, estas implicam, dependendo
da complexidade do universo cultural do município, na implementação e promoção de insti-
tuições de formação e aperfeiçoamento, na promoção de sistemas específicos de produção
cultural, na criação de espaços de realização e de difusão cultural, na implementação de
programas, projetos e bases institucionais de ação cultural, na criação instrumentos de fi-
nanciamento para os produtores culturais e, ainda, na criação de legislação e regulação que
viabilize a operação, proteção e o incentivo às atividades culturais.

Tem-se então um leque que, sem exaurir o tema, passa por questões que abrangem a infra-
estrutura, a formação tanto de artistas e criadores, quanto de gestores, de empreendedo-
rismo, estímulo à criação, produção, a difusão e circulação, preservação dos patrimônios
cultural, histórico e ambiental em todas suas dimensões. O grau de complexidade do setor
cultural deixa entrever a necessidade de desenhos e soluções institucionais que lhe corres-
pondam.

7.3.1 Apreciação de Aspectos Estruturantes da Cultura nas Regiões


Foram selecionadas oito (8) dimensões que integram o Índice de Desenvolvimento Cultural,
IDC, dos municípios das Regiões Norte e Noroeste com o objetivo de se construir uma pri-
meira apreciação dos aspectos mais estruturantes da situação da Cultura nas Regiões No-
roeste e Norte Fluminense.

14
Perfil dos Municípios Brasileiros 2006 /Cultura, IBGE.
114 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Organização

No que diz respeito à estrutura que as Municipalidades usam para gerir a Cultura, 8 em 13
do municípios do Noroeste e 4 em 9, do Norte possuem um organismo dedicado. Ainda há
uma parcela importante que tem a Cultura junto com a Educação, enquanto um município,
Bom Jesus do Itabapoana informou não ter uma área para gerir a Cultura.

Fundo Municipal

Apenas 4 municípios da Região Norte possuem um Fundo Municipal de Cultura, o que lhes
permite alocar recursos e desenvolver atividades regulares, contínuas, que consubstanciem
os seus planos e programas de desenvolvimento da Cultura.

Participação da Sociedade

De maneira análoga à organização, os números se repetem quanto à participação da socie-


dade nas atividades culturais. Habitualmente, tal participação é feita através dos Conselhos
Municipais ou de Conselhos Consultivos de Fundações. Além do seu papel regulamentar,
estes Conselhos, muitas vezes, exercem função de análises dos projetos encaminhados aos
Fundos, recomendando aos decisores, o que deve ser feito em relação aos pedidos recebi-
dos.

Instalações Específicas

As Regiões possuem, em geral, um número limitado de instalações específicas para o de-


senvolvimento das atividades culturais. O município que obteve a melhor pontuação foi Mi-
racema na Região Noroeste, enquanto a menor ficou com o município de Italva. A segunda
melhor pontuação foi a de Macaé, na Região Norte.

Calendário Cultural

Com exceção de Laje do Muriaé, Macaé e São Jose de Ubá que informaram não possuir,
todos os demais respondentes trabalham com Calendário de Eventos anuais, o que sinaliza
para uma orientação que ainda valoriza a Cultura pela promoção de eventos. No entanto,
deve-se considerar que os eventos preenchem grande parte da agenda de lazer da maioria
dos municípios de ambas as Regiões.

Infra-estrutura para o Turismo

Carapebus, Macaé e São Fidelis, na Região Norte mostraram melhor infra-estrutura turística
entre os respondentes. Há vários municípios com instalações muito limitadas e com quali-
dade ainda essencial.

Legislação e Patrimônio, Tombamento

Em relação à existência de legislação voltada para a Cultura, 4 em 13 municípios na Noro-


este e 6 em 9, na Norte possuem. Em simultaneidade, 4 em 13, na Noroeste e 3 m 9, na
Norte, praticam o tombamento de bens que constituem o seu patrimônio cultural, histórico e
ambiental.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 115


Tabela 5 – Região Noroeste Fluminense, Extrato do Índice de Desenvolvimento Cultural – IDC

Região Noroeste Fluminense, Extrato do Índice de Desenvolvimento Cultural - IDC

ORGANIZAÇÃO FUNDO PARTICIPAÇÃO INSTALAÇOES CALENDÁRIO LEGISLAÇÃO INFRA-ESTRUTURA


MUNICÍPIOS TOMBAMENTO
ESTRUTURAL MUNICIPAL SOCIEDADE ESPECÍFICAS CULTURAL PATRIMÕNIO TURÍSTICA

Aperibé 1,5 0 2,5 0,14 2,0 0 0 1,8


Bom Jesus do Itabapoa-
0,5 0,5 2,5 0,45 2,0 0 0 2,7
na
Cambuci s/i* s/i s/i s/i s/i s/i s/i s/i
Italva 3,0 0 2,5 0,1 2,0 0 0 2,7
Itaocara 3,0 0 0 0,21 2,0 0 0,5 2,7
Itaperuana s/i s/i s/i s/i s/i s/i s/i s/i
Laje do Muriaé 3,0 0 2,5 0,24 0 2,0 0,5 1,8
Miracema 1,5 0 2,5 0,62 2,0 2,0 0,5 1,5
Natividade 1,5 0 2,5 0,12 2,0 0 0 2,7
Porciúncula 3,0 0 0 0,41 0 0 0 1,8
Santo Antõnio de Pádua 1,5 0 2,5 0,07 2,0 2,0 0,5 2,7
São Jose de Ubá 1,5 0 0 0,24 0 0 0 0,6
Varre – Sai 1,5 0 2,5 0,21 2,0 2,0 0 2,7
s/i* – sem informação

116 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Tabela 6 – Região Norte Fluminense, Extrato do Índice de Desenvolvimento Cultural – IDC

Região Norte Fluminense, Extrato do Índice de Desenvolvimento Cultural - IDC

MUNICÍPIOS ORGANIZAÇÃO FUNDO PARTICIPAÇÃO INSTALAÇOES CALENDÁRIO LEGISLAÇÃO TOMBAMENTO INFRA-ESTRUTURA


ESTRUTURAL MUNICIPAL SOCIEDADE ESPECÍFICAS CULTURAL PATRIMÕNIO TURÍSTICA

Campos dos Goytacazes s/i s/i s/i s/i s/i s/i s/i s/i
Carapebus 3,0 0 2,5 0,45 2,0 0 0 3,0

Cardoso Moreira 3,0 2,5 2,5 0,39 2,0 2,0 0,5 1,8
Conceição de Macabu 1,5 0 1,0 0,41 2,0 2,0 0 1,8
Macaé 3,0 0 0 0,59 0 0 0 3,0
Quissamâ 3,0 2,5 2,5 0,42 2,0 2,0 1,0 1,5
São Fidelis 3,0 2,5 2,5 0,31 2,0 2,0 0 3,0
São Francisco de Itabapoana s/i s/i s/i s/i s/i s/i s/i s/i
São João da Barra 3,0 2,5 0 0,32 2,0 2,0 0,5 2,7
s/i* – sem informação

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 117


7.4 Corredor Memória de Campos

“Um grupo de turistas foi reunido, logo no início da manhã, em um hotel da cidade. Estava
pronto para fazer o circuito do Corredor Memória de Campos. O passeio está incluído no
pacote comprado em uma operadora que, sem muito entusiasmo, recentemente acrescen-
tou a cidade em seus roteiros turísticos, mas vinha se surpreendendo com a procura.

O micro-ônibus afastou-se da área de hotéis e seguiu em direção à Rodovia do Açúcar.


Uma turista cochichou algo sobre o simpático nome da estrada que, de acordo com o mapi-
nha distribuído, dá acesso a outra de nome também curioso e com forte vínculo local: a Ro-
dovia dos Ceramistas.

A propósito, gostoso de ouvir é também o nome da localidade onde fizeram a primeira para-
da. Donana. Foi para uma rápida visita à capela Nossa Senhora do Rosário, construída em
meados do século XVII por nobres portugueses ainda no período de domínio Asseca.

Depois, uma parada em uma usina de açúcar, em Goitacazes. Os turistas ficaram encanta-
dos com as máquinas gigantes, com o cheiro de melaço, com a rotina dos operários, com o
processo de feitura do álcool, com as explicações dos técnicos, com as peças do museu do
açúcar e com a mostra permanente de doces típicos.

A maioria dos integrantes do grupo nunca tinha visto um chuvisco, o doce de origem portu-
guesa fabricado há mais de dois séculos em Campos. Compotas e mais compotas da ver-
são em calda, e caixas e caixas da versão cristalizada, foram compradas ali mesmo depois
da sessão de degustação.

Ainda em Goitacazes, eles conheceram a igreja de São Gonçalo e a de São Benedito. Visi-
taram também a Casa de Cultura José Cândido de Carvalho, que antecipa explicações so-
bre a obra do autor que os turistas ainda iriam rever adiante no parque do Coronel e do Lo-
bisomem, construído em terras imaginárias do coronel Ponciano de Azeredo Furtado, nas
cercanias de Santo Amaro.

Passaram pelo Solar do Colégio e ouviram as histórias do lugar e da heroína Benta Pereira,
ali sepultada. Retomaram a Rodovia do Açúcar e pararam em Campo Limpo, para conhecer
outra capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário, construída por escravos no século
XVIII. Em seguida, passearam pelos corredores do Mosteiro de São Bento, erguido pelos
beneditinos no final do século XVII.

No final da manhã, um restaurante com vista para a vasta planície recebeu a todos para o
almoço e para um breve descanso em redes espalhadas pelo varandão do antigo solar de
fazenda restaurado recentemente. Renovavam as energias para a longa tarde que os espe-
rava.

Ainda era preciso conhecer a estação de Baixa Grande, a loja do pólo ceramista, um alam-
bique, o museu do petróleo e o da pesca, o farol de São Thomé, além do já citado parque do
Coronel.

Ficção? É. Mas toda ficção tem um pouco de verdade e de esperança.”

Fonte: disponível em:< http://www.monitorcampista.com.br/>Acesso em 22/12/2009. Artigo publicado


na edição de 11 de janeiro de 2009.

118 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


8. ARTESANATO

“Artista que não seja bom artesão, não é que não possa ser artista;
simplesmente, ele não é artista bom. E desde que vá se tornando
verdadeiramente artista, é porque concomitantemente está se
tornando artesão.”

Mário de Andrade

8.1 Etimologia
No sentido etimológico, Chiti (2003) considera que artesanato deriva de artesão, de artífice,
de trabalho feito a mão, transmitido por um mestre de arte e ofício para aprendizes. A pala-
vra artesão foi empregada na Antigüidade, Idade Média, Renascimento, Idade Moderna e
Industrial. Com significados similares, na atualidade contemporânea a produção artesanal
ressurge como uma importante função laboral e ocupacional, permitindo que excluídos do
mercado de trabalho formal criem novas ocupações para a geração renda.

8.2 Conceito
A partir do conceito proposto pelo Conselho Mundial de Artesanato, na cidade de Bogotá,
Colômbia, em 1996 pode-se conceituar artesanato através da seguinte definição: artesanato
é toda atividade produtiva que resulte em objetos e artefatos acabados confeccionados ma-
nualmente ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, des-
treza, qualidade e criatividade (SEBRAE, 2004, p.21).

As principais características do artesanato são utilidade, funcionalidade e seriação em pe-


quena escala. Tais características são aceitas em diferentes regiões, países e continentes, e
permanecem inquestionáveis ao longo do tempo (COLOMBRES, 1997). O que diferencia o
artesanato produzido em determinado território, conferindo-lhe exclusividade, é, basicamen-
te, a forma de conceber e produzir artefatos, de acordo com a interpretação da cultura e da
trama da história local, favorecida pela utilização de matéria-prima disponível no território.

O artesanato não é nacional, é local. Indiferente às fronteiras e aos sistemas de governo, ele sobre
viveu a repúblicas e impérios. Os artesãos não têm pátria: suas verdadeiras raízes estão nas vilas
nativas, ou mesmo em um único quarteirão, ou em suas famílias. O artesão não se define em termos
de nacionalidade ou de religião. Ele não é fiel a uma idéia, nem mesmo a uma imagem, mas a uma
disciplina prática: seu trabalho.

(Paz, 2006, p.88)


8.3 Histórico do Artesanato
A história do artesanato confunde-se com a história da humanidade e surge desde que o ser
humano, no período neolítico (CHITI, 2003), passou a criar e a desenvolver artefatos para
garantir sua sobrevivência e bem-estar individual e coletivo, produzindo objetos com suas
próprias mãos. O artesanato também está vinculado, por um fio invisível, ao mundo do tra-
balho, que assumiu diferentes formatos desde a Pré-história até os nossos dias
(CARDOSO, 2003). Portanto, para conceituar o artesanato com um mínimo de racionalidade
é preciso mergulhar na odisséia humana e fazer uma nova leitura da história, que determi-
nou culturas; dos medos, que impulsionaram mudanças; das estratégias de sobrevivência;
dos desafios de aprendizagem; das formas de dominação e divisão do trabalho; e, finalmen-
te, dos artifícios para o desenho e a construção do próprio tempo.

Historicamente o artesanato brasileiro nasce de várias culturas: desde a cultura indígena, a


cultura africana, a cultura dos imigrantes europeus e asiáticos, a cultura norte - americana e
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 119
ultimamente a influência da globalização. Todas essas culturas interagem em nosso país,
combinando-se e transformando-se constantemente. Sobre a composição eclética da nossa
herança artesanal, escreveu o poeta e crítico de arte Ferreira Gullar, no livro do arquiteto Sig
Bergamin, Adoro o Brasil (Bergamin, 2003).

As fontes básicas dessa herança artesanal são as mesmas


da nossa etnia: o artesanato indígena que está na base do
trabalho com barro, palha, fibras e madeiras; o artesanato
português que trouxe consigo outras heranças culturais,
ligadas à arquitetura civil e religiosa e às festas populares;
e, finalmente a herança do negro, quase que restrita a
instrumentos musicais e objetos rituais, que os diversos
cultos africanos a preservaram até os dias atuais. A essa
herança básica somaram-se, ao longo de décadas,
artesanatos trazidos por imigrantes de diferentes culturas

(Bergamin, 2003, p.39).

Na atualidade, as necessidades econômicas têm induzido o crescimento do número de pes-


soas que vivem do artesanato. Despojados dos seus meios de produção, como a terra, sub-
sistem confeccionando objetos muitas vezes desprovidos de valor estético ou econômico,
mas que suprem, ainda que de maneira precária, suas necessidades materiais e existenci-
ais (COLOMBRES, 1997). O artesanato tradicional exprime um valioso patrimônio cultural
acumulado por um artesão ou comunidade, ao lidar com técnicas tradicionais transmitidas,
muitas vezes, de geração a geração, e com matéria-prima regional. Por isso, o artesanato é
um dos grandes meios de identificação cultural de uma comunidade (Borges, 2003).

O artesanato não quer durar milênios nem está possuído da


pressa de morrer prontamente. Transcorre com os dias, flui
conosco, se gasta pouco a pouco, não busca a morte ou tampouco
a nega, apenas aceita esse destino. Entre o tempo sem tempo do
museu e o tempo acelerado da tecnologia, o artesanato tem o
ritmo do tempo humano. É um objeto útil que também é belo; um
objeto que dura, mas que um dia, porém se acaba e resigna-se a
isto; um objeto que não é único como uma obra de arte e pode ser
substituído por outro objeto parecido, mas não idêntico. O
artesanato nos ensina a morrer, e fazendo isto, nos ensina a viver.
15
Octávio Paz
8.4 Os Números do Artesanato no Brasil
No aspecto político-institucional, tem sido grande o esforço para induzir a participação de
sujeitos sociais na discussão de estratégias de desenvolvimento. A criação das chamadas
“novas institucionalidades”, personificadas na forma de conselhos, fóruns, governanças,
pactos sociais, associações, entre outras, tem despertado a atenção para as inúmeras pos-
sibilidades de atuação de pessoas e organizações nos processos decisórios de políticas de
desenvolvimento territorial.

No ano de 2002, o MDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, realizou


uma pesquisa de mapeamento do segmento artesanal com 210 associações e cooperativas
de artesãos (SEBRAE, 2004-2005). Essa pesquisa revelou que o valor de 28 bilhões de
reais é movimentado pelo segmento artesanal. Esse valor corresponde à metade do que

15
Escritor e diplomata mexicano, Prêmio Nobel em 1991.
120 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
faturam todos os supermercados do país, e encosta-se em uma das mais tradicionais indús-
trias brasileiras, a automobilística, que detém pouco mais de 3% do PIB nacional. Para che-
gar a esses números, o Governo Federal levou em conta o fato de existirem cerca de 8,5
milhões de artesãos no país, e que cada um deles recebe em média, de dois a três salários
mínimos por mês, com a venda de seus produtos.

Outro dado importante na pesquisa é que, enquanto na indústria automobilística é necessá-


rio o investimento de 170 mil reais para gerar apenas um posto de trabalho, no artesanato
com 50 reais é possível criar um posto de trabalho para um artesão.

Gráfico 1 - Percentual de Municípios com Atividade Artesanal por Tipo, Brasil, 2006

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais,


Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2006.

Os grupos de artesanato, dentre as atividades artísticas e culturais no Brasil, é a mais pre-


sente, atingindo 64,3% dos municípios. O bordado é a atividade artesanal mais representati-
va nos municípios brasileiros, encontrando-se em 75,4% deles, seguida das atividades com
madeira (39,7%) e artesanato com barro (21,5%). Artesanato com material reciclável
(19,5%).

8.5 Políticas Públicas para o Artesanato

Políticas públicas de incentivo ao artesanato não são recentes no Brasil. O Decreto no


80.098, de 8 de agosto de 1977, instituiu o Programa Nacional de Desenvolvimento do Arte-
sanato (PNDA), sob a supervisão do Ministério do Trabalho, com a finalidade de coordenar
as iniciativas de promoção do artesão, de produção e comercialização do artesanato brasi-
leiro. Em 21 de março de 1991, novo decreto revoga as disposições anteriores e institui, no
âmbito do Ministério da Ação Social, o Programa do Artesanato Brasileiro (PAB). A finalida-

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 121


de era coordenar e desenvolver atividades de valorização do artesão, com a elevação do
seu nível cultural, profissional, social e econômico. Além de promover o artesanato, dispu-
nha sobre o desenvolvimento de empresa artesanal, contando com recursos orçamentários
do Ministério responsável. Hoje, o PAB está sob a responsabilidade do Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e mantém as diretrizes de fortalecer a pro-
dução artesanal e estimular sua comercialização, como importante atividade econômica.

Encontra-se em andamento, nas duas Regiões, o Programa de Artesanato do Estado do Rio


de Janeiro, que é coordenado pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico,
Energia, Indústria e Serviços (SEDEIS).

O objetivo é desenvolver o artesanato no Estado, permitindo a geração de mais emprego e


renda, melhorando a qualidade de vida dos artesãos e de toda a cadeia produtiva do setor.
Entre as ações do programa estão:
• cadastramento de artesãos, para que se tenha um registro atual do total aproxi-
mado existente no Estado, o que vai ajudar na melhoria da elaboração de políti-
cas públicas;
• articulação com municípios e artesãos para participação em feiras, exposições e
fóruns no território Fluminense e em outros Estados;
• exposição de trabalhos na sede do Programa de Artesanato do Estado do Rio de
Janeiro, em Botafogo, na Cidade do Rio de Janeiro;
• aplicação no Estado das diretrizes do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB),
do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Consultorias, cursos, oficinas, promoção e participação em eventos, estas ações, visando a


difusão do conhecimento e acesso ao mercado, foram firmadas, em 2009, por diversas enti-
dades do Norte e Noroeste para beneficiar cerca de 500 artesãos, de 17 municípios. Todas
estão previstas no Projeto de Artesanato do Norte e Noroeste Fluminense, dentro da meto-
dologia de Gestão Estratégica Orientada para Resultados, GEOR.

Além das ações a serem realizadas até 2011, o documento estabelece metas de aumentar
a faixa de renda dos artesãos, com a venda dos produtos, em 5%, até dezembro de 2009,
10%, até dezembro de 2010, e 15%, até dezembro de 2011. E também prevê aumento do
número de pessoas diretamente envolvidas nos grupos de produção artesanal em 5%, até
2009, 10%, até dezembro de 2010, e 15%, até dezembro de 2011.

São parceiros do projeto o SEBRAE/RJ, as Prefeituras de Itaperuna, Santo Antônio de Pá-


dua, Bom Jesus do Itabapoana, Miracema, Porciúncula, Natividade, Varre-Sai, São José de
Ubá, Aperibé, Cambuci, Itaocara, Italva, Laje do Muriaé, Campos dos Goytacazes, Quissa-
mã, Macaé e São Francisco do Itabapoana.

Uma das preocupações do programa é o desenvolvimento com responsabilidade social. É


incentivada a valorização do aproveitamento de matérias-primas locais - o que também con-
tribui para a criação de identidades regionais, um fator que agrega valor ao produto e princi-
palmente, a utilização de materiais reciclados. O incentivo a tipos de artesanato de acordo
com vocações regionais também contribui para a preservação e desenvolvimento das cultu-
ras locais.

Ainda dentro das ações do Estado na Região para promover o artesanato local, o SEBRAE
mantém, na cidade de Itaperuna e Natividade, o Programa Empreendedorismo Social do
SEBRAE/RJ, que promove a geração de trabalho e renda através da valorização da Cultura
local e contribui para a inclusão social. Dois grupos de artesãos, Bordando o Futuro (Itape-

122 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


runa) e Grupo de Bonecas (Natividade), foram beneficiados com esse Projeto, além de outro
grupo produtor de banana-passa, em Porciúncula, na segunda quinzena do mês de julho de
2009.

O SEBRAE ainda mantém o Projeto “Caminhos Singulares do Artesanato no Noroeste Flu-


minense” que tem por objetivo gerar trabalho e renda, qualificar a mão-de-obra e organizar o
setor para resultar em produtos atrativos e de qualidade, que traduzam a identidade cultural
da Região. Também são parceiros no projeto o PAIF, a EMATER/RJ e as secretarias muni-
cipais de cultura, turismo e ação social dos municípios envolvidos e o Projeto Empreender.

Através desse Projeto, 40 artesãos do Noroeste Fluminense participaram de uma caravana


técnica no ano de 2009, para visitar a XVI Feira Nacional de Artesanatos, em Belo Horizonte
(MG), a maior do Setor na América Latina. A proposta é que os artesãos do Projeto estejam
unidos e trabalhando juntos, por meio da metodologia GEOR.

Em 2003, o SEBRAE/RJ instituiu o “Projeto de Inventário de Bens Culturais Imóveis – Cami-


nhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro”. O trabalho foi desenvolvido em parceria com
a UNESCO-Brasil e a Secretaria de Estado de Cultura, através do Instituto Estadual do Pa-
trimônio Cultural, INEPAC.

Dentre seus objetivos, está a busca de informações para integrar ações de turismo, artesa-
nato e cultura através da identificação dos vestígios de matérias sobreviventes ao processo
de ocupação do território fluminense. Isto pressupõe o reconhecimento e registro daqueles
elementos – arquiteturas e paisagens - que constituem o “Patrimônio Cultural” construído
pelo homem, ao longo dos séculos. A visão que se pode ter do Rio de Janeiro a partir do
entrelaçamento de atividades econômicas superpostas no tempo e no espaço, como a ex-
ploração do sal, a implantação da cultura do açúcar, os caminhos de circulação e escoa-
mento do ouro, e finalmente a economia do café, é realmente singular. Todas estas ativida-
des estimularam modelos de produção, histórias cotidianas e estilos de vida particulares,
tendo, no seu conjunto, a contribuição de diversas etnias – do homem branco, negro e índio.
A miscigenação das raças e as transformações socioculturais decorrentes contribuíram e
ainda podem servir de insumos, para o desenvolvimento de técnicas artesanais e a produ-
ção de artefatos com identidade territorial.

A cultura, tecida ao longo dos tempos nos Caminhos Singulares do Rio de Janeiro, apresen-
ta vestígios tanto de bem material quanto imaterial que podem ser observados à luz da ico-
nografia, da paisagem natural e construída. Esses elementos são importantes para o desen-
volvimento de um artesanato original, que possa refletir a essência de determinado lugar ou
território, como uma paisagem cultural. Assim sendo, os Caminhos Singulares do Rio de
Janeiro, com a agregação dos Caminhos Urbanos, cumprem a importante função de resga-
tar a trama da história e os fragmentos culturais que alimentam o desenvolvimento das ca-
deias de habilidades produtivas do artesanato fluminense.

Os Caminhos do Açúcar assimilam a infra-estrutura construída para o escoamento da sua


produção, a exemplo de pontes, trajetos de sistemas ferroviários e hidroviários, bem como
dos leitos carroçáveis, por onde era feito anteriormente o escoamento do açúcar. Dessa
forma, a rede da ocupação do espaço físico também pode ser utilizada como uma importan-
te fonte de informação e inspiração para o desenvolvimento da produção artesanal, na atua-
lidade.

O Governo Federal, através Ministério da Cultura, lança editais para a distribuição de recur-
sos para a promoção dos valores culturais dentro do programa Cultura Viva. No Edital de
2009, as Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro somaram 25 novos Pontos

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 123


de Cultura. Dois desses projetos tem um trabalho bem importante com o artesanato. São
eles, Bordando o Futuro de Itaperuna e Arte de Fibra de Quissamã.

O recorte espacial configurado territorialmente pelos Caminhos Singulares do Rio de Janeiro


constitui o que Frémont (1980) denomina de “região do espaço vivido”. São territórios que
podem se referenciar no tecido das relações sociais, econômicas, culturais e ambientais em
permanente construção. Os padrões de ocupação e uso do solo, as tipologias habitacionais,
os vínculos comunais e de parentesco, as crenças e mitos, a herança dos bens materiais e
imateriais, entre outros, são elementos importantes para o desenvolvimento endógeno, com
foco numa produção artesanal genuína e com identidade.

Para Augustin Berque (1998:84-89), “A paisagem é uma marca, porque exprime uma civili-
zação, mas também é uma matriz, porque participa de esquemas de percepção, de concep-
ção e de ação — isto é, da cultura — que canalizam, em certo sentido, a relação de uma
sociedade com o espaço e com a natureza.”

8.6 Caminhos do Açúcar16


O ciclo do açúcar foi um dos mais importantes acontecimentos da economia colonial brasi-
leira, principalmente, durante os séculos XVI e XVII, passando a declinar a partir do século
XVIII. As áreas de plantio prioritário foram a Zona da Mata Nordestina e o Recôncavo Baia-
no, com posterior extensão para o Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo. Interessante ob-
servar que o setor açucareiro, além de marcante para a sociedade, a cultura, a economia e
a configuração política do Brasil, contribuiu para alterar a dieta alimentar na Europa, em
substituição ao consumo de mel. O país, por incrível que seja, participou de um processo de
globalização numa era em que o mundo ainda se desenvolvia pelas conquistas marítimas e
em que o globo terrestre era apenas uma crença e um mito, tão imaginário quanto os mons-
tros marinhos. O verde dos canaviais e a cor cinzento-negra das terras de massapé, fertili-
zadas pelo rio Paraíba do Sul, o rio Macaé e a Lagoa Feia, são elementos que sobreviveram
ao tempo e ainda marcam a identidade da Região, alterada lentamente, com a introdução da
agricultura e da pecuária, estimulada pelos jesuítas, da baixada campista até a barra do
Itabapoana, antigo rio Managé, com a substituição das moendas de madeira pelas moendas
de ferro, as usinas do passado e de agora. O petróleo...

16SILVA, Heliana Marinho. In: Por uma teorização das organizações de produção artesanal - habili-
dades produtivas nos caminhos singulares do Rio de Janeiro, Fevereiro de 2006, Rio de Janeiro, RJ

124 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Mapa 3 – Região Norte Fluminense, Mapa Índice Caminhos do Açúcar Inventário 2004

Fonte: Projeto Inventário de Bens Culturais Imóveis. Desenvolvimento Territorial dos Caminhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro.
INEPAC, Rio de Janeiro, 2006

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 125


Mapa 4 – Região Norte Fluminense, Mapa Índice Caminhos do Açúcar II - Inventário 2004

Fonte: Projeto Inventário de Bens Culturais Imóveis. Desenvolvimento Territorial dos Caminhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro.
INEPAC, Rio de Janeiro, 2006

126 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Quadro 1 - Quadro Sinóptico dos Bens Inventariados Caminhos do Açúcar – Março/ 2004

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 127


128 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 129
130 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Março de 2004

Fonte: Projeto Inventário de Bens Culturais Imóveis. Desenvolvimento Territorial dos Caminhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro.
INEPAC, Rio de Janeiro, 2006

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 131


As descobertas e exploração de petróleo e de gás natural na bacia de Campos têm atraído
novos moradores e alterado a paisagem original. Estes elementos, certamente, poderão
acrescentar novas inspirações para o trabalho com artesanato. De modo geral, apesar das
potencialidades encontradas na trajetória da história local e dos ingredientes socioculturais
resgatáveis, é preciso um vigoroso investimento para que o artesanato da Região dos Ca-
minhos do Açúcar adquira identidade. No conjunto dos municípios, que compõem os Cami-
nhos do Açúcar, foram identificados 975 artesãos. As principais matérias-primas disponíveis
são a linha, o tecido e a taboa, e as técnicas mais utilizadas são a cestaria e o bordado, Ta-
bela seguinte.

Tabela 7 - Rio de Janeiro, O Artesanato nos Caminhos do Açúcar


Número de Matéria-prima Principais Manifestações
Município
Artesãos Disponível Técnicas Culturais
Bom Jesus do Itabapoana
975 Argila, madeira, Bordados, Cavalhada,
Campos dos Goytacazes fibra de bananei- crochê, papel reizado,
Carapebus ra, papel, linha, machê, tricô, jongo, fado,
tecido, bagaço de cestaria, festas quilom-
Itaperuna cana, metal, cou- costura, ou- bolas, mana-
Macaé ro e escama de tras chica, boi ma-
peixe, sisal se- lhadinho, festas
Natividade mentes, bambu, populares,
Porciúncula palha, argila, outras
taquara, bambu,
Quissamã vime, brejaúva,
São Francisco do Itabapoana sapucaia, chifre
de boi, conchas,
São João da Barra areia, cipós, ta-
boa, outras
Varre-Sai

8.6.1 O Circuito do Açúcar na “Fashion Rio”17


O Fashion Rio é o evento oficial da moda do Rio de Janeiro, que disputa com São Paulo o
lançamento das coleções de outono-inverno e primavera-verão no Brasil. Em duas ocasiões,
o artesanato ocupou um espaço no setor de “business”, juntamente com empresas de con-
fecção e acessórios de moda. Para melhor desenho da pesquisa-ação, definiu-se uma polí-
tica de intervenção que considerou o artesanato um tipo genuíno de fazer moda e não ape-
nas seu complemento. Esta posição demonstrou, para os protagonistas de uma pesquisa
realizada, que a produção artesanal deveria estar associada a um enredo fluminense, ou
seja, a um tema local capaz de subsidiar a modelagem de uma coleção. Realizava-se, na
prática, o processo de reflexão e aprendizagem, como é próprio da pesquisa-ação. Assim
sendo, o artesanato foi buscar sua fonte de inspiração no Projeto “Caminhos Singulares do
Rio de Janeiro”, desenvolvido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empre-
sas, SEBRAE/RJ, com foco na atuação do turismo, do artesanato e da cultura.

O Estado do Rio de Janeiro é uma síntese da história econômica, política, social e cultural
do país. Muitos dos eventos significativos ocorridos no Brasil, desde sua colonização, até os
dias atuais, foram emanados ou impactaram fortemente o solo Fluminense.

17
SILVA, Heliana Marinho. In: Por uma teorização das organizações de produção artesanal - habilidades produ-
tivas nos caminhos singulares do Rio de Janeiro, Fevereiro de 2006, Rio de Janeiro, RJ

132 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Sobre esta participação, a pesquisadora Heliana Marinho da Silva desenvolveu a sua tese
de doutoramento na Fundação Getúlio Vargas, em 2006. O universo da pesquisa, por ela

considerado, foi constituído por 99 pessoas, pertencentes a 14 grupos de artesãos do Esta-


do do Rio de Janeiro, selecionados por amostragem aleatória simples (ROJAS SORIANO,
2004; BABBIE, 2003). A coleta de dados foi realizada com a aplicação de questionário fe-
chado. As variáveis de análise corresponderam às dimensões dos sistemas sociais, defini-
dos por Guerreiro Ramos (1989), a saber: tecnologia, escala, cognição, espaço e tempo. A
pesquisa foi desenvolvida no período de 18 meses, com os resultados monitorados em dois
eventos efetivos: edições de julho de 2004 e julho de 2005 do “Fashion Rio”, sediadas no
Museu de Arte Moderna, MAM.

De acordo com os resultados apurados18, dos participantes do “Fashion Rio”, em 2004 e


2005, 97% deles assumiram ser artesãos exercendo o ofício, em média, há oito anos.

Dos que responderam à pergunta sobre suas atividades antes do artesanato, 29% sinaliza-
ram que eram autônomos; 27% eram empregados de média ou pequena empresa; 18% não
exerciam atividades produtivas; 9% eram trabalhadores informais e 6% funcionários públi-
cos, na maioria, municipais.

No Rio de Janeiro, para o universo pesquisado, predomina o artesanato desenvolvido com


matéria-prima processada de origem vegetal, utilizada por 43% dos entrevistados que traba-
lham com fios e tecidos diversos. A tipologia de produto artesanal natural é trabalhada por
32% dos entrevistados que adotam, em sua maioria, fibras vegetais, cascas e sementes, e
insumos de origem animal, a exemplo de lã, couro e osso. O restante, 25%, aproveita mate-
rial reciclável, principalmente vegetal, como tecido, papel e madeira.

O artesanato fluminense é pouco diversificado, vigorando a introdução de novas técnicas


(43%), em detrimento do resgate de técnicas tradicionais locais (30%) ou tradicionais de
outros locais do país (19%). Com esta ênfase, as categorias do artesanato derivam de tra-
balhos manuais tradicionais (34%), em crochê e bordados; reciclados (21%), principalmente
de sobras de tecidos utilizadas em “patchwork” e tramas feitas com tecidos enrolados, amar-
rados ou emendados a mão; o artesanato contemporâneo responde por 18% dos produtos.
Categorias de artesanato que trabalham a historicidade e etnia são muito poucas, identifi-
cando-se apenas 9% de produtos que apresentam o resgate de temas culturais; 5% na ca-
tegoria de arte popular; 1% reproduzindo ícones de seu território, 1% com temas religiosos e
1% com representação da etnia indígena. Se a análise dessas categorias atendesse aos
critérios de classificação do artesanato proposto por Chiti (2003), 34% dessa manifestação
deveriam ser descartados, pois o autor não considera como artesanato os trabalhos manu-
ais de bordado e crochê. Por outro lado, quando se associa o artesanato ao turismo, são
exatamente os eixos culturais, étnicos e folclóricos que precisam ser estimulados no artesa-
nato fluminense. Para tal, é necessário utilizar métodos de aprendizagem que favoreçam a
leitura de informações sutis contidas no território, como a redescoberta da identidade local,
da matéria-prima dominante, dos elementos que definem a história passada, presente e
futura, da paisagem e das manifestações culturais. Na produção artesanal fluminense estu-
dada, circunscrita aos caminhos históricos – sal, açúcar, ouro e café –, o segmento de deco-
ração responde por 29% dos produtos; a moda, por 26%; utilitários, por 22%; adorno e a-
cessórios, por 19% do artesanato executado. Isto reflete bastante a utilização de matéria-
prima reciclada e de técnicas modernas de produção, ao estilo contemporâneo.

18
Pesquisa relizada por Heliana Marinho da Silva, e apresentada na defesa de tese de doutoramento na Funda-
ção Getúlio Vargas em 2006.
O universo da pesquisa foi constituído por 99 sujeitos, pertencentes a 14 grupos de artesãos do Estado do
Rio de Janeiro (ver apêndice).
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 133
Na proposta de estimular um artesanato mais cultural, abre-se a perspectiva de desenvolver
os segmentos religiosos, lúdicos e educativos, até então sem expressão no artesanato flu-
minense, mas com grande potencial de mercado, na atualidade. Considerando que o arte-
sanato fluminense está em processo de recriação, a abordagem de desenvolvimento territo-
rial tem mais sentido, ainda, quando se constata que 53% dos artesãos sempre viveram no
município onde se encontram e que 41% nasceram em outra localidade, mas estão radica-
dos há muitos anos no território, o que favorece o sentimento de pertencimento ao local, na
medida em que 86% dos entrevistados consideram que o trabalho do artesão contribui para
o fortalecimento dos elos socioculturais da comunidade.

Nos municípios fluminenses estudados, 37% dos artesãos são autônomos; 36% atuam em
grupos informais e 27% participam formalmente de associações e cooperativas. De maneira
geral, 32% informaram que as relações interpessoais mantidas entre o artesão e o grupo
são estruturadas com valores de reciprocidade e troca. Para 26%, há maior aproximação
entre as pessoas, com aumento dos vínculos afetivos; 23% vinculam a aproximação das
pessoas com a ampliação do bem-estar; e para 21% há elevação do nível de confiança en-
tre os elementos do grupo. Esta situação reflete-se no posicionamento frente ao território em
que vivem e trabalham: para 51%, as atividades artesanais incentivam a troca de bens, ser-
viços e informações entre as pessoas, enquanto 49% acham que o trabalho com artesanato
pode contribuir para o desenvolvimento econômico do território.

As características mais marcantes do artesão do Estado do Rio de Janeiro são que 39%
fazem artesanato para complementar a renda familiar; 16% transformaram trabalhos manu-
ais em novos negócios, substituindo a alegoria do hobby pelo micro negócio; 13% dizem-se
desempregados; e 12% confirmam que sempre trabalharam com artesanato. Vale registrar
que 8% dos entrevistados fizeram opção pelo artesanato como estilo de vida. Dos artesãos
ouvidos, 32% acham que o atual interesse pelo artesanato decorre da sua consolidação
como atividade econômica. Para 28%, o artesanato é uma alternativa de geração de traba-
lho e renda para qualquer pessoa; 18%, no entanto, consideram que esta alternativa, de
trabalho e renda, é valida apenas para os grupos menos favorecidos. Interessante observar
que apenas 3% percebem o artesanato como modismo e algo passageiro. Declaram subme-
ter-se parcialmente às exigências do mercado e, como isonomias e fenonomias, verificam
que a atividade artesanal pode ser lucrativa, em 58% dos casos. Todavia, 28% consideram
que não podem viver apenas do artesanato, embora reconheçam que o desenvolvimento do
ofício gere renda.

Na opinião dos artífices, o artesanato deve ser comercializado em feiras, 31%; mercado al-
ternativo, informal ou organizado para o comércio justo e solidário, 29%; distribuído em lojas
e supermercados, 18%; vendido na vizinhança, para parentes e amigos,16% . Estas formas
parecem, realmente, as mais adequadas e com maior afinidade ao produto artesanal. Con-
tudo, cada uma delas exige uma organização diferenciada e deverá ser utilizada de acordo
com o perfil do artesão, com a categoria do artesanato, com a temática mercadológica e
com o segmento de mercado da produção.

É vital dar atenção aos quesitos de qualidade e originalidade. No último caso, as peças mais
genuínas são as que contêm informações do território de origem, com o aproveitamento da
matéria prima disponível, das técnicas e saberes locais, bem como das referências histórico-
culturais que dão singularidade ao local.

Das pessoas que responderam à pesquisa, percebe-se que a idade predominante do arte-
são situa-se na faixa de 40 a 50 anos, intervalo declarado por 28% dos respondentes; em
seguida encontra-se a faixa entre 30 e 40 anos, que enquadra 24% dos artífices; 17% estão
situados antes dos 20 a até 30 anos e 16% estão no extremo, de 50 anos a acima dos 60
anos.
134 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
O desenvolvimento de métodos de ensino para o artesanato, portanto, deve considerar o
nível de maturidade e as razões que levaram as pessoas a optar pela atividade de artífice.
Isto faz toda a diferença, especialmente porque 94% deste contingente são constituídos por
mulheres, das quais, 52% acreditam que podem contribuir para um mundo melhor; 25% a-
postam que a sociedade pode ser solidária e 18% têm uma visão de mundo humana e fra-
terna.

Na opinião dos artesãos, os maiores problemas do artesanato são vinculados à necessidade


de comercialização e à falta de visão de mercado, 29%; ao financiamento, 22%; ao sistema
informal de produção e à falta de organização do artesão, 15%; à qualidade dos produtos
13%,e à escassez de matéria-prima.

A solução desses problemas passa pelo tratamento do artesanato como uma cadeia de ha-
bilidades produtivas, que estimule a convergência das instituições que atuam com o artesa-
nato nos municípios e Regiões, evitando a disputa pelo beneficiário e a dispersão de recur-
sos e energias. É importante agregar profissionais de outras formações, como designers e
consultores especializados em mercado, formação de preços e gestão de pequenos negó-
cios, e finalmente estimular o trabalho artesanal em redes de produção, organizando as ati-
vidades e dando escala ao produto. O artesanato é percebido por 90% dos artesãos com
potencialidade para integrar uma cadeia produtiva, principalmente se eles se organizarem
para o desenvolvimento de produtos. Neste modelo, consideram que é fundamental a parti-
cipação de instituições e de profissionais de outras áreas de produção e de conhecimento.
Esta compreensão é fruto do intenso trabalho que tem sido realizado pelas instituições de
fomento ao artesanato no Rio de Janeiro, a exemplo do SEBRAE, e da receptividade do
artesão para receber novas informações para a melhoria do seu produto.

Os profissionais que podem contribuir para o desenvolvimento do artesanato, formando ca-


deias de habilidades produtivas, devem ter a responsabilidade e o compromisso de respeitar
as técnicas e as formas locais de produção, entendendo que o artesanato tem escala de
produção limitada e que os artesãos têm uma visão de mundo e compromissos com a vida
que não passam pela velocidade produtiva, característica da competitividade empresarial.

O saldo do evento foi positivo para os grupos de artesanato que, na totalidade, envolveram
139 artesãos.

Em dois dias de evento, fizeram negócios e receberam uma série de novos pedidos, inclusi-
ve para exportação, Tabela seguinte.

Tabela 8 - Síntese da Participação do Caminhos do Açúcar no “Fashion Rio”, 2004


Grupo ou Número de
Ano Técnica Território Região
Responsável Pessoas
2004 Eponina 60 Retalhos e bordados Porciúncula Noroeste
2004 Ana Carla 10 Bordados e aplicações Porciúncula Noroeste
Taboa de São Acessórios em fibra de São Francisco do
2005 25 Noroeste
Francisco taboa Itabapoana
Cooperativa Fa- Campos dos
2005 22 Crochê Norte
zendo Arte Goytacazes
2005 Projeto Lagomar 07 Patchwork Macaé Norte

* Total de pessoas envolvidas no evento somaram 242, envolvendo todos os Caminhos.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 135


Fotos 46, 47, 48, 49 e 50 – Produtos Feitos por Artesãos do “Caminhos do Açúcar” para o “Fa-
shion Rio”, 2004

8.7 O Artesanato no Norte e Noroeste Fluminense


Na paisagem desenhada pela cultura da cana-de-açúcar, em torno dos engenhos, na Regi-
ão Norte-Fluminense conviveu português, com seus padres jesuítas, indígenas e africanos,
integrados pela produção e pelo consumo de um produto que revolucionou o mundo coloni-
al. O apogeu do ciclo do açúcar no Rio de Janeiro, tardio em relação ao Nordeste brasileiro
ocorreu a partir de meados do século XVIII e ao longo do XIX, e deixou marcas significativas
na arquitetura e nas manifestações culturais do território, principalmente dos atuais municí-
pios de Campos, Macaé, Quissamã e São João da Barra. O legado da ocupação do espaço,
determinado pelo predomínio dos canaviais convivendo com a agropecuária, ainda se mos-
tra pela rica arquitetura das fazendas, dos engenhos, das senzalas, de valor histórico incal-
culável. Os resquícios da aristocracia, que adquiria seus objetos, vestimentas, adornos e
mobiliários na metrópole portuguesa, e a utilização da mão-de-obra escrava para o cultivo
da terra, não estimularam a existência de técnicas de artesanato importantes. Por outro la-
do, para a reconstrução de um saber-fazer artesanal, a rica história da formação econômica,
social e cultural da Região pode contribuir para o desenvolvimento de cadeias de habilida-
des de produção artesanal, respaldadas nos registros da paisagem natural, nos suntuosos
jardins de palmeiras imperiais, solares, igrejas e capelas. Some-se a estes elementos a he-
rança cultural dos habitantes das senzalas, com suas manifestações religiosas e populares.

136 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Fotos 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58 e 59 – Regiões Norte e Noroeste, Mosaico da Produção
Artesanal das Regiões

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 137


8.7.1 Matérias - primas
As matérias-primas trabalhadas nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense são encontradas
na natureza, em produtos industrializados e em resíduos ou material de sucata. As matérias-
primas mais empregadas são o bambu e a taboa, que fazem parte da vegetação nativa da
maioria dos municípios. São utilizadas ferramentas simples e muitas vezes improvisadas,
como cacos de vidro, sabugos de milho, palitos de fósforo ou pedaços de arame. Os temas
são tirados da experiência, da vivência, reproduzindo-se na obra o que faz parte do dia-a-
dia. Os objetos produzidos preenchem, em primeira instância, as necessidades imediatas do
autor ou as de sua comunidade e só secundariamente são comercializados.

O registro do artesanato, dificultado pela grande variedade de técnicas, matérias-primas e


produtos, exigiu uma opção pelos aspectos mais representativos da criatividade e talento do
homem dessas Regiões. Constituem seus materiais principais:

Areia
Tradicional em todo o Estado do Rio de Janeiro,é a preparação de tapetes-de-rua por cima
dos quais passa a procissão de "Corpus- Christi". O material empregado depende dos re-
cursos materiais da Região: areia e sal grosso nas cidades do litoral salineiro; borra de café,
vidro picado, serragem, folhas, pétalas de flores, tampinhas de garrafas, casca de ovo tritu-
rada e terra colorida nas cidades do interior. A comunidade local se encarrega da criação
dos motivos desenhados. Em alguns locais o tapete é dividido em muitas seções, pelas
quais se responsabilizam colégios, lojas comerciais, clubes, associações religiosas, famílias,
etc. Os temas são quase sempre de fundo religioso: Cristo, Nossa Senhora, santos, anjos,
pombas, cálices e hóstias.
Costumam fazer também, flores, gregas, pássaros, etc. Ultimamente muitos aproveitam pa-
ra também transmitir mensagens sociais, ecológicas, educacionais.

Argila
A argila é matéria-prima para a confecção de objetos de cerâmica decorativa, utilitária e ritu-
alística. Ela vem sendo carreada pelo rio Paraíba do Sul a muitos séculos provavelmente
milênios. Algumas vezes é modelada com o auxílio de tornos rudimentares montados nos
quintais. Neles o ceramista modela objetos de forma circular como potes, jarros, panelas. Ou-
tras vezes, o artesão utiliza apenas as mãos, modelando determinada porção de argila até
conseguir a forma desejada: objetos decorativos ou ritualísticos, como bonecos, santos, bi-
chos. O cozimento da peça acabada é feito em fornos de lenha, cuja temperatura chega a
1.000ºC. A pintura, se usada, faz-se com tinta industrializada ou com tintas extraídas de
vegetais, como o urucum (coloração vermelha) ou o jenipapo (coloração preta); Usa-se ain-
da, de origem mineral, o amarelo, do óxido de ferro.

Bambu
Vegetal nativo - Bambusa arundinacéa Willd - com muitas variedades, desde o bambu-
japonês e a taquara (muito flexível), até o bambu-gigante, com 25cm de diâmetro. Recém-
colhido, é cortado em tiras finas que são trançadas para fazer cestos, objetos de adorno,
peças de mobiliário, gaiolas, alçapões, peneiras, esteiras de carro-de-boi, instrumentos mu-
sicais (flautas, recorecos). O bambu presta-se também à construção de forros, paredes, por-
tões, cercas e luminárias.

Bananeira
A palha da bananeira (embira) - Musa sapientum L. (musaceae) – é material muito utilizado
para diversos tipos de artesanato. As fibras do talo central das folhas, de textura fina, são
aproveitadas para a confecção de bolsas, esteiras, sacolas, chapéus, tiras para sandálias e
outros objetos de uso. Das fibras do caule misturadas a outras mais resistentes são feitos
cestos, capachos e sacolas. As folhas, depois de secas, são utilizadas na criação de flores,

138 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


ramos e figuras. Combinada com outros materiais (tecidos, recortes de jornal, linha em cro-
chê, madeira) entra na composição de bonecas, conjuntos de presépios e cenas familiares.

Brejaúva
Palmeira - Astrocaryum ayri Mart. (palmae) - da qual se aproveita a palha e o coco. A palma,
seca ao sol, transforma-se em palha clara que serve para confeccionar cestinhas ovais ou
redondas. Costuradas com agulhas de saco, as cestas são enfeitadas com os fios da palha,
coloridos com anilina em pó, em vermelho, azul e verde.

Bucha
Planta trepadeira geralmente desenvolvida em cercas vivas. O fruto, depois de seco, retira-
das as sementes, transforma-se em material leve, esponjoso, cor de palha, aproveitado na
confecção de diversas peças ornamentais e utilitárias: flores, leques, chinelos, bolsas, cha-
péus, etc..

Capim
O capim barba-de-bode - Andropogum sp. (Graminaea) - já seco, é trançado, usado para
fazer bolsas, cestas e chinelos. Trabalha-se com agulhas e linhas grossas de bordar, colori-
das, para prender as fibras, enfeitar e armar as peças.

Cera
A cera de abelha-cachorro ou abelha-europa presta-se à modelagem de figuras humanas,
personagens de presépios, igrejinhas, casas, bois, galinhas, quase sempre miniaturas. De-
pois de colhida e limpa a cera, maleável e de fácil manuseio, é trabalhada pura, sem acrés-
cimo de nenhum outro material.

Chifre
Material usado na confecção de objetos diversos: cofres, cabos de talheres, figas, anéis e
figuras de animais (peixes, pássaros). Amolecido em água fervente durante cerca de uma
hora, é trabalhado à mão, com o auxílio de serras, facas, grosas, martelos, canivetes e até
mesmo de cacos de vidro. Na complementação das peças, usa-se, às vezes, metal e osso.

Cipó
O cipó, como o bambu e a taquara, é usado para a produção de cestos de dimensões e for-
matos variados e de abanos para fogão de lenha. É trançado ainda verde, sem tratamento
prévio, especialmente o cipó caboclo - Davilla rugosa Poir ( Dilleniaceae), o cipó-imbé – Phi-
lodendron bipinnatifidum Schoott (Aracaea) e o cipó-una – Arrabidaea sp.(Bignoniaceae) -
que depois de maduros perdem a maleabilidade e tornam-se quebradiços.

Couros
Com o couro de alguns animais (boi, cabra,) fabricam-se peças de diferentes utilidades: se-
las, arreios, cangalhas, cabrestos, rédeas, chicotes, tamoeiros, rebenques e outras, próprias
para o transporte a cavalo ou em carro-de-boi. Bolsas, carteiras, chapéus, sandálias, cintos,
jalecos, luminárias, pulseiras, anéis, têm também como matéria-prima o couro. Deste mate-
rial são feitas ainda as máscaras de palhaços de folias de reis. Os instrumentos utilizados
são: máquina de costura, sovela, faca, torquês, ferro de rebaixo e outros ferros encontrados
em pequenas oficinas.

Diversos
Diversos materiais são utilizados no artesanato de instrumentos musicais. Os de corda são
feitos de madeira (camará, para as costas e ilhargas; caviúna para o braço). Para a cerda
dos arcos usa-se crina de cavalo. Os instrumentos de sopro, geralmente são feitos de bam-
bu. As flautas são mais comuns, além dos clarinetes, cujo corpo é formado de seções de
bambu, de diversas dimensões, articuladas. Para instrumentos de percussão - tambores,
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 139
bumbos, caxambus - usa-se, couro de cabrito ou bezerro, combinado com madeira. A suca-
ta de metal, junto ao plástico ou couro, dá origem a instrumentos de percussão: chocalhos,
ganzás, pandeiros, caixa, bumbo, tarol e outros.

Flecha de Ubá
Com a flecha de ubá - Chuequea sp. (Gramineae) - cortada em época própria para não dar
bicho (abril), constroem-se gaiolas de tamanhos e formas diversas: igrejas, castelos com
um, dois ou três andares - "catedrais", retangulares, quadradas e cilíndricas.

Juta
A juta - Corchorus capsularis L. ( Tiliaceae) - é usada no artesanato de tapetes, estandartes
e figuras de presépio. Serve, também, de pano de fundo para a aplicação de motivos em
pano colorido. Desfiada, presta-se à confecção de cabeleiras em bonecos.


Com fios de lã industrializada são tecidas, em tricô ou crochê, peças de vestuário: suéteres,
casacos, saias, vestidos, roupas de bebê, cachecóis, gorros. Também há registro de tecela-
gem de mantas, passando por todas as fases do processo - desde a limpeza de lã, carda-
ção, preparação do fio na roca, tintura, até o trabalho de tear.

Linha
Com linhas industrializadas, de carretel ou novelo, confeccionam-se em crochê, bordado, tri-
cô, peças utilitárias ou ornamentais: redes, colchas, toalhas, cortinas, blusas, vestidos.

Madeira
Com ferramentas diversas (machado, enxó, plaina, formão, facas e outras) são esculpidos
ou entalhados pelos artesãos fluminenses imagens de santos, figas, orixás, carrancas, más-
caras, objetos de decoração, gamelas, pilões, instrumentos musicais, canoas, etc. Gaiolas
de diferentes feitios são feitas, algumas vezes, apenas com encaixes de varetas, sem utili-
zação de pregos ou arames. Também a xilogravura se faz presente. Aproveitando a forma
natural de raízes, confeccionam-se diversas espécies de animais.

Mandioqueiro
Do tronco do mandioqueiro - Didy mopanax anomalum Tamb. (Araliaceae) obtem-se fibras
brancas, finas e flexíveis, extraídas com uma plaina. Depois de secas, as fibras são trança-
das à mão e costuradas à máquina para a confecção de chapéus e bolsas. Costumam ser
tingidas com anilina em cores diversas.

Massa de Miolo de Pão


Dessa matéria é feito um original trabalho de modelagem: flores, miniaturas de animais do-
mésticos e selvagens, figuras de presépio.
Com o miolo de pão, misturado a um pouco de cimento branco para dar maior resistência,
modelam-se também, pequenas flores que são presas a hastes naturais.

Metal
No artesanato em metal (funilaria) é freqüente a confecção de peças das mais variadas:
brinquedos (carros, caminhões, aviões,lustres, luminárias, em latão e cobre.

Milho
A palha seca do milho - Zea mays L. – é utilizada na confecção de flores, leques, chapéus,
bolsas e figuras humanas. Algumas vezes aparece combinada com a bucha, a palha de ba-
naneira e o bambu.

140 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Penas
Penas de diferentes aves são usadas para compor objetos vários: complementam as tradi-
cionais petecas de palha de milho ou recobrem miniaturas de aves, cujo corpo é feito de
barro.

Pita
Dos fios obtidos da folha da piteira confeccionam-se tranças com que se armam diversas
peças artesanais. Do caule da flor (pendão central que se ergue dentre as folhas) são feitas
miniaturas de canoas. Para isso o caule é cortado em diversos segmentos que são escava-
dos a faca, até tomarem o formato de uma canoa inteiriça.

Sementes
Sementes de plantas nativas são utilizadas de diversas maneiras. Uma vez colhidas, são
postas a secar e, "in natura" ou envernizadas, entram na composição de diferentes peças. A
lágrima-de-nossa-senhora., por exemplo, de cor acinzentada e muito resistente, enfiada em
fios de arame mais ou menos maleáveis, presta-se à confecção de cestos para guardar o-
vos, cortinas e adereços. São bastante utilizadas para a confecção de bijuterias.

Taboa ou tabua
Planta nativa que cresce nos banhados - Typha dominguensis Pers (typhaceae). Sua fibra
flexível e resistente, trabalhada depois de seca, serve para a confecção de esteiras, bolsas,
chinelos, tapetes, redes, cestas, sacolas, cachepôs, estandartes, descansos para pratos e
travessas, etc. Para se fazer a esteira, usa-se técnica semelhante à do tear, varas de madei-
ra forte (o tendá) e barbantes em rolo, tendo nas pontas pedaços de madeira ou tijolos (os
cambitos), com o auxílio dos quais a palha é trançada.

Tecidos
Retalhos lisos ou estampados, de todos os formatos, costurados uns aos outros ou aplica-
dos sobre estopa, compõem colchas, almofadas, tapetes, toalhas, cortinas e outras peças.
De caráter artesanal são também os trajes de alguns figurantes de folguedos: os trajes dos
componentes do Mineiro-Pau e dos palhaços de Folia de Reis, os saiotes para o Boi, para o
Veado e a Mulinha, a roupa do Jaraguá e dos Bonecos. Bandeiras ou estandartes dos gru-
pos de Folia de Reis são feitos de tecido colorido, acrescido de estampas, bordados, fitas,
flores de plástico e véus. No artesanato com tecidos incluem-se, ainda, as bruxinhas e os
bonecos de pano.

Vime
A vara tenra e flexível do vimeiro trançada presta-se à fabricação de diversas peças utilitá-
rias e ornamentais, como cestos, abajures, figuras de animais domésticos, que servem co-
mo suportes para flores, frutas, alimentos. Na confecção de móveis (cadeiras, mesas, estan-
tes, colunas, camas, etc.), o vime é trançado com reforço básico de madeira. Esses móveis,
de formas muito variadas, são em geral decorados com desenhos trançados no próprio vi-
me.

8.8 A Cerâmica19
O Parque Industrial de Campos dos Goytacazes é formado por mais de cem cerâmicas, ab-
sorvendo, segundo informações do próprio segmento, mais de 5.000 pessoas. Este tipo de

19
In: I. S. Ramos, J. Alexandre, M. G. Alves, V. Vogel, M. Gantos A indústria cerâmica vermelha de Campos
dos Goitacazes e a inclusão social das artesãs da baixada campista através do projeto Caminhos de
Barro, Laboratório de Engenharia Civil - LECIV, Centro de Ciências e Tecnologia – CCT Universidade Estadual
do Norte Fluminense – UENF. RJ
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 141
trabalho, de um modo geral, emprega pessoas capazes de suportar serviços pesados, ex-
cluindo desta forma mulheres, idosos e portadores de necessidades especiais.

O Projeto “Caminhos de Barro”20, implantado pela Universidade Estadual do Norte Flumi-


nense Darcy Ribeiro (UENF), no ano de 2000, tem como finalidade capacitar, na arte da
cerâmica artesanal, comunidades excluídas do processo industrial de produção de tijolos e
telhas.

Uma análise técnica semelhante, utilizada para caracterização e adequação dos produtos
industrializados pelas indústrias cerâmicas mostrou-se também adequada para o artesana-
to.

O município de Campos dos Goytacazes apresenta uma grande reserva de argilas, originá-
rias de processo de decantação de materiais silto-argilosos da carga de suspensão em am-
bientes de planície de inundação após eventos de enchentes do Rio Paraíba do Sul; a área
de concentração destes depósitos encontra-se à margem direita do Rio Paraíba do Sul, ao
longo da estrada RJ-216 que liga o distrito sede de Campos ao Farol de São Tomé.

Mapa 5 – Região Norte Fluminense, Carta Imagem com as Localidades e Área Fonte de Argilas

(carta imagem com a identificação da área fonte de material – Saquarema - e as localidades nas
quais se encontram as oficinas das artesãs: Poço Gordo e São Sebastião).

O Projeto Arte, Educação e Cidadania: Oficina de Arte Cerâmica "Caminhos de Barro”, ini-
ciou-se no ano de 2000, no âmbito do Centro de Ciências do Homem, da UENF, com a ex-
pectativa de criar um espaço alternativo e privilegiado para a educação e a formação artísti-
ca, cultural e técnica da comunidade do município de Campos, contribuindo para o processo
de desenvolvimento econômico do Pólo Cerâmico da Região, fomentado pelo Governo do
Estado do Rio de Janeiro.

20
Disponível em
<http://www.uenf.br/Uenf/Pages/CCH/UESI/Ceramica/?&modelo=1&cod_pag=1247&tabela=&np=O+
Projeto&nc=Caminhos+de+Barro&buscaEdicao=&grupo=CERAMICA&p=> Acesso em 05.01.2010

142 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Fotos 60, 61, 62 e 63 – Região Norte Fluminense, Oficinas do Projeto “Caminhos de Barro”

Fonte: In: I. S. Ramos, J. Alexandre, M. G. Alves, V. Vogel, M. Gantos A indústria cerâmica vermelha de Cam-
pos dos Goitacazes e a inclusão social das artesãs da baixada campista através do projeto Caminhos de
Barro, Laboratório de Engenharia Civil - LECIV, Centro de Ciências e Tecnologia – CCT Universidade Estadual
do Norte Fluminense – UENF. RJ

A Oficina trabalha em parceria com o Colégio Estadual Leôncio Pereira Gomes, e consti-
tui um dos projetos de extensão universitária, concebido como uma estratégia para fomentar
o desenvolvimento humano local, na atualidade.
Para uma melhor compreensão e execução da proposta, inicialmente o Projeto foi dividido
em três componentes específicos e interligados que atendiam aos objetivos gerais do Proje-
to: histórico, sócio-cultural e técnico–informacional.

Na primeira fase, então, procedeu-se à realização de um diagnóstico econômico e sócio-


cultural do complexo ceramista no município de Campos, a partir do estudo aprofundado da
pequena indústria do distrito de São Sebastião, espaço caracterizado por concentrar o maior
número de empreendimentos da Região. O motor da pesquisa foi encontrar as raízes pri-
meiras, que consolidadas, prefaciam a história da Região, suas instituições e, no rastro des-
sa coreografia e do ritmo dos acontecimentos, documentar as memórias sociais, culturais e
afetivas preservadas pela comunidade para propor ações práticas orientadas ao desenvol-
vimento humano, privilegiando a dimensão sócio-comunitária e econômica da Região norte
Fluminense.

Na segunda fase, criou-se um Sistema de Informação Visual, concebido como uma proposta
de uso da tecnologia da imagem aplicada à pesquisa, referência documental e preservação
da memória social comunitária da região de São Sebastião. Nele buscou-se identificar, refe-

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 143


renciar e interpretar o perfil sócio-econômico, o aparelhamento industrial e as condições de
habitat da comunidade ceramista do distrito de São Sebastião. Isto foi realizado mediante a
produção sistemática de um registro documental fotográfico e videográfico do mundo da
cerâmica local, com o objetivo de resgatar as matrizes identitárias sócio-culturais da Região,
para contribuir na formulação final de um projeto voltado ao fortalecimento do poder comuni-
tário. Nesse sentido foram implementadas estratégias e ações pontuais voltadas para a e-
ducação e a incorporação comunitária ao processo produtivo, fomentando o melhoramento
e sustentabilidade da qualidade de vida da população regional.

Mapa 6 – Região Norte Fluminense, Localização das Oficinas Caminhos de Barro

Fonte:
<http://www.uenf.br/Uenf/Pages/CCH/UESI/Ceramica/?&modelo=1&cod_pag=1247&tabela=&np=O+
Projeto&nc=Caminhos+de+Barro&buscaEdicao=&grupo=CERAMICA&p> Acesso em 05.01.2010

Procedeu-se, então, no terceiro momento, ao desenvolver atividades de cerâmica, dança,


coral, teatro (cordel) e fotografia junto à comunidade de São Sebastião, sendo a Escola Es-
tadual Leôncio Pereira Gomes o espaço privilegiado, uma vez que a comunidade ligada a
ela é parte integrante e alvo do projeto.

Paralelamente, o grupo de trabalho constituído, aprofundou-se no imaginário social, partindo


da obra de José Cândido de Carvalho – um dos mais ilustres escritores da Região - e, atra-
vés de sua obra ficcional O Coronel e o Lobisomen, pretendeu-se mostrar que tecida em
uma geografia real e em uma revitalização da linguagem, José Cândido trabalha uma mime-
se irônica cujos suportes reais ainda estão presentes nos espaços rurais e urbanos por ele
coreografados. A par destas atividades, criou-se e desenvolveu-se -a partir dos registros de
trabalho de campo - um modelo de “banco de imagens” e dados valendo-se do uso de ins-
trumentação eletrônica (fotografia digital, “imaging” e vídeo) associada às técnicas tradicio-
nais das artes visuais.
144 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Cabe destacar que estas atividades, unidas à criação da Oficina de Arte Cerâmica, foram
financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, FAPERJ, e
formaram parte de um projeto maior de estudos estratégicos da área da Cerâmica na Regi-
ão da baixada campista, vinculados ao Programa de Desenvolvimento do Pólo Cerâmica de
Campos dos Goytacazes.

O projeto Arte-Cerâmica “Caminhos do Barro”, desde suas origens visa contribuir para um
processo de autovaloração. Direcionando-se principalmente, para mães dos alunos, visando
a geração de renda feminina, que pudesse levar as mulheres -nitidamente excluídas do
mercado de trabalho da cerâmica e limitadas ao âmbito doméstico do trabalho invisível- a
contribuir na economia familiar da população. Outro alvo da oficina são as crianças das es-
colas, muitas delas –principalmente os meninos- destinadas historicamente ao trabalho in-
fantil e outras condições degradantes nas olarias.

Aproveitando condição diferencial da Região -o trabalho com o barro- a arte cerâmica foi
escolhida como estratégia alternativa de geração de renda através da arte e/ou artesanato,
que, tendo um maior valor agregado que o tijolo ou a telha, acaba favorecendo uma susten-
tabilidade possível frente ao fenômeno da deterioração do meio ambiente, decorrente de
formas irracionais de exploração dos recursos naturais.

Almeja-se, a médio prazo, o desenvolvimento de um pólo de cerâmica artística (“arranjo


produtivo local”) no Norte do Estado de Rio de Janeiro que possa constituir-se como refe-
rência nacional.

Concluída a primeira etapa do processo de implementação da Oficina, seus resultados posi-


tivos são observáveis pelo sucesso obtido nas apresentações e exposições das quais o gru-
po do Projeto participou durante os três últimos anos. Do ponto de vista cultural destaca-se
o resgate do valor e da dignidade do trabalho realizado nas olarias, bem como pela afirma-
ção da auto-estima de uma população marcada por dificuldades econômicas e sociais, ine-
rentes a uma Região de muita pobreza. Uma das estratégias, para sustentar esse desenvol-
vimento regional é, tendo a Oficina como base e núcleo de expansão, apoiar e ampliar pro-
cessos já desencadeados de forma natural e espontânea de transmissão do saber adquirido
no âmbito da Oficina, pela primeira geração de ceramistas por ela formada.

A criação do núcleo em Poço Gordo, distrito vizinho a São Sebastião, tem caráter estratégi-
co, uma vez que a criação de um Pólo de Arte Cerâmica auto-sustentável, como alternativa
para geração de renda para a Região, não pode prescindir da formação de massa crítica,
particularmente jovens, capaz de incorporar, reproduzir e aperfeiçoar o saber adquirido pe-
las primeiras gerações de artesãos.

Na atualidade, a Oficina já conta com um Núcleo em Poço Gordo, onde são ministradas au-
las para crianças, jovens e senhoras da localidade através de alunas já formadas pelo pró-
prio Projeto. A sua equipe conta com instrutores, ceramista, pedagoga, coordenadores e
diagramadores todos empenhados em ensinar para diferentes níveis de formação e espe-
cialização.

Avalia-se o impacto da Oficina, tanto na vida dos adultos da comunidade como em relação
ao rendimento escolar dos alunos.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 145


Fotos 64, 65, 66, 67, 68 e 69 – Região Norte Fluminense, Produtos do Projeto “Caminhos de Barro”.

Disponível em:
<http://www.uenf.br/Uenf/Pages/CCH/UESI/Ceramica/?&modelo=1&cod_pag=1247&tabela=&np=O+
Projeto&nc=Caminhos+de+Barro&buscaEdicao=&grupo=CERAMICA&p= >Acesso em 05.01.2010

146 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


8.9 O Artesanato na Expo MercoNoroeste
A MercoNoroeste, feira de negócios da Região Noroeste Fluminense, é uma evento regional
que acontece a 11 anos, em junho, na Cidade de Itaperuna. Ele tem servido como oportuni-
dade para divulgar os valores de municípios e fazer bons negócios.

Fotos 70 e 71 – Região Noroeste Fluminense, Expo Noroeste, 2009

Crédito :Camilo de Lellis

O artesanato regional esteve presente no último evento: participaram grupos de artesãos de


Aperibé, Bom Jesus do Itabapoana, Campos dos Goytacazes, outros de Itaperuna, Italva,
Macaé, Miracema, Natividade, Quissamã, Raposo, São Francisco de Itapabapoana, Santo
Antônio de Pádua, Porciúncula e Varre-Sai.

Segundo os seus organizadores, em 2009 o Setor de Artesanato vendeu 30% a mais do que
o ano passado, durante a XI MercoNoroeste. De acordo com o gestor do Projeto, metodolo-
gia GEOR do SEBRAE/RJ, o fato se deve talvez ao aumento do número de grupos de arte-
são que estiveram presente: “ano passado participaram 11 grupos e, em 2009, foram 18
grupos de artesãos, podendo ser este um dos motivos.”

Os artesãos trouxeram inclusive, produtos da indústria rural caseira, como mariolas, geléias,
compotas, doces cristalizados, café e cachaça que são produzidos artesanalmente, pelos
mesmos grupos de artesãos que fazem acessórios e objetos decorativos.

Fotos 72 e 73 – Região Noroeste Fluminense, Produtos Artesanais na XI MercoNoroeste, 2009

Crédito: Camilo de Lellis

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 147


9. PATRIMÔNIO CULTURAL

A noção de “bem cultural” tem como fundamento o conjunto de bens materiais e imateriais
(tangíveis e intangíveis) possuidores de significados que os tornam representativos da Cul-
tura e da existência do homem, onde os limites entre os produtos do homem e da natureza
se confundem. Os ambientes da natureza possuem um equilíbrio dinâmico gerando suces-
sões de paisagens, no tempo e no espaço, que são apropriados à cultura do homem, muitas
vezes tornando-se símbolo de sua identidade.

O IPHAN trabalha com um universo bastante diversificado de bens culturais, e possui ins-
trumentos específicos de acordo com a natureza do bem. Os bens culturais materiais (que
ainda são divididos em duas categorias: imóvel5 e móvel6) são classificados de acordo com
suas características em quatro livros do Tombo:
1) Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico;
2) Livro do Tombo Histórico;
3) Livro do Tombo das Belas Artes;
4) Livro das Artes Aplicadas.

Os bens imateriais são trabalhados segundo as premissas do Programa Nacional de Patri-


mônio Imaterial/PNPI, instituído pelo Decreto nº. 3.551, de 4 de agosto de 2000, que tem
como objetivo viabilizar projetos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção
da dimensão imaterial do patrimônio cultural. Este programa caracteriza-se como uma ação
de fomento que busca estabelecer parcerias com instituições dos governos federal, estadual
e municipal, universidades, organizações não governamentais, agências de desenvolvimen-
to e organizações privadas ligadas à cultura, à pesquisa e ao financiamento.

Para que seja realizado o registro de um bem cultural de natureza imaterial, alguns requisi-
tos precisam ser preenchidos, dentre eles a apresentação na solicitação de abertura do pro-
cesso de uma manifestação formal de anuência com o processo de registro por parte da
comunidade envolvida, além do cumprimento das etapas de realização de inventário e de
análise realizadas pelo corpo técnico do IPHAN. Os bens que recebem parecer favorável
para o registro são agrupados por categoria e registrados em livros, classificados em:
• Livro de Registro dos Saberes (para conhecimentos e modos de fazer enraizados
no cotidiano das comunidades);
• Livro de Registro de Celebrações (para os rituais e festas que marcam vivência
coletiva, religiosidade, entretenimento e outras práticas da vida social);
• Livro de Registro dos Lugares (para mercados, feiras, santuários, praças onde
são concentradas ou reproduzidas práticas culturais coletivas).

Deve-se mencionar também que o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial também pre-
vê a realização de Ações de Salvaguarda, que visam apoiar a continuidade de um bem cul-
tural de natureza imaterial de modo sustentável, atuando no sentido da melhoria das condi-
ções sociais e materiais de transmissão e reprodução que possibilitam sua existência.

As Regiões Norte e Noroeste possuem um rico acervo Imaterial. Essa Região participou de
um importante capítulo da historia do país. Os personagens, que se entrelaçaram nesse
enredo de conquistas e resistências, contribuíram cada um com suas culturas. Negros, por-
tugueses, italianos, nativos (entre outros) fizeram destas duas Regiões brasileiras, ímpares
existenciais.

148 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


9.1 Conselho Estadual de Tombamento
O Conselho Estadual de Tombamento, CET, órgão consultivo e de assessoramento do Go-
verno do Estado do Rio de Janeiro, integra a estrutura da Secretaria de Estado de Cultura e,
no desempenho de suas atribuições, atua em estreita colaboração com o INEPAC.

Criado originalmente no antigo Estado da Guanabara, pelo Decreto-Lei Estadual nº 2, de 11


de abril de 1969, e regulamentado pela Lei nº 509, de 3 de dezembro de 1981, o Conselho
Estadual de Tombamento tem como principal atribuição a proteção ao patrimônio cultural do
Estado do Rio de Janeiro, no que se refere a documentos, obras e locais de valor histórico,
artístico e arqueológico, através de pareceres sobre atos de tombamento de bens de inte-
resse cultural e pronunciamentos quanto às propostas de intervenção para os bens protegi-
dos.

O CET é constituído de doze membros, dos quais oito são de livre nomeação do Governa-
dor do Estado, e escolhidos entre pessoas de notório saber. Com mandato de seis anos,
fazem parte também desta composição o Diretor Geral do INEPAC, um representante do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, IHGB, do Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB, e
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN.

9.2 Patrimônio Arquitetônico


Considera-se Patrimônio Arquitetônico, os edifícios e monumentos que podem expressar a
evolução histórica das artes e das técnicas construtivas, as formas de organização social e
os diferentes usos do espaço. Ao longo do processo histórico foram muitos os estilos
artísticos e recursos técnicos empregados nas construções. Deste modo, os bens
arquitetônicos podem ser selecionados a partir de diferentes critérios, tais como uso e
função – arquitetura civil, religiosa, militar, industrial, etc. – assim como seu estilo
arquitetônico – colonial, eclético, moderno, etc.

Campos dos Goytacazes está entre as cidades brasileiras com maior conjunto arquitetônico
eclético preservado. Este estilo arquitetônico, caracteristicamente urbano, teve intenso uso
ao longo do século XIX, quando a população, à raiz do “boom” econômico da cana-de-
açúcar, abandona as rústicas casas da baixada, de taipa, e vem habitar a aglomeração
urbana, na sua área mais central. Sem dúvida, os solares construídos no chamado Ciclo
Áureo do Açúcar são os que mais determinam a magnitude da arquitetura da cidade.

Em torno da casa-grande e da capela, girava a vida social do Engenho. Na casa-grande, a


aristocracia açucareira não economizava em “glamour” e tentava seguir as últimas tendên-
cias da moda e dos costumes das cortes européias em suas festas, bailes e recepções. E
se esmerava na arte de “receber”, função valorizada pela arquitetura desses edifícios. Na
capela, os ofícios ou as festividades reuniam todos os protagonistas do Engenho, graças a
uma arquitetura que proporcionava um “contato sem contágio”. A escolha do local para a
implantação das construções e de diferentes materiais nos edifícios componentes dos en-
genhos de açúcar, revelavam a hierarquia social e o sistema de valores dessa sociedade
em formação, fundada sobre a família patriarcal. Enquanto a casa grande era construída
com material nobre – pedra e cal – e situada na parte mais alta do terreno, as senzalas,
construídas com materiais precários – terra, madeira, cipó – ocupavam a parte mais baixa
dos terrenos. Por esta razão, poucas dessas habitações chegaram até os dias de hoje.

A casa grande era o centro de irradiação de toda a vida econômica e social da propriedade.
Tais construções podiam ser verdadeiros palacetes, mas nem sempre eram suntuosas, da-
da a grande diversidade do status financeiro dos donos de engenho. Eram funcionais, mas

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 149


de conforto ambiental precário e, por longo tempo, as alcovas (cômodos internos sem jane-
las) permaneceram no programa das casas. Só a partir da segunda metade do século XIX,
sob a influência dos higienistas, com suas idéias sobre os benefícios do ar em movimento, é
que as casas passaram a ter oitões livres e quartos com aeração.

Quanto à sua arquitetura, a tentativa foi a de adaptação à geografia do sítio, à paisagem


natural, aos materiais disponíveis e às exigências decorrentes do clima tropical da Colônia.
Além disso, adequação também à maneira de viver, hábitos e costumes locais - como o (im-
perialismo) português aqui se manifestava – às relações sociais e às necessidades do patri-
arcalismo rural e escravocrata. Com isso tudo, dialogavam as grossas paredes de taipa ou
de pedra e cal, coberta de palha ou telha-vã, o alpendre na frente e nos lados, os generosos
telhados protegendo do sol forte e das chuvas tropicais.

A cultura do açúcar produziu formas peculiares de dormir, de descansar, de comer, de defe-


car, de banhar-se e de parir.21E à arquitetura coube atender essas funções. Além disso, via-
bilizar o espaço construído para comportar a família ampliada (afilhados, compadres, agre-
gados de todo tipo), à reclusão das moças solteiras, ao confinamento das mulheres nas co-
zinhas, ao seu deslocamento sempre acompanhado por diversas escravas.
Os pátios internos e, mais tarde, as varandas periféricas garantiam a privacidade, fazendo a
transição entre o espaço externo e os cômodos da casa. Os quartos de dormir – as alcovas
–, nenhum contato tinham com o exterior, já que não possuíam janelas. 28

Os equipamentos de assistência médica, igualmente, era um apoio fundamental à vida no


engenho. Inicialmente, sob forma de boticas, fazendo parte das casas grandes e, mais tar-
de, como verdadeiros hospitais, já no tempo das usinas.

Outras casas, em número variável, serviam de residência ao capelão, ao mestre de açúcar


(que comandava a “casa das fornalhas”), aos feitores e aos poucos trabalhadores assalaria-
dos.

E finalmente, nas senzalas, toscas construções, geralmente em construções lineares, amon-


toavam-se os escravos, às centenas, em cômodos mal iluminados, mal ventilados. Em ter-
mos construtivos e não só, as senzalas se aparentavam com as estrebarias.

A forma como essas duas Regiões foram colonizadas refletem no patrimônio adquirido, a-
cumulado e preservado. O padrão de construção carrega a influência de uma época que
transitou entre riquezas e privações.

O auge da economia fez com que fosse possível investir em requinte e beleza. E então, pa-
drões europeus passaram a ser incorporados aos padrões da época nestas Regiões brasi-
leiras.

Sede de fazenda de açúcar mais próxima ao Centro de Quissamã, a moradia do Visconde


de Araruama, de 1826, chegou a receber o Imperador Dom Pedro II como hóspede por di-
versas vezes.
Além do Imperador, passaram pela grande aléia de palmeiras imperiais o Duque de Caxias,
o Conde D’ Eu e a Princesa Isabel, convidados ilustres das requintadas festas que ali acon-
teceram.

21
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Formação da família brasileira sob o regime daeconomia patriar-
cal. Editora José Olympio, 1975.
150 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Fotos 74 e 75 – Região Noroeste Fluminense, Museu Casa Quissamã

Fonte: Disponível em:<http//www.quissama.rj.gov.br> Acesso em: 10/12/2009

A Mato da Pipa constitui a mais antiga casa de engenho do Norte Fluminense ainda conser-
vada e foi a primeira casa de telhas de toda a Região. Construída em 1777, é um exemplo
da arquitetura rural inspirada pelo estilo bandeirista de São Paulo. A casa possui um acervo
de documentos, móveis e utensílios que por si só contam sobre os primeiros colonizadores
da Região. Atualmente, o imóvel pertence à Associação dos Amigos de Mato de Pipa, fun-
dada em 1983, que é responsável por sua preservação e manutenção.

Fotos 76 e 77 – Região Noroeste Fluminense, Casa Mato Pipa em Quissamã

Fonte: Disponível em: <http//www.quissama.rj.gov.br >Acesso em 10/12/2009

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 151


Fotos 78 e 79 – Região Noroeste Fluminense, Senzalas da Fazenda Machadinha em Quissamã

Fonte: Disponível em:< http//www.quissama.rj.gov.br >Acesso em 10/12/2009

9.3 Patrimônio Arquitetônico Religioso

Edificada provavelmente em meados do século XVII, por fidalgos portugueses no período de


domínio dos Assecas, apresenta características barrocas simples, tanto internas como
externamente. O frontão da fachada com as suas volutas e ornatos possuem estilo barroco,
denotando dessa forma uma sobriedade altiva própria da fidalguia portuguesa que a
construiu. A imagem da padroeira veio de Lisboa em 1650, por determinação do donatário
da capitania, Salvador Corrêa de Sá e Benevides, e hoje, somente em dia de festa, nela
permanece.

Foto 80 – Campos dos Goytacazes, Capela Nossa Senhora do Rosário (Donana)

É um dos primeiros imóveis tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional/IPHAN, no ano de 1942, em Campos dos Goytacazes, A Capela se destaca, junto
à Capela de Nossa Senhora do Rosário, de Campo Limpo, como uma das mais antigas
construções, ainda preservadas, do período colonial na planície.

152 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Foto 81 – Quissamã, Igreja Nossa Senhora do Desterro

Fonte: Disponível em:< http//www.quissama.rj.gov.br >Acesso em 10/12/2009

Seu estilo arquitetônico é o eclético europeu com características das construções religiosas
do início do século XX, do Sul da Alemanha. Possui planta de nave única e torre sineira cen-
tral na fachada frontal. No seu interior encontram-se alguns altares, além de imagens sacras
originais da antiga matriz, que foram recentemente restauradas. O altar-mor foi trazido da
Alemanha e, antes de vir para Quissamã, figurou na exposição comemorativa do Centenário
da Independência, em 1922, no Rio de Janeiro. Atualmente, a Matriz guarda também peças
importantes como a pia batismal e o púlpito de origem germânica. O conjunto arquitetônico é
composto pela igreja, o convento dos padres redentoristas (1928) e gruta artificial.

10. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA CULTURA, IDC

No sentido de se avaliar a condição do desenvolvimento da Cultura nas Regiões Noroeste e


Norte Fluminense, foi aplicada uma metodologia qualificada cuja síntese conduz ao Índice
de Desenvolvimento Cultural, o qual foi objeto de investigação junto aos municípios, permi-
tindo-se obter uma posição para as Regiões, de modo individualizado.

Para tal, foi realizada uma análise sistemática a partir de questionário, respondido pela área
especializada e responsável pela Cultura nas Municipalidades, cujos conteúdos foram pro-
cessados uma vez avaliados à luz das informações disponíveis. Quatro respondentes falta-
ram: Itaperuna e Cambuci, na Noroeste, e Campos do Goytacazes e São Francisco de Ita-
bapoana, na Norte.

O Índice de Desenvolvimento Cultural, IDC, constitui ua mensuração especializada, numa


perspectiva de escopo e escala, que procura captar o que acontece com a Cultura de cada
ambiente pesquisado, a cada momento, o que lhe faculta a condição de expressar os movi-
mentos da dinâmica que habitualmente ocorre, entre tempos consecutivos. Para cumprir
com os objetivos que dele se espera, o IDC se forma de ua média ponderada de nove Índi-
ces que consideram quarenta dimensões ou temas diversificados, relacionados diretamente
à Cultura, cujas medidas representam Indicadores. Não obstante a integração que se obser-
va necessariamente, com intensidade crescente entre Cultura e Turismo, em qualquer de
suas modalidades, o IDC não adentra o campo específico do Turismo, contemplando sim-
plesmente questões de interesse comum – saliente-se que o turismo cultural é uma das
maiores oportunidades de desenvolvimento das grandes economias mundiais. O IDC é
constituído, portanto, por nove índices, quais são:

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 153


• Institucional (cinco indicadores);
• Participação da sociedade (quatro indicadores);
• Infra-estrutura cultural e instalações (dez indicadores);
• Atrações culturais originais e nativas (três indicadores);
• Patrimônio histórico, cultural e ambiental (três indicadores);
• Economia da cultura (cinco indicadores);
• Programas culturais para a população (dois indicadores);
• Turismo (seis indicadores);
• Planejamento (dois indicadores).

Na medida em que as respostas foram produzidas pelos gestores municipais, elas foram
aceitas como representantes das realidades reportadas, excetuando os casos das trans-
gressões lógicas, as quais foram devidamente ajustadas.

Os resultados constam das Tabelas seguintes.

Neles se observa claramente que o tratamento da Cultura difere entre municípios, com al-
guns deles já assumindo uma postura avançada de tê-la como uma atividade sustentável,
decisiva e contribuindo para a formação da economia e do modo de pensar e ser municipal,
com participação ativa na inclusão social e no processo distributivo de renda. Pelas informa-
ções das Municipalidades das Regiões, tais políticas e ações/pro-gramas culturais são re-
centes, estando em implantação ou progressão, ou seja, percorrem uma fase inicial de sua
vida útil. Uma vez que a existência de grandes empresas ou de empresas mais estruturadas
ou de base de conhecimento é limitada quantitativamente nas duas Regiões, as atividades
de Cultura ligadas ao empreendedorismo são incipientes. De maneira análoga, as ações
integradas no ambiente regional, muito poucas (apesar das respostas em contrário), levam a
maioria das Municipalidades a atuar de modo individualizado, em vários casos com grande
entusiasmo e competência. Os Circuitos, conquanto existentes, mostram-se pouco eficazes,
quando em operação. Com isto, as sinergias não ocorrem e os sistemas das Regiões (e
interRegiões) não capitalizam e dissipam ou deixam de usar o que poderiam ter, em termos
de energia.

Analisando-se o IDC da Região Noroeste constata-se que:


• há uma variação acentuada entre as Municipalidades (4,25 vezes entre o maior
e o menor valor) o que indica que há orientações municipais bastante distintas,
decorrentes provavelmente de realidades muito diferenciadas;
• o desenvolvimento cultural, no seu primeiro movimento, caso atual, não está as-
sociado, necessariamente, à dimensão da população ou ao agregado da eco-
nomia de um município, mas depende da receita da Municipalidade e de sua a-
locação para o desenvolvimento da Cultura;
• a média regional 4,80 é baixa mostrando que há uma longa trajetória de oportu-
nidades a conquistar. Cabe lembrar que os valores dos IDCs das Municipalida-
des, sem que tenha sido feito um estudo específico de correlação, na média, re-
tratam valores similares aos do Índice da Educação Básica Brasileiro, IDEB, o
que merece investigações subseqüentes;
• há, na Região, iniciativas e projetos municipais de grande envergadura, capazes
de se constituírem como núcleo genético, que, se continuados, devem produzir
efeitos multiplicadores e resultados nos anos vindouros, assim como há outras
Municipalidades, sem projetos;
• não obstante os esforços já obtidos em relação à educação e formação de jo-
vens e adultos, na Região, para a sua participação ativa no seu sistema cultural
produtivo, a oferta existente - escolas, academias, oficinas, ateliers, etc.- é bas-
tante limitada e aquém do que pode e deve ser feito;
154 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
• como Cultura envolve movimentação de pessoas e o seu desenvolvimento se
vincula de maneira decisiva e, na maior parte dos casos, depende do turismo pa-
ra manter a sua inserção na economia regional e em outras que apresentem
demandas, ela requer uma infra-estrutura de hospedagem, alimentação e mobi-
lidade/acesso. A situação existente na Região é de carência generalizada de u-
nidades e qualidade, representando uma restrição significativa a uma potencial
expansão de atividades para demandas maiores.

Tabela 9 – Região Noroeste Fluminense, Índice de Desenvolvimento Cultural (IDC)


REGIÃO NOROESTE FLUMINENSE
INDICE DE DESENVOLVIMENTO DA CULTURA (IDC)
MUNICÍPIOS IDC IDC Município/IDC Região
Aperibé 3,59 0,75
Bom Jesus do Itabapoana 5,47 1,14
Cambuci s/i s/i
Italva 4,41 0,92
Itaocara 4,95 1,18
Itaperuna s/i s/i
Laje do Muriaé 4,22 0,88
Miracema 6,08 1,27
Natividade 3,44 0,72
Porciúncula 4,15 0,86
Santo Antonio de Pádua 5,20 1,08
São José de Ubá 1,43 0,30
Varre-Sai 5,07 1,06
Região Noroeste Fluminense 4,80
s/i = sem informação
Obs: Para a média da Região foram usados somente os municípios com informações

Analisando-se o IDC da Região Norte constata-se que:


• variações existem entre os Municípios, com característica de maior simetria, com
pequena diferença entre os seus extremos, a qual não chega a uma vez;
• reitera-se a observação quanto à independência do desenvolvimento cultural das
variáveis usualmente consideradas para o crescimento;
• o público visitante numa localidade litorânea, mesmo sem oferecer condições
mais estruturadas, é, regra geral, maior quantitativamente do que o de um locali-
dade interior;
• a experiência das fundações culturais para atuar pelas Municipalidades, tem
funcionado bem e com resultados adequados;
• a experiência com vários programas culturais para a inclusão social no sistema
econômico vem comprovando, nas Municipalidades desta Região que o adota-
ram, resultados muito animadores, com respostas duradouras;
• os valores das receitas das Municipalidades, bem superiores às do Noroeste,
ensejam ou ensejariam proporcionalmente, muito maior possibilidade para o de-
senvolvimento cultural desta Região, o que, efetivamente, não vem ocorrendo;
• os outros comentários, que figuram para a Região Noroeste, se aplicam igual-
mente à Região Norte, com atenuação quanto ao sistema receptivo de turismo,
em que o Norte possui melhores unidades, em alguns Municípios, em funciona-
mento.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 155


Tabela 10 – Região Norte Fluminense, Índice de Desenvolvimento Cultural (IDC)
REGIÃO NORTE FLUMINENSE
INDICE DE DESENVOLVIMENTO DA CULTURA (IDC)
MUNICÍPIOS IDC IDC Município/IDC Região
Campos dos Goytacazes s/i s/i
Carapebus 4,05 0,79
Cardoso Moreira 5,20 0,96
Conceição de Macabú 4,07 0,75
Macaé 5,87 1,08
Quissamã 8,01 1,47
São Fidelis 6,01 1,11
São Francisco do Itabapoana s/i s/i
São João da Barra 7,42 1,36
Região Norte Fluminense 5,44
s/i = sem informação
Obs: Para a média da Região foram usados somente os municípios com informações

Comentários Gerais

Em ambas as Regiões, verifica-se que:


• nem todos os municípios apresentam as mesmas condições para promoverem a
inserção diferenciada da sua Cultura na sua economia, mas todos podem tê-la
para subsidiariamente agregar valor à sua economia;
• o desenvolvimento da Cultura em uma Região não pressupõe que todas as suas
Municipalidades se dediquem a gerenciar a Cultura como parte de sua economia;
• a diferenciação de recursos financeiros e ações destinados à Cultura, entre Mu-
nicípios ou Municipalidades, não determina que a Região não possa desenvolver
uma plataforma própria, para desenvolver a sua plataforma de Cultura, respei-
tando os objetos estratégicos que lhe sejam convenientes ;
• o pequeno número e empresas participantes das atividades culturais nas duas
Regiões constitui um elemento que, de fato, limita seu desenvolvimento.

11. DA CULTURA DO CRESCIMENTO

“O Brasil nasceu e cresceu econômica e socialmente com o açúcar. a casa de


engenho foi modelo da fazenda do cacau, da fazenda do café, da estância.
Foi base de um complexo sociocultural de vida.”

Gilberto Freyre

Ao longo de sua história, desde Pero de Góis em 1530, com a sua Capitania de São Tomé,
passando pelas glórias dos Sete Capitães, pelo período terrível da dinastia dos Assecas
com a manifestação de resistência e bravura de Benta Pereira de Souza e Mariana Barreto,
a que sucedeu a dominação pela Coroa, até o início do Império, o Norte Fluminense desen-
volveu a maior província econômica brasileira, calcada na agropecuária de grandes latifún-
dios que usavam habitual e intensamente dos aforamentos para multiplicar as áreas de cul-
tivo e produção dos seus territórios. Enquanto isto ocorria nas planícies, nas montanhas,
condição semelhante se desenvolveu um pouco mais tarde, com outros cultivares, numa
estrutura diferente, na medida em que foram as próprias famílias e com a participação de
trabalhadores mineiros. Todo o escoamento desta produção era feito por vias férreas até a

156 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


cidade do Rio de Janeiro, que acumulava as condições de capital do país e do Estado. O
fluxo fluvial pelo Paraíba do Sul, a partir de São Fidelis, enfrentou as restrições do porto de
São João da Barra, sendo que as cargas ali embarcadas também eram destinadas ao porto
do Rio de Janeiro (repete-se o ciclo do ouro). Ressalte-se que assim como todos os fluxos
convergiam para a capital, durante os primeiros séculos capitães ou os senhores proprietá-
rios das terras ou dos seus direitos habitavam a cidade do Rio de Janeiro.

A drástica mudança da estrutura fundiária da planície, que ocorre no século XIX, de grandes
latifúndios, multiplicando-se em centenas de minifúndios (hoje mais de cinco mil), descreve
uma trajetória de distribuição e desconcentração. Esta condição multiplica as engenhocas,
depois os engenhos a vapor até chegar aos grandes engenhos e à usina, ou seja, o avanço
da tecnologia de processamento e produção determina uma trajetória inversa, de concentra-
ção e escala, hoje automatização e produtividade. As mudanças tecnológicas estendem a
duração dos negócios dos senhores de engenho e da sua vida de fausto e riqueza, habitan-
tes de solares, em que a educação floresceu neste estrato mais rico, em substituição a sé-
culos de baixa educação, falta de apreciação do conhecimento e desvalorização da cultura,
salvo o cultivar a terra. Instalara-se um sistema neofeudal, “com uma multidão de pequenos
donos de fazendolas” que se apegam à terra, que pela primeira vez lhes pertence. Cente-
nas de núcleos produtores se espalham no território, fazendo-os reféns da cadeia de comer-
cialização a jusante. Os filhos dos integrantes dessa oligarquia, educados nas capitais, não
tem o mesmo apreço e compromisso com a terra e o negócio e deles não participam. A ri-
queza dos empreendimentos privados não gera poupança e nem se transforma em investi-
mento de capital. O domínio exógeno que sucedia com os proprietários morando fora, a
maioria na capital, durante a Colônia, passa a ser exercido pelo capital e pela cadeia de
comercialização com as interdependências ou dependências que eles exercitam.

Com o advento dos grandes engenhos e das usinas, o senhor de engenho passa a constitu-
ir-se em fornecedor de matéria bruta, a cana de açúcar. O limite que contribui para a sua
queda ocorre com as usinas, ou a industrialização, que rompem com o sistema escravocrata
e contribuem para a extinção do Império.

O poder de decisão que, em relação ao Norte Fluminense, persistiu durante séculos na ci-
dade do Rio de Janeiro e parecia ter se voltado para a aristocracia dominante local (ou regi-
onal), uma visibilidade aparente, à cidade retorna.

A emergência da sociedade afluente no Norte Fluminense, decorrente de um extraordinário


crescimento de sua economia e população, caracteriza-se por seu “isolamento histórico ge-
ográfico”.

Analisando esta resenha essencial, ressalta-se que o ocorrido com o Norte-Noroeste Flumi-
nense define-se muito mais como um crescimento endógeno, com uma convergência entre
a economia regional e a nacional/internacional, do que de um desenvolvimento endógeno.
Para que este tivesse ocorrido teria que ter havido a identificação dos fatores e mecanismos
que constituíam os processos de seu crescimento e de mudança estrutural associados à
flexibilidade e organização da produção, à capacidade de integrar os recursos das empresas
e do território no sentido de lhe assegurar competitividade e sustentabilidade. Tal situação
representa necessariamente um processo empreendedor e inovador em que o território não
se mostra um receptor passivo de estratégias de agentes e organizações externas, ao con-
trário, possui uma estratégia própria que lhe permite conduzir a dinâmica de sua economia.
Observa-se que a Região integrada não buscou e/ou conseguiu uma competência regional
capaz de tomar decisões relevantes e autônomas em relação às suas opções de seu de-
senvolvimento, aos diferentes modos para orientá-lo, e em relação à disponibilidade dos
instrumentos essenciais ao exercício de sua gestão, à qualificação para formular e executar
políticas de desenvolvimento e mais importante, à qualificação de negociar e se adaptar a

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 157


situações novas, na dinâmica dos movimentos que interferiram no destino de sua própria
economia. O pensamento dominante orientou-se para o curto prazo e aceitou a monocultura
extrativa, sem se preocupar com o longo prazo e a sustentabilidade, e não se insurgiu con-
tra a dominação exógena existente, substituindo-a por um sistema de governança próprio.
No plano econômico, não houve a capitalização dos resultados (exceção ao grupo de em-
preendedores/investidores de Quissamã que prosseguiu bem, até a quebra da Bolsa, em
1929), constituindo-se os meios de reinversão ou inversão dos lucros no aprimoramento ou
diversificação da produção de sustentação regional de longo prazo. A título de exemplo, não
houve e nem há bancos da Região. De maneira análoga, não se cuidou da questão tecnoló-
gica e científica que conduzisse/produzisse, com base regional, as transformações de avan-
ço qualitativas dos múltiplos sistemas de produção existentes tanto na área do agronegócio,
quanto no segmento industrial e de logística. O que reúne e coordena essas faltas e incapa-
cidades foi, sobretudo, a ausência de uma cultura de integração e de desenvolvimento regi-
onal, como a matriz geradora da sua identidade territorial.

Observa-se de maneira clara, que na medida em que a complexidade das operações e mo-
vimentos e escalas da economia Norte Fluminense cresceu, durante séculos, mais o seu
sistema produtivo se abriu, isto é, mais ele passou a interagir com o meio externo estadu-
al/nacional e internacional, em interdependência, lembrando-se, a título de exemplo, que o
açúcar, como “commodity”, é e já foi um dos produtos mais valiosos das bolsas de merca-
doria mais importantes, onde são fixados os seus preços de mercado. O mesmo acontece
com o café, cereais, petróleo, indústria naval, principalmente.

Assim, nesta sua interação com o meio, o sistema econômico regional Norte importou e im-
porta matéria, energia e conhecimento, transformando estes insumos e exportando produtos
que os convertem e os incorporam a outros insumos produzidos localmente. Neste inter-
câmbio, em geral, ocorre uma situação de equilíbrio que é mantida, desde que sistema e
meio admitem as mudanças e transformações especificadas reciprocamene (a título de ilus-
tração, com a abolição, enquanto declinou acentuadamente a produção de café Fluminense,
cresceram, com igual intensidade, as paulista e mineira).

No caso do Norte Fluminense, os fluxos com seu entorno foram e são muito grandes e in-
tensos, na medida em que seus produtos, ao longo de sua história, formam a primeira linha
de consumo global. Nestas circunstâncias, um número crescente de operações vinculadas
ao seu crescente grau de complexidade, que inicia ou finaliza dentro do seu território regio-
nal, tem a sua finalização ou início fora dele. Tal relação era entendida, num paradigma an-
tigo, como todo-parte, quando na verdade se comporta como sistema-entorno (na qual a
Região subsiste em cada uma e todas as suas partes, assim como as suas partes subsis-
tem na Região).

O desenvolvimento de uma região busca o aumento de sua complexidade, reduzindo a sua


diferença em relação à do seu entorno, o qual sempre será portador de uma complexidade
maior.

Como um território pequeno típico, o Norte Fluminense tende a trabalhar com uma abertura
sistêmica ampla, o que tende a transformar em exógeno ao território, o processo de seu
crescimento econômico, do ponto de vista da decisão (investidores, empreendedores, capi-
tais e tecnologias/conhecimentos externos). Naturalmente se esta constitui a condição para
o seu crescimento, a autonomia e sustentabilidade de seu desenvolvimento dependerão de
uma governança endógena muito mais desafiadora, que deve confrontar direta e continua-
mente com decisões exógenas. Assim como aconteceu com os encadeamentos da cana de
açúcar, acontece com o petróleo e acontecerá com o pré-sal e com a indústria naval.

158 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Por outro lado, quanto mais aberto um sistema, maior é a sua propensão a chegar a um
Estado final dissipativo e para evitá-lo, deve equilibrar os fluxos de troca com o seu entorno
e redistribuir os que entram, internamente (na sua endogeneidade). Um sistema dissipativo
tem a dupla habilidade de aumentar e armazenar conhecimento sob a forma de níveis cada
vez maiores de complexidade interna e de exportar desorganização ao seu entorno imedia-
to.

Quanto mais aberto é um sistema, menores os seus graus de liberdade, disponíveis endo-
genamente para sua autocoordenação e para a auto-regulação de seu processo de emer-
gência. Em contrapartida, quanto mais fechado um sistema, mais energia ele acumula inter-
namente, aumentando sua entropia. Entenda-se que o fechamento tanto pode ocorrer por
medidas que restringem explicitamente a abertura do sistema, quanto acontece pelo fato
dos agentes locais não perceberem ou não compreenderem ou ignorarem o que está a se
passar, operando como se o entorno fosse um elemento passivo e/ou que as condições
internas vigentes possuíssem perpetuidade. Se isto acontecer, o aumento da entropia do
sistema pode levá-lo, no limite, à morte. Certamente, este (a cultura isolacionista e individu-
alista e o grau de fechamento correspondente) foi o determinante dos ciclos anteriores do
Norte Fluminense, no que diz respeito ao café e à cana de açúcar e deve constituir a preo-
cupação central do atual ciclo do petróleo.

12. LAZER - CONSIDERAÇÕES

O Estado do Rio de Janeiro é bastante privilegiado em relação à sua natureza. A grande


diversidade de sistemas e ecossitemas torna possível, num pequeno espaço territorial, ex-
perimentar ares e paisagens dos mais diferentes tipos e possibilidades, capazes de propiciar
lazer e entretenimento.

Nas Regiões Norte e Noroeste do Estado, montanhas, vales e praias se intercalam e abre-
se um leque de oportunidades para viver, produzir, construir e principalmente divertir.

A Região Noroeste dotada de montanhas com grandes rios e vales, oferece oportunidades
de lazer em atividades como vôos livres com asa delta e parapente, ciclismo, caminhadas,
balonismo, canoagem, rapel e escalada, “trekking” e trilhas e “cross”, cavalgadas, pesca,
dentre outras.

Fotos 82 e 83 – Região Noroeste Fluminense, Parapente, São José de Ubá

Fonte: Disponível em:<http://www.morroazuleventos.com.br/page1.aspx >Acesso em 05/12/2009

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 159


Foto 84 – Região Noroeste Fluminense, Caminhada em Miracema
Foto 85 – Região Noroeste Fluminense, Montanhas do Noroeste Fluminense

Fonte:Disponível em:<http://www.morroazuleventos.com.br/page1.aspx >Acesso em 05/12/2009

A Região Norte oferece outras opções com as suas enormes planícies alagadas, praias de
mar profundo e muita história para ser apreciada principalmente nas aglomerações. As prai-
as, portadoras de beleza natural especial, não concorrem em condições favoráveis para sua
utilização com outras praias do território fluminense ou capixaba, dentre outras.

Em ambas, o que existe de patrimônio valioso é pouco aproveitado para o lazer e para o
turismo, este predominantemente de temporada, para público interno ao país (classes C e
seguintes).

O acervo histórico e arquitetônico importante, moldado e decorrente dos cultivares, salvo


algumas exceções importantes, não estão orientados para operar como atrações e produ-
tos, que contribuam para o bem estar e o entretenimento de nativos e visitantes.

As condições climáticas são favoráveis, com um regime dominante tipicamente tropical, ú-


mido e quente, com restrições no período de chuvas.

Fotos 86 e 87 – Região Norte Fluminense, Excursão de Lazer, Canal Campos-Macaé

Fonte: Disponível em:http://www.quissama.rj.gov.br/index.php/2009/05/06/municipio-quissama/


Acesso em: 08/02/2010

160 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


A título de exemplo, pode ser visualizado o uso do Canal Campos-Macaé que possui cerca
de 100 km de extensão, atravessando os municípios de Campos, Quissamã, Carapebus e
Macaé, o segundo canal mais extenso do mundo, construído pelo homem. Constitui uma
das mais importantes obras do Imperador D. Pedro II, no Estado do Rio de Janeiro, e é con-
siderada, até hoje, uma das grandes obras da engenharia brasileira do século XIX. Constru-
ído entre 1843 e 1861, pelos escravos, tinha como função o escoamento da produção de
açúcar das fazendas de Quissamã, Campos e Carapebus até o porto de Macaé e contribuir
para a drenagem e regularização da bacia do Paraíba do Sul.

Ele integra a programação de lazer do município de Quissamã e circunvizinhança, a-


tendendo a várias faixas etárias e operando com agências de turismo, constituindo uma
exceção, ainda pouco frequentada.

Fotos 88 e 89 – Região Norte Fluminense, A Lagoa Feia

Fonte: Disponível em:<http://www.quissama.rj.gov.br/index.php/2009/05/06/municipio-quissama/


Acesso em: 08/02/2010

De maneira análoga e na extremidade do canal, localiza-se a Lagoa Feia a qual é o segun-


do maior espelho de água doce do país em termos de superfície. Suas águas banham os
municípios de Campos dos Goytacazes e Quissamã, margeando diversas propriedades ru-
rais, desvendando um cenário de grande beleza (ao contrário do que diz o seu nome). Es-
pécies de peixes como a traíra e o robalo, sustentam e alimentam famílias inteiras de quis-
samaenses e campistas. Sua utilização para o lazer é mínima, assim como as corredeiras
dos diversos rios das duas Regiões, os vales e assim por diante.

Pode-se dizer que as Municipalidades e empresariado desses dois municípios retratam o


comportamento típico das duas Regiões, na medida em que utilizam de forma muito modes-
ta ainda, os recursos naturais e culturais de que dispõem, para atender às demandas de seu
mercado de lazer e o turismo. Como tal, há uma carência generalizada de infra-estrutura de
lazer e turismo, tanto para os públicos locais-regionais e principalmente, para visitantes.

Do ponto de vista da oferta de lazer, a ênfase são os eventos que ocorrem nos ambientes
dos municípios, ao longo de todo o ano, com calendários individualizados, que não obser-
vam uma integração nem na Região, nem interregionalmente, o que pode ser visto na Tabe-
la seguinte, que compila o que existe programado mais importante em cada município das
Regiões Norte e Noroeste Fluminense.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 161


Tabela 11 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais, Janeiro
Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste
Município Evento Descrição
Campos dos Goytacazes Projeto Farol Programação cultural, esportiva e de
lazer.
Festa em homenagem ao padroeiro
Cavalhada de Santo Amaro do Distrito de Santo Amaro, com a
representação das lutas entre os sol-
dados cristãos de Carlos Magno e os
soldados mouros do sultão de Cons-
tantinopla.
Carapebus Verão Livre Copa de jet ski, enduro de motoveloci-
dade, torneios de pesca, futebol, volei-
bol e footvolei,
Italva Festival Folia de Reis
Miracema Festejo Folia de Reis
São Sebastião
Carnaval Blocos de sujos, mascarados, desfiles
de escolas de samba, grupos folclóricos
e shows.
São João da Barra Festa de Santo Amaro
Festa de São Sebastião
Aniversário da Cidade
São Fidelis Festival Folia de Reis
Quissamã Projeto Verão 2009
Campeonato Brasileiro de
Surf Profissional
Macaé Festival de verão Competições esportivas e shows

Aperibé Festa de São Sebastião Padroeiro da cidade


Italva Festival Folia de Reis
São Francisco do Itaba- Aniversário da cidade
poana
Varre- Sai Festa de São Sebastião
Aniversário da Cidade

Tabela 12 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Fevereiro

Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste


Município Evento Descrição
Quissamã Festa em Louvor a N. Sª do
Desterro
Carnaval
Macaé Carnaval Durante o dia, trio elétrico, na Av. Atlân-
tica, na Praia de Cavaleiros. A noite são
desfiles de blocos e escolas no centro.
Bom Jesus do Itabapoana Carnaval
Cambuci Campeonato Interestadual de
Vôo Livre
Itaocara Festa de São José Padroeiro da cidade
Natividade Carnaval Desfile de Blocos, Boi Pintadinho e
Bonecas da Alegria

162 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Tabela 13 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Março

Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste

Município Evento Descrição


Cambuci Aniversário da cidade
Campos dos Goytacazes Aniversário da cidade
Carapebus Aniversário da cidade
Cardoso Moreira Festa de São José Padroeiro da cidade
Macaé Dia da consciência negra
Homenagem ao poeta Macaense
Conceição de Macabu Aniversário da cidade
Itaperuna Festa de São José
São João da Barra Campeonato nacional de surf
São José de Ubá Exposição agropecuária

Tabela 14 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Abril

Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste

Município Evento Descrição


Aperibé Festa do Padroeiro São Sebastião
São Fidelis Aniversário da cidade
Festa de São Fidelis Padroeiro da cidade
Miracema Exposição Especializada do Cavalo
Manga Larga Marchador
Natividade Celebração da Semana Santa Encenação tradicional da Pai-
xão e Morte de Jesus Cristo
com mais de 100 atores
São João da Barra Festa de Nossa Senhora da Penha
Paixão de Cristo
Varre-Sai Festa da Cidade
Macaé Festa de São José do Barreto
Via Sacra
Concurso da Poesia Infantil
Aniversário da Biblioteca Municipal
Quissamã Caminhada da Natureza “Circuito
Jurubatiba”
Festa em Louvor a Nª. Sª. da Penha

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 163


Tabela 15 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Maio

Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste


Município Evento Descrição
Conceição de Macabu Exposição Agropecuária
Miracema Aniversário da cidade
Exposição Agropecuária
Cambuci Concurso Leiteiro do Valão do Padre
Antônio
Festa de maio Homenagem à Padroeira da
cidade, Nossa Senhora da
Conceição
São João da Barra Festa de Nossa Senhora de Fátima
Itaperuna Festa do 10 de maio Comemoração fundação da
Câmara Municipal e aniversá-
rio da cidade
Festa do carro de boi Município de Raposo
Macaé Festa Maína do Frade

Tabela 16 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Junho


Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste
Município Evento Descrição
São Fidelis Festas juninas
Bom Jesus Do Itabapoana Arraial do Bom Jesus
Miracema Aniversário da cidade
Festas juninas
Cambuci Festa de São João
Concurso Leiteiro de São João do Paraíso
Italva Exposição Agropecuária
Natividade Corpus Christi Tradicional procissão
com tapetes nas ruas.
Aniversário da cidade
São João da Barra Festa de Santo Antonio
Aniversário da cidade
Festa de São João Batista Padroeiro da cidade
Festa de São Pedro
Campos dos Goytacazes Corpus Chirsti
Porciuncula Festa de Santo Antonio de Padua
Itaperuna Festas juninas
Quissamã Aniversário do Município
Festa em Louvor a Santo Antônio/ Machadinha
Festa em Louvor a Santo Antônio / Santa Fran-
cisca
Festa em Louvor a Santo Antônio / Canto de
Santo Antônio
São João Municipal
Procissão Fluvial de São Pedro / Barra do Fu-
rado
Macaé Mostra profissional de dança
Festa do Distrito de Sana
Festa de Santo Antônio
Festa de São João Batista
Festa de São Pedro
164 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Tabela 17 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Julho

Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste


Município Evento Descrição
Cardoso Moreira Exposição Agropecuária e Industrial
São Fidelis Festival de inverno
Miracema Festa country
Festa de Santana e São Sebastião
Festa da fraternidade
Cambuci Festival da batida
Italva Aniversário da cidade
Natividade Aparição de Nossa Senhora A pedra misteriosa é banha-
da na água onde Nossa Se-
nhora apareceu.
Campos dos Goytacazes Exposição Agro-pecuária, Industrial e
Turística
Encontro de carros antigos
Encontro Nacional de Motociclistas
Santo Antônio de Padua Exposição Agropecuária e Industrial
Festival da Canção Popular
Festival de Jovens Talentos

Varre-Sai Festival do vinho Maior festa da cidade


Quissamã Exposição Agropecuária, Turística e
Industrial
Festa em Louvor a Nª. Sª. do Carmo
Festa em Louvor a São Cristóvão
Macaé Festa de Sant’Anna
Aniversário do Município
Exposição Agropecuária, Turística e
Industrial- Expo Macaé

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 165


Tabela 18 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Agosto

Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste

Município Evento Descrição


Cardoso Moreira Feira do Folclore
Laje do Muriaé Feira do Folclore
São Fidelis Semana do Folclore
Festival da Lagosta
Festa de Participação dos Purezenses
Bom Jesus do Itabapoana Festa do Padroeiro Bom Jesus
Festa da Coroa do Divino
Aniversário da cidade
Exposição Agropecuária
Miracema Semana do meio ambiente
Festa do Folclore
Festa do Divino Procissão do mastro
Cambuci Concurso leiteiro
Natividade Dia do Evangélico
São João da Barra Festa de Nossa Senhora da Boa Morte
Moto Inverno
Campos dos Goytacazes Festa de São Salvador Padroeiro da cidade
Porciúncula Aniversário da cidade
Exposição Agropecuária
Carapebus Festa de Nossa Senhora da Glória Padroeira da cidade
Quissamã Caminhada da Natureza “Circuito Históri-
co”
Festa em Louvor a Nª. Sª da Glória
Festa em Louvor a Nª. Sª da Boa Morte
Festa em Louvor a Santa Marta e São
João
Macaé Semana Euzébio de Melo
Dia do Folclore

166 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Tabela 19 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Setembro

Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste

Município Evento Descrição


Miracema Festa do bairro Viradouro
Semana da Pátria
Cambuci Exposição Agropecuária e In-
dustrial / Festa do Laço
Etapa Estadual de Voo Livre
Festa de são Cosme e Damião
Italva Itareta Carnaval fora de época
Festa do quibe
Natividade Dia do Natividadense Ausente
Dia da Pátria tradicional desfile escolar
Dia de Nossa Senhora da Nativi- Padroeira da cidade
dade
Campos dos Goytacazes Festival de Primavera Festival de Música Popular

Feira Multissetorial Feira de Negócios Agropecuários,


Industriais e comerciais com ex-
posição e vendas de máquinas e
equipamentos.
Itaperuna Exposição Agropecuária
Quissamã Desfile da Independência
Procissão em Louvor a Nª. S.ª do
Roccio
Festa em Louvor a Nª. Sª da Paz
Festa em Louvor a São Miguel do
Furado
Encontro Regional de Motoho-
mes

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 167


Tabela 20 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Outubro

Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste


Município Evento Descrição
Miracema Festa do Barreiro
Festa de Nossa Senhora Aparecida

São João da Barra Festa de São Benedito


Campos dos Goytacazes Festa de Santo Eduardo
Itaocara Exposição Agropecuária
Festival de Música popular
Festival de pesca
Prova de Caiaque
Quissamã Festa Em Louvor a São Francisco de
Assis
Cavalgada De N. S.ª Aparecida
Encontro Nacional de Motociclistas
Macaé Festival de Poesia

168 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Tabela 21 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Novembro

Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste

Município Evento Descrição


Cardoso Moriera Aniversário da cidade
Laje do Muriaé Aniversário da cidade
Bom Jesus do Itabapoana Mostra de dança
Miracema Comemorações do dia da cultura
Comemorações do dia da Consci-
ência Negra
Cambuci Festa de Nossa Senhora da Con-
ceição
Campos dos Goytacazes Festa da Colônia Árabe
Varre-Sai Festa do Peão
Festa de Santa Filomena
Quissamã Festa em Louvor a Nª. Sª das Graças
Festa em Louvor a Nª. Sª de Todos
os Santos
Festa em Louvor a Santa Catarina
Dia Nacional da Consciência Negra
Festa em Louvor a Nª. Sª do Patrocí-
nio
Semana da Cultura em Machadinha
Seminário Internacional Afro-
brasileiro
Macaé Festival Macaense de Dança
Dia da Cultura

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 169


Tabela 22 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Eventos Culturais / Dezembro

Calendário de Eventos – Região Norte e Noroeste

Município Evento Descrição


Varre - Sai Festa do Ridículo Festa a fantasia que só
entra quem estiver ridí-
culo
Itaperuna Festival de Musica Popular Brasileira
Festival do Cascudo
Carapebus Ano Novo Praia de Carapebus
São José de Ubá Aniversário da cidade
Campos dos Goytacazes Festival de Verão do Farol de São Tomé
São João da Barra Festa de Nossa Senhora da Conceição
Natividade Comemorações Natalinas e Ano Novo
Italva Festa da Padroeira da cidade
Cantada de Natal
Cambuci Festa Folclórica Mineiro, Pau e Boi Pin-
tadinho
Festa de Nossa Senhora da Conceição Padroeira da cidade
Bom Jesus do Itabapoana Encontro de Folia de Reis
Encontro de Corais
Festival de Teatro
Quissamã Caminhada da Natureza “Circuito Eco
Rural”
Festa em Louvor a Santa Luzia
Festa em Louvor a Nª. Sª da Conceição
Festa em Louvor a Nª. Sª da Conceição/
Machado
Quissamã Off Road
Auto de Natal
Réveillon
Macaé Auto de Natal
Feira da Agroindústria Familiar

170 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


13. REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Alceu Maynard. Ritos, Sabença, Linguagem, Artes e Técnicas. São Paulo, Melho-
ramentos, 1967.

ARTESANATO Brasileiro. Rio de Janeiro, Funarte, 1978.

BARROS, Souza. Arte, Folclore, Subdesenvolvimento. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,


1977.

BELTRÃO, Luiz, Folkcomunicação A Comunicação dos Marginalizados, Cortez Editora, São


Paulo, 1980.

BENJAMIM, Roberto, Folkcomunicação No Contexto de Massa, Edições CCHLA, João Pes-


soa/Natal-2001.

BOISIER, Sergio. El Desarrollo em su Lugar. Série Geolibros, Universidad Católica de Chile,


deciembre 2003. (ISBN 956-14-0764-7)

BOSI, Alfredo, Cultura e Tradição, Zahar, Rio de Janeiro, 1986.

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CULTURA VISUAL E AFIRMAÇÕES IDENTITÁRIAS: Novos Processos de Reconhecimento


Social. SILVA Sérgio Luiz P. 2007

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FUNDAÇÃO CIDE, Território. Rio de Janeiro: 1997

FROTA, Lélia Coelho. Arte do Viver e Arte do Fazer na Coleção Jacques Van de Beuque.
Rio de Janeiro, Catálogo de Exposição do Museu de Arte Moderna, julho 1976.

LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e a Serra. Setores de Evolução Fluminense, Vol. 4,


IBGE, Rio de Janeiro, 2007. (ISBN 978-85-240-3953-9)

LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e o Brejo. Setores de Evolução Fluminense, Vol I,


IBGE, Rio de Janeiro, 2007. (ISBN 978-85-240-3950-8)

LIMONAD, Ester. Os Lugares da Urbanização. Tese de Doutorado FAU/USP, 1996.

MARAFON, Gláucio & RIBEIRO, José Miguel Ângelo. (org) Revistando o Território Flumi-
nense NEGEF/DGEO/UERJ. Rio de Janeiro, 2003.

OLIVEIRA, Floriano Godinho de. Reestruturação produtiva e regionalização da economia no


território Fluminense. Tese de doutorado FFCHL/USP. São Paulo, 2003.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 171


REIS, Ana Carla Fonseca. Marketing Cultural e Financiamento da Cultura. Cengage Lear-
ning, São Paulo, 2003.

RODRIGUES, Hervé Salgado, Campos na Taba dos Goytacazes, Imprensa Oficial, Niterói,
1988.

SANTOS, Cristiane Nunes dos. Gastronomia e turismo como vetores do desenvolvimen-


to. Anais do 11º Seminário de Iniciação Científica da UESC – Ciências Sociais Aplica-
da, Ano XVII, n. 56, dez., 1996. p. 469.

SOARES, Orávio de Campos, Muata Calombo Consciência e Destruição, Editora Fafic,


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NOEL, Francisco Luiz, Manifestação de fé em ritmo de folia, 2008

ZUKIN, Sharon. The Cultures of Cities. Blackwell, Oxford, GB, 2000.

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www.nipecfaficchuvisco.blogspot.com

www.br.geocities.com/jiujitsutotal/cidade.htm

www.pauloaourivesnipecreminiscencias.blogspot.com

www.cide.rj.gov.br

172 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Anexos

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 173


ANEXO 1 - RELAÇÃO DE BENS CULTURAIS TOMBADOS PELO INSTITUTO ESTADUAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL - INEPAC

BEM CULTURAL DATA PROCESSO MUNICÍPIO


01 03.11.1978 E-03/16.510/78 São João da Barra
Imóvel na Rua dos Passos nº 121 (onde funcionou o Grupo Escolar Alberto
03.01.1979
Torres)
(tombamento
definitivo)
02 12.12.1978 E-03/16.512/78 Macaé
Palácio dos Urubus, na Rua Dr. Télio Barreto

03 15.12.1978 E-03/37.199/78 Quissamã

Fazenda da Machadinha, situada às margens da Lagoa Feia. 08.02.1979


(tombamento
definitivo)
04 19.12.1982 E- Campos
Liceu de Humanidades (antigo Solar do Barão da Lagoa Dourada), na Praça 03/200.098/81 dos Goytacazes
Barão do Rio Branco n° 15 27.01.1988
(tombamento
definitivo)
05 Sede da Fazenda Mato de Pipa, próximo ao núcleo urbano de Quissamã 10.06.1985 E-03/32.446/83 Quissamã
06 09.12.1985 E- Niterói
Litoral Fluminense: Foz do Rio Paraíba do Sul, incluindo-se todo o manguezal; 18/300.459/85 Paraty
parte do Manguezal em São Francisco de Itabapoana; Ilha da Convivência e as 11.05.1987 São Francisco de
outras vizinhas; Canto Sul da Praia de Itaipu; Ilha da Menina; Ilha da mãe; Ilha do (tombamento Itabapoana
Pai; Costa de Trindade, desde a Ponta do mesmo até a Ponta da Fazenda. definitivo) São João da Barra
Enseada do Sono e Praia da Ponta do Caju; Enseada do Pouso; Ilha de Itaoca;
Saco e Manguezal de Mamanguá; Enseada de Paratymirim; Ilha das Almas; Praia
Grande; Ilha do Araújo; Praia de Tarituba.

174 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


(continuação)
BEM CULTURAL DATA PROCESSO MUNICÍPIO
07 Coreto na Praça de São Roque, identificando como área de proteção da 16.12.1985 E-18/300. Rio de Janeiro
ambiência a superfície interna da referida Praça, Paquetá _ XXI RA 288/85 Quissamã
São Francisco de
Coreto na Praça Barão da Taquara, Praça Seca _ XVI RA Itabapoana
Campos
Coreto na Praça Washington Luiz, Sepetiba _ XXVI RA dos Goytacazes
Cantagalo
Coreto do Jardim do Méier _ XIII RA Niterói
Paraíba do Sul
Coreto na Praça Quintino Bocaiúva _, Quintino Bocaiúva XV RA;

Coreto na Praça Catolé do Rocha, em Vigário Geral _ XXXI RA;

Coreto no Campo de São Cristóvão, São Cristóvão _ VII RA

Coreto na praça central de Quissamã;

Coreto no Campo de Marte, em Realengo. _ XXXIII RA;

Coreto na Praça de São Sebastião em São Francisco de Itabapoana

Coreto na Praça Barão do Rio Branco, no distrito sede do município de Campos.

Coreto da Praça João XXIII, incluindo o pequeno Largo que o cerca, no distrito-
sede do município de Cantagalo.

Coreto no Campo de São Bento, no Bairro de Icaraí, Niterói;

Coreto na Praça Marquês de São João Marcos, Paraíba do Sul.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 175


(continuação)
BEM CULTURAL DATA PROCESSO MUNICÍPIO
08
Solar do Visconde de Araruama, na Praça São Salvador nº 40.

Lira do Apólo, na Praça São Salvador nº 63


23.07.1987 E-18/300.595/85
Campos
Hotel Gaspar, na Praça São Salvador nº 30 dos Goytacazes

Hotel Amazonas, na Rua Barão do Amazonas nº 58

09
Prefeitura e Câmara Municipal de Santo Antonio de Pádua, na Praça Visconde 24.07.1989 E-18/30.097/88
Santo Antônio de
Figueira nº 57. Pádua

10 Angra dos Reis


Barra do Piraí
Bom Jardim
Cachoeira
de Macacu
Campos dos
Goytacazes
Casimiro
Serra do Mar/Mata Atlântica 06.03.1991 E-18/000.172/91
de Abreu
Conceição
de Macabu
Duas Barras
Duque
de Caxias
Paulo
de Frontin
Guapimirim
Itaboraí
176 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
(continuação)
BEM CULTURAL DATA PROCESSO MUNICÍPIO
10 Itaguaí
Japerí
Magé
Mangaratiba
Maricá
Mendes
Miguel Pereira
Niterói
Nova Friburgo
Nova Iguaçu
Paracambi
Paraty
Petrópolis
Piraí
Rio Bonito
Rio Claro
Rio de Janeiro
São Fidélis
Santa Maria
Madalena
São Gonçalo
Saquarema
Silva Jardim
Sumidouro
Teresópolis
Trajano de Moraes
11
Cine – Teatro Monte Líbano na Praça Governador Portela n°39 E- 18/ Bom Jesus
09.12.2002
001.145/2002 do Itabapoana

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 177


(continuação)
BEM CULTURAL DATA PROCESSO MUNICÍPIO
12
Carapebus
Canal Campos-Macaé, trecho urbano do Canal do Cula, em Campos dos Macaé
E-
30.12.2002 Quissamã
Goytacazes. 18/001.134/2002
Campos
dos Goytacazes

13
Igreja Matriz de São Fidélis de Sigmaringa, na praça Guilherme Tito;
E-18/
30.12.2002 São Fidélis
Solar do Barão de Vila Flor, na praça Guilherme Tito; 001.706/2002

Ponte Metálica sobre o Rio Paraíba do Sul, na Rua Theófilo Machado.


14
Prédio do Colégio Estadual Nilo Peçanha, situado à Rua Dr. Lacerda Sobrinho, E- 18 / Campos
17.10.2003
n°119. 1338/2003 dos Goytacazes

15
Sítio Histórico formado pelo conjunto arquitetônico e paisagístico da Fazenda E- 18/
Mandiqüera, Rodovia QSM-006. 24.04.2007 Quissamã
000.052/2007

178 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


(continuação)
BEM CULTURAL DATA PROCESSO MUNICÍPIO
16
Fazenda Espuma. Rua Álvaro Ferreira Gomes, nº 1401, Vargem Alegre – Barra
do Piraí;.

Fazenda da Forquilha, Rodovia RJ-135, 4º Distrito, Abarracamento, Rio das


Flores;

Fazenda Maravilha ou do Governo, Estrada das Marrecas, s/nº, Paraíba do Sul;

Fazenda Ponte Alta. Av. Silas Pereira da Mota, km. 19 da RJ 145, Parque
Barra do Piraí
Santana, Barra do Piraí;
Itaperuna
Fazenda Ribeirão Frio. Estrada Ruy Pio David Gomes, s/nº, Dorândia, Barra do
Piraí;
Paraíba do Sul
E-
30.12.2008
Fazenda Santa Rita, Estrada da Figueira, Distrito sede, Valença; 18/1868/2008
Rio das Flores
Fazenda Santo André, Estrada Fortaleza, 3.125, Paraíba do Sul;
Valença
Fazenda Santo Antônio do Paiol, Rodovia RJ-135, Distrito Sede, Bairro de
Esteves, Valença;

Fazenda São Luiz da Boa Sorte. Rodovia Lucio Meira BR-343, km85, Barra do
Piraí;

Fazenda São Paulo, Estrada VL 55, 6º Distrito, Conservatória, Valença;

Fazenda Vista Alegre, Rodovia RJ-143, Distrito Sede Valença;

Fazenda São Domingos, Rodovia BR – 356, Itaperuna.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 179


(continuação)
BEM CULTURAL DATA PROCESSO MUNICÍPIO
17 Conjunto Arquitetônico, urbanístico e paisagístico do centro histórico de
Miracema e seis bens isolados, incluindo o traçado das ruas, avenidas e praças
e os calçamentos remanescentes em paralelepípedo.

- Conjunto Arquitetônico, urbanístico e paisagístico do centro histórico de


Miracema constituído pelo traçado das ruas, avenidas e praças, incluindo
arborização:

Rua Marechal Floriano (Rua Direita), Praça Dona Ermelinda, Praça Ary
Parreiras, Rua João Pessoa, Praça Josephina de Barros Tostes, Rua Paulino
Padilha, Rua Dr. Monteiro, Rua Francisco Dias Tostes, Rua Temístocles, Praça
Bruno de Martino, Rua Santo Antônio, Praça Getúlio Vargas, Rua Coronel José
Carlos Moreira (Rua das Flores), Rua João Rosa Damasceno, Rua Francisco E-
Procópio, Rua Coronel Josino, Rua Barroso de Carvalho e Rua Matoso Maia. 27.03.2009 Miracema
18/002.407/2008
- Conjunto Arquitetônico, urbanístico e paisagístico do centro histórico de
Miracema constituído pelo calçamento remanescente em paralelepípedo:

Rua Marechal Floriano (Rua Direita), Praça Dona Ermelinda, Praça Ary
Parreiras, Rua João Pessoa, Praça Josephina de Barros Tostes, Rua Paulino
Padilha, Rua Coronel José Carlos Moreira (Rua das Flores), Rua João Rosa
Damasceno, Rua Francisco Procópio (até a Praça José Giudice), Rua Coronel
Josino e Rua Barroso de Carvalho.

- Conjunto Arquitetônico, urbanístico e paisagístico do centro histórico de


Miracema constituído pelos Bens Imóveis Inventariados:

180 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


(continuação)
BEM CULTURAL DATA PROCESSO MUNICÍPIO
17 Rua Marechal Floriano (Rua Direita): nº10, nº15, nº20/nº26, nº30, nº 40/nº42,
nº73 (inclusive o sobrado nº12 da R. Barroso de Carvalho), nº 75, nº93, nº
99/nº103/nº109 e nº115, nº138, nº148, nº152, nº167, nº 184/nº 188 e nº 194, nº
196/nº200 (esquina R. Comendador Francisco Procópio, nº 64), nº 203, nº 222,
nº 231/nº227, nº 236, nº 244, nº 281 e nº 293, nº 313/nº 315 e nº 317.

Rua Coronel Josino: nº 10, nº 30, nº 38 e nº 54.

Rua João Rosa Damasceno: nº 19, nº 31, nº 25 e nº 65 da Rua Francisco


Procópio (esquina com João Damasceno).

Rua Francisco Procópio: nº 31, nº 35, nº 39, nº 43, nº 47 e nº 49, nº 61, nº 58 /


nº 62 (esquina c/ a Rua Coronel José Carlos Moreira, nº 191 e 195), nº 83, nº
91, nº 105.
Rua José Carlos Moreira (Rua das Flores): nº 41, nº 69, nº 70, nº 111 (esquina
c/ Rua Coronel Josino, que inclui o nº 62 - 2º pavimento da mesma rua), nº 114
e nº 120, nº 124, nº 179, nº 192 (nº 91).

Praça D. Ermelinda: Praça D. Ermelinda, nº 04 e 10, nº 15 (Rua Marechal


Floriano, nº 06), nº 17, nº 39, nº 40, nº 54, nº 62, nº 74, nº 117/123, nº 124, nº
133, nº 136, nº 161.

Praça Ary Parreiras: Praça Ary Parreiras, s/nº (Escola), nº 06, nº 78, nº 124 e nº
124 sobrado, nº 171, nº 212, nº 230, nº 272, s/nº (Igreja Matriz), s/nº (Casa
Paroquial).

Rua João Pessoa: nº 38, nº 56.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 181


(continuação)
BEM CULTURAL DATA PROCESSO MUNICÍPIO
17 Praça Josephina de Barros Tostes: nº 23, 27 e 27A, nº 31.

Rua Paulino Padilha: nº 57, nº67, nº 68 e 74, nº 80 e 80A, nº 111 e 119.

Rua Dr. Monteiro: nº 09, nº 25, nº 36, nº 46, nº 64, nº98, nº 114, nº153, nº161
(19), nº 195.

Rua Francisco Dias Tostes: nº 32.

Rua Dr. Temístocles: s/nº (Chafariz).

Praça Bruno de Martino: s/nº (Centro Espírita).

Praça Getúlio Vargas: Praça Getúlio Vargas, s/nº (Rodoviária Chicralla Salim),
s/nº (Pórtico da Fiação e Tecelagem São Martino).

Rua Barroso de Carvalho: nº 24, nº 28, nº 32, n º 44, nº 79, nº 93 (nº 87), nº 98,
nº 117, nº 120, nº 121, nº 125, nº 145, nº 219.
Rua Matoso Maia: nº 225, nº 247, nº 250, nº 283, nº 316, nº 319.

- Conjunto Arquitetônico, urbanístico e paisagístico do centro histórico de


Miracema, seis bens isolados:

182 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


(continuação)
BEM CULTURAL DATA PROCESSO MUNICÍPIO
17 Rua José Monteiro de Barros, nº 500 (Hospital, especialmente o prédio
principal); Avenida Carvalho, s/nº (Chaminés da Fábrica de Ladrilhos Cerâmica
Miracema); Avenida Carvalho s/nº (Chaminé da Usina Santa Rosa); Capela de
Areia, no povoado de Areias, no distrito sede; Capela de Nossa Senhora do
Paraíso, na Praça Jacinto Lucas, s/nº, em Paraíso do Tobias; Capela de Venda
das Flores, na Praça da Capela, em Venda das Flores;

Fonte: Site: http://www.inepac.rj.gov.br/modules.php?name=Guia&file=consulta_detalhe_bem&idbem=53


Atualizado em 23/07/2009.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 183


ANEXO 2 – INVENTÁRIO DAS FAZENDAS DO VALE DO PARAÍBA FLUMINENSE

denominação códice
Fazenda Boa Vista AVII – F04 – Mir

localização
Estrada que liga Miracema a Palma (MG)

município
Miracema

época de construção
1914

estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha

uso atual / original


pecuária mista / fazenda de café e cereais

proteção existente / proposta


nenhuma

proprietário
particular

Fazenda Boa Vista, fachada principal.

coordenador / data Marcelo Salim de Martino / mar - abr 2009 revisão


Equipe Vitor Caveari Lage (levantamento de campo/digitação), Jean Rabelo Ferreira Coordenação
(Auto Cad), Lia Márcia de Paula Bruno e Vera Lúcia Mota Gonçalves técnica do
histórico Marcelo Salim de Martino projeto

184 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


situação e ambiência

O acesso à Fazenda Boa Vista é feito através de uma estrada vicinal de terra batida, que parte de um entroncamento na
rodovia que liga Miracema (RJ) ao município de Palma (MG). Através desta estrada tem se acesso, ainda, às fazendas
Cachoeira Bonita, Araponga, Ventania de Baixo, Ventania de Cima, Inhamal e Buracada, podendo alcançar, também, as
fazendas Santa Cruz, Humaitá e Boa Esperança.
A Fazenda Boa Vista foi repartida entre os herdeiros de Altivo Mendes Linhares, gerando novas e pequenas propriedades, que
foram se formando ao longo da estrada (f01).
Cerca de 500 metros após a Escola Municipal Antônio Queiroz Linhares, chega-se à entrada da Fazenda Boa Vista, que é toda
pavimentada com paralelepípedos, ajardinada e arborizada com mangueiras, muitas das quais foram retiradas devido a uma
doença que as atacou, fazendo com que secassem até a morte (f02).
A casa-sede (f03) está localizada num platô onde também estão instaladas uma garagem e piscina (f04), serraria (f05), tulha,
casa de colono (f06), terreiro atualmente cimentado para secagem de café (f07), curral, galinheiro e estábulo (f08).
Do lado direito da casa-sede, contornando toda a frente até atingir a baixada, na parte da várzea, localiza-se o pomar com
muitos jambeiros, mangueiras, coqueiros, além de outras espécies frutíferas (f09).

01 02

03
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 185
situação e ambiência

04 05

07

06

08 09

186 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


situação e ambiência

Toda a área em frente à casa-sede é orlada por uma cerca viva podada, que acompanha parte de uma antiga mureta de
contenção do terreno, ainda existente (f10).
A capela (f11) está situada às margens da estrada que leva às fazendas Ventania de Baixo e Ventania de Cima (f12), além do
grande açude e represa que forma uma pequena cachoeira de onde vem a água que abastece a casa-sede, o curral e a casa
de colono (f13).
Essa parte da fazenda, onde estão situados o açude e a pequena cachoeira, juntamente com a Estrada da Serra da Ventania e
a Cachoeira da Cara, localizada na referida estrada, são atrativos naturais com forte apelo turístico (f14). “A Cachoeira da Cara
é formada por 20m de queda d’água. A água, ao cair, forma uma piscina de 40 m de comprimento e 5 m de largura, cercada
por vegetação de mata fechada. A água da cachoeira é de temperatura morna e de cor clara”. (Guia Municipal de Informação
Turística. Miracema - CCMC).

10 11

13

12

14

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 187


situação e ambiência

A estrada que liga a serra da Ventania de Baixo à da Ventania de Cima, por si só, é um atrativo, já que de lá se pode avistar
todo o vale de Miracema, incluindo parte da cidade (f15). Seguindo o aclive da estrada, já aparece, ao longe, uma queda
d’água de aproximadamente 170 m de altura, cuja água escorre por um paredão rochoso (f16).
Essas terras também foram desmembradas da sesmaria herdada por Deodato e Reginaldo Mendes Linhares, que juntas
formavam as fazendas Cachoeira Bonita, Pinheiro e Córrego Raso.

15

16

188 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

A casa-sede, junto a uma das tulhas e ao depósito, dão à construção o formato de um “L” invertido. A parte principal da morada
possui porão baixo. Seu acesso principal é feito por uma escadaria central em leque, que chega a uma varanda guarnecida,
assim como a escada, por guarda-corpo com balaústres em massa, decorados por motivos florais, muito utilizados em
construções em estilo eclético existentes no centro histórico da cidade de Miracema. Essa varanda apresenta telhado
sustentado por quatro colunas de fuste liso e capitel dórico e tem, antecedendo-a, jardins com canteiros cercados (f17 e f 18).
A porta de entrada principal da casa, em madeira com duas folhas enrelhadas, é ladeada por três janelas de cada lado,
também enrelhadas, mas com guilhotinas de caixilhos de vidro externas (f19 e f20). O piso da varanda foi substituído por
cerâmica, do tipo lajota, e grades de ferro foram instaladas nas janelas.
A fachada lateral esquerda possui janelas de duas folhas e venezianas externas (f21).
Do lado direito do corpo principal da construção estão localizadas a ferramentaria, usada atualmente como escritório (que
possui entrada independente) (f22), a cozinha e um banheiro, revestidos no piso com ladrilho hidráulico (f23).
Do lado esquerdo da casa-sede, estão localizados: uma tulha, com serraria instalada no porão, casa de colono, piscina, terreiro
de café, estábulo, curral e galinheiro.
Essas construções – tulha e casa de colono – parecem ter sido edificadas ainda no século XIX, e, apesar de muito alteradas
(cobertura de telhas de amianto, algumas paredes de alvenaria de tijolos de cimento, etc.), mantêm características das
construções daquele período (f24).

17

18

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 189


descrição arquitetônica

20
19

21

22

23 24

190 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

O bloco principal da casa-sede é composto de saleta, sala de visitas, sala de jantar – onde se destaca um lavabo com
cerâmica verde emoldurada por chapa de metal –, cinco quartos, alcova, escritório, cozinha, despensa e quatro banheiros (f25
e f26).

25

26

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 191


descrição arquitetônica

O assoalho é em tábuas corridas com junta cega, envernizado, executado com madeiras nobres retiradas das matas da própria
fazenda, bem como todo o restante do madeirame utilizado na construção da casa-sede (f27).
As portas internas possuem bandeiras de vidro (f28) e a cobertura é de telhas de barro, do tipo capa e canal (f29).
A capela, dedicada a Santo Antônio, é uma construção muito simples. Edificada em 1934, teve sua pedra fundamental lançada
em 13 de junho, por ocasião do aniversário do padroeiro da cidade e santo de grande devoção do proprietário. A benção foi
lançada pelo cônego José Thomaz de Aquino Menezes, seguida do discurso do anfitrião, que relatou a história religiosa do
local em que se levantou a capela. Serviu-se, no terreiro da fazenda, farto churrasco com a presença de muitas famílias
miracemenses. À noite, houve animado baile, que abrilhantado pelos “Turunas”, foi até altas horas da manhã, conforme
noticiou o Libertas nº 251, de 17/6/1934.
Possuía a capela, a pedido da primeira esposa do proprietário, D. Zina Queiroz Linhares, uma imagem de Santa Terezinha. D.
Zina, além de custear o altar dessa santa e o de Santo Expedito, na Igreja Matriz, fundou a Associação de Santa Terezinha,
em atividade até os dias de hoje.
A construção, que tem aspecto de inacabada, apresentando fachadas laterais com alvenaria de tijolos maciços aparentes,
possui uma única porta de entrada, encimada por um óculo e uma cruz modelada na argamassa do emboço (f30).

27

28

29 30

192 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


detalhamento do estado de conservação

O estado de conservação da casa é bom. Foram realizadas algumas obras mais recentes, como os dois banheiros que formam
as duas suítes da casa, além da substituição de todo o forro das salas e quartos (f31 e f32).
Percebe-se também,que as tábuas de beira que circundam o telhado foram substituídas (f33).
Todas as luminárias internas e externas, em diferentes estilos, que vão do colonial ao art-déco, são réplicas e foram colocadas
recentemente (f34).
Um dos banheiros, localizado na biblioteca (antiga alcova do quarto principal), mantém uma banheira e o forro de treliça como
o da cozinha (f35 e f36). Mais um banheiro foi construído e anexado ao quarto principal, inclusive com a instalação de uma
banheira de hidromassagem. O mesmo foi feito em outro quarto que dá para a sala de jantar.
O mobiliário da casa-sede é uma testemunha silenciosa da época de opulência e de grande movimentação política exercida
por seu proprietário, o temido e respeitado capitão Altivo Mendes Linhares, homem público, de grande projeção e prestígio no
cenário político fluminense do século passado.

31 32

33
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 193
detalhamento do estado de conservação

34 35

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194 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 195
196 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
histórico

A Fazenda Boa Vista foi fundada pelo Capitão Altivo Mendes Linhares (f37), por volta de 1914, em um lote de terras
desmembrado por herança da parte que lhe cabia, na Fazenda Cachoeira Bonita, que pertenceu a Deodato e Reginaldo
Mendes Linhares, respectivamente, seus pai e tio. Estes herdaram uma sesmaria de terras denominada Cachoeira Bonita, no
Ribeirão de Santo Antônio dos Brotos, freguesia de Santo Antônio de Pádua, a qual foi de Manoel Pereira Rodrigues (marido
de D. Ermelinda Rodrigues Pereira), fundadora do arraial de Santo Antônio dos Brotos, atual Miracema, com as seguintes
confrontações: “pelo lado de baixo com Lucas Mendes Linhares, seguindo pelo lado esquerdo com o mesmo Lucas, até em
certa altura; e depois com Antônio Araújo Barbosa até o alto da serra, dividindo as águas desse ribeirão com o alto da serra de
Muriaé, por baixo divisando com o mesmo Lucas, procurando as vertentes do Córrego Raso até dividir com o patrimônio de
Santo Antônio dos Brotos e da divisa do patrimônio de Santo Antônio, pelo lado direito divisando com Antônio Valentim da
Costa até certa altura e daí com o capitão Marcelino Dias Tostes, até o alto da mesma serra do Muriaé. Em 30 de março de
1856”1.

(acervo de Angeline C. Tostes de Martino) 37

As terras que formavam a Fazenda Cachoeira Bonita foram doadas a Deodato Mendes Linhares e ao seu irmão Reginaldo,
pelo tio e padre, Francisco Mendes Linhares, antigo vigário de Palma (MG), por testamento feito na Fazenda Fortaleza, datado
de 1851, onde também foram alforriados alguns escravos e somadas as da Fazenda Pinheiro, de Lucas Mendes Linhares, que
pertenceu a Manoel Pereira Rodrigues, registrada da mesma forma na Paróquia de Santo Antônio de Pádua, em 1856. Não foi
possível, entretanto, saber se estas foram anexadas à sesmaria por compra ou herança.
Com a morte de Reginaldo, que era solteiro, Deodato ficou sendo o único herdeiro das terras que integravam as fazendas
Cachoeira Bonita, Córrego Raso e Pinheiro.
Segundo relato do Sr. Erotildes Linhares, neto de Deodato Mendes Linhares, as terras da sesmaria herdada por Deodato e
Reginaldo do tio e padre, se estendiam até o Estado de Minas Gerais. Como o padre Francisco
Mendes Linhares havia deixado por ocasião de seu falecimento uma dívida de 12 mil contos de réis, esta parte das terras foi
vendida pelos herdeiros para que a mesma fosse quitada.
Segundo Altivo Mendes Linhares, em seu livro de memórias, “A Fazenda Cachoeira Bonita tinha dois córregos: sendo um
maior que nascia no alto do pontão de Santo Antônio e que descia encachoeirado pela fazenda da Ventania. E outro que nasce
na Fazenda do Inhamal e que se encontra com o primeiro no alto da Fazenda Boa Vista, formando aí o Córrego Cachoeira
Bonita... (f38 e f39) ...A sede da Fazenda era um casarão construído com madeiras roliças, com dois ou três quartos internos
com basculantes para renovação de ar onde dormiam as escravas solteiras; ao lado do casarão da sede, havia as senzalas,
formando um “ele” com a fazenda, com uns seis salões cujas portas davam para uma varanda ampla; varanda esta com gradil
de madeira com oito cm quadrados; cada escravo casado ocupava uma das salas, além de outras pequenas casas, ocupadas
por aqueles que tinham famílias maiores...”2 (f40).

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 197


histórico

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198 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
histórico

Altivo casou-se em 1914 e, não conseguindo construir uma sede para sua fazenda, passou a residir num tapume, debaixo do
assoalho de uma construção que havia iniciado. Em 1918, já estabelecido, começou a escolher o local da sede da sua
fazenda. Encontrou dentro de um capoeirão de mais de 30 anos, um platô e ali iniciou a construção... (f41)
“...Aí então, derrubei matas para quinze mil arrobas de café; plantei cana; construí um moinho de fubá de milho, montei
engenhos, passei a fabricar rapaduras, casas de colonos, máquinas de café, tulhas e paióis; finalmente subi numa árvore para
ter uma impressão melhor do local para a sede. Eu era o próprio construtor, mecânico e planejador. Este trabalho foi de 1918 a
1922. ...Tive que represar águas e fazer canalizações através de canos grossos para gerar hidráulica, tanto para movimentar
máquinas como para fazer iluminação elétrica para toda a fazenda...” (f42)
E prossegue: “...cheguei até o ano de 1924 com todas as minhas lavouras formadas e uma produção de café chegando a
quase quatro mil sacas piladas; era a época portanto, de fazer pecúlio.”
A sesmaria de terras formada pelas fazendas Cachoeira Bonita, Córrego Raso e Pinheiro, deu origem a várias outras
fazendas. Além da Boa Vista, a Inhamal de Antônio Mendes Linhares, a Ventania de Homero Linhares, mais tarde dividida
entre Ventania de Cima e Ventania de Baixo, a Córrego Raso, que na partilha coube a Orlanda de Martino Amim, mais tarde
adquirida por Homero Linhares, além das partes herdadas pelos outros filhos: Olava, Francisco Bruno, Maria Itália, Orlando e
Maria Hermília.
A Fazenda Boa Vista foi testemunha de importantes momentos públicos da cidade e até mesmo do país.
Foi lá que Altivo teve os primeiros contatos com os revolucionários de 1922. Em 1925 recebeu a visita de Tasso Tinoco, 1º
Tenente, Mário Ferreira e Alcides Araújo. Tasso passou alguns dias na fazenda, antes de partir para Campos.
Em 1926, recebeu o ex-Deputado Federal Dr. Maurício de Lacerda e família, que o apresentou a pessoas da mais alta esfera
política, como Oswaldo Aranha, Ary Parreiras, Juarez Távora, Raul Pilla, Plínio Casado, Macedo Soares, dentre outros (f43).
Altivo abraçou a política, integrando-se à corrente liderada por Nilo Peçanha. Participou das Revoluções Tenentistas de 1922,
1924 e 1930 (f44).

(acervo de Marcelo Salim de Martino) 41

(acervo de Marcelo Salim de Martino) 41

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 199


histórico

Com a vitória da revolução de 1930, foi nomeado Prefeito de Santo Antônio de Pádua, onde permaneceu até 1934. Em 1936,
conseguiu eleger-se deputado estadual classista, como representante da lavoura, perdendo o mandato com o Estado Novo,
em 1935. Foi prefeito de Miracema, de 1937 a 1945, na Interventoria de Ernani do Amaral Peixoto. Voltou ao cargo por eleição
por duas vezes – 1947 e 1958. Suplente do Senador José Carlos Pereira Pinto em 1947, assumiu o mandato em 1952,
renunciando para assumir a Prefeitura de Niterói, o que se deu em 1953, por nomeação do Governador Amaral Peixoto. Em
crise com a Câmara, solicitou demissão em 1954. Em 1958 disputou as Prefeituras de Niterói e Miracema, concomitantemente.
Eleito em Miracema, governou até 1962.
Casou-se por duas vezes. A primeira, com Zina Queiroz Linhares, com quem teve cinco filhos. E a segunda com Maria do
Carmo Monteiro Linhares, nascendo desse matrimônio Luiz Fernando Monteiro Linhares, deputado estadual entre 1971 e
1981, representante da Região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro.
Atualmente, a Fazenda Boa Vista encontra-se dividida entre os herdeiros, filhos e netos de Altivo Mendes Linhares, sendo que
a casa-sede e grande parte das terras pertencem ao espólio de seu filho – Expedito Mendes Linhares.
Da primitiva sede da Fazenda Cachoeira Bonita, restam apenas algumas paredes. Mesmo assim, é possível perceber
intervenções executadas, provavelmente na década de 20 do século XX, época em que o estilo eclético se propagou no
município.
Contudo, do lado direito da casa-sede, permanece com todo o seu esplendor a cachoeira que deu nome à propriedade e que
também possui áreas com remanescentes de matas secundárias, onde antes deveriam existir cafezais (f45)

(acervo de Marcelo Salim de Martino) 43

(acervo de Marcelo Salim de Martino) 44 45

1 Livro de Registro de Terras nº 53, da Freguesia de Santo Antônio dos Brotos. Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro;
2 Monteiro, Maurício – Altivo Linhares – Memórias de um líder da velha província.
3 ídem.

200 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


denominação códice
Fazenda Cachoeira AVII – F01 – Mir

localização
Km 8 da RJ116, que liga Itaboraí a Itaperuna, passando por Miracema.

município
Miracema

época de construção
século XIX

estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha

uso atual / original


gado leiteiro / fazenda de café

proteção existente / proposta


nenhuma

proprietário
particular

Fazenda Cachoeira, fachada principal.


Coordenador / data Marcelo Salim de Martino – mar-abr 2009 revisão
equipe Vitor Caveari Lage (levantamento de campo/digitação) e Coordenação técnica
Jean Rabelo Ferreira (AutoCad) do projeto
histórico Marcelo Salim de Martino

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 201


situação e ambiência

situação

ambiência
202 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
situação e ambiência

A Fazenda Cachoeira está situada às margens da RJ116, que liga Itaboraí a Itaperuna, passando por Miracema (f01). Saindo
da estrada estadual, passando por uma pequena ponte de madeira sobre o Ribeirão Santo Antônio (f02) - que nasce na serra
de Venda das Flores e corta toda a cidade de Miracema, desaguando no Rio Pomba, no município de Santo Antônio de Pádua
- e seguindo por uma estrada pavimentada com pedras, ladeada por coqueiros, chega-se a imponente casa-sede da Fazenda
Cachoeira (f03 e f04).
Do lado direito da estrada, cercado por uma mureta de pedra revestida com massa estão localizados o antigo terreiro para
secagem de café, além das edificações correspondentes as tulhas, baias, casa de força e pista para treinamento de cavalos
(f05).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 203


situação e ambiência

Do lado esquerdo da mesma estrada, localiza-se um açude belíssimo (f06), um barracão que serve para a guarda de carroças,
uma parte do pomar com muitas mangueiras e bananeiras e a capela da Sagrada Família (f07).
Nos fundos da casa-sede, do lado esquerdo, estão localizados: o curral (f08), a ceva para porcos, galinheiro, garagem e uma
casa de colono. Do lado direito, encontram-se a piscina (f09), a sauna e a churrasqueira.
Seguindo por um caminho cercado por muitas árvores frutíferas, chega-se ao ribeirão Santo Antônio, exatamente num local
onde o mesmo forma uma cachoeira, fato que, provavelmente, determinou o nome da fazenda (f10).
É digno de registro também, o extenso paredão de pedra que faz um arrimo na margem esquerda deste ribeirão, construído
por escravos para proteção do terreno (f11).

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204 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

A casa-sede, atualmente, é uma edificação com planta baixa em “L”, assentada sobre platô, sendo que o corpo principal, mais
antigo, foi edificado sobre porão alto (f12), apresentando uma cobertura independente em quatro águas (f13 e f14), possuindo
aos fundos um único pavimento (f15). Na parte posterior do conjunto concentra-se o maior número de intervenções
modernizadoras.
Na área correspondente ao porão, que é habitável, os proprietários instalaram, após algumas obras de reforma, uma área para
lazer e diversão (f16) onde mantiveram trechos da pavimentação em pedra (f17) e todo o madeirame que sustenta o assoalho
da edificação.

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 205


descrição arquitetônica

Essa parte do porão é voltada para um grande jardim (f18) que mantém, além de flores tradicionais como gérberas e copos-de-
leite, um “balanço” que testemunhou juras de amor de várias gerações da família, de visitantes e de convidados (f19). Delimita
os jardins, um grande muro de arrimo de pedra coberto com massa (f20).

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206 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

A cobertura é de telhas de barro, do tipo capa e canal, arrematada por larga e pronunciada cimalha (f21) na sua fachada
frontal. Nas demais fachadas, os beirais se apresentam em balanço, revestidos com forro em madeira
e encachorrados (22).
A fachada principal é composta por uma porta de entrada e onze janelas de guilhotina, em caixilhos de vidro com vergas retas,
pintadas de verde, distribuídos de forma ritmada, predominando os vazios sobre a alvenaria branca (f23).
O antigo acesso era feito pela fachada lateral esquerda. Atualmente, a entrada principal para a residência dá-se por uma
escada de alvenaria através de uma pequena varanda construída posteriormente.
O casarão principal possui seis quartos e uma suíte, salas de visitas, sala de jantar, sendo que alguns cômodos conservam a
distribuição original e o mobiliário antigo, além de três banheiros. Estendendo-se para parte nova da edificação, seguem: copa,
outros banheiros, cozinha mineira com fogão à lenha, quarto para empregados, área de trabalho, despensa, escritório, salão
de jogos, piscina, sauna e churrasqueira (f24 a f27).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 207


descrição arquitetônica

Esta área construída mais recentemente, onde se acham instaladas a copa, parte da cozinha, a sauna e a varanda, é de
alvenaria com paredes de tijolos e piso revestido em cerâmica (f28). A parte primitiva do casarão mantém assoalho (f29) e,
forro de madeira (f30) e paredes de pau-a-pique.
A casa é toda mobiliada com móveis de época. O destaque, porém, fica para a mobília da sala de visitas, do terceiro quartel do
séc. XIX, em estilo neo-rococó, formada por um sofá, dois consolos, mesa de centro e cinco cadeiras com espaldar em
medalhão oval, com a moldura dupla, separadas por bolas. O assento é arredondado com ondulação na frente e forrado de
palinha; tem pernas curvas com pé de cachimbo (f31).

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208 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

A capela existente foi construída em 1957 para substituir a primitiva capela da fazenda, que ficava em um dos cômodos da
casa-sede. Ali, segundo a proprietária, estava enterrada uma grande pedra cortada ao meio, que alguns acreditavam ser uma
urna funerária, outros, uma espécie de pedra fundamental, em cujo centro eram depositados objetos, documentos, moedas
corrente, etc.. Dedicada à Sagrada Família, possui uma arquitetura despojada, com torre sineira (f32) e sendo recoberta com
telha de barro capa e canal. Mantém, na fachada principal, uma porta, duas janelas e um óculo para iluminação e ventilação
(f33). O altar, em alvenaria, apresenta um nicho ladeado por duas colunas (f34 e f35).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 209


detalhamento do estado de conservação

O estado de conservação da casa é muito bom. Como a fazenda está na família Bastos há mais de um século e meio, os
proprietários procuraram manter a originalidade da construção, apesar das intervenções modernizadoras havidas.
As reformas realizadas visaram sua adaptação as atuais necessidades da fazenda, como casa de veraneio que recebe muitos
hóspedes durante os períodos de férias escolares e feriados prolongados. Desta maneira, foram construídos mais dois
banheiros, piscina, sauna, churrasqueira e uma extensa varanda.
O forro, bem como todo o madeiramento do telhado encontra-se em perfeito estado, e são objeto de atenção especial dos
proprietários que substituem peças sempre que necessário (f36).
O assoalho encerado também se encontra em ótimo estado de conservação, recebendo, constantemente manutenção.
No antigo porão, transformado em área de lazer da família, todo o madeiramento foi tratado com betume.
Alguns trechos do primitivo piso de pedra foram mantidos formando uma espécie de tapete, possibilitando aos visitantes e
interessados uma pequena amostra de como o espaço era antes da reforma (f37 e f38).
A parte externa e as outras benfeitorias da Fazenda também têm merecido atenção dos proprietários que procuram sempre
investir na propriedade.

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210 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


representação gráfica

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 211


representação gráfica

212 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


representação gráfica

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 213


histórico

Cachoeira da Laje foi o nome primitivo dado por seu fundador, o Capitão Manoel Felisberto Pereira da Silva, à sua
propriedade, registrada em 22 de julho de 1855, na Paróquia de Santo Antônio de Pádua, em observância ao artigo 91, do
Decreto n° 1318, de 30 de janeiro de 1854, no qual o governo provincial determinava que todos os proprietários ou posseiros
de terras, registrassem até 1856, nos livros da Vigararia da Freguesia de Santo Antônio de Pádua, suas propriedades a fim de
que fosse garantido que as mesmas continuassem sobre o domínio fluminense e não mineiro, como era o desejo de alguns
políticos influentes daquele estado.
A fazenda fazia divisa com as propriedades de Marcelino Dias Tostes, Joaquim Cândido Guimarães, Plácido Antonio de
Barros, Custódio Bernardino de Barros e João Luís de Oliveira 1 e 2.
“Manoel Felisberto Pereira da Silva veio com sua esposa D. Ana Umbelina Gomes Alvim e filhos, da freguesia de Catas Altas
da Noruega – Província de Minas Gerais, para Santo Antonio dos Brotos (Miracema) em 1842. Tinha muitos filhos, dos quais
podemos dar notícias de: Francisco Procópio de Alvim e Silva (casado com Maria Reveziana de Alvim – filha de Anacleto
Reveziano de Siqueira Alvim, em 18 de fevereiro de 1857, na Igreja de Pádua); José Cesário de Alvim e Silva, casado com
Bárbara Guilhermina de Alvim, filha de Francisco Gomes Pereira Alvim, em 8 de fevereiro de 1852, na Igreja de Pádua; Pedro
Nolasco de Alvim e Silva casado com Maria Umbelina da Silva Bastos em 26 de julho de 1858, na Igreja de Pádua (o termo
muito lacônico não dá filiação); Teresa Emília de Alvim e Silva, casada com Ambrósio José da Costa em 4 de dezembro de
1849, na Igreja de Pádua; Maria José de Alvim e Silva casada com Joaquim Pio Gomes Alvim, em 5 de novembro de 1854, na
Igreja de Pádua; Ana Theodora de Alvim e Silva, casada com João Alves Moreira , em 29 de janeiro de 1855, na Igreja de
Pádua; Francisca Umbelina de Alvim e Silva casada com José Dias Tostes filho do Capitão Marcelino Dias Tostes, em 18 de
fevereiro de 1857, na Igreja de Pádua; Maria Constança de Alvim e Silva casada com José Aureliano Coimbra em 6 de julho de
1858, na Igreja de Pádua, ela natural desta freguesia e ele de Rio Preto, na província de Minas Gerais; Ana Minervina de Alvim
e Silva casada com o Tenente Cel. Joaquim de Araújo Padilha e ainda sogro de Joaquim José Bastos, sendo que desses dois
últimos não temos melhores informações.
O Capitão Manoel Felisberto foi o homem, até agora conhecido que maior prole deixou no município, dele descendendo as
famílias Bastos, alguns Gabriéis, Tostes, Padilhas, Albino, Coimbrãs e até Picanços. Foi proprietário de diversas fazendas em
Miracema; exerceu cargos de eleição popular, sendo o primeiro representante da freguesia de Pádua à Câmara Municipal de
São Fidélis quando foi instalado aquele município em 5 de março de 1855. Nesse ano ainda, foi eleito provedor da Irmandade
do S. Sacramento organizada pelo padre José Joaquim Pereira de Carvalho, na Igreja de Pádua, em 21 de outubro...
Em 1863 era o 2° Juiz de Paz e em 1865, subdelegado de Polícia da Freguesia. Teve sempre forte atuação em todos os
negócios relacionados com a vida da mesma em conseqüência do alto prestígio político que lhe emprestava a sua reconhecida
projeção social.”
Após o Capitão Manoel Felisberto Pereira da Silva, a Fazenda Cachoeira passou a seu filho, o Comendador Francisco
Procópio de Alvim e Silva, que foi casado com D. Maria Rosalina Reveziana Alvim, filha de Anacleto Reveziano de Siqueira
Alvim e de D. Maria Umbelina de Alvim e Silva, na Igreja de Pádua, no dia 18 de fevereiro de 1857.
“O comendador Francisco Procópio de Alvim e Silva, Capitão Perico, como era geralmente conhecido, exerceu diversos cargos
públicos, por nomeação do Governo Imperial, e outros eletivos, como o de vereador, de 1883 a 1889, onde a proclamação da
República foi encontrá-lo na presidência da Câmara Municipal. Posteriormente, no governo do Dr. Francisco Portela, foi
delegado de polícia.
Trabalhador, honesto, de energia chegada à violência, quando esta se fazia necessária, era, entretanto, afável no trato, o que
lhe valia o respeito e a amizade de todos.
Foi político de relativo prestígio. Faleceu no dia 5 de julho de 1892, deixando numerosa prole e alguns haveres” 4.
Ainda em vida, porém, o Capitão Perico, tomou conhecimento que Joaquim José da Silva Bastos havia iniciado um processo
de desmatamento em sua propriedade com o objetivo de ali estabelecer sua fazenda.
Tomando conhecimento do fato,... “para lá partiu com alguns homens com a intenção de expulsá-lo.
Chegando à fazenda, ficou deslumbrado com a fartura e organização local, deixando-o ficar mediante a entrega de sua
produção”.
Quando Joaquim José da Silva Bastos vinha trazer a colheita para o Capitão Perico na Fazenda da Cachoeira, via à distância,
à janela da casa grande, Bárbara de Alvim e Silva, irmã do Capitão Perico.
Com o passar do tempo, o Capitão Perico contratou o casamento de Bárbara com Joaquim José, que se casaram sem nunca
se terem falado. O casal foi morar na Fazenda de Venda das Flores que levou este nome por ser rodeada de flores. Desse
casamento nasceram os filhos, Francisco da Silva Bastos, Coronel José da Silva Bastos, Augusto da Silva Bastos, Olympio da
Silva Bastos, Pedro da Silva Bastos, Benigna

214 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


histórico

da Silva Bastos, Maria da Silva Bastos, Amélia da Silva Bastos, Jovina da Silva Bastos, Ana da Silva Bastos, Joaquim da Silva
Bastos e Antonio da Silva Bastos, que constituíram família, casando-se conforme demonstração a seguir, recebendo cada um,
como herança do pai uma fazenda: 1) Fazenda da Promissão a Francisco da Silva Bastos; 2) Fazenda do Tirol a José da Silva
Bastos; 3) Fazenda Vista Alegre a Augusto da Silva Bastos; 4) Fazenda da Boa Vista a Olympio da Silva Bastos; 5) Fazenda
da Divisa a Pedro da Silva Bastos; 6) Fazenda Vista Linda a Benigna da Silva Bastos; 7) Fazenda Ipiranga a Maria da Silva
Bastos; 8) Fazenda do Quero Ver a Amélia da Silva Bastos; 9) Fazendinha a Jovina da Silva Bastos; 10) Fazenda Bem Quisto
a Ana da Silva Bastos; 11) Fazenda Grão Mongol a Joaquim da Silva Bastos; e 12) Fazenda do Sítio a Antonio da Silva
Bastos.5
O Coronel Pedro da Silva Bastos recebeu de seu pai, a título de herança, a fazenda da Divisa, que atualmente pertence ao Sr.
Belarmino Soldati.
Mais tarde, adquiriu a Fazenda Humaitá, onde passou a residir com toda a sua família.
“Comprou ainda as Fazendas da Cachoeira, Boa Esperança, Bananal e Quero Ver. Consta-se que vovô arrematou por 30 mil
réis, num leilão, a Fazenda da Cachoeira a pedido de seu proprietário, Arthur Procópio, dividindo a fazenda ao meio e dando a
metade para Arthur”, conta-nos Gislene Bastos de Oliveira.
Político de grande influência chegou a ser prefeito de Pádua por duas vezes e vereador em Miracema.
Presidiu partidos políticos e chegou à patente de Coronel, da extinta Guarda Nacional.
Na partilha, a Fazenda Cachoeira coube a Nilo Garcia Bastos, que posteriormente a vendeu para seu irmão Cícero Garcia
Bastos, que após uma reforma, ali passou a residir.
Contou-nos Chicrallina Salim de Martino, que na década de 1930, aconteciam na Fazenda Cachoeira famosos e concorridos
“saraus”, onde os jovens da época dançavam ao som do piano e nos intervalos saboreavam doces, refrescos e ponche.
Inicialmente, iam de bicicleta. Mais tarde, quando foi estabelecida a linha de ônibus para Itaperuna passaram a se utilizar deste
serviço, uma vez que a antiga estrada passava bem nos fundos da casa-sede (f39).

Fazenda Cachoeira (s/a, s/d, acervo Fazenda Cachoeira) 39

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 215


histórico

Também como o pai, Cícero foi político, chegando a prefeito nomeado de Santo Antônio de Pádua.
As fazendas Humaitá e Cachoeira recebiam personalidades de projeção do cenário político nacional, como é o caso de
Juscelino Kubitschek que se hospedou na Fazenda Cachoeira, em 1967. Retornando do exílio, aceitou o convite do jovem
estudante Maurício Monteiro para vir dançar com a Miss Estado do Rio num baile realizado no Aero Clube de Miracema, fato
que causou enorme sensação e reboliço entre as autoridades, uma vez que estávamos no auge da ditadura militar (f40).
Na casa-sede há lembranças como o livro de visitas, onde ele fez o seguinte registro: “Saio daqui fascinado pela bondade de
Julieta e do Cícero e dominado pelo encanto do velho solar fluminense – Juscelino Kubitschek – 26/11/67”. Ou ainda na
fotografia enviada em 25/08/1968, com a seguinte dedicatória: “Para Julieta e Cícero Bastos, o abraço afetuoso de Juscelino
Kubitschek” (f41).
A Fazenda, atualmente, é propriedade de Gislene Bastos de Oliveira, que tem a preocupação de mantê-la conservada e de
passar para as gerações futuras a memória da família Bastos, que tantos e relevantes serviços vem prestando a Miracema há
mais de um século e meio.

Baile no Aero Clube de Miracema, com a participação do 40 Bilhete de agradecimento do ex-Presidente Juscelino 41
ex-Presidente Juscelino Kubitscheck, em 1967 Kubitscheck, pela estada na Fazenda Cachoeira, em 1967
(s/a, acervo Fazenda Cachoeira) (s/a, acervo Fazenda Cachoeira)

216 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


denominação códice
Fazenda Liberdade AVII – F02 – Mir

localização
Km 236 da RJ116, que liga Itaboraí a Itaperuna

município
Miracema

época de construção
século XIX

estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha

uso atual / original


pecuária leiteira / fazenda de café

proteção existente / proposta


nenhuma

proprietário
particular

Fazenda Liberdade, fachada principal.


coordenador / data Marcelo Salim de Martino – mar/abr 2009 revisão
Equipe Vitor Caveari Lage e Jean Rabelo Ferreira Coordenação técnica
do projeto
histórico Marcelo Salim de Martino
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 217
situação e ambiência

O acesso à Fazenda Liberdade é feito através de uma estrada vicinal, que tem início no km 236 da RJ-116 (Rodovia
Presidente João Goulart), que liga Itaboraí a Itaperuna (f01 e f02). Na beira da estrada está localizado o curral, o barracão para
a guarda de carros-de-boi e a casa de colono. Mais adiante se encontram: a casa de força, cevas, máquina de beneficiar café
e arroz e o terreiro de café (f03 a f07, f08 e f09).
A casa-sede fica localizada numa elevação, de onde se pode avistar a estrada. Do lado esquerdo da sede está localizado parte
do pomar da fazenda, onde se destacam as sempre viçosas jabuticabeiras (f10). Pouco mais adiante, encontramos o açude
cercado de bambus gigantes que embelezam aquele bucólico recanto (f11). De lá, parte a água que abastece a fazenda,
transportada por uma banqueta de tijolos maciços revestidos com massa (f12), passando pela ceva e terminando onde outrora
esteve instalada uma roda d’água (f13).

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218 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


situação e ambiência

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 219


descrição arquitetônica*

Utilizando a linguagem do neoclássico, a casa-sede encontra-se projetada com a planta em formato de “L” invertido, estando
assentada sobre platô em aclive, o que determina que a fachada principal apresente porão alto e a parte dos fundos seja térrea
(f14 e f15).
O corpo principal da construção, com uma volumetria compacta, além do aspecto de sua implantação, é valorizado pelo
desenho da cobertura e pela composição ritmada dos vãos de sua fachada frontal no segundo piso (f16). São oito vãos de
janelas, distribuídos quatro a quatro, centralizados por um alpendrado, através do qual se tem acesso à duas portas que levam
a parte íntima da casa. As janelas possuem cercaduras em madeira, vergas e sobrevergas retas – estas últimas em cimalha de
estuque –, pintadas de azul, mantendo folhas externas em venezianas e guilhotinas internas em caixilhos de vidro (f17 e f18).

14 15

16

17 18

*(Texto parcialmente transcrito do “Projeto de Conservação e Preservação – Histórico e Análises de Situação e Contexto da
Fazenda Liberdade”, elaborado pela Oikos Arquitetura em Julho / 2008 para a Prefeitura Municipal de Miracema)

220 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

É possível perceber a influência neoclássica, através da existência de bandeiras sobre as portas internas (f19) e das
sobrevergas que compõem as janelas das fachadas principais, bem como os frisos de cimalhas acima destes vãos, ambos em
estuque, técnica muito utilizada na região (f20).
A cobertura é de telha cerâmica do tipo capa e canal. Chamamos a atenção para os originais e raros recortes de acabamento
feitos nas telhas que compõem todas as extensões dos beirais, requintes da arquitetura colonial.
Porém, o beiral é arrematado por uma cimalha de madeira, muito simples (f21).
Os forros da ala principal são de madeira, do tipo saia e camisa (f22). Já na ala de serviço, onde estão localizadas uma copa e
pequenos quartos, provavelmente ocupados por empregados, foram executados em taquara, com padrões geométricos e
coloridos, por antigos empregados da fazenda (f23).

19 20

21 22

23

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 221


descrição arquitetônica

A sala principal possuía, segundo testemunho dos proprietários da terceira geração, teto com fino e requintado trabalho em
estuque, em cujo medalhão central reproduzia Ceres, a deusa da mitologia grega que representa a proteção da lavoura,
guarnecida por jarrões com flores, buquês e as iniciais dos proprietários – JAB (Josino Antônio de Barros) e APB (Amélia
Padilha de Barros). Há ainda o registro, neste ambiente, da cimalha de estuque que circunda toda a sala (f24). Ainda segundo
o testemunho das netas dos proprietários, as paredes eram forradas com papel na cor azul trabalhado com motivos florais.
A casa possui 12 quartos, quatro salas, um escritório com entrada independente, cozinha, despensa e um banheiro.
As construções do século XIX passaram, ao final deste, por um processo de “modernização”, sobretudo as localizadas nos
pequenos núcleos urbanos e na zona rural. Miracema, nessa época, por contar com abundante mão-de-obra especializada na
construção civil, assiste à “requalificação” de seus casarões. A sede da Fazenda Liberdade também foi modificada nesse
momento. Assim, foram detectadas algumas intervenções modernizadoras, como nas janelas das fachadas principal e laterais,
acréscimos etc. A maior parte dessas intervenções, no geral, é incorporada em uma nova linguagem formal chamada
ecletismo.
A alteração descaracterizadora mais evidente está registrada no alpendre, onde parte do telhado se sobrepõe às duas portas
de acesso, levando aos seus fechamentos abaixo da altura original (f25).

24

25

222 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


detalhamento do estado de conservação*

Com o envelhecimento dos proprietários e com a mudança para a cidade, a casa-sede da Fazenda Liberdade entrou em
acelerado processo de degradação. A cobertura, no geral, apresenta-se em condições razoáveis, não sendo detectadas
patologias que comprometam sua estabilidade. As linhas de cumeeiras e espigões mantêm-se niveladas. As telhas de barro,
em capa e canal, apresentam bom estado de conservação (f26).
Mesmo com a existência de várias telhas corridas e quebradas, atualmente, são poucas as infiltrações por descendência que
ocorrem no período das chuvas. A cimalha de madeira sobre o beiral, bastante comprometida, não parece ser original. A régua
no centro (em vermelho), por mais que pareça ser um detalhe decorativo, tem como função principal sobrepor-se às emendas
das tábuas na horizontal (f27).
Foram detectadas trincas verticais em alguns encontros de paredes, que podem representar deslocamentos de esteios ou, até
mesmo, perda de material no encontro de frechais (f28). A ocorrência de trincas sobre as janelas, onde houve a substituição da
vedação de pau-a-pique por tijolo maciço, pode ser decorrência da retirada das partes inferiores dos portais dessas janelas,
fato esse que altera a relação de distribuição de cargas até então concentradas no arcabouço de madeira que sustenta e dá
estabilidade à construção (f29).
A existência de xilófagos da espécie cupim de solo provocou a deterioração de alguns portais, barrotes do porão, esteios,
frechais, assoalhos e madres. A infestação é mais percebida no porão. Assim mesmo não se apresenta de forma generalizada
(f30).

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30

* Texto baseado e parcialmente transcrito do Projeto de Conservação e Preservação – Histórico e Análises de Situação e Contexto da Fazenda
Liberdade, elaborado pela Oikos Arquitetura, em julho / 2008, para a Prefeitura Municipal de Miracema.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 223


detalhamento do estado de conservação

O alpendre tem seus barrotes e assoalhos totalmente irrecuperáveis. A escada de acesso em alvenaria de tijolo maciço, bem
como os telhados, gera uma volumetria desproporcional à original, devendo ser objeto de proposta de requalificação (f31). Os
forros de madeira, todos em saia e camisa, foram afetados por umidade descendente e, consequentemente, por fungos e
xilófagos, com muita perda de material (f32). Os assoalhos também o foram, porém em quantidade menor de perdas, com
exceção dos correspondentes ao alpendre, que estão totalmente danificados, inclusive seus barrotes. As portas, com exceção
das localizadas na atual cozinha e depósito, totalmente degradadas, estão em boas condições. As venezianas externas da
fachada principal e das laterais exigem cuidados por estarem desarticuladas, ressecadas e com algumas falhas.
Pequenas obras de conservação deveriam levar em consideração a manutenção da originalidade dos aspectos estéticos e
também dos materiais utilizados. No caso da substituição do forro em estuque, provavelmente deteriorado, pelo de madeira
existente, perdeu-se muito no que diz respeito à harmonia desses elementos, transformando o paliativo em definitivo.
Foram encontrados registros de pinturas decorativas nas paredes da antiga sala-de-jantar. Aparentemente são pinturas
simples imitando texturas de madeiras, mas que revelam as técnicas e os padrões utilizados, no século XIX, para essa
finalidade (f33). O antigo acesso principal à casa foi executado com soleiras de pedras e seus arrimos na técnica em pedra
seca, todas cortadas e esquadrejadas à mão (f34 e f35).

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34

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224 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
detalhamento do estado de conservação

Os assoalhos, ainda utilizando em grande parte as tábuas originais, foram alterados em intervenções de manutenção e, em
alguns pontos, o uso de procedimentos e materiais diferentes dos originais, geram influências e conseqüências questionáveis,
sob o ponto de vista da conservação preventiva (f36). O piso hidráulico é utilizado como pavimentação de partes de áreas frias,
elemento em uso nas construções de interesse histórico desde meados do século XX, em pleno ecletismo. Seu uso por
décadas causou desgastes acentuados nas áreas de maior circulação, e, consequentemente, várias reposições de peças (f37).
Reflexos da adoção de novos hábitos são percebidos nas construções de interesse histórico em geral, nesse caso, nas janelas
externas das fachadas, principal e lateral. A introdução de venezianas protegendo as guilhotinas contraria a versão
neoclássica, onde as folhas são cegas e internas, promovendo descontinuidade na leitura das fachadas (f38).
No final do século XIX, o uso de ferramentas mais adequadas provocou o avanço nas tecnologias da construção.
Assim, foi possível obter elementos como pequenas cimalhas de madeira, encaixes mais precisos e artefatos de ferro fundido
mais delicados, o que viabilizou a “passagem” entre os estilos em vigor na época.
Em 2008, a Prefeitura Municipal de Miracema, atendendo a solicitação do proprietário, encomendou a uma firma especializada
em restauração um projeto de conservação e de preservação da casa-sede, dada a importância e o significado do ponto de
vista histórico e arquitetônico que a mesma representa para a região.
A sede da fazenda, no momento da elaboração deste fichamento, estava passando por um processo de recuperação da
cobertura, com a substituição de telhas quebradas, tábuas de beira, pintura interna (caiação) e preenchimentos de pequenas
trincas com massa de cimento.

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38

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 225


representação gráfica

FAZENDA LIBERDADE

226 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


representação gráfica

FAZENDA LIBERDADE

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 227


representação gráfica

FAZENDA LIBERDADE

228 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


histórico

A Fazenda Liberdade era propriedade do tenente-coronel Josino Antônio de Barros, que nasceu na Fazenda das Três Ilhas,
em São José do Rio Preto, atual São José das Três Ilhas, Minas Gerais, de propriedade de Antônio Bernardino de Barros e
Silvana do Vale Barros (segundo matrimônio), seus pais. Antônio Bernardino de Barros era filho de José Bernardino Monteiro
de Barros, proprietário de uma fazenda de criação que se destinava a abastecer a população da zona de mineração aurífera.
Já no século XIX, com o surgimento da lavoura cafeeira, Antônio Bernardino de Barros transferiu-se para São José do Rio
Preto, onde estava situada a Fazenda Três Ilhas, dedicando-se à cultura de cana e café.
Antônio Bernardino de Barros, como diversos mineiros que para lá se transferiram atraídos pela fertilidade da terra, adquiriu
uma sesmaria de terras no município de Santo Antônio de Pádua, região que futuramente seria denominada de Miracema, na
época habitada por índios.
Antônio faleceu pouco depois de 1840. Josino, seu filho, com muito pouca idade, foi educado pelo tio, Gabriel Antônio de
Barros, Barão de São José Del Rey, no então afamado Colégio do Caraça, em Mariana – (MG).
Na divisão da herança deixada pelo pai, a sesmaria localizada em Miracema foi repartida pelos três filhos do primeiro
matrimônio que aqui se estabeleceram, surgindo assim as fazendas de São Luís, de Custódio Bernardino de Barros, Paraíso,
de Plácido Antônio de Barros e Santa Inês, de Francisco Bernardino de Barros.
Após os irmãos terem se estabelecido como fazendeiros, Josino resolveu visitá-los. Na época, conheceu a filha do Coronel
Joaquim de Araújo Padilha e de D. Ana Minervina de Alvim Padilha, Amélia, com quem se casou.
Adquiriu então uma fazenda e deu-lhe o nome de Liberdade que, segundo informações de seus familiares, chegou a colher,
em sua primeira safra, 150 mil quilos de café. Vivendo no tempo em que a escravidão era instituída como regime de trabalho
humano, não foi possível evitá-la. Dentro de suas possibilidades libertou vários escravos e, compreendendo o sentido da
mudança do tempo, preferia o regime assalariado ao escravagista.
Assim, fez vir e instalou nas terras da fazenda imigrantes de origem italiana.
Suas netas, Maria Augusta e Maria Amélia e Silvia contam que o castigo comum atribuído aos escravos de sua propriedade
era tomar banho com sabão. Ainda segundo depoimento delas, outra peculiaridade das “estórias” da fazenda é que Josino
Antônio de Barros costumava deixar o paletó pendurado perto dos trabalhadores e ia dormir. Então, os escravos comentavam
– “Sô Tenente taí!”.
O Coronel Antônio Josino de Barros participou intensamente do movimento republicano, sendo um dos primeiros
propagandistas da república, fundando em 1886, ao lado de muitos outros, o Clube Propagandista da República
de Pádua.
Em 1890, foi nomeado intendente e, de 1897 a 1900, foi presidente da Câmara de Pádua, época em que introduziu, entre
outros melhoramentos, o serviço de água potável, com a construção de caixas distribuidoras e chafarizes públicos. Em
Miracema, onde já existia abastecimento de água, o sistema foi ampliado e melhorado.
Josino foi agraciado com a patente de tenente-coronel, da Extinta Guarda Nacional e foi escolhido Deputado Estadual por três
vezes.
Como fazendeiro, não se dedicava tão somente à cultura cafeeira. Experimentou a criação de ovinos, importando o famoso
carneiro “merino”. Construiu açude, plantava arroz e, ao longo dos caminhos da fazenda, viam-se cedros, bandarras, pinheiros
e até casuarinas da Austrália.
Nessa fazenda nasceram e cresceram seus filhos: Arquimedes, Ana, Joaquim (Quinca), Mariana, Leopoldina, Henedina,
Antonio Rattes (Titotonho), Israel e Lucília, do primeiro matrimônio com Amélia Padilha de Barros, e Aristeu, Constança,
Mercedes, Lígia, Gideão, Adiles e Maria do Carmo, do segundo casamento, com Bernardina
Teixeira de Barros.
O Coronel Antônio Josino de Barros faleceu em 19091. A Fazenda, atualmente, está dividida entre os herdeiros de Antonio
Rattes de Barros (filho do coronel Josino) e de Diva Lima Barros.

1
Exposição Casas de Fazenda – outubro de 1993 – dos escritos de Rômulo Alves de Barros, adaptados por Marcelo Salim de Martino

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 229


denominação códice
Fazenda Santa Justa AVII-F06-Mir

localização
Situada entre o povoado de Areias e a comunidade de Barreiro, distrito-sede

município
Miracema

época de construção
século XIX

estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha

uso atual / original


fazenda de gado de leite / fazenda de café e
algodão

proteção existente / proposta


nenhuma

proprietário
particular

Fazenda Santa Justa, fachada principal


Coordenador / data Marcelo Salim de Martino – mai 2009 revisão
equipe Vitor Caveari Lage (levantamento de campo, Jean Rabelo Ferreira, Coordenação técnica
Lia Márcia de Paula Bruno e Vera Lúcia Mota Gonçalves do projeto
histórico Marcelo Salim de Martino

230 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


situação e ambiência

imagens geradas pelo Google Pro 2009

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 231


situação e ambiência

A Fazenda Santa Justa está encravada num vale, situado entre o Povoado de Areias e a Comunidade do Barreiro, localizados
no distrito sede. Há várias alternativas de acesso, entre as quais pelo km1 da RJ-116; pela RJ-186, entrando pela Fazenda
Santa Inês (f01); ou ainda pelo povoado de Areias, que fica distante cerca de 3 km da RJ- 200, estrada que liga Miracema ao
distrito de Paraíso do Tobias (f02). Entretanto, o acesso é dificultado pelo mau estado de conservação das mesmas, devido às
chuvas que são intensas e frequentes na região.
Logo na chegada, do lado direito da estrada de quem vem de Paraíso do Tobias, distante da casa-sede cerca de 1 km, há um
córrego que passa por um trecho com muitas pedras, o que contribui ainda mais para a valorização do sítio histórico e das
belezas naturais que compõem as terras da Fazenda Santa Justa (f03). Deste mesmo ponto, pode-se avistar a Pedra Olho da
Baleia, localizada na Fazenda Pirineus, em Paraíso do Tobias, que é um importante atrativo natural da região (f04). Da sede da
Fazenda Pirineus ao topo da pedra, são quatro horas de caminhada. Corre uma lenda na cidade que, no lugar denominado de
“Olho da Baleia”, se localizava a entrada de uma grande caverna, onde os antigos moradores da fazenda acreditavam
acontecer fenômenos sobrenaturais, como o aparecimento de santos, a audição de vozes diferentes, o surgimento de dragões
cuspindo fogo, enfim, uma série de histórias que acabaram criando tal lenda. De fato, conforme o proprietário da fazenda, Sr.
João Ramos, informou à redação da revista Miracema, nº 2, de 1977, naquele local, aconteciam fenômenos “desde que me
entendia por gente”. Não coisas “do outro mundo”, como acreditavam alguns habitantes da região, mas de vez em quando, era
vista por lá uma tocha de fogo que clareava tudo.

01

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03

232 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


situação e ambiência

O conjunto de construções formado pela casa-sede e a tulha (f05), antiga (f06) e nova ceva (f07), curral (f08), barracão usado
como garagem (f09) e casa de colono (f10), ficam concentrados em volta do antigo terreiro de café (f11). Apenas outro curral
que, pelas características da construção parece ser o mais antigo, fica isolado do conjunto (f12).
Do lado direito da construção, por trás da ceva nova, localiza-se o caminho (f13), pelo qual tem-se acesso a um grande açude,
que possui uma parede de pedras que faz sua contenção (f14).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 233


situação e ambiência

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234 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


situação e ambiência

De uma abertura desce a água represada, formando um riacho (f15) que, através de uma banqueta (f16 e f17), movimentava a
roda d’água que abastecia uma “casa de moinho” (f18), atualmente desativada e soterrada por árvores derrubadas pelas fortes
chuvas que este ano, em especial, assolaram a propriedade.
Esse açude é alimentado por diversas nascentes, sendo que a principal vem da Fazenda Serra Nova. Na parte dos fundos da
casa-sede, está localizado o antigo pomar da fazenda, que ainda conserva diversas espécies de árvores frutíferas (f19).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 235


situação e ambiência

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236 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
descrição arquitetônica

A casa-sede da Fazenda Santa Justa possui planta retangular com as fachadas principal e lateral direita térreas – e as dos
fundos e lateral esquerda edificadas sobre porão alto, aproveitando a declividade do
terreno (f20).
A fachada frontal, que é voltada para o antigo terreiro de café, é formada por quatro janelas e uma porta de duas folhas cegas,
localizada no alpendre que possui guarda-corpo de madeira recortada, com todas as peças de madeira pintadas de azul (f21 e
f22).
O telhado em quatro águas, de ponto elevado, é coberto por telhas do tipo capa e canal e arrematado por beiral forrado,
sustentado por mãos francesas simples (f23).
A casa-sede possui três salas (f24 e f25), quatro quartos (f26), copa / cozinha (f27), banheiro e área de serviços localizada no
canto das fachadas de fundos e lateral direita da construção (f28).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 237


descrição arquitetônica

Os quartos e as salas possuem assoalho de madeira de junta cega, em alguns cômodos substituído por padrão mais
contemporâneo (f29), além de forros, também em madeira, do tipo saia e camisa (f30).
Foi verificado que, em um dos cômodos, o proprietário optou pelo uso de forro em PVC que, embora apresente aspecto
semelhante ao original de madeira, não deixa de ser um elemento estranho a uma construção do século XIX.
A copa e a cozinha apresentam pisos com ladrilhos hidráulicos, conservando a cozinha o velho e bom fogão a lenha (f31).

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238 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

Na casa, existem alguns móveis e alfaias de época, como uma escrivaninha do século XIX (f32); o sino pendurado no alpendre
(f33), utilizado para chamar os escravos; uma balança de ferro e uma corrente que foram adaptadas e utilizadas como
elementos decorativos e/ou funcionais (f34 e ver f30).
O destaque, porém, fica para uma janela entre a sala de jantar e a cozinha, vedada por uma grade formada por barras verticais
de madeira, à moda das moradas paulistas (f35).
A casa-sede é protegida por uma muralha de pedra seca, localizada na fachada lateral direita, que faz a contenção da encosta
(f36).
Ao lado da casa-sede, separada apenas por uma estreita passagem, estão localizadas a tulha, o galinheiro (f37) E uma antiga,
desativada e interessante ceva, que utilizava o porão como refúgio para os animais (f38). Esse bloco possui a fachada principal
de pau-a-pique (f39) e as laterais e parte da fachada dos fundos em esbeltos troncos de madeira dispostos na vertical (f40),
que vão do assoalho em junta cega ao frechal.
Segundo um empregado da fazenda, a madeira utilizada é a original, não tendo sido atacada por insetos do tipo cupins de
solo, e que se acredita ser de brejaúba, uma espécie de palmeira da região. O telhado é de duas águas, coberto com telhas
cerâmicas do tipo capa e canal. Acredita-se que parte dessa construção também tenha servido de senzala da fazenda.
Merece destaque ainda, o antigo terreiro de secagem de café que fica instalado em frente à casa-sede e à tulha (ver f11).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 239


descrição arquitetônica

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240 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


detalhamento do estado de conservação

A casa-sede encontra-se conservada, sobretudo no que se refere ao madeirame estrutural da construção, ou seja: nas peças
encontradas no telhado e porão (f41).
Parte da forração do beiral da fachada lateral esquerda foi substituída recentemente, conforme pode ser facilmente observado
(f42).
Parte do emboço do porão, do lado onde está localizado o alpendre, foi substituído, encontrando-se ainda sem pintura (f43).
Grande parte da pavimentação de pedra do tipo pé-de-moleque (f44), localizada do lado direito da edificação, está se
desfazendo, devido à erosão causada pelo carreamento das chuvas que, de forma generalizada, tem provocado uma série de
danos em estradas, nas banquetas e no curral, dentre outros. Isto ocorre porque a propriedade está localizada numa área de
declive do terreno, caminho natural das enxurradas. Outro motivo que contribui para a erosão e o desmoronamento de parte do
curral são as árvores conhecidas como “mata pau” ou figueira. Notou-se também, por ocasião do levantamento, a exploração
de rochas na propriedade, bem próximo à área que é mais atingida pelas enxurradas (f45).
Na tulha, galinheiro e antiga ceva, a construção encontra-se, em geral, mais danificada que a casa-sede, principalmente no
que diz respeito aos portais e às esquadrias (f46), que já não são originais, além de parte do assoalho (f47).
Contudo, a cobertura está em bom estado, percebendo-se que muitas peças, como a cumeeira, algumas terças e parte do
ripamento, foram substituídas (f48).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 241


detalhamento do estado de conservação

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242 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
representação gráfica

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 243


representação gráfica

244 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


histórico

Segundo Alberto Lamego, em sua obra o Homem e a serra, a proximidade com o estado de Minas Gerais foi essencial para o
crescimento demográfico e econômico do Município de Pádua, com uma forte corrente imigratória
ao longo do rio Pomba.
“...os cafezistas se embrenhavam lateralmente pelos afluentes, onde havia encostas elevadas mais promissoras para as
plantações. O primeiro desses cursos d’água encontrados na margem esquerda, ao vir-se de Minas, é o Ribeirão Santo
Antônio, logo invadido pelos pioneiros. E, além de mais próximo das terras mineiras, os próprios fatores geográficos da bacia
desse afluente viriam incentivar a imigração por um caminho novo”.
Assim, a partir da década de 1940, grandes e numerosas fazendas foram formadas em Miracema, fato esse que possibilitou,
em pouco tempo, o surgimento do arraial de Santo Antônio dos Brotos.
E prossegue Alberto Lamego: “As tropas de café de Miracema eram das que mais concorriam para a animação do porto de
São Fidélis, e um dos mais sólidos argumentos para a construção da Estrada de Ferro Santo Antônio de Pádua, da qual viria
um ramal a destacar-se, partindo de Paraoquena até a povoação que já se formara em torno da Capela dos Brotos. Com a
nova estação no ponto terminal da via férrea, torna-se Miracema um centro de transportes distrital, com uma notável expansão
do comércio, ativado pelas transações com as propriedades rurais. Essa artéria ferroviária liberta-a cada vez mais de Pádua.
E, com os robustos recursos independentes da sua economia agrícola, envolve o núcleo urbano, transformando-o numa
pequena e próspera cidade, coisa dos destinos próprios onde, naturalmente cresceram os sentimentos separatistas. O contato
com Minas continua a fornecer-lhe um contingente humano que, sem cessar, se espraia pela topografia acidentada, que se
eleva da cota de 137 m, na estação ferroviária, a cerca de 400 m nas Serras do Pirineus, da Boa Vista e do Tirol. Dos milhares
de colonos mineiros a acorrerem para Miracema, a fim de plantar café num solo altamente produtivo, emergem centenas de
pequenos fazendeiros, cujas famílias enraizadas ao novo meio, proliferam”.
Assim surgiram várias propriedades rurais, dentre as quais podemos citar a Fazenda Santa Justa, que pertenceu ao Sr.
Bernardino Homem da Costa, que foi Juiz de Paz em Paraíso do Tobias, cuja família possuía outras propriedades situadas
nesta região de Paraíso do Tobias – 2º distrito de Miracema.
A sede da Fazenda Santa Justa deve ter sido edificada por volta de 1870. Numa das reformas do telhado, foi encontrada uma
telha datada de 22 de fevereiro de 1873 (f49), provavelmente marcada pelo fabricante de telhas que foi o mesmo fornecedor da
Fazenda Santa Inês, uma vez que lá também foram encontradas as mesmas telhas com datas bem próximas.

49

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 245


histórico

Anos depois, a fazenda foi passada para Bernardino Alves da Costa, filho de Bernardino Homem da Costa, casado com
Guiomar Tostes, popularmente conhecido por Seudy. José Erasmo Tostes, sobrinho de Guiomar, relata em seu livro de
memórias, intitulado Tipos e fatos inesquecíveis, que “...na época das colheitas, o tio Seudy fazia com que todos trabalhassem
no corte de arroz, na colheita do milho e na apanha do algodão. O algodão era depositado num dos quartos da casa. Na sala
ao lado, muito espaçosa, tinha uma eletrola movida a corda, um guarda-louça, um retrato grande pendurado na parede, uma
mesa comprida onde se faziam as refeições preparadas no fogão de lenha, e dois bancos para compor a mesa.
A Fazenda Santa Justa ficava num platô, o curral na parte de cima e no terreiro, um galinheiro, duas tulhas, onde se
guardavam os produtos colhidos, um barracão onde ficava o carro de boi e um carroção, juntamente com as ferramentas
agrícolas. Na parte de trás da fazenda, a mais baixa, onde a água era corrente, havia uma ceva com vários porcos. Do outro
lado da estrada, uma roda d’água tocada pelo valão ali existente e o alambique onde se fabricava a aguardente Santa Justa,
que era vendida no mercado.
Após 50 anos lá voltei e, ao passar novamente pelos mesmos lugares, o açude, a banqueta onde se represava a água para
tocar o moinho de fubá, os pés de goiaba, as mangueiras, as jabuticabeiras, nada tinha mudado. Eu é que havia envelhecido, e
as lágrimas a correr pela face ao lembrar os tempos de menino.
E assim, naquelas recordações, eu via o entardecer, e a hora de dormir, onde a tia Guiomar fazia com que todos lavassem os
pés para não sujarmos os lençóis alvejados.
E naquele silêncio que produz a noite, só ouvíamos de longe o ladrar dos cães, o pio da coruja, o coaxar dos sapos, o zumbido
dos insetos, o farfalhar das folhas secas batidas pelo vento, o marulhar das águas sobre as pedras e o barulho cadenciado da
roda d’água”...
Na década de 1960, Santa Justa foi vendida ao Sr. Paulo Lima Barros, que, por sua vez, a transferiu ao Sr. Décio Pereira Lima.
Com seu falecimento, a fazenda coube a seu filho, que é o atual proprietário.

Fontes

TOSTES, José Erasmo - Tipos e fatos inesquecíveis, Gráfica Hoffman – Miracema, 2008.
LAMEGO, Alberto Ribeiro - O homem e a serra, IBGE – Rio de Janeiro, 2007.

246 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


denominação códice
Fazenda Ponte Alta AVI-F01- Nat

localização
Estrada do Barreiro, s/nº

município
Natividade

época de construção
1830

estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha

uso atual / original


criação de gado / fazenda de café

proteção existente / proposta


nenhuma

proprietário
particular

Fazenda Ponte Alta, fachada principal


coordenador / data Marcia Canedo Bizzo – dez 2008 revisão
equipe Pabrício Amaral , Jorge Luiz Nunes de Carvalho Coordenação técnica
do projeto
histórico Marcia Canedo Bizzo

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 247


situação e ambiência

A Fazenda Ponte Alta está localizada no município de Natividade, próximo à divisa com o município de Itaperuna.
Toma-se a BR-356, em direção à Muriaé (MG), e entra-se no trevo para Natividade, cerca de 15 km do centro da cidade de
Itaperuna. Segue-se à direita, pela estrada do Avahy, por 6 km de terra batida ensaibrada, chegando-se ao entroncamento com
a estrada do Barreiro (f01). Prosseguindo por mais 7 km, margeando o Rio Carangola e depois pelo seu afluente, o Rio da
Conceição, alcança-se a fazenda. A estrada do Barreiro está muito mal conservada, possuindo uma ponte rústica sobre o rio
que permite o acesso à propriedade.
A mata remanescente é nativa, mas é comum a presença de pastos intercalados à mesma. A paisagem próxima ao sítio
apresenta-se com relevo pouco acidentado, com pequenas e suaves elevações.
A casa-sede está implantada no centro de um grande platô, com um pequeno declive para a esquerda, onde está o acesso
lateral que se liga à estrada do Barreiro (f02). No seu entorno, encontram-se grandes árvores frutíferas e, mais ao fundo,
destacam-se os morros tipo “meia-laranja” característicos da região (f03 à f05).

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248 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


situação e ambiência

A fachada principal está voltada para a estrada do Barreiro (f06), possuindo à frente uma grande área plana, que remete a um
jardim sem canteiros, delimitado pelo acesso lateral e pela cerca junto à estrada – aproximadamente no mesmo nível desta –
para o qual se volta à casa do caseiro, de construção recente. Há ainda uma casa de colono um pouco afastada, mais antiga,
mas não da época da fazenda.
A capela de Nossa Senhora Aparecida fica um pouco distante da casa-sede, escondida pela vegetação circundante a ponto de
não poder ser avistada (f07). Estando sem uso, o seu entorno foi invadido pelo mato.
A fachada lateral esquerda da casa-sede é margeada pelo leito do córrego, que faz uma curva neste trecho, ficando quase
paralelo à estrada do Barreiro. Nesse local, existem três chiqueiros interligados, que usam de sua água através de uma
comporta original, que, quando aberta, serve como um canal para limpeza dos mesmos (f08). Depois, esse desvio segue sob a
estrada, funcionando como um braço do rio, provavelmente já existente, e que foi direcionado para essa função.

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 249


situação e ambiência

Mais à esquerda, à margem do rio, vemos a antiga casa que abrigava o moinho de fubá. Hoje, ela está sendo usada como um
galinheiro, mas mantém todos os equipamentos do antigo moinho, assim como duas de suas mós em cantaria (f09 e f10). Na
queda d’água existente, próximo ao moinho, pode-se ver a base em pedra da antiga roda d’água (f11), que fornecia energia
para a fazenda e também para o moinho. Existem duas comportas, uma para o rio (f12) e outra (f13) que direcionava a água
canalizada para uma tubulação sob a casa do moinho, para fazê-lo funcionar. O acesso à antiga roda d’água e à comporta é
feito através de uma escada e uma passarela (f14) que levam até a beira do rio, calçada em pedras da região. O
abastecimento da casa-sede, atualmente, é feito por uma caixa d’água própria.
O curral (f15) fica próximo da casa-sede, na frente e um pouco à direita, do outro lado da estrada do Barreiro.
Mas a visão da casa a partir deste é inviável, devido a um grande conjunto de mangueiras que se interpõem aos mesmos.
Observa-se também um curral menor, para caprinos, à direita da casa-sede, em construção recente, localizada numa pequena
elevação.
A composição do “quadrilátero funcional”, ou seja, a forma de implantação das suas antigas instalações é aberta, dominado
pela presença da casa-sede.

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250 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

Edificação desenvolvida em partido arquitetônico que toma a forma de um “L”, situada num platô com um ligeiro declive para o
lado direito. O corpo principal é retangular, estando disposto paralelo à estrada do Barreiro, assim como a fachada lateral
direita está paralela ao rio que banha a propriedade, compondo o “L” (f16).
Na fachada frontal, podemos observar, no 1º pavimento, três portas e quatro janelas em verga reta em madeira, como as
demais da casa, e, no 2º pavimento, dez janelas. O ritmo dos vãos confere à fachada, despojada de um tratamento
arquitetônico mais apurado, a característica mais marcante de sua composição.
A visão da estrutura em madeira aparente, no caso dos pilares, remete à constatação – conforme a foto mais antiga existente
no histórico – que, com o passar dos anos e prováveis danos sofridos, fossem eles por umidade ascendente ou outro fator
qualquer, a base em cantaria foi sendo reforçada e ampliada. Isto fez com que os pilares de madeira passassem a ter a face
externa acima do embasamento com tamanhos diferentes (f17), de forma que apenas os cunhais alcançam o nível do terreno
(f18).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 251


descrição arquitetônica

As bases em cantaria são caiadas de branco, assim como toda a alvenaria da edificação, o que contribui para uma visão pouco
usual da sua composição. Modulam a fachada seis pilares em madeira, todos finalizando no frechal – viga horizontal que divide
os pavimentos. Esta viga, em madeira aparente, recebe o barroteamento do tabuado do 2º piso, apresentando detalhes de
encaixe originais, ainda conservados após mais de 150 anos (f19).
Na primeira porta – que permite o acesso à parte de moradia no segundo piso –, observamos uma rampa que antecede o
patamar, em laje de pedra com junta seca (f20). Porta alta, como as demais, de abrir, ela apresenta folha única em madeira
enrelhada. Logo em sequência, há alternância de vãos de janelas e portas, entremeados por pilares aparentes em madeira,
que marcam o embasamento da construção. No lado oposto, há outra escada, com sete degraus para vencer o desnível do
terreno nesse trecho (f21).
A fachada lateral esquerda (f22) apresenta composição onde se observa o não alinhamento dos vãos do segundo piso em
relação ao primeiro, evidenciando as alterações descaracterizadoras ocorridas. Prosseguindo na leitura das fachadas
posteriores – que delimitam o pátio aberto que formata o “L” invertido da planta – observa-se uma mesma tipologia, que
resguarda, em melhores condições, a modenatura do pavimento superior (f23 e f24).
A fachada de fundos foge um pouco a essa conformação, apresentando outros elementos que evidenciam as transformações
ocorridas (f25).
Na fachada lateral direita, nota-se, como na frontal, seis pilares de madeira aparente de dimensões variadas e bases de
cantaria (f26). No primeiro pavimento, podemos observar que os cunhais e a peça de madeira estrutural que se aproxima de
seu eixo de simetria, se estendem até a cobertura enquanto os demais esteios estão restritos ao primeiro piso.

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descrição arquitetônica

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descrição arquitetônica

Chama atenção um vão de porta, com patamar na altura da base de cantaria da casa, originalmente usado para carregar as
cangalhas dos tropeiros (f27).
A edificação apresenta cobertura em seis águas, beiral com cimalha torneada em madeira e telhas capa-canal originais, com
metade da primeira fiada de telhas em balanço (f28). Os cunhais recebem como coroamento, um trecho de beiral ressaltado,
fazendo às vezes de um capitel (f29).
O embasamento é feito por pedras de mão do local, com junta seca, pintado à base de caiação. Em alguns pontos a cantaria é
aparente e em outros, apresenta-se emassada. A estrutura interna da edificação é aparente, como a externa.
A fachada frontal possui três entradas. A principal constitui-se por uma rampa de lajes de pedra com patamar central em frente
à porta, que leva a uma saleta – que serve de escritório para o proprietário – com um pequeno mezanino, pé direito baixo, forro
com barrotes e tabuado do piso superior, aparentes e caiados. Mantém uma janela para a fachada lateral esquerda e, para a
proteção do mezanino, observa-se guarda-corpo em madeira, além de escada original – toda feita em ensambladuras (f30) –
que leva à porta da área de moradia (f31).
Essa entrada é exclusiva da parte residencial, localizada no andar superior, não tendo ligação nenhuma com o restante do
primeiro pavimento, que mantém porão habitável ocupado por vários cômodos, cujo uso original destinava-se ao estoque do
café, depósito e senzala (f32).
A senzala ficava no porão, subsistindo ainda o tronco dos escravos (f33) em uma parte bem mais rústica deste.
O piso arruinado permite perceber o calçamento original em adobe, que se evidencia num trecho de degrau que recebeu,
posteriormente, um cimentado por cima.
Os outros acessos estão voltados para ambientes bem mais rústicos: um salão e depósito, ligados a cômodos semelhantes e a
outro lateral com piso em tabuado de madeira elevado (f34).

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descrição arquitetônica

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descrição arquitetônica

Há um cômodo lateral que possui outro mezanino (f35), alcançado por escada com cinco degraus, mantendo guarda-corpo e
tabuado de madeira. Este mezanino leva, ao fundo à esquerda, a uma escada de madeira que dá acesso à área de serviço e a
um pequeno banheiro, construído em época posterior.
No segundo pavimento, na entrada da residência, encontramos uma circulação generosa (f36) com duas portas. Uma delas
leva à sala principal, que apresenta forro saia-e-camisa em madeira aparente, com sanca em madeira boleada em ótimo
estado de conservação, assim como o piso, mantendo quatro janelas para a fachada frontal e acesso para dois quartos (f37),
também com forros saia-e-camisa em madeira aparente, porém não tão elaborados. Originalmente havia mais um quarto
voltado para esta sala, pois se observam vestígios de sua porta (f38).
A outra porta direciona a uma ala semelhante, que leva a uma sala íntima com um quarto ao fundo (f39) e à sala de almoço,
que conserva a mesa original da fazenda – com mais de 100 anos (f40). Da sala de almoço observa-se um cômodo até hoje
usado como oratório, com uma grande imagem religiosa. Vê-se ainda o acesso à parte íntima da residência, sua porta com a
fechadura e chave originais, notando-se nessa ala um closet, também com ferragens originais, além de 3 quartos, em que as
janelas voltam-se para a fachada lateral esquerda, mantendo piso de madeira em bom estado.
Na sala de almoço, há uma parede baixa, original, dividindo o espaço da copa (f41), contígua a uma pequena ala que leva à
ala de serviços, onde se encontra a lavanderia e dois banheiros, construídos posteriormente.
A cozinha volta-se para a copa, notando-se dois fogões à lenha, o principal, para a cocção da comida em geral, e o outro,
próprio para cozimento de doces em tachos (f42 e f43), havendo um armário, também centenário, que faz conjunto com a
mesa da sala de almoço (f44). A cozinha possui três janelas que dão para a fachada lateral direita (f45).

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descrição arquitetônica

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 257


descrição arquitetônica

As portas e janelas da edificação apresentam vergas retas e robustos portais emoldurando-as. Na fachada frontal, no 1º
pavimento, as portas são em madeira com apenas uma folha cega de abrir, assim como as janelas (f46). As janelas do 2º
pavimento apresentam bandeira com apenas três quadros em madeira e vidro na parte superior e guilhotina com tela na parte
de baixo (f47), além de duas folhas cegas de abrir para dentro.
No pavimento térreo das fachadas laterais e posteriores, as janelas e portas são do mesmo padrão da fachada frontal. Na
fachada lateral direita, observam-se, no depósito, dois vãos de janelas onde foram instaladas grades (f48). As janelas do 2º
pavimento apresentam adaptações descaracterizadoras das esquadrias, com madeira e vidro formando três retângulos
encimados por sobrevergas em madeira (f49). Vê-se também, na ala de serviço, janelas com somente uma folha de abrir em
madeira (f50). No 2º pavimento, a porta de entrada tem apenas uma folha de madeira, sendo que em outras, como a que dá
acesso à ala íntima, observamos duas folhas.

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258 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


detalhamento do estado de conservação

A fachada lateral esquerda sofreu uma intervenção, inadequada e recente, entre os dois pilares de madeira do extremo
esquerdo e a base em cantaria, recebendo revestimento com emboço em cimento sem o traço apropriado aplicado sobre o
adobe (f51), provavelmente sem análise do material original, o que proporcionará, futuramente, a expulsão desse novo
revestimento. Comportou ainda a colocação de uma nova janela, com apenas uma folha de abrir, que deturpou as
características e dimensões das demais (f52).
No porão, o salão tem piso em base de adobe (f53) muito mal conservado; cômodos com piso cimentado de má execução por
sobre o adobe; paredes, também em adobe e com lacunas e perda de revestimento (f54); um grande tronco central com base
em cantaria (f55); pé direito alto, sem forro e com o barroteamento e o tabuado em madeira aparentes (f56).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 259


detalhamento do estado de conservação

Há poucos vestígios de infiltração, como na parede e forro de um dos quartos (f57) em que o sistema construtivo está à vista,
notando-se manchas de umidade descendentes, podendo ser também um dos motivos da deterioração e lacunas existentes.
Da copa, vê-se uma parede parcialmente em ruínas, mostrando seu sistema construtivo original (taipa de mão) com trama em
madeira preenchida por barro cru, notando-se lacunas no preenchimento, ficando à vista a trama de madeira (f58). Esta parede
é geminada com um dos banheiros (f59), provável motivo da deterioração que deve ter ocorrido ou por alguma infiltração ou
apenas pela incompatibilidade de materiais usados, como a argamassa de cimento para colocação dos azulejos, que,
possivelmente, impediu a parede original de “respirar”.
O telhado está em bom estado de conservação. Observa-se, acima do forro, um engradamento perfeito apesar de todos esses
anos. Não há as tradicionais tesouras de telhado, mas um esquema construtivo diferente (f60 à f61) sem a linha usual.
Nos cantos dos beirais são visíveis alguns danos, também por umidade descendente passíveis de recuperação (f62), assim
como na fachada lateral direita, onde se notam dois pontos com crostas negras, devido à degradação biológica.
A capela – que possui a porta principal em madeira com arco abatido; duas janelas superiores estreitas, também em madeira
com arco pleno; um frontão triangular parcialmente escalonado com um sino em um vão aberto – apresenta a pintura
queimada pelo tempo, além de sujidades e manchas de degradação biológica (vide f07).

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representação gráfica

FAZENDA PONTE ALTA

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representação gráfica

FAZENDA PONTE ALTA

262 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


representação gráfica

FAZENDA PONTE ALTA

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 263


histórico

A Fazenda Ponte Alta surgiu à margem do Rio Carangola, ainda na década de 1830. Pouco antes do início do
“desbravamento” dos municípios da região, em 1831.
A primeira casa-sede da Fazenda Ponte Alta tinha apenas quatro janelas na fachada frontal, entremeadas por pilares de
madeira, que iam do solo à cobertura e o primeiro pavimento, sob “pilotis”, de peças de braúna da região, existentes até hoje.
Não era, portanto, todo vedado e era usado para o estoque de café, além da senzala, que, nessa ocasião, era menor (f63).
Posteriormente, esta edificação passou a ser a Casa das Máquinas, que hoje não existe mais.
A segunda casa-sede – originalmente uma fazenda de raiz, na qual seu dono e descendentes moravam enquanto a
propriedade se manteve com a família que a fundou – foi construída no mesmo local, em aproximadamente três quartos da
década de 1830, tendo sido aproveitada parte da estrutura existente da primeira casa-sede e eliminada a casa das máquinas
desse local. Mantém-se preservada até os dias de hoje, com o mesmo acesso pela fachada lateral esquerda (foto s/d). Nessa
ocasião, o primeiro andar foi todo vedado por alvenaria de adobe e já apresentava as características preservadas que vemos
hoje.
A casa-grande tinha uma visão geral da propriedade e a permanência do dono era constante.
Seu primeiro proprietário foi Antônio Porphirio Tinoco, irmão de Francisco Antônio de Sá Tinoco, cunhado de José de Lannes
Dantas Brandão, desbravador do município de Itaperuna.
A fazenda possuía 583 alqueires de terra onde eram cultivados o café, o arroz, o milho, a cana e o feijão. O trabalho nas
lavouras era feito pelos escravos do proprietário.
A fazenda possuía senzala no porão da casa-sede, onde viviam os escravos, e também o tronco, que ainda pode ser visto
hoje, onde eles eram castigados (f55).
Até cerca de três anos atrás, existia na Fazenda Ponte Alta uma palmatória, que foi muito usada naquela época, o quepe do
major Antônio Porfhirio Tinoco, o mapa da planta geral da Fazenda Ponte Alta, datado de 1887, e um livro de registros de
compra e venda de escravos e café. O proprietário atual não tem conhecimento do destino desses bens.
A vida na fazenda era dificultada pela precariedade dos acessos e pela falta de condução. O café era vendido no Rio de
Janeiro e em Campos, sendo transportado por tropas.

Primeira casa da Fazenda Ponte Alta, depois Casa das Máquinas, s/a, s/d, fonte Fazendas Históricas de Itaperuna 63

264 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


histórico

Uma das razões da ausência de escadas em uma das portas do primeiro pavimento da fachada lateral esquerda (f31) era o
embarque da produção de café. Em outra porta alta, nota-se a existência de uma escada construída posteriormente, conforme
podemos notar pelos tijolos maciços usados e o piso dos degraus em cimento (f34 e f35). O piso dista 1,30 m do nível do solo
do acesso à lateral da casa. Esta característica singular está preservada em uma das portas da fazenda até os dias de hoje e
prende-se ao fato dos tropeiros encostarem seus animais junto a essas portas elevadas para serem mais facilmente
carregados.
Há alguns armazéns, originalmente para estoque de café, dentro de núcleos urbanos, com essas mesmas características,
portas grandes e elevadas com relação ao nível do terreno externo e no mesmo nível do piso interno.
Antônio Porphirio foi casado por três vezes e deixou diversos filhos. Com sua morte, os bens foram repartidos entre os
herdeiros, tendo ficado como proprietário da Fazenda Ponte Alta o Sr. José Egídio Tinoco, o Sr “Juca”.
A fazenda passou a ter 100 alqueires. José Egídio Tinoco foi casado com Maria de Oliveira Tinoco, que tinha o apelido de
“sinhazinha”. Nessa época, José Egídio se dedicava também à pecuária, com o gado leiteiro e de corte.
Com o falecimento de José Egídio Tinoco, no dia 18 de outubro de 1958, a fazenda foi dividida entre os herdeiros.
Em 2005, a fazenda tinha 60 alqueires e o seu proprietário era o Sr. Arício Tinoco de Oliveira. A Fazenda Ponte Alta possui a
maioria de suas terras no município de Itaperuna, porém parte está no município de Natividade.
Há três anos, foi vendida, pela primeira vez, a pessoas estranhas à família. O Sr. Edson Vargas, que atualmente é proprietário
da indústria de charque Avahy, usando para tal fim gado comprado fora, posto que o gado existente na fazenda, atualmente, é
leiteiro. Há também a criação de suínos, caprinos e aves. Também é praticada a fruticultura, com muita fartura de mangas e
jabuticabas.
A Fazenda Ponte Alta é um exemplo raro da arquitetura do século XIX, que se mantém íntegra até hoje, apesar de mal
conservada. Os materiais usados na sua construção, essencialmente da região, representam o sucesso da arquitetura voltada
às necessidades do homem do campo, que preservava o conforto térmico através de suas grossas paredes em adobe, no
primeiro pavimento, e do sistema construtivo conhecido por “gaiolas”, no segundo pavimento, através do seu alto pé-direito e
cobertura em telhas cerâmicas, feitas artesanalmente pelos escravos. Além disso, produzia sua própria energia para
subsistência, conseguindo harmonizar suas necessidades com a natureza, totalmente integrada à casa-sede.

Segunda casa da Fazenda Ponte Alta, s/a, s/d, fonte Fazendas históricas de Itaperuna

Fontes:
GUIMARÃES, Porphirio. Terra da Promissão
JORGE, Chequer. Fazendas históricas de Itaperuna. Itaperuna: Damadá Artes Gráficas e Editora Ltda.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 265


denominação códice
Fazenda Prosperidade AVII-F08-Mir

localização
Paraíso do Tobias – 2º distrito

município
Miracema

época de construção
25/03/1875

estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha

uso atual / original


criação pecuária / fazenda de café

proteção existente / proposta


nenhuma

proprietário
particular

Fazenda Prosperidade, fachada principal


Coordenador / data Marcelo Salim de Martino – jun/jul 2009 revisão
equipe Vitor Caveari Lage, Jean Rabelo Ferreira, Lia Márcia de Paula Bruno Coordenação técnica
e Vera do projeto
histórico Lúcia Mota Gonçalves
Marcelo Salim de Martino

266 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


situação e ambiência

A Fazenda Prosperidade está situada em Paraíso do Tobias, 2º distrito de Miracema, cujo acesso é feito a partir da RJ-200,
que tem início num trevo localizado na RJ-116, próximo à Usina Santa Rosa. Atravessando a ponte situada logo na entrada do
distrito, tem-se acesso a poucos metros, pelo lado esquerdo, à RJ-186 (estrada sem pavimentação), que liga Paraíso do
Tobias ao município de São José de Ubá. A 6 km da sede distrital, está localizada a Fazenda Prosperidade. Na RJ-186,
existem diversas propriedades rurais, destacando-se as fazendas Santa Inês, Mantinéa, Maravilha, Pirineus e União.
A certa altura da estrada, já próxima à Fazenda Prosperidade, avista-se a pedra “Olho da Baleia” (f01), localizada na Fazenda
Pirineus. Do lado esquerdo da mesma estrada, pode ser vista também uma cachoeira (f02), que pertence ao Sítio Santa
Verônica, de propriedade do Sr. Renato Gripa. Ambas são importantes atrativos naturais, que muito valorizam aquela região,
que possui forte apelo turístico.

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 267


descrição arquitetônica

Segundo informações prestadas por seu atual proprietário, Plínio Bastos de Barros Neto, a casa-sede (f03) foi edificada
conforme os modelos tradicionais implantados na região de São José das Três Ilhas, atualmente distrito de Belmiro Braga
(MG), próxima ao Vale do Paraíba, berço de sua família.
Na década de 60 do século XX, foi realizada uma reforma que descaracterizou a construção, substituindo-lhe ou retirando
elementos decorativos, como as sobrevergas de estuque das janelas (f04), os cunhais que colocaram à mostra os esteios de
madeira (f05), o telhado de quatro águas (f06), o acabamento da alvenaria, das portas e janelas, originalmente nas cores
branco e verde colonial, respectivamente, e os basculantes de estrutura de ferro, instalados nos banheiros, solução muito
difundida na região a partir da década de 1950.
Nas fachadas, todos os vãos de janelas e portas são em verga reta, vedada por esquadrias de folhas cegas enrelhadas com
ombreiras aparentes (f07).
O telhado em quatro águas é coberto com telhas do tipo capa e canal, com requintado beiral forrado em madeira do tipo saia e
camisa (f08). Arrematando a cobertura, duas peanhas de cerâmica vitrificada (f09).
Interiormente, a casa-sede está passando por uma grande reforma. Foi possível verificar, por ocasião do

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268 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

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descrição arquitetônica

levantamento de campo, que algumas das paredes internas são de pau-a-pique (f10) e as externas de alvenaria de tijolos
maciços. Todo o forro foi retirado e o piso em madeira recuperado à feição original (f11). Só um cômodo mantém forração
original em taquara (f12), prática tradicional da arquitetura rural nos ambientes mais simples, também encontrada na Fazenda
Liberdade, cuja propriedade pertenceu à mesma família Barros.
A casa-sede, que possui planta retangular, tem fachada principal térrea (ver f03) e fachada de fundos edificada sobre porão
alto e habitável (f13), aproveitando a declividade do terreno.
Foi removido, também, um alpendre, construído posteriormente, existente na porta da antiga cozinha, onde

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270 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

outrora, a proprietária preparava compotas de doces num amplo fogão a lenha. O local servia também de escola. Hoje, em seu
lugar há um extenso gramado, arrematado por uma mureta de alvenaria de cimento, que coroa o muro de pedra seca que se
volta para a fachada lateral esquerda da casa-sede (f14).
Na fachada lateral direita, encontra-se gravado em relevo a data da construção (ou do seu término) da casa sede: 25/03/1875
(f15).
A fachada dos fundos possui duas portas que dão acesso ao porão, o que também pode ser feito através das fachadas laterais
(f16). Em seu interior, foi constatada a existência de um antigo forno a lenha (f17). Um novo acesso para o interior da casa-
sede está sendo construído. Todo o madeirame desta parte da construção está sendo tratado e as peças irrecuperáveis estão
sendo substituídas (f18).
Esta parte da casa-sede (fachada dos fundos) é protegida por um extenso muro de arrimo em pedra (ver

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 271


descrição arquitetônica

f13), por onde, através de um túnel subterrâneo, corre a água que vem do outro lado da propriedade e que desemboca na
cachoeira situada um pouco mais à frente (f19) e que forma um lindo lago, em parte submerso pela vegetação nativa (f20).
Próximo à fachada lateral direita, se tem acesso a uma escada de pedra-seca (f21), que leva, acima, ao terreiro de café (f22) e,
para baixo, a uma cachoeira e aos antigos tanques utilizados para a lavagem do café (f23), que dão mais beleza ao local, que
possui clima agradabilíssimo e vegetação remanescente de mata atlântica (f24).
Grande parte do material – peças de madeira, tijolos e telhas – que está sendo utilizado na obra, foi adquirido

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272 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

em demolições pelo atual proprietário.


O antigo terreiro de café (ver f22), muito extenso, fica localizado defronte à fachada frontal da casa-sede.
Em seu entorno, estão localizados um moinho de fubá (f25), uma máquina de beneficiar café, secadeira e despolpador de
grãos conjugados (f26), além de paiol de madeira utilizado para guardar milho, café e cereais
de uso da fazenda (f27).
Por trás do moinho, localizava-se o antigo pomar, onde podemos encontrar algumas jabuticabeiras, além de pés

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descrição arquitetônica

de café que ainda frutificam (f28).


O paiol, construído em madeira, é muito interessante e está em perfeito estado de conservação. Possui telhado de quatro
águas coberto com telhas do tipo capa e canal com beiral forrado e decorado com mãos francesas simples (f29). Esta
construção lembra muito as edificações encontradas no sul do país.
O galpão possui estrutura de madeira, sendo aberto nas laterais e recoberto de telhas capa e canal. É utilizado para guardar
material de uso da fazenda. Ainda no terreiro, estão localizadas caixas e depósitos d’água (f30), além de uma edícula com
cobertura em duas águas, atualmente utilizada como depósito de materiais e peças de antigas máquinas da fazenda (f31).
O armazém e a casa do colono (f32) ficam localizadas num plano mais baixo que aquele onde estão a casasede, o terreiro, o
moinho e o paiol. Esta é a primeira construção com a qual nos deparamos quando entramos na estrada da fazenda (f33).
Possui cobertura de duas águas, um grande salão onde ficava instalado o armazém (f34), três quartos (f35), cozinha (f36),
banheiros e área externa sendo atualmente utilizada como residência enquanto a obra da casa-sede não é concluída. Destaca-
se o beiral forrado de taquara, que confere peculiaridade à construção (f37).
Em seu interior, encontram-se preciosidades como móveis e objetos de uso pessoal dos proprietários, a exemplo

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274 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 275


descrição arquitetônica

de um lindo jogo de toalete composto de jarro, bacia, porta-escovas, saboneteira e urinol com tampa em louça inglesa do início
do século XX (f38).
A tulha é uma construção que fica localizada na área mais baixa da fazenda, na parte dos fundos da casa-sede.
Possui telhado em quatro águas, coberto com telhas do tipo capa e canal, e beiral forrado com trançado de taquara. Esta
edificação constitui um único cômodo que atualmente é utilizado para guarda de material (f39).
Na chegada da estrada que dá acesso ao platô onde estão localizadas a casa-sede, o terreiro de café, o paiol, o moinho e uma
extensa área gramada, encontram-se as ruínas de uma antiga construção, provavelmente o alicerce da nova casa-sede,
inacabada e abandonada, como na vizinha Fazenda Santa Inês, em decorrência da abolição da escravatura (f40). Trata-se de
uma edificação em pedra com arcos plenos e óculos de tijolos
maciços, que, atualmente, é o mais importante atrativo arquitetônico do conjunto formado pela Fazenda Prosperidade (f41).

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276 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


detalhamento do estado de conservação

A casa-sede está passando por uma grande obra de reforma, com adaptações compatíveis às necessidades atuais dos
proprietários, buscando a reconstituição parcial de como teria sido na época de sua construção (f42 e f43). Novas escadarias
de acesso estão sendo construídas nas fachadas principal, lateral direita, lateral esquerda e de fundos (f44). A divisão interna
ainda não está muito definida, pois muitas paredes estão sendo remanejadas e outras construídas.
Externamente, ombreiras, peitoris e portais de janelas e portas foram recuperados e/ou substituídos. Novas portas e janelas
estão sendo confeccionadas para substituírem aquelas que se encontram deterioradas ou atingidas por xilófagos do tipo cupins
de solo.
Peças do assoalho do tipo “paralelo” também estão sendo repostas (f45), e está sendo realizada uma reforma geral das
instalações elétricas e hidráulicas.
O antigo terreiro de café, que se tornou um grande depósito de material de construção a céu aberto, necessita de recuperação
em algumas partes (f46).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 277


detalhamento do estado de conservação

O moinho também está em boas condições de conservação, necessitando, porém, de pequenos reparos (f47).
O paiol, que aparenta estar em perfeito estado, merece atenção especial por ser uma edificação de madeira, fato este que
pode atrair insetos do tipo xilófago e comprometer toda sua estrutura rapidamente (f48).
O armazém / casa do colono foi recuperado recentemente, para funcionar provisoriamente como residência, até que as obras
da casa-sede estejam totalmente concluídas (f49). Toda sua forração e assoalho foram recuperados nos padrões originais,
bem como refeitas as instalações elétricas e hidráulicas (f50 e f51).
A tulha, da mesma forma que o armazém e a casa do colono, foi reformada. A alvenaria foi pintada de branco, o madeirame da
estrutura e as ombreiras, peitoris e portais das janelas e portas em azul colonial e as portas e janelas em ocre. O interior não
apresenta revestimento no piso, permanecendo o chão em terra batida (f52 e
f53).

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278 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


detalhamento do estado de conservação

As ruínas necessitam de algumas intervenções, a fim de que sejam consolidadas para que sobrevivam por tempo maior (f54).
Partes das paredes de pedra foram desfeitas e, algumas árvores (paineiras) que nasceram em seu interior podem estar
comprometendo sua integridade e estabilidade (f55). Segundo o proprietário, esta será a próxima etapa das obras de
recuperação a serem realizadas, tão logo terminem as obras da casa-sede. Alguns preenchimentos foram feitos no passado
com tijolos maciços (f56). A área interna é forrada por um gramado que valoriza o espaço (f57).
É importante destacar que toda a reconstituição está sendo executada pelo mestre miracemense, Sr. José Geraldo de Souza
Ribeiro, morador de Paraíso do Tobias, segundo distrito de Miracema, onde é conhecido por todos como “Zé do Rádio”.

52 53

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 279


representação gráfica

FAZENDA PROSPERIDADE

280 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


representação gráfica

FAZENDA PROSPERIDADE

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 281


representação gráfica

FAZENDA PROSPERIDADE

282 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


histórico

Segundo Roberto Simonsen, em sua obra Aspectos da história econômica do café, a grande expansão cafeeira se firmou
definitivamente no Brasil, quando atingiu, no território fluminense, as zonas “dos desertos das montanhas, vastos tratos de
terra cobertos de matas e habitados pelos índios Puris, Sucurus e Coroados, daí repelidos ou exterminados pelos cafeicultores.
Com o entusiasmo decorrente do rápido enriquecimento de muitos dos agricultores de café, novas e grandes plantações se
fizeram, espraiando-se celeremente pela província. Abandonavam-se as fazendas de antigas culturas e as terras já lavradas,
dando-se preferências às zonas florestais, que a prática ia indicando como as mais produtivas.”
Ainda segundo o autor, o Vale do Paraíba foi a região do estado em que se verificaram os melhores resultados e “daí a
extensão da cultura pelas suas margens, galgando as numerosas serras que o circundam e os seus vários afluentes. Pela
margem esquerda do grande rio, as plantações invadiram a zona da Mata, em Minas Gerais, atingindo para logo as antigas
regiões já transitadas pelos primitivos mineradores, onde se localizavam núcleos de populações, vilas e aldeias fundados ou
mantidos pelos seus descendentes.”
Foi por esse motivo, pela proximidade com o estado de Minas Gerais e pela quantidade de terras férteis e devolutas, habitadas
pelos Puris, que fizeram com que Miracema, primitiva Santo Antônio dos Brotos, fosse fundada entre 1840 e 1842, formando
grandes fazendas produtoras de café.
A Fazenda Prosperidade foi fundada, em 1875, pelo coronel Apolinário de Barros, recebida por doação de seu pai, Francisco
Bernardino de Barros, que a desmembrou da Fazenda Santa Inês, como escreveu Heitor de Bustamante em sua obra Sertões
dos Puris, página 60:
“Há cerca de um século, o mineiro José Ferreira Brandão comprou pela importante quantia de sete contos de réis uma sorte de
terras que, começando na Fazenda das ”Três Quedas do Bonito”, naquela época de Sebastião Gomes Teixeira Jales, ia
terminar na divisa de outra freguesia, no lugar que depois se chamou São Felipe, compreendendo todo o vale superior ao
Ribeirão Bonito.
“Mais tarde cedeu aos três sobrinhos as glebas em que eles formaram as fazendas: São Luis, de Custódio Bernardino de
Barros, hoje correspondente às fazendas de propriedade de Joel Azevedo, de Maria Niméa Salvador Bravo e filho e de Norton
e Ângela Amim Lopes; Paraíso, de Plácido Antônio de Barros, onde atualmente acha-se implantada a sede do distrito de
Paraíso do Tobias e de muitos sítios; e Santa Inês, de Francisco Bernardino de Barros, que a desmembrou em diversas áreas,
por doações que fez aos filhos que formaram outras fazendas, a saber: Antônio Apolinário de Magalhães Barros, a da
Prosperidade e José Joaquim de Magalhães Barros, a de Santa Verônica; os genros Afonso Ernesto de Barros a de Boa Vista
ou Califórnia, que mais tarde recebeu o nome de Pirineus, Ildefonso Monteiro de Barros a da Mantinéia; Dr. Anastácio
Rodrigues Coimbra, a da Mata; José Anastácio Coimbra a de São Thiago; José de Assis Alves, a da União; Antônio Miguel
Coimbra, a de Santa Ana e Francisco de Assis Alves, a de São Felipe. E, por último, a Santa Inês, de Francisco Bernardino de
Barros, que depois foi passada para o seu sobrinho Antônio Bernardino Monteiro de Barros. Em seguida, pertenceu ao capitão
José de Assis Alves, que, em 1892, teve uma execução por dívida hipotecária, promovida pelo Banco do Brasil, da qual
resultou a penhora da Fazenda Santa Inês, com todas as suas benfeitorias, o que a levou à primeira praça, em 19 de
novembro do mesmo ano, pela avaliação de 124:336$000. Foi adquirido por Joaquim Rodrigues Leite, que parece tê-la
arrematado em praça pública e transferido a José Ventura Lopes, pai do capitão Antônio Ventura Coimbra Lopes.”
Ainda no final do século XIX, a Fazenda Prosperidade foi adquirida pelo coronel Joaquim Bernardino de Barros, mais
conhecido por “Quinca Josino” (f58), filho do coronel Josino Antonio de Barros, proprietário da Fazenda Liberdade.

Família do coronel Joaquim Bernardino de Barros, 58


s.d, s.a., acervo do proprietário

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 283


histórico

Conforme depoimento do proprietário, Sr. Plínio Bastos de Barros Neto, “... os Barros de Miracema (RJ) descendem de José de
Barros Monteiro, que com apenas 13 anos de idade chegou ao Brasil, vindo de Portugal em meados do século XVIII.
Desembarcou no cais dos Mineiros, trabalhou inicialmente para um negociante da Praça do Peixe, mas logo seguiu para o
interior de Minas Gerais, acompanhando o capataz de uma tropa de fazenda da tradicional família Leite, fazenda na qual se
fixou e mais tarde se casou com Mariana Leite de Barros, filha de seu proprietário. O casal se estabeleceu então com uma
fazenda de criação denominada “Fazenda Safira”, no rio Turvo, não longe da atual cidade de Andrelândia (MG), e se destinava
a abastecer os centros populacionais da zona de mineração aurífera.”
O filho do casal, Antônio Bernardino de Barros, no final do século XVIII e início do século XIX, com o declínio da exploração do
ouro e o surgimento das lavouras cafeeiras, comprou as duas “sesmarias das Três Ilhas” do guarda-mor João Francisco de
Souza, colocou seu irmão Gabriel José de Barros na dos fundos, à qual deu o nome de São Miguel, estabelecendo-se na
“Fazenda das Três Ilhas”, dedicando-se às lavouras de cana-deaçúcar e café.
Antônio Bernardino de Barros teve os seguintes filhos varões: Francisco Bernardino de Barros, José Bernardino de Barros,
Gabriel Antônio de Barros, Plácido Antônio de Barros, Custódio Bernardino de Barros e Josino Antônio de Barros. Gabriel José
de Barros teve os seguintes filhos varões: José de Barros Monteiro, José Chrysóstomo de Barros, Idelfonso Monteiro de
Barros, Antônio Gabriel Monteiro de Barros e Francisco Justino de Barros.
Os filhos e netos das famílias formadas pelos irmãos Antônio e Gabriel, tendiam a não se casar com forasteiros, casando-se
preferencialmente os primos com suas primas, segundo os costumes das tribos de Israel, dos quais seguiam certos preceitos.
Com isso, quase todos em São José do Rio Preto, em meados do século XIX, tratavam-se por primos. Como na velha Sião,
assim afirmava sempre, à época, Francisco Bernardino de Barros.
Foi Antônio Bernardino de Barros, o fundador, em suas terras, da antiga freguesia de São José do Rio Preto (MG), hoje São
José das Três Ilhas, distrito do município de Belmiro Braga (MG). Seus filhos também se estabeleceram na região com grandes
fazendas de café, entretanto, em meados do século XIX, três deles, do primeiro casamento com Fausta Ribeiro Moura de
Barros, seguiram para uma sesmaria herdada do pai no noroeste fluminense, localizada mais precisamente na região na qual
hoje se localiza “Paraíso do Tobias”, distrito do município de Miracema (RJ), onde Francisco Bernardino de Barros, casado com
Ana Josefa de Magalhães Barros, fundou a Fazenda Santa Inês, Custódio Bernardino de Barros, casado com Rita Alvim de
Barros, fundou a Fazenda São Luiz e Plácido Antônio de Barros, casado com Maria Cândida de Barros, fundou a Fazenda
Paraíso, cujo nome, associado ao de seu genro Tobias Joaquim Rodrigues, casado com sua única filha, Maria Joana de Barros
Rodrigues, dá o nome ao distrito acima mencionado, Paraíso do Tobias. Permaneceram, entretanto, na região das Três Ilhas,
com suas grandes fazendas de café, seus filhos José Bernardino de Barros, “barão das Três Ilhas” e Gabriel Antônio de Barros
“barão de São José Del Rey”, que cuidaram, principalmente o segundo, da educação do irmão mais novo, Josino Antônio de
Barros, filho do casamento do pai em segundas núpcias com Silvana do Vale Barros.
Tendo Josino Antônio de Barros (f59), por orientação e com o acompanhamento de seus dois irmãos mais velhos, completado
seus estudos no Colégio do Caraça (MG), veio este visitar seus outros três irmãos estabelecidos em Miracema, onde acabou
por se casar com Amélia Padilha de Barros e fundou a famosa Fazenda Liberdade.
A Fazenda Prosperidade, como as demais da região, produzia café. Nessa época, chegou a contar com 90 famílias de
meeiros.

Josino Antônio de Barros, s.d, 59


s.a., acervo do proprietário

284 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


histórico

Foi uma das poucas a produzir o café e despolpá-lo na própria fazenda, que se constituía numa inovação para a época. Para
isso, contava com o acompanhamento e assistência do Instituto Brasileiro de Café – IBC, que disponibilizou uma equipe de
engenheiros agrônomos que chegaram a residir na fazenda.
Com o fim do ciclo do café, a fazenda dedicou-se à produção de arroz, milho e feijão, assim como leite e gado de corte, e isto
já na época de Plínio Bastos de Barros, que, além de fazendeiro, foi também político, chegando a ser eleito prefeito de
Miracema no período de 31/01/1951 a 30/01/1955, onde construiu, dentre outras obras importantes, o Estádio Municipal, que
posteriormente recebeu o seu nome.
Segundo o testemunho do Sr. Mário Baiano, nascido há setenta e nove anos na fazenda, onde ainda reside, o Sr. Plínio, na
época em que foi prefeito, saía da fazenda para Miracema às seis horas da manhã e só retornava por volta das 23 horas.
Contou-nos que houve, em 1951, uma grande festa em honra de São José, numa parte da fazenda conhecida por Ventania,
para comemorar a posse do patrão eleito prefeito do município. Disse que, até a década de 1960 a fazenda possuía 82 casas,
campo de futebol, venda que abastecia toda a região, escola que funcionava numa barraca coberta de telhas, junto a uma das
portas de acesso à casa-sede e Folia de Reis, do Antônio Augusto.
Atualmente, as principais atividades econômicas da fazenda são: a criação de gado Gir Leiteiro, PO, Girolando, produção de
leite e cana-de-açúcar, destinada à ração para o gado.
Das fazendas fundadas pela tradicional Família Barros em Miracema, restam apenas duas: a Liberdade, de propriedade de
Paulo Lima Barros, e a Prosperidade, de Plínio Bastos de Barros Neto, que pertence à quinta geração da família.

Fontes:
BUSTAMANTE, Heitor. Sertões dos Puris, Casa do Homem de Amanhã, 1971.
SIMONSEN, Roberto. Aspectos da história econômica do café, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, publicação do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro,
1942.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 285


denominação códice
Fazenda Santa Cruz AVII-F07-Mir

localização
Estrada do Barreiro, s/nº

município
Miracema

época de construção
século XIX

estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha

uso atual / original


pecuária leiteira / fazenda de café

proteção existente / proposta


nenhuma

proprietário
particular

Fazenda Santa Cruz, fachada principal


oordenador / data Marcelo Salim de Martino / mar-abr 2009
equipe Vitor Caveari Lage (levantamento de campo / digitação), Jean Rabelo
revisão
Ferreira (Auto Cad), Lia Márcia de Paula Bruno, Pedro Paulo Barros,
Coordenação técnica
Vera Lúcia Mota Gonçalves
do projeto
histórico Marcelo Salim de Martino

286 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


situação e ambiência

imagens geradas pelo Google Pro 2009

Esclarecimento: em razão da localização da fazenda apresentar-se encoberta, foi gerada somente a imagem geral da região
(situação).
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 287
situação e ambiência

A Fazenda Santa Cruz está localizada na Serra da Ventania (f01). O acesso pode ser feito através de três entradas que partem
da RJ-116. O primeiro está situado próximo ao Mulambo’s Bar, o segundo no km 8, próximo à Fazenda Cachoeira e o terceiro
próximo à divisa com o município de Laje do Muriaé (entrada para a Fazenda Tirol). Há, ainda, um quarto acesso que parte de
um entroncamento com a RJ-200, que liga Miracema (RJ) a Palma (MG) – entrada para a Fazenda Boa Vista.
O conjunto, constituído de casa-sede (f02), antiga venda e casa de colono (f03), senzala e tulha (f04), terreiro de café (f05) e
curral (f06), está localizado num platô encravado no meio de um vale.

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288 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


situação e ambiência

Às margens da estrada que leva à casa-sede, está localizado um grande açude (f07), que abastece a fazenda e que, outrora,
movimentava a roda d’água, ainda existente, através de uma banqueta de alvenaria (f08 e f09).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 289


descrição arquitetônica

A casa-sede da Fazenda Santa Cruz, construída na segunda metade do século XIX, de planta retangular, mantém em sua
fachada principal um alpendre, através do qual chega-se à porta de entrada (f10).
O alpendre, um dos elementos que caracteriza o estilo romântico da edificação, é formado por três arcos plenos vedados
acima das vergas por treliças em madeira. O beiral encachorrado é forrado com madeira e embeleza muito a edificação (f11),
que possui ainda, jardim protegido por muro de alvenaria, cujo acesso é feito através de um pequeno portão de ferro forjado
(f12).
O telhado, com quatro águas e de interessante resolução arquitetônica em estilo chalé, foi refeito recentemente. As telhas
originais que deveriam ser do modelo capa e canal foram substituídas por telhas de cerâmica do tipo paulista (f13).

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290 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

As janelas da fachada principal e das laterais possuem vergas e sobrevergas retas, sendo vedadas por esquadrias de duas
folhas de venezianas de madeira (f14). Internamente, deveriam manter esquadrias de duas folhas lisas ou em caixilhos de
vidro, provavelmente, retiradas em alguma das reformas executadas pelos proprietários. As portas internas, em duas folhas,
são almofadadas com bandeiras de vidro (f15).
As três salas e os três quartos possuem um rodapé alto, que funciona também como elemento decorativo e funcional,
protegendo as paredes dos esfregões do passado (f16).
O forro da saleta de entrada é especial dentro da construção. É de madeira, formando raios que se estreitam na parte central e
alargam-se nas extremidades, concentrando-se no ponto focal de luz, que é terminado por uma manga simples em vidro.
Arremata este forro uma cimalha de madeira que circunda toda a sala (f17). Os demais cômodos também são forrados em
madeira, porém, no tradicional forro saia e camisa (f18). O assoalho, também de madeira, é do tipo trespassado (f19).
A cozinha apresenta piso cimentado queimado e o banheiro, piso cerâmico recente (f20 e f21). Na cozinha, há uma pequena
escada em caracol (f22), por onde se acessa o sótão que é habitável e possui assoalho de madeira em quase toda extensão
(f23).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 291


descrição arquitetônica

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292 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

Destacam-se as seis pequenas janelas de venezianas em formato de ogivas (f24) para sua ventilação, a escada de madeira
que complementa a escada em caracol (f25) e o grande trinco de madeira da porta dobrável que fecha o sótão (f26). O porão,
que também é habitável, possui acesso pela fachada lateral esquerda (f27).
O bloco da senzala / tulha é uma construção de planta retangular (f28), separada da casa-sede por uma área de terra sem
pavimentação (f29). O acesso à porta principal é feito por uma pequena escada de pedra. Nessa parte da propriedade,
também há um muro de pedra que faz a contenção do terreno (f30).
Possui telhado de quatro águas, coberto com telhas de cerâmica do tipo capa e canal até o beiral (f31) e suas portas e janelas
são de duas folhas maciças enrelhadas (f32 e f33).
Seu interior possui um cômodo central, circundado por um largo corredor, originalmente protegido com meia parede,
posteriormente complementada com telhas de amianto em toda sua extensão (f34). No porão, deveriam funcionar os moinhos
da fazenda, uma vez que lá estão localizadas partes das engrenagens que movimentavam a roda d’água (f35).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 293
descrição arquitetônica

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294 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

A fachada lateral esquerda da tulha possui uma porta, que dá para o antigo terreiro de café. Segundo informações da família
dos proprietários, no cômodo para o qual a porta se abre, funcionava a primitiva venda da fazenda (ver f31).
O terreiro é todo contornado por mureta abaulada, coberta de massa (f36). A entrada é ladeada por dois blocos de pedra
esculpidos, que dão idéia de terem sido as bases de antigas colunas (f37) e aparentam ser, juntamente com um terceiro bloco
isolado de pedra trabalhada (f38), próximo ao curral, elementos decorativos desta área de secagem de grãos.
Ao lado da casa-sede está localizada uma construção, também de planta retangular, na qual, nas três primeiras portas,
funcionou a segunda venda da fazenda (f39), que preserva seus equipamentos, como o balcão, o baú para depósito de cereais
e a balança de ferro fundido com pratos de cobre, que merece destaque (f40 e f41). Logo em seguida está a casa do colono,
ambas do século XIX.
A balança de pesar gado fica próxima à casa-sede e foi construída sobre um resistente muro de pedra que faz a contenção do
terreno – e que confere mais beleza ao conjunto (f42).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 295
detalhamento do estado de conservação

Aparentemente, o estado de conservação da casa-sede é razoável, mas requer cuidados. Com a substituição da cobertura por
telhas novas, não há sinais de goteiras. Em apenas um dos cômodos foi verificado sinal de infiltração, provocado,
provavelmente, por telhas quebradas (f43). Foi observado, também, o deslocamento do emboço (interna e externamente), em
virtude da umidade em conjunto à aplicação de argamassa de cimento em paredes de pau-a-pique (f44 e f45).
No porão, a situação é um pouco mais grave, uma vez que dois dos esteios que sustentam os baldrames foram removidos, em
virtude de terem apodrecido e, em seu lugar, foram instaladas escoras provisórias de eucalipto.
Além disso, há forte presença de umidade nas paredes, proveniente do terreno (f46 e f47). Foi verificada também a existência
de ataque por xilófagos da espécie cupim de solo, que provocaram a deterioração de parte de alguns barrotes. A infestação é
mais percebida no porão, no sótão e no assoalho. Entretanto, assim mesmo, não se apresenta de forma generalizada.
Na área externa, parte do emboço das fachadas laterais está se desprendendo, proporcionando a exposição das paredes de
pau-a-pique (f48).
No prédio onde funcionaram as antigas senzala e tulha, além da primitiva venda, a situação é um pouco mais grave, pois parte
do madeirame do telhado, porão e assoalho está bastante deteriorada, como resultado da ação de cupins (f49). Contudo, as
cumeeiras, tesouras e terças aparentam estar em bom estado (f50). Foram notadas, também, algumas goteiras provocadas
por telhas quebradas. Portas e janelas encontram-se conservadas.
A venda e a casa de colono estão em bom estado de conservação, tendo sido observada a execução de obra recente de
manutenção do telhado (f51).

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296 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


representação gráfica

FAZENDA SANTA CRUZ

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 297


representação gráfica

FAZENDA SANTA CRUZ

298 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


histórico

Não foi possível identificar quem foram os pioneiros da Fazenda Santa Cruz (f52). Entretanto, sabe-se que, no segundo quartel
do século XIX, foi adquirida pelos irmãos Léon, Louis e Vicente Perissé, acompanhados da irmã caçula Adelaide. A família –
franceses de Lucq-de-Béarn, nos Baixos Pirineus –, segundo Ausônia Perlingeiro Garnero em seu livro A volta do emigrante
italiano muitos anos depois, ainda mantém lá, até hoje, a casa ancestral para hospedar os descendentes dos que imigraram
para o Brasil, quando visitam a Europa.
Adelaide trabalhava para os irmãos e administrava a casa-sede da fazenda. Quando se casou com o português José Alves
Rodrigues, os irmãos deram como dote a Fazenda da Lagoa.

f52: Fazenda Santa Cruz, s.a., s.d., acervo do proprietário

Ainda segundo Ausônia, a casa dos irmãos Perissé ficava numa colina de onde se apreciava as lavouras de café e a estrada
pela qual vinham os visitantes. “Da varanda podia-se ver o pátio, o terreiro, o armazém, a padaria, o moinho e a comprida
senzala. Os músicos da banda que animava a festa, os padeiros e o moleiro tinham o privilégio de morar em pequenas casas
com suas famílias e não na humilhante senzala. Santa Cruz parecia uma pequena aldeia movimentada pelos fregueses, que
vinham comprar na venda ou na farmácia, ou trocar milho por fubá no romântico moinho à margem do riacho.”
Adelaide era avó de Ausônia. Sua mãe, Adelina, lhe contava sobre a Fazenda Santa Cruz, sobretudo, das festas de São João
que lá eram realizadas anualmente. Os dias que antecediam a festa eram de grande movimentação, sobretudo de negros que
limpavam o terreiro para as danças do caxambu – também conhecida por jongo. Essa é uma dança de roda, de origem
africana, em cujo centro há uma pessoa que puxa o canto e comanda a dança e a batida dos atabaques que possuem nomes
específicos como o “tambu” e o “caxambu”, além da “cuíca” que, com seu “roncado”, caracteriza a diferença entre as batidas
utilizadas em cerimônias religiosas, popularmente conhecidas por macumba –, e outros que preparavam a fogueira, montavam
barracas etc. As festas duravam dois ou três dias, porque os convidados vinham de longe e, como a fazenda ficava localizada
numa área de difícil acesso, muito alta, não podiam voltar no mesmo dia para suas casas.
Ausônia, através de sua obra, nos dá uma idéia muito nítida, rica em detalhes, de como eram essas festas: “Nessa ocasião, os
negros recebiam um tratamento melhor: a ração era mais farta. De manhã recebiam o alimento, depois iam para o eito
trabalhar sem parar até a hora do almoço e depois voltavam para o trabalho. Ninguém se interessava em saber se estavam
bem. Os patrões, com a consciência entorpecida pelo egoísmo, acreditavam que preto não adoece nunca, nem tem dor de
dente ou de cabeça. Se não queria trabalhar era preguiça, precisava ser castigado. Essa era a mentalidade normal, mas
existiam patrões cruéis que puniam

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 299


histórico

que ninguém sabia com certeza se eram verdadeiras. Começavam a chegar os convidados, a cavalo, em carro de bois ou
carroças, não tão cômodas como as dos fazendeiros do sul do Estado do Rio, importadas da Europa e utilizadas para
frequentar a corte imperial. Os homens trajavam casaca ou smoking e as senhoras usavam vestidos longos, sobre anquinhas e
diversas saias brancas engomadas; trajes a rigor, adquiridos nas melhores lojas do Rio de Janeiro, trazidas por negociantes.
Mas aquela elegância européia não condizia com o clima tropical nem com os meios de transporte locais, cavalos e carros de
boi. Porque era chique e também para amenizar o calor, as senhoras traziam lindos leques, para usar no intervalo das danças.
Os fazendeiros iam até ao pé da escada receber os convidados e os acompanhavam até dentro da casa, onde as mucamas
atendiam às senhoras que desejavam trocar de roupas e tomar banho. Outros domésticos, todos negros, serviam bebidas e
ajudavam a organizar o banquete. A orquestra tocava valsa, mazurca, polca, marcha, quadrilha marcada num francês com
forte sotaque português: “Allan van tour, changer des dames...” Um pouco à parte, um grupo de homens discutia negócios,
comércio, política... Grupos se formavam junto as barraquinhas, comendo os doces típicos, pé-de-moleque, cocada, feitos
pelas escravas. Depois dos fogos de artifício que as senhoras e os senhores admiravam das varandas, restavam as brasas
das fogueiras, onde assavam batatas doces para serem distribuídas a todos”.
Terminada a festa na manhã do dia seguinte, os que moravam na região iam para suas casas e os mais distantes iam
descansar, para se prepararem para a volta.
Ausônia ainda relata em suas memórias que, quando eclodiu a abolição da escravatura, na Fazenda Santa Cruz os Perissé “...
reuniram os escravos, a banda de música tocou o Hino da Independência e em seguida deram a notícia: “A Princesa Isabel
assinou a lei, declarando livres todos os escravos. Foi abolida a escravidão”. O anúncio foi recebido com euforia, todos
cantavam e dançavam. Ninguém quis dormir na senzala, que era o símbolo do sofrimento e da humilhação: eram livres agora.
Na manhã seguinte, o terreiro estava vazio e nos terrenos próximos e nas colinas havia um movimento desusado, homens e
mulheres com ferramentas nas costas. Eram os negros livres carregando madeira, água para misturar barro, tudo que
encontravam, para construir suas cabanas, suas casas, onde reuniram a família”. Eram comuns também na Santa Cruz, os
encontros de Folias de Reis, onde segundo Amilcar Rodrigues Perlingeiro em Lavradores do Brasil – história do João, todos os
anos havia um desafio entre as folias de Domingos Meira Leão e a do Foguinho, que era bem concorrido, atraindo gente de
todo lado. Mais adiante, antes de falar sobre o evento, fez uma descrição da fazenda: “Quando chegaram a Santa Cruz, já
havia muita gente na fazenda, mas as folias ainda não haviam chegado. Santa Cruz era uma propriedade que tinha muitos
donos, mas todos de uma só família, os Perissés, todos moravam reunidos em casas próximas umas das outras. Além das
casas de morada, havia a casa da venda do seu Manoel Duarte, casado com uma da família, uma casa da máquina de
beneficiamento de café, que era movimentada por uma grande roda hidráulica e casas de empregados. Era um pequeno
arraial.”
Outro registro importante que merece destaque é o fato de terem saído da Fazenda Santa Cruz para colecionadores franceses
e de institutos de pesquisa da Europa exemplares de nossa flora e fauna, que segundo Melchíades Cardoso, em sua lenda
intitulada “De bicudos que não são bicudos se faz a história”, “... exemplares de borboletas e orquídeas que abundavam nestas
paragens, incomparáveis por suas belezas caprichosas, as peles, os bichos embalsamados, os cipós raros, plantas exóticas
etc., tudo foi daqui retirado e enviado para a França, por intermédio de cidadãos franceses aqui residentes todos para aqui
atraídos pela família Perissé, notável gente gaulesa que deixou, além da lembrança e numerosa e querida descendência, os
princípios altos da civilização requintada do inigualável povo francês.”
Dessas coleções de lepidópteros (borboletas) (f53 e f54), três ficaram na Fazenda Santa Cruz, que posteriormente foi vendida
ao Sr. Lourenço Pinto Alves. Na partilha dos bens, os três quadros restantes com as coleções de borboletas da Santa Cruz
foram entregues às suas filhas que os conservam até hoje e que já devem ultrapassar cento e cinqüenta anos.
Depois da família Perissé, a Fazenda Santa Cruz, que possuía 210 alqueires de terras, foi vendida para os senhores Lourenço
Pinto Alves, que ficou com a casa-sede e grande parte das benfeitorias, com uma área de 105 alqueires de terras e ao Sr. Luiz
Mury, também com 105 alqueires de terras.
A Sra. Maria de Lourdes Alves Anníbal, filha do Sr. Lourenço e casada com o professor Darcy Anníbal, informou que ela e
todos os irmãos nasceram na Santa Cruz e que só eram registrados dois ou três meses depois, quando o pai vinha a
Miracema, já que a distância era grande e os únicos meios de transporte eram o cavalo e as carroças, e a estrada, que era de
difícil acesso, fazia com que a viagem levasse cerca de três horas para a ida e mais três horas para a volta. Quando os
negócios tinham que ser resolvidos em São Fidélis – município ao qual Santo Antônio de Pádua esteve ligado até 1883 –, ou
precisavam de documentos arquivados nos cartórios de lá, a viagem era ainda pior e durava dois dias.
Todo o café era transportado em lombo de burros. A tropa era do Sr. Nino Machado, irmão de D. Noêmia, esposa do Sr.
Lourenço. Amílcar R. Perlingeiro fez o seguinte relato em sua obra aqui já mencionada: “... Nino Machado, o tropeiro, dava
pancadas na cangalha, gritando... Depois do café, Nino carregava a tropa com o auxílio do ajudante e

300 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


histórico

de João, colocando dois sacos em cada burro. Terminado o carregamento, seguia a tropa morro abaixo aos gritos do tropeiro.
O café era deixado na máquina de beneficiamento e, depois de preparado, a mesma tropa o levava para o embarque na
estação da estrada de ferro. A viagem da tropa repetia-se durante o ano até terminar o transporte de toda a safra”.

f53: Coleções de lepidópteros (borboletas) da Fazenda f54: Coleções de lepidópteros (borboletas) da Fazenda
Santa Cruz, s.a., s.d., acervo do proprietário. Santa Cruz, s.a., s.d., acervo do proprietário.

José Erasmo Tostes, em seu livro Tipos e fatos inesquecíveis, também registra e descreve o trabalho do tropeiro Nino
Machado: “Chovia torrencialmente na Serra da Ventania, os burros e mulas desciam pela estrada escorregadia. Nino Machado
vinha montado num burro chamado Rosado, comandando os dois lotes de animais carregados de café, que era colocado em
bolsas de couro penduradas nas cangalhas. A madrinha da tropa, a mula Esperança, vinha guiando-a com a batida de doze
cincerros pendurados no pescoço, que no silêncio da serra ouvia-se à grande distância. O café, aqui chegando, era entregue
ao comprador que pagasse melhor preço, ou ia direto para o DNC – Departamento Nacional do Café, onde era ensacado,
pesado e transportado por meio de escadas formando pilhas enormes. No DNC viam-se vários homens trabalhando na
lavagem do café, que corria em calhas feitas no terreiro e a água escoava através de um ralo feito de chapa de ferro. Na
secagem, o café era esparramado no terreirão com grandes rodos de madeira. Após essa preparação, o café ia para a estação
da Leopoldina por meio de carroças e carroções e aí embarcado nos vagões do trem. O café trouxe riqueza para Miracema,
para os fazendeiros e para os comerciantes e fez com que se construísse muitos prédios em nossa cidade. Depois veio a
derrocada, levando vários deles à falência. O presidente Getúlio Vargas mandou que em todos os DNC’s se fizesse a queima
do café e guardas armados tomavam conta para que se cumprisse a ordem dada. Na volta para a Fazenda Santa Cruz, na
Serra da Ventania, a tropa do Nino Machado ia carregada com mercadorias para abastecer a venda: sal grosso,
fumo de rolo, querosene etc.”
Ainda contou-nos o professor Darcy Anníbal e sua esposa, Maria de Lourdes, que seu pai dizia que o porão da casa-sede era
utilizado pelos franceses como adega e que, quando o Sr. Lourenço adquiriu a fazenda, ainda encontrou muitas garrafas de
vinho, móveis, os quadros com as coleções de borboletas, uma tela retratando um senhor, que atribuem ser o pai dos
franceses, antigos proprietários da fazenda, muitos livros, fotografias, papéis antigos e objetos diversos.
Disseram ainda que, no entrocamento das estradas, havia uma pedra com formato estranho, que para alguns parecia uma
cabeça humana e para outros uma cabeça de lagartixa. O fato é que esta pedra, posteriormente removida para o local onde
hoje se encontra, instalada a balança de pesagem de gado bovino, era o tronco da fazenda onde os escravos eram amarrados
e castigados. Que na fazenda havia uma capela dedicada a São Sebastião, posteriormente demolida, e uma grandiosa festa
era realizada, anualmente em sua devoção, com missa, leilão, baile, etc. Uma vez por ano também havia primeira comunhão
dos alunos da escola.
A fazenda possuía uma escola e a professora era D. Maria do Carmo, a irmã mais velha dos “Pinto Alves” que, mais tarde, por
influência da mãe, D. Noêmia Machado Alves, estudou e deu aulas de piano. Anos depois, fundou o Conservatório de Música
que, mesmo após o seu falecimento, continua em atividade em Miracema.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 301


histórico

Consta que, no ribeirão (f55) que banha a propriedade, era retirado ouro com aluvião e jóias chegaram a ser confeccionadas,
algumas das quais ainda permanecem em poder da família. Contou-nos ainda que a estrada que liga a Santa Cruz a Fazenda
Ventania foi feita na enxada, na época em que Altivo Linhares era prefeito de Miracema. Grande parte das terras que
formavam a Santa Cruz ainda permanece em poder da família. O Sr. Carlos Pinto Alves e sua esposa, D. Clarita Mendonça
Alves, adquiriram algumas partes dos demais herdeiros. Atualmente, a fazenda, que produz gado leiteiro, é administrada por
sua filha Alice Maria Mendonça Alves Daher e seu esposo, Dr. Chaquip Daher Júnior

55

Fontes
GARNERO, Ausônia Perlingeiro. A volta do imigrante Italiano muitos anos depois. Niterói - RJ: Imprensa Oficial do Estado do
Rio de Janeiro, 2000.
TOSTES, José Erasmo. Tipos e fatos inesquecíveis. Miracema – RJ: Gráfica Hoffman, 2008.
PERLINGEIRO, Amilcar Rodrigues. Lavradores do Brasil – história do João . Rio de Janeiro: Artenova, 1975.

302 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


denominação códice
Fazenda Santa Inês AVII - F03 - Mir

localização
Km2 da RJ - 186, que liga o distrito de Paraíso do Tobias, em Miracema, ao município de São José de Ubá - RJ

município
Miracema

época de construção
casa-sede (1937/1939) – engenho (1870)

estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha

uso atual / original


pecuária mista / fazenda de café, produção de
álcool, cachaça,açúcar, algodão e arroz

proteção existente / proposta


nenhuma

proprietário
particular

Fazenda Santa Inês, fachada principal do antigo engenho.

rdenador / data Marcelo Salim de Martino – mar/abr 2009 revisão


equipe Vitor Caveari Lage e Jean Rabelo Ferreira Coordenação técnica
do projeto
histórico Marcelo Salim de Martino, Roberto Monteiro Ribeiro Coimbra Lopes

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 303


situação e ambiência

Na RJ-116, que liga Itaboraí a Itaperuna, passando por Miracema, está localizado o trevo pelo qual se acessa a RJ-200, que
liga a sede do município de Miracema a Paraíso do Tobias, seu 2º distrito. Atravessando a ponte situada logo na entrada do
distrito, chega-se, poucos metros depois, pelo lado esquerdo, a uma estrada sem pavimentação, a RJ-186 (f01), que liga
Paraíso do Tobias ao município de São José de Ubá-RJ. Por essa estrada, a cerca de 2km da sede distrital, está localizada a
Fazenda Santa Inês.
As margens da RJ-186, encontra-se o Ribeirão do Bonito, que nasce na Fazenda Maravilha, passa por Paraíso do Tobias e
desemboca no Rio Pomba, no município de Santo Antônio de Pádua. O núcleo principal da fazenda,composto pela sede (f02),
engenho (f03), serraria (f04), curral (f05), tulha (f06), casas de colonos (f07) e capela/ santuário (f08), localiza-se no local
banhado por um riacho tributário do Ribeirão Bonito, que tem, próxima, uma queda d’água (f09).

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situação e ambiência

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 305


situação e ambiência

Numa elevação do lado direito está situada a sede da fazenda, implantada sobre um platô que é alcançado por uma escadaria
frontal dividida em dois lances, que tem início, à margem da estrada, num caminho recoberto por grama, que termina na
garagem (f10). Na parte da frente do platô e na lateral direita, pode-se ver uma grande murada de pedra recoberta de cimento,
que faz a contenção do terreno. Nos fundos da casa está localizado o santuário dedicado a Nossa Senhora Mãe do Imediato
Consolo (f11), que possui capela, gruta, secretaria e banheiros. Nessa parte também se encontra o pomar (f12) e, por trás do
conjunto, avistam-se os remanescentes da mata primitiva (f13).
De frente para a estrada, localiza-se a casa do administrador (antiga casa do colono), construída sobre uma murada de pedra
(f14), remanescente do que seria o embasamento da sede original da fazenda, que teve as obras interrompidas devido a
abolição da escravatura, o que fez com que seu proprietário retornasse à sua antiga Fazenda Três Ilhas, em Minas Gerais.
Do lado esquerdo da RJ-186, localizam-se a parte central e mais antiga do que restou do engenho da propriedade (f15), além
de currais, tulhas e casas de colonos, que, após a partilha entre os herdeiros, passaram a servir como moradias e edificações
de apoio das propriedades médias, resultantes do desmembramento das terras da tradicional e centenária Fazenda Santa
Inês. Ainda deste lado da estrada, tem-se acesso ao Balneário Ventura Lopes, formado por uma parte de terras da fazenda
que faz divisa com o povoado de Areias (f16). Esta área da fazenda, segundo esclarecimento do proprietário, faz parte de um
novo empreendimento já iniciado que incluiu a construção de 17 piscinas de água natural, sendo que a maior possui 5.000 m2,
utilizando-se da mesma técnica dos antigos tabuleiros de arroz, ou seja, com desníveis de 20 cm de altura. O projeto inclui
ainda bar e restaurante com a intenção de que, futuramente, sejam utilizados para festas, eventos e cerimônias, uma vez que
grande parte das terras e os recursos hídricos da Santa Inês favorecem o desenvolvimento do turismo rural (f17 e f18).

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situação e ambiência

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descrição arquitetônica

A atual sede da Fazenda Santa Inês foi edificada entre 1937 e 1939, seguindo o padrão arquitetônico utilizado nesta época
para construções urbanas, porém, livre das sobreposições de elementos e ornatos decorativos típicos de um já tardio ecletismo
(f19 e f20). Sua planta apresenta um pavimento em “L” invertido e estrutura em alvenaria de tijolos maciços. Possui um único
pavimento sobre porão baixo, onde se distribuem pequenos vãos quadrados para sua ventilação. Uma calçada cimentada
contorna todo o perímetro da construção.
A fachada principal é formada por quatro janelas com requadro de massa, o que faz realçar e valorizar ainda mais as
esquadrias em veneziana com bandeiras de vidro (f21).
A fachada lateral direita é mais extensa. É por ela que é feito o acesso à casa, através de uma pequena escada revestida com
ladrilhos hidráulicos - fabricados no município -, que desemboca numa varanda, cujos únicos elementos decorativos, de forma
peculiar, são as quatro esbeltas colunas que sustentam o telhado que reproduz, em escala menor, a forma de “chalé” do
telhado principal (f22).

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descrição arquitetônica

Para esta varanda abrem-se 3 vãos: uma janela voltada para a sala de estar e 2 portas com folhas almofadadas. Através da
primeira, chega-se ao escritório que possui também comunicação interna com o corpo da casa.
A outra porta dá acesso para a sala de estar da residência (f23). Em toda sua extensão a casa foi revestida em argamassa
desempenada com pintura na cor terracota com relevos e requadros das janelas em marfim,formando bonito contraste com o
verde das árvores frutíferas e frondosas que circundam a casa.
No corpo da residência estão localizadas a sala de visitas, o escritório (f24), a sala de jantar (f25), seis quartos,sendo uma
suíte (f26) e dois banheiros.

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descrição arquitetônica

No apêndice que constitui a outra parte do L, cuja ligação com o corpo da casa se dá através de um grande vão em arco
abatido (f27), estão situadas a copa (f28), a cozinha (f29) e a despensa, revestidas com ladrilhos hidráulicos que compõem
gregas e “cataventos” cor de vinho à motivos florais (f30 a f32). Os vazios e remendos observados no piso hidráulico, indicam
que foram executadas intervenções que suprimiram paredes e/ou muretas desses ambientes. Possui, ainda, a casa uma
varanda aberta, churrasqueira, e um banheiro instalado na parte dos fundos, totalizando 12 cômodos. Essas duas últimas
áreas são recentes e foram construídas para o lazer dos proprietários e de seus convivas (f33 e f34).
Na cobertura foram utilizadas telhas do tipo capa e canal para a área primitiva e francesas para as construções recentes. Todo
o beiral que circunda a construção é forrado com madeira (f35).
Os forros dos principais cômodos possuem aeríferos – sancas – (f36), recurso muito comum adotado em prédios ecléticos para
auxiliar na ventilação dos compartimentos de pé direito muito alto. Além disto, o corpo da casa foi edificado com orientação e
arquitetura adequadas às condições climáticas da região, de modo que, no verão, nas primeiras horas da tarde, o sol não
penetra por nenhuma das janelas e portas da casa.

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descrição arquitetônica

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descrição arquitetônica

A família possui um variado acervo de móveis e alfaias que é utilizado pelos proprietários na decoração da residência,
mesclando um mobiliário que vai do século XIX ao art déco (f37).
O engenho (f38) destaca-se do conjunto das demais edificações como a principal e único prédio remanescente da época em
que a Fazenda Santa Inês foi implantada. Atualmente apresenta planta em forma de “T”, pois o restante da construção – um
prolongamento à esquerda, onde se achava instalada a indústria de açúcar, cachaça, álcool e rapadura – foi demolido há
muitos anos, restando dele, apenas, uma chaminé. No tramo central da construção, um pouco mais avançado, localiza-se a
entrada para o compartimento térreo, que possui vedação por interessante grade vertical e porta de madeira, à moda das
casas bandeiristas (f39).
Chama especial atenção a galeria avançada de arcos ogivais - em número de seis - de seu embasamento (f40), que
juntamente com o tijolo aparente e os lambrequins rendilhados em madeira do beiral (f41), valorizam e diferenciam a edificação
das demais construções rurais do mesmo período localizadas na região.
As fachadas mantém a franca exposição de sua estrutura em madeira, além de tijolos maciços aparentes com juntas pintadas
em tinta branca. No tímpano do frontão destaca-se os vãos de ventilação em arcos de 3 centros com esquadrias de madeira
veneziana. Há 24 vãos de janelas em verga reta com cercaduras em madeira, que são vedados por esquadrias enrelhadas,
pintadas de azul colonial (f42).
Até meados da década de 1970 podia ainda ser visto em seu interior o monumental monjolo. No segundo pavimento ficavam
localizados os batedores e no térreo, os cochos de madeira, fechados. Através de pequenas portinholas retirava-se o café
pilado (f43).

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Descrição arquitetônica

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descrição arquitetônica

Atualmente, o segundo pavimento, tem seu acesso através de uma primitiva escada de madeira e pedra (f44),foi transformado
em residência. Possui seis quartos, dois banheiros, cozinha e amplas salas (f45 a f47). O térreo é utilizado como tulha para a
guarda de material e ferramentas de trabalho.
Nos fundos da edificação há uma pequena passarela, que liga o segundo pavimento ao pasto. No passado havia uma estrada
através da qual chegavam, para depósito, grande parte dos frutos das lavouras da fazenda (f48).

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314 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


detalhamento do estado de conservação

A casa-sede encontra-se muito bem conservada. É visível a preocupação do proprietário em realizar constantes e freqüentes
obras de manutenção, como a substituição de peças de madeira e recomposição de elementos arquitetônicos – ainda que fora
dos padrões originais -, como a instalação de peitoris de ardósia nas janelas (f49). O assoalho das salas e do quarto maior da
residência, são do tipo encabeirado. Já o corredor que liga a sala de visitas à sala de jantar e aos demais cômodos da casa é
do tipo trespassado, encontrando-se, ambos, em perfeito estado de conservação.
As esquadrias externas são pintadas na cor branca e as internas na cor cinza. As bandeiras das portas internas possuem
vidros verdes e brancos e as externas, apenas brancos (f50).Para oferecer maior conforto aos proprietários e seus hóspedes,
foi construído mais um banheiro, formando a suíte do casal e reformado o já existente.
No engenho, o estado geral de conservação da construção é bom. Foram realizadas algumas obras recentes de recuperação
de janelas e esquadrias (f51). No interior, pode-se avistar todo o madeirame do telhado com suas tesouras, terças, cumeeira,
caibros e telhas aparentes (f52 e f53).

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detalhamento do estado de conservação

O assoalho é do tipo pranchão de madeira com junta seca (f54) e na área onde estão localizadas a copa, a cozinha e os
banheiros, o piso é revestido com cerâmica existente no mercado comercial atual(f55).
No entorno da construção há tulhas, currais e outras edificações, com visíveis sinais de abandono, algumas inacabadas (f56).
Ainda nas suas proximidades localiza-se um terreiro de pedra com uma grande cruz no centro, antigamente utilizado para a
secagem de café (f57). Nas tulhas há moinhos para milho e capineiras que abastecem os currais (f58).
Em alguns pontos das fachadas do engenho foram realizados reparos com massa imitando tijolo maciço, empregado na
construção da imponente edificação (f59).
Em todo seu entorno prevalecem os gramados, que vão das margens do Ribeirão do Bonito aos morros, que servem de pasto
para o rebanho.

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detalhamento do estado de conservação

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representação gráfica

FAZENDA SANTA INÊS

318 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


representação gráfica

FAZENDA SANTA INÊS

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 319


representação gráfica

FAZENDA SANTA INÊS

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representação gráfica

FAZENDA SANTA INÊS

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 321


histórico

A Fazenda Santa Inês foi fundada, no terceiro quartel do século XIX, por Francisco Bernardino de Barros, filho de Antônio
Bernardino de Barros, fazendeiro e fundador da antiga Freguesia de São José do Rio Preto, Vila de São José das Três Ilhas,
antigo distrito de Juiz de Fora - MG, atualmente, distrito do município de
Belmiro Braga - MG.
Segundo Heitor de Bustamante, em sua obra Sertões dos Puris, p.60, “Há cerca de um século, o mineiro José Ferreira
Brandão comprou pela importante quantia de sete contos de réis, uma sorte de terras que começando na Fazenda das ‘Três
Quedas do Bonito’, naquela época de Sebastião Gomes Teixeira Jales, ia terminar na divisa de outra freguesia no lugar que
depois se chamou São Felipe, compreendendo todo o vale superior ao Ribeirão Bonito.
Mais tarde cedeu aos três sobrinhos as glebas em que eles formaram as fazendas São Luis, de Custódio Bernardino de
Barros, hoje correspondente às fazendas de propriedade de Joel Azevedo, de Maria Nimé a Salvador Bravo e filho e de Norton
e Ângela Amim Lopes; Paraíso, de Plácido Antônio de Barros, onde atualmente acha-se implantada a sede do distrito de
Paraíso do Tobias e de muitos sítios; e Santa Inês, de Francisco Bernardino de Barros, que a desmembrou em diversas áreas,
fazendo doações aos filhos, que formaram outras fazendas, a saber: Antônio Apolinário de Magalhães Barros, a da
Prosperidade e José Joaquim de Magalhães Barros, a de Santa Verônica, os genros Afonso Ernesto de Barros, a de Boa Vista
ou Califórnia, que mais tarde recebeu o nome de Pirineus; Ildefonso Monteiro de Barros, a da Mantinéia; Dr. Anastácio
Rodrigues Coimbra, a da Mata; José Anastácio Coimbra, a de São Thiago; José de Assis Alves, a da União; Antônio Miguel
Coimbra,a de Santa Ana e Francisco de Assis Alves, a de São Felipe. Por último, a Santa Inês, de Francisco Bernardino de
Barros, que depois foi passada para o seu sobrinho, Antônio Bernardino Monteiro de Barros.
Em seguida, Santa Inês pertenceu ao Capitão José de Assis Alves que, em 1892, teve uma execução por dívida hipotecária
promovida pelo Banco do Brasil, da qual resultou a penhora da fazenda, com todas as suas benfeitorias, que levou-a a primeira
praça em 19 de novembro do mesmo ano, pela avaliação de 124:336$000. Santa Inês, então, foi adquirida por Joaquim
Rodrigues Leite que, parece tê-la arrematado em praça pública e transferido-a a José Ventura Lopes, pai do Capitão Antônio
Ventura Coimbra Lopes.”
A Fazenda Santa Inês foi considerada na época uma das mais importantes da região pela qualidade das terras, localização,
serventia das águas, produção e, sobretudo, pela natureza das obras implantadas e a variedade de equipamentos de que era
dotada, sem falar na escola ali existente, uma das primeiras das cercanias, dirigida pelo professor Carlos Silva, que lhe deu o
nome de Escola Barão de Macaúbas, “na qual trabalhou ainda por algum tempo, tendo no seu mister prestado relevantes
serviços à mocidade daquela zona, numa época penosa em que tudo era difícil”. (Sertões dos Puris p.210).
Conforme informações prestadas pelo Dr. Roberto Monteiro Ribeiro Coimbra Lopes, filho do Capitão Ventura Lopes, um dos
atuais proprietários da Santa Inês, na fazenda primitiva só se comprava sal, querosene e o ferro para ser trabalhado na oficina.
Até as roupas para o trabalho eram produzidas em teares na propriedade.
Segundo o mesmo, manuscritos deixados por seu pai, conterrâneo, primo e sucessor dos descendentes do mesmo na
titularidade da Santa Inês, descobre-se que: ...“Francisco Bernardino de Barros, homem culto e progressista plantou grandes
lavouras de café, milho e cana-de-açúcar, produzindo a lavoura de café cerca de 5.000 sacos de 60Kg. Fundou uma usina de
açúcar e álcool, de acordo com os meios existentes na época, que produzia 4.000 sacos de açúcar e milhares de litros de
álcool. Apesar de não ser escravocrata, Francisco Bernardino não aceitou a libertação dos escravos do modo desastroso pelo
qual foi feito, e por isso abandonou a Fazenda Santa Inês e voltou a sua antiga Fazenda Três Ilhas, no distrito de São José do
Rio Preto.”...
José Ventura Lopes e Maria Leopoldina Coimbra Lopes, pais do Capitão Antônio Ventura Coimbra Lopes, adquiriram a
fazenda pela importância de cinqüenta e três contos e oitocentos e oitenta e sete mil réis, através de Carta de Adjudicação,
extraída a 2 de setembro de 1902 dos Autos de Inventário dos bens que ficaram por falecimento de Emília Bernardino de
Aquino Leite. Possuía a fazenda, nessa época, 120 alqueires geométricos.
Por sua vez, Antônio Ventura Coimbra Lopes tornou-se proprietário da Santa Inês, em parte, por doação de seus pais e por
aquisição feita aos irmãos Francisco Ventura Coimbra Lopes e Ana Ventura Coimbra Lopes.
Mais tarde, Ventura Lopes, além de outras propriedades adjacentes, adquiriu também a Fazenda São Luiz, originária e
primitivamente de propriedade de Custódio Bernardino de Barros, reunindo na Fazenda Santa Inês, uma área anexada de mais
ou menos mil hectares de terras.
A extensão do imóvel, a localização, a fertilidade das terras, a fartura de água, a qualidade e a quantidade das benfeitorias,
fatores estes que, aliados ao espírito de justiça e honestidade, de liderança e de administração de Antonio Ventura Coimbra
Lopes, agricultor vocacionado, fizeram da Santa Inês um notável centro populacional, reunindo cerca de cem famílias,
numerosas na sua grande maioria.
Nessa época, produzia a Fazenda Santa Inês, em grande quantidade, café, cana-de-açúcar, milho, feijão, arroz e, em etapas
sucessivas, passou a produzir também algodão em grande escala, cultura esta, introduzida no norte fluminense por iniciativa
de seu proprietário Antonio Ventura Coimbra Lopes.
O Dr. Roberto Monteiro Ribeiro Coimbra Lopes contou-nos que, na parte de baixo do engenho, mais precisamente nas duas
portas localizadas do lado direito, funcionava a venda existente na fazenda. “Aos sábados o entorno do engenho parecia uma
colcha de retalhos desde as primeiras horas da manhã. Eram as famílias dos empregados

322 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


histórico

que vinham fazer suas compras. Do alto da casa-sede avistávamos o colorido das roupas o que fazia parecer mesmo uma
colcha de retalhos – artesanato muito comum em nossa região – herança cultural vinda das Minas Gerais e ainda presente em
nossa cidade”.
Com o declínio das atividades agrícolas na região, Santa Inês foi uma das poucas fazendas a resistir, pois que, pelo espírito
socialista de Antonio Ventura, foi ela uma das últimas propriedades do município a introduzir em suas terras a pecuária bovina.
Tantas foram as riquezas produzidas pelas terras da Santa Inês nessas primeiras seis décadas do século XX que elas, além
de fazerem a independência econômica do seu proprietário, permitiram que Antonio Ventura Coimbra Lopes pusesse em
prática a vocação natural do seu espírito de solidariedade no campo social e político.
No campo social, destacamos como contribuição o desenvolvimento de atividades econômicas, reservando boa parte de suas
economias a serviço daqueles que precisavam trabalhar e não dispunham de capital para desenvolver suas atividades.
No político, as riquezas produzidas nas terras da Santa Inês, permitiram que Ventura Lopes fizesse vida pública ativa durante
mais de meio século como vereador, Prefeito de Pádua, Presidente do Partido Separatista e primeiro Presidente da Câmara de
Miracema, na qual exerceu mandatos em várias legislaturas. Foi um dos fundadores da UDN (União Democrática Nacional) e
seu presidente até a extinção dos partidos, levado a efeito pelos militares em 1966.
As riquezas geradas pela Santa Inês, permitiram ainda que Ventura Lopes como Prefeito de Santo Antonio de Pádua, no ano
de 1927, renunciasse à percepção dos subsídios e da verba de representação a que fazia jus por força do exercício do cargo.
Dispensou o uso da viatura do Município, utilizando nos serviços da administração pública municipal o seu carro particular,
abastecido com seus próprios recursos.
Da primitiva Fazenda Santa Inês resta hoje apenas a parte central do engenho e a chaminé, construídos por volta de 1870 e
que abrigavam: “Um monjolo, máquina de beneficiamento de café, de arroz e de milho; a indústria de açúcar, cachaça, álcool e
rapadura; a serraria; o torno mecânico; o tear e um dínamo, destinado a gerar energia para o consumo do engenho e da casa-
sede da fazenda, que, na maior parte de tempo, eram movidos por uma grande roda d’água, a qual, acoplada à muitas
engrenagens, fazia funcionar as máquinas com a força das águas que ali chegavam por gravidade, vindas de um açude e
transportadas por meio de uma banqueta. Excepcionalmente, o maquinário era impulsionado a vapor, produzido por uma
imensa caldeira.”
Lá funcionavam também a escola, a venda e o salão de danças que servia aos moradores e seus convidados.
Além destes, os moradores da fazenda dispunham de campo de futebol e raia de malha, realizando ainda festas juninas, boi
pintadinho e mineiro pau, expressões culturais da região.
A Fazenda Santa Inês foi a primeira do município a produzir algodão, dedicando-se também a criação de gado leiteiro. A
fazenda chegou a contar, nessa época, com 120 casas para colonos, que abrigavam uma média de mil pessoas, conforme
notificou o jornal Diário da Manhã, editado em Niterói, em 23/12/1942.
A título de enriquecimento, vale registrar que no final do século XIX, chegou a Miracema o Sr. Adriano do Valle, acusado de ter
atentado contra o Imperador D. Pedro II, na porta do Teatro São Pedro, no Rio de Janeiro, no dia 15 de julho de 1889. Como
agrimensor, foi executar serviços na Fazenda Santa Inês, onde, segundo relatos, afirmou nunca ter tido a intenção de
assassinar o Imperador.
Outro importante acontecimento foi narrado por Luiz Clóvis Moreira Tostes - descendente de Custódio Bernardino de Barros -
ao Dr. Roberto Ventura Lopes, que teve conhecimento através de parentes já idosos, de uma rebelião de escravos na fazenda,
mantendo os proprietários e os membros da família recolhidos no interior da casa-sede, localizada não muito distante da
senzala. Contou ainda, que dois ou três escravos haviam se insurgido contra a rebelião, sendo por isso trucidados pelos
companheiros e que, um dos parentes do fazendeiro, tomando conhecimento do fato, parlamentou com os revoltosos na Santa
Inês, conseguindo por fim a rebelião.
Na administração da fazenda, o filho do casal – Antonio Ventura Coimbra Lopes e Nair Monteiro Ribeiro Lopes – Dr. Roberto
Monteiro Ribeiro Coimbra Lopes, além da reforma da casa-sede, do engenho e da construção de casas para moradia de
colonos e empregados, renovou e construiu cercas internas e de divisa, com lascas de braúna e arame farpado, montou uma
nova serraria, edificou um barracão de onze metros de largura por trinta e cinco metros de comprimento, para depósito, uma
ceva para porcos, construiu um estábulo ocupando novecentos metros quadrados de área, substituiu o antigo transformador de
energia por outro de cem cavalos de força, manteve a máquina de café, montou máquina de arroz, moinho de granjeiro e fubá,
picadeiras e desintegrador de milho, adquiriu um telefone e uma balança para pesagem de gado bovino e construiu estradas,
açudes e várias benfeitorias.
De 31 de março de 1996 aos dias atuais, a Santa Inês tem tido o privilégio de ser palco de aparições ininterruptas, em suas
terras, de Nossa Senhora e do seu filho Jesus, que vem deixando inúmeras mensagens e concedendo graças, muitas delas
reveladas, no local, em depoimentos dos agradecidos.
Segundo o proprietário, o local das aparições, onde foi edificado o santuário, totalmente aberto ao acesso da população, está
situado a pouco mais de cinqüenta metros dos fundos da atual casa-sede e precisamente ao final da antiga casa-sede de pau-
a-pique.
Além do Santuário, foram ainda edificados capela, secretaria administrativa e banheiros. A gruta foi escavada

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 323


histórico

numa rocha ali existente, por indicação de Nossa Senhora.


Atualmente, a Santa Inês está a aguardar a implantação, no país, de uma política agrícola que venha permitir a produção e a
retirada de suas terras férteis, como no passado, dos opulentos e dadivosos frutos, que ajudaram a sustentar e a promover
seus proprietários e moradores, e contribuíram, sobremaneira, para alimentar a população em geral e construir a fartura e a
prosperidade do Município de Miracema, tão intensos no passado (f60 e f61).

Fontes:
BUSTAMANTE, Heitor de. Sertões dos Puris, 1971, Santo Antônio de Pádua - RJ.
LOPES, Roberto Monteiro Ribeiro Coimbra, relato sobre a Fazenda Santa Inês.

Engenho da Fazenda Santa Inês, ainda com a área de produção 60


à esquerda. Foto de Leandro Martins, início de século XX

Fazenda Santa Inês, casa-sede improvisada nas instalações 61


acessórias originais da fazenda, tendo, à esquerda, o embasamento
da futura fazenda, que não foi construída. Foto de Leandro Martins,
início de século XX (acervo da Fazenda Santa Inês)

324 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


denominação códice
Fazenda Serra Nova AVII-F05-Mir

localização
RJ-116 em direção a Itaperuna, a 11km do centro de Miracema

município
Miracema

época de construção
1907

estado de conservação
detalhamento no corpo da ficha

uso atual / original


pecuária de corte e leiteira – silvicultura / fazenda
de café

proteção existente / proposta


nenhuma

proprietário
particular

Fazenda Serra Nova, fachada principal


Coordenador / data Marcelo Salim de Martino – mar/abr 2009 revisão
equipe Vitor Caveari Lage (levantamento de campo / digitação), Coordenação técnica
Jean Rabelo Ferreira (Auto Cad), Vera Lúcia Mota Gonçalves do projeto
histórico Marcelo Salim de Martino

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 325


situação e ambiência

imagens geradas pelo Google Pro 2009

situação

326 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Ambiência

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 327


descrição arquitetônica

A estrada que leva à Fazenda Serra Nova tem início no km 1 da RJ-116, que liga Itaboraí a Itaperuna, distante cerca de 11 km
do centro urbano de Miracema. Através desta rodovia chega-se também às fazendas Fumaça, Itatiaia, Santo André e São
Pedro, além da comunidade do Barreiro e do povoado de Areias. A estrada é por si só um atrativo natural, possuindo uma
queda d’água e trechos com remanescentes de mata secundária (f01, f02 e f03).

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328 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


situação e ambiência

Já no alto da serra, atravessando uma pequena ponte (f04), chega-se ao conjunto de construções da Fazenda Serra Nova,
composto pela casa-sede, antigo terreiro de café, a tulha e o galpão que serve de garagem (f05 a f07). Seguindo a estrada à
direita da casa-sede, que leva à Fazenda Santa Inês, no distrito de Paraíso do Tobias, está localizada a serraria (f08), uma
outra tulha (f09), o curral (f10) e uma casa edificada nos anos 1950/60 (f11), utilizada, atualmente, como casa de colono.

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 329
situação e ambiência

Na frente da casa-sede, há uma antena para telefonia rural, instalada pela extinta Telerj, mas que, segundo informações dos
proprietários, nunca funcionou. Afixada a uma torre, há uma placa com as seguintes coordenadas: Latitude: 21º 21’ 57”;
Longitude: 42º 05’ 38”; altura: 240m (f12).
Entre a casa-sede e a estrada, passa o Ribeirão Serra Nova (f13), que nasce no alto da serra próxima da fazenda e
desemboca no Ribeirão Santo Antônio, que corta toda a cidade de Miracema. Exatamente na altura da casa-sede há uma
pequena queda d’água, (f14) que contribui ainda mais para o aspecto romântico que o sítio possui. Do lado esquerdo da casa-
sede está o pomar formado por jambeiros, jabuticabeiras, goiabeiras e muitas outras árvores frutíferas misturadas a antigos
eucaliptos, que já foram uma das fontes de renda da propriedade (f15).

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330 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

Construção de gosto romântico, assentada sobre porão baixo (f16), com planta em “T” invertido. Encontra-se implantada sobre
um amplo gramado, onde se acham instalados o jardim com flores, como roseiras e camélias, dispostas de ambos os lados do
passeio cimentado que interliga o portão de entrada ao alpendre de acesso a casa (f17). Do lado esquerdo desse passeio há
uma piscina (f18) e o jardim é protegido por um muro de alvenaria encimado por gradil com pontas de lança em ferro, seguindo
o mesmo modelo do gradil localizado no acesso principal da casa-sede. Das duas pinhas vitrificadas sobre os marcos do
portão de entrada só resta uma inteira (f19). Em um dos pilares de alvenaria que delimita o gradil frontal destaca-se uma
estátua de cerâmica, também vitrificada, representando as Artes (f20).
A fachada principal é simétrica formada por uma porta central e oito janelas com cercaduras em madeira e vergas e
sobrevergas retas, guarnecidas com esquadrias enrelhadas externas e de guilhotina com caixilhos de vidro internamente (f21).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 331


descrição arquitetônica

Protegendo a porta de acesso – que possui duas folhas em madeira enrelhada –, há um alpendre sustentado por delgadas
colunetas caneluradas, com guarda-corpo e portão de ferro fundido a meia altura. Este alpendre é encimado por uma pequena
cobertura em duas águas com telhas capa e canal, que determina um frontão triangular em cujo tímpano, de madeira
“rendilhada” acompanhando o trabalho dos lambrequins, há um medalhão com a data da construção – 1907. Adornam as
colunas de ferro que sustentam o alpendre – que possui forro em madeira com junta cega – mãos francesas em ferro forjado
(f22 a f23).
A pavimentação foi feita com ladrilhos hidráulicos. Destacam-se, dos dois lados da escada construída com blocos de pedra
aparelhada, os raspadores de lama, constituídos por lâminas de ferro, instaladas ao lado do último degrau da escada (f24). Na
porta principal, uma aldrava de metal dourado em forma de mão feminina chama atenção (f25).

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332 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

A cobertura da casa-sede é em telhas de barro, do tipo capa e canal, sendo o beiral forrado arrematado por lambrequins de
madeira (f26).
A fachada lateral direita ressalta a tipologia arquitetônica dos chalés românticos, característicos do final do século XIX e início
do XX. Mantém três janelas, sendo que, curiosamente, apenas duas são do tipo guilhotina. A terceira é de folha dupla cega. No
centro do frontão, encontra-se instalado um óculo de madeira rendilhada com as iniciais “OAM” – Oscar Augusto Machado –
proprietário original da fazenda, que construiu a casa-sede (f27 e f28).
A fachada do lado esquerdo sofreu alteração nos vãos, possuindo hoje um basculante de vidro e uma única janela de
guilhotina com folhas de venezianas externas. No centro do frontão há uma pequena porta de venezianas pela qual se acessa
o sótão (f29). Internamente, as janelas apresentam duas folhas cegas (f30), assim como as portas, que possuem maçanetas
de porcelana pintada e bandeiras com vidros marchetados (f31).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 333


descrição arquitetônica

A casa-sede é formada por uma saleta (f32), sala de visitas (f33), sala de jantar (f34), escritório (f35), quatro quartos (f36),
banheiro (f37) e cozinha (f38).

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334 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
descrição arquitetônica

A sala de visitas e os quartos mantêm o piso de assoalho do tipo encabeirado (f39). A saleta, o escritório, a sala de jantar e a
cozinha foram pavimentados com ladrilhos hidráulicos, que formam lindos tapetes pela residência (f40 a f42).
O forro é do tipo saia e camisa. Na sala principal, possui aerífero rebaixado em formato de grega, além de delicadíssimo
trabalho de pintura com motivos florais, ricamente executado em dois frisos, fazendo uma espécie de cercadura interna e
externa à sanca. Do ponto central do forro pende um lustre de bronze e cristal em formato de pera (f43). Diferentemente do
restante dos cômodos de uso comum, esta sala não possui mais as pinturas parietais. A saleta de entrada possui pintura
marmorizada no centro dos medalhões e na barra de roda-meio que circunda toda a parede (f44), além de pinturas do tipo
estêncil formando faixas, que se repetem na parte superior (roda-teto) próxima ao forro (f45).

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 335


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336 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
descrição arquitetônica

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 337


descrição arquitetônica

Acima das portas, há pinturas de vasos com flores do campo (f46). Os demais espaços das paredes foram preenchidos com
quadros emoldurados que reproduzem marinas, castelos, vulcões em erupção, camponesa na estrada, velhas árvores e cenas
de caçadas (f47 a f49).
A sala de jantar foi ricamente decorada com pinturas que representam marinas, animais como o jacu, a anta, o coelho e o joão-
de-barro, o leão, a águia e o veado, a Igreja de N. S. da Penha, no Rio de Janeiro, além de vasos com frutas importadas e
tropicais, tais como o caju, a manga, o cajá-manga, o abacaxi, o mamão, a banana, a pinha, a melancia, o melão, a uva, as
laranjas e as peras. No centro do forro, destaca-se um lustre de bronze com doze braços e pingentes de cristal (f50 e f51).
Entre as pinturas, destaca-se um pé de café com frutos, talvez em alusão à própria fazenda que era uma das que mais
produzia esta espécie de rubiácea no município (f52).
Em todo o interior são vistos mobiliários de época. Alguns adquiridos juntamente com a fazenda, outros, posteriormente, pela
família dos atuais proprietários.

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338 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


descrição arquitetônica

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Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 339


detalhamento do estado de conservação

A casa-sede, de uma maneira geral, está conservada, necessitando, entretanto, de obras de manutenção e de restauração.
Não foram detectadas goteiras, vazamentos, estufamentos, nem a presença de insetos xilófagos, como os cupins de solo.
Existem pequenas rachaduras internas, onde estão as pinturas parietais, provenientes de deslocamentos de parte do reboco,
preenchidos com massa em reformas realizadas ao longo dos anos (f53). As pinturas, em ambas as salas, necessitam passar
por um minucioso trabalho de limpeza, remoção de resíduos, como gordura, fuligens, etc., além de uma restauração pictórica
realizada por especialista (f54).
Pequenos reparos também se fazem necessários nos lambrequins que circundam o telhado, além de pintura geral, sobretudo
nas esquadrias, a fim de continuarem protegidas do sol e das chuvas, que são constantes na região (f55).
Duas antenas, uma para telefonia rural e outra parabólica, interferem negativamente na construção, que já conta 102 anos de
idade.

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340 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


representação gráfica

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 341


representação gráfica

342 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


histórico

Segundo informações do Sr. Luiz Clóvis Lima Tostes, a Fazenda Serra Nova foi fundada pelo Sr. Oscar Augusto Machado nas
terras de propriedade de seu sogro, o capitão Francisco Dias Tostes, pai de Maria de Barros Tostes, conhecida como
Mariquinha.
Francisco Dias Tostes era filho do capitão Marcelino Dias Tostes e de Luciana Rodrigues Pereira Tostes, proprietários de uma
grande parte das terras que hoje formam a cidade de Miracema. Em 1º de outubro de 1855, Marcelino declarou na igreja da
freguesia de Santo Antônio de Pádua, em conformidade com o artigo 91 do Decreto 1318, de 30/01/1854, que possuía na
Freguesia de Santo Antônio de Pádua, local denominado Santo Antônio dos Brotos, uma fazenda denominada Água Limpa –
“...a qual divide pelo lado de baixo com terras dos herdeiros da falecida Dona Ermelinda Rodrigues da Conceição...”, a quem,
segundo a tradição oral, é atribuída a fundação da cidade, “...pelo lado de cima com Manoel Felisberto Pereira da Silva até a
serra, por outro lado com terras do falecido padre Francisco Mendes Linhares e Lucas Mendes Linhares, por outro com terras
de João Cândido Guimarães, por compra que fez ao capitão Bento Pereira Rodrigues.” 1
Marcelino Dias Tostes era filho de Antônio Dias Tostes e Ana Maria do Sacramento, nascido no Quilombo, atual Bias Fortes
(MG). Foi o principal articulador para a emancipação de Juiz de Fora do município de Barbacena2. Não se sabe com precisão
o ano em que a fazenda foi formada. Sabe-se apenas que a casa-sede foi construída em 1907, como atesta a data instalada
em seu frontão.
Segundo Melchíades Cardoso, em artigo publicado no jornal O Momento de Miracema, nº 16, abril de 1972, “Serra Nova é a
grande fazenda de pretérita propriedade do falecido cel. Oscar Augusto Machado, que durante a fenomenal era do café foi a
que mais produzia a apregoada rubiácea, colhidas das verdejantes linhas paralelas dos frondosos cafeeiros que riscavam os
alargados chapadões, grotões e encostas de suas terras, serras que consagravam o nome sugestivo, embora criando
excelente gado. Nesse meio faustoso do passado, outrossim, criara o cel. Oscar Machado a sua distinta família, benquista sob
qualquer apreciação, destacando-se entre seus filhos, pela estreita convivência no meio urbano local, o dr. Tobias Machado e
o dr. Júlio Tostes Machado; o primeiro tendo sido secretário da Educação (do Estado) e o segundo por ter-se dedicado à
lavoura do município em cujo mister, organizou seu grande e bem cuidado núcleo agropastoril, em franca prosperidade, agora
sob a jovem e segura direção de seu filho. A maior contribuição do dr. Júlio, contudo, foi a criação e instalação da Cooperativa
Agropecuária de Miracema – CAPM, fundada em 1966, por 131 sócios.”
Em reconhecimento ao seu trabalho de fundação, instalação e direção da cooperativa, os sócios deram-lhe o nome da sede –
Edifício Dr. Júlio Tostes Machado.
Anos depois, a fazenda foi comprada por um português residente no Rio de Janeiro, que a vendeu para o deputado Geraldo
Tavares André.
Após o cultivo de café, a Fazenda Serra Nova dedicou-se ao plantio e extração de madeira (eucalipto) e à pecuária leiteira,
chegando a produzir, na década de 1960, até 2.600 litros de leite por dia.

Fontes:

1 Livro de Registro de Terras nº 53, da Freguesia de Santo Antônio dos Brotos – Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.
2 Fazolatto, Douglas. Juiz de Fora: Imagens do Passado – 2003.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 343


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Meio Ambiente Natural


Capítulo 3
Autores:
Daniel Cardoso
Luciano Cota

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


SUMÁRIO

1. CLIMA.................................................................................................................. 353

2. BIOMAS E FORMAÇÕES REGIONAIS ............................................................... 356

2.1. Mata Atlântica ...................................................................................................... 356

2.2. Formações Vegetais Nativas das Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de
Janeiro ................................................................................................................. 357

2.3. Ação Antrópica Sobre os Ecossistemas Vegetais Nativos ................................... 359

2.4 Fragmentos Florestais.......................................................................................... 361

2.5 Uso e Ocupação do Solo ..................................................................................... 362

2.6 Corredores Ecológicos ......................................................................................... 369

2.7 Zoneamento Ecológico Econômico – ZEE ........................................................... 371

2.8 Projeto Gerenciamento Integrado de Agroecossistemas em Microbacias


Hidrográficas do Norte e Noroeste Fluminense – RIO RURAL GEF..................... 371

3. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ........................................................................ 373

3.1 Reserva Particular do Patrimônio Nacional - RPPN ............................................. 379

3.2 Criação de RPPNs ............................................................................................... 379

3.3 Propostas de Criação de Unidades de Conservação ........................................... 380

4. ÁREA LITORÂNEA .............................................................................................. 380

4.1 Aspectos Naturais ................................................................................................ 381

4.2 Lagoas Costeiras ................................................................................................. 384

4.3 Degradação Ambiental......................................................................................... 385

4.4 Gerenciamento Costeiro ...................................................................................... 386

4.5 Convenção RAMSAR........................................................................................... 387

5. O PATRIMÔNIO NATURAL ................................................................................. 387

6. RECURSOS HÍDRICOS ...................................................................................... 393

6.1 Regiões Hidrográficas.......................................................................................... 393

6.2 Principais Bacias Hidrográficas ............................................................................ 396

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


6.3 Bacias e Sistemas Hidrográficos - Zoneamento Ecológico Energético (ZEE)-RJ . 398

6.4 Comitês de Bacias e Consórcios Intermunicipais ................................................. 400

6.5 Disponibilidade Hídrica Superficial ....................................................................... 401

6.6 Disponibilidade Hídrica Subterrânea .................................................................... 403

6.7 Usos e Demanda Hídrica ..................................................................................... 404

6.8 Escassez Hídrica ................................................................................................. 410

6.9 Conflitos por Uso da Água ................................................................................... 410

6.10 Enchentes ............................................................................................................ 412

6.11 Planos e Projetos ................................................................................................. 416

7. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ................................................................................. 419

8. REFERÊNCIAS.................................................................................................... 423

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


LISTAS

FIGURAS

Figura 1 – Estado do Rio de Janeiro, Classificação Climática............................................ 353

Figura 2 – Corredores Ecológicos Propostos..................................................................... 369

Figura 3 – Diques e Tomadas D’água Construídos no Baixo Paraíba do Sul..................... 415

FOTOS

Foto 1 – Região Noroeste Fluminense, Italva, Área de Pastagem Margem Direita do Rio
Muriaé, em Janeiro de 2010 .............................................................................................. 363

Foto 2 – Região Noroeste Fluminense, Porciúncula, Área de Pastagem, em Janeiro de 2010


.......................................................................................................................................... 363

Foto 3 – Região Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, Plantação de Cana-de-açúcar,


em Janeiro de 2010 ........................................................................................................... 364

Foto 4 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Restinga de Porte Arbóreo do Parque


Nacional da Restinga de Jurubatiba, em Janeiro de 2010 ................................................. 366

Foto 5 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Restinga de Porte Arbustivo e Arbóreo e


Lagoa Costeira do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, em Janeiro de 2010 ....... 366

Foto 6 – Região Noroeste Fluminense, Varre-Sai, Vegetação Secundária, em Janeiro de


2010 .................................................................................................................................. 367

Foto 7 – Região Norte Fluminense, São Francisco de Itabapoana, Vista Aérea da Estação
de Guaxindiba.................................................................................................................... 374

Foto 8 – Região Norte Fluminense, São Fidélis e Campos dos Goytacazes, Pico do
Desengano ........................................................................................................................ 375

Foto 9 – Lagoa de Jurubatiba ............................................................................................ 376

Foto 10 – Região Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, Restingas Associadas aos
Sistemas Lagunares, nas Proximidades da Praia de São Tomé........................................ 382

Foto 11 – Região Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, Restingas Localizadas nas
Proximidades da Praia de São Tomé................................................................................. 382

Foto 12 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Parque Nacional de Jurubatiba .............. 386

Foto 13 – Região Norte Fluminense, Macaé, Arquipélago de Sant’Anna ........................... 388

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Foto 14 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Lagoa Feia ............................................. 389

Foto 15 – Região Norte Fluminense, Municípios de Macaé, Carapebus, Quissamã, Lagoa de


Jurubatiba, Parque Nacional das Restingas de Jurubatiba ................................................ 390

Foto 16 – Região Norte Fluminense, Municípios de Macaé e Conceição de Macabu,


Cordilheiras Aymorés......................................................................................................... 391

Foto 17 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Municípios de Aperibé, Cambuci, São


Fidélis e Santo Antônio de Pádua, Ilhas Fluviais................................................................ 392

Foto 18 – Foz do Rio Paraíba do Sul ................................................................................. 396

Foto 19 – Região Noroeste Fluminense, Bom Jesus de Itabapoana, Rio Itabapoana ........ 397

Fotos 20 e 21 – Comportas Manobráveis Identificadas no Canal do Furadinho, em Barra do


Furado ............................................................................................................................... 411

Foto 22 – Região Noroeste Fluminense, Italva, Ocupação da Faixa Marginal do Rio Muriaé
.......................................................................................................................................... 413

Foto 23 – Região Noroeste Fluminense, Itaperuna, Rio Muriaé, Faixa Marginal Ocupada na
Área Urbana e Desprovida de Mata Ciliar na Área Rural ................................................... 413

Foto 24 – Região Noroeste Fluminense, Natividade, Casas Desabadas Às Margens do Rio


Carangola .......................................................................................................................... 414

GRÁFICOS

Gráfico 1 – Estação Macabuzinho, Precipitação Média Mensal e Máxima e Mínima de


Chuvas Acumuladas Mensais, Período 1943 a 2007 ......................................................... 354

Gráfico 2 – Estação Porciúncula, Precipitação Média Mensal e Máxima e Mínima de Chuvas


Acumuladas Mensais, Período de 1943 a 2007 ................................................................. 355

MAPAS

Mapa 1 - Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Cobertura Vegetal Original.................... 358

Mapa 2 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Cobertura Vegetal Remanescente ....... 360

Mapa 3 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Cobertura do Solo, 2007 ...................... 368

Mapa 4 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Unidades de Conservação ................... 378

Mapa 5 - Regiões Hidrográficas Inseridas na Área de Estudo ........................................... 395

Mapa 6 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Sistemas Hidrográficos ........................ 399

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


TABELAS

Tabela 1 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Porcentagem de Remanescentes


Florestais ........................................................................................................................... 365

Tabela 2 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Área Sugerida para Reflorestamento


(com Viabilidade Ambiental e Econômica) ......................................................................... 370

Tabela 3 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Unidades de Conservação Federais e


Estaduais........................................................................................................................... 373

Tabela 4 – Relação das RPPNs de Domínio Federal, 2010............................................... 379

Tabela 5 – Regiões Hidrográficas Compreendidas na Área de Estudo.............................. 394

Tabela 6 – Disponibilidade Hídrica na Bacia do Rio Paraíba do Sul .................................. 401

Tabela 7 – Postos Fluviométricos Analisados no Rio Itabapoana ...................................... 402

Tabela 8 – Disponibilidade Hídrica no Rio Itabapoana....................................................... 402

Tabela 9 – Disponibilidade Hídrica na Bacia do Rio Macaé ............................................... 402

Tabela 10 – Consumo Per Capita Adotado na Estimativa de Abastecimento de Água


Doméstico na Bacia do Rio Paraíba do Sul ....................................................................... 404

Tabela 11 – Estimativa de Vazões Captadas e Consumidas para Fins de Saneamento na


Bacia do Paraíba do Sul .................................................................................................... 405

Tabela 12 – Quantidade de Indústrias por Sub-bacia ........................................................ 405

Tabela 13 – Estimativa de Vazões Captadas e Consumidas para Fins Industriais na Bacia


do Paraíba do Sul .............................................................................................................. 405

Tabela 14 - Estimativa de Vazões Captadas e Consumidas para Fins de Irrigação na Bacia


do Paraíba do Sul .............................................................................................................. 406

Tabela 15 – Estimativa de Vazões Captadas e Consumidas para Fins de Criação Animal na


Bacia do Paraíba do Sul .................................................................................................... 406

Tabela 16 – Demanda Hídrica Total e Disponibilidade Hídrica nos Trechos em Estudo da


Bacia do Rio Paraíba do Sul .............................................................................................. 407

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


“... é um trabalho singularmente apaixonante interrogar o planeta, porque ele nunca
deixa de nos responder e de revelar um a um os inumeráveis segredos que con-
tém...”

in La Terre
Auguste Robin,
Paris.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


1. CLIMA
As Regiões Norte e Noroeste Fluminense localizam-se aproximadamente a 22º de latitude
sul, em uma zona tropical.

De acordo com a Classificação de Koppen, o clima dessas regiões é do tipo Aw, caracteri-
zado como tropical quente e úmido, com uma estação seca entre o outono e o inverno. Para
contextualização do clima dessas Regiões foram selecionados os dois principais parâmetros
climatológicos que o caracterizam: temperatura e precipitação. Os dados se referem basi-
camente a valores médios, correspondentes ao período de 1939 a 2007, de acordo com o
Instituto Nacional de Meteorologia, INMET, observados nas estações climatológicas Porci-
úncula e Macabuzinho, obtidas através dos estudos de Coelho Netto et. alii (2008) que sub-
sidiam o Zoneamento Ecológico Econômico do Estado do Rio de Janeiro.
A classificação climática disponível no Estado atualmente é a publicada pelo CIDE – Centro
de Informações e Dados do Estado (1998). Nota-se que as Regiões Norte e Noroeste do
Estado apresentam-se divididas em duas sub-regiões, uma com clima subúmido (3) e outra
com clima seco (4), mais ao norte.

Figura 1 – Estado do Rio de Janeiro, Classificação Climática

Fonte: CIDE (1998) apud André et. al. (2005)

Entretanto, segundo André et. al. (2005), essa classificação foi feita com dados médios de
longo prazo, e considerando-se a tendência dos últimos 40 anos, o regime pluviométrico
vem diminuindo consideravelmente, justificando assim a necessidade de um estudo para
verificar uma possível mudança na linha divisória da classificação climática publicada pelo
CIDE.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 353


De acordo com Coelho Netto et. al. (2008), as regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de
Janeiro apresentam temperatura média anual entre 20 a 25ºC, diferenciando das áreas
montanhosas, que apresentam temperaturas em torno de 15 a 20ºC. Nos meses de dezem-
bro a fevereiro as temperaturas médias mensais são superiores a 25º C, principalmente nas
baixadas. Em pequenos trechos de domínio montanhoso da Serra do Mar, nos sistemas
hidrográficos dos rios Macabu, Macaé e Imbé são encontradas temperaturas médias entre
15 a 20º C.

De acordo com André et al. (2005), a Região Norte pode ser subdividida em dois tipos de
clima: um clima subúmido e um clima seco mais ao norte. Dados do RADAMBRASIL (1983)
apud Plano Diretor de São João da Barra (s.d) caracterizam o clima quente e úmido por re-
presentar temperaturas médias anuais, que variam entre 15 a 31º C, sendo a precipitação
média anual em torno de 1.000 mm, apresentando os meses de verão mais chuvosos e os
de inverno mais secos, sendo a direção predominante dos ventos sentido Nordeste.

A diversidade morfológica variando entre regiões de baixadas, vales e serras, bem como a
cobertura vegetal e a distância das fontes de umidade influenciam diretamente na distribui-
ção das precipitações no território do Rio de Janeiro (CIDE, 2003).

Dados da estação pluviométrica de Macabuzinho (Gráfico seguinte), localizada no município


de Conceição de Macabu, pertencente à Região Norte, apresentam precipitação acumulada
anual correspondente à média de 1.236 mm anuais para o período entre 1943 a 2007, sen-
do que os valores máximos de precipitação superam 2.000m. Esta estação apresenta uma
tendência similar a diversas estações da Região, como visto nas estações de Varre-Sai,
Santo Antônio de Pádua, Fazenda Oratório, Leitão da Cunha e Maria Mendonça. Já a esta-
ção Cardoso Moreira confirma as características mais secas na Região Norte apresentando
o menor valor de precipitação acumulada anual, com média para todo o período de 948,6
mm (Coelho Netto et al., 2008)

Gráfico 1 – Estação Macabuzinho, Precipitação Média Mensal e Máxima e Mínima de Chuvas


Acumuladas Mensais, Período 1943 a 2007

Fonte: Coelho Netto et al., 2008


Segundo Meneses (s.d.) a Região Noroeste do estado do Rio de Janeiro insere-se no setor
semi-úmido do Estado. Isto significa que a estação seca é bastante pronunciada, ocasio-
nando déficit hídrico em toda a Região. Esse cenário ocorre devido à atuação do sistema de
354 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
alta pressão, que provoca uma grande estabilidade atmosférica ao longo de todo o período
de outono-inverno, sendo alterada apenas com a entrada de frentes frias. O período de seca
coincide com o outono-inverno, sendo o incremento de quantidade de chuvas observadas
no período de primavera-verão. Esta situação é provocada pela atuação do Anticiclone Sub-
tropical do Atlântico Sul.

O período de primavera-verão é caracterizado pelo aumento da instabilidade atmosférica e


da umidade. Esse período apresenta maior índice de precipitação, que é diretamente influ-
enciado pelo sistema ZACAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul). Este sistema tende a
provocar grandes quantidades de chuva e, os altos volumes registrados nessa época do ano
estão associados à sua ação.

A estação meteorológica de Porciúncula apresenta precipitação média anual de 1.246 mm..


De acordo com o Gráfico a seguir pode-se observar que o mês de dezembro apresentou o
maior valor médio com 240,6 mm, seguido do mês de janeiro que teve média de 220,7 para
o período. Já os valores médios para o período mais seco não ultrapassam os 20 mm men-
sais (Coelho Netto et al., 2008).

Gráfico 2 – Estação Porciúncula, Precipitação Média Mensal e Máxima e Mínima de Chuvas


Acumuladas Mensais, Período de 1943 a 2007

Fonte: Coelho Netto et. al., 2008

Ao se considerar a tendência dos últimos 40 anos, o regime pluviométrico vem diminuindo


consideravelmente, inclusive na Região de clima subúmido. A distribuição média anual de
chuvas registra baixos índices pluviométricos nas Regiões Norte e Noroeste, com variação
entre 750 mm e 1.250 mm anuais (DNMET, 1992).

Com relação à evapotranspiração, ETp, para a área de estudo, os menores valores são en-
contrados nas áreas montanhosas apresentando evapotranspiração anual inferior a 1.000
mm. Em alguns trechos das serras dos sistemas hidrográficos do rio Imbé, Macabu e Maca-
é, a evapotranspiração anual é inferior a 800 mm. Já nas regiões onde há o predomínio de
baixadas e fundos de vale, são observados os maiores valores de ETp anual, com valores
superiores a 1.200 mm.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 355


2. BIOMAS E FORMAÇÕES REGIONAIS

2.1. Mata Atlântica

As Regiões Norte e Noroeste Fluminense estão totalmente inseridas no bioma Mata Atlânti-
ca. Esse bioma se estende pelo litoral brasileiro (do Rio Grande do Sul até o Rio Grande do
Norte), e detém uma elevada biodiversidade de espécies da fauna e flora. É um bioma ex-
tremamente degradado, reduzido a fragmentos remanescentes, que juntos representam
apenas 7% da sua cobertura original (Woehl Jr. et al., s.d.). A ocupação urbana e explora-
ção desordenada de seus recursos foram fatores determinantes para levar o bioma ao ele-
vado grau de degradação presente atualmente (Instituto BioAtlântica, 2009). Em 1808, ape-
nas um milhão de pessoas viviam na Mata Atlântica, e no século XXI esse valor já ultrapas-
sa 100 milhões. Havia também a extração de madeira durante o período de colonização e,
posteriormente, o desmatamento para ocupar as áreas com os cultivos da cana-de-açúcar,
garimpo de ouro, café e pecuária (Coelho Netto et al., 2008).

Devido ao elevado grau de endemismo e o risco de extinção de espécies, o bioma é consi-


derado um dos mais importantes e ameaçados do mundo, sendo considerado um hotspot
para conservação. Atualmente, a Mata Atlântica garante o abastecimento de água para mais
de 122 milhões de pessoas (mais da metade da população do país), protege encostas de
grande declividade servindo como estabilizador geológico, evitando deslizamentos de terra,
e atua na composição da paisagem, onde há um grande potencial para o desenvolvimento
do ecoturismo (Instituto Bioatlântica, 2009).

Nas Regiões Norte e Noroeste Fluminense, a Mata Atlântica atualmente se distribui em pe-
quenos fragmentos remanescentes e nas Unidades de Conservação, sendo elas o Parque
Nacional da Restinga de Jurubatiba, Parque Estadual do Desengano, Estação Ecológica de
Guaxindiba e Reserva Biológica da União, as quais serão tratadas no próximo capítulo.

Devido à sua imensa extensão, cortando o litoral brasileiro de norte a sul, vários fatores atu-
am na formação da Mata Atlântica, tais como a temperatura, frequência de chuvas, altitude,
proximidade com o oceano, composição do solo e outros. Esses fatores são determinantes
para a variedade de ecossistemas associados à Mata Atlântica, sendo eles: Floresta Atlânti-
ca (ocorrência na Serra do Mar), Mata de Araucárias, Campos de Altitude (em regiões de
planalto acima de 900 m de altitude), Restingas e Manguezais (região litorânea) (Woehl Jr.
et. al., s.d.).

Floresta Atlântica

Conforme Woehl Jr. et al.(s.d.), a Floresta Atlântica é extremamente heterogênea, apresen-


tando grande biodiversidade. O solo é bem drenado e bastante fértil, suas árvores, variam
de 15 a 40 m de altura e possuem folhas largas e sempre verdes, resistindo tanto a períodos
de muito calor ou umidade. Estão associadas a essa formação uma grande quantidade de
cipós, bromélias, orquídeas e outras epífitas.

Mata de Araucárias

Este ecossistema, segundo Woehl Jr. et al. (s.d.), é típico da região Sul do Brasil, onde o
clima é subtropical com chuvas regulares durante todo o ano e temperaturas baixas. Desta-
ca-se entre as demais espécies da flora, o Pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifolia), tam-
bém conhecido como Araucária, que pode chegar até 50 m. de altura.

356 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Campos de Altitude

Essa formação é geralmente localizada no alto das serras, com mais de 900 m. de altitude.
Segundo Woehl Jr. et al. (s.d.), o solo é caracterizado por ser raso e pedregoso, permitindo
assim, apenas o desenvolvimento de plantas de pequeno porte. Já na região entre monta-
nhas, o solo é mais espesso e úmido, devido ao acúmulo de água que escoa das áreas
mais altas, formando nascentes.

Restingas

Woehl Jr. et al. (s.d.) caracteriza as restingas como um ecossistema de relevo plano, locali-
zado próximo às dunas, fora do alcance do mar, sendo constituído por rios lentos e tortuo-
sos. A grande quantidade de matéria orgânica em decomposição presente na água, torna-a
avermelhada e de pH ácido. A flora apresenta uma gradativa evolução em direção ao interi-
or, sendo que na região mais próxima ao mar, a vegetação apresenta um porte menor se
comparada às espécies da porção mais distante do litoral. A composição da flora é bem di-
versificada, apresentando árvores, arbustos, trepadeiras, epífitas, samambaias e bromélias
(estas se desenvolvem no chão, ocupando extensas áreas). Essa vegetação é caracterizada
por possuir folhas ásperas e resistentes, caules duros e retorcidos e raízes com grande ca-
pacidade de absorção.

Mangues

Ecossistema típico de regiões tropicais, os mangues são expostos constantemente ao regi-


me de marés. Sua vegetação, que é adaptada às condições desse ambiente, protege a zo-
na costeira das perturbações atmosféricas, além de impedir processo de erosão, fixando
terra em seus domínios. Ao contrário das outras formações florestais, os mangues não a-
presentam uma grande diversidade de espécies, porém o número de indivíduos é abundan-
te.

2.2. Formações Vegetais Nativas das Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio
de Janeiro

As Regiões Norte e Noroeste Fluminense, originalmente, eram totalmente cobertas por for-
mações vegetais associadas à Mata Atlântica.

Segundo informações do IBAMA (2010), nas mesorregiões Norte e Noroeste Fluminense


predominam três tipos de cobertura vegetal original: as Áreas de Formação Pioneira, a Flo-
resta Estacional Semidecidual e a Floresta Ombrófila Densa, como demonstra o Mapa se-
guinte.

As Áreas de Formação Pioneira correspondem a campos nativos, manguezais e vegetação


de restinga (arbóreas, arbustivas e herbáceas), predominando ao longo da área costeira, na
porção leste do noroeste e compondo grande parte da vegetação do município de Campos
dos Goytacazes.

A Floresta Estacional Semidecidual predomina sobre toda a Mesorregião Noroeste e nas


porções norte e oeste da Mesorregião Norte.

A Floresta Ombrófila Densa, por sua vez, recobre grande parte dos municípios de São Fidé-
lis e de Macaé. Ressalta-se que, em áreas altas dessa formação vegetal, como a Pedra do
Desengano e o Pico do Frade, ocorrem Campos de Altitude.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 357


Mapa 1 - Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Cobertura Vegetal Original

358 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


2.3. Ação Antrópica Sobre os Ecossistemas Vegetais Nativos

Área de Formações Pioneiras

A região da planície costeira, segundo Soffiati (2005) teve seus campos nativos explorados
e substituídos por espécies vegetais exóticas cultivadas para a agricultura (cana de açúcar,
principalmente) e para a pecuária (forrageiras), e praticamente nenhum remanescente des-
sa formação pode ser identificado atualmente.

Hoje, nem sequer se sabe que espécies vegetais herbáceas medravam nesses campos. O
ecossistema formado pela vegetação herbácea nativa foi tão sumariamente erradicado que,
nem mesmo a cessação das atividades agropecuárias praticadas na planície aluvial, permiti-
ria a sua auto-regeneração. Trata-se, enfim, de um ecossistema extinto, irrecuperável sem a
ação humana de pesquisa refinada e de restauração (Soffiati, 2005).

No Norte Fluminense situam-se os dois maiores sistemas de restingas do Estado do Rio de


Janeiro. Ao sul, estende-se de Macaé a Quissamã, e ao norte, vai do Cabo de São Tomé à
Praia de Manguinhos. A restinga sul, por vários motivos, apresenta um nível de preservação
e conservação maior que a restinga norte.

Atualmente, a restinga sul é um dos biomas mais estudados do país e, em 1998, foi criado
em seus domínios o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, que envolve uma área com
vegetação nativa de restingas e lagoas costeiras das mais íntegras do Brasil. O sistema da
restinga norte conta com alguns estudos, mas numa escala bem menor. Atualmente não há
nenhuma unidade de conservação implantada nessa área. Entretanto, há a intenção de se
criar o Parque Estadual de Gruçaí, em São João da Barra e uma APA municipal em São
Francisco do Itabapoana.

Os manguezais são alvo de ataques predatórios há séculos, entretanto, Soffiati (2005) os


considera em estado menos crítico que a vegetação de restinga devido à sua capacidade de
auto-regeneração.

Floresta Estacional Semidecidual

O conjunto vegetacional da Floresta Estacional Semidecidual foi profundamente devastado


na Região Norte-Noroeste. A ocupação na área de abrangência dessa formação, destacan-
do-se as bacias do rio Pomba, Muriaé e Itabapoana, teve início na segunda metade do sé-
culo XVIII, por colonos europeus. Segundo Bergallo et al. (2009), essa colonização foi moti-
vada pela exploração de terras virgens para atividades agropecuárias, dentre as quais se
destacam, historicamente, o cultivo de café e a criação de gado bovino. A expansão dessas
atividades levou à quase total remoção da cobertura vegetal original, fator que vem agra-
vando a tendência à seca nessas regiões.

Floresta Ombrófila Densa

A formação Floresta Ombrófila Densa é a menos devastada e ficou resguardada da ação


humana por muito tempo por se situar nas encostas e topos da Serra do Mar, locais de difícil
acesso no período de chuvas. De acordo com Soffiati (2005) a devastação desse ecossis-
tema se intensificou no século XX, com a abertura de estradas, o que facilitou o acesso a
esses locais.
Os ecossistemas mais bem protegidos da Região Norte-Noroeste Fluminense são os Cam-
pos de Altitude da Pedra do Desengano e do Pico do Frade, devido às dificuldades de aces-
so e elevada altitude em que se encontram. O Mapa a seguir apresenta a cobertura vegetal
remanescente após essas intensas ações antrópicas na Região.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 359


Mapa 2 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Cobertura Vegetal Remanescente

360 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


2.4 Fragmentos Florestais

Região Noroeste

A Região Noroeste teve sua cobertura vegetal intensamente alterada, principalmente pela
exploração desenfreada das terras para fins agropecuários. Nessa Região, os fragmentos
são pequenos e dispersos, e não garantem a conservação ambiental já que sofrem intensos
efeitos de borda.

O progressivo ressecamento ocasionado pela remoção da cobertura vegetal original é um


dos problemas ambientais mais significantes da Região. Segundo Bergallo et al. (2009) a
ausência da vegetação de Mata Atlântica também aumenta o risco de erosão, agravado pela
ocupação antiga, contínua e sem manejo adequado por atividades agropecuárias.
Os municípios que apresentam maior estoque de áreas a preservar nessa região são Cam-
buci, Porciúncula, Natividade, Varre-Sai e Miracema.
Segundo Coelho Netto et al. (2008), o tamanho médio dos fragmentos florestais localizados
no Noroeste Fluminense varia de 18 ha no Médio Muriaé (região de Itaperuna e São José de
Ubá) a 32 ha na Bacia do rio Carangola (Porciúncula e Natividade) e a distância média entre
eles varia de 227 m., no Alto Itabapoana (próximo a Varre-Sai) a 488 m. no Médio Muriaé.

A região do Médio Muriaé e Médio Itabapoana constitui-se basicamente por colinas e planí-
cies fluviais, de forma que os pastos de baixa produtividade compõem praticamente a única
formação existente, com pequenas áreas de floresta nas proximidades de alguns divisores
de água, encontrando-se altamente degradadas.

As partes baixas das bacias dos rios Pomba e Muriaé apresentam conectividade ecológica
reduzida, com poucos fragmentos florestais e predomínio de pastagens e agricultura, geral-
mente sobre forte pressão de incêndios e derrubadas.

Na região que envolve os municípios de Natividade, Porciúncula e Varre-Sai predomina o


relevo montanhoso, fator preponderante na ocorrência de trechos com fragmentos mais pró-
ximos. Esses fragmentos possuem alto índice de importância para a conservação da biodi-
versidade, pois devido à sua proximidade há uma potencialidade para a criação de corredo-
res.

Outro trecho que apresenta fragmentos florestais importantes está situado entre os municí-
pios de Lages do Muriaé, Miracema e Cambuci. Nos trechos montanhosos dessa região, os
fragmentos se encontram em melhor estado de conservação e apresentam boa propensão
para conectividade.

Região Norte

A Região Norte apresenta fragmentos de Floresta de Ombrófila Densa com grande impor-
tância de conservação situados nos municípios de Macaé e Conceição de Macabu e na por-
ção oeste de Campos dos Goytacazes, entorno do Parque do Desengano.

Os fragmentos situados em Macaé e Conceição do Macabu representam a região com me-


nor fragmentação florestal, destacando-se pela presença de fragmentos de tamanho médio
de mais de mil hectares. Essa região também apresenta a menor distância entre os frag-
mentos ali existentes (162 m.). A proteção desses fragmentos é de grande importância para
a conservação regional, pois a conexão com outros remanescentes auxiliará ainda mais a
redução da fragmentação florestal da região.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 361


Na área de abrangência do Parque do Desengano, os fragmentos florestais têm tamanho
médio de 262 ha e uma distância média de 188 m. entre eles. Como a fragmentação é redu-
zida e a distância entre os remanescentes é pequena, a criação de corredores ecológicos
nessa região é fundamental para a expansão da cobertura vegetal do Corredor da Serra do
Mar e imediações.

As regiões com predomínio de plantio de cana-de-açúcar e pastagem são as de maior frag-


mentação. Nos municípios de Campos dos Goytacazes e São Francisco do Itabapoana a
distância média dos fragmentos varia entre 600 e 925 m. Contribuem para esse resultado, o
baixo número de fragmentos e o tamanho reduzido dos mesmos, que pela distância que se
encontram praticamente já não conseguem regenerar suas formações florestais naturalmen-
te. Esses fragmentos, devido ao seu tamanho reduzido, sofrem intensamente com o efeito
de borda, tornando-se assim pouco ou nada significativos para a conservação florestal.

Da porção de Floresta Estacional Semidecidual dessa região, restaram apenas insignifican-


tes fragmentos, sendo o maior de todos, a Mata do Carvão, protegida pela Estação Ecológi-
ca Estadual de Guaxindiba.

No que diz respeito às formações de restinga, segundo Coelho Netto et al. (2008), aproxi-
madamente 24.000 ha são cobertos por esses ecossistemas, que coloniza os cordões are-
nosos. Tais ecossistemas são de extrema importância para a conservação, pois são trechos
únicos de restinga na região e encontram-se entre os mais bem preservados de todo o Es-
tado do Rio de Janeiro.

As restingas sofrem intensa pressão, principalmente da especulação imobiliária, que visa a


porção do ecossistema que se localiza a beira mar. As restingas localizadas na porção su-
deste do complexo deltáico do rio Paraíba do Sul possuem um aliado no que diz respeito à
sua preservação, devido à presença do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. O
mesmo não acontece com as restingas da porção nordeste, que não possuem unidades de
conservação integral, e mesmo que essa vegetação seja classificada como área de preser-
vação permanente, a sua conservação não está garantida.

2.5 Uso e Ocupação do Solo

As transformações promovidas pela ocupação e atividades humanas desencadearam em


alterações profundas na cobertura vegetal da região, assim como demonstrado anteriormen-
te. Dessa forma é de extrema importância compreender o atual uso e ocupação do solo para
que se possa propor ações e estratégias de recomposição da cobertura vegetal.

Pastagem

Os dados levantados por Coelho Netto et al. (2008), demonstram que a Mata Atlântica antes
existente, deu espaço principalmente para áreas de pastagens, que ocupam a maior parte
da Região Norte-Noroeste (63%, sendo 3% localizados em área de várzea) e estão distribu-
ídas em todos os tipos de relevo.

As áreas de pastagem chegam a ser quatro vezes maior que a extensão de florestas, ocu-
pando uma área de aproximadamente 985.000 ha. No entanto, ainda que as pastagens o-
cupem grandes extensões de terra, não garantem uma grande produção pecuária, uma vez
que essas apresentam baixa produtividade (Coelho Netto et al. 2008). De acordo com CIDE
(2003), os municípios de Italva (Foto seguinte) e São José de Ubá possuem mais de 90% do
seu território transformado em pastagem. Outros 11 municípios (sendo nove da Região No-
roeste), como por exemplo, Porciúncula (Foto posterior), apresentam pastagem em mais de
70% do seu território.

362 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Foto 1 – Região Noroeste Fluminense, Italva, Área de Pastagem Margem Direita do Rio Muriaé,
em Janeiro de 2010

Fonte: Rionor

Foto 2 – Região Noroeste Fluminense, Porciúncula, Área de Pastagem, em Janeiro de 2010

Fonte: Rionor

De acordo com Coelho Netto et al. (2008), a grande extensão de área de pastagem nas re-
giões Norte e Noroeste do Rio de Janeiro relaciona-se com as amplas planícies e colinas
presentes na região, que por serem de fácil acesso ao homem, facilitaram a devastação da
vegetação original para a implantação das áreas de pastagens e de usos agrícolas.

Na Região Noroeste, há extensas áreas de pastagem inutilizadas por estarem situadas em


encostas e topos de morro. O pastejo nesses locais provoca erosão laminar, além de quei-
mar energia do gado ocasionando perdas na produção de carne e leite. Segundo Bergallo et
al. (2009), várias áreas dessa região estão altamente degradadas, apresentando-se inaptas
para atividades de agricultura e pecuária.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 363
Áreas Agrícolas

A área coberta por agricultura representa aproximadamente 11 % da extensão territorial das


Regiões Norte e Noroeste. Segundo Coelho Netto et al. (2008), essa área totaliza cerca de
176.400 ha, dos quais quase 174.800 ha são de plantação de cana-de-açúcar. Os municí-
pios localizados na planície costeira se destacam no desenvolvimento dessa atividade agrí-
cola.

Pelos dados levantados pela CIDE (2003), os municípios de São Francisco do Itabapoana
(57%), Campos dos Goytacazes (39,8%), Carapebus (34%) e Quissamâ (33,1%) apresen-
tam mais de ⅓ do seu território destinado às áreas de cultura. Ao analisar as áreas de pas-
tagem e agricultura em conjunto, praticamente todos os municípios da Região Norte e Noro-
este têm mais de ⅔ do seu território destinado a essas práticas, exceto Macaé (59,3%),
Quissamã (49%) e São João da Barra (9,9%).

Coelho Netto et al. (2008) relata que em mapeamentos anteriores, realizados, em 1995, pela
CIDE/GEROE e, em 2006, pela PROBIO, não era possível identificar áreas agrícolas tão
extensas, o que pode significar um avanço da cultura de cana-de-açúcar em detrimento das
pastagens.

Foto 3 – Região Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, Plantação de Cana-de-açúcar, em


Janeiro de 2010

Fonte: Rionor

Os dados apresentados anteriormente demonstram que a agricultura é um dos principais


responsáveis pela supressão vegetal nativa da planície costeira. As plantações substituíram
inclusive a vegetação em áreas de preservação permanente como encostas, topos de morro
e faixas marginais de rios. Tal procedimento contribui diretamente para o assoreamento dos
cursos d’água, erosão, alteração da qualidade das águas dos cursos d’água e afugentamen-
to de espécies da fauna nativa. Segundo Soffiati (2004), a prática predatória da queimada
nos canaviais diminui a fertilidade do solo e para compensar essa perda, os plantadores
empregam agrotóxicos e fertilizantes químicos que contribuem para a contaminação do solo
e dos recursos hídricos.

364 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Vegetação

A quantidade de vegetação primária é bastante reduzida, sendo que dentre os diferentes


ecossistemas presentes na Mata Atlântica (florestas, mangues, restingas e campos), os mu-
nicípios da Região Norte são os que apresentam os maiores remanescentes.

Segundo INPE/SOS Mata Atlântica (2009), o índice de remanescentes florestais nas regiões
Norte e Noroeste é de 8,95%.

Tabela 1 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Porcentagem de Remanescentes Florestais


Área Total
Mata Restinga Mangue Remanescente
Município do Município
(ha). (ha). (ha) (%)
(ha)
Aperibé 31,76 0 0 9.585 0
Bom Jesus do Itabapoana 2.007,32 0 0 59.844 3
Cambuci 4210,4 0 0 56.154 7
Campos dos Goytacazes 24.313,64 876,36 0 403.774 6
Carapebus 281,56 6281,6 0 30.696 21
Cardoso Moreira 2.103,64 0 0 51.625 4
Conceição de Macabu 6.144,92 0 0 34.783 18
Italva 507,52 0 0 29.665 2
Itaocara 820,76 0 0 42.924 2
Itaperuna 3819,6 0 0 110.812 3
Laje do Muriaé 2371,84 0 0 24.978 10
Macaé 30.100,44 242,28 81,52 121.712 25
Miracema 2.741,28 0 0 30.460 9
Natividade 1.847,48 0 0 38.671 5
Porciúncula 2.047,88 0 0 30.360 7
Quissamã 924,64 12.761,56 0 71.820 19
Santo Antônio de Pádua 1.994,32 0 0 60.461 3
São Fidélis 4583,2 0 0 102.960 4
São Francisco de Itabapoana 2.237,48 3.090,52 0 11.557 5
São João da Barra 0 7.432,84 0 46.126 16
São José de Ubá 905,16 0 0 25.094 4
Varre-Sai 1.752,72 0 0 18.941 9
Total 95.748 30.685 82 1.413.002 8,95
Fonte: INPE/SOS Mata Atlântica (2009)

O município de Macaé apresenta os melhores índices de preservação, com 25% de seu


território ocupado por remanescentes florestais.

Os municípios de Carapebus, Quissamã e São João da Barra apresentam índices de 21%,


19% e 18%, respectivamente. Esses valores se devem principalmente às grandes exten-
sões de restinga ainda existentes na faixa litorânea, pois os outros ecossistemas se encon-
tram em quantidades bem reduzidas.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 365


As formações florestais estão concentradas principalmente nas regiões montanhosas, que
comportam a maioria das áreas conservadas de Mata Atlântica do Norte e Noroeste flumi-
nense. Devido ao difícil acesso dessas áreas, a vegetação tende a ser preservada, o que
não acontece com as áreas de planícies fluviais. A menor concentração de florestas é en-
contrada na planície flúvio-marinha, que deu espaço principalmente para a cultura da cana-
de-açúcar.

Foto 4 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Restinga de Porte Arbóreo do Parque Nacional
da Restinga de Jurubatiba, em Janeiro de 2010

Fonte: Rionor

Foto 5 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Restinga de Porte Arbustivo e Arbóreo e Lagoa
Costeira do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, em Janeiro de 2010

Fonte: Rionor
366 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Ao contrário da vegetação primária, que se encontra mais reservada na Região Norte Flu-
minense, a vegetação secundária está em maior proporção na Região Noroeste. Os municí-
pios de Varre-Sai, Porciúncula, Cambuci, Laje do Muriaé e Natividade apresentam forma-
ções florestais bem conservadas, principalmente em topos de morro.

Foto 6 – Região Noroeste Fluminense, Varre-Sai, Vegetação Secundária, em Janeiro de 2010

Fonte: Rionor

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 367


Mapa 3 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Cobertura do Solo, 2007

368 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


2.6 Corredores Ecológicos

A Fundação CIDE, atual Fundação CEPERJ – Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e


Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro, elaborou em 2003, a partir do Índice de
Qualidade dos Municípios – IQM Verde II, uma metodologia para geração de corredores
ecológicos, de forma a interligar os fragmentos florestais encontrados no território fluminen-
se.

Os fragmentos foram identificados a partir de imagens LANDSAT e confrontados com o Ma-


pa de Uso e Cobertura do Solo elaborado pelo CIDE, em 2001, para definição da viabilidade
dos corredores. Cada fragmento foi representado geometricamente por um polígono fecha-
do. O corredor foi definido como o menor segmento de reta que une dois desses polígonos,
sendo que o comprimento máximo de um corredor ecológico adequado à realidade flumi-
nense é de 2000 m., de acordo com critérios físico-ambientais e econômicos estabelecidos.

Baseando-se no Mapa de Uso e Cobertura do Solo foram eliminados os corredores que


transpassam barreiras para sua implantação, como áreas urbanas, represas, lagoas e gran-
des cursos d’ água. Campos/pastagens e solos expostos não constituem barreiras para a
implantação de corredores de acordo com essa metodologia. Eliminados os corredores com
barreiras, foram gerados buffers com 100 m. de largura para cada lado em cada corredor.
Sendo assim, assumiu-se que, inicialmente, cada corredor criado ou a ser criado teria uma
largura de 200 m..

A Figura seguinte apresenta os corredores ecológicos propostos (linhas vermelhas) pela


Fundação CIDE para as regiões Norte e Noroeste Fluminense. Ressalta-se que a área iden-
tificada no canto esquerdo inferior da figura não representa a área em estudo (área hachu-
rada).

Figura 2 – Corredores Ecológicos Propostos

Fonte: CIDE (2003)


Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 369
A Tabela seguinte indica a área sugerida para reflorestamento a partir da implantação de
corredores ecológicos em cada um dos municípios das regiões Norte e Noroeste Fluminen-
se, de acordo com a metodologia adotada pelo CIDE.

Tabela 2 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Área Sugerida para Reflorestamento (com
Viabilidade Ambiental e Econômica)

Municípios das Regiões Área Sugerida para Área Municipal Sugerida


Norte e Noroeste Fluminense Reflorestamento (há) para Reflorestamento (%)

Miracema 4.410,18 14,63


Varre-Sai 2.769,82 14,47
Porciúncula 3.268,57 10,97
Laje do Muriaé 2.694,81 10,78
Santo Antônio de Pádua 4.899,22 8,05
Italva 2.285,30 7,78
Itaocara 2.483,08 5,81
Macaé 6.239,48 5,10
Cambuci 2.809,03 5,02
Bom Jesus do Itabapoana 2.986,68 4,93
Itaperuna 3.982,15 3,6
São Fidélis 3387,88 3,28
Campos dos Goytacazes 10.795,52 2,68
Natividade 894,49 2,3
São José de Ubá 486,02 1,94
Cardoso Moreira 618,11 1,2
São Francisco de Itabapoana 1.167,87 1,03
Carapebus 295,91 0,99
Conceição de Macabu 180,76 0,53
Aperibé 47,36 0,51
São João da Barra 137,78 0,3
Quissamã 20,53 0,03
Total 56.860,55 -
Fonte: CIDE (2003)
Segundo CIDE (2003), os custos para o poder público recuperar um hectare de floresta são
estimados em U$1.500,00 (mil e quinhentos dólares), sendo que este valor é variável de
acordo com as condições do terreno, solo, espécies a serem utilizadas, etc.

A estratégia de parceria entre o Governo, comunidades, setor privado e ongs, de acordo


com o CIDE (2003) pode reduzir esses custos a R$ 800,00/ha (oitocentos reais por hectare).
Além da redução dos custos, tal estratégia é de extrema importância para que sejam asse-
guradas as condições de manutenção, proteção e replantio.

370 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


2.7 Zoneamento Ecológico Econômico – ZEE

O Zoneamento Ecológico-Econômico, ZEE, tem sido a proposta do Governo Brasileiro para


subsidiar as decisões de planejamento social, econômico e ambiental do desenvolvimento e
do uso do território nacional em bases sustentáveis.

A Lei Estadual n° 5.067, aprovada em 9 de julho de 2007, regulamentou o Zoneamento Eco-


lógico-Econômico do Estado do Rio de Janeiro e conferiu competência à Secretaria de Es-
tado do Ambiente, SEA/RJ, para coordenação da elaboração e implementação do projeto,
em conjunto com as Secretarias de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimen-
to, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços,
Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão e Secretaria de Estado de Obras (SEA/RJ,
2010).

Inicialmente, a SEA/RJ contratou o Departamento de Geografia da UFRJ, por intermédio da


COPPETEC, para realizar um diagnóstico ambiental do Estado, de forma a subsidiar a ela-
boração do ZEE. O estudo, intitulado “Análise e Qualificação Sócio-Ambiental do Estado do
Rio de Janeiro (escala 1:100.000) - subsídios ao Zoneamento Ecológico-Econômico” foi co-
ordenado pela professora titular Ana Luisa Coelho Netto e teve sua publicação em outubro
de 2008.

O referido estudo associado ao Estudo de Favorabilidade das Terras do Estado do Rio de


Janeiro a Múltiplos Usos na escala de 1:100.000 (previsto para dezembro 2009) dará o em-
basamento técnico às indicações do Zoneamento Ecológico-Econômico do território do Es-
tado do Rio de Janeiro previsto pela Lei 5067/07.

Segundo a SEA/RJ (2010), as consultas públicas serão realizadas à medida que as indica-
ções do zoneamento por região hidrográfica do Estado forem concluídas.

2.8 Projeto Gerenciamento Integrado de Agroecossistemas em Microbacias Hi-


drográficas do Norte e Noroeste Fluminense – RIO RURAL GEF

A Secretaria de Agricultura do Estado do Rio de Janeiro – SEAPPA através da Superinten-


dência de Desenvolvimento Sustentável, SDS, desenvolve como estratégia piloto o Projeto
Gerenciamento Integrado de Agroecossistemas em Microbacias Hidrográficas do Norte e
Noroeste Fluminense – RIO RURAL GEF. O Projeto abrange 24 municípios e 50 microbaci-
as hidrográficas, trabalhando em prol do desenvolvimento rural sustentável. O investimento
total durante os cinco anos de projeto é de R$ 34 milhões.

Em execução, desde 2006 até o ano de 2010, o RIO RURAL GEF tem como objetivo contri-
buir para a diminuição das ameaças à biodiversidade, o aumento dos estoques de carbono
na paisagem agrícola e a inversão do processo de degradação das terras em ecossistemas
críticos e únicos de importância global da Mata Atlântica do Norte-Noroeste Fluminense.
Para atingir tal objetivo, o Projeto traz como princípios e inovações: i) a metodologia da mi-
crobacia reconhecida enquanto projeto ambiental, ii) o engajamento das comunidades das
microbacias na conservação da biodiversidade, iii) a integração de políticas públicas, iv) o
conceito de auto-gestão sustentável dos recursos naturais, grupos de autogestão, planos de
negócios sustentáveis, v) Estatutos Comunitários de Conduta (ECC), vi) co-financiamentos e
sustentabilidade econômica, vii) integração dos Planos Executivos de Microbacias (PEMs)
aos Planos de Bacia (SEAPPA, 2009).
As principais metas desse projeto até sua conclusão, ao final de 2010 são:
• 32.000 ha de terras manejadas adequadamente;
• 1.440 ha de matas ciliares reabilitadas;
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 371
• 1.280 ha reflorestados em forma de mosaicos de corredores ecológicos;
• 2 microbacias por município e 3 microbacias com monitoramento completo;
• 4.000 agricultores beneficiados diretamente;
• 2.400 agricultores com incentivos;
• 100 grupos autogestionados de agricultores familiares;
• 25 Estatutos Comunitários de Conduta (ECC) para uso dos recursos naturais
elaborados;
• 25.000 beneficiários em eventos de difusão e 12.900 beneficiários capacitados
em manejo sustentável;
• 100 professores capacitados (educação ambiental);
• 4.000 alunos de escolas municipais envolvidos em 25 projetos de educação
ambiental.

Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável em Microbacias Hidrográficas do Esta-


do do Rio de Janeiro - RIO RURAL BIRD
Devido ao sucesso na experiência do Projeto RIO RURAL GEF, o Governo do Estado do
Rio de Janeiro negociou com o BIRD um financiamento de forma a ampliar a área de abran-
gência e complementar as intervenções desse Projeto com novas estratégias, a fim de pro-
mover a transformação necessária para alcançar de forma efetiva o desenvolvimento sus-
tentável da população rural fluminense.
O valor total do Projeto soma cerca de US$ 79 milhões, sendo que o Banco Mundial financi-
ará US$ 39,5 milhões cabendo ao Estado do Rio de Janeiro, o montante de US$ 26,4 mi-
lhões, e o restante, US$ 13,1 milhões a cargo dos demais co-financiadores Governo Federal
e Beneficiário (SEAPPA, 2009). O início das atividades desse Projeto está previsto para o
início de 2010 e terá duração até o ano de 2015.
O Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável em Microbacias Hidrográficas do Estado
do Rio de Janeiro - RIO RURAL BIRD atuará principalmente nas regiões Serrana, Norte e
Noroeste Fluminense, envolvendo cerca de 270 microbacias e 59 municípios.
De acordo com a SEAPPA (2009), as principais metas a serem alcançadas nesse Projeto
são:
• 270 microbacias hidrográficas selecionadas e participando do Projeto, envol-
vendo 37.000 agricultores, pescadores artesanais, mulheres e jovens rurais;
• 19.000 agricultores familiares adotando sistemas mais produtivos;
• 2.050 agricultores familiares, mulheres, jovens rurais, pescadores artesanais in-
seridos em pelo menos uma cadeia produtiva ou arranjo produtivo local;
• 27.000 propostas de investimento elaboradas e 24.400 financiadas com
recursos do Projeto;
• 266.000 hectares de terras sob sistemas produtivos melhorados e 1.300 km de
estradas vicinais reabilitadas e em manutenção;
• 400 técnicos e 50.000 beneficiários treinados e 220 projetos de educação ambi-
ental apoiados;
• 1 Plano de Sustentabilidade Institucional da SEAPPA e vinculadas formulado e
10 projetos de fortalecimento institucional priorizados e financiados;
• 4 arranjos de cooperação com entidades governamentais do setor rural e 4 com
entidades multisetoriais estabelecidos em apoio ao Desenvolvimento Rural Sus-
tentável (DRS);
• Sistema de Sustentabilidade Econômica estabelecido e aportando recursos fi-
nanceiros para 45 projetos DRS junto a comunidades rurais;
• Sistema de Pesquisa em Rede estabelecido e desenvolvendo 42 projetos de
pesquisa participativa;

372 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


• Sistema de Monitoramento e Avaliação implementado, sendo 5 microbacias sob
sistema completo e 270 microbacias sob monitoramento participativo;
• Sistema de gestão da informação implantado nos níveis central, regional, muni-
cipal e local e disseminando conhecimento e informações em apoio ao DRS a-
través do Portal www.microbacias.rj.gov.br.

3. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Uma das formas mais reconhecidas e utilizadas para garantir a conservação da diversidade
biológica são as chamadas Unidades de Conservação – UCs.

No Brasil, as Unidades de Conservação foram consolidadas pela Lei Federal n.o 9.985, de
18 de julho de 2000 (BRASIL, 2000), que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Con-
servação, SNUC. De acordo com essa lei, as UCs dividem-se em dois grupos, sendo estes
as Unidades de Proteção Integral e as Unidades de Uso Sustentável.

As Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro não apresentam um número sig-
nificativo de Unidades de Conservação. Estão implantadas apenas quatro UCs federais ou
estaduais na área de abrangência do estudo, sendo todas de Proteção Integral. Ressalta-se
que as RPPNs não estão incluídas nesse cômputo, pois estas serão abordadas num tópico
adiante.

A Região Noroeste é caracterizada por fragmentos remanescentes pequenos e dispersos e,


segundo Bergallo (2009), a fauna desta região é muito pouco conhecida.

Esta Região não possui qualquer UC de Proteção Integral, quer federal ou estadual, total-
mente inscrita em seus limites. Apenas uma pequena porção do Parque Estadual do De-
sengano alcança o município de São Fidélis. A única UC de Uso Sustentável nessa Região
é a RPPN Reserva Florestal Eng° João Furtado de Men donça.

Na Região Norte, estão localizadas quatro UCs de Proteção Integral, sendo estas a Estação
Ecológica Estadual de Guaxindiba, o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, o Parque
Estadual do Desengano e a Reserva Biológica da União.

Vale ressaltar que o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, o Parque Estadual do De-
sengano e a Reserva Biológica da União possuem conselho gestor e plano de manejo.

Tabela 3 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Unidades de Conservação Federais e


Estaduais

Municípios UCs Proteção


Estação Ecológica Estadual de Unidade de Proteção
São Francisco do Itabapoana
Guaxindiba Integral - Estadual
Campos dos Goytacazes, Santa Unidade de Proteção
Parque Estadual do Desengano
Maria Madalena e São Fidéles Integral - Estadual
Macaé, Casimiro de Abreu e Rio Unidade de Proteção
Reserva Biológica da União
das Ostras Integral - Federal
Parque Nacional da Restinga de Unidade de Proteção
Quissamã, Carapebus e Macaé
Jurubatiba Integral - Federal
Fonte: IEF - RJ, 2008

Quanto às UCs municipais destaca-se a APA do Sana, localizada no município de Macaé,


que conta com plano de manejo e conselho gestor.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 373


Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba
A Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, segundo o INEA (2010 b), foi criada por meio
do Decreto Estadual n°. 32.576 de 30 de dezembro de 2002, possui área equivalente a
3.260 ha estando localizada no município de São Francisco de Itabapoana, nos domínios da
fazenda São Pedro de Alcântara, onde a mesma é conhecida nacionalmente como Mata do
Carvão, devido ao fato da existência de vários fornos de carvão em seu interior.

A Estação não é aberta para a população em geral, uma vez que seu objetivo é a preserva-
ção da natureza bem como à realização de pesquisas científicas. Possui vegetação de flo-
resta estacional semidecidual (tipologia de Mata Atlântica), e apresenta o último remanes-
cente de Mata de Tabuleiro da Região Norte e Noroeste Fluminense (INEA 2010 b). O frag-
mento de Mata de Tabuleiro representa 1200 ha da área total da Estação (Silva & Nasci-
mento, 2001).

Foto 7 – Região Norte Fluminense, São Francisco de Itabapoana, Vista Aérea da Estação de
Guaxindiba

Fonte: INEA, 2010 b

Parque Estadual do Desengano


Criado através do Decreto-Lei Estadual nº. 250, de 13 de abril de 1970, o Parque Estadual
do Desengano (PED) possui 224 km², e abrange os municípios de Santa Madalena, São
Fidélis e Campos dos Goytacazes. O Plano de Manejo do PED foi aprovado pela extinta
Fundação Instituto Estadual de Florestas (IEF-RJ), em 2005.

Este Parque apresenta notável beleza cênica, com inúmeros picos rochosos e cobertura
vegetal contínua, representando de forma fidedigna o bioma Mata Atlântica.

Devido à sua variação altitudinal e cobertura vegetacional, o Parque Estadual do Desengano


é considerado como região estratégica para a proteção da diversidade biológica (Camphora,
2009 a). A vegetação encontrada no Parque varia de acordo com suas altitudes. Nas terras
até 500 m. de altitude, ocorre a formação de Floresta Ombrófila Densa Submontana. Entre
as altitudes de 500 a 1.500 m., predomina a Floresta Ombrófila Densa Montana. Nas altitu-
des acima de 1500 m., ocorrem geralmente os campos de altitude.

374 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Sua diversificada avifauna pode ser dimensionada em, pelo menos, seis grupos distintos,
que abrangem a maioria das espécies listadas no sudeste brasileiro (Camphora, 2009 a).
Das 283 espécies de avifauna encontradas nos campos de altitude, 22 são endêmicas e
ocorrem em populações reduzidas (IEF-RJ, 2010).
O Parque Estadual do Desengano apresenta grande importância hídrica para o Norte Flumi-
nense, pois nele estão localizadas diversas nascentes de cursos d’água responsáveis pelo
abastecimento de núcleos e povoados existentes nos municípios de São Fidelis, Campos e
Santa Maria Madalena.

Destaca-se o fato de haver inúmeras cachoeiras em seu interior, dentre elas, a Vernec, Bo-
nita e Tombo d’água. Os principais cursos d’água que transpassam o Parque são o rio
Grande e seus afluentes, ribeirões Macapá e Santíssimo, rio do Colégio e os rios Segundo
do Norte, Morumbeca, Aleluia e Mocotó, afluentes do Imbé que deságua na Lagoa de Cima
e flui para a Lagoa Feia, através do rio Ururaí.

Como medida de compensação Ambiental pela instalação da Termoelétrica El Paso, no ano


de 2004, o Parque Estadual do Desengano passou por um processo de modernização. Fo-
ram efetuadas melhorias em suas instalações, como a construção de um Centro de Visitan-
tes contemplando estruturas como biblioteca, anfiteatro, auditório e áreas de lazer. Também
foi realizado o projeto de Consolidação do PED, através da realização do Plano de Manejo
bem como o Programa de Educação Ambiental e Práticas Sustentáveis.

Foto 8 – Região Norte Fluminense, São Fidélis e Campos dos Goytacazes, Pico do Desengano

Fonte: Ambiente Brasil

Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba

O Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba localiza-se ao longo do litoral nordeste do


Estado do Rio de Janeiro, representando o trecho de restinga melhor conservado de toda a
costa fluminense. Esta área, de valor ecológico ímpar, situa-se nos municípios de Macaé,
Carapebus e Quissamã, na Região Norte Fluminense, Microrregião Geográfica de Macaé
(IBAMA, 2005 b).

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 375


Criado em 29 de abril de 1998, possui uma área de 14.880 ha, locadas nos municípios de
Carapebus, Macaé e Quissamã. Segundo IBAMA (2005 a), aproximadamente 65% do Par-
que está localizado no município de Quissamã, 35% em Carapebus e 1% em Macaé.

O Conselho Gestor do Parque foi criado em 2002, pela Portaria 97/02-N e no ano de 2008,
foi aprovado seu Plano de Manejo.

A área do Parque abrange planícies fluviais e planícies marinhas. No que diz respeito à ve-
getação, predominam as restingas e a vegetação herbácea, sendo esta esparsa, secundá-
ria, inundada ou nativa.

Os ecossistemas lagunares costeiros destacam-se nessa UC e têm uma íntima relação com
os ecossistemas de restinga ali presentes. Ao todo, são 24 lagoas, das quais destacam-se a
Lagoa de Jurubatiba, de Carapebus e do Campelo, esta última situada na zona de amorte-
cimento do Parque.

Outros recursos hídricos de extrema importância para a manutenção do equilíbrio ecológico


são o Rio Macaé, o Rio Paraíba do Sul, o Canal Campos-Macaé e todo o sistema de drena-
gem que abastece as diversas lagoas.
De acordo com IBAMA (2005 a), as principais atividades conflitantes para esse Parque são:
• Pesca de subsistência;
• Despejo de efluentes domésticos e da indústria açucareira na Lagoa de Carapebus;
• Estação de tratamento de esgoto na área do Parque, em Quissamã;
• Atividade pecuária no interior do Parque;
• Presença de cercas e porteiras de propriedades particulares;
• Presença de pessoas no interior do Parque;
• Dutos: emissário da TRANSPETRO cortando o Parque em 10 km.
Foto 9 – Lagoa de Jurubatiba

Fonte: Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba

376 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


O Parque tem grande importância para a fauna, uma vez que serve de refúgio para várias
espécies, entre elas o papagaio Chauá, que se encontra extinto em outras restingas, algu-
mas espécies endêmicas de borboletas, a existência de aves aquáticas residentes e migra-
tórias, lontras e o jacaré-de-papo-amarelo (IBAMA, 2004).

Deve ser destacado que os ecossistemas aquáticos e terrestres do Parque Nacional da


Restinga de Jurubatiba são pesquisados e investigados por diversas universidades, desta-
cando-se a Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. As pesquisas realizadas têm
como base principal o Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé, da UFRJ (NU-
PEM/UFRJ), uma unidade de pesquisa, ensino e extensão do Instituto de Biologia desta
Universidade.

Reserva Biológica União

No ano de 1996, com a privatização da Rede Ferroviária Federal AS. (RFFSA), que era pro-
prietária das terras, a qual utilizava para o plantio de madeira objetivando o suprimento de
carvão para as máquinas, e posteriormente o plantio de eucalipto para a produção de dor-
mentes, o IBAMA juntamente com Instituições Científicas, ONGs e conservacionistas de
várias nacionalidades solicitaram junto ao Governo Federal a transformação da área em
unidade de conservação (BRASIL, 2004).

Criada por meio de Decreto Federal s/nº em 22 de abril de 1998, a Reserva Biológica União
tem como objetivo preservar os fragmentos de Mata Atlântica existentes na região, bem co-
mo as espécies que dela dependem. A Reserva possui 3.126 ha e está localizada nos muni-
cípios de Rio das Ostras (52,4%), Casimiro de Abreu (47,3%) e Macaé (0,3%)

Os principais usos conflitantes que afetam a unidade e seu entorno são as linhas de trans-
missão de energia elétrica de Furnas, o gasoduto da Petrobrás, a rodovia BR-101 e uma
ferrovia.

A unidade abriga várias espécies endêmicas tais como o Mico-Leão-Dourado, a Preguiça


Coleira dentre outras.

Essa Reserva possui visitação pública apenas em caráter educacional ou científica, uma vez
autorizada pelo órgão responsável por sua administração.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 377


Mapa 4 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Unidades de Conservação

378 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


3.1 Reserva Particular do Patrimônio Nacional - RPPN

A Reserva Particular do Patrimônio Nacional – RPPN é uma unidade de conservação criada


em área privada, gravada em caráter de perpetuidade, com o objetivo de conservar a diver-
sidade biológica. A criação de uma RPPN é um ato voluntário do proprietário, que decide
constituir sua propriedade, ou parte dela, em uma UC, sem que isto ocasione perda do direi-
to de propriedade (ICMBio, 2010)

As RPPNs são de extrema importância na participação da iniciativa privada no intuito de


conservar e proteger a biodiversidade do país. Constituem uma alternativa de rápida ampli-
ação das áreas protegidas, alem de serem facilmente criadas e apresentarem ótimos índi-
ces custo/benefício.

Na área sob estudo, de acordo com o ICMBio (2010), existem três RPPNs de domínio fede-
ral, sendo uma na Região Noroeste, no município de Natividade, e duas na Região Norte, no
município de Macaé.

Tabela 4 – Relação das RPPNs de Domínio Federal, 2010

Nome da Reserva Município Área (ha) Portaria Proprietário

Fazenda Barra do Sana Macaé 162,40 065/99 Gildo Shueler Vieira


Mônica Jatoba
Sítio Shangrilá Macaé 86,00 156/98 - N
Carvalho
Reserva Florestal Eng° João Lucélia B. Castro
Natividade 75,50 09/2008
Furtado de Mendonça Mendonça
Fonte: ICMBio, 2010

3.2 Criação de RPPNs

O Estado do Rio de Janeiro possui um decreto específico para a criação de Reserva Parti-
cular do Patrimônio Natural - RPPN. O Decreto n° 40 .909, de 17 de agosto de 2007, estabe-
lece critérios e procedimentos administrativos para a criação dessas unidades de conserva-
ção, que foram definidas como sendo de proteção integral.

Após a sanção desse decreto, o extinto IEF-RJ, criou um Núcleo de RPPN, auxiliando àque-
les que quisessem voluntariamente transformar sua propriedade em uma RPPN.

Em junho de 2008, foi instituído o Programa Estadual de RPPN. Até o final de 2009, segun-
do dados da Diretoria de Biodiversidade e Áreas Protegidas – DIBAP/INEA foram abertos 58
procedimentos administrativos para criação de RPPN, totalizando 2.207 ha de áreas prote-
gidas.

Nas Regiões Norte e Noroeste do Estado, apenas uma RPPN estadual foi criada até o mo-
mento, a RPPN Boa Vista e Pharol, localizada em Santo Antônio de Pádua, com 8 ha de
extensão. Entretanto, há outras em análise, sendo 4 em Varre-Sai, 1em São Fidélis e 1 em
Conceição de Macabu.

Um ponto importante para o sucesso do Programa Estadual de RPPNs foi o Termo d e Co-
operação Técnica, TCT, firmado em 2008, entre o IEF/RJ e a Associação do Patrimônio Na-
tural, APN, sociedade civil que congrega os proprietários de RPPNs do Estado, visando a-
poiar a implantação desse Programa (Guagliardi, 2009).

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 379


Atualmente, a APN vem atuando em um movimento de criação de leis municipais de incenti-
vo à criação de RPPNs no noroeste fluminense. O município de Miracema criou o Decreto
n° 169, de 13 de agosto de 2009, que estabelece cri térios e procedimentos administrativos
para a criação de RPPNs, além de estímulos e incentivos para sua implementação.

O município de Natividade, segundo técnicos da Municipalidade, também possui um Projeto


de Lei para incentivar a criação de RPPNs e destinar parte do ICMS Ecológico arrecadado
pelo Município aos proprietários dessas unidades de conservação.

De acordo com Guagliardi (2009), está sendo elaborado um TCT, entre o INEA e a Associa-
ção Mico-Leão- Dourado, o Instituto Terra de Preservação Ambiental e o Instituto BioAtlânti-
ca. O referido TCT objetiva apoiar a criação de RPPNs estaduais mediante a adoção de
ações específicas para este fim. Para tanto, a cláusula primeira do TCT estabeleceu a meta
de atingir 10 (dez) mil hectares de RPPNs estaduais efetivamente criadas, no período de 2
(dois) anos.

3.3 Propostas de Criação de Unidades de Conservação

Com o intuito de atender sugestões e demandas encaminhadas pela sociedade civil organi-
zada e assegurar a conservação da diversidade biológica e dos recursos naturais, o INEA
contratou a execução de estudos para implantação ou ampliação de UCs no Estado do Rio
de Janeiro. Tais estudos foram publicados em fevereiro de 2009.

Os estudos que contemplam as Regiões Norte e Noroeste fluminense são:

• Justificativa de Ampliação do Parque Estadual do Desengano;


• Justificativa de Criação do Parque Estadual da Serra do Monte Verde;
• Justificativa de Criação da Reserva de Fauna do Domínio das Ilhas Fluviais do Rio Paraí-
ba do Sul.

Além dos estudos citados, a implantação do Parque Estadual de Gruçaí encontra-se em


estágio avançado, segundo o INEA. O estudo de demarcação da área já foi finalizado e se-
rão realizadas audiências públicas em São João da Barra e Campos dos Goytacazes antes
da assinatura do governador para a criação do parque.

O Parque Estadual de Gruçaí será o maior parque de restinga do mundo, com cerca de
19.000 hectares de extensão. Essa unidade de conservação vem a ser implantada com o
intuito de preservar e conservar áreas úmidas e de restinga que poderiam vir a ser degrada-
das com a implantação do Parque Industrial em São João da Barra. A unidade de conserva-
ção será formada por dois setores, situados no entorno do parque industrial, sendo estes, o
Setor Sul, com 9.760,73 hectares e o Setor Norte, abrangendo 9137 hectares.

4. ÁREA LITORÂNEA

A Região Norte do Estado do Rio de Janeiro é composta pelos municípios de Campos dos
Goytacazes, Carapebus, Cardoso Moreira, Conceição de Macabu, Macaé, Quissamã, São
Fidélis, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra. Segundo Esteves et al. (2002),
essa Região apresenta área total de 12.340 km2 e população de aproximadamente 654.000
habitantes. Os municípios pertencentes à área litorânea são: Macaé, Carapebus, Campos
dos Goytacazes, Quissamã, São João da Barra e Francisco de Itabapoana.

380 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


De acordo com Esteves et alii (2002), as planícies litorâneas estão associadas a cordões
litorâneos paralelos a linha de praia, conseqüência da alteração do nível do oceano. Esses
cordões arenosos formam um grande mosaico de ecossistemas associados a diferentes
tipos de vegetação e presença de lagoas nas depressões entre os cordões. Este cenário
ocorre devido ao resultado de fatores ambientais locais, tais como topografia, proximidade
do mar, condições climáticas e dos solos.

O Norte Fluminense apresenta uma extensa área de restinga com cerca de 300 km2. As
peculiaridades físicas e biológicas dessa Região foram reconhecidas, em 1992, pela U-
NESCO como reserva da biosfera, através da criação do Parque Nacional de Jurubatiba em
29 de abril de 1998. Abrangendo cerca de 14.860 há a primeira Unidade de Conservação
Federal em restingas, abrange parte dos municípios de Macaé, Quissamã e Carapebus.

Além das restingas e lagoas dominantes na costa da Região Norte do Estado do Rio de Há-
neiro encontra-se também o manguezal, considerado um ecossistema de grande importân-
cia ecológica. De acordo com Bernini (2003), os mangues localizam-se intercalados entre as
faixas arenosas e terrenos superficialmente argilosos, podendo ser observados nos municí-
pios de São João da Barra e São Francisco do Itabapoana.

Bernini (2003), classifica o manguezal do estuário do rio Paraíba do Sul como o maior da
Região Norte Fluminense, com aproximadamente 800 há, cuja floresta é constituída predo-
minantemente por Avicennia germinans, Laguncularia racemosa e Rhyzophora mangle. Este
manguezal tem sido alvo de reqüentes ações de degradação, como atividade extrativista,
invasão pela pecuária, urbanização, obras de drenagem efetuadas no canal principal e aber-
tura de novos canais. Há ainda a caça predatória do caranguejo Ucides cordatus mediante a
disposição de pequenas redes nas bocas das galerias, prática que não distingue macho de
fêmea, ou mesmo o adulto do jovem, desequilibrando as populações da espécie.

4.1 Aspectos Naturais

De acordo com FIDERJ (1977) apud Seeliger et al. (2002) o clima da área litorânea é carac-
terizado como quente e úmido nas áreas de baixada. A temperatura média mínima é de
18,7ºC com mínima absoluta de 6,4ºC para o período entre os anos de 1931 a 1970. A tem-
peratura máxima média para esse mesmo período é de 27,7ºC sendo a máxima absoluta de
39ºC.

De acordo com Esteves (1998), na planície costeira predominam rochas do embasamento


cristalino datadas do Pré-Cambriano, que por sua vez foram invadidos pelo mar, formando
numerosas lagunas. A ingressão máxima do mar foi demarcada por uma linha de falésias
entalhada nos sedimentos da Formação Barreiras. Entretanto, ocorreu na área litorânea um
rebaixamento do nível do mar verificando-se a construção de terraços arenosos recobertos
por cordões litorâneos.

Assim, os cordões litorâneos são classificados do ponto de vista geomorfológico como res-
tingas (Fotos seguintes).

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 381


Foto 10 – Região Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, Restingas Associadas aos Sis-
temas Lagunares, nas Proximidades da Praia de São Tomé

Fonte: IBAMA/PETROBRAS, 2004

Foto 11 – Região Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, Restingas Localizadas nas Pro-
ximidades da Praia de São Tomé

Fonte: IBAMA/PETROBRÁS, 2004

Guerra (2008) caracteriza as restingas como faixas paralelas de depósitos sucessivos de


areias, onde é possível identificar lagoas resultantes do represamento de antigas baías, a-
lém de pequeninas lagoas formadas entre as diferentes flechas de areias, dunas resultantes
do trabalho do vento sobre a areia da restinga e formação de barras obliterando a foz de
alguns rios.

382 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Com relação aos solos a planície costeira apresenta solos formados por areias quartzosas
marinhas, associando-se, às vezes aos solos orgânicos, semi-orgânicos, glei-húmicos, dei-
xando clara a influência dos rios também nessa planície (Henriques et al., 1986). No que diz
respeito à fertilidade dos solos a área litorânea apresenta em geral baixa capacidade de
retenção de umidade e terras impróprias para cultura, pastagem ou reflorestamento. Estas
áreas são indicadas para a recreação e como áreas de preservação porque atuam como
proteção natural contra ação erosiva do mar e dos ventos (Esteves et al., 2002).

Nas planícies litorâneas, é comum a presença dos manguezais que, de acordo com Guerra
(2008) são caracterizados como terrenos baixos, junto à costa, sujeitos a inundações das
marés. Esses terrenos são, quase que totalmente, constituídos de vasas (lamas) de depósi-
tos recentes.

As formações nativas de manguezais são encontradas nas embocaduras dos rios Itabapoa-
na, Guaxindiba, Paraíba do Sul e Macaé e nas lagunas de Guriri, de Buena, de Manguinhos,
de Grussaí, de Iquipari e do Açu, na ilha da Carapeba, em Campos dos Goytacazes, e na
Fazenda São Miguel, em Quissamã (Soffiati, 2003).

No que diz respeito às formações fisionômicas e tipos de vegetação ocorrentes na área lito-
rânea, Araújo et al. (1998) apud Esteves et al. (2002) descreveram e as classificaram da
seguinte forma:

Halófitas e psamófitas reptantes localizam-se na faixa de vegetação que tem início junto à
praia. Nesta formação as espécies mais abundantes são: Blutaparon portulacoides, Pani-
cum racemosum e Sporobolus virginius.

A formação localizada pós-praia apresenta fisionomia arbustiva fechada com presença de


vegetação arbustiva lenhosa representada por espécies tais como: Scutia arenicola e Side-
roxylon obtusifolium e herbáceas como Bromelia antacantha e Cereus fernambucensis.

Já a formação Clusia é constituída por moitas densas de variados tamanhos, intercaladas


por espaços de areia com vegetação esparsa onde encontram-se espécies como a Clusia
hilariana e Erythroxylum subsessile.

A formação arbustiva aberta de Ericaceae é dominada por moitas de vários tamanhos e


formatos irregulares, apresentando corredores de vegetação herbácea, densa e esparsa, ou
indivíduos isolados de Allagoptera arenaria. Nas áreas abertas, nota-se predominância de
espécies de Aechmea nudicaulis e Cereus fernambucensis.

A mata que representa a faixa de areia situada entre os cordões arenosos, sujeita a inunda-
ção durante a época das chuvas, em função do afloramento do lençol freático, apresenta
espécies vegetais de vegetação arbórea, arbustiva, palmitos e palmeiras.

Já na mata do cordão arenoso, são encontradas espécies do tipo Eriotheca pentaphylla,


Aspidosperma parvifolium, Couepia schottii, dentre outras. Esta mata forma um rico estrato
arbóreo e vem sofrendo evidentes sinais de ação antrópica pelo resultado da atividade ma-
dereira.

A formação arbustiva aberta de Palmae situa-se na região pós-praia ou onde o extrato arbó-
reo foi removido. Nesta formação, é possível identificar espécies como a palmeira Allagopte-
ra arenaria, dentre um total de aproximadamente 69 espécies.

A formação típica das áreas marginais e braços das lagoas é constituída por herbácea bre-
josa. As espécies mais encontradas são Cladium jamaicense, Sagttaria lanciofolia, Typha
domingensis e algumas gramíneas.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 383
No que diz respeito à bacia da Lagoa Feia, a vegetação nativa é formada por ilhas de matas
e grandes extensões de campos periodicamente inundados. As matas, campos e florestas
formavam um mosaico com os lagos e terrenos alagados. As florestas eram constituídas
por uma vegetação herbácea de gramíneas, ciperáceas e outras ervas.

4.2 Lagoas Costeiras

Como dito anteriormente, a área litorânea da região Norte do Rio de Janeiro apresenta di-
versas lagoas e lagunas situadas em praticamente toda a extensão costeira, da foz do rio
Macaé até a foz do rio Itabapoana.

Segundo Bidegain et al. (2002), esses sistemas lagunares são resultantes de um movimento
oceânico de avanço e retrocesso datado de 5.100 anos atrás. A elevação do nível do mar
constituiu ilhas-barreiras, isolando antigos terraços marinhos do contato direto com o mar
aberto. Surgiram então lagunas, atrás do cordão de ilhas-barreiras. O rebaixamento do nível
relativo do mar ensejou a construção de novos terraços marinhos a partir das ilhas-barreiras,
verificando-se a transformação das lagunas em lagos de água doce.

Soffiati (1998) classifica os sistemas lagunares do Norte Fluminense em três categorias. A


primeira engloba as lagoas de tabuleiro, no geral cursos d’água barrados pelos transborda-
mentos periódicos dos rios coletores (particularmente o Muriaé e o Paraíba do Sul) ou por
cordões de restinga. Algumas das principais lagoas desta região são as da Onça (entre o
tabuleiro e o planalto), do Vigário, do Taquaruçu e de Cima.

O segundo conjunto é o constituído pela lagoas da planície aluvial. A maior de todas é a


celebrada Lagoa Feia, em parte formada por restinga.

O terceiro conjunto consiste nas lagoas da planície de restinga, com destaque para as de
Imboacica, de Jurubatiba, de Carapebus, de Iquipari, de Grussaí, e do Campelo (esta no
encontro da restinga com o tabuleiro).

Durante anos, estas lagoas vem sofrendo diversas intervenções humanas que tem diminuí-
do seus espelhos d’água, modificado a hidrodinâmica do sistema lagunar e alterado a quali-
dade das águas.

Especificamente, as lagoas da bacia hidrográfica da Lagoa Feia, são historicamente alvo de


estudos e intervenções visando reduzir as cheias para favorecer a expansão agrícola, bem
como evitar perdas econômicas causadas pelas inundações. Segundo Bidegain et al. (2002)
a eliminação dos locais do mosquito transmissor da malária também era um dos motivos
alegados para as obras de drenagem.

Diversas lagoas foram totalmente dessecadas a partir das obras de drenagem realizadas na
região. Não fosse a drenagem sistemática empreendida pelas iniciativas pública e privada a
partir do século XIX, a verdadeira Região dos Lagos do Estado do Rio de Janeiro seria a
Norte Fluminense (Serla, 1995 apud Soffiati, 1998).

Soffiati (1998) relata que todas as outras que sobraram também sofreram drásticas redu-
ções em seus espelhos e lâminas d’água por drenagem e por invasão de seus leitos por
proprietários, com a complacência do DNOS.

Os proprietários marginais constroem diques na zona litorânea para aumentar sua área de
cultivo, destruindo nichos situados em águas rasas, sob intensa insolação, onde ocorre a

384 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


reprodução de espécies aquáticas. A Lagoa Feia teve suas dimensões estimadas em 370
km², em 1898, e 335 km², em 1935. Atualmente as estimativas são de que a sua superfície
ocupe uma área de 170 km².

Além disso, a retificação e dragagem dos canais afluentes das lagoas causam assoreamen-
to em todo o sistema, diminuindo as suas profundidades.

O lançamento de esgoto in natura afeta diretamente a qualidade das águas nas lagoas ur-
banas. Segundo Bidegain et al. (2002), as mais afetadas são as lagoas do Lagamar, de Fo-
ra, da Vassoura, do Russo, Ostra de Fora, Ostra do Farol, Terceira Grande, do Vigário, do
Taquaruçu, do Comércio, da Taboa e do Meio. A Lagoa Feia recebe efluentes domésticos e
industriais, sem tratamento, de Campos dos Goytacazes pelo canal de Tocos.

Os efluentes gerados pelas usinas e destilarias de cana-de-açúcar e álcool também contri-


buem para a contaminação dos corpos lagunares da Região.

4.3 Degradação Ambiental

A urbanização vem se intensificando na faixa costeira ameaçando os ecossistemas de res-


tingas, lagunas e praias rochosas e arenosas.

A cidade de Macaé se expande desordenadamente, avançando pelas restingas e ameaçan-


do ecossistemas locais, sejam eles protegidos (como o Parque Nacional de Jurubatiba), ou
não-protegidos (Bergallo et al., 2009).

No município de São Francisco do Itabapoana, a atividade agrícola foi responsável pela re-
moção de grande parte do revestimento vegetal nativo de restinga e manguezais. Segundo
Soffiati (s.d.), a partir da década de 1930, o Governo Federal começou a lavrar terras raras e
até hoje, essa é a atividade mais impactante, do ponto de vista ambiental, no Município.

Alguns grandes empreendimentos, como o Porto de Açu estão sendo construídos no litoral
Norte. As obras de implantação do Porto geram cerca de dez mil empregos e, quando em
operação, serão criados em torno de três mil empregos diretos e indiretos. Por se tratar de
uma obra de grande porte, vários impactos ambientais estão previstos em decorrência de
sua implantação e uma pressão muito alta deve ser exercida sobre a região. Segundo Ber-
gallo et al. (2009), os ecossistemas de praia e de restinga deverão ser bastante impactados.
As obras de dragagem também são preocupantes devido à remoção de sedimentos e bio-
turbação associada.

Em toda a extensão das terras baixas da Região Norte Fluminense observa-se a ocorrência
de diversas atividades antrópicas, tais como extrativismo vegetal, pecuária extensiva, agri-
cultura canavieira, culturas de mandioca, algodão, feijão, fábricas de açúcar e aguardente.

A derrubada de matas estacionais, o cultivo dos campos nativos, a remoção de vegetação


de restingas e o corte de manguezais, também são comuns de serem observadas na região
litorânea do Norte Fluminense.

O ecossistema na área litorânea incluindo as restingas, lagoas e manguezais tem sofrido


diversas alterações, principalmente devido a ação humana. Dentre as ações que contribuem
para degradação do meio ambiente encontram-se: a derrubada de árvores, crescimento
urbano desordenado, aumento da exploração dos recursos naturais, habitações irregulares
próxima ao limite do Parque Nacional de Jurubatiba, ausência de saneamento básico, incor-
reta destinação final para os resíduos sólidos, atividades industriais, dentre outras.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 385


A derrubada de porções de mata para uso agropecuário como lenha, madeira de constru-
ção, bem como o crescimento desordenado junto à área do Parque Nacional da Restinga de
Jurubatiba causou um aumento na exploração dos recursos naturais e, consequentemente,
um aumento na pressão antrópica geradora de inúmeras formas de degradação. Uma das
formas de degradação é observada na lagoa Imboacica, situada no município de Macaé a
qual se encontra em processo acelerado de assoreamento e eutrofização (Esteves et al.,
2002)

De acordo com Esteves et al. (2002) o número de habitações irregulares próximas ao limite
geográfico do Parque Nacional Restingas de Jurubatiba cresceu significativamente nos últi-
mos anos, sem o necessário processo de urbanização. Assim, devido à ausência de rede
coletora de esgotos, um dos impactos que o Parque está sujeito é a contaminação do lençol
freático e deterioração da qualidade das águas devido ao lançamento in natura dos efluen-
tes no solo e nos cursos d’água.

Esteves et al., (2002) propõe, como uma das formas de solucionar ou mitigar os impactos
descritos sobre as restingas, a implantação de estações de tratamento de esgotos e execu-
ção de programas educacionais desenvolvidos junto às comunidades.

Foto 12 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Parque Nacional de Jurubatiba

Fonte: RIONOR

4.4 Gerenciamento Costeiro

O Estado do Rio de Janeiro, por intermédio do INEA, tem participado do Programa Nacional
de Gerenciamento Costeiro, PNGC, instituído pela Lei Federal n° 7.661, de 16/05/88.

De acordo com a subdivisão adotada pelo INEA, o Litoral Norte é identificado como Setor
Costeiro 4.

Os principais instrumentos de gestão do PNGC são: o Plano Estadual de Gerenciamento


Costeiro, PEGC, o Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro, PMGC, o Zoneamento Eco-
lógico-Econômico Costeiro, ZEEC, e o Plano de Gestão da Zona Costeira.

386 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Em âmbito regional, o Plano Estadual de Gestão Costeira encontra-se em fase preliminar,
uma vez que a Lei Federal nº 7.667/88 determina que o mesmo seja instituído através de lei
e ainda não há, no Estado do Rio de Janeiro, lei neste sentido.
O município de Campos dos Goytacazes pretende ser o pioneiro no litoral norte a elaborar o
Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro.
Algumas das principais realizações do Gerenciamento Costeiro do Estado do Rio de Janeiro
– GERCO/RJ que influenciaram o setor 4 são:
• Elaboração de uma proposta de Plano de Gestão para a Zona Costeira;
• Elaboração do Macrozoneamento do Litoral Norte (parcial);
• Implantação do Sistema de Informações para o Gerenciamento.
4.5 Convenção RAMSAR

A convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, Convenção de RAMSAR,


considera fundamentais as funções ecológicas das zonas úmidas, enquanto reguladoras
dos regimes de água e enquanto habitat de uma flora e fauna características, sendo estes
constituintes de recurso de grande valor econômico, cultural, científico e recreativo, cuja
perda seria irreparável. Assim, deve-se assumir a obrigação de promover a conservação e
proteção adequada de tais áreas e de sua flora e fauna, por ações locais, regionais, nacio-
nais e internacionais.

Em uma parceria firmada entre o INEA, a Universidade Estadual do Norte Fluminense e o


Instituto Terra de Preservação Ambiental foi realizado um estudo de forma a contribuir para
a conservação do conjunto de zonas úmidas localizadas no litoral norte do Estado do Rio de
Janeiro, incluindo-as na Convenção RAMSAR.

As atividades envolveram a identificação das áreas úmidas no Norte Fluminense, de acordo


com os critérios da Convenção para a conservação de ambientes úmidos, elaborando do-
cumentação técnica para fundamentar a proposta de inclusão. A área objeto deste projeto
inclui o trecho entre o Rio Itabapoana e o Rio das Ostras (Instituto Terra, 2010).

Os resultados obtidos foram a identificação de áreas úmida de acordo com os critérios esta-
belecidos pela Convenção RAMSAR; a documentação técnica de lagoas, lagunas, brejos,
mangues, meandros de rios e manguezais; e um relatório final com proposta de inclusão da
área na Convenção.

5. O PATRIMÔNIO NATURAL

Inserido no bioma de Mata Atlântica, com montanhas e baixadas, entre o Oceano Atlântico e
a Serra da Mantiqueira, o Estado do Rio de Janeiro possui uma das mais diversificadas pai-
sagens, com escarpas elevadas à beira-mar, florestas tropicais, restingas, lagunas e baías
(Whately, 2003).

Graças a essa diversidade natural, o Estado possui uma condição turística privilegiada, ofe-
recendo à população e aos turistas diversas opções de turismo ecológico, destacando os
esportes de aventura, tais como “surfe, windsurfe, rapel”, escalada, parapente, “rafting”, ba-
lonismo, “trekking, passeios a cavalo ou a barco, pesca e banhos de cachoeira. Além de
todas estas atividades, é possível também a realização de observações astronômica ou de
fauna e flora e a prática dos turismos rural, fotográfico e esotérico.

As praias da Região Norte Fluminense (aproximadamente 180 km) são fortes atrativos turís-
ticos, devido às suas belezas e programação cultural diversificada durante o período de fé-
rias que atrai diversos turistas para a região. Além de propícias aos banhos, em algumas
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 387
praias são desenvolvidas competições esportivas, como por exemplo, o surfe, windsurfe e
barco a vela na praia de Grussaí, em São João da Barra.

Dentre essas praias, algumas apresentam particularidades. A praia do Chapéu do Sol, em


São João da Barra, é considerada um ambiente naturalmente energizado, reconhecido in-
clusive pelo famoso médium Chico Xavier, o que estimularia a cura de doentes e aparições
de Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs).

A praia dos Cavaleiros, em Macaé, é a mais procurada pelos moradores do Município e tu-
ristas, devido a sua grande beleza natural. Sua orla é repleta de bares e restaurantes, o mar
é bravo, de águas frias e infinitamente azuis, onde é possível praticar surfe. Realiza-se pes-
ca de mergulho em seus costões, contando com a presença de aves e animais marinhos.
Devido a tamanha beleza, essa praia é conhecida como a “Copacabana macaense”.

Já em São Francisco de Itabapoana, a praia de Atafona é banhada por um mar com alta
concentração de iodo e seu clima é considerado medicinal, além disso, é um local ideal para
a realização de turismo ecológico e de aventura.

No litoral Norte Fluminense é possível localizar ainda o Arquipélago de Sant’Anna, localiza-


do a 8 km da costa, no litoral macaense (Foto seguinte). O arquipélago é composto pelas
ilhas de Sant’Anna, do Francês, Ponta das Cavalas e Ilhote do Sul. A maior parte dessas
ilhas é coberta por mata tropical e formações rochosas. Essas ilhas são consideradas um
santuário ecológico, servindo de local de desova para colônias de gaivotas e outras aves,
que segundo a Municipalidade de Macaé (s.d.), são oriundas da América do Norte, e reali-
zam a migração no período de inverno no hemisfério norte.

Os maiores atrativos do arquipélago são o Farol de Sant’Anna, localizado na Ilha de


Sant’Anna, os rochedos presentes ao norte e leste da Ilha do Francês (onde é possível rea-
lizar pesca submarina) e as duas praias, uma em cada uma das ilhas, de areia fina e clara.

Foto 13 – Região Norte Fluminense, Macaé, Arquipélago de Sant’Anna

Fonte: Macaé Convention & Visitors Bureau


388 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Acompanhando as praias, as lagoas costeiras da região que vai de Macaé até Campos dos
Goytacazes, também atraem vários visitantes, devido à beleza de suas formações e às ati-
vidades que oferecem, destacando a pesca, áreas de “camping” e esportes náuticos.

A Lagoa Feia (Foto seguinte), nome que não corresponde a sua imensa beleza, está locali-
zada entre os municípios de Quissamã e Campos dos Goytacazes. Considerada o Pantanal
da Costa Doce, é a maior lagoa do Estado do Rio de Janeiro e segunda maior lagoa do Bra-
sil, medindo aproximadamente 170 km².

Sua água é doce, morna e escura, formando ao seu redor praias que são utilizadas para
camping e banhos, sendo que para tal atividade, a porção sul da Lagoa, denominada como
Enseada do Tatu, apresenta as melhores condições.

Foto 14 – Região Norte Fluminense, Quissamã, Lagoa Feia

Fonte: Prefeitura Municipal de Quissamã


A Lagoa Feia é ideal para a pratica do windsurfe, devido à força constante dos ventos. Se-
gundo a Prefeitura Municipal de Quissamã (2009), campeonatos desse esporte eram dispu-
tados na lagoa, o que atraía uma grande quantidade de visitantes

Destaca-se, ainda na região, o Parque Nacional de Jurubatiba, criado em 1998, que protege
uma área de 14.000 ha de restinga, abrangendo os municípios de Macaé, Carapebus e
Quissamã.

O Parque é formado por 12 lagoas costeiras, delimitadas por 31 km de braços de areia, a-


lém de inúmeros brejos. Vários animais vivem no Parque, como por exemplo, jacarés, capi-
varas, tatus, lontras, tamanduás-mirins entre outros.

Em relação à flora, é possível encontrar vestígios de vegetação tanto do sertão nordestino


quanto da Floresta Amazônica. Espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção são en-
contradas no interior do Parque, o qual foi reconhecido pela UNESCO, em 1992, como Re-
serva da Biosfera.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 389


Atualmente o Parque é administrado pelo IBAMA, sendo que a visitação aos turistas é per-
mitida.

Foto 15 – Região Norte Fluminense, Municípios de Macaé, Carapebus, Quissamã, Lagoa de


Jurubatiba, Parque Nacional das Restingas de Jurubatiba

Fonte: Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba

Na porção interiorana do Estado, as cachoeiras, picos e montanhas tomam conta da paisa-


gem, tornado-se os principais patrimônios naturais e atrativos turísticos da região. Esses
locais são bastante procurados para a prática do turismo de aventura.

O Parque Estadual do Desengano é uma dos principais patrimônios naturais da região nor-
te-noroeste do Rio de Janeiro. O relevo do Parque se caracteriza por cristas de topos agu-
çados, pães de açúcar, morros, pontões, escarpas com até 75 graus de inclinação e pata-
mares escalonados. Na paisagem sobressaem o Pico do Desengano, com altitude de 1.761
metros, o Pico São Mateus, com 1.576 metros, e a Pedra Agulha, com 1.080 metros.

A Cordilheira Aymorés compõe uma região de enorme beleza cênica, com grande biodiver-
sidade e recursos hídricos abundantes. Essa cadeia montanhosa está localizada parcial-
mente nos municípios de Macaé, Conceição de Macabu e Trajano de Moraes, numa área
extensa de extrema importância no que diz respeito a corredores ecológicos, a conservação
e a preservação de espécies da fauna e da flora criticamente ameaçadas de extinção, pre-
servação e recuperação de mananciais hídricos. A região possui um enorme potencial para
o desenvolvimento rural sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental, com
perspectivas para criação de Unidades de Conservação de Uso Sustentável e de Proteção
Integral.

390 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Foto 16 – Região Norte Fluminense, Municípios de Macaé e Conceição de Macabu, Cordilheiras
Aymorés

Fonte: ASEMA, 2010

Dentre as inúmeras cachoeiras presentes na região, algumas se destacam devido a sua


grande beleza. Em Bom Jesus do Itabapoana (s.d.), a cachoeira de Rosal, localizada no rio
Itabapoana entre a Serra do Bálsamo (RJ) e a Serra do Cachoeirão (ES), merece relevân-
cia, sendo essa considerada a mais bela queda d’água do município, medindo aproximada-
mente 80 m. de altura. No entanto, com a construção da Usina Hidrelétrica de Rosal, a ca-
choeira vem perdendo volume de água, diminuindo assim a sua queda d’água. Em Cambu-
ci, a cachoeira do Parque, devido à sua beleza e seu entorno arborizado, acabou se tornan-
do um grande atrativo municipal. Um parque com toda infra-estrutura para receber visitantes
foi construído, aliando a exploração comercial e a preservação desse bem natural. A cacho-
eira do Parque, de 22 m. de altura, é composta de três saltos principais e cai como um véu
de noiva. A cachoeira do Conde, localizada no rio Santo Antônio, no município de Miracema,
não é propícia ao banho, por causa da poluição de suas águas, porém, ainda assim merece
destaque, devido a sua extrema beleza. A cachoeira possui pequenas quedas d’água, pisci-
nas e escorregas, sendo que o escorrega principal possui 70 m. de altura e 3 m. de largura,
passando por baixo de uma enorme árvore antiga com grandes raízes. Árvores enormes
dominam a área da cachoeira, com seus galhos quase tocando o solo, sustentando ainda
várias plantas parasitas, que contribuem na composição da paisagem. Esse emaranhado de
galhos obriga os visitantes a desviarem seus caminhos constantemente. Os raios solares
dificilmente ultrapassam as copas dessas árvores. O Domínio das Ilhas Fluviais do Rio Pa-
raíba do Sul é uma região que concentra uma significativa riqueza de espécies de fauna e
flora.

As Ilhas Fluviais estão situadas no último trecho do curso médio inferior do Rio Paraíba do
Sul, com cerca de 90 km ao longo dos municípios de Cantagalo, Aperibé, Cambuci e São
Fidélis, além de parte do rio Pomba, em Santo Antônio de Pádua, abrangendo cerca de 60
ha, envolvendo o arquipélago e as margens (APP) dos Rios Paraíba do Sul e Pomba (Cam-
phora, 2009 b). Segundo Camphora (2009 b), a importância ecológica conferida ao domínio
das Ilhas Fluviais deve-se ao fenômeno de regulação da vazão hídrica do rio, através das
sinuosidades proporcionadas pela formação das ilhas, e pela cobertura vegetal singular que
decorre da interação entre os solos, o clima e a disponibilidade hídrica subterrânea, a mata
ciliar, que abriga espécies da fauna e flora ameaçadas.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 391
Foto 17 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Municípios de Aperibé, Cambuci, São Fidélis
e Santo Antônio de Pádua, Ilhas Fluviais

Fonte: IBAMA/PETROBRAS, 2004

Na divisa de Minas Gerias com o Rio de Janeiro, no município de Porciúncula, está a ca-
choeira de Três Tombos, sendo esta a mais imponente da região, com queda d’água de 75
m. de altura. Suas águas são limpas e frias e descem a cachoeira em grande volume, fato
este, que permite banhos somente 100 m. após a queda d’água. Á área da cachoeira é re-
pleta de árvores de médio a grande porte. Nas proximidades ainda é possível identificar o
prédio da usina hidrelétrica de Tombos, construído em 1922, em estilo neoclássico, além de
uma casa em ruínas, que ajudam a compor a paisagem.

Em Varre-Sai, no rio Prata, está a cachoeira Pedro Dutra, com 100 m. de extensão e pisci-
nas de águas cristalinas esculpidas nas pedras pela força de suas águas. Em sua margem
direita, predomina a presença de vegetação rasteira e gramíneas, já na margem esquerda, a
vegetação é de médio a grande porte, com bambus, embaúbas, palmitos e angicos. Segun-
do a Municipalidade de Varre-Sai (s.d.), a cachoeira Pedro Dutra é um grande atrativo na
região, recebendo turistas durante todas as épocas do ano.

A cachoeira Pedra Rasa, localizada no município de São Fidélis, é uma das cachoeiras mais
belas e maiores (queda de aproximadamente 80 m.) da região, segundo a Prefeitura Muni-
cipal de São Fidélis (2009). Essa cachoeira é ideal para a pratica de “rapel” e alpinismo, a-
lém de banhos, proporcionados pelas diversas piscinas naturais formadas ao longo do leito
do rio.

O rio Valão do Fura Olho, que nasce em Campos, banha o poço Trinta Palmos, em Cardoso
Moreira, que passa por um curioso fenômeno: no período de cheias da nascente do seu rio.
As águas acumuladas na nascente demoram aproximadamente 12 horas para atingir o poço
Trinta Palmos, sendo assim, os efeitos das chuvas em Campos são percebidos somente
horas depois. A água chega com força ao poço, enchendo-o, aumentando o seu volume até
rodopiar e posteriormente seguir rio abaixo. Esse fenômeno dura aproximadamente 40 mi-
nutos, tornando o poço Trinta Palmos um grande atrativo na região.

Dentre as diversas formações montanhosas do Norte e Noroeste fluminense, algumas des-


tacam-se, seja pela beleza, altura ou exploração comercial/turística. Dentre essas, algumas
são citadas abaixo.

392 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


A Pedra da Elefantina possui 992 m. de altura e encontra-se no município de Porciúncula. A
rocha recebe esse nome devido a grande semelhante com um elefante deitado, tanto pela
imensidão quanto pelos traços físicos, sendo que é possível identificar uma tromba, uma
boca (grande ranhura na rocha) e os olhos (duas cavernas). Uma estrada contorna toda a
rocha, e para completá-la demora-se aproximadamente 40 min. Do mirante, com altura a-
proximada de 700 m., vislumbra-se uma bela paisagem, que alcança os estados de Minas
Gerais e Espírito Santo.

Em Natividade, destaca-se o Pico Cabo Frio, 810 m. acima do nível do mar. O pico é ade-
quado para escaladas e caminhadas, sendo que no seu topo tem-se uma bela visão do Cris-
to Redentor de Itaperuna e do Pico do Caparaó (MG). Devido à amplitude do Pico Cabo
Frio, o seu topo torna-se propício para a prática de asa-delta.
As Serras da Ventania de Baixo e de Cima, em Miracema, são interligadas por uma estrada
de terra.
Ao longo desse trajeto, o visitante depara-se com belíssimas paisagens, composta por mata
fechada e alguns atrativos, como por exemplo, uma queda d’água de aproximadamente 170
m. de altura, onde a água corre pelo paredão rochoso, ou então, um imenso açude localiza-
do dentro da fazenda Brejo Grande. Seguindo em direção à Serra da Ventania de Cima, é
possível avistar na paisagem fazendas de plantação de café e arroz, além do gado que po-
de estar na estrada.
Em Cardoso Moreira encontra-se a serra do Sapateiro, sendo esta um remanescente de
Mata Atlântica e refúgio de alguns animais. No alto da serra há um lago de aproximadamen-
te 2 m. de profundidade, que pode ser alcançado através de escalada.
A região de Bela Joana, em Campos dos Goytacazes, possui diversos atrativos naturais,
tais como, alguns trechos de remanescentes de Mata Atlântica, belas cachoeiras, monta-
nhas e riachos. O rio Bela Joana possui aproximadamente 18 km de extensão e suas águas
são cristalinas e próprias para o consumo, além ser propício para atividades recreativas.

Dentre as montanhas, destaca-se o pico Peito de Moça, com 700 m. de altitude, que se as-
semelha ao Pão de Açúcar da cidade do Rio de Janeiro. A cachoeira Pedra Rasa, com que-
da d’água de aproximadamente 80 m. de altura é uma das mais belas e maiores da região,
propiciando a pratica de rapel e alpinismo, além de formar várias piscinas naturais ideais
para banhos.
6. RECURSOS HÍDRICOS

As Regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro apresentam boa disponibilidade


de recursos hídricos, sendo os rios federais Paraíba do Sul, Pomba, Muriaé, Carangola e
Itabapoana, além do rio Macaé, os principais rios da Região.
Devido à necessidade de abastecimento de água, tanto para consumo humano e/ou animal,
a maioria das áreas urbanas dos municípios dessas regiões está situada às margens dos
rios.
O desenvolvimento e prosperidade das Regiões Norte e Noroeste como um todo depende
da preservação, conservação e recuperação desses corpos d’água e seus afluentes.
O diagnóstico situacional dos recursos hídricos é necessário para que se possa identificar
as principais fragilidades e potencialidades do sistema hidrográfico local e a partir deste,
propor ações e programas eficientes para a gestão dos recursos hídricos.

6.1 Regiões Hidrográficas

O território do Rio de Janeiro, para fins de gestão dos recursos hídricos, encontra-se subdi-
vidido em 10 (dez) Regiões Hidrográficas (RH’s).

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 393


Esta divisão foi aprovada pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos, através da Resolu-
ção/CERHI-RJ Nº 18 (08/11/2006) e tem por objetivo facilitar a gestão deste importante re-
curso natural e otimizar a aplicação dos recursos financeiros arrecadados com a cobrança
pelo uso da água em cada região (INEA, 2010 a)
As regiões Norte e Noroeste abrangem quatro regiões hidrográficas, sendo estas:
• RH – VII: Rio Dois Rios;
• RH – VIII: Região Hidrográfica Macaé e das Ostras;
• RH – IX: Região Hidrográfica Baixo Paraíba do Sul, e
• RH – X: Região Hidrográfica Itabapoana.
A Tabela seguinte, apresenta as regiões hidrográficas da área de estudo com os respectivos
municípios e bacias hidrográficas neles compreendidas.
Tabela 5 – Regiões Hidrográficas Compreendidas na Área de Estudo
Regiões Hidrográficas Municípios Principais Bacias Hidrográficas
Total: Bom Jardim, Duas Barras,
Cordeiro, Macuco, Cantagalo, Bacia do Rio Negro e Dois Rios, Córre-
Itaocara, São Sebastião do Alto; go do Tanque e Adjacentes, Bacia da
RH-VII Rio Dois Rios
Parcialmente: Nova Friburgo, Margem Direita do Médio Inferior do
Trajano de Moraes, Santa Maria Paraíba do Sul
Madalena, São Fidélis.
Total: Rio das Ostras. Parcial-
RH- VIII Macaé e das Bacia do Jundiá, Bacia do Macaé e
mente: Nova Friburbo, Casimiro
Ostras Bacia do Imboacica
de Abreu, Macaé.
Bacia do Muriaé, Bacia do Pomba, Ba-
cia do Pirapetinga, Bacia do Córrego do
Total: Quissamã, São João da
Novato e Adjacentes, Pequenas Bacias
Barra, Cardoso Moreira, Italva,
da Margem Esquerda do Baixo Paraíba
Cambuci, Itaperuna, São José de
do Sul, Bacia do Jacaré, Bacia do Cam-
Ubá, Aperibé, Santo Antônio de
pelo, Bacia do Cacimbas, Bacia do Muri-
Pádua, Natividade, Miracema,
tiba, Bacia do Coutinho, Bacia do Grus-
RH- IX Baixo Paraíba do Laje do Muriaé. Parcialmente:
saí, Bacia do Iquipari, Bacia do Açu,
Sul Trajano de Morais, Conceição de
Bacia do Pau Fincado, Bacia do Nico-
Macabu, Carapebus, Macaé,
lau, Bacia do Preto, Bacia do Preto Uru-
Santa Maria Madalena, São
raí, Bacia do Pernambuco, Bacia do
Francisco do Itabapoana, Cam-
Imbé, Bacia do Córrego do Imbé, Bacia
pos dos Goytacazes, São Fidélis,
do Prata, Bacia do Macabu, Bacia do
Porciúncula, Varre-Sai
São Miguel, Bacia do Arrozal, Bacia da
Ribeira, Bacia do Carapebus.
Total: Bom Jesus do Itabapoana.
Bacia do Itabapoana, Bacia do Guaxin-
Parcialmente: Porciúncula, Cam-
RH- X Itabapoana diba, Bacia do Buena, Bacia do Baixa
pos dos Goytacazes, Varre-Sai,
do Arroz, Bacia do Guriri
São Francisco de Itabapoana
Fonte: RIO DE JANEIRO, 2006
As Regiões Hidrográficas Rio Dois Rios (RH-VII) e Macaé e das Ostras (RH-VIII) estão par-
cialmente inseridas na área de abrangência deste estudo.
Na RH-VII apenas os municípios de Itaocara e São Fidélis abrangem essa área, enquanto
na RH-VIII apenas o município de Macaé será alvo desse planejamento.
Na Região Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul (RH-IX), todos os municípios, com exceção
de Trajano de Morais e Santa Maria Madalena, correspondem às regiões Norte e Noroeste
do estado. Já a Região Hidrográfica do Itabapoana (RH-X) está totalmente inserida na área
de planejamento.

O Mapa seguinte apresenta as regiões hidrográficas inseridas na área de estudo.


394 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Mapa 5 - Regiões Hidrográficas Inseridas na Área de Estudo

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 395


6.2 Principais Bacias Hidrográficas

As principais bacias hidrográficas localizadas na área de estudo são: a Bacia do rio Paraíba
do Sul, a Bacia do rio Itabapoana, a Bacia do rio Macaé e a Bacia da Lagoa Feia.

Bacia do Rio Paraíba do Sul

A bacia do rio Paraíba do Sul ocupa área de aproximadamente 55.500 km², estendendo-se
pelos estados de São Paulo (13.900 km²), Rio de Janeiro (20.900 km²) e Minas Gerais
(20.700 km²), abrangendo 180 municípios, sendo 88 em Minas Gerais, 53 no Estado do Rio
e 39 no estado de São Paulo. No Rio de Janeiro, a bacia abrange aproximadamente 63% da
área total do Estado.

O rio Paraíba do Sul resulta da confluência, próximo ao município de Paraibuna, dos rios
Paraibuna, cuja nascente é no município de Cunha, e Paraitinga, que nasce no município de
Areias, ambos no estado de São Paulo, a 1.800 m. de altitude, percorrendo 1.150 km até
desaguar no Oceano Atlântico, no norte fluminense, na praia de Atafona no município de
São João da Barra.

Foto 18 – Foz do Rio Paraíba do Sul

Fonte: IBAMA/PETROBRAS, 2004


Os principais afluentes ao rio Paraíba do Sul nas regiões Norte e Noroeste fluminense são:

Pela margem esquerda:

• rio Pomba - rio com 300 km de curso; sua foz está próxima a Itaocara, limite entre os
trechos médio e baixo Paraíba;

• rio Muriaé - rio com 250 km de extensão; o curso inferior, em território fluminense, apre-
senta características de rio de planície.

396 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Pela margem direita:

• rio Dois Rios - formado pela confluência dos rios Negro e Grande.

Bacia do Rio Itabapoana

A bacia hidrográfica do rio Itabapoana possui uma área de drenagem de 3.800 km², e inclui
parcelas dos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. A área da bacia no
Estado do Rio de Janeiro é de 1.520 km², correspondendo a 40% do total, e abrange parte
dos municípios de Porciúncula, Varre-e-Sai, Campos e São João da Barra e integralmente
Bom Jesus de Itabapoana (SEMAD, 2001).

O Rio Itabapoana é resultado da confluência dos rios Preto e Verde, tem um curso de 264
km e deságua no Atlântico entre o lago Marabá e a Ponta das Arraias.

Este rio serve de limite entre os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, desde a conflu-
ência do Rio das Onças. Deste ponto até a foz, tem cerca de 180 km de canal sinuoso, e
forma em seu trajeto as cachoeiras de Santo Antônio, Inferno, Limeira e Fumaça, sendo
esta de 100 m de altura. Os principais afluentes do Rio Itabapoana em território fluminense
são: córrego do Pilão, vala Água Preta, córrego do Juvêncio, córrego do Baú, córrego Santo
Eduardo, córrego Liberdade, córrego Pirapetinga, córrego Lambari, córrego Água Limpa,
córrego Santana, ribeirão Varre- Sai, ribeirão da Onça e ribeirão do Ouro (SEMADS, 2001).

Foto 19 – Região Noroeste Fluminense, Bom Jesus de Itabapoana, Rio Itabapoana

Fonte: Rionor

Bacia do Rio Macaé

A Bacia Hidrográfica do Rio Macaé abrange uma área de drenagem de 1.765 km², sendo
que 82% do seu território está no Município de Macaé. Esta bacia localiza-se na porção les-

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 397


te do Estado do Rio do Janeiro compreendendo os Municípios de Nova Friburgo, Casimiro
de Abreu, Macaé, Rio das Ostras e Conceição do Macabu (FGV, 2004).

O Rio Macaé desenvolve um percurso de 136 km, tendo suas nascentes na Serra de Macaé
de Cima, a 1.560 m de altitude, no Município de Nova Friburgo e flui no sentido leste-
sudeste até desembocar no Oceano Atlântico, junto à Cidade de Macaé. Apresenta muitas
sinuosidades, com leito pedregoso nas regiões rochosas e acidentadas. Nas zonas baixas e
espraiadas, onde o leito se torna arenoso, encontra-se em grande parte retificado. Os seus
principais tributários são os rios Boa Esperança, Bonito, Sana, Ouriço, D’Anta, Purgatório e
São Pedro e os córregos Santiago e Jurumirim (FGV , 2004).

Bacia da Lagoa Feia

A bacia hidrográfica da Lagoa Feia compreende uma superfície com cerca de 2.900 km²,
abrangendo parcialmente os municípios de Carapebus, Quissamã, Conceição de Macabu,
Campos dos Goytacazes, Trajano de Morais, Santa Maria Madalena e São João da Barra.

A bacia hidrográfica é formada pelos rios Ururaí e Macabu e por uma intricada rede de ca-
nais de drenagem e córregos. As águas fluem para a Lagoa Feia e daí para o mar através
do Canal das Flechas, via artificial de escoamento construída pelo DNOS, em 1949, que
possui 12 km de extensão e largura original de 120 m, hoje reduzida devido ao assoreamen-
to (SEMADS, 2001).

6.3 Bacias e Sistemas Hidrográficos - Zoneamento Ecológico Energético (ZEE)-RJ

Nos estudos que subsidiaram a elaboração do Zoneamento Ecológico Econômico do Estado


do Rio de Janeiro (ZEE-RJ) o território fluminense foi subdividido em bacias e sistemas hi-
drográficos. A delimitação teve como base os recortes espaciais de bacias hidrográficas do
nível 4 da Agência Nacional de Águas e as regiões hidrográficas do Estado do Rio de Janei-
ro.
Nesse contexto, a área de planejamento compreende 8 (oito) Bacias e Sistemas Hidrográfi-
cos, sendo estes:
• Bacia do Médio-Baixo Vale do Paraíba;
• Bacia do rio Pomba;
• Bacia do rio Muriaé;
• Bacia do rio Dois Rios
• Zona Deltáica – Foz do rio Paraíba do Sul;
• Bacia do rio Itabapoana;
• Sistema Hidrográfico da Lagoa Feia, e;
• Bacia do rio Macaé e lagoas costeiras;
Deve ser ressaltado que as bacias do Médio-Baixo Vale do Paraíba, do rio Pomba, do rio
Muriaé e do rio Dois Rios são sub-bacias da Bacia do rio Paraíba do Sul.

398 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Mapa 6 – Regiões Norte e Noroeste Fluminense, Sistemas Hidrográficos

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 399


6.4 Comitês de Bacias e Consórcios Intermunicipais

CEIVAP – Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul

Criado pelo Decreto Federal nº. 1.842, de 22 de março de 1996, o CEIVAP, ou Comitê para
Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, é o parlamento onde ocorrem os
debates e decisões descentralizadas sobre as questões relacionadas aos usos múltiplos das
águas da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, inclusive a decisão pela cobrança pelo
uso da água na bacia. O Comitê é constituído por representantes dos poderes públicos, dos
usuários e de organizações sociais com importante atuação para a conservação, preserva-
ção e recuperação da qualidade das águas da Bacia (CEIVAP, 2010).

A AGEVAP, Associação Pró Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do
Sul, é a Agência da Bacia e exerce funções de secretaria executiva do Comitê, sendo res-
ponsável pela elaboração dos Planos de Recursos Hídricos e pela execução das ações de-
liberadas pelo Comitê para a gestão dos recursos hídricos da Bacia.

O CEIVAP possui sede em Resende/RJ e todos os municípios das regiões Norte e Noroeste
do Estado do Rio de Janeiro, com exceção de Itaocara, Bom Jesus do Itabapoana e Macaé,
fazem parte da área de abrangência desse Comitê.

Organismos da Bacia do Paraíba do Sul

As diversas entidades ou órgãos criados para atuar nas sub-bacias ou regiões hidrográficas
do Paraíba do Sul são denominados “organismos da bacia”

Esses organismos possuem representatividade e legitimidade regional, atuando em ques-


tões pontuais que o Comitê ou a Agência não conseguem contemplar.

Nas regiões Norte e Noroeste foram identificados os seguintes organismos da bacia do Rio
Paraíba do Sul:
• Comitê de Bacia da Região Hidrográfica do Rio Dois Rios – CBH - Rio Dois Ri-
os – RJ. Instalado no dia 2/12/2008, com sede em Nova Friburgo, abrange os
municípios de Itaocara e São Fidélis na área de alcance deste Plano.
• Comitê da Bacia da Região Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul CBH Baixo
Paraíba – RJ. Instalado em 19/06/2009, com sede em Campos dos Goytaca-
zes/RJ. Abrange todos os municípios das regiões Norte e Noroeste fluminense,
com exceção de Macaé, Bom Jesus do Itabapoana e Itaocara.
• Consórcio Intermunicipal para Recuperação Ambiental da Bacia do Rio Muriaé
– MG/RJ. Instalado em 2/09/1997, com sede em Muriaé/MG.
• Consórcio Intermunicipal para Proteção e Recuperação Ambiental da Bacia do
Rio Pomba. Instalado em 29/5/1998, com sede em Cataguases/MG.
• Consórcio Intermunicipal para Recuperação Ambiental da Bacia do Baixo Muri-
aé, Pomba e Carangola - CIRAB - MG/RJ, com sede em Muriaé/MG.
• Consórcio de Municípios e de Usuários da Bacia do Rio Paraíba do Sul para a
Gestão Ambiental da Unidade Foz. Instalado em 12/12/2003, com sede em
Campos dos Goytacazes/RJ, compreende 11 municípios situados próximos à
foz do Paraíba do Sul.
Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Macaé e das Ostras

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé foi instituído a partir do Decreto Estadual n°
34.243/03, de 4 de Novembro de 2003, com a área de atuação compreendendo totalidade
das bacias hidrográficas dos rios Macaé, Jurubatiba, Imboassica e da lagoa de Imbaossica.
400 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
A bacia hidrográfica do rio das Ostras foi incorporada a partir da Resolução n° 18 do CERHI-
RJ, de 8 de novembro de 2006.

O CBH Macaé e das Ostras possui sede em Rio das Ostras e compreende o município de
Macaé na área de alcance do Plano de Desenvolvimento Sustentável.

Consórcio dos Municípios da Bacia do Itabapoana

O Consórcio de Municípios da Bacia do Rio Itabapoana, sociedade civil de direito privado, é


um dos instrumentos do sistema de gestão integrada da bacia hidrográfica do Itabapoana.

O Consórcio foi instituído em julho de 1997 e sua sede está localizada em Bom Jesus do
Itabapoana. Dentre os municípios das Regiões Norte e Noroeste fluminense, Porciúncula,
Varre-Sai, Bom Jesus do Itabapoana, Campos dos Goytacazes e São Francisco do Itabapo-
ana são membros desse consórcio.

6.5 Disponibilidade Hídrica Superficial

Bacia do Rio Paraíba do Sul

Os estudos de disponibilidade hídrica na bacia do Paraíba do Sul foram realizados pelo


LABHID - Laboratório de Hidrologia e Estudos de Meio Ambiente da COPPE/UFRJ basea-
das na análise de 199 estações fluviométricas, distribuídas pelo território da bacia.

A disponibilidade hídrica nos pontos de interesse foi calculada a partir das equações defini-
das nos estudos de regionalização hidrológica de vazões médias de longo período (QMLT) e
de vazões com 95% de permanência no tempo (Q95%), desenvolvidos pela CPRM.

Na área de estudo foram analisados 5 (cinco) pontos, sendo estes: Rio Paraíba do Sul a
Montante da Confluência do Rio Pomba, Foz do Rio Pomba, Foz do Rio Dois Rios, Foz do
Rio Muriaé e Foz Paraíba do Sul.

A Tabela seguinte apresenta os valores calculados a partir das equações de regionalização.

Tabela 6 – Disponibilidade Hídrica na Bacia do Rio Paraíba do Sul


Área de
Q95% q95% QMLT
Locais Drenagem qMLT(l/s.km²)
(m³/s) (l/s.km²) (m³/s)
(km²)
Rio Paraíba do Sul a Montante
34.410 168,3 4,89 549,73 15,98
da Confluência do Rio Pomba
Foz do Rio Pomba 8.616 63,2 7,33 163,43 18,101
Foz do Rio Dois Rios 3.169 16,48 5,2 45,97 14,5
Foz do Rio Muriaé 8.162 28,84 3,53 118,36 14,5
Foz Paraíba do Sul 55.500 353,77 6,37 1.118,40 20,15
Fonte: LABHID, 2006
Bacia do Rio Itabapoana

Reis et alii (2008) buscou apresentar indicadores regionais para avaliar o regime de vazões
da Bacia Hidrográfica do Rio Itabapoana.
Nesse estudo, foram apresentados os valores de vazão média, mínima e máxima para 6
(seis) estações fluviométricas dessa bacia. Duas destas estações estão localizadas na área
de estudo.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 401


A Tabela a seguir apresenta a localização, área de drenagem, altitude e a extensão da série
histórica das estações fluviométricas situadas no rio Itabapoana.

Tabela 7 – Postos Fluviométricos Analisados no Rio Itabapoana

Área de Extensão da
Postos Altitude
Rio Drenagem Latitude Longitude Série Histórica
Fluviométricos (m)
(km²) (anos)
Ponte do
Itabapoana 2.854 -21°12' 22" -41°27' 46" 40 72
Itabapoana
Santa Cruz Itabapoana 3.781 -21°13' 21" -41°18' 31" 15 31
Fonte: Reis et. al. (2008)
As duas estações estão localizadas no município de Mimoso do Sul/ES, na divisa com o
município de Bom Jesus Itabapoana. A estação Ponte do Itabapoana está situada no trecho
entre os rios Calçado e Muqui do Sul e a estação Santa Cruz entre o rio Muqui do Sul e a
foz do rio Itabapoana.

A Tabela seguinte apresenta os valores de vazão obtidos através da análise da série históri-
ca de cada uma das estações fluviométricas. Estão expressos os valores de vazão média de
longo termo, vazão mínima média com 7 dias de duração e um período de retorno de 10
anos (Q7,10), vazão mínima com 95% de permanência (Q95), vazão média de enchente, com
período de retorno de 2 anos (Qcm) e vazão máxima para um período de retorno de 100 anos
(Q100)
Tabela 8 – Disponibilidade Hídrica no Rio Itabapoana

Qmínima (m³/s) Qmáxima (m³/s)


Postos Fluviométricos Qmédia (m³/s)
Q7,10 Q95 Qmc Q100
Ponte do Itabapoana 45,18 6,84 7,32 254,57 683,42
Santa Cruz 56,09 12,26 16,70 244,06 508,48
Fonte: Reis et. al. (2008)
Bacia do Rio Macaé
A determinação da disponibilidade hídrica na bacia do rio Macaé foi realizada pela FGV –
Projetos (2004) através do método de regionalização de vazões. A partir da análise de 7
(sete) estações fluviométricas situadas nessa bacia, foram determinados valores de vazões
mínimas médias de sete dias de duração, associadas a 10 anos de recorrência (Q7,10) e de
vazões correspondentes a 95 % de permanência (Q95%).

Nesse estudo, os pontos de interesse de determinação da disponibilidade hídrica foram a


foz dos principais afluentes do rio Macaé. (Tabela a seguir).

Tabela 9 – Disponibilidade Hídrica na Bacia do Rio Macaé

Locais Área de Drenagem (km²) Q95% (m³/s) Q7,10 (m³/s)


Foz Rio Boa Esperança 52,4 0,59 0,35
Foz Rio Bonito 89,3 1,2 0,83
Foz Rio Sana 109 1,27 0,81
Foz Rio Ouriço 64,4 0,76 0,47
Foz Rio D’Anta 52,4 0,59 0,35
Foz Rio Purgatório 81,6 0,76 0,4
Foz Rio São Pedro (*) 479 4,12 2,35
Foz Canal Jurumirim 106,9 0,74 0,32
Fonte: FGV – PROJETOS (2004)
402 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
6.6 Disponibilidade Hídrica Subterrânea

A presença de intenso falhamento nas rochas da Região Noroeste do Estado, causado pe-
los eventos tectônicos que condicionaram o curso do Rio Paraíba do Sul e seus afluentes,
favorecem o aquífero fissural tornando as rochas propícias ao armazenamento de águas
subterrâneas (DRM - RJ, 2001).

Nessa região as informações existentes sobre as captações dos poços, indicam que as
mesmas são exclusivamente no aquífero fraturado. Isto não exclui a importância de alguns
aqüíferos superficiais, principalmente pelo fato de que em algumas regiões, apesar do alto
potencial, as águas contidas no aqüífero fraturado podem apresentar teores altos de ferro.
Outro fato importante é a ocorrência de águas minerais carbogasosas, captadas a pequenas
profundidades, provavelmente associadas a aqüíferos rasos (CAPUCCI et al., 2001).

Na Região Norte, os aquíferos da Bacia Sedimentar de Campos são de grande importância.


Segundo CAPUCCI et al. (2001), o alto potencial associado a uma qualidade muito boa da
água, fazem desta região uma das mais importantes do Brasil em termos de água subterrâ-
nea. Ao mesmo lado, a vulnerabilidade de alguns aqüíferos é muito alta e devem ser trata-
dos com cuidado. Dependendo do sistema aqüífero e da profundidade perfurada, a água
pode estar enriquecida em ferro e algumas vezes em cloretos. Existem poucas informações
sobre poços perfurados no cristalino, o que dificulta a obtenção de resultados mais seguros.
Os aqüíferos porosos ocorrem na Região Norte, em sedimentos terciários e quaternários,
com espessamento de NW para SE. De acordo com CAPUCCI et al. (2001), nessa bacia
sedimentar encontram-se cinco aqüíferos:
• Aquífero Flúvio – Deltáico - localiza-se na margem sul do Rio Paraíba do Sul, pró-
ximo a cidade de Campos. Compreende sedimentos quaternários arenosos interca-
lados com argilas, com espessuras de aproximadamente 90 m.. O aqüífero é livre,
com a capacidade específica média da ordem de 90 m3/h/m. A vazão de poços nes-
te sistema pode atingir 200.000 l/h, com águas de boa qualidade.
• Aquífero Emborê - localiza-se nos arredores da localidade de Farol de São Tomé.
Trata-se de sedimentos principalmente arenosos, com intercalações de argilas, ní-
veis conchíferos e presença de madeira fóssil. Tem a espessura média de 200 me-
tros. O aqüífero é confinado a semi-confinado, e tem a capacidade específica média
de 3,50 m³/h/m. A vazão de poços neste sistema pode atingir a ordem de 100.000
l/h, com águas de boa qualidade.
• Aquífero São Tomé II - ocorre em quase toda a região, com espessuras que variam
desde 200 m. até mais de 2000 m.. Trata-se de sedimentos terciários variados, com
intercalações de areias avermelhadas e argilas, com níveis conchíferos. O aqüífero
é confinado, com a capacidade específica média da ordem de 2,35 m³/h/m. A vazão
dos poços pode atingir 60.000 l/h. As águas deste aqüífero normalmente são de
boa qualidade, mas podem apresentar-se ferruginosas.
• Aqüífero São Tomé I - ocorre formando um eixo alongado no sentido NE-SW, com
espessuras de até 160 m.. Idêntico ao anterior, diferindo pela sua espessura e po-
tencialidade. A capacidade específica média é de 0,5 m³/h/m. Ocorrem águas ferru-
ginosas e a vazão dos poços pode atingir 20.000 l/h.
• Aquífero Barreiras - localiza-se na borda oeste da Bacia Sedimentar de Campos.
Compreende sedimentos arenosos avermelhados a argilosos continentais, terciá-
rios. O aqüífero é livre e pouco produtivo, capacidade específica média de 0,33
m³/h/m. As vazões dos poços normalmente não ultrapassam 2.000 l/h.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 403


6.7 Usos e Demanda Hídrica

Bacia do Rio Paraíba do Sul

Os principais usos da água identificados na porção da bacia inserida na área de estudo são
referentes ao abastecimento de água doméstico e industrial, à diluição de despejos domés-
ticos e industriais, à dessedentação animal e à irrigação.

Nos estudos realizados pelo LABHID (2006) foram calculadas as demandas hídricas na ba-
cia do rio Paraíba do Sul para fins de saneamento, uso industrial e agropecuária, referentes
ao ano de 2005.

- Saneamento

A maior parte dos municípios e distritos das regiões Norte e Noroeste do Rio de Janeiro
possuem sistemas de abastecimento de água, atendendo índices entre 85 e 90% da popu-
lação.

Entretanto, o Paraíba do Sul e seus afluentes são os corpos receptores dos efluentes urba-
nos da bacia e, dessa forma, utilizados como meio de diluição. A ausência de tratamento
dos esgotos domésticos na maioria das cidades constitui um dos principais fatores de de-
gradação da qualidade dos recursos hídricos e, ainda, de riscos à saúde da população
(LABHID, 2001).

Na estimativa de demanda hídrica para abastecimento doméstico foram considerados os


seguintes consumos per capita:

Tabela 10 – Consumo Per Capita Adotado na Estimativa de Abastecimento de Água Doméstico


na Bacia do Rio Paraíba do Sul

Faixa de População Urbana (hab.) Consumo Per Capita (l/hab.dia)

0 a 10.000 165
10.000 a 50.000 196
50.000 a 100.000 211
100.000 a 200.000 221
200.000 a 1.000.000 251
Fonte: LABHID, 2006
A vazão captada foi calculada pelo produto da população urbana atendida pelo consumo per
capita, pelo coeficiente do dia de maior consumo (K1=1,2) e pelo índice de perdas (20%),
considerando um índice de atendimento do sistema de abastecimento público de 95%.

As vazões de lançamento de esgotos foram determinadas pelo produto da vazão captada,


pelo coeficiente de retorno, acrescida da parcela relativa à infiltração. Considerou-se como
coeficiente de retorno de esgotos, o valor de 80%. Para a parcela relativa à contribuição de
infiltração, estimou-se em 20% do valor da vazão média de esgotos calculada.

A Tabela seguinte apresenta os valores de vazões captadas e consumidas em cada trecho


ou sub-bacia do rio Paraíba do Sul inserido na área de estudo. Ressalta-se que as bacias do
rio Pomba, Dois Rios e Muriaé estão parcialmente inseridas na área de planejamento e o
trecho da Bacia do Paraíba do Sul entre as fozes dos rios Paraibuna Mineiro e Piabanha e a
foz do rio Pomba corresponde ao trecho a montante.

404 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Tabela 11 – Estimativa de Vazões Captadas e Consumidas para Fins de Saneamento na Bacia
do Paraíba do Sul

População
Q captada Q consumida
Trechos/Sub-bacias Beneficiada
(m³/s) (m³/s)
(95% de 2005)
Bacia do Rio Pomba 469.292 1,49 0,3
Bacia do Rio Muriaé 309.314 0,99 0,2
Bacia do Rio Dois Rios 211.128 0,71 0,14
Bacia do Paraíba do Sul das fozes dos Rios Parai-
86.963 0,26 0,05
buna Mineiro e Piabanha até a foz do Rio Pomba
Bacia do Paraíba do Sul a jusante da foz do Rio
Pomba até a foz do Paraíba do Sul, excluindo as 356.194 1,43 0,29
bacias dos Rios Dois Rios e Muriaé
Fonte: LABHID, 2006
- Uso Industrial
Na área de alcance do Plano de Desenvolvimento Sustentável, as indústrias sucro-
alcooleiras da Baixada Campista destacam-se na utilização de água para fins industriais.
Para a estimativa da demanda hídrica para fins industriais, segundo LABHID (2006), foi soli-
citada à FIRJAN a relação das indústrias instaladas no território da bacia. A partir das rela-
ções das indústrias foi definido o universo das principais indústrias relativamente ao uso dos
recursos hídricos, utilizando-se, como critério de escolha, as maiores geradoras de DBO e
as de maior porte (LABHID, 2006).
A quantificação das indústrias alocadas nas sub-bacias que atingem a área de alcance des-
se Plano está indicada na Tabela a seguir.
Tabela 12 – Quantidade de Indústrias por Sub-bacia

Estado Sub-Bacia/Trecho Quantidade de Indústrias


Paraíba do Sul - a jusante da foz do Pomba 23
Sub-bacia do rio Dois Rios 36
Rio de Janeiro
Sub-bacia do rio Pomba 11
Sub-bacia do rio Muriaé 10
Fonte: LABHID, 2006
A vazão calculada baseou-se na tipologia e número de empregados de cada indústria. Ado-
tou-se o uso consumido de 30% da vazão captada.
Os valores de vazão captada e consumida para fins industriais nos trechos e sub-bacias
inseridos na área de estudo estão expressos na Tabela seguinte.
Tabela 13 – Estimativa de Vazões Captadas e Consumidas para Fins Industriais na Bacia do
Paraíba do Sul
Trechos/Sub-bacias Q captada (m³/s) Q consumida (m³/s)
Bacia do Rio Pomba 0,19 0,06
Bacia do Rio Muriaé 0,02 0,01
Bacia do Rio Dois Rios 0,1 0,03
Bacia do Paraíba do Sul das fozes dos Rios Parai-
0,02 0
buna Mineiro e Piabanha até a foz do Rio Pomba
Bacia do Paraíba do Sul a jusante da foz do Rio
Pomba até a foz do Paraíba do Sul, excluindo as 1,43 0,43
bacias dos Rios Dois Rios e Muriaé
Fonte: LABHID, 2006

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 405


- Agropecuária

O cálculo da demanda hídrica para o setor agropecuário envolveu a estimativa das vazões
de captação e consumo para a irrigação e a criação animal.
As principais áreas irrigadas na área de estudo estão localizadas na Baixada Campista e
nas margens dos rios Paraíba do Sul, Pomba e Muriaé.

No cálculo de vazões para fins de irrigação, foi utilizado o Censo Agropecuário de


1995/1996 de forma a determinar as áreas irrigadas. O consumo e captação específica fo-
ram indicados de acordo com a publicação de CHRISTOFIDIS (1997) “Água e irrigação no
Brasil”.

Para se obter as demandas hídricas as áreas irrigadas foram multiplicadas pelas vazões
específicas de captação e consumo do Estado do Rio de Janeiro, que correspondem, res-
pectivamente, a 0,46287 l/s/ha irrigado e 0,26424 l/s/ha irrigado. Os valores obtidos para os
trechos e sub-bacias inseridos nas regiões Norte e Noroeste estão expressos na Tabela a
seguir .

Tabela 14 - Estimativa de Vazões Captadas e Consumidas para Fins de Irrigação na Bacia do


Paraíba do Sul

Trechos/Sub-bacias Q captada (m³/s) Q consumida (m³/s)


Paraíba do Sul trecho entre a foz dos Rios Paraibuna
4,85 2,79
Mineiro e Piabanha até a foz do Rio Pomba
Rio Pomba 6,23 3,70
Rio Dois Rios 3,27 1,87
Rio Muriaé 6,40 3,70
Paraíba do Sul trecho a jusante da foz do Rio Pomba 12,20 6,97
Fonte: LABHID, 2006
Para o cálculo da demanda hídrica da pecuária foi utilizada uma metodologia baseada no
conceito de BEDA, que é definido como:

BEDA = bovinos + equinos + asininos + (caprinos+ovinos)/5 + suínos/4,

adotando que para cada BEDA são captados 100l/dia e destes, 50 l são consumidos.

Para o cálculo do efetivo dos rebanhos em BEDAS foi utilizada a Pesquisa Pecuária Munici-
pal do IBGE de 2000, que fornece o número de cabeças por tipo de rebanho e por municí-
pio.
Os valores obtidos para fins de criação animal na porção em estudo da bacia do rio Paraíba
do Sul estão expressos na Tabela seguinte.

Tabela 15 – Estimativa de Vazões Captadas e Consumidas para Fins de Criação Animal na


Bacia do Paraíba do Sul

Trechos/Sub-bacias Q captada (m³/s) Q consumida (m³/s)


Paraíba do Sul trecho entre a foz dos Rios Paraibuna
0,29 0,15
Mineiro e Piabanha até a foz do Rio Pomba
Rio Pomba 0,61 0,31
Rio Dois Rios 0,23 0,11
Rio Muriaé 0,61 0,30
Paraíba do Sul trecho a jusante da foz do Rio Pomba 0,35 0,18
Fonte: LABHID, 2006
406 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
- Demanda x Disponibilidade

A Tabela a seguir foi elaborada de modo a consolidar a demanda de água em 2005 para
cada setor e por sub-bacia ou trecho de rio, relativas à captação e ao consumo. As deman-
das dos diferentes setores são comparadas com a disponibilidade hídrica da bacia (Q95).
Destaca-se que os valores indicados nos trechos do rio Paraíba do Sul são cumulativos dos
trechos à montante.

Tabela 16 – Demanda Hídrica Total e Disponibilidade Hídrica nos Trechos em Estudo da Bacia
do Rio Paraíba do Sul
Saneamento Indústria Agropecuária Total
Q Q Q Q Q Q Q Q Disponibilidade
Trechos/Sub-bacias
captada consumida captada consumida captada consumida captada consumida Hídrica (Q95)
(m³/s) (m³/s) (m³/s) (m³/s) (m³/s) (m³/s) (m³/s) (m³/s)
Rio Paraíba do Sul a
montante da confluên- 13,37 2,67 13,03 5,97 23,26 14,86 49,66 23,5 198,77
cia com o rio Pomba
Foz do Rio Pomba 1,49 0,30 0,2 0,06 6,84 4 8,53 4,36 50,22

Foz do Rio Dois Rios 0,71 0,14 0,1 0,03 3,5 1,98 4,31 2,16 16,75

Foz do Rio Muriaé 0,99 0,20 0,02 0,01 7 4,01 8,02 4,22 28,79
Foz do Rio Paraíba do
17,99 3,60 15,33 7,27 53,15 31,98 86,47 42,85 311,85
Sul
Fonte: LABHID, 2006
- Pesca e aqüicultura

A atividade pesqueira desenvolve-se principalmente no baixo curso dos rios Paraíba do Sul,
Muriaé e Dois Rios, onde se estende vasta planície com vários ambientes lacustres, restin-
gas e manguezais. A pesca é exercida de forma artesanal, com parte da produção destina-
da ao consumo e a comercialização do excedente.

No trecho que abrange o final do curso médio inferior do rio Paraíba do Sul, no município de
Itaocara, até a sua foz, HABTEC (2007) identificou 1.643 pescadores.

Dentre os estudos feitos em relação à ictiofauna do rio Paraíba do Sul, destaca-se o de Bi-
zerril (1998). De acordo com esse estudo, no trecho que compreende a foz do rio Paraíba
do Sul até a desembocadura do rio Muriaé, foram identificadas 68 espécies de peixes, 66
entre a desembocadura do rio Muriaé e a desembocadura do rio Dois Rios e 64 entre a de-
sembocadura do rio Dois Rios até a cidade de São Sebastião do Paraíba, logo a montante
do município de Itaocara (HABTEC, 2007). Segundo RIO DE JANEIRO (s.d.), 42 dessas
espécies são economicamente relevantes.

Os estoques de peixes reprodutores conhecidos como grandes migradores são encontrados


no Domínios das Ilhas Fluviais do rio Paraíba do Sul (Itaocara, Aperibé, Cambuci e São Fi-
délis). A fisiografia desse domínio, com mata ciliar relativamente bem preservada, a presen-
ça das ilhas fluviais, que modificam a hidrodinâmica do rio, associadas às características
vegetais e animais, proporciona o estabelecimento de uma comunidade rica e diversa em
espécies.

Segundo HABTEC, (2007), os pescadores locais afirmam que a quantidade de pescado tem
diminuído, sendo as principais causas da queda na produção aquelas relacionadas à degra-
dação ambiental (ocasionada pela destruição das matas ciliares, poluição industrial proveni-

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 407


ente das usinas canavieiras, atividades agropecuárias às margens do rio e extração de areia
feita de forma clandestina), além dos efeitos negativos promovidos pela pesca predatória.

Além disso, segundo o Projeto Piabanha (2007), a pesca vem sendo realizada de forma
desorganizada e impactante, exercendo um esforço de captura em estoques de espécies
ameaçadas de extinção, tais como a piabanha (Brycon insignis), o caximbau-boi (Pogono-
poma parahybae), o surubim-do-Paraíba (Steindacneridion paraybae) e a lagosta-de-são
fidélis (Machrobachium carcinus).

- Navegação

Com relação à navegação, a bacia do rio Paraíba do Sul não apresenta boas condições de
navegabilidade nem registra tradição no transporte fluvial.

Apenas o trecho do rio Paraíba do Sul entre São Fidélis e a foz, numa extensão de 90 km, é
considerado navegável. A areia é a principal carga transportada nesse trecho.

- Geração de Energia Elétrica

Atualmente, não há empreendimentos de geração de energia elétrica no trecho em estudo


da bacia do rio Paraíba do Sul. Entretanto, há alguns projetos em desenvolvimento na regi-
ão. Dentre eles, o AHE Barra do Pomba,, situado no baixo vale do rio Paraíba do Sul, à ju-
sante da cidade de Itaocara, com capacidade instalada de 80 MW.

Ainda no Paraíba do Sul, próximo ao local previsto para implantação da AHE Barra do Pom-
ba, estão previstos outros dois empreendimentos hidroenergéticos: a Usina Hidrelétrica Ita-
ocara, situada à montante, com potência instalada de 195 MW, pertencente a LIGHT Servi-
ços de Eletricidade Ltda, e o AHE Cambuci, situado à jusante, com potência instalada de 50
MW, empreendimento de interesse da E.P. Santa Gisele Ltda (HABTEC, 2007).

Bacia do Rio Itabapoana

Os principais usos da água nessa bacia são abastecimento público, irrigação e geração de
energia elétrica. Entretanto outros usos como pesca artesanal e recreação também foram
identificados.

- Abastecimento Público

O abastecimento público de todos os municípios fluminenses inseridos nesta bacia fica a


cargo da CEDAE. O esgoto e o lixo domésticos são, em quase sua totalidade, despejados
nos cursos d'água ou adjacências (Consórcio do Itabapoana, 2008).

- Geração de Energia Elétrica

O rio Itabapoana vem sendo alvo da implantação de empreendimentos hidrelétricos há al-


guns anos. Na área de estudo foram identificados cinco usinas, sendo estas:
• UHE Rosal, com capacidade instalada de 55,0 MW, sob concessão da Rosal Ener-
gética S.A.;
• PCH Calheiros, com capacidade instalada de 19,0 MW, sob concessão da Calhei-
ros Energia S.A.;
• PCH Franca Amaral, com capacidade instalada de 4,5 MW, sob concessão da
Quanta Geração S/A;
• PCH Pirapetinga, com capacidade instalada de 20,0 MW, sob concessão da Rio
PCH I S.A;
408 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
• PCH Pedra do Garrafão, com capacidade instalada de 20,0 MW, sob concessão da
Rio PCH I S.A.
- Irrigação

Sendo a bacia do Itabapoana, predominantemente, rural e agrícola, o segmento irrigante


apresenta aspectos que o colocam no centro das atenções dos que se propõem ao plane-
jamento e a gestão dos recursos hídricos. É o setor da economia que responde sozinho pelo
maior consumo quantitativo de água, sendo que este consumo apresenta uma sazonalidade
perigosa para a manutenção da vazão, uma vez que sua demanda aumenta justamente nos
períodos de menor oferta, ou seja, nos períodos de baixas vazões (secas). Assim, o uso da
irrigação na bacia do Itabapoana é, devido a uma série de fatores, uma atividade cujo con-
sumo de água varia enormemente ao longo do ano (Consórcio do Itabapoana, 2008).

- Pesca Artesanal

Foram identificadas apenas atividades de pesca artesanal no âmbito da bacia do rio Itaba-
poana. As principais colônias de pescadores identificadas estão situadas em Bom Jesus do
Itabapoana e São Francisco do Itabapoana.

Bacia do Rio Macaé

Os principais usos da água, verificados no Rio Macaé, referem-se ao abastecimento de á-


gua, à diluição de despejos domésticos, industriais e agrícolas, à irrigação e à geração de
energia elétrica (FGV PROJETOS, 2004)

- Uso urbano/doméstico

Aproximadamente 89 % dos municípios dessa bacia são atendidos pelo sistema de abaste-
cimento de água público, sendo o consumo per capita em torno 275 l/hab/dia.

No que tange ao esgotamento sanitário, segundo FGV PROJETOS (2004), os índices de


coleta atingem 77%, entretanto apenas 43% do esgoto coletado recebe tratamento.

- Uso Industrial

A concentração industrial dessa bacia ocorre na Cidade de Macaé, com o número de 31


indústrias cadastradas pela FIRJAN. A maior parte das indústrias se abastece da rede públi-
ca. Algumas indústrias de grande porte captam diretamente no Rio Macaé, tais como: Petró-
leo Brasileiro S.A, UTE - Norte Fluminense e El Paso Rio Claro LTDA.

As indústrias possuem sistema de tratamento de efluentes, os quais são posteriormente


encaminhados para rede pública.

- Uso agrícola

A agricultura na bacia se dá em pequena escala e sem critérios, sendo bastante diversifica-


da. A área total irrigada é de 1.105 ha, que corresponde a uma demanda total de água para
captação estimada em 31.150 m3/dia (FGV PROJETOS, 2004).

A atividade agrícola é marcada pelo uso indiscriminado de fertilizantes e defensivos agríco-


las, que muitas vezes são usados em excesso e não são absorvidos pelas culturas, atingin-
do os corpos d’água da região, contribuindo para a contínua contaminação dos cursos
d’água.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 409


- Geração de Energia Elétrica

O único aproveitamento hidrelétrico existente nessa bacia é o de Macabu, pertencente a


CERJ, situado no distrito de Glicério. A usina hidrelétrica de Macabu tem potência instalada
de 21,00 MW.

6.8 Escassez Hídrica

A Região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro vem sofrendo sérias restrições de abaste-
cimento de água para consumo humano e animal, em função da escassez hídrica dos últi-
mos anos. O desmatamento excessivo das florestas, o uso e o manejo inadequado dos so-
los conduziram a processos erosivos, tornando o solo menos permeável (MORAES, 2007).
Outro fator que contribui para esse cenário é a baixa e mal distribuída precipitação pluvio-
métrica, que é concentrada nos meses de verão, fazendo com que rios, córregos e poços
rasos da região sequem durante a maior parte do ano.

Dessa forma há um prejuízo em relação à plena recarga dos sistemas hídricos, levando ao
desaparecimento de rios temporários, ao assoreamento dos rios e desaparecimento de nas-
centes, o que compromete a manutenção dos ecossistemas e a produção agropecuária da
região.

Uma das regiões que se caracteriza pela escassez hídrica é o município de São José do
Ubá que, em 1999, decretou estado de calamidade pública em razão da estiagem. A estia-
gem causou grandes transtornos, influenciando diretamente a queda na produtividade agrí-
cola.

No ano de 2001, segundo o DRM – RJ (2001) houve um prolongamento excepcional da es-


cassez, tornando secos os poços rasos, fenômeno causado pelo rebaixamento do lençol
freático, atingido os próprios córregos da região. A escassez não atingiu os poços com a
água subterrânea a maiores profundidades, que se tornaram uma alternativa para o abaste-
cimento urbano e rural.

Nesse período, uma parceria DRM/EMATER, realizou a perfuração de 34 poços na região,


incluindo os seguintes municípios: Itaocara, Cambuci, São José de Ubá, São Francisco do
Itabapoana, São Fidélis, Santo Antônio de Pádua, Laje do Muriaé, Carapebús, Cardoso Mo-
reira, Italva, Bom Jesus do Itabapoana, Aperibé, Conceição de Macabú e São João da Bar-
ra.

6.9 Conflitos por Uso da Água

Os principais conflitos por uso da água nas regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de
Janeiro ocorrem na Baixada Campista.

O Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), com o objetivo de drenar as


áreas da baixada, construiu um sistema de canais interligados, de aproximadamente 1.300
km de extensão, com a função de conduzir as águas acumuladas pelas chuvas para o oce-
ano. A partir do final da década de 1970 intensificaram-se os usos dos canais para a irriga-
ção das lavouras de cana-de-açúcar (LABHID, 2006). Esta intrincada rede de canais se
constitui num complexo e frágil sistema hidráulico, devido às grandes dimensões dos canais
e baixas declividades (Mendonça et al., 2007), e seu controle e manutenção ficaram com-
prometidos desde a extinção do DNOS, em 1990.

Essas características fazem com que qualquer assoreamento ou entupimento no leito dos
canais comprometa o deslocamento do fluxo hídrico em direção a áreas interiores gerando

410 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


problemas de abastecimento ou inundações em suas áreas de influência (Mendonça et. al.,
2007).

Nos períodos de seca, o baixo nível d’água do rio Paraíba do Sul impossibilita a adução de
água para os canais, comprometendo o abastecimento das propriedades rurais e provocan-
do quedas na produção de alimentos e pecuária. A forte redução da oferta de água para os
canais tem também como conseqüência imediata o aumento do nível da poluição hídrica, já
que os canais são receptores do lixo e do esgoto lançados na área urbana de Campos
(Carneiro, 2004).

Buscando elevar o nível d’água dos canais, as usinas sucro-alcooleiras e os proprietários


rurais constroem pequenas barragens para suprir sua demanda de água. Uma outra solução
adotada é o manejo privado das comportas instaladas pelo DNOS. Com o fim dessa institui-
ção, as usinas e proprietários rurais passaram a controlar boa parte das estruturas hidráuli-
cas de acordo com seus interesses. Tais intervenções individuais interceptam o fluxo
d’água, prejudicando os usuários situados à jusante, e disseminando conflitos pela água na
região.

O manejo das comportas também é responsável pelo conflito entre pescadores, agricultores
e usineiros.

As obras realizadas pelo DNOS modificaram a dinâmica das lagunas costeiras da Baixada
Campista e as ligações dessas lagoas e lagunas com o mar foram fechadas. Os canais arti-
ficiais passaram a recolher as águas que convergiam para o mar e conduzi-las para o Canal
da Flecha na Barra do Furado. Devido ao risco de salinização das terras, que segundo os
proprietários rurais, prejudica a qualidade do solo, esta classe reivindica que as comportas
que ligam o Canal da Flecha e as lagunas permaneçam fechadas. Em contrapartida, para os
pescadores a comunicação das lagoas costeiras com o mar é fundamental para a renova-
ção do estoque pesqueiro. Dessa forma, o manejo das comportas com o intuito de impedir a
entrada da cunha salina é objeto de disputa entre pescadores e proprietários rurais, que
buscam operá-las diretamente, ou pressionam os órgãos públicos a fazê-lo de acordo com
seus interesses.

Fotos 20 e 21 – Comportas Manobráveis Identificadas no Canal do Furadinho, em Barra do


Furado

Fonte: Rionor

Entretanto, de acordo com Carneiro (2004), um estudo realizado pela prefeitura de Campos
constatou que a salinização das terras não se deve à penetração da cunha salina pela barra
do Furado. Ao contrário, o aumento da salinidade provém de pólo oposto, em decorrência

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 411


da pequena quantidade de água doce que chega às lagunas, associado às altas taxas de
evaporação.

A entrada de água doce no Domínio dos Corpos Lagunares também é fonte de um conflito
entre pescadores e usineiros. Segundo HABTEC (2007), durante o período das cheias,
quando o rio Paraíba do Sul promove o fenômeno da piracema, parte dos ovos, larvas, e
pós-larvas está sendo barrada pelas comportas implantadas pelos usineiros para drenagem
do terreno marginal aos cursos d’água ou lagoas, visando ampliar as áreas de cultivo. Des-
sa forma, as comportas impedem a renovação do estoque pesqueiro e seu manejo gera
conflitos entre a classe usineira e a pescadora.

Segundo Soffiatti (2004), a construção de um dique de terra após a abertura de um canal no


centro da Lagoa Feia do Itabapoana diminuiu a quantidade de peixes e alterou significativa-
mente as condições hidrológicas. Os pescadores da região reclamam que em épocas chu-
vosas, a lagoa enche e os peixes retornam, entretanto, quando as águas escoam ou são
drenadas pelos pecuaristas ocorre a mortandade de peixes em alta escala. A decomposição
dos peixes exala um odor insuportável para a comunidade local e inviabiliza atividades re-
creativas, além de promover o processo de eutrofização artificial na lagoa. Os pescadores
também acusam pecuaristas de lançarem agrotóxicos para eliminar a vegetação herbácea
nos canais particulares, prejudicando a qualidade da água na lagoa.

6.10 Enchentes

As cheias dos rios Pomba, Carangola, Muriaé e Paraíba do Sul, são um problema constante
para grande parte dos municípios das regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janei-
ro.

A ocupação territorial em áreas sujeitas a inundação, o processo contínuo e acelerado de


erosão do solo e conseqüente assoreamento dos cursos d’água, a descaracterização das
matas ciliares, o alto índice de desmatamento, a impermeabilização dos terrenos e as obras
locais de interesse individual ou de caráter imediatista são os principais fatores agravantes
das enchentes que assolam periodicamente várias cidades da região.

Rio Muriaé e principais afluentes

O rio Muriaé é um dos principais afluentes do rio Paraíba do Sul com extensão de aproxi-
madamente 300 km e área de drenagem de 8.230 km². O rio nasce no Estado de Minas
Gerais e, quando atinge o território fluminense passa pelo núcleo urbano de Lajes do Muriaé
e, mais a diante, recebe a contribuição do rio Carangola, um dos seus principais afluentes.
Essa região se caracteriza por um relevo acidentado, com a presença de várzeas onde são
praticadas atividades de agropecuária.

Às margens do rio Carangola estão localizadas as cidades de Porciúncula e, a jusante, Nati-


vidade.

O principal núcleo urbano situado às margens do rio Muriaé, no Estado do Rio de Janeiro, é
Itaperuna. A jusante desse Município, estão situadas as cidades de Italva e Cardoso Morei-
ra, também localizadas às margens do rio Muriaé. De Italva até sua foz, o Muriaé percorre
uma região plana, com áreas de planície de inundação do rio nas épocas de cheia.

Em todos esses municípios pode ser constatada a ocupação irregular nas faixas marginais
dos rios Carangola e Muriaé, sendo este um dos principais fatores agravantes das cheias.

412 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Foto 22 – Região Noroeste Fluminense, Italva, Ocupação da Faixa Marginal do Rio Muriaé

Fonte: Rionor

Foto 23 – Região Noroeste Fluminense, Itaperuna, Rio Muriaé, Faixa Marginal Ocupada na Área
Urbana e Desprovida de Mata Ciliar na Área Rural

Fonte: IBAMA/PETROBRAS, 2004

Outro fator que contribui para o agravamento das enchentes nessa região é a descaracteri-
zação da mata ciliar dos rios Muriaé (Foto anterior) e Carangola. A ausência de mata ciliar
acaba por aumentar o assoreamento dos rios, diminuindo sua profundidade, além de dimi-
nuir a capacidade de infiltração da água no solo, aumentando o escoamento superficial.

O histórico de vazões do rio Muriaé, revela que em intervalos de tempo da ordem de 10 a-


nos, ocorrem cheias capazes de provocar inundações nos centros urbanos situados ao lon-
go do rio e de seus afluentes, principalmente no estado do Rio de Janeiro (RIO DE JANEI-
RO, 1998).

Em 1997, ocorreu uma cheia com período de retorno estimado em 50 anos, quando os ní-
veis d’água ultrapassaram todos os registros anteriores. Nessa ocasião, as cidades mais
atingidas foram Cardoso Moreira, Italva, Itaperuna, Porciúncula, Natividade e Laje do Muria-
é. Os municípios de Cardoso Moreira e Italva ficaram com 95% do seu território embaixo
d’água, e em Itaperuna, as inundações superaram a altura de 1,0 m nas áreas centrais.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 413


Os efeitos dessa cheia foram avassaladores e deixaram as cidades isoladas, pois as estra-
das de acesso foram bloqueadas devido a deslizamentos de encostas e alagamento de pis-
tas, o fornecimento de energia elétrica e água potável foi interrompido e várias pessoas fica-
ram desabrigadas.

Nos últimos anos, as cheias do rio Muriaé e Carangola continuam castigando a região. No
ano de 2007, a barragem da Mineradora Rio Pomba Cataguases rompeu, devido às fortes
chuvas que atingiram a região, resultando no derramamento de rejeitos de bauxita para a
calha fluvial do rio Muriaé.

Nos anos de 2008 e 2009, também foram registradas fortes inundações, atingindo princi-
palmente os municípios de Lajes do Muriaé, Itaperuna, Cardoso Moreira , Italva, Porciúncula
e Natividade. No início de 2009, o município de Porciúncula ficou ilhado, com as vias de
acesso intransitáveis e sem abastecimento de água tratada. Em Cardoso Moreira foi decre-
tado estado de calamidade pública e Itaperuna, Laje do Muriaé, Italva, Porciúncula e Nativi-
dade se encontravam em situação de emergência.

Em Natividade, devido ao relevo acidentado, com a predominância de encostas declivosas


às margens do rio Carangola, várias casas situadas nas faixas marginais do rio já desaba-
ram e outras estão interditadas (Foto seguinte).

Foto 24 – Região Noroeste Fluminense, Natividade, Casas Desabadas Às Margens do Rio


Carangola

Fonte: Rionor

Rio Pomba

O rio Pomba também nasce no Estado de Minas Gerais, na Serra da Mantiqueira, e percorre
265 km até desaguar no rio Paraíba do Sul.
A bacia do rio Pomba abrange três municípios do Noroeste Fluminense, sendo estes: Mira-
cema, Santo Antônio de Pádua e Aperibé.
As cheias do rio Pomba atingem, em geral, a população ribeirinha, invasora da calha do rio.
Somente nas cheias excepcionais, parcelas das áreas urbanas consolidadas em níveis mais
altos são invadidas pelas águas (LABHID, 2006). Na área de estudo, os municípios de Ape-
ribé e Santo Antônio de Pádua estão localizados nas margens do rio Pomba e, portanto, são
os mais afetados pelas cheias.
414 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Segundo LABHID (2006), as cheias que hoje ocorrem na bacia do rio Pomba são significati-
vamente mais brandas do que às da bacia do Muriaé, possivelmente, devido à contribuição
dos reservatórios existentes ao longo da bacia do rio Pomba.
Entretanto, segundo a ANA (2009), em dezembro de 2008, o nível do Rio Pomba em Santo
Antônio de Pádua subiu 3,50 m. acima do nível normal em dois dias. Cerca de 80% do mu-
nicípio ficaram alagados. O centro da cidade ficou totalmente debaixo d’água. O Município
teve cerca de 400 desabrigados, e quase 20 mil desalojados.
Rio Paraíba do Sul

O DNOS criou um sistema de drenagem na Baixada dos Goytacazes visando principalmente


concluir os diques da margem direita do rio Paraíba do Sul, inverter o sentido dos canais
afluentes, no sentido da Lagoa Feia, e drenar as águas dessa lagoa exclusivamente pelo
Canal da Flecha, em direção à Barra do Furado.
O projeto foi concebido de modo a confinar as águas do Paraíba em sua calha, por meio de
diques, e drenar todas as contribuições da margem direita para a Lagoa Feia, que funciona-
ria como reservatório de compensação, ligado ao mar por um canal de descarga (Costa,
2001).
Os 65 km de diques construídos pelo DNOS permitem uma sobreelevação do nível d’água
do Rio Paraíba, em até 5m acima da situação média, sem transbordamento. Foram constru-
ídas 6 tomadas d’água no rio Paraíba do Sul.

Como dito anteriormente, a hidrodinâmica foi alterada e as águas, no interior da baixada,


passaram a ser distribuídas por canais artificiais, regulados por comportas.

De acordo com LABHID (2006), deve ser ressaltada a importância do guarda-corpo em con-
creto, com crista na cota 11,5 m (IBGE), bem como o dique de terra que se estende até São
João da Barra para a defesa da cidade de Campos durante as cheias do rio Paraíba do Sul.
Figura 3 – Diques e Tomadas D’água Construídos no Baixo Paraíba do Sul

Fonte: Costa, 2001

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 415


Segundo Soffiati (2009), o projeto executado é simplificador e reducionista, direcionando as
águas drenadas em toda a Baixada para apenas três defluentes rumo ao mar: a foz do Pa-
raíba do Sul; a foz construída do Canal das Flechas; e o canal construído Engenheiro Antô-
nio Resende, que conecta a Lagoa do Campelo e o mar.

Nas épocas de chuvas intensas, a elevação do nível das águas determina a necessidade de
um eficiente manejo das comportas de adução e controle, a fim de regular o nível dos canais
e evitar represamentos e inundações. Entretanto, tais estruturas hidráulicas estão abando-
nadas e, em muitos casos são controladas por proprietários rurais ou usineiros, de acordo
com seus interesses. A construção de diques irregulares, por parte dos proprietários rurais,
também contribui para o agravamento das enchentes, pois estas estruturas dificultam o es-
coamento da água nos canais.

Outro grande problema da rede de canais se refere a sua manutenção. O controle das cotas
de fundo, da vegetação aquática e dos taludes exige equipamentos de grande porte (esca-
vadeiras hidráulicas e mecânicas), além de mão-de-obra treinada e experiente. Associado a
esses problemas, os canais também sofrem o agravante de terem seus fluxos comprometi-
dos pela deposição de lixo e esgotos urbanos e industriais, o que compromete ainda mais
seu correto funcionamento (Mendonça et al., 2007)

A gestão inadequada desse sistema hídrico causa sérios transtornos à população rural e
urbana da região. Segundo Oliveira et al. (2007), segmentos sociais ligados ao setor agroin-
dustrial emitiram uma nota à imprensa apresentando os danos causados pelas enchentes
no setor agrícola de Campos nos últimos anos. No ano agrícola 2000/2001, estimou-se per-
das de 40% e 45% na produção dos setores agroindústria canavieira e pecuária leiteira,
respectivamente. Em 2005, foram esmagadas 5.478.440 toneladas de cana-de-açúcar. Com
a enchente de janeiro de 2007, a região, com cerca de 100 mil ha de cana-de-açúcar plan-
tada, teve pelo menos 50% desta área atingida, com probabilidade de serem perdidos.

Outro fator contribuinte para o agravamento das cheias na Baixada Campista é o processo
de assoreamento contínuo da Lagoa Feia, associado à eutrofização de suas águas pelo
despejo de matéria orgânica e fertilizantes químicos usados na lavoura. Esses fatores são
responsáveis pela redução da profundidade da lagoa, que cumpre o papel de um grande
estabilizador de águas para a planície fluviomarinha.

6.11 Planos e Projetos


Este item é referente aos planos e projetos governamentais, desenvolvidos recentemente ou
em desenvolvimento, nas regiões Norte e Noroeste fluminense, referentes ao tema Recur-
sos Hídricos.
Convênio n° 008/2004 ANA/SERLA

A implantação da cobrança pelo uso da água no Estado do Rio de Janeiro, regulamentada


pela Lei Estadual n° 4.247/03, impulsionou a discus são e a mobilização para criação dos
Comitês de Bacia no Estado.

O início da cobrança pelo uso da água, a nível regional, e a mobilização para criação de
comitês de bacia visando a aplicação dos recursos arrecadados em sua área de atuação
demonstraram a necessidade de ações de fortalecimento e capacitação do órgão gestor dos
recursos hídricos estaduais, função desempenhada pela então Fundação Superintendência
Estadual de Rios e Lagoas, SERLA.

O Convênio nº 008/2004, celebrado entre a Agência Nacional de Águas, ANA, e a SERLA,


visava exatamente o fortalecimento institucional da SERLA para implementação do Sistema
Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e a delegação de competências da União
416 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
para o Estado quanto aos canais artificiais de irrigação da Baixada Campista construídos
pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) (INEA, 2009 a).

Este Convênio foi firmado em 13 de dezembro de 2004 e teve seu prazo de vigência com
término, em 31 de dezembro de 2008.

No que tange à implementação do Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídri-


cos, os principais resultados obtidos foram referentes à migração da base de dados estadual
referente aos recursos hídricos para o Cadastro Nacional de Recursos Hídricos (CNARH).
Tal procedimento unificou o armazenamento de dados, e deu maior confiabilidade aos da-
dos utilizados para a emissão de outorgas de uso dos recursos hídricos.

Tal adesão foi vista como um primeiro passo na implementação do Sistema Estadual de
Informações sobre Recursos Hídricos, SEIRH. Este sistema de informações tem como meta
a integração da disponibilidade hídrica e os instrumentos de outorga e cobrança com o
CNARH, englobando todas as etapas de monitoramento, regularização, uso e gestão inte-
grada dos recursos hídricos.

Os repasses do Convênio, previstos para a fase final de implantação do SEIRH, não foram
efetuados devido ao seu término. Para garantir a continuidade do trabalho executado, foram
obtidos recursos junto ao Fundo Estadual para Conservação Ambiental e Desenvolvimento
Urbano, FECAM.

Na tratativa referente aos canais da Baixada Campista, foi contratado um estudo junto à
Fundação COPPETEC, de forma a diagnosticar a sua situação atual e propor um arranjo
institucional para a gestão sustentável dos sistemas de drenagem, irrigação e outros usos,
visando sua adequada operação e manutenção, de forma a atender os usuários da região.

O relatório final, intitulado “Análise do Sistema de Canais da Baixada Campista – Relatório


Final” foi encaminhado à ANA, em abril de 2006.

O estudo indica que o Comitê de Bacia é a instância mais adequada para a construção do
pacto em torno das diretrizes de utilização de recursos hídricos dos canais. O Comitê de
Bacia da Região Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul, instituído recentemente, terá o papel
de administrar esse sistema hídrico.

Dessa forma, segundo o INEA (2009 a), o Comitê de Bacia de Região Hidrográfica do Baixo
Paraíba do Sul, RH IX, iniciará as suas atividades contando com um diagnóstico claro e pre-
ciso sobre um dos principais conflitos envolvendo diversos usos e usuários localizados em
sua área de abrangência, incluindo ainda sugestões de arranjos institucionais para a gestão
da infraestrutura deixada pelo DNOS.

Concorrência n° 005/ANA/2009

A Agência Nacional de Águas lançou um edital, em dezembro de 2009, para a contratação


de empresa de consultoria especializada visando a elaboração de estudos para concepção
de um sistema de previsão de eventos de cheia (incluindo modelos chuva-vazão, para pre-
visão de vazões e propagação no canal e planície de inundação), rompimento de barragens
e propagação de poluentes, (SISPREC) na bacia do rio Paraíba do Sul; e de um sistema de
intervenções estruturais para mitigação dos efeitos de cheias nas bacias dos rios Muriaé e
Pomba (SIEMEC).

Segundo a ANA (2009), os principais objetivos a serem alcançados nesses estudos são:

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 417


• Atualizar e sistematizar informações sobre a hidrologia das regiões interessadas
aos estudos, particularmente aquelas ligadas à análise de eventos extremos, inven-
tário de potenciais poluidores e pontos vulneráveis na bacia rio Paraíba do Sul e
seus principais afluentes (Paraibuna, Pomba e Muriaé);
• Desenvolver modelos matemáticos de simulação quali-quantitativa do escoamento,
visando subsidiar ações de prevenção e mitigação de impactos no rio Paraíba do
Sul e alguns de seus principais afluentes;
• Estruturar e implantar um Sistema de Previsão de Cheias (SISPREC) operacional
para a bacia do rio Paraíba do Sul;
• Conceber um Sistema de Intervenções Estruturais destinados à Mitigação do Efeito
das Cheias (SIEMEC) nas Bacias dos Rios Muriaé e Pomba;
• Analisar e compreender o desencadeamento de cheias nas bacias dos rios Muriaé
e Pomba, identificando trechos críticos;
• Identificar intervenções para mitigar cheias nas cidades de Cardoso Moreira, Italva,
Itaperuna, Laje do Muriaé, Muriaé, Mirai, Natividade, Porciúncula, Tombos, Caran-
gola, Cataguases e Santo Antônio de Pádua em um nível de pré-viabilidade, seja
pelo armazenamento e/ou detenção de cheias na bacia, seja por melhoramentos
estruturais e/ou hidráulicos nas calhas dos rios Muriaé e Pomba ou, ainda, por meio
de desvio parcial de vazões de cheias, nas proximidades das cidades relacionadas
anteriormente, de forma a, juntamente com o sistema de previsão, oferecer mais
tempo para resposta da Defesa Civil e atenuar os impactos de cheias nessas cida-
des, conforme os critérios que vierem a ser adotados;
• Promover uma avaliação das soluções inventariadas de modo a descartar aquelas
julgadas menos atrativas e consolidar o Sistema de Intervenções Estruturais con-
cebido.
Os referidos estudos constituem o primeiro passo para a elaboração do Plano de Contin-
gência para Eventos Críticos na Bacia do Paraíba do Sul. Os demais sistemas que vierem a
integrar o Plano de Contingência serão objeto de outros estudos e de subseqüentes deta-
lhamentos e implantações.

Recuperação do Sistema de Canais da Baixada Campista

A COPPE/UFRJ foi contratada pelo INEA e elaborou um projeto apresentando soluções es-
truturais definitivas para a recuperação do sistema de canais da Baixada Campista e das
margens direita e esquerda do Rio Paraíba do Sul.

O projeto da COPPE contempla os três subsistemas existentes na baixada, sendo estes:


subsistema Vigário, subsistema São Bento e subsistema Campos dos Goytacazes-Macaé.

A primeira etapa das obras contemplará apenas o subsistema São Bento e serão investidos
R$ 97 milhões, com recursos do PAC Drenagem, advindos do Ministério da Integração Na-
cional.

O início das obras está previsto para 2010, após a concessão da licença ambiental.

Os principais serviços a serem executados são: a manutenção dos canais através de limpe-
za e remoção de vegetação aquática, dragagens para regularização do fundo e alargamento
de margens em determinados trechos, construção de um vertedouro estabelecendo um ca-
nal de comunicação entre os canais São Bento e Quitinguta, e a recuperação das compor-
tas.

418 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Segundo INEA (2009 b), as secretarias de Estado do Ambiente, de Agricultura e de Plane-
jamento também estão elaborando um edital para realização de uma Parceria Público Priva-
da (PPP) com objetivo de executar obras nos outros dois sistemas e assegurar a operação e
a manutenção dos três sistemas, com rotinas de desassoreamento e operação de compor-
tas, por exemplo.

Além das obras estruturais, o INEA está contratando a COPPE/UFRJ para a elaboração de
um projeto de gestão dos recursos hídricos da Baixada Campista incorporando medidas a
serem executadas nas épocas de seca.

7. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

O levantamento da legislação ambiental do Estado do Rio de Janeiro referente aos temas


abordados nesse Capítulo III – Meio Natural I, compilou o seguinte arcabouço:
Cobertura Vegetal
• Lei Estadual n° 690 de 1º de dezembro de 1983, que dispõe sobre a proteção às
florestas e demais formas de vegetação natural e dá outras providências;
• Lei Estadual n° 721 de 02 de janeiro de 1984, que considera, para os efeitos previs-
tos no Código Florestal - Lei Federal n° 4.771, de 1965 - como de prestação per-
manente a vegetação natural das ilhas que menciona e dá outras providências;
• Lei Estadual n° 734 de 21 de maio de 1984, que pro íbe, em todo o território do Rio
de Janeiro, qualquer tipo de corte de floresta, consoante o disposto nos artigos 2º e
3º da lei n° 4.771, de 15 de setembro de 1995;
• Lei Estadual n° 1.315 de 07 de junho de 1988, que institui a Política Florestal do
Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências;
• Lei Estadual n° 2.049 de 22 de dezembro de 1992, q ue dispõe sobre a proibição de
queimadas da vegetação no Estado do Rio de Janeiro em áreas e locais que espe-
cifica e dá outras providências;
• Lei Estadual n° 2.942 de 08 de maio de 1998, que a utoriza o Poder Executivo a
criar programa permanente de plantio de árvores;
• Lei Estadual n° 3.187 de 12 de fevereiro de 1999, que cria a taxa florestal para via-
bilizar política florestal no Estado do Rio de Janeiro;
• Lei Estadual n° 3.532 de 09 de janeiro de 2001, qu e autoriza o Poder Executivo a
criar o Fundo Florestal para arrecadação e aplicação de taxa prevista na Lei Esta-
dual n° 3.187/99.

Uso e Ocupação do Solo


• Lei Estadual n° 716, de 27 de dezembro de 1983, qu e dispõe sobre medidas de
proteção ao solo agrícola;
• Lei Estadual n° 784, de 5 de outubro de 1984, que estabelece normas para a con-
cessão da anuência prévia do Estado aos projetos de parcelamento do solo para
fins urbanos nas áreas declaradas de interesse especial à proteção ambiental e dá
outras providências;
• Lei Estadual n° 965, de 6 de janeiro de 1986, que dispõe sobre obrigatoriedade de
plantio de árvores em todos os loteamentos a serem aprovados no Estado do Rio
de Janeiro, e dá outras providências;

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 419


• Lei Estadual n° 1.130, de 12 de fevereiro de 1987, que define as áreas de interesse
especial do Estado e dispõe sobre os imóveis de área superior à 1.000.000 m²
(hum milhão de metros quadrados) e imóveis localizados em áreas limítrofes de
municípios, para efeito do exame e anuência prévia a projetos a projetos de parce-
lamento de solo para fins urbanos, a que se refere o art. 13 da Lei n° 6.766 de
1979.

Unidades de Conservação
• Lei Estadual n° 1.681 de 19 de julho de 1990, que dispõe sobre a elaboração do
Plano Diretor das áreas de proteção ambiental criadas no Estado, e dá outras pro-
vidências;
• Lei Estadual n° 2.393, de 20 de abril de 1995, que dispõe sobre a permanência de
populações nativas residentes em Unidades de Conservação do Estado do Rio de
Janeiro;
• Lei Estadual n° 3.443, de 14 de julho de 2000, que regulamenta o art. 27 das dispo-
sições transitórias e os art. 261 e 271 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro,
estabelece a criação dos Conselhos Gestores para as Unidades de Conservação
estaduais, e dá outras providências.

Área Litorânea
• Lei Estadual n° 1.807, de 3 de abril de 1991, que dispõe sobre a criação dos “Par-
ques das Dunas” em todo o Estado;
• Lei Estadual n° 1.864, de 5 de outubro de 1991, qu e dispõe sobre a colocação de
placas informativas, nas praias do Estado do Rio de Janeiro;
• Lei Estadual n° 3.832, de 13 de maio de 2002, que institui o Dia Estadual de Limpe-
za das Praias no Estado do Rio de Janeiro.

Turismo
• Lei Estadual n° 921, de 11 de novembro de 1985, qu e dispõe sobre a instituição
dos atrativos e das áreas estaduais de interesse turístico e dá outras providências;
• Lei Estadual n° 3.392, de 3 de maio de 2000, que a utoriza a Turis-Rio a realizar
projeto de ecoturismo na Serra da Bela Joana, em São Fidélis;
• Lei Estadual n° 4.616, de 11 de outubro de 2005, q ue cria a certificação do ecotu-
rismo e do turismo ecológico.

Controle, Proteção e Fiscalização Ambiental


• Lei Estadual n° 1.060, de 10 de novembro de 1986, que institui o Fundo Especial de
Controle Ambiental, FECAM e dá outras providências;
• Lei Estadual n° 1.071, de 18 de novembro de 1986, que cria o Instituto Estadual de
Florestas;
• Lei Estadual n° 1.202, de 7 de outubro de 1987, qu e cria a Fundação Instituto de
Pesca do Estado do Rio de Janeiro, FIPERJ;
• Lei Estadual n° 1.204, de 7 de outubro de 1987, qu e institui o Comitê de Defesa do
Litoral do Estado do Rio de Janeiro, CODEL e dá outras providências;
• Lei Estadual n° 1.315, de 7 de junho de 1988, que institui a Política Florestal do
Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências;

420 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


• Lei Estadual n° 1.671, de 21 de junho de 1990, que institui a Fundação Superinten-
dência Estadual de Rios e Lagos, SERLA;
• Lei Estadual n° 2.191, de 9 de dezembro de 1993, q ue acresce novas atribuições
às cooperativas ecológicas;
• Lei Estadual n° 2.578, de 3 de julho de 1996, que institui o Cadastro Estadual de
Entidades Ambientalistas do Estado do Rio de Janeiro, C.E.E.A. - RJ;
• Lei Estadual n° 3.346, de 29 de dezembro de 1999, que autoriza o Poder Executivo
a criar o Banco de Dados Ambientais - BDA;
• Lei Estadual n° 3.467, de 14 de julho de 2000, que dispõe sobre as sanções admi-
nistrativas derivadas de condutas lesivas ao meio ambiente no Estado do Rio de
Janeiro, e dá outras providências;
• Lei Estadual n° 3.917, de 22 de agosto de 2002, qu e autoriza o Poder Executivo a
firmar contratos de arrendamento rural para fins de recuperação e preservação am-
biental;
• Lei Estadual n° 4.063, de 2 de janeiro de 2003, qu e determina a realização do zo-
neamento ecológico econômico do Estado do Rio de Janeiro, observados, no que
couber, os princípios e objetivos estabelecidos no Decreto Federal n° 4.297/2002,
que estabelece os critérios para zoneamento ecológico econômico do Brasil;
• Decreto n° 32.862, de 12 de março de 2003, que dis põe sobre o Conselho Estadual
de Recursos Hídricos do Estado do Rio de Janeiro, instituído pela Lei Estadual n°
3.239, de 02 de agosto de 1999, revoga o Decreto n° 32.225 de 21 de novembro de
2002 e dá outras providências;
• Lei Estadual n° 4.235, de 2 de dezembro de 2003, q ue altera a Lei n° 1.356, de 03
de outubro de 1998, que dispõe sobre os procedimentos vinculados à elaboração,
análise e aprovação dos estudos de impacto ambiental;
• Lei Estadual n° 4.431, de 27 de outubro de 2004, q ue torna obrigatório a publicação
da relação de infratores que tenham sofrido sanções administrativas aplicadas por
condutas lesivas ao meio ambiente no Estado;
• Lei Estadual n° 4.760, de ,8 de maio de 2006, que autoriza o Poder Executivo a
instituir o programa consciência ambiental;
• Lei Estadual n° 5.067, de ,9 de julho de 2007, que dispõe sobre o zoneamento eco-
lógico econômico do Estado do Rio de Janeiro e definindo critérios para a implanta-
ção da atividade de silvicultura econômica no Estado do Rio de Janeiro;
• Lei Estadual n° 5.101, de 4 de outubro de 2007, qu e dispõe sobre a criação do Ins-
tituto Estadual do Meio Ambiente, INEA, e sobre outras providências para maior efi-
ciência na execução das políticas estaduais de meio ambiente, de recursos hídricos
e florestais;
• Lei Estadual n° 5.100, de 4 de outubro de 2007, qu e altera a Lei n° 2.664, de 27 de
dezembro de 1996, que trata da repartição aos municípios da parcela de 25% (vinte
e cinco por cento) do produto da arrecadação do ICMS, incluindo o critério de con-
servação ambiental, e dá outras providências.

Pesca
• Lei Estadual n° 2.423, de 17 de agosto de 1995, qu e disciplina a pesca nos cursos
d’água do Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências;

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 421


• Lei Estadual n° 3.192, de 15 de março de 1999, que dispõe sobre o direito dos pes-
cadores, assegurado pelo parágrafo 3º do art. 257 da Constituição do Estado do
Rio de Janeiro, às terras que ocupam.

Recursos Hídricos
• Lei Estadual n° 650, de 11 de janeiro de 1983, que dispõe sobre a política estadual
de defesa e proteção das bacias fluviais e lacustres do Estado do Rio de Janeiro;
• Lei Estadual n° 940, de 17 de dezembro de 1985, qu e dispõe sobre a preservação
da coleção hídrica e o tratamento de águas residuárias e resíduos provenientes de
indústrias sucro-alcooleiras das regiões canavieiras do Estado do Rio de Janeiro;
• Lei Estadual n° 1.803, de 25 de março de 1991, que cria a taxa de utilização de
recursos hídricos de domínio estadual, TRH;
• Lei Estadual n°2.661, de 27 de dezembro de 1996, q ue regulamenta o dispositivo
no art. 274 (atual 277) da Constituição do Estado do Rio de Janeiro no que se refe-
re à exigência de níveis mínimos de tratamento de esgotos sanitários, antes de seu
lançamento em corpos d’água e da outras providências;
• Lei Estadual n°2.717, de 24 de abril de 1997, que proíbe a construção, a qualquer
título, de dispositivos que venham a obstruir canais de irrigação pelo mar, ou alterar
os entornos das lagoas, em suas configurações naturais;
• Lei Estadual n°3.239, de 2 de agosto de 1999, que institui a Política Estadual de
Recursos Hídricos; Cria o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídri-
cos; Regulamenta a Constituição Estadual em seu art. 261, parágrafo 1º, inciso VII
e dá outras providências;
• Lei Estadual n°4.051, de 30 de dezembro de 2002, q ue dispõe sobre a criação do
Programa S.O.S Rio Paraíba do Sul, objetivando a sua revitalização, no Estado do
Rio de Janeiro;
• Lei Estadual n°4.247, de 16 de dezembro de 2003, q ue dispõe sobre a cobrança
pela utilização dos recursos hídricos de domínio do Estado do Rio de Janeiro e dá
outras providências;
• Resolução CERHI n°2, de 15 de outubro de 2001, que cria as câmaras técnicas
que menciona no âmbito do Conselho Estadual de Recursos Hídricos e dá outras
providências;
• Resolução CERHI n°5, de 25 de setembro de 2002, qu e estabelece as diretrizes
para a formação, organização e funcionamento de Comitê de Bacia Hidrográfica, de
forma a implementar o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
• Resolução CERHI n°6, de 29 de maio de 2003, que di spõe sobre a cobrança pelo
uso de recursos hídricos nos corpos hídricos de domínio do Estado do Rio de Ja-
neiro integrantes da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul;
• Resolução CERHI n°7, publicada como Deliberação/CE RHI-RJ n° 1 de 1º de julho
de 2003, que dispõe sobre os procedimentos e estabelece critérios gerais para ins-
talação e instituição dos comitês de bacias hidrográficas;
• Resolução CERHI n°18, de 08 de novembro de 2006, q ue aprova a definição das
regiões hidrográficas do Estado do Rio de Janeiro.

422 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


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miolo 1.agosto_Layout 1 28/08/10 11:52 Page 7

Meio Ambiente Modificado


Capítulo 4
Autores:
Ailton Mota de Carvalho
Andréa Ferreira Machado
Gustavo Campos Dib
Gustavo Menezes Gonçalves
Laudirléa Silva dos Reis
Mário Teixeira Rodrigues Bragança
Milton Casério Filho
Túlio Amaral Pereira

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


SUMÁRIO

1. A PLATAFORMA CONTINENTAL E SUA GEOLOGIA, POTENCIALIDADES


MINERAIS E EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO..................................................... 439

1.1 A Plataforma Continental e sua Geologia............................................................. 439

1.2 Potencialidade Mineral das Regiões Norte e Noroeste Fluminense ..................... 445

1.3 A Exploração do Petróleo na Bacia de Campos................................................... 446

1.3.1 Bacia de Campos - A Maior Reserva de Petróleo do Brasil.................................. 447

1.3.2 O Pré-Sal na Bacia de Campos ........................................................................... 451

1.3.3 Marco Regulatório................................................................................................ 451

2. A INSERÇÃO AMBIENTAL DOS GRANDES EMPREENDIMENTOS E DO


AGRONEGÓCIO.................................................................................................. 451

2.1 Áreas de Influência dos Grandes Empreendimentos............................................ 452

2.2 Problemas Ambientais Numa Visão Político-administrativa.................................. 452

2.3 Delimitação das Áreas de Influência dos Grandes Empreendimentos.................. 453

2.3.1 Área Diretamente Afetada (ADA) ......................................................................... 453

2.3.2 Área de Influência Direta (AID)............................................................................. 453

2.3.3 Área de Influência Indireta (AII)............................................................................ 454

2.4 Área de Influência do Meio Físico ........................................................................ 454

2.5 Área de Influência do Meio Biótico ....................................................................... 455

2.6 Área de Influência do Meio Antrópico................................................................... 456

2.7 Considerações Finais........................................................................................... 457

3. POLUIÇÃO, CONTAMINAÇÃO, EMISSÕES, EFEITO ESTUFA, COMPENSAÇÕES


AMBIENTAIS ....................................................................................................... 458

3.1 Mata Atlântica no Brasil........................................................................................ 458

3.1.1 A Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro ..................................................... 460

3.2 Expansão das Áreas de Pastagem ...................................................................... 461

3.3 Processos Erosivos.............................................................................................. 462

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


3.4 Poluição do Solo e das Águas.............................................................................. 464

3.5 O Sistema Hidrográfico do Norte e Noroeste Fluminense .................................... 466

3.5.1 O Sistema Hidrográfico do Rio Paraíba do Sul..................................................... 466

3.5.2 O Sistema Hidrográfico do Rio Itabapoana .......................................................... 468

3.5.3 O Sistema Hidrográfico do Rio Macaé ................................................................. 469

3.5.4 Qualidade da Água na Bacia do Rio Paraíba do Sul ............................................ 471

3.6 Comitês de Bacia Hidrográfica ............................................................................. 473

3.6.1 Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CERHI .............................................. 475

3.7 A Região Costeira ................................................................................................ 475

3.7.1 Gerenciamento Costeiro - GERCO ...................................................................... 476

3.7.2 A Zona Costeira Fluminense ................................................................................ 477

3.8 Poluição Atmosférica – Efeito Estufa.................................................................... 481

3.8.1 Poluentes Atmosféricos........................................................................................ 482

3.8.2 Monitoramento da Qualidade do Ar no Norte/Noroeste Fluminense..................... 482

3.8.3 Resultados do Monitoramento.............................................................................. 483

3.9 Emissões de Gases e Efeito Estufa ..................................................................... 483

3.10 Considerações Finais........................................................................................... 488

4. COMPENSAÇÕES AMBIENTAIS ........................................................................ 489

4.1 A Compensação Ambiental dos Grandes Empreendimentos do Norte e Noroeste


Fluminense .......................................................................................................... 490

4.1.1 Complexo do Porto do Açu .................................................................................. 490

4.1.2 Usina Termelétrica de Porto do Açu..................................................................... 490

4.1.3 Linha de Transmissão 345 kV, UTE Porto do Açu – Campos dos Goytacazes .... 490

4.1.4 Aeródromo de Farol de São Tomé ....................................................................... 490

4.1.5 Agroindústria de Bom Jesus de Itabapoana ......................................................... 490

4.1.6 As Atividades da Petrobrás .................................................................................. 491

4.1.7 Petróleo na Costa Brasileira................................................................................. 491

4.1.7.1 Formas de Contaminação por Petróleo................................................................ 492

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


4.1.7.2 Licenças, Exigências e Autorizações ................................................................... 493

4.1.8 UTE de Macaé (“El Paso”) ................................................................................... 494

4.1.9 Transpetro – Lagoa de Jurubatiba ....................................................................... 494

4.1.10 Projeto Pólen ....................................................................................................... 494

5. CRÉDITOS DE CARRBONO ............................................................................... 494

5.1 Conceito e Discussão .......................................................................................... 495

5.2 MDL e “Commodities” Ambientais........................................................................ 497

5.3 Crédito de Carbono e sua Importância................................................................. 498

5.4 A Criação e a Valoração dos Créditos de Carbono .............................................. 498

5.5 Créditos de Carbono no Estado do Rio de Janeiro............................................... 500

5.6 Considerações ..................................................................................................... 501

6. LEGISLAÇÃO E REGULAÇÃO AMBIENTAL....................................................... 502

6.1 Evolução da Política Ambiental no Brasil ............................................................. 502

6.2 Política Ambiental no Estado do Rio de Janeiro................................................... 503

6.3 Legislação Ambiental dos Municípios da Região Norte e Noroeste Fluminense .. 509

6.3.1 Região Noroeste Fluminense ............................................................................... 509

6.3.1.1 Aperibé ................................................................................................................ 509

6.3.1.2 Bom Jesus Itabapoana......................................................................................... 510

6.3.1.3 Cambuci............................................................................................................... 510

6.3.1.4 Italva .................................................................................................................... 511

6.3.1.5 Itaocara................................................................................................................ 511

6.3.1.6 Itaperuna.............................................................................................................. 514

6.3.1.7 Laje do Muriaé ..................................................................................................... 515

6.3.1.8 Miracema ............................................................................................................. 520

6.3.1.9 Natividade ............................................................................................................ 521

6.3.1.10 Porciúncula .......................................................................................................... 522

6.3.1.11 Santo Antônio de Pádua ...................................................................................... 523

6.3.1.12 São José de Ubá.................................................................................................. 524

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


6.3.1.13 Varre-Sai.............................................................................................................. 524

6.3.2 Região Norte Fluminense..................................................................................... 525

6.3.2.1 Campos dos Goytacazes ..................................................................................... 525

6.3.2.2 Cardoso Moreira .................................................................................................. 528

6.3.2.3 Carapebus ........................................................................................................... 529

6.3.2.4 Conceição de Macabu.......................................................................................... 531

6.3.2.5. Macaé ................................................................................................................... 532

6.3.2.6 Quissamã............................................................................................................. 535

6.3.2.7 São Fidélis ........................................................................................................... 538

6.3.2.8 São Francisco do Itabapoana............................................................................... 540

6.3.2.9 São João da Barra ............................................................................................... 544

6.4 Convênios para o Licenciamento Municipal ........................................................ 549

6.5 Os Estados Limítrofes.......................................................................................... 550

6.5.1 Estrutura Ambiental do Estado de Minas Gerais .................................................. 550

6.5.1.1 SISEMA ............................................................................................................... 550

6.5.1.2 SEMAD ................................................................................................................ 551

6.5.1.3 COPAM................................................................................................................ 551

6.5.1.4 CERH................................................................................................................... 552

6.5.1.5 FEAM................................................................................................................... 552

6.5.1.6 IEF ....................................................................................................................... 553

6.5.1.7 IGAM.................................................................................................................... 553

6.5.2 Licenciamento / Regularização Ambiental............................................................ 553

6.5.3 Outorga de Uso da Água...................................................................................... 554

6.5.3.1 Modalidades de Outorga ...................................................................................... 554

6.5.4 Estrutura Ambiental do Espírito Santo.................................................................. 555

6.5.4.1 SEAMA ................................................................................................................ 555

6.5.4.2 CONSEMA E CONREMAS .................................................................................. 555

6.5.4.3 CERH................................................................................................................... 555

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


6.5.4.4 IEMA .................................................................................................................... 555

6.5.5 Licenciamento Ambiental ..................................................................................... 556

6.5.5.1 Tipos de Licenças Ambientais.............................................................................. 557

6.5.6 Outorga de Uso da Água...................................................................................... 559

6.5.6.1 Modalidades de Outorga ...................................................................................... 560

7. REFERÊNCIAS.................................................................................................... 562

ANEXOS.............................................................................................................. 567

ANEXO I – MAPA GEOLÓGICO SIMPLIFICADO DO ESTADO DO RIO DE


JANEIRO ............................................................................................................. 568

ANEXO II – MAPA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS DO ESTADO DO RIO DE


JANEIRO ............................................................................................................. 569

ANEXO III – MAPA GEOMORFOLÓGICO........................................................... 570

ANEXO IV – MAPA DE SUSCEPTIBILIDADE A EROSÃO .................................. 571

ANEXO V - REGIÃO NORTE E NOROESTE FLUMINENSE – GRANDES


EMPREENDIMENTOS PREVISTOS EU EM FASE DE INSTALAÇÃO................ 572

ANEXO VI - DECRETO Nº 42.050, DE 25 DE SETEMBRO DE 2009.................. 573

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


LISTAS

FIGURAS

Figura 1 - Seção Geológica Esquemática da Bacia de Campos, entre a Plataforma


Continental e Região de Águas Profundas ........................................................................ 450

Figura 2 - Macro Estrutura Ambiental no Estado do Espírito Santo.................................... 556

Figura 3 - Fluxograma de Licenciamento Ambiental .......................................................... 558

Figura 4 – Etapas Básicas de Avaliação Ambiental ........................................................... 559

GRÁFICOS

Gráfico 1 – Regiões Norte e Noroeste - Proporção das Classes de Vegetação e Uso do Solo
.......................................................................................................................................... 461

Gráfico 2 – Proporção de Classes de Conecção Ecológica (Calculado por Domínio


Geomorfológico e Sistema Hidrográfico) na Região em Estudo......................................... 463

Gráfico 3 – Emissões de CO2eq pelo Uso de Energia ....................................................... 484

Gráficos 4 e 5 – Regiões Norte e Noroeste - Participação dos Setores no Total das


Emissões de Gases Estufa pelo Uso de Energia por Região (%) ...................................... 484

Gráfico 6 – Emissões de CO2eq pelos Resíduos Sólidos Urbanos (Gg CO2eq e %).......... 486

Gráfico 7 - Emissões de CO2eq pelo Setor de Tratamento de Resíduos por Região (Gg
CO2eq e %)........................................................................................................................ 487

MAPAS

Mapa 1 – Data das Descobertas dos Campos de Petróleo................................................ 448

Mapa 2 – Bacia de Campos............................................................................................... 448

QUADROS

Quadro 1 – Fisionomias Vegetais Inseridas no Domínio da Mata Atlântica........................ 459

Quadro 2 – Percentagem de Remanescentes por Tipo de Formação Florestal ................. 459


Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Quadro 3 – Taxa de Desmatamento da Mata Atlântica nos Estados Brasileiros, 2000 - 2005
.......................................................................................................................................... 460

Quadro 4 – Regiões Hidrográficas do Norte e Noroeste Fluminense ................................. 465

Quadro 5 – Gerenciamento de Águas e Esgoto................................................................. 466

Quadro 6 - Particularidades da Zona Costeira ................................................................... 478

Quadro 7 – Principais Indicadores da Costa Fluminense................................................... 478

TABELAS

Tabela 1 - Total de Emissões de Gases Estufes pela Agricultura, Floresta e Outras Uso do
Solo por (Gg) ..................................................................................................................... 485

Tabela 2 - Emissões de Gases Estufa pelos Resíduos Sólidos Urbanos por Tipo de
Disposição e por Região (Gg)............................................................................................ 486

Tabela 3 - Emissões de CO2eq pelos Esgotos Sanitários por Região (Gg CO2eq e %) ..... 487

Tabela 4 – Matriz Energética Mundial em 2004 ................................................................. 495

Tabela 5 - Relação de Empreendimentos e Projetos Aprovados para Habilitação de Crédito


de Carbono e MDL, no Estado do Rio de Janeiro, 2005-2009 ........................................... 501

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


“Vista de longe, a característica da Terra que mais nos impressiona e nos deixa sem
respiração, é o fato desta estar viva. ... tudo tem um aspecto organizado, autônomo,
de uma criatura viva, cheia de informações, que lida com o sol, fazendo usos de
uma perícia maravilhosa.”

in The Lives of a Cell


Lewis Thomas

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


1. A PLATAFORMA CONTINENTAL E SUA GEOLOGIA, POTENCIALIDADES MI-
NERAIS E EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO

1.1 A Plataforma Continental e sua Geologia

O mapa geológico integrado do Estado do Rio de Janeiro (Anexo I) apresenta uma notável
compartimentação litológica e tectônica, caracterizando faixas distintas, tais como: Faixa
Costeira, Faixa Norte-Noroeste, Faixa Paraíba, Faixa Serra dos Órgãos, Faixa Ocidental,
Faixa Bacia de Campos. As Faixas como regiões se definem por:

Faixa Norte-Noroeste: ocorre ao norte do Rio Paraíba do Sul. Nesta faixa há predominân-
cia de gnaisses charnockíticos que possuem estrutura maciça, às vezes bandada, e com
cristais de granada.

Destacam-se as unidades pCIItm, pCIIsf, pCIIse, e como rochas ortognáissicas, as unidades


pCImv e pCIbj. Essas rochas granulíticas foram estudadas por Costa e Marchetto (1978) e
Oliveira (1983), caracterizando o que se denominou de "suíte charnockítica" da Faixa Paraí-
ba, em contraposição com os "gnaisses fitados" (Rosier, 1965) que são caracterizados por
alternâncias de faixas mais claras (quartzo-feldspáticas) e escuras (ricas em biotita e anfibó-
lio).
Também nota-se a presença de falhas de empurrão de direção NE-SW e vergência para
NW, além de falhas com componente direcional (Brenner, Ferrari e Penha, 1980).
Leonardos e Fyfe (1974), Campos Neto e Figueiredo (1980) e Siga Jr. et al. (1982) advogam
a hipótese de terrenos suspeitos para essa faixa, sendo que as rochas supra-crustais estari-
am associadas a uma margem continental ativa, com posterior colisão de blocos (Artur e
Wernick, 1986).
Faixa Costeira Leste: ocorre entre a Baía de Sepetiba (na base da Serra do Mar) e se es-
tende até a região de Macaé. Nota-se a ocorrência de rochas do Pré-Cambriano com topo-
grafias arrasadas, destacando-se as unidades de gnaisses facoidais (por exemplo, pCIIgf,
pCIIcs), migmatitos e gnaisses bandados (pCIIrl, pCIIsf, pCIIag) e gnaisses bandados (por
exemplo, pCIIIpa, pCIIIbu). Ocorrem também corpos intrusivos de granitos (pCgr).
Zimbres, Kawashita e Schuns (1990) correlacionam a região de Cabo Frio (Unidade Região
dos Lagos) com o Cráton de Angola, uma vez que as datações obtidas apresentam idades
Transamazônicas (1980 M.a.) pouco afetadas pelo evento Brasiliano de 600 M.a. A Unidade
Búzios é interpretada como uma supracrustal da Unidade Região dos Lagos (Heilbron et al.,
1982).
Faixa Norte-Noroeste: ocorre ao norte do Rio Paraíba do Sul. Nesta faixa há predominân-
cia de gnaisses charnockíticos que possuem estrutura maciça, às vezes bandada, e com
cristais de granada. Destacam-se as unidades pCIItm, pCIIsf, pCIIse, e como rochas ortog-
náissicas, as unidades pCImv e pCIbj. Essas rochas granulíticas foram estudadas por Costa
e Marchetto (1978) e Oliveira (1983), caracterizando o que se denominou de "suíte charnoc-
kítica" da Faixa Paraíba, em contraposição com os "gnaisses fitados" (Rosier, 1965) que são
caracterizados por alternâncias de faixas mais claras (quartzo-feldspáticas) e escuras (ricas
em biotita e anfibólio). Também nota-se a presença de falhas de empurrão de direção NE-
SW e vergência para NW, além de falhas com componente direcional (Brenner, Ferrari e
Penha, 1980). Leonardos e Fyfe (1974), Campos Neto e Figueiredo (1980) e Siga Jr. et al.
(1982) advogam a hipótese de terrenos suspeitos para essa faixa, sendo que as rochas su-
pra-crustais estariam associadas a uma margem continental ativa, com posterior colisão de
blocos (Artur e Wernick, 1986).

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 439


Faixa da Bacia de Campos: ocorre na região norte-oriental do Estado, até o delta do Rio
Paraíba do Sul, e caracteriza-se pela presença da Formação Barreiras e pelo relevo suave.
Lamego (1944) descreve a geologia litorânea da bacia de Campos, e, embora com poucos
fundamentos e dados, discute a geologia do petróleo da área. Schaller (1973) apresenta um
esboço da estratigrafia da Bacia de Campos, integrando-a com o poço terrestre do Cabo de
São Tomé.

A atividade vulcânica mesozóica-cenozóica é bastante intensa na região da faixa costeira


leste, desde Barra de São João até Cabo Frio, junto à linha de costa, e estende-se a oeste,
até Itatiaia. Algumas anomalias magnéticas e gravimétricas são correlacionáveis a corpos
intrusivos de diferentes idades geológicas. Feições lineares de anomalias magnéticas da
região adjacente à Bacia de Santos têm sido interpretadas como associadas a diques de
diabásio (Rodrigues e Haralyi, 1984), embora também possam estar associadas a litologias
do embasamento.

Na plataforma continental, entre as bacias de Campos e Santos, pode-se caracterizar a o-


corrência de edifícios vulcânicos por sísmica de reflexão e dados de poços (Mohriak, Barros
e Fujita, 1990), e também a ocorrência de diques e sills intrudidos na seção sedimentar. O
vulcanismo pós-rift (eocênico) da região da plataforma continental de Cabo Frio apresenta
uma tendência marcadamente alcalina, tendo-se caracterizado através de dados de amos-
tras de calha, amostras laterais e testemunhos, uma complexa associação de rochas vulca-
noclásticas de difícil interpretação em perfis elétricos (Scutta, Mizusaki e Mohriak, 1991).
Lima (1976) descreve em linhas gerais os principais maciços alcalinos do Estado do Rio de
Janeiro.

Os traços gerais da geologia do Estado do Rio de Janeiro foram esboçados por G. F. Rosier
(1965). Mais recentemente, numa compilação e complementação com novos dados, M. J.
Gesteira Fonseca e D.A. Campos (1978) organizaram um mapa geológico na escala de
1:1.000.000 das Folhas Rio de Janeiro - Vitória- Iguape (Carta do Brasil ao Milionésimo)
que, em linhas gerais mostra as mesmas subdivisões já estabelecidas por Rosier, naquilo
que interessa ao Estado do Rio de Janeiro.

Ocorrem duas unidades de relevo no Estado. A Baixada com terras situadas abaixo dos
200m de altitude, e o Planalto com altitudes acima de 200 m.

Baixada

Conhecida como Baixada Fluminense segue todo o litoral ocupando aproximadamente me-
tade da superfície do território. Sua largura varia em determinados pontos, como por exem-
plo, entre a baía de Ilha Grande e Sepetiba, vindo a alargar-se posteriormente de leste até o
rio Macacu.

Na área perimetral da cidade do Rio de Janeiro, erguem-se dois maciços: o da Tijuca e da


Pedra Branca, com altitude superior a 1.000 m., trecho em que a Baixada apresenta-se mais
alargada, voltando a estreitar-se da baía de Guanabara até a região de Cabo Frio onde o-
correm sucessivas pequenas elevações (200 a 500 m) chamados de maciços litorâneos
fluminenses. Novo alargamento ocorre a partir de Cabo Frio, atingindo no delta do rio Paraí-
ba do Sul, sua amplitude máxima.

Localizado na área da baixada, o litoral fluminense subdivide-se em três unidades apresen-


tando variação quanto à sua paisagem.
• região de praias e cordões arenosos, ao extremo Sul do Estado, estendendo-se de Pa-
rati até a ilha de Itacuruçá;

440 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


• região de restingas, baixadas e lagunas, compreende a área de litoral entre a I-
lha de Itacuruçá e Arraial do Cabo;
• região de restingas, baixadas e lagunas, compreende a área entre Arraial do
Cabo até o delta do rio Paraíba do Sul, com ocorrência de dunas de areia.

Hidrografia Regional

O principal rio do Estado do Rio de Janeiro é o Paraíba do Sul; suas nascentes estão situa-
das na porção nordeste do Estado de São Paulo e seu leito é fortemente condicionado pelas
estruturas, orientadas predominantemente no sentido WSW – ENE, seguindo em direção ao
oceano Atlântico, onde desemboca.

A partir do seu curso médio, o rio Paraíba do Sul ocupa um vale instalado na bacia tafrogê-
nica sobre o Gráben homônimo, percorrendo um trecho praticamente retilíneo entre Resen-
de e São Fidélis. Ao longo desse percurso, recebe contribuintes de grande expressão sub-
regional em ambas as margens. Os principais afluentes do Rio Paraíba do Sul são os rios
Piabinha, Piraí e Paraibuna, na margem direita e os rios Pomba e Muriaé, na margem es-
querda.

Além do Rio Paraíba do Sul, há outros rios de importância regional. De norte para sul, des-
tacam-se o Rio Itabapoana, no limite entre os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, o
Rio Macabu, que deságua na Lagoa Feia, o Rio Macaé, o Rio São João, o Rio Guandu e o
Rio Magé.

Muitas lagoas pontuam o litoral, formadas pelo fechamento de baías por cordões de areia.
Lagoa Feia (maior do Estado), Araruama, Maricá e Saquarema estão entre as mais impor-
tantes, além das lagoas de Jacarepaguá, Marapendi e Rodrigo de Freitas situadas na capital
fluminense.

Caracterização Geoambiental

A Região Noroeste do Rio de Janeiro tem apresentado problemas como escassez hídrica e
erosão dos solos, resultantes dos ciclos econômicos e da ausência de práticas de manejo e
conservação de solo. O quadro de degradação ambiental apresenta-se grave, tendo sido
iniciado pela substituição da floresta nativa pelo café, posteriormente, pela pecuária leiteira
extensiva e pela olericultura com destaque para o tomate, alterando a relação solo-água-
planta.

Atualmente, na Região Noroeste Fluminense podem-se destacar problemas relacionados à


elevada produção de sedimentos, perda de áreas agricultáveis, diminuição da permeabilida-
de e da infiltração de água nos solos, deficiência hídrica, desaparecimento de rios, migração
de nascentes, aumento da quantidade de poluentes que atingem os cursos fluviais e diminu-
ição da recarga dos sistemas de aqüíferos, decorrentes do uso e manejo inadequado dos
solos, ao longo dos ciclos econômicos.

Faixa Litorânea

Corresponde ao mais extenso domínio geoambiental do Estado, estendendo-se ao longo da


linha de costa, desde a baixada de Sepetiba até a divisa com o Estado do Espírito Santo.
Trata-se também, do domínio mais heterogêneo, abrangendo desde extensas áreas inundá-
veis, tais como mangues, brejos e baixadas, até alinhamentos serranos isolados e maciços
montanhosos que podem atingir cotas de até 1.000 m de altitude.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 441


Apesar de todas as diferenças internas, o fato desses terrenos estarem embutidos entre o
litoral e sopé da escarpa da Serra do Mar, permitiu agrupar todas as unidades relacionadas
acima, no Domínio Faixa Litorânea. Todavia, as diferenças são marcantes e, para fins de
análise, pode-se subdividir a Faixa Litorânea em três subdomínios: a Região Metropolitana,
a Região dos Lagos e o Litoral Leste Fluminense e Norte Fluminense.

A expansão acelerada de cidades, como Saquarema, Araruama, Arraial do Cabo, Cabo Frio,
Búzios, Rio das Ostras e Macaé, além de loteamentos indiscriminados, todos assentados
sobre as planícies costeiras, acarreta consideráveis danos ambientais, pois além da destrui-
ção da vegetação de restinga, promovem a contaminação das lagunas costeiras e do lençol
freático, em locais de solos bastante permeáveis (Espodossolos Hidromórficos).

Trata-se de uma área de escassa disponibilidade de água superficial ou subterrânea. A ex-


ploração de areia para construção civil, a ocupação de antigas salinas para empreendimen-
tos imobiliários e o desmatamento da vegetação nativa sobre os campos de dunas, propicia
a remobilização dos sedimentos por ação eólica, consistindo, também, em ameaças ao deli-
cado equilíbrio ecológico desses terrenos. Deste modo, as planícies costeiras, principalmen-
te as áreas com remanescentes de vegetação de restinga, devem ser preservadas, cabendo
apenas, exploração voltada para o ecoturismo.

Destacam-se também, em trechos da Baixada Fluminense, os vales dos rios São João, Ma-
caé, Macabu e Imbé, que consistem em extensas áreas inundáveis ladeadas por colinas
isoladas pela sedimentação fluvial. Os baixos vales desses rios consistem de planícies flú-
vio-lagunares ou brejos, bastante inundáveis e aproveitáveis apenas para pecuária extensi-
va.

Os médios cursos, formados por uma sedimentação fluvial e um pouco melhor drenados,
são mais bem aproveitados para agricultura de várzea, desde que seja preservada a mata
ciliar. A exploração de areia para construção civil, com controle ambiental, também é reco-
mendada. Destacam-se também, contrafortes isolados evidenciados pelos maciços de Ma-
caé e de Conceição de Macabu e pelo maciço de Itaocara, que devem ser destinados à pre-
servação ambiental e recomposição florestal.

No Norte Fluminense, destaca-se a Baixada Campista, que constitui uma extensa planície
deltaica, caracterizada por diversos ambientes deposicionais: destacam-se vastos depósitos
flúvio-lagunares ou brejos, no entorno da lagoa Feia. Esses terrenos inundáveis estão sepa-
rados da costa por um cordão arenoso, que se estende em direção à localidade de Farol de
São Tomé. Apresentam solos com altos teores de sais e enxofre (Gleissolos Salinos e/ou
Tiomórficos), sendo, portanto, altamente limitantes às atividades agropecuárias e devem
manter-se preservados, principalmente junto às lagunas e aos banhados.

Junto à foz do rio Paraíba do Sul, desenvolve-se um sistema de cristas de cordões arenosos
em linha de costa progradante, com características similares das planícies costeiras situa-
das na região dos Lagos.

A baixada flúvio-deltaica, construída pelo rio Paraíba do Sul, por sua vez, possui solos me-
lhor drenados e bastante férteis (Neossolos e Cambissolos Flúvicos), adequados para a
expansão das atividades agrícolas.

Tradicionalmente ocupada pela decadente monocultura canavieira, a Baixada Campista


pode ser melhor aproveitada como um pólo de fruticultura, assim como os tabuleiros adja-
centes. Esses tabuleiros, constituídos por sedimentos terciários do Grupo Barreiras, ocupam
vastas porções dos municípios de Quissamã, Campos dos Goytacazes e São Francisco do
Itabapoana, formando terrenos planos ou suave-ondulados e solos profundos e bem drena-
442 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
dos (Latossolos e Argissolos Amarelos). Apesar desses solos terem uma fertilidade natural
baixa, são terrenos recomendados para expansão da agricultura irrigada, devido à baixa
suscetibilidade à erosão.

Depressão do Norte-Noroeste Fluminense

O Norte e Noroeste Fluminense consistem numa vasta depressão interplanáltica, alternada


com alinhamentos serranos escalonados e delimitada a sul, pelo planalto da Região Serrana
e, a norte, pelo planalto Sul Capixaba e estende-se a oeste pela Zona da Mata mineira, com
características um pouco similares. A leste, esse domínio é encerrado pela Baixada Campis-
ta e os tabuleiros do grupo Barreiras. Esta região abrange a porção fluminense das bacias
dos rios Pomba, Muriaé e Itabapoana e o baixo curso do tributário rio Negro.

Em linhas gerais, o Norte e Noroeste Fluminense assemelham-se bastante ao Médio Vale


do rio Paraíba do Sul, apresentando um extenso relevo colinoso, seccionado por frequentes
alinhamentos serranos de direção estrutural WSW-ENE e maciços montanhosos, cujo cená-
rio é também marcado por pastagens subaproveitadas. A Mata Atlântica também foi devas-
tada para implantação da monocultura cafeeira, já no início do século XX.

Entretanto, algumas características singulares individualizam esse domínio do Médio Paraí-


ba do Sul, em especial, o clima mais seco, com estiagem mais prolongada, com totais anu-
ais entre 900 e 1.400 mm/ano e a menor suscetibilidade à erosão do relevo colinoso do No-
roeste Fluminense, notada pela ausência de ravinamentos, voçorocamentos e movimentos
de massa, frequentes em determinados trechos do Médio Paraíba.

As restritas e descontínuas planícies fluviais embutidas nos fundos de vales dos rios Pomba,
Muriaé, Itabapoana e tributários principais, apresentam solos de boa fertilidade natural
(Gleissolos e Planossolos Eutróficos), adequados para a agricultura irrigada.

Certas várzeas dos baixos cursos dos rios Paraíba do Sul e Pomba (próximo às localidades
de São Fidélis e Santo Antônio de Pádua) e do rio Muriaé (próximo à localidade de Italva)
apresentam Neossolos Flúvicos salinos inadequados para agricultura. A origem destes solos
salinos não pode ser marinha, pois o nível de base dessas planícies está acima dos máxi-
mos transgressivos registrados no Quaternário Superior.

Possivelmente, sua origem está relacionada ao intemperismo do substrato rochoso, aliado à


intensa insolação verificada na região, o que implicaria a precipitação de sais na matriz dos
sedimentos aluviais. De qualquer forma, mesmo que sejam utilizadas, tanto para fins urba-
nos ou agrícolas, as planícies fluviais precisam de uma recomposição da mata ciliar, tendo
em vista a mitigação de enchentes que assolam periodicamente várias cidades do Norte e
Noroeste Fluminense, tais como Itaperuna, Italva, Cardoso Moreira e Santo Antônio de Pá-
dua. Um agravante a este problema é o intenso desmatamento das bacias dos rios Pomba e
Muriaé, tanto em território fluminense, quanto em território mineiro, acelerando, assim, o
escoamento superficial e aumentando os picos de vazão destes rios.

A extensa região dominada por colinas, morrotes e morros baixos apresenta, em geral, Ar-
gissolos Vermelho-Amarelos e Vermelhos eutróficos, com moderada fertilidade natural, ape-
sar da deficiência hídrica prolongada e o relevo movimentado constituírem importantes fato-
res limitantes às atividades agrícolas. Assim, essas áreas podem ter uma utilização compar-
tilhada entre sistemas silvipastoris e agroflorestais, sendo que as atividades agrícolas com
irrigação devem se restringir a vertentes menos íngremes das colinas, adjacentes às planí-
cies. As pastagens podem ocupar as vertentes mais declivosas das elevações (colinas e
morros).

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 443


Os divisores e as cabeceiras de drenagem devem ser destinados à recomposição da Mata
Atlântica. No entorno de Miracema e próximo à localidade de Morro do Coco, são encontra-
dos solos mais desenvolvidos e lixiviados (Latossolos Vermelho-Amarelos distróficos e Ar-
gissolos Vermelho-Amarelos latossólicos), sugerindo uma condição de maior umidade nes-
sas áreas subordinadas.

Outra área de características singulares situa-se num polígono no entorno da cidade de Ital-
va. Neste trecho de colinas e morros, a mata original era composta por floresta caducifólia, o
que denota um elevado “stress” hídrico, no período de estiagem. Este fato decorre da baixa
pluviosidade registrada (em torno de 1.000 mm anuais) aliada à ocorrência de mármores,
cujo intemperismo não favorece a formação de um espesso manto de alteração. Sendo as-
sim, os solos são poucos espessos (Argissolos Vermelhos eutróficos), diminuindo, deste
modo, a capacidade de armazenamento de água no solo.

Extensos alinhamentos de morrotes, tais como a serra da Portela (próximo a Cambuci e


Itaocara) ou pequenos alinhamentos serranos, tais como a serra do Catete (próxima a Santo
Antônio de Pádua) determinam áreas com bom potencial para produção de mármore e ro-
chas ornamentais, respectivamente. Esses terrenos estão, em boa parte, em zonas de cisa-
lhamento que atravessam o Noroeste Fluminense, conferindo controle estrutural à formação
das serras alinhadas, sempre orientadas na direção WSE-ENE.

Tanto os alinhamentos serranos escalonados, quanto os maciços montanhosos apresen-


tam-se bastante desmatados, o que acentua o aspecto árido de toda a região. Como essas
áreas abrigam as nascentes dos principais tributários do Itabapoana, a recomposição flores-
tal desses terrenos atende a duas funções na região: primeiramente, o retorno da Mata A-
tlântica propicia uma maior disponibilidade durante o período de estiagem (a escassez de
água vem se tornando um problema grave no Noroeste Fluminense), devido à proteção de
nascentes e ao armazenamento de água no solo; e a recomposição florestal nos alinhamen-
tos como no Médio Vale do rio Paraíba do Sul, irá promover a formação Atlântica, em função
da sua conformação geográfica, sendo de grande importância na manutenção e regenera-
ção do ecossistema florestal.

Planalto do Alto Itabapoana

O planalto do Alto Itabapoana, também denominado de planalto de Varre-Sai, situa-se tam-


bém no Noroeste Fluminense, mas guarda íntima relação com a zona planáltica que abran-
ge o sul do Estado do Espírito Santo. Esse planalto, alçado a 700 m de altitude, apresenta
um clima mais úmido e ameno do que a extensa depressão adjacente (com totais anuais
entorno de 1.400 a 1.500 mm/ano) e uma cobertura florestal um pouco mais preservada.

O relevo colinoso dominante é largamente utilizado por pastagens e pela cafeicultura. Essa
cultura, que devastou o Vale do Paraíba, ainda tem importância econômica no planalto Sul
Capixaba e algumas porções da Zona da Mata mineira. Devido a semelhanças físicas com o
Sul do Espírito Santo, a região de Varre-Sai constitui, atualmente, numa das mais importan-
tes zonas produtoras de café no Estado do Rio de Janeiro. As áreas de morros elevados
apresentam um relevo bem mais movimentado que os terrenos colinosos, sendo, portanto,
indicada sua ocupação para atividades agropastoris.

Por fim, a escarpa degradada do Alto Itabapoana, apresentando vertentes íngremes e des-
nivelamentos de até 600 m, destinada exclusivamente à recomposição da Mata Atlântica,
podendo se excetuar alguns trechos das baixas vertentes, mais suaves e acessíveis, próxi-
mas das localidades de Bom Jesus da Itabapoana, Ourânia e Itaperuna.

444 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


A análise integrada de variáveis do meio físico como: a Geologia; a Geomorfologia; a Pedo-
logia; a Biogeografia; a Climatologia; e a Hidrologia, revela-se imprescindível para a produ-
ção de um levantamento que represente a dinâmica ambiental em sua complexidade e te-
nha aplicação para o planejamento territorial.

“O Estado apresenta graves problemas de ordem sócio-ambiental que precisam ser sana-
dos, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida de sua população e, por outro lado,
apresenta uma grande potencialidade de desenvolvimento sócio-econômico, baseado num
planejamento ordenado, visando otimizar a implementação das atividades econômicas, con-
forme as potencialidades e limitações de cada unidade geoambiental em análise por este
estudo (Diagnóstico Geoambiental do Estado do Rio de Janeiro, CPRM)”.

Neste sentido, as planícies flúvio-marinhas (mangues) e as planícies flúvio-lagunares (bre-


jos) consistem em áreas limitantes frente à intervenção humana devido à alta suscetibilidade
à inundação, devendo, portanto, ter seus ecossistemas locais preservados ou recuperados.
A proliferação de loteamentos e condomínios nestes terrenos pode acarretar na destruição
de seu frágil ecossistema. Já as baixadas e as planícies fluviais, respeitando suas vocações
e limitações específicas, podem desenvolver sistemas agropastoris.

O Norte Fluminense e, em especial, os terrenos planos da Baixada Campista apresentam


boas condições para o incremento das atividades agrícolas, revitalizando esta região, que
ainda orbita na decadente monocultura canavieira. Por outro lado, extensas áreas do vale
do Paraíba do Sul e do Norte-Noroeste Fluminense demonstram uma estagnação de sua
economia agrária, calcada no subaproveitamento de suas terras, visando quase que exclu-
sivamente, a pecuária leiteira extensiva.

Todavia, grande parte dos terrenos de colinas e morros do Vale do Paraíba do Sul e do No-
roeste Fluminense podem compartilhar sistemas silvipastoris e agroflorestais, respeitando
as limitações naturais de cada tipo de terreno.

1.2 Potencialidade Mineral das Regiões Norte e Noroeste Fluminense

As rochas ornamentais destas regiões em fase de exploração e pesquisa receberam os se-


guintes nomes comerciais: – Granito Amarelo, Granito Amarelo Toulon, Granito Branco Ape-
ribé, Granito Cinza Prata, Granito Copacabana, Granito Coral, Granito Dourado, Granito
Floral Pádua Prata, Granito Floral Pádua Rosa, Granito Juparaná Gold, Granito Juparaná
Salmão, Granito Santa Cecília Light, Granito Verde Barroco, Granito Vermelho Toulon, Gra-
nito Preto Toulon, Mármore Branco Italva e Mármore Cintilante.

Segundo a distribuição litológica das rochas ornamentais na região, há uma predominância


do tipo granito, incidindo em 266 áreas, com características desde as de cores claras (bran-
co, amarelo) a de cores escuras (cinza claras) e de granulação variando desde fina a gros-
seira.

Destacam-se neste contexto, os granitos de Campos dos Goytacazes, com 55 direitos mine-
rários (Alvará de Pesquisa), predominando os do tipo intrusivo, representados pelo Granito
Cinza Prata de granulação média, com aspecto de um plúton de feição circular na região de
Ibitioca e o Granito Juparaná Salmão de granulação fina, com aspecto de corpo tabular, de
preenchimento de fratura e ou falha, apresentando feição de possível aplito, ocorrendo na
região de Itereré – Morangaba. Em menor escala, encontra-se nesta região o denominado
Granito Amarelo de granulação fina, sob a forma de aplitos, que cortam a rocha regional
representada pelo Charnockito. Presença de corpos gnáissicos estirados milonitizados, que
são explorados comercialmente com o nome de Granito Santa Cecília Light, nesta mesma
região de Morangaba.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 445


Outro município que apresenta uma grande vocação para granitos é o de Santa Maria Ma-
dalena, com 52 direitos de Alvará de Pesquisa, com predominância para um tipo litológico
de cor amarelado a cinza, de granulação fina a média e que recebe a denominação comer-
cial de Granito Juparaná Gold.

No município de Santo Antônio de Pádua, tradicional produtor de rochas para lajinhas e as-
semelhados, provenientes da milonitização de rochas ortognaissicas e da "Suíte Charnockí-
tica", ocorrem cerca de 36 direitos minerários de Alvarás de Pesquisa e uma Concessão de
Lavra para granitos que recebem a denominação comercial de Granito Floral Pádua Prata e
o Granito Floral Pádua Rosa. Presença de rochas gnaissicas miloníticas, do mesmo tipo das
que ocorrem em Santo Antônio de Pádua, são encontradas em menor incidência nos muni-
cípios de Miracema, Itaperuna e Porciuncula.

No município de Bom Jesus do Itabapoana são encontradas 36 áreas de Alvarás de Pesqui-


sa para granito (litologias do tipo gnaisse migmatítico), apresentando coloração variando
desde amarelo cinza a avermelhada, e localmente de coloração preta, recebendo denomi-
nações comerciais de Granito Amarelo Toulon, Granito Vermelho Toulon e Granito Preto
Toulon. Estes tipos de granitos têm como característica estrutural marcante a sua movimen-
tação (granitos movimentados) de boa aceitação no mercado. No Município ocorre, ainda, a
presença de corpos de rochas Charnockíticas e ou anfibolíticas (?) cujas áreas são objeto
de Requerimento de Pesquisa.

No que diz respeito às rochas carbonáticas, utilizadas para fins ornamentais, destacam-se
os mármores do município de Italva, comercialmente denominados Mármore Branco Italva e
Mármore Cintilante, elas são objeto de 9 direitos minerários referentes a Alvarás de Pesqui-
sa e Concessão de Lavra.

1.3 A Exploração do Petróleo na Bacia de Campos

As bases da política petrolífera nacional se estabeleceram, então com a Lei n.o 2004, que
criou a Petróleo Brasileiro S.A., PETROBRAS, a qual iniciou suas atividades em outubro de
1953.

As operações de exploração e produção de petróleo, bem como as demais atividades liga-


das ao setor de petróleo, gás natural e derivados, à exceção da distribuição atacadista e da
revenda no varejo pelos postos de abastecimento, foram monopólio conduzido pela Petro-
brás, de 1954 a 1997.

A exploração da Bacia de Campos começou no final de 1976, com o poço 1-RJS-9-A, que
deu origem ao campo de Garoupa, situado em lâmina d’água de 100 metros. Já a produção
comercial, começou em agosto de 1977, através do poço 3-EM-1-RJS, com vazão de 10 mil
barris/dia, no campo de Enchova.

Em 1997, o Brasil, através da Petrobrás, ingressou no seleto grupo de 16 países que produz
mais de 1 milhão de barris de óleo por dia. Nesse mesmo ano, em 6 de agosto de 1997, foi
sancionada a Lei n º 9.478, que abriu as atividades da indústria petrolífera no Brasil à inicia-
tiva privada.

Em 2003, coincidindo com a comemoração dos seus 50 anos, a Petrobrás dobrou a sua
produção diária de óleo e gás natural ultrapassando a marca de 2 milhões de barris, consi-
derando a sua produção no Brasil e no exterior.

No dia 21 de abril de 2006, tem início a produção da plataforma P-50, no Campo de Albaco-
ra Leste, na Bacia de Campos, o que permitiu ao Brasil atingir auto-suficiência em petróleo.

446 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


As mudanças no setor petróleo provocam grandes reformulações na Petrobrás. Com todos
os segmentos do setor abertos à competição, a empresa deixou de ser portadora do mono-
pólio do petróleo da União, embora continue a ter o Estado como acionista majoritário e
permaneça vinculada ao Ministério de Minas e Energia. A concorrência impõe o início da
atuação em novos negócios, o estabelecimento de parcerias com empresas privadas nacio-
nais e internacionais e uma presença efetiva e competitiva no exterior.

A empresa busca o crescimento no mercado brasileiro de petróleo e derivados, com o maior


retorno possível aos seus acionistas, passando a buscar sua consolidação como uma corpo-
ração internacional de energia, líder global no Setor de Energia. E dentro dessas grandes
linhas, as metas a cumprir são as de alcançar a mesma excelência conseguida nas tecnolo-
gias de prospecção em ambientes complexos, sobretudo em águas profundas, em todos os
segmentos do setor petróleo, seja na distribuição, no refino, na termoeletricidade, na petro-
química, nas atividades internacionais e, sobretudo, nas questões ambientais.

Os primeiros anos da década são também marcados pela forte atuação da Petrobras no
sentido de aprimorar suas relações com a sociedade. É o desenvolvimento da empresa-
cidadã, interessada em cumprir profundamente o compromisso da responsabilidade social.
Além de exercer as atividades-fim de produzir, refinar, transportar, distribuir e comercializar
o petróleo e o gás em condições máximas de eficiência e segurança, a Petrobrás passou a
se destacar como a empresa que mais investe no Brasil em projetos sociais, culturais, artís-
ticos e de educação ambiental.

Depois do acidente na Baía de Guanabara, em 2000, ela iniciou a implementação do Pro-


grama de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional - Pégaso. O objetivo é
criar padrões internacionais de segurança e proteção ambiental na empresa. Foram instala-
dos nove centros de defesa ambiental no país.

Segundo o seu departamento de Segurança, Meio Ambiente e Saúde, esses centros funcio-
nam como uma espécie de corpo de bombeiros contra vazamentos de óleo, com profissio-
nais de prontidão 24 horas, barcos, balsas, recolhedores e milhares de metros de barreiras
de absorção e contenção de óleo. Além disso, a Petrobrás mantém uma embarcação na
Baía de Guanabara, no litoral de Sergipe e no canal de São Sebastião, em São Paulo, es-
pecializada no controle de vazamentos. Todas as unidades da companhia no Brasil possu-
em Certificado ISO 14001, o que exige a manutenção de sistemas de monitoramento do
impacto de suas atividades.

Atualmente ela opera 112 plataformas de produção, aproximadamente 13.174 poços produ-
tores, com uma produção estimada de 1.978.000 barris por dia e 67 milhões de m³/dia de
gás natural, 16 refinarias com capacidade de processamento primário de aproximadamente
1.937.000 barris por dia e 25.197 quilômetros de dutos (www.petrobras.com.br).

1.3.1 Bacia de Campos - A Maior Reserva de Petróleo do Brasil

Considerada a maior reserva petrolífera da Plataforma Continental Brasileira, a Bacia de


Campos tem cerca de 100 mil km2 e se estende do Estado do Espírito Santo, nas imedia-
ções da cidade de Vitória, até Arraial do Cabo, na região dos Lagos, no litoral norte do Esta-
do do Rio de Janeiro. Atualmente esta bacia é responsável por aproximadamente 84% da
produção nacional de petróleo.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 447


Mapa 1 – Data das Descobertas dos Campos de Petróleo

Fonte: www.petrobras..br
Mapa 2 – Bacia de Campos

Fonte: www.petrobras.br

448 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Em 2007, a Bacia de Campos completou 30 anos de produção e abriga cerca de 80% das
reservas de petróleo já descobertas pela Petrobras no Brasil. Na atualidade, são extraídos
diariamente cerca de 1,49 milhões de barris de óleo e 22 milhões de metros cúbicos de gás
e as previsões para 2010 são de que a produção aumente para 1,8 milhão de barris de óleo
por dia e para 34,6 milhões de metros cúbicos de gás.

Dos 55 campos existentes hoje, na Bacia de Campos, 36 são considerados maduros, ou


seja, já atingiram o pico de produção. Para estender ao máximo a vida útil dessas áreas, a
Petrobrás aplica novas tecnologias e consegue um aumento de 3% no fator de recuperação
(reaproveitamento e extensão da vida útil) de óleo nessa bacia.

O Pré-Sal

Nesta década, os esforços de pesquisa e desenvolvimento da Petrobrás resultaram na des-


coberta de grandes reservas com grandes volumes de óleo leve, características de um pe-
tróleo de qualidade e atraente valor de mercado, nas regiões das Bacias de Campos e San-
tos, em águas profundas, em camadas que se localizam abaixo dos grandes depósitos de
sal o que se denominou, então, pré-sal. Pelas delimitações iniciais, que ainda não são defi-
nitivas, desde que envolvem uma prospecção muito mais complexa e onerosa, estes cam-
pos se posicionam entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo.

Em 2004, foram perfurados alguns poços em busca de óleo, na Bacia de Santos. É que ali
haviam sido identificadas, acima da camada de sal, rochas arenosas depositadas em águas
profundas, que já eram conhecidas. Em 2006, quando a perfuração já havia alcançado
7.600 m. de profundidade a partir do nível do mar, foi encontrada uma acumulação gigante
de gás e reservatórios de condensado de petróleo, um componente leve do petróleo. No
mesmo ano, em outra perfuração feita na Bacia de Santos, a Empresa e seus parceiros fize-
ram nova descoberta, que mudaria definitivamente os rumos dessa atividade e negócio no
Brasil.

A pouco mais de 5.000 m. de profundidade, a partir da superfície do mar, veio a grande no-
tícia: o poço, hoje batizado de Tupi, apresentava indícios de óleo, abaixo da camada de sal.
O sucesso levou à perfuração de mais sete poços e em todos eles se encontrou petróleo.
Com a experiência adquirida no desenvolvimento de campos em águas profundas da Bacia
de Campos, os técnicos da Petrobrás se mobilizam, neste momento, para implementar os
empreendimentos associados à exploração do pré-sal. Para isso, um intenso programa de
desenvolvimentos complementares e adaptações de tecnologias, soluções de logística,
marco institucional-legal, estrutura negocial e empresarial, entre outros aspectos, tudo isto
está em execução, avançando com o conhecimento acumulado pela Petrobrás, ao longo de
sua existência de conquistas de posições de mercado.

O termo pré-sal, portanto, refere-se a um conjunto de rochas localizadas nas porções mari-
nhas de grande parte do litoral brasileiro, com potencial para a geração e acúmulo de petró-
leo. Convencionou-se chamar de pré-sal porque forma um intervalo de rochas que se esten-
de por baixo de uma extensa camada de sal, que em certas áreas da costa atinge espessu-
ras de até 2.000m. O termo pré é utilizado porque, ao longo do tempo, essas rochas foram
sendo depositadas antes da camada de sal. A profundidade total dessas rochas, que é a
distância entre a superfície do mar e os reservatórios de petróleo abaixo da camada de sal,
pode chegar a mais de 7 km.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 449


Figura 1 - Seção Geológica Esquemática da Bacia de Campos, entre a Plataforma Continental e
Região de Águas Profundas

Fonte: Ricardo Defeo de Castro e Webster U. Mohriak (PETROBRAS); Felipe Medeiros e Kátia Man-
sur (DRM-RJ)

Neste momento, então, um dos projetos em realização é o Programa Tecnológico para o


Desenvolvimento da Produção dos Reservatórios Pré-sal (Prosal), que percorre trajetória
semelhante aos exemplos bem-sucedidos de outros programas efetuados pelo seu Centro
de Pesquisas (CENPES), tendo como exemplo típico o PROCAP, que viabilizou a produção
de petróleo em águas profundas. Além de desenvolver tecnologia internamente, a empresa
trabalha em sintonia com uma rede de universidades que contribuem para a formação de
uma sólida base de conhecimentos e para o portfólio tecnológico nacional, em parceria e em
coordenação com o CENPES, no que se inclui a formação e qualificação altamente especia-
lizada de profissionais para suportar os trabalhos atuais e futuros.

Entre as atividades, destaca-se, na atualidade, a conclusão da modelagem integrada em 3D


das Bacias de Santos, Espírito Santo e Campos, a qual será fundamental para a exploração
desses poços de grandes profundidades.

De fato, o desafio pré-sal deixa a Petrobrás em situação equivalente à vivida na década de


80, quando foram descobertos os campos de Albacora e Marlim, nas águas profundas da
Bacia de Campos. Com aqueles campos, a Empresa identificava um modelo exploratório de
rochas que inauguraria um novo ciclo de importantes descobertas. Exercitou-se a era dos
turbiditos, rochas-reservatórios e outras manifestações que ofereceram novas perspectivas
à produção de petróleo no Brasil e no mundo. Com o pré-sal das Bacias de Santos e Cam-
pos, surge, agora, o requisito de um novo modelo, assentado na descoberta de óleo e gás
em reservatórios carbonáticos, com características geológicas diferentes.

450 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


1.3.2 O Pré-Sal na Bacia de Campos

Os primeiros resultados dos trabalhos de prospecção apontam para volumes extremamente


expressivos. O poço de Tupi, na Bacia de Santos, tem volumes recuperáveis estimados en-
tre 5 e 8 bilhões de barris de óleo equivalente (óleo mais gás). Já o poço de Guará, também
na Bacia de Santos, tem volumes de 1,1 a 2 bilhões de barris de petróleo leve e gás natural,
com densidade em torno de 30º API. Estima-se uma produção para 2020, em torno de 1,8
milhões de barris/dia (www.petrobras.com.br).

Entre as questões a serem equacionadas, a pesca constitui uma das atividades mais impac-
tadas pela produção offshore de petróleo e gás. É preciso recuperar a cobertura vegetal
litorânea, e.g., os manguezais, no continente, e formar pesqueiros induzidos fora da rota
offshore. É preciso organizar os pescadores, seus processos ou a cadeia produtiva, incluin-
do a comercialização. É preciso repensar o descarte de resíduos orgânicos e não orgânicos
das plataformas e embarcações em alto mar, permitido por norma internacional, mas que
tem provocado impactos e por isso deve ser mudado. Há também a questão da mão-de-
obra e da atração de pessoal desqualificado, o que tem provocado o surgimento de favelas
em áreas de risco e de preservação ambiental, nas cidades escolhidas estrategicamente
para as operações de exploração em águas continentais.

1.3.3 Marco Regulatório

São novas as regras para exploração e produção de petróleo e gás natural na área de ocor-
rência da camada Pré-Sal e em áreas que venham a ser consideradas estratégicas, envia-
das pelo Executivo do Governo para apreciação do Poder Legislativo, no dia 31 de agosto
de 2009, sob a forma de quatro projetos de lei.

Esses projetos de lei definem o sistema de partilha de produção para a exploração e a pro-
dução nas áreas ainda não licitadas do Pré-Sal; a criação de uma nova estatal (Petro-Sal); a
formação de um Fundo Social; e a cessão onerosa à Petrobras do direito de exercer ativida-
des de exploração e produção (E&P) de petróleo e gás natural em determinadas áreas do
Pré-Sal, até o limite de 5 bilhões de barris, além do modo de capitalização da Empresa. Se a
proposta do Governo for aprovada, o país passará a ter três sistemas para as atividades de
E&P de petróleo e gás natural: concessão, a partilha de produção e a cessão onerosa.

A Petrobrás não irá perfurar os poços sozinha. Das 48 áreas (entre pós-sal e pré-sal) explo-
radas na Bacia de Santos, por exemplo, só em dez essa Empresa detém exclusividade.

2. A INSERÇÃO AMBIENTAL DOS GRANDES EMPREENDIMENTOS E DO A-


GRONEGÓCIO

Há um conjunto de grandes empreendimentos no Norte e Noroeste Fluminense em vários


estágios diferenciados. Alguns deles estão em operação, outros em construção, outros ain-
da projetados, programados ou em fase de elaboração de estudos de viabilidade. Existem
projetos relacionados diretamente à extração de petróleo e gás natural offshore, na Plata-
forma Continental (Petrobras, OGX, Chevron, etc) e projetos constituídos em outras áreas
de negócios.

• Porto da Barra do Furado, em Campos dos Goytacazes, que inclui a Dragagem do


Canal de Quissamã, Estaleiros e Entreposto de Pesca;
• Complexo Logístico e Industrial do Açu (Porto e retroárea)
• Heliporto do Farol de São Tomé (novo);

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 451


• Usinas Termelétricas e Siderúrgica do Porto de Açu;
• Usina Termelétrica de Campos, operada por Furnas, em Campos dos Goytacazes
e Linha de Transmissão 345 kV Campos- Porto do Açu;
• Usinas de Álcool, operadas por diversos grupos locais, em Campos dos Goytaca-
zes e outros municípios vizinhos.
• Mineroduto Minas-Rio, interligando Conceição do Mato Dentro (MG) ao Terminal
de Minério do Porto de Açu.
Em todos estes empreendimentos a qualidade ambiental, estabilidade da paisagem, preser-
vação da cobertura vegetal, qualificação e disponibilidade de mão-de-obra e condições de
vida da população das Regiões Norte e Noroeste Fluminense constituem questões chave
para a sua inserção nessas Regiões, como um nó da rede da economia global.

Na sua condição de grandes empreendimentos em instalação ou operação no Norte e No-


roeste Fluminense (Anexo V), eles tem um caráter pontual, sendo portadores de influências
e impactos e modificações que transcendem o território e a organização espacial mais pró-
xima, indo além fronteiras municipais, o que eleva de modo substantivo a complexidade das
relações.

Na verdade, observa-se uma concentração espacial desses grandes empreendimentos nos


municípios de Campos, Macaé, Quissamã e São João da Barra, o que implica que há mais
informações e ações voltadas para esses municípios, em detrimento dos demais. Por essa
razão, esse relatório enfatiza mais as transformações que ocorrem e ocorrerão em Campos
dos Goytacazes e Macaé.

2.1 Áreas de Influência dos Grandes Empreendimentos

Para balizar a discussão sobre a inserção dos grandes empreendimentos, é necessário te-
cer comentários em torno do que sejam suas áreas de influência, inclusive do ponto de vista
conceitual, pois o contexto no qual estão inseridos difere drasticamente de experiências an-
teriores.

Como forma de orientar os estudos dos grandes empreendimentos do Norte e Noroeste


Fluminense, foram definidos os conceitos e as delimitações das Áreas de Influência Direta e
Indireta (AID e AII), com base nos principais atributos causadores dos impactos ambientais
em seu entorno próximo.

Para isso, a essas áreas, somou-se o conceito de Área Diretamente Afetada – ADA, local
efetivamente afetado pelo empreendimento, como será visto a seguir.

Em virtude das características logísticas e operacionais dos grandes empreendimentos em


pauta, não foi considerada, do ponto de vista ambiental, a sua desativação (conquanto cons-
te a recomendação do fundo de exaustão) o que, portanto, não possui um tratamento espe-
cífico determinado neste momento.

2.2 Problemas Ambientais Numa Visão Político-administrativa

Com fins a avaliar os impactos ambientais que causassem algum efeito sobre as condições
de vida humana e a atividades econômicas, especificamente a pesca, a agricultura e a pe-
cuária, o IBGE realizou entre 2000 e 2001, a Pesquisa de Informações Básicas Municipais -
Perfil dos Municípios Brasileiros: Meio Ambiente 2002. Uma extensa pesquisa com os res-
ponsáveis pela gestão municipal na área ambiental dos 5.560 municípios do Brasil, realiza-
da no período de 24 meses.
452 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
As questões ambientais pesquisadas versam sobre três grandes temas: A) impactos ambi-
entais com conseqüências sobre as condições de vida da população; B) alterações no esta-
do do meio ambiente (impactos causados nos recursos ar, água e solo, alteração que tenha
prejudicado a paisagem no município e a degradação de áreas legalmente protegidas); e C)
impactos ambientais que tenham prejudicado as atividades agropecuárias e pesqueiras.

Dentre os municípios estudados, 41% (2.263) apontaram a ocorrência de alterações ambi-


entais que tenham afetado as condições de vida da população. O Estado do Rio de Janeiro
(com 66% dos municípios) juntamente com o Estado do Espírito Santo (64%) são os que
apresentam maiores proporções de municípios que informaram a ocorrência de alteração
ambiental que tenha afetado as condições de vida da população. No Estado do Rio de Ja-
neiro as causas mais observadas foram a contaminação de rios, baías, lagos, etc. (com 65%
dos municípios), queimadas (61%) e ocupação irregular e desordenada do território (59%).

No que se refere às alterações ambientais que causaram algum impacto à atividade pes-
queira, 1.026 municípios brasileiros apontaram a existência de problemas ambientais que
tiveram algum reflexo na atividade. Destes municípios, 75,2% apontaram como principais
causas dos problemas à pesca predatória, 45,5% informaram a degradação das matas cilia-
res e dos manguezais, e 43,4% apontaram assoreamento dos rios. De modo que é impor-
tante ressaltar que os estados do Rio de Janeiro (57,4%) e Espírito Santo (43,9%) lideram,
com os maiores percentuais do país, o número de municípios que apontou problemas ambi-
entais com a pesca.

2.3 Delimitação das Áreas de Influência dos Grandes Empreendimentos

2.3.1 Área Diretamente Afetada (ADA)

Área Diretamente Afetada é a área onde se localiza ou se desenvolve o empreendimento,


contextualizada pela ocorrência local onde serão implantadas as estruturas próprias do pro-
cedimento produtivo, tais como vias de trânsito, alças de apoio, rotatórias, fornos, portos,
oficinas e pátios de abastecimento e manutenção leve e pesada, depósitos de matérias-
primas, depósitos de rejeitos, depósitos de combustíveis, terminais de carga e descarga,
pontos de emissão e lançamento de resíduos assim como, temporariamente (fase de Im-
plantação) aqueles locais onde se localizam os pátios de obras, depósitos de material cons-
trutivo, banheiros, refeitórios, salas de apoio à engenharia entre outros.

Por definição e abrangência, a Área Diretamente Afetada (ADA) se localiza inserida na Área
de Influência Direta (AID).

2.3.2 Área de Influência Direta (AID)

Área sujeita aos impactos diretos da implantação e operação dos empreendimentos, ou se-
ja, aquela na qual ocorrem impactos ambientais de primeira ordem; eventualmente este
marco espacial pode ser definido como área de entorno.

Para cada aspecto ambiental considerado (meio físico, biótico e sócio-econômico), haverá
uma Área de Influência Direta própria. A soma de todas estas áreas indica a AID total do
empreendimento.

Portanto, sua delimitação deverá ser feita em função das características sociais, econômi-
cas, físicas e biológicas das interferências próprias de cada empreendimento, bem como de
suas particularidades.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 453


2.3.3 Área de Influência Indireta (AII)

A Área de Influência Indireta é área sujeita aos impactos indiretos da implantação, operação
do empreendimento, ou seja, aquela na qual ocorrem impactos ambientais, de segunda ou
mais ordens. Para cada parâmetro considerado nos meios físico, biótico e socioeconômico,
haverá uma Área de Influência Indireta. A soma de todas estas áreas indica a Área de Influ-
ência Indireta total dos empreendimentos.

Portanto, sua delimitação deverá ser feita em função das características demográficas, soci-
ais, econômicas, históricas, físicas e biológicas dos sistemas a serem estudados e das par-
ticularidades dos empreendimentos.

Conforme determina a Resolução CONAMA 01/86, na avaliação de impactos e a determina-


ção de áreas de influência, deverão ser consideradas as bacias nas quais se insere o em-
preendimento. O termo “considerada” não implica que a bacia corresponda a AID ou AII,
mas sim que, na definição destas áreas, deve-se considerar a distribuição dos impactos
dentro das bacias hidrográficas.

A posição dos grandes empreendimentos do norte e noroeste fluminense, localizados pon-


tualmente junto ao litoral, na foz do grande Rio Paraíba do Sul e inseridos, ocasionalmente,
em pequenas bacias voltadas diretamente para o oceano, dificulta o uso dessa tipologia.

No que se refere ao meio antrópico, tendo em vista a inserção dos empreendimentos em um


contexto urbano, de caráter submetropolitano, a delimitação dessa Área de Influência Indire-
ta extrapola a base física da bacia hidrográfica e centra-se nas populações residentes nos
municípios de entorno e, mesmo, naqueles mais afastados, inclusive dos estados vizinhos,
Minas Gerais e Espírito Santo, mas que, de alguma maneira, fazem uso regular do sistema
viário, da infraestrutura, de educação e saúde, de comércio ou buscam emprego em empre-
sas diversas que serão instaladas ou ampliadas em decorrência desse dinamismo econômi-
co e produtivo regional.

Assim, para a demarcação das áreas de influência dos grandes empreendimentos do Norte
e Noroeste Fluminense, foram utilizados os critérios e parâmetros multidimensionais, onde
cada qual se voltou para as especificidades do meio ambiental focalizado. Como conse-
quência, foram demarcadas áreas de influência distintas para os meios físico, biótico e an-
trópico.

Enfatiza-se, porém, que o Norte e Noroeste Fluminense constituem uma área bastante an-
tropizada, com um histórico secular de ocupações produtivas e com relações sociais e tra-
balhistas já consolidadas, bem como uma ampla cadeia produtiva organizada e funcional.

2.4 Área de Influência do Meio Físico

Área Diretamente Afetada - ADA

A Área Diretamente Afetada, para o meio físico, é definida pelo perímetro onde se situam as
instalações e demais áreas ocupadas pelo empreendimento e que sofrem interferência física
direta com a implantação das estruturas do projeto.

Compõe-se de toda a área útil do projeto, suas vias de trânsito, rotatórias, elevatórias, pon-
tos de apoio e equipamentos associados aos empreendimentos, áreas de construção e edi-
ficação, especialmente na fase de implantação.

454 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Nesta área deverão ser inseridos todos aqueles locais sujeitos a riscos e impactos decorren-
tes dos empreendimentos, sejam aqueles das operações regulares, sejam aqueles de ocor-
rência pontual, como jazidas e bota-foras, vias de tráfego sujeitas à poluição e contamina-
ção, cursos d’água sujeitos a derramamento de resíduos etc.

Conforme definição conceitual, esta área encontra-se inclusa à Área de Influência Direta.

Área de Influência Direta - AID

Aquela que ocorre nas imediações dos empreendimentos, que poderão sofrer impactos dire-
tos em função da implantação e operação do projeto.

Para tanto, considera-se como importante fator a antropização do entorno urbano e agrário
dos municípios locais, caracterizado por uma ocupação urbana densa no caso de algumas
cidades como Campos e Macaé, já consolidadas, bem como outras que há muito transfor-
maram o espaço rural outrora ali existente, em prol da implantação de cultivos importantes
regionalmente, como o tomate, cana-de-açúcar, eucalipto, fruticultura, mineração, pecuária
bovina e bubalina.

As alterações já promovidas no meio físico do Norte e Noroeste Fluminense, foram assimi-


ladas com o passar do tempo em função do grande número de empreendimentos de grande
porte instalados na Região. Neste contexto, a Área de Influência Direta pode ser considera-
da como um perímetro que envolve os principais municípios litorâneos da Baixada Campis-
ta, como Campos dos Goytacazes, São João da Barra, Macaé e Quissamã, onde não mais
se espera que quaisquer impactos ambientais seja em função da implantação, ou operação
de empreendimentos, no tocante ao meio físico, possam causar danos mais significativos
que aqueles já conhecidos.

Essa definição proposta considera, principalmente, a possibilidade de alteração do nível de


conforto ambiental (ruído, qualidade do ar, risco de derramamento de petróleo, emissões de
particulados e pequenas alterações do microclima local), cujos aspectos podem ser minimi-
zados por ações complementares aos empreendimentos, mas que, por sua dinâmica, já não
poderão ser mitigados.

Pela dimensão dos empreendimentos, os impactos ambientais de alta intensidade e de pri-


meira ordem nas drenagens ali existentes, especialmente em função da antropização, já não
são os mais relevantes.

Exceção deve ser feita em relação às possibilidades de acidentes ambientais pontuais, co-
mo derramamentos de petróleo no mar, rompimento de gasodutos e oleodutos e minerodu-
tos, descarrilamento de trens, emissões concentrais em termelétricas, etc.

Área de Influência Indireta - AII

A Área de Influência Indireta poderá ser delimitada pela soma das Áreas de Influência Direta
às bacias de drenagens onde se inserem os empreendimentos.

Novamente, exceção deverá ser feita no caso dos empreendimentos da Petrobrás, do Porto
do Açu, da Barra do Furado, visto que suas áreas de influência direta constituem o próprio
Oceano Atlântico.
2.5 Área de Influência do Meio Biótico

As abordagens espaciais no meio biótico são baseadas em metodologias de levantamento


qualitativo e quantitativo. Assim, no contexto dos grandes empreendimentos do Norte e No-
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 455
roeste Fluminense, a dinâmica produtiva regional, a ocupação histórica e a recente instala-
ção de número expressivo de grandes empreendimentos traz à tona uma ampla caracteriza-
ção da flora e fauna regionais.

Por outro lado, constata-se que, exceto naqueles casos em que se conseguiu preservar a
natureza encerrada em unidades de conservação, já não há ambientes naturais no Norte e
Noroeste Fluminense.

2.6 Área de Influência do Meio Antrópico

Área Diretamente Afetada - ADA

As Áreas Diretamente Afetada do meio antrópico pelos grandes empreendimentos deverá


considerar a área onde se localiza ou se desenvolve o empreendimento, contextualizado
pela ocorrência local onde irão ser implantadas todas as suas estruturas construtivas e ope-
rativas, tais como vias de trânsito, alças de apoio, rotatórias e, temporariamente (fase de
Implantação) se localizam os pátios de obras, banheiros, refeitórios, salas de apoio a profis-
sionais em geral, entre outros. Deverão ser inseridos aí, também, as principais vias urbanas
e regionais, que receberão o tráfego destinado à instalação e operação do projeto.

Nesse perímetro, os impactos diretos da obra serão sentidos por todos os residentes, bem
como interferirão no funcionamento da infraestrutura, de serviços públicos coletivos, tais
como escolas, unidades de saúde, redes de energia elétrica, água potável, telefonia fixa,
internet via cabo, redes coletoras de esgotos, redes pluviais, rotas e transporte coletivo, etc.

Abrange também aquelas vias que serão utilizadas por ocasião da instalação dos empreen-
dimentos, para o desenvolvimento de atividades típicas da obra, como deslocamento de
veículos para descarte de materiais inservíveis de terraplanagem e entulhos em geral (bota-
fora), transporte de materiais de boa qualidade (empréstimos de solo, rochas etc.), transpor-
te de grandes estruturas, como vigas para pontes, viadutos, dutos em geral (mineroduto,
gasoduto, oleoduto) etc. São, ainda, incluídas nesta tipologia aquelas áreas adjacentes a
essas vias e comunidades adjacentes às jazidas, áreas de descarte, etc.

Área de Influência Direta (AID) ou Área de Entorno (AE)

No meio antrópico, a Área de Influência Direta ou Área de Entorno é aquela que ocorre nas
imediações próximas ao empreendimento, cujas populações e atividades produtivas ou mo-
numentos poderão sofrer impactos diretos e imediatos em função da implantação e opera-
ção dos grandes projetos.

Para tanto, considera-se como fator relevante a característica inicialmente residencial e a


economia predominantemente agrária dos municípios adjacentes aos projetos. A ocupação
urbana é densa e já consolidada em Campos e Macaé, inexistindo marcos de feições natu-
rais ou históricos, exceto aqueles representados pelos bens já tombados.

Os demais municípios da Região se encontram em franca expansão, com uma artificialidade


decorrente do próprio dinamismo econômico recente, diretamente ligada aos grandes proje-
tos regionais. Contudo, com passar do tempo, estas condições serão incorporadas à rotina e
ao cotidiano das populações como atividades produtivas mais dinâmicas, reconhecendo-se
os seus benefícios e impactos.

Neste contexto, entende-se que a Área de Influência Direta ou Área de Entorno dos empre-
endimentos do Norte e Noroeste Fluminense pode ser delimitada por um perímetro abran-
gendo todos os municípios atravessados pelos empreendimentos lineares, independente da

456 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


área impactada diretamente, bem como pelos limites administrativos daqueles municípios
que compõem o “colar urbano” dos centros que abrigam as grandes empresas e cumprem
o papel de cidades-dormitório ou fornecedores de mão-de-obra.

Esse critério não contempla o parâmetro distância, tendo em vista que, no contexto regional
do Norte e Noroeste Fluminense, a acessibilidade e a disponibilidade de serviços e recursos
são fatores mais relevantes do que o tempo e o deslocamento.

2.7 Considerações Finais

Dada a complexidade espacial e ambiental do pólo produtivo do Norte e Noroeste Fluminen-


se, uma alternativa para sistematização e análise das questões ambientais se desenvolve
por meio de uma Avaliação Ambiental Estratégica. Essa metodologia preconiza a aprecia-
ção de cada empreendimento na presença dos demais, considerando seus impactos, tanto
positivos como negativos, numa visão cumulativa e macrorregional.

O Estado do Rio de Janeiro e, provavelmente o Brasil, carece de um marco regulatório para


discutir e disciplinar a instalação e a operação de grandes empreendimentos, análogos ao
caso do Norte Fluminense, concentrados espacialmente e temporalmente.

Aspectos socioeconômicos e urbanísticos se tornam nucleares no contexto da concentração


espacial e da diversificação dos empreendimentos produtivos, já que criam grandes expec-
tativas para a população e interferem diretamente no funcionamento do espaço urbano. Ca-
be um projeto, com a participação dos envolvidos, abrangendo todas as malhas urbanas,
que deverão ser, imediatamente, ampliadas e adequadas em termos da regulação existente,
às novas dinâmicas de ocupação terrritorial.

O caminho para essa atualização prioritária, passa pela elaboração de um plano diretor re-
gional para sistematização de políticas regionais, urbanas e sociais no Norte e Noroeste
Fluminense, notadamente abrangendo e integrando os municípios contíguos, que abrigam
os grandes empreendimentos.

Para evitar a acentuação do desequilíbrio socioeconômico intrarregional, tem-se como pro-


posição natural, a criação de arranjos produtivos viáveis para os municípios menores e, até
o momento, fora do circuito dos grandes investimentos. Esses arranjos produtivos deverão
guardar independência dos recursos gerados diretamente pelo petróleo e derivados, de mo-
do a assegurar, no médio prazo, uma independência e complementaridade nas cadeias pro-
dutivas das Regiões.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 457


3. POLUIÇÃO, CONTAMINAÇÃO, EMISSÕES, EFEITO ESTUFA, COMPENSA-
ÇÕES AMBIENTAIS

A elaboração do presente estudo baseou-se em visitas de campo e levantamento de dados


secundários e revisão bibliográfica, notadamente os dados e documentos disponibilizados
pelo INEA e CIDE, bem como as informações contidas no Zoneamento Econômico Ecológi-
co do Estado do Rio de Janeiro e em trabalhos.
A poluição e contaminação ambientais na Região estão relacionadas à degradação dos re-
cursos hídricos pela supressão da cobertura vegetal, uso do solo e, pontualmente, poluentes
gerados nos centros urbanos.
A partir de informações da Superintendência Regional do INEA, localizado em Campos dos
Goytacazes, não há dados sistematizados sobre poluição na área em estudo. Ainda segun-
do este organismo, as modalidades de ocorrência de poluição e contaminação mais signifi-
cativas na Região são:
• supressão da cobertura vegetal por atividade agropecuária;
• voçorocamento gerado por supressão da cobertura vegetal;
• assoreamento dos cursos d’água gerado por processos de voçorocamento;
• contaminação das águas por rompimento pontual de barragens nos contribuintes da
margem esquerda;
• carreamento de sólidos por chuvas e enchentes gerando elevação de sólidos em sus-
pensão e turbidez das águas;
• carreamento de produtos químicos e metais pesados por chuvas e enchentes;
• lançamentos pontuais e intencionais de pesticidas por produtores rurais quando da la-
vagem de equipamentos.

Pode-se igualmente relacionar:


• lançamento de esgotos sanitários “in natura” e lançamento de efluentes químicos de
forma acidental ou intencional;
• contaminação por lançamento de poluentes no mar principalmente à partir da foz do Rio
Paraíba do Sul;
• contaminação das águas oceânicas por óleo a partir de lançamentos provenientes de
lavagem de tanques de embarcações, águas de lastro, acidentes com embarcações e
plataformas e despejos acidentais de terminais;
• contaminação do solo e aquíferos por disposição inadequada de resíduos contamina-
dos;
• poluição do ar à partir das áreas industriais (atividade ceramista e industrias diversas) e
centros urbanos.
3.1 Mata Atlântica no Brasil
As florestas tropicais ocorrem na faixa intertropical, em decorrência da alta pluviosidade
causada pelo encontro dos ventos úmidos e cadeias montanhosas continentais. A maior
formação são as florestas neotropicais, sendo que o Brasil é o país com maior área. De uma
forma geral, estão incluídas entre os ecossistemas mais ricos em espécies do planeta (Tur-
ner & Collet, 1996), os quais, pela redução da área de ocorrência e isolamento dos habitats
remanescentes, tem sofrido uma perda acentuada de espécies.
A província tropical atlântica denominada Mata Atlântica é um complexo conjunto de ecos-
sistemas, que originalmente ocorriam desde áreas no Rio Grande do Sul, até o Maranhão e
o Ceará, atingindo inclusive o Mato Grosso do Sul e ainda pequenas parcelas na Argentina
e Paraguai. Deste complexo, que ocupava cerca de 1.306.421 km2 (15% do território brasi-
leiro), restaram fragmentos que representam apenas 6,8% da Mata Atlântica original (SOS
Mata Atlântica, 2006), ou 22,44% (Cruz & Vicenz, 2007 PROBIO/MMA -Quadros seguintes ).

458 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Transgressões e retrações de domínios em função das oscilações climáticas quaternárias,
além da grande geodiversidade, proporcionaram um quadro de altíssima biodiversidade e de
habitats encontrados ao longo da Mata Atlântica (Mantovani, 1993).
Dentre dezoito pontos críticos para a conservação no planeta, identificados por Wilson
(1992), a costa do Brasil é caracterizada como uma das principais áreas remanescentes de
alta biodiversidade. O autor considera como pontos críticos, habitats com alto grau de en-
demismo e diversidade de espécies, que correm perigo iminente de extinção em conse-
quência das atividades humanas.
Quadro 1 – Fisionomias Vegetais Inseridas no Domínio da Mata Atlântica
(1) 2 (2)
Fitofisionomia km %
Formações Florestais 1.041.998 79,76
Florestas Ombrófilas 405.446 31,11
Ombrofila Densa 218.790 16,75
Ombrofila Aberta 18.740 1,43
Ombrofila Mista 168.916 12,93
Florestas Estacionais 635.552 48,65
Semidecidual 486.500 37,24
Decidual 149.052 11,41
Zonas de Tensão Ecológica 157.747 12,07
Enclaves 66.468 5,01
Refúgio Ecológico 103 0,01
Formações Pioneiras 41.105 3,15
DMA - Total 1.306.421 100
(1) Mapa de Vegetação do Brasil 4 IBGE, 1993.
(2) Sobre a área total do DMA
Fonte: CONAMA, 1992

Quadro 2 – Percentagem de Remanescentes por Tipo de Formação Florestal


Formação Florestal %
Ombrófila Densa 44,91 44,91
Ombrófila Aberta 9,15
Ombrófila Mista 22,95
Estacional Decídua 18,74
Estacional Semidecídua 4,19
Fonte: Cruz&Vicens, 2007

A fragmentação do bioma Mata Atlântica é uma resultante direta da história da ação humana
e tem um marco na conquista do continente sul-americano pelos europeus com a extração
de madeira para exportação e desmatamento para a construção de vilas.
Num momento seguinte, a regionalização e velocidade do desmatamento passam a estar
relacionadas com as necessidades dos ciclos econômicos (da cana-de-açúcar; do ouro; café
e da pecuária). A atração populacional gerada pelo desenvolvimento das atividades econô-
micas acelerou a devastação do bioma Mata Atlântica.
Na Região Sudeste, em 1808, havia cerca de 1 milhão de pessoas; em 1816, 6,4 milhões.
Na segunda metade do século XX, a população brasileira que ocupa as áreas do bioma Ma-
ta Atlântica triplica. Hoje, são 100 milhões de brasileiros que vivem no bioma Mata Atlântica.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 459


As cidades, localizadas no bioma Mata Atlântica, tem estado em expansão, em parte por
fluxos migratórios inter e intra-regionais, mas também, pela própria dinâmica do ambiente
urbano; com causas muito evidentes na estrutura e uso da terra. A expansão populacional
urbana gera pressões sobre os fragmentos florestais localizados nas áreas de influência das
cidades.
No processo de crescimento populacional a implantação da estrutura produtiva (construção
de estradas, geração de energia, o fornecimento de água e o estabelecimento de sistemas
de comunicação), tem sido um elemento fundamental no direção da perda de florestas.
Nas décadas de 1940/1960, 75% da energia das indústrias brasileiras eram provenientes da
lenha, principalmente nas Regiões Sudeste e Sul, que ainda possuíam muitas áreas de flo-
resta e onde ocorria o desenvolvimento industrial acelerado (Tanizaki, Fonseca & Peter
Mouton, 2000). Porém, ainda em 1980, 22% da energia que alimentava o parque produtivo
brasileiro provinham da lenha (MMA, 1995).
Cabe ressaltar que entre 2000 e 2005, a taxa de desmatamento da Mata Atlântica, no Esta-
do do Rio de Janeiro, situou-se como a mais baixa dentre os estados que abrigam este bio-
ma. (Quadro a seguir).
Quadro 3 – Taxa de Desmatamento da Mata Atlântica nos Estados Brasileiros, 2000 - 2005
Estado % de área desmatada 2000 - 2005
Goiás 7,9
Mato Grosso do Sul 2,84
Santa Catarina 2,03
Paraná 1,34
Rio Grande do Sul 0,3
São Paulo 0,19
Espírito Santo 0,16
Rio de Janeiro 0,08
Fonte: SOS Mata Atlântica/INPE, 2006
A Mata Atlântica, remanescente, concentra-se nos estados das Regiões Sul e Sudeste - SE
(47,4%); NE (13,9%) e CO (38,7%) - recobrindo parte da Serra do Mar e da Serra da Manti-
queira, onde o processo de ocupação foi dificultado, sobretudo, pelo relevo acidentado e
pouca infra-estrutura de transporte. A distribuição deste ecossistema tornou-se, em grande
parte, um mosaico, com uma grande concentração na região do Sul de São Paulo e Leste
do Paraná e muitos fragmentos descontínuos. Sendo que a taxa de desmatamento na Regi-
ão Centro Oeste se encontra em níveis elevados, assim como em Santa Catarina, em parti-
cular, pelo fato desse Estado estar promovendo a sua substituição por plantações de flores-
tas de pinus e criação de suínos.

3.1.1 A Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro


No início da colonização européia, 97% (44.000 km2) da área do Estado do Rio de Janeiro
eram cobertos por florestas (Fundação S.O.S. Mata Atlântica / INPE, 1993). Nos dias atuais
a cobertura florestal do Estado está reduzida a menos de 20%. Por muitos anos os recursos
florestais e do solo foram usados de forma intensiva e sucessiva.

O Estado do Rio de Janeiro ainda apresenta grandes manchas de florestas sobre as verten-
tes da Serra do Mar. Sendo que os processos produtivos no entorno desses grandes frag-
mentos provocam impactos ambientais que levam a degradação e perda de remanescentes.

Deve ser ressaltado, que os fragmentos de Mata Atlântica, existentes no Estado do Rio de
Janeiro, são de tamanhos variáveis e com estados de conservação também diversos e ain-

460 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


da pouco analisados. A ampliação do conhecimento objetivo sobre os fragmentos desta re-
gião pode vir a subsidiar as ações que visem à conservação da sua biodiversidade e tam-
bém o processo do estabelecimento de práticas de desenvolvimento sustentável e a cons-
trução de políticas de conservação e uso sustentável dessa biodiversidade.

3.2 Expansão das Áreas de Pastagem

Nessa área fluminense, há amplo domínio das pastagens, classe mais representativa, que
ocupam mais de 60% da superfície total, tendo mais de três vezes a extensão das áreas de
floresta, a segunda classe mais representativa.

Alguns sistemas hidrográficos apresentam, basicamente, áreas de pasto, em especial àque-


les com predomínios de áreas planas ou de colinas e que não tem agricultura, como o Baixo
Rio Pomba e o Baixo Rio Muriaé.

As pastagens são ainda mais expressivas espacialmente quando se considera nessa classe
os 3% de pastagens em áreas de várzea, totalizando 63% da área em estudo com cobertura
de pastagens.

O Gráfico apresentado a seguir representa as classes de vegetação e usos do solo existen-


tes.

Gráfico 1 – Regiões Norte e Noroeste - Proporção das Classes de Vegetação e Uso do Solo

Fonte: ZEE RJ – 2009

Esse domínio tão amplo das áreas de gramínea, maior até do que o encontrado no Médio
Vale do Rio Paraíba do Sul, relaciona-se, significativamente, com a grande extensão das
áreas de planície e de colinas cujo fácil acesso possibilitou, historicamente, a remoção dos
ecossistemas originais e a introdução de áreas agrícolas e de pastagens.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 461


Há predomínio de floresta nos sistemas hidrográficos dos rios Macaé, Macabu, Imbé, São
Pedro e Preto, todos com grande proporção de áreas montanhosas, apesar de no âmbito
total essa classe ocupar 13,7% do recorte da área em estudo. Somado aos 1,6% de áreas
cobertas por restinga, alcança-se 15% de áreas de remanescentes de ecossistemas. Um
processo de destruição acentuada das florestas e das restingas caracteriza o recorte espa-
cial dessa área, ao longo da história.

Um dado relevante neste recorte espacial é a proporção de mais de 11% de cobertura por
agricultura. Trata-se de uma área de cerca de 176.400 ha., dos quais quase 174.800 ha. são
de plantação de cana, concentrada na área do Grupo Barreiras, existente na vasta planície
flúvio-marinha, que engloba o complexo deltaico do Paraíba do Sul, as partes baixas da ba-
cia do Itabapoana e o sistema hidrográfico dos Rios Guaxindiba, Cacimbas e Campelo, tam-
bém uma área de planície.

3.3 Processos Erosivos

A avaliação da fragmentação e da conectividade florestal é uma das metodologias utilizadas


para avaliar as áreas com potencial para surgimento de processos erosivos no projeto “Aná-
lise e Qualificação Sócio-Ambiental do Estado do Rio de Janeiro”1.
Um menor percentual de fragmentação florestal implica em uma maior capacidade de fluxo
genético entre os grupos, assegurando a variabilidade necessária à sobrevivência de espé-
cies animais e vegetais.
A análise da fragmentação florestal e da conectividade ecológica permite entender caracte-
rísticas da vegetação para além da extensão que ocupam, possibilitando analises sobre a
distribuição espacial dos fragmentos vegetais.
Estes fatores também atuam como indicadores de ocorrência, em maior ou menor escala,
da propensão à ocorrência de processo erosivos associados à perda da cobertura vegetal
com consequente exposição do solo e eventual carreamento, incidindo em assoreamento,
Tal exposição tem como resultado a perda da qualidade ambiental dos solos, caracterizan-
do-se, assim, como um aspecto de degradação do recurso natural e da paisagem.
Segundo os estudos realizados no ZEE, a área em estudo apresenta os seguintes resulta-
dos gerais quanto ao Índice de Conectividade Ecológica, ICE:
• Classe 1 – Região dos municípios de Itaperuna e Lage do Muriaé, associado à cafei
cultura e sua substituição pela pecuária;
• Classe 2 - Domínio deltaico do rio Paraíba do Sul, São Francisco do Itabapoana, São
João da Barra e Campos dos Goytacazes, onde o processo de retirada da vegetação
remonta a séculos e está intensamente associado à introdução de pastagens para bo-
vinocultura e à agricultura;
• Classe 3 – Região dos municípios de Bom Jesus do Itabapoana e Varre-Sai, onde
dominam as colinas e algumas áreas montanhosas. Esta classificação é fruto de uma
paisagem dominada por pastos e remoção recente dos fragmentos florestais para ex-
pansão da cafeicultura, mas com a presença de muitos fragmentos de tamanho signi-
ficativos, concentrados nas áreas de montanha, demonstrando um processo de de-
gradação menos intenso devido à limitação imposta pelo relevo;
• Classe 4 – Região compreendida pelos municípios de Macaé e Carapebus;
• Classe 5 – Município de Macaé.

1
“Análise e Qualificação Sócio-Ambiental do Estado do Rio de Janeiro” – Subsídio ao ZEE – Zoneamento Ecoló-
gico Econômico – Fundação COOPETEC – Volume 1 – Outubro / 2008.
462 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Gráfico 2 – Proporção de Classes de Conecção Ecológica (Calculado por Domínio Geomorfo-
lógico e Sistema Hidrográfico) na Região em Estudo

Classe 1 – Muito Baixo (Fragmentação florestal muito alta)


Classe 2 – Baixo (Fragmentação florestal alta)
Classe 3 – Médio (Fragmentação florestal média)
Classe 4 – Alto (Fragmentação florestal baixa)
Classe 5 – Muito Alto (Fragmentação florestal alta)
Fonte: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA) / Instituto Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA). Site: www.meioambiente.es.gov.br

Portanto, a interpretação destes resultados permite inferir que as áreas com maior potencial
de ocorrência de processos erosivos estão localizadas nas ocorrências de maior fragmenta-
ção florestal, coincidentemente aquelas que apresentam relevo mais acidentado e maior
declividade, exceto o Delta do Paraíba do Sul em razão do cultivo da cana.

O Anexo III, apresenta as áreas sujeitas à susceptibilidade a erosão hídrica e movimentos


de massa, dividindo-as em três grupos:

1. O primeiro seria o dos sistemas hidrográficos que drenam para o rio Paraíba do Sul,
que apresentam maior proporção e áreas sujeitas a voçorocamento;
2. O segundo seria o dos sistemas hidrográficos da escarpa da serra do Mar que dre-
nam em direção ao Oceano Atlântico, que apresentam uma maior incidência de fluxo de
detritos e movimentos de massa;
3. O terceiro, o dos sistemas das baixadas, onde praticamente não ocorrem os proces-
sos erosivos principais.

O primeiro grupo engloba os sistemas que drenam o rio Muriaé, Itabapoana, Carangola,
Pomba, e o sistema dos rios Guaxindiba, Cacimbas e Campelo. Esta área tem uma maior
proporção de áreas sujeitas a voçorocamento que as outras, os processos de rastejo tem
certa representatividade e os de fluxo de detritos e movimentos de massa não tem represen-
tatividade em muitos sistemas. Isto é conseqüência da relação entre o relevo da área, pre-
dominantemente colinoso e de planícies fluviais, e a cobertura de vegetação, onde a matriz
principal é de pastagem, que aumenta a susceptibilidade erosiva, com alguns fragmentos
florestais espaçados, e os condicionantes geotécnicos, onde existe um predomínio de mate-
riais argilosos e argilo-arenosos de baixa permeabilidade, que faz com que a maior parte
das áreas sujeitas a voçorocamentos seja de baixa susceptibilidade.

O segundo grupo é composto pelos sistemas hidrográficos do rio Preto, Macaé, Imbé, Ma-
cabu e São Pedro. Nestas áreas predominam os processos de fluxo de detritos e desliza-
mentos e os de voçorocamento também são relevantes. Este padrão é consequência do
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 463
relevo que tem grande proporção de áreas montanhosas de alta energia. Esta área tem uma
grande cobertura de florestas de boa qualidade, o que diminui a susceptibilidade, e os con-
dicionantes geotécnicos dominantes são os materiais espessos e muito espessos de baixa
coesão, que em parte potencializam os processos de voçorocamento e fluxo de detritos.

O terceiro grupo é o dos sistemas de baixada, onde não ocorrem registros de áreas com
susceptibilidade a rastejos e fluxo de detritos, apenas algumas poucas áreas com risco bai-
xo de voçorocamento. Estes são domínios tipicamente deposicionais, sendo assim ambien-
tes de baixa energia. Os ambientes deposicionais e áreas urbanas são mais presentes, o
que diminui o potencial erosivo. Dos condicionantes geotécnicos destacam-se os materiais
de elevada coesão que diminuem a susceptibilidade a erosão. Assim, estes ambientes se
mostram menos susceptíveis à erosão como um todo.

3.4 Poluição do Solo e das Águas

Dificilmente pode-se desvincular a poluição das águas superficiais e subterrâneas da con-


taminação do solo, uma vez que grande parte dos contaminantes atinge os corpos hídricos
através de processos com infiltração e carreamento. A remoção da cobertura vegetal expõe
as vertentes à ação dos processos erosivos diversos que resulta, em primeiro lugar, na de-
sagregação e remoção do solo, implicando, diretamente, na redução da fertilidade natural e
capacidade produtiva do ambiente. Em segundo lugar, esse material desagregado será
transportado e depositado no leito dos cursos d’água, resultando no assoreamento dos mes-
mos. Em terceiro lugar, decorrentes do assoreamento, tem-se duas consequências diretas,
quais sejam, as perdas de qualidade e quantidade de água.

Eventualmente, um solo contaminado por aditivos químicos de uso agrícola poderá, neste
processo, contribuir para a degradação da qualidade de solo e água.

As informações levantadas sobre poluição do solo e das águas continentais na região em


estudo estão relacionadas à contaminação por metais pesados provenientes do uso de de-
fensivos agrícolas utilizados monocultura de cana de açúcar na Região do município de
Campos dos Goytacazes e por assoreamento proveniente do carreamento de solo exposto
por perda de cobertura vegetal.

De acordo com Andrade e Silva “a partir da análise dos resultados parciais, é possível iden-
tificar quase um caráter monocultor em Campos dos Goytacazes, modelo este de produção
que exige grande uso de insumos químicos tais como fertilizantes e praguicidas, que podem
vir a aumentar a dispersão e concentração de metais pesados nos solos e águas do Municí-
pio. Analisando os parâmetros físico-químicos das águas fluviais, é possível afirmar que
essas encontravam-se ligeiramente ácidas, com uma tendência à neutralidade. Esta faixa de
variação encontra-se dentro daquela prevista para águas de rios”2. Levando-se em conta tal
avaliação, pode-se inferir que o uso de fertilizantes e defensivos não gera impacto significa-
tivo sobre as águas na região de Campos, considerada aquela com maior concentração de
atividade agrícola na região em estudo. Segundo informações fornecidas pela Superinten-
dência Regional do INEA, pela mesma razão, deve-se ressaltar também o potencial para
contaminação do solo e das águas por culturas nas regiões dos municípios de São José do
Ubá, relacionada ao cultivo de tomates e nos municípios Varre Sai, Natividade, Porciúncula
e Bom Jesus do Itabapoana, provenientes da recente expansão da cultura de café.
Os municípios com maior potencial para concentração de contaminação do solo e das á-
guas por produtos químicos de indústrias são respectivamente Campos e Macaé, uma vez
que neles se localizam os parques industriais mais significativos da Região.
2
ANDRADE, G.T.; SILVA, M.M. Avaliação da dispersão de metais pesados em solos da bacia do rio Muriaé em
zona rural do município de Campos dos Goytacazes – RJ.
464 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Quanto à poluição por processos relacionados ao binômio assoreamento e processos ero-
sivos, segundo o INEA, a área mais significativamente afetada está situada nos municípios
de Porciúncula, Natividade, Varre Sai e Bom Jesus do Itabapoana, principalmente em fun-
ção da supressão da cobertura vegetal original, em favor da crescente cultura de café.

Cabe citar o trabalho “Análise e Qualificação Sócio-Ambiental do Rio de Janeiro”, em subsí-


dio ao “Zoneamento Ecológico Econômico do Estado do Rio de Janeiro”, realizado pela
Fundação COOPETEC, em Outubro de 2008. De acordo com essa pesquisa, o Norte e o
Noroeste Fluminense estão inseridos nas Regiões Hidrográficas do Baixo Paraíba do Sul e
seus principais afluentes, tal como rio Muriaé e rio Pomba, Região Hidrográfica do rio Macaé
e Região Hidrográfica do rio Itabapoana, conforme o quadro abaixo:

Quadro 4 – Regiões Hidrográficas do Norte e Noroeste Fluminense

Regiões Hidrográficas Sistemas Hidrográficos


Baixada das Bacias Contribuintes aos Rios Macaé, São
João e Una e Búzios
RH VIII Macaé e Rio das Ostras Sistema Hidrográfico do Rio Macaé
Bacia do Rio São Pedro
Sistema Hidrográfico do Rio do Imbé
Baixada do Complexo Deltáico do Rio Paraíba do Sul
Pequenas Bacias da Margem Esquerda do Baixo Rio
Paraíba do Sul
Sistemas Hidrográficos dos Rios Guaxindiba, Cacimbas
e Campelo
Sistema Hidrográfico do Baixo Rio Pomba
RH IX Baixo Paraíba do Sul Sistema Hidrográfico do Médio Rio
Muriaé
Sistema Hidrográfico do Rio Macabu
Sistema Hidrográfico do Rio Preto
Sistema Hidrográfico do Alto/ Médio Rio
Muriaé
Bacia do Rio Carangola
Sistema Hidrográfico do Baixo Rio Muriaé
Sistema Hidrográfico da Bacia do Rio
Itabapoana

RH X Itabapoana Sistema Hidrográfico do Baixo Rio


Itabapoana
Sistema Hidrográfico do Alto/ Médio Rio
Itabapoana

Fonte: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA) / Instituto Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) - www.meioambiente.es.gov.br
É importante ressaltar a contaminação gerada por esgotos sanitários advindos dos centros
urbanos, uma vez que poucos deles possuem sistemas de tratamento de efluentes sanitá-
rios.
Em levantamento realizado junto às Municipalidades das Regiões Norte e Noroeste, pode-
se observar que, apesar de todas as sedes municipais serem abastecidas com água tratada,
poucas delas possuem sistema de tratamento de esgotos.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 465
O abastecimento de água é, via de regra, realizado pela concessionária CEDAE, e o trata-
mento de esgotos, quando existente, fica a cargo das Municipalidades, exceto em Campos
dos Goytacazes, onde os serviços são prestados pela concessionária Águas do Paraíba.

O quadro a seguir, apresenta a situação do sistema de gerenciamento de água e esgotos


levantado junto aos municípios, através de visitas “in loco” e de levantamentos junto às con-
cessionárias e municipalidades.

Quadro 5 – Gerenciamento de Águas e Esgoto


Município Abastecimento de Água Esgotos
Norte
Campos Águas do Paraíba Águas do Paraíba
Macaé CEDAE PMM
Quissamã CEDAE PMQ
São João da Barra CEDAE PMSJB
Carapebus CEDAE PMC
Conc. Macabú CEDAE PMCM
São Francisco de Itabapoana CEDAE PMSFI
Cardoso Moreira CEDAE PMCM
São Fidelis CEDAE PMSD
Noroeste
Italva CEDAE PMI
Cambuci CEDAE PMC
Itacoara CEDAE PMI
Aperibé CEDAE PMA
Santo Antônio de Pádua
Miracema CEDAE PMM
São José De Ubá CEDAE PMSJU
Itaperuna CEDAE PMI
Lage do Muriaé CEDAE PMLM
Bom Jesus Itabapoana CEDAE SAAE BJI
Natividade CEDAE PMN
Varre Sai CEDAE PMVS
Porciúncula CEDAE PMP
Fontes: CEDAE e Prefeituras (2010)

3.5 O Sistema Hidrográfico do Norte e Noroeste Fluminense

As Regiões Norte e Noroeste do Rio de Janeiro são drenadas por duas bacias hidrográficas
principais, Rio Itabapoana e o trecho final da bacia do Rio Paraíba do Sul, a maior bacia do
Estado, com características nacionais, uma vez que drena também os Estados de São Pau-
lo e Minas Gerais.

3.5.1 O Sistema Hidrográfico do Rio Paraíba do Sul

A bacia do Rio Paraíba do Sul destaca-se como principal curso d`água da área. Formado
pela confluência dos rios Paraitinga e Paraibuna, o rio Paraíba do Sul nasce na Serra da
Bocaina, no Estado de São Paulo, fazendo um percurso total de 1.120 km, até a foz em Ata-
fona, no Norte Fluminense. A bacia do rio Paraíba do Sul estende-se pelo território de três
estados - São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro - e é considerada, em superfície, uma
das três maiores bacias hidrográficas secundárias do Brasil, abrangendo uma área aproxi-
mada de 57.000 km².
466 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
No Estado do Rio de Janeiro, o rio Paraíba percorre 37 municípios, numa extensão de 500
km, praticamente quase a metade do território do Estado. Sua importância estratégica para
a população fluminense pode ser avaliada pelo fato de que o rio Paraíba do Sul é a única
fonte de abastecimento de água para mais de 12 milhões de pessoas, incluindo 85% dos
habitantes da Região Metropolitana, localizada fora da bacia, seja por meio de captação
direta para as localidades ribeirinhas, seja por meio do rio Guandu, que recebe o desvio das
águas do Rio Paraíba, para aproveitamento hidrelétrico.

Na bacia do Rio Paraíba do Sul deve ser dada atenção aos tributários da margem esquerda,
rios Pomba e Muriaé, bem como seus formadores que nascem na vertente oriental da Serra
da Mantiqueira.

Boa parte dos poluentes chega à região norte através do Rio Paraíba do Sul, bem como de
seus tributários. Por outro lado, a Região Noroeste recebe aporte de contaminantes apenas
dos tributários Pomba e Muriaé, estando fora da área de contaminação de outras fontes
situadas a montante da Baixada Campista.

A poluição fluvial na Região Noroeste do Rio de Janeiro está relacionada ao assoreamento


dos cursos d’água por processos erosivos e por contaminação do lançamento de esgoto
sanitário proveniente das áreas urbanas.

Como mencionado anteriormente, pode-se citar igualmente a contaminação por agrotóxico


proveniente de atividade agrícola, notadamente nos municípios Varre-Sai, Natividade, Por-
ciúncula e Bom Jesus do Itabapoana, provenientes do cultivo de café e de São José do Ubá,
relacionado ao cultivo de tomate.

No que tange a Região Norte Fluminense, a poluição fluvial está relacionada ao lançamento
de esgoto sanitário bruto nos cursos d’água proveniente dos centros urbanos tal como
Campos dos Goytacazes e Macaé, agrotóxico proveniente de atividade agrícola (plantio de
cana-de-açúcar e pecuária bovina).

Cabe também citar o transporte de contaminantes ao litoral, através do delta do Paraíba do


Sul.

A evolução e diversificação das atividades produtivas na bacia do Rio Paraíba do Sul provo-
caram uma situação de conflito entre os usuários da água. Os reservatórios representam o
elemento fundamental do sistema hídrico, enquanto regularizador da vazão do rio para a
produção de hidroeletricidade e fonte de água. Quando os recursos hídricos eram abundan-
tes em relação às demandas, mesmo com prioridade de uso para produção de energia elé-
trica, não se registraram conflitos pelo uso da água na bacia do Rio Paraíba do Sul, situação
que mudou com o desenvolvimento e a necessidade de atender aos múltiplos usuários da
água, tornando a gestão mais complexa diante dos diferentes atores sociais envolvidos.

Assim, na condição de usuário de jusante, o Estado do Rio de Janeiro se ve sob o impacto


dos usos conflitantes do Rio Paraíba do Sul: de um lado, água destinada ao abastecimento
público, e o alto crescimento da demanda de energia elétrica, do outro, destino final de es-
gotos, de efluentes industriais, agricultura, erosão, assoreamento, desmatamento das mar-
gens, entre outros.

A considerável expansão demográfica e o intenso e diversificado desenvolvimento industrial


ocorridos nas últimas décadas na Região Sudeste, refletem-se na qualidade das águas do
Rio Paraíba, podendo-se citar como fontes poluidoras mais significativas as de origem in-
dustrial, doméstica e da agropecuária, além daquela decorrente de acidentes em sua bacia.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 467


O trecho fluminense do rio é predominantemente industrial, sendo a mais crítica a região
localizada entre os municípios de Resende, Barra Mansa e Volta Redonda, e onde se en-
contram as indústrias siderúrgicas, químicas e alimentícias, entre as quais se destaca a
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), da qual originava a maior parte da carga poluente
lançada nesse trecho. Entretanto, considerando-se que as ações de controle da poluição
industrial aplicadas vem sendo bastante efetivas, observa-se uma diminuição expressiva
dos níveis de poluição por lançamentos industriais.

Ao mesmo tempo, a bacia do Rio Paraíba do Sul é especialmente sujeita a acidentes, não
só pela expressiva concentração de indústrias de grande potencial poluidor, como pela den-
sa malha rodo-ferroviária, com intenso movimento de cargas perigosas que trafegam pelas
rodovias Presidente Dutra (Rio-São Paulo) e BR-040 (Rio-Juiz de Fora), e acidentes ocorri-
dos em outros estados que chegam até o Paraíba através de seus rios afluentes.

Atualmente, a mais notória e prejudicial fonte de poluição da bacia do rio Paraíba do Sul são
os efluentes domésticos e os resíduos sólidos oriundos das cidades de médio e grande por-
tes localizadas às margens do rio, tais como Campos dos Goytacazes e Itaperuna, na região
em estudo. A única ação capaz de reverter esta situação é a implantação de estações de
tratamento de esgotos e construção de aterros sanitários e usinas de beneficiamento de lixo
domiciliar.

O INEA faz o monitoramento da bacia do rio Paraíba do Sul, mensalmente, em 16 estações


de amostragem na calha principal e 21 pontos de coleta nos afluentes, com o objetivo de
avaliar os principais indicadores físico-químicos de qualidade de água, bem como acompa-
nhar a comunidade fitoplanctônica quanto à composição quantitativa e qualitativa, e biotes-
tes qualitativos para avaliar a possível toxidez de cianobactérias e de sedimentos.

Destas estações, pelo menos quatro, Itaocara, Portela, São Fidelis e Campos geram dados
sobre contaminação das águas superficiais nas Regiões Norte e Noroeste.

3.5.2 O Sistema Hidrográfico do Rio Itabapoana

A bacia hidrográfica do rio Itabapoana possui uma área de drenagem de 4.875 km² e inclui
18 municípios dos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. No Estado do
Rio de Janeiro, abrange uma área de 1.520 km² , correspondendo a 40 % do total, englo-
bando integralmente Bom Jesus de Itabapoana e parte dos municípios de Porciúncula, Var-
re-Sai, Campos dos Goytacazes e São João da Barra.

O rio em apreço, de 264 km de extensão, nasce na serra de Caparaó (MG), em Alto Capa-
raó, onde começa com o nome de rio Preto, denominação que muda para Itabapoana de-
pois da confluência com o rio Verde. A partir da foz do ribeirão das Onças, um de seus aflu-
entes, o Itabapoana separa os Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, desaguando
no Atlântico entre o lago Marabá e a ponta das Arraias. Do Ribeirão das Onças até a sua foz
são cerca de 180 km de canal sinuoso, pontuado por várias cachoeiras: Santo Antônio, In-
ferno, Limeira e Fumaça, sendo esta última de 100 metros de altura.

Na zona do baixo curso do rio Itabapoana, em especial na faixa costeira sobre os tabuleiros
terciários, encontra-se uma concentração de lagoas, muitas das quais já drenadas por pro-
prietários rurais. Há pouca documentação técnica sobre elas. Destaca-se, pelo seu tama-
nho, uma em especial, localizada na foz do córrego do Cadeirão.

A bacia hidrográfica do Itabapoana está inserida em uma região cuja base econômica ‚ re-
presentada pelos serviços urbanos e por atividades do setor primário, especialmente, aque-
las ligadas ao café, pecuária leiteira, produção de cana-de-açúcar e fruticultura tropical. O
468 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
baixo dinamismo econômico da região também está relacionado ao caráter tradicional des-
sas atividades que não acompanharam as mudanças em curso no mercado brasileiro, prin-
cipalmente no que diz respeito a inovações tecnológicas.

Conflitos Presentes e Potenciais pelo Uso da água

Os principais conflitos presentes e potenciais pelo no da água na bacia do rio Itabapoana


decorrem da exigência dos usuários e/ou de organizações não-governamentais para que
haja um esforço conjunto voltado para a recuperação ambiental, o qual trará reflexos positi-
vos na proteção dos recursos hídricos e, por consequência, na melhoria da qualidade de
vida dos moradores.

O uso de agrotóxicos, destruição dos mangues e os desmatamentos dos poucos remanes-


centes de mata ciliar ainda existentes, tem causado reações adversas, que geram denún-
cias contra os executores e mandantes nos organismo responsáveis pela proteção do meio
ambiente.

A população da bacia, gradativamente, está tomando consciência da importância da perma-


nência das matas para preservar a água de seus mananciais. No Estado do Rio de Janeiro,
a bacia do Itabapoana é uma das que possuem menor índice de cobertura florestal. Em Mi-
nas Gerais e no Espírito Santo a situação não é diferente, fazendo com que muitos especia-
listas acreditem que algumas partes da bacia já apresentem vestígios de desertificação.

Nas épocas de estiagem alguns córregos, antes perenes, estão secando. E, os perenes
sendo pivô de conflitos, quando são, indevidamente, barrados, impedindo o fluxo d’água
para jusante. Estes conflitos embora temporários, pois entre dezembro e maio as chuvas
são intensas, tendem a se agravar caso os m‚todos de irrigação sejam disseminados na
região, sem um real conhecimento da oferta e da demanda de água.

Há também um grande número de reclamações contra a inércia das Municipalidades, para


resolver as questões de saneamento básico e para proteger a população do Itabapoana da
constante ameaça de enchentes. Restrito a faixa litorânea, o desenvolvimento de atividades
turísticas tem sido encarado como um problema sério para os cursos d’água. Os loteamen-
tos, hotéis e construções - ilegais ou não - não dispõem de locais adequados para a deposi-
ção de lixo nem de estação de tratamento de esgotos (individual e/ou coletivo).

3.5.3 O Sistema Hidrográfico do Rio Macaé


Decreto Estadual nº 34.243/03, de 4 de Novembro de 2003 e alterado em conformidade com
o disposto na RESOLUÇÃO N° 18 de 8 de novembro de 2006 do CERHI-RJ institui o Comi-
te da Bacia Hidrográfica do rio Macaé, que compreende a Bacia do rio Jurubatiba, Bacia do
rio Imboassica e a Bacia da lagoa de Imboassica no âmbito do Sistema Estadual de Geren-
ciamento de Recursos Hídricos.

“O rio Macaé nasce no pico do Tinguá (1.616m), na “serra” de Macaé de Cima, no município
de Nova Friburgo. Chega ao município de Macaé ainda encachoeirado, na localidade de
Barra do Sana; a partir daí, serve de divisa com Casimiro de Abreu até o córrego do Retiro.
Daí para frente, seu curso é todo em território macaense, através da baixada, até desembo-
car no Oceano Atlântico, depois de percorrer 200 km.

Tanto o rio Macaé, por uma extensão de aproximadamente 60 km, como o rio São Pedro,
até certa distância, podem ser navegáveis por canoas ou pranchas. Hoje, o rio encontra-se
dragado e retificado em toda a planície, tendo perdido suas curvas e meandros originais.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 469


“Com a retificação e a destruição ecológica de suas margens, houve redução da quantidade
de peixes – outrora abundantes – e diminuição do volume de água, além do assoreamento.”

A inserção no Município de uma Região Serrana favorece a existência de alguns rios cauda-
losos, mesmo quando suas nascentes ocorrem fora dos limites municipais (mas ainda assim
na região das “Serras”), como é o caso do Macaé e do São Pedro, alimentados pelas chu-
vas orográficas frequentes no local.

O município de Macaé está praticamente todo contido na bacia do rio Macaé. Essa bacia
possui uma densa rede de drenagem situada numa região tropical úmida, limitada ao Norte,
pela bacia do rio Macabu; ao Sul, pela do rio São João; a Oeste, pela do rio Macacu e, a
Leste, pelo Oceano Atlântico. O rio Macaé nasce na serra Macaé de Cima e o seu curso se
desenvolve numa extensão aproximadamente de 110 km, com uma área de drenagem de
1.765km2, da qual 1.325km2 estão nos limites do Município de Macaé, ou seja, mais de
75% do total da Bacia. Dentre os afluentes de primeira ordem destacam-se os rios Boa Es-
perança, Bonito, Sana, Ouriço, D’ Anta, Purgatório e São Pedro e os córregos Santiago e
Jurumirim.

Toda região, situada à montante do rio Macaé e seus respectivos afluentes do curso superi-
or, diz respeito a uma área topograficamente elevada, a Oeste do Município, pertencente à
Serra do Mar.

As comunidades encontradas nessa porção do Município correspondem às aglomerações


rurais que sobrevivem basicamente da agropecuária e que utilizam os rios para o abasteci-
mento doméstico, para a irrigação de culturas, para a dessedentação de animais e, também,
como corpo receptor de despejos domésticos e drenagem de áreas de cultivo.

Já na área do médio Macaé, os terrenos possuem menores elevações. Contudo, seus aflu-
entes da margem esquerda ainda cortam elevações da Serra do Mar, o que muito contribui
na formação das terras aluvionais, situadas à margem do médio Macaé. Esses afluentes,
por percorrerem áreas mais íngremes, apresentam um maior poder de desgaste. Assim, os
sedimentos carregados, ao longo dos seus cursos, são depositados nas áreas mais planas,
o que viabiliza a utilização agrícola dessas terras, tornando-as férteis por natureza.

O rio Macaé, tanto no alto quanto no médio de seu curso, apresenta-se sinuoso, com leito
pedregoso, atravessando terrenos rochosos e acidentados. Já no ponto onde é captada a
água pela CEDAE, na localidade de Severina, o leito apresenta-se arenoso, correndo no
sentido Sudoeste-Leste, com as margens baixas e espraiadas. O rio, ao atingir a localidade
próxima à fazenda Pau-Ferro e, logo após receber o rio São Pedro, conserva o seu leito
com as mesmas características apresentadas em Severina, sendo que seu curso segue no
sentido Noroeste-Sudeste, até desembocar no Oceano Atlântico, junto à cidade de Macaé.

Nas proximidades de sua foz, junto ao Oceano, o rio Macaé apresenta uma vazão média
estimada em 30m3/s, correspondendo a uma contribuição específica média aproximada de
17 l / s /km2. Isto torna a bacia susceptível a aproveitamentos para usos múltiplos dos re-
cursos hídricos disponíveis. O Departamento Nacional de Obras de Saneamento – DNOS
elaborou alguns estudos no sentido de viabilizar a construção de um barramento nas proxi-
midades da localidade de Ponte do Barão, no curso médio do rio Macaé, para fins não só de
regularização de deflúvios naturais como também proporcionar água para a irrigação e ou-
tros usos afins.

470 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


3.5.4 Qualidade da Água na Bacia do Rio Paraíba do Sul

Na década de 90, foi realizado o estudo de Modelagem de Qualidade da Água na Bacia do


Rio Paraíba do Sul, onde foram considerados os dados da rede de monitoramento da FEE-
MA e os dados levantados pelo Programa de Cooperação França - Brasil.

Neste estudo, a chamada região “C” correspondia ao trecho da bacia do Rio Paraíba do Sul
dentro das Regiões Noroeste e Norte Fluminense, desde o município de São Fidélis até a
sua foz, incluindo seus principais afluentes na região, os rios Pomba e Muriaé.

Dados de Monitoramento da FEEMA

Estes dados são relativos a 8 estações no rio Paraíba do Sul e principais afluentes. O perío-
do de monitoramento, de fevereiro de 1991 a dezembro de 1996, é aproximadamente o
mesmo coberto pelas amostragens do Programa de Cooperação França-Brasil.

Os parâmetros analisados pela FEEMA foram os seguintes:


• oxigênio dissolvido;
• demanda bioquímica de oxigênio;
• coliformes fecais;
• fósforo total;
• ortofosfatos dissolvidos;
• fenóis.
Os resultados do monitoramento da FEEMA mostraram-se consistentes e confirmaram os
resultados do monitoramento da Cooperação França Brasil, com exceção dos índices de
fenóis e coliformes fecais.

Para os fenóis, os valores obtidos no banco de dados da Cooperação França-Brasil não


indicam, quando os valores são menores que 0,001 mg/l ou quando não são detectados nas
medições, o que interfere significativamente nas análises. Desta forma, para estes parâme-
tros a análise foi realizada com base nos dados da FEEMA.

Com relação aos coliformes fecais, foram encontradas diferenças nos dois monitoramentos,
provavelmente devido a diferenças de metodologia, na coleta ou no processamento das
amostras.

Dados de Monitoramento do Programa de Cooperação França - Brasil

O programa de monitoramento realizado pela Cooperação França-Brasil produziu, entre


dezembro de 1992 e fevereiro de 1996 uma grande quantidade de dados de qualidade da
água. Para a sub-região C este monitoramento contemplou 14 estações de amostragem.
A frequência de amostragem não foi regular ao longo do período. Os parâmetros de quali-
dade da água analisados são os seguintes:
• temperatura da água (oc);
• ph;
• condutividade (25 oc) (umho/cm) ;
• turbidez;
• sólidos em suspensão (mg/l);
• alcanilidade (mg/l);
• dqo (mg/l);
• dbo (mg/l);
• matérias oxidáveis (mg/l);
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 471
• arsênio (mg/l);
• chumbo (mg/l);
• ferro (mg/l);
• selênio (mg/l);
• cobre (mg/l);
• zinco (mg/l);
• cromo (mg/l);
• manganês (mg/l);
• óleos e graxas (mg/l);
• sólidos voláteis (mg/l);
• oxigênio dissolvido (mg/l);
• fosfato total (mg/l);
• nitrogenio total (mg/l);
• nitrato (mg/l);
• nitrito (mg/l);
• nitrogênio amoniacal (mg/l);
• cádmio (mg/l);
• mercúrio (mg/l);
• fenóis (mg/l);
• detergentes (mg/l);
• coliformes totais (nmp/100ml);
• coliformes fecais (nmp/100ml);
• estreptococos fecais (nmp/100ml);
• alumínio (mg/l);
• potássio (mg/l);
• fluoretos (mg/l);
• bário (mg/l);
• sulfatos (mg/l);

Avaliação Geral

A Bacia do Paraíba do Sul, no trecho compreendido no estudo da Região, podia ser satisfa-
toriamente caracterizada em seus aspectos de qualidade da água, considerando os dados
históricos obtidos pela Cooperação França-Brasil e pela FEEMA, no período de 1992 a
1996.

Pela descrição de resultados dos parâmetros mais significativos nos processos de compro-
metimento de um sistema aquático, realizada anteriormente, associada às demais determi-
nações, foi possível estabelecer um quadro geral do trecho considerado.

As águas do rio Paraíba do Sul e seus afluentes neste trecho apresentaram alta disponibili-
dade de oxigênio durante todo o período de estudo, função de suas características físicas
favoráveis aos processos de oxigenação. Este aspecto é relevante na manutenção dos me-
canismos de oxidação da matéria orgânica residual, de grande importância em algumas es-
tações.

Os parâmetros que apresentaram maior nível de comprometimento foram os compostos


fosfatados, as demandas bioquímicas de oxigênio e os coliformes, evidenciando um proces-
so contínuo de poluição por material orgânico.

472 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Em relação aos compostos fosfatados, os níveis determinados na maioria das estações,
superam vários sistemas estudados no Brasil, na maioria lacustres, onde o processo de se-
dimentação favorece sua redução na coluna d'água.

No presente estudo, várias estações apresentaram níveis médios superiores a 0,08 mg/l de
P-Total, considerados excessivos em relação à classificação do CONAMA na época.

Estes resultados eram característicos de um sistema com produtividade aquática alta a mui-
to alta, sujeito a eutrofização.

A grande capacidade de reaeração do rio Paraíba do Sul e de seus afluentes, entretanto,


garante a oxidação deste excesso de matéria orgânica.

O outro parâmetro citado, os coliformes fecais, inicialmente é comprometedor da qualidade


da água em todas as estações, particularmente naquelas onde a influencia dos despejos
domésticos é mais acentuada, ou seja, nas proximidades das maiores cidades ribeirinhas.

Quanto aos demais parâmetros monitorados na época, esse rio não apresenta valores que
pudessem ser considerados limitantes ao desenvolvimento da fauna e flora aquática, assim
como prejudiciais para o consumo das populações humanas que utilizam suas águas.

Este quadro geral é semelhante ao encontrado durante os estudos das sub-regiões à mon-
tante, mas com a poluição industrial muito atenuada.

A poluição por esgoto domiciliar revelou ser, mais uma vez, a maior responsável pela de-
gradação ambiental das águas da bacia no trecho em estudo.

A questão do excesso de nutrientes não oferecia, nesta sub-região, risco de eutrofização,


pois não existiam reservatórios de acumulação de grandes dimensões em nenhum dos cur-
sos d’água considerados.

3.6 Comitês de Bacia Hidrográfica

Os Comitês de Bacia hidrográfica foram criados para gerenciar o uso dos recursos hídricos
de forma integrada e descentralizada, com a participação da sociedade.

Instituídos pela lei que estabeleceu a Política Estadual de Recursos Hídricos (3.239/98), os
colegiados são compostos por representantes do Poder Público, da sociedade civil e de
usuários de água. Essa formação tem como objetivo garantir a deliberação de decisões que
influenciem na melhoria da qualidade de vida da região e no desenvolvimento sustentado da
bacia. Por seu poder consultivo, normativo e deliberativo, os comitês são considerados o
"Parlamento das Águas".

Antes de sua criação, o gerenciamento da água era feito de forma isolada por municípios e
pelo Estado, o que dificultava o planejamento da captação, distribuição e do tratamento da
água.

A partir dos comitês, o Estado do Rio de Janeiro foi dividido em 10 Regiões Hidrográficas,
de acordo com afinidades geopolíticas e as bacias que abrangem.

O objetivo desta divisão é possibilitar a harmonização de conflitos e promover a multiplicida-


de dos usos conservação e a recuperação da água, garantindo o uso racional e sustentável
dos corpos hídricos.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 473


Também é função dos colegiados, articular a atuação de entidades intervenientes, aprovar
critérios de cobrança e o plano de bacia, inclusive acompanhando sua execução.

Os Comitês tem, como braço executivo as Agências de Bacia, responsáveis pela atualiza-
ção do balanço hídrico, da disponibilidade de água e do cadastro de usuários, além da ope-
racionalização da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, mediante delegação.

Os municípios integrantes das Regiões Norte e Noroeste Fluminense estão integrados em


dois Comitês de Bacia hidrográfica, quais sejam:

Comitê Rio Dois Rios

Principais Usos

Indústria têxtil, metalurgia, moda íntima, mineração, agricultura familiar e turismo ecológico e
rural.
Principais Problemas
• Falta de saneamento básico – quase na totalidade dos municípios o esgoto doméstico é
lançado diretamente nos corpos d'água sem tratamento adequado;
• Lançamento de efluentes industriais;
• Efluentes de atividades econômicas diversas como, por exemplo: pequenas indústrias e
postos de gasolina;
• Ocupação desordenada das margens dos rios;
• Agricultura com utilização intensiva de agrotóxico.

Comitê Baixo Paraíba do Sul

Bacia do Rio Paraíba do Sul: Usos da Água

Em termos gerais, os usos da água abarcam as atividades humanas em seu conjunto. Neste
sentido, a água pode servir para consumo ou como insumo em algum processo produtivo.

A disponibilidade do recurso é cada vez menor, por um lado, porque deve ser compartilhado
por atividades distintas e por outro, porque não é utilizado racionalmente.

Os principais usos da água na bacia são: abastecimento, diluição de esgotos, irrigação e


geração de energia hidroelétrica e, em menor escala, há a pesca, aquicultura, recreação,
navegação, entre outros.

A captação de água para abastecimento corresponde a 64 mil l/s (17 mil para abastecimento
domiciliar da população residente na bacia, mais 47 mil para o abastecimento da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro). Para uso industrial a captação é estimada em 14 mil l/s, e
para uso agrícola 30 mil l/s.

A atividade pesqueira na bacia desenvolve-se principalmente no baixo curso dos rios Paraí-
ba do Sul, Muriaé e Dois Rios. A pesca esportiva é praticada em toda a bacia, enquanto a
aquicultura vem-se expandindo nos últimos anos.

O uso da água para recreação ocorre principalmente nas regiões serranas, nas nascentes
de diversos cursos d'água, onde há cachoeiras e a canoagem é bastante difundida. Na ba-
cia do Paraibuna (MG-RJ), principalmente nos municípios situados na sub-bacia do rio Pre-
to, as cachoeiras constituem o principal atrativo turístico.

474 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


3.6.1 Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CERHI

Fomentar uma política cada vez mais eficaz na gestão dos recursos hídricos do Estado do
Rio de Janeiro. Para atingir esse objetivo, foi criado o Conselho Estadual de Recursos Hídri-
cos (CERHI), instituído pelas Leis nº 3239 e nº 9.433/97, que estabelecem, respectivamente,
as Políticas Estadual e Federal de Recursos Hídricos.

Com diretrizes são baseadas no Conselho Nacional de Recursos Hídricos e na Agencia Na-
cional de Águas, o Conselho é um órgão colegiado, integrante do Sistema Estadual de Ge-
renciamento de Recursos Hídricos (SEGRHI), com atribuições normativas, consultivas e
deliberativas.

As finalidades e objetivos do CERHI são voltados à valorização dos corpos d’água de domí-
nio estadual. Dentre eles, estabelecer parâmetros para a outorga e cobrança de direito de
uso da água, além de promover a articulação, integração e coordenação do planejamento
estadual de recursos hídricos entre as autoridades nacional e regional e os usuários.

Também é responsabilidade do Conselho aprovar propostas de criação de Comitês de Ba-


cia Hidrográfica no Estado, orientar a implantação da Política Estadual de Recursos Hídri-
cos, a aplicação de seus instrumentos e a atuação do Sistema Estadual de Gerenciamento
de Recursos Hídricos.

A Secretaria Executiva do Conselho fica sob o exercício do INEA e desempenha, entre ou-
tras atividades, a coordenação e elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos e o
suporte administrativo às atividades do Plenário e das Câmaras Técnicas.

Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos

O Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos tem como principal objetivo a


reversão do quadro de degradação de rios e lagoas do Estado e vem sendo implantado a
partir das Leis Estaduais 3.239/99 e 4.247/03.

O Instituto Estadual do Ambiente, INEA, é o órgão responsável pela gestão dos recursos
hídricos do Estado do Rio de Janeiro e está trabalhando em estreita colaboração com a A-
gência Nacional de Águas, ANA, no sentido de ampliar a regularização dos usos e usuários
de recursos hídricos no Estado

Para facilitar esse processo de regularização, a ANA disponibilizou recentemente o Cadas-


tro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos, CNARH, visando unificar os cadastros de
usuários de águas de domínio da União e dos Estados.

3.7 A Região Costeira

A região costeira está representada exclusivamente por municípios da Região Norte Flumi-
nense, qual sejam: Macaé, Quissamã, Campos dos Goytacazes, Carapebus, São João da
Barra e São Francisco de Itabapoana.

As principais fontes geradoras de contaminantes do solo e águas continentais no norte e


noroeste fluminense são a pecuária bovina e a cafeicultura, o cultivo da cana, a fruticultura,
projetos civis de urbanização, projetos viários e industriais, esgoto sanitário e parques indus-
triais3.

3
Informação oral. René Justen, Superintendente Regional do INEA em Campos dos Goytacazes.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 475
A poluição marinha está relacionada a eventuais derrames de óleo provenientes da extração
de petróleo em plataformas “offshore”, acidentes e lavagem de tanques de embarcações,
lançamentos de efluentes e resíduos bem como esgoto sanitário de centros urbanos e in-
dustriais, que chegam ao oceano levados pelos principais cursos d’água da região.

De acordo com informações da Petrobras - Macaé, os casos de acidentes ambientais envol-


vendo derrame de petróleo são pontuais e controlados através de ações e procedimentos
previstos no plano de atendimento a emergências da Petrobrás.

Cabe ressaltar a situação do delta do Rio Paraíba do Sul, para onde são transportados os
eventuais contaminantes gerados no rio, principalmente aqueles gerados pela área metropo-
litana de Campos dos Goytacazes, e lançados no Oceano. Situação similar é observada no
município de Macaé.

Obras pontuais, como a drenagem do canal de Quissamã e a construção do complexo do


Porto de Açu, podem gerar impactos típicos de projetos civis tais como assoreamento, gera-
ção de resíduos sólidos, supressão vegetal, ruído, alterações sócio-econômicas, entre ou-
tras. Essas intervenções de grande porte foram objeto de processos específicos de licenci-
amento ambiental e, portanto, pressupõe-se que estejam sob monitoramento e controle am-
biental.

Quanto aos aspectos envolvidos na poluição marinha na faixa costeira da região em estudo,
em julho de 2007, a Universidade Estadual do Norte do Rio de Janeiro realizou um estudo
sobre a potencial contaminação dos peixes marinhos por metais na costa Sudeste brasileira.
Os parâmetros avaliados foram teores de contaminação por Al, Fé, Mn, Ba, Cu, Zn, Ni, Pb,
Cr, Cd, e V.

Com exceção do cromo, o estudo desenvolvido demonstrou que apesar do aporte de mate-
rial particulado em suspensão, como o recebido pela região da praia de Atafona (município
de São João da Barra), próxima à foz do rio Paraíba do Sul, e do rio Macaé para a região de
Macaé, as quatro espécies de peixes estudadas apresentaram valores que podem ser con-
siderados como livres de contaminação, ressaltando-se aqui que estes padrões são dinâmi-
cos, e dependente do montante de aporte de metais e sua biodisponibilidade4.

Quanto à poluição gerada por petróleo no ambiente marinho, de acordo com Ziolli (2002, p.
34), a mesma é gerada principalmente por águas de lavagem dos tanques petroleiros, á-
guas de lastro, despejos de refinarias costeiras, operação de navios petroleiros em terminais
e acidentes envolvendo navios petroleiros e outros tipos de navios.

Especificamente na zona costeira da área em estudo, pode-se considerar os acidentes com


navios e os derrames de óleo em acidentes com plataformas de petróleo, como aquelas
modalidades que podem afetar a Região.

3.7.1 Gerenciamento Costeiro - GERCO

Nos últimos dez anos, o Estado do Rio de Janeiro, por intermédio da FEEMA, tem participa-
do do Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro, PNGC, instituído pela Lei Federal n°
7.661, de 16/5/88. Este Programa, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, vem sen-
do executado nos 17 estados costeiros da Federação, no âmbito do Programa Nacional de
Meio Ambiente, PNMA.

4
COSTA, J.R. Distribuição de Metais em Peixes Marinhos ao Longo do Litoral Sudeste do Brasil. Monografia,
Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes. 2007.
476 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Além dos instrumentos de gerenciamento ambiental, previstos no Art. 9º da Lei 6938/81, que
trata da Política Nacional do Meio Ambiente, serão considerados, para o PNGC, os seguin-
tes instrumentos de gestão:

• Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro, PEGC, legalmente estabelecido, deve


explicitar os desdobramentos do PNGC, visando a implementação da Política Estadual
de Gerenciamento Costeiro, incluindo a definição das responsabilidades e procedimen-
tos institucionais para a sua execução.
• Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro, PMGC, legalmente estabelecido, deve
explicitar os desdobramentos do PNGC e do PEGC, visando a implementação da Políti-
ca Municipal de Gerenciamento Costeiro, incluindo as responsabilidades e os procedi-
mentos institucionais para a sua execução. O PMGC deve guardar estreita relação com
os planos de uso e ocupação territorial e outros pertinentes ao planejamento municipal.
• Sistema de Informações de Gerenciamento Costeiro, SIGERCO, componente do
Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (SINIMA), se constitui em um
sistema que integra informações do PNGC, proveniente de banco de dados, sistema de
informações geográficas e sensoriamento remoto, devendo propiciar suporte e capilari-
dade aos subsistemas estruturados/gerenciados pelos Estados e Municípios.
• Sistema de Monitoramento Ambiental da Zona Costeira, SMA-ZC se constitui na
estrutura operacional de coleta de dados e informações, de forma contínua, de modo a
acompanhar os indicadores de qualidade sócio-ambiental da Zona Costeira e propiciar
o suporte permanente dos Planos de Gestão.
• Relatório de Qualidade Ambiental da Zona Costeira, RQA-ZC consiste no procedi-
mento de consolidação periódica dos resultados produzidos pelo monitoramento ambi-
ental e, sobretudo, de avaliação da eficiência e eficácia das medidas e ações da gestão
desenvolvidas. Esse Relatório será elaborado, periodicamente, pela Coordenação Na-
cional do Gerenciamento Costeiro, a partir dos Relatórios desenvolvidos pelas Coorde-
nações Estaduais.
• Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro, ZEEC se constitui no instrumento bali-
zador do processo de ordenamento territorial necessário para a obtenção das condições
de sustentabilidade ambiental do desenvolvimento da Zona Costeira, em consonância
com as diretrizes do Zoneamento Ecológico-Econômico do território nacional.
• O Plano de Gestão da Zona Costeira, PGZC compreende a formulação de um conjun-
to de ações estratégicas e programáticas, articuladas e localizadas, elaboradas com a
participação da sociedade, que visam orientar a execução do Gerenciamento Costeiro.
Esse plano poderá ser aplicado nos diferentes níveis de governo e em variadas escalas
de atuação.
3.7.2 A Zona Costeira Fluminense
O quadro ambiental da costa do Estado do Rio de Janeiro apresenta enorme complexidade.
Corresponde a uma faixa de 600 km de extensão por aproximadamente 40 km de largura,
composta por 33 municípios, com características peculiares no que diz respeito aos interes-
ses de preservação, ao potencial turístico e de desenvolvimento urbano e às pressões da
especulação imobiliária e de atividades industriais e portuárias de porte.
Nesta região, caracterizada por uma grande variedade de ecossistemas frágeis e relevan-
tes, concentram-se atividades econômicas diversas, muitas delas conflitantes com a susten-
tabilidade do meio ambiente que as abriga.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 477


Contrapondo-se a este quadro, ali se concentra mais de 10,5 milhões de habitantes (80% da
população fluminense), consubstanciando uma densidade demográfica de 585 hab/km²,
uma das maiores, dentro dos estados costeiros da Federação.
Quadro 6 - Particularidades da Zona Costeira
SETOR COSTEIRO MUNICÍPIOS
Paraty, Angra dos Reis, Mangaratiba, Itaguaí, Seropédica, Quei-
Setor 1: Litoral Sul
mados, Japeri.
Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, B. Roxo, S. J. de Meriti, Nilópolis,
Setor 2
Duque de Caxias, Magé, Guapimirim, S. Gonçalo, Itaboraí, Niterói,
Litoral da Baía de Guanabara
Maricá.
Setor 3 Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, S. Pedro d'Aldeia, Arraial
Litoral da Região dos Lagos do Cabo, Cabo Frio, Búzios, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras.
Setor 4 Macaé, Carapebus, Quissamã, Campos, São João da Barra, São
Litoral Norte - Fluminense Francisco do Itabapoana.
Total 34 MUNICÍPIOS
Fonte: http://www.inea.rj.gov.br

Quadro 7 – Principais Indicadores da Costa Fluminense


Indicador Valor Observação
Linha de Costa 850km
Perímetro das Ilhas 650Km 365 ilhas
Lagoas Costeiras 34 Médio e Grande Porte
Baías 3 Guanabara, Sepetiba e Ilha Grande
Área da Zona Costeira 19.000km² 42% do Estado
Número de municípios 33 10 criados na última década
População 11 milhões 85% do Estado
Densidade populacional 600 hab/km² Segunda maior densidade do país
PIB do Estado (1997) a Custos de Fatores -
Participação no PIB do Estado 85%
102,3 Bilhões
Número de Indústrias 3.200 Com mais de 20 empregadosl
Produção de Petróleo 70% Produção nacional
Grandes Portos 2 Mais um projetado para o Litoral Norte
Usina Nuclear 2 Angra III - Em construção
Fonte: http://www.inea.rj.gov.br

REALIZAÇÕES DO GERCO/RJ
Inicialmente, com o apoio financeiro do Ministério da Marinha (CIRM), e posteriormente, do
Ministério do Meio Ambiente (MMA), foram obtidos, até aqui, os seguintes avanços:
• Fortalecimento da infra-estrutura operacional para gerenciamento costeiro;
• Treinamento e capacitação de pessoal na área de gestão costeira;
• Elaboração do Macro-zoneamento da Região dos Lagos;
• Elaboração de uma proposta de Plano de Monitoramento da Zona Costeira;
• Elaboração de uma proposta de Plano de Gestão para a Zona Costeira;
• Elaboração do Macro-zoneamento do Litoral Norte (parcial);
• Implantação do Sistema de Informações para o Gerenciamento Costeiro – Sigerco;
• Fortalecimento dos arcabouços institucional e legal;
• Elaboração de planos diretores de unidades de conservação, em áreas costeiras, com
destaque para as APAs de Maricá (Município de Maricá), de Massambaba (municípios
de Saquarema, Araruama e Arraial do Cabo), e de Sapiatiba (Município de São Pedro
da Aldeia);

478 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


• Elaboração de perfis ambientais de 9 municípios da faixa costeira: Cabo Frio, Arraial do
Cabo, São Pedro da Aldeia, Araruama, Saquarema, Casimiro de Abreu, Macaé, Quis-
samã e Campos dos Goytacazes, como apoio à gestão ambiental local;
• Mapeamento de áreas frágeis a serem protegidas, em apoio ao Plano de Contingência
(derramamento de óleo) da Baía de Guanabara;
• Estudos biológicos das áreas de restinga do estado;
• Elaboração do Macro-Plano de Gestão da Bacia da Baía de Sepetiba;
• Elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Baía da Ilha Grande.
A última realização marcante, no âmbito do Projeto de Gerenciamento Costeiro, foi a reali-
zação de um workshop para a elaboração de um Plano de Gestão da Zona Costeira do Es-
tado, reunindo a maioria dos municípios litorâneos do estado.

O Plano de Gestão da Zona Costeira visa a implementação de ações integradas que orien-
tem a proteção dos recursos ambientais e viabilizem o desenvolvimento sustentável da regi-
ão, contemplando soluções para os problemas encontrados, definindo atores envolvidos,
responsabilidades e prazos.

A expectativa é a de que o Plano de Gestão da Zona Costeira venha a desempenhar um


importante papel, fazendo a ponte entre as diferentes esferas de governo, possibilitando,
assim, a necessária integração das diversas ações institucionais existentes no Estado, de
forma a consolidar a ação de gerenciamento costeiro nesse nível, além de possibilitar sua
extensão aos diversos municípios litorâneos.

Com o término do Programa Nacional de Meio Ambiente (PNMA), executado com recursos
do Banco Mundial, as atividades que necessitam de investimentos (contratação de consulto-
rias, aquisição de equipamentos, etc.), tiveram o seu ritmo reduzido. Entretanto, a FEEMA,
por meio das suas atividades de rotina (fiscalização, licenciamento e monitoramento), conti-
nua atuando na zona costeira, como sempre fez.

IMPACTOS E RESULTADOS OBTIDOS


Dentre os impactos positivos e os benefícios diretos e indiretos, resultantes da execução do
projeto, podem ser mencionados:
• Ampliação da cultura de gerenciamento costeiro no âmbito de atuação dos órgãos seto-
riais de governo e no contexto político-institucional;
• Ampliação da capacidade técnica dos profissionais em matéria de gestão costeira;
• Melhoria da capacidade técnica no planejamento de ambientes costeiros;
• Maior agilidade no levantamento de informações por meio de técnicas de geoproces-
samento;
• Maior agilidade no fornecimento de informações, a partir da estruturação de um banco
de dados e melhoria da qualidade da informação;
• Fortalecimento de parcerias nos âmbitos federal, estadual e municipal;
• Aumento da capacidade da FEEMA na área de sensoriamento remoto e na aplicação
dessa tecnologia no processo de monitoramento ambiental;
• Ampliação do atual sistema de monitoramento da FEEMA, incorporando outras variá-
veis importantes, principalmente no que se refere ao uso do solo, a aspectos oceano-
gráficos e sócio-econômicos;
• Melhoria do relacionamento institucional com entidades da sociedade civil e acadêmica;

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 479


• Aumento da capacidade de resposta no processo de licenciamento de atividades polui-
doras a serem implantadas na zona costeira;
• Fortalecimento dos instrumentos legais de controle, a partir da elaboração de planos
diretores de unidade de conservação e da normatização de atividades poluidoras.

PROJETO ORLA/RJ

O Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima - Projeto Orla - é uma ação do Ministério do
Meio Ambiente (MMA), conduzida pela Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamen-
tos Humanos, e da Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Or-
çamento e Gestão (SPU/MPO), em parceria com os Governos Estaduais.

O Projeto tem por objetivo contribuir, em escala nacional, para a aplicação de diretrizes ge-
rais de disciplinamento de uso e ocupação da orla marítima, fortalecer a articulação dos dife-
rentes atores do setor público para a gestão integrada da orla, desenvolver mecanismos de
mobilização social para a gestão integrada da orla e estimular o desenvolvimento sustentá-
vel na orla.

Estes objetivos se materializam por meio da capacitação das administrações municipais


para a gestão integrada de suas zonas litorâneas, visando solucionar os conflitos de uso e
ocupação, especialmente os que envolvem a destinação de terrenos e demais bens sob
domínio da União.

O Projeto abrange uma faixa continental, envolvendo os ecossistemas tipicamente litorâ-


neos e uma faixa marinha que se estende até a profundidade de 10 metros.

O Projeto prevê três etapas básicas: 1 – o treinamento de quadros municipais; 2 – a elabo-


ração de planos municipais de intervenção da orla; 3 – a celebração de convênio entre a
Secretaria de Patrimônio da União, SPU, e os municípios para implementação dos planos
de intervenção, sob a supervisão dos órgãos ambientais competentes.

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
A primeira etapa da implementação do Projeto Orla5 abrangeu dezesseis municípios sele-
cionados no Estado do Rio de Janeiro. Para o desenvolvimento dos trabalhos, os municípios
capacitados foram reunidos em 4 grupos:
• Grupo 1: Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia e Saquarema
• Grupo 2: Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casemiro de Abreu e
Rio das Ostras
• Grupo 3: Campos dos Goytacases , Carapebus, Macaé e Quissamã
• Grupo 4: Angra dos Reis, Mangaratiba e Paraty
Nesta etapa, o Instituto Brasileiro de Administração Municipal, IBAM, participou como a insti-
tuição responsável pelo repasse da metodologia do Projeto para os municípios, orientando a
elaboração de seus respectivos Planos de Intervenção na Orla Marítima.

PRODUTO FINAL

Os Planos de Intervenção na Orla constituem os produtos finais desta fase do Projeto. A


elaboração desses documentos reflete não só um aumento da capacidade técnica municipal
pela apreensão de uma nova metodologia, mas também a criação de um canal de articula-

5
Projeto Orla: Fundamentos para Gestão Integrada. Brasília: MMA/SQA; Brasília: MP/SPU, 2002.
480 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
ção entre agentes públicos e comunitários para a conjugação de esforços para gestão da
orla.

Os documentos refletem as características de cada local quanto aos seus aspectos ambien-
tais, sociais, institucionais e às peculiaridades do processo de ocupação urbana. Em aten-
ção a estes aspectos foi garantido o atendimento aos objetivos centrais do Projeto Orla, sem
ultrapassar os limites demarcados pela realidade e interesse de cada município. Desta for-
ma, o conjunto de planos revela as diferenças de perfil das equipes gestoras locais, o grau
de organização da sociedade civil, assim como as prioridades conferidas para a intervenção.

Os planos de intervenção foram submetidos a uma avaliação crítica por parte da Comissão
Estadual de Acompanhamento do Projeto Orla, criada através do Decreto Estadual nº.
32.421, de 16 de dezembro de 2002, composta por representantes da atual SEMADUR,
FEEMA, SERLA, IEF, SPU, INEPAC, IPHAN, ITERJ, FIPERJ E SEPDET. Desta avaliação,
foram selecionados 4 municípios considerados aptos a assinarem o Convênio com a SPU a
saber: Quissamã, Macaé, Armação dos Búzios e Rio das Ostras. A celebração do Convênio
foi realizada em Brasília, no final de 2004.

3.8 Poluição Atmosférica – Efeito Estufa

Este item trata da poluição na região compreendida pelo Norte e Noroeste Fluminense, a-
bordando objetivamente a poluição atmosférica e a emissão de gases do efeito estufa.

A elaboração do presente estudo baseou-se em visitas de campo e levantamento de dados


secundários e revisão bibliográfica, notadamente os dados e documentos disponibilizados
pelo INEA e CIDE, bem como as informações contidas no Zoneamento Econômico Ecológi-
co do Estado do Rio de Janeiro.

A poluição e contaminação ambientais na Região estão relacionadas à degradação dos re-


cursos hídricos pela supressão da cobertura vegetal, uso do solo e, pontualmente, poluentes
gerados nos centros urbanos.

A poluição do ar pode ser definida como a "alteração das propriedades físicas, químicas ou
biológicas normais da atmosfera que possa causar danos reais ou potenciais à saúde hu-
mana, à flora, à fauna, aos ecossistemas em geral, aos materiais e à propriedade, ou preju-
dicar o pleno uso e gozo da propriedade ou afetar as atividades normais da população ou o
seu bem estar" (Assunção e Hasegawa, 2001).

No Estado do Rio de Janeiro, a qualidade do ar é monitorada desde 1967, quando foram


instaladas as primeiras estações de monitoramento. O Governo Federal, em 1986, instituiu o
PROCONVE (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores), que con-
siste no estabelecimento de um cronograma de redução gradual das emissões de poluentes
tanto para veículos leves, quanto para veículos pesados.

A poluição atmosférica é um processo próprio da natureza caracterizado pelo lançamento de


gases e materiais particulados originários de atividades vulcânicas e tempestades, dentre
algumas fontes naturais de poluentes. A atividade antrópica intensificou de tal forma a polui-
ção do ar, com o lançamento contínuo de grandes quantidades de substâncias poluentes,
que a sua qualidade tornou-se um problema ambiental dos mais significativos.

Até meados de 1980, a poluição atmosférica urbana era atribuída basicamente às emissões
industriais, e as ações dos órgãos ambientais visavam ao controle das emissões dessas
fontes. E a maior parte das grandes instalações responsáveis pelas emissões de poluentes
para a atmosfera, está concentrada em áreas urbanas.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 481


Outro fator que explica a emissão de poluentes na atmosfera é o rápido crescimento da frota
veicular, o que aumentou significativamente a degradação da qualidade do ar, principalmen-
te nas grandes aglomerações urbanas. A título de exemplo, segundo o Inventário de Fontes
Emissoras de Poluentes Atmosféricos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (FEEMA,
2004), verificou-se que as fontes móveis são responsáveis por 77% do total de poluentes
emitidos para a atmosfera, enquanto as fontes fixas contribuem com 22%.

3.8.1 Poluentes Atmosféricos

"Entende-se como poluente atmosférico qualquer forma de matéria ou energia com intensi-
dade e quantidade, concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis
estabelecidos, e que tornem ou possam tornar o ar: impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde;
inconveniente ao bem-estar público; danoso aos materiais, à fauna e flora; prejudicial à se-
gurança, ao uso e gozo da propriedade e as atividades normais da comunidade". (Resolu-
ção CONAMA nº 03/90).

A determinação sistemática da qualidade do ar restringe-se a um grupo de poluentes uni-


versalmente consagrados como indicadores da qualidade do ar, devido a sua maior fre-
quência de ocorrência e pelos efeitos adversos que causam ao meio ambiente. São eles:
dióxido de enxofre (SO2), partículas totais em suspensão (PTS), partículas inaláveis (PM10),
monóxido de carbono (CO), oxidantes fotoquímicos expressos como ozônio (O3), hidrocar-
bonetos totais (HC) e dióxido de nitrogênio (NO2).

É a interação entre as fontes de emissão de poluentes atmosféricos e as condições meteo-


rológicas que define a qualidade do ar.

A atmosfera absorve uma grande variedade de sólidos, gases e líquidos, provenientes de


fontes, estacionárias (industriais e não-industriais), móveis (transportes aéreos, marítimos e
terrestres, em especial os veículos automotores) e de fontes naturais (mar, poeiras cósmi-
cas, arraste eólico, etc.). Essas emissões podem se dispersar, reagir entre si, ou com outras
substâncias já presentes na própria atmosfera. Estas substâncias ou o produto de suas rea-
ções finalmente encontram seu destino num sorvedouro, como o oceano, ou alcançam um
receptor (ser humano, outros animais, plantas, materiais).

A concentração real dos poluentes no ar depende tanto dos mecanismos de dispersão como
de sua produção e remoção. Normalmente, a própria atmosfera dispersa o poluente, mistu-
rando-o eficientemente num grande volume de ar, o que contribui para que a poluição fique
em níveis aceitáveis. As velocidades de dispersão variam com a topografia local e as condi-
ções atmosféricas locais.

3.8.2 Monitoramento da Qualidade do Ar no Norte/Noroeste Fluminense

Situada entre o litoral e os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, a região em estudo
possui 15.143 km² e uma população estimada de 1.135.000 habitantes (IBGE, 2009 - esti-
mativa). A produção de petróleo e gás natural e as atividades industriais afins, geração de
energia e a monocultura canavieira são as principais atividades econômicas e empregam a
quase totalidade da mão-de-obra local.

O monitoramento da qualidade do ar é realizado para determinar o nível de concentração


dos poluentes presentes na atmosfera. No Estado do Rio de Janeiro, as estações de amos-
tragem que compõem a rede de monitoramento da qualidade do ar estão localizadas nas
regiões Metropolitana, do Médio Paraíba e Norte Fluminense, sendo os resultados divulga-
dos, diariamente, por meio do Boletim de Qualidade do Ar e, anualmente, pelo Relatório
Anual da Qualidade do Ar.
482 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
A qualidade do ar é monitorada na Região Norte Fluminense por meio da operação de duas
estações de amostragem de partículas totais em suspensão, instaladas no município de
Campos dos Goytacazes. Outras três estações automáticas, pertencentes a empresas da
rede privada, também realizam o monitoramento da qualidade do ar na Região (UTE Macaé
Merchant e UTE Norte Fluminense, em Campos). Essas estações estão capacitadas a me-
dir os seguintes parâmetros: óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono, ozônio e parâme-
tros meteorológicos.

Na Baixada Campista, as operações decorrentes da transferência, estocagem e queima de


considerável quantia de combustíveis fósseis, além das atividades da agroindústria açuca-
reira, geram problemas de poluição do ar, notadamente a produção do açúcar e do álcool,
agravada pela queima dos canaviais na época da colheita da cana, prática que gera altas
emissões de partículas e gases, elevando consideravelmente os níveis de poluentes no ar
da região (FEEMA, 2008).

Nos últimos anos, com a instalação do terminal da Petrobrás, no município de Macaé, e a


atividade de exploração de petróleo associada, a Região passou a ter sua economia centra-
da no setor industrial, comercial e de serviços. Este contínuo crescimento da economia tem
contribuído sobremaneira para a degradação da qualidade do ar.

Foram instaladas duas centrais de geração de energia termelétrica em Macaé e uma em


Campos dos Goytacazes, que utilizam gás natural como combustível, cujos impactos na
qualidade do ar podem ser significativos. Contudo, até este momento, essas instalações
funcionam menos de oito (8) dias por ano, cumprindo apenas a função de reserva estratégi-
ca para a regulação da oferta de energia.

3.8.3 Resultados do Monitoramento


Os resultados de concentração de curto período de exposição e concentração média anual
de dióxido de nitrogênio, observadas nas estações da Fazenda Severina, Fazenda Airis e
Pesagro, indicam que as concentrações detectadas na Região Norte Fluminense são inferio-
res ao padrão estabelecido para a exposição de longo período pela Resolução CONAMA
03/90, que indica como padrão anual a concentração de 100 kg/m³.
A avaliação das concentrações de monóxido de carbono na Região Norte foi realizada em
apenas duas estações automáticas de monitoramento da qualidade do ar (Pesagro e Fa-
zenda Airis) e indicou que os valores encontrados são bastante inferiores a 35 ppm referen-
te ao padrão estabelecido pela Resolução CONAMA 03/90.
Os resultados da concentração máxima horária de ozônio indicam duas violações ao padrão
de 160 kg/m³, sendo que estas violações ocorreram nas estações Fazenda Severina (con-
centração máxima de 214 kg/m³) e Pesagro (184 kg/m³).
Os resultados gerais de qualificação do ar, na Região Norte e Noroeste Fluminense, indicam
que em 98% do período analisado a qualidade do ar do Norte Fluminense encontrou-se na
faixa de qualificação boa ou regular, em conformidade com os padrões de qualidade do ar
indicados na Resolução CONAMA 03/90.
3.9 Emissões de Gases e Efeito Estufa

A Região Norte apresenta a terceira maior emissão de CO2eq pelo uso de energia na com-
paração com as demais regiões do Estado do Rio de Janeiro. Nesta Região foram produzi-
das 4.012,9 Gg de CO2eq (10,5% de toda a emissão do Estado), enquanto a Região Noro-
este apresenta emissões muito menores que estas, o equivalente a 311,0 Gg de CO2eq
(0,8%), a menor emissão de todas as regiões do Estado do Rio de Janeiro (Gráfico seguin-
te).

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 483


Gráfico 3 – Emissões de CO2eq pelo Uso de Energia

Obs.: Destaque em vermelho para as regiões de interesse


Fonte: SEA (2007)
A análise detalhada de cada uma dessas Regiões indica que as emissões pelo uso de ener-
gia se diferenciam bastante. Na Região Norte, prevalecem as emissões a partir do setor
energético (76,3%), enquanto os setores de transporte (15,9%), residencial (3,1%) e indus-
trial (1,4%) ficam em segundo plano. Essa preponderância do setor energético está relacio-
nada, principalmente, com a extração de petróleo na bacia de Campos e a atividade de usi-
nas termelétricas, que consomem grande quantidade de energia para a sua realização e
funcionamento, promovendo emissões em função de seu combustível.
Na Região Noroeste, o panorama é completamente diferente, ocorrendo a dominância do
setor de transportes nos totais emitidos pelo uso de energia (49,2%) e com participação ex-
pressiva das emissões a partir dos setores residencial (22,2%) e industrial (11,9%). Nesta
Região não existem registros de emissões a partir do setor energético, enquanto o setor
agropecuário (7,1%), público (4,5%) e comercial (5,1%) apresentam pequena relevância nas
emissões de gases de efeito estufa (Gráficos seguintes).
Gráficos 4 e 5 – Regiões Norte e Noroeste - Participação dos Setores no Total das Emissões de
Gases Estufa pelo Uso de Energia por Região (%)

Fonte: SEA (2007) Obs.: Extraído do Inventário de Emissões de Gases de Efeito


Estudo do Estado do Rio de Janeiro
484 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
As emissões de gases estufa pela agricultura, floresta e outros usos do solo também foram
computadas no relatório da SEA (2007), conforme demonstrado na Tabela a seguir.

Tabela 1 - Total de Emissões de Gases Estufes pela Agricultura, Floresta e Outras Uso do Solo
por (Gg)
I II III IV V VI VII VII Total
Região %
CO2 CH4 CH4 N2O CH4 CH4 N2O N2O CO2 CO2 CO2 eq

Norte 930,02 31,62 0,66 0,91 0,25 1,90 0,05 0,05 111,17 2,05 2.024,5 20,0
Noroeste 506,14 26,03 0,57 0,80 0,52 0,08 0,00 0,01 29,92 0,55 1.357,0 13,4
Metropolitana 904,09 13,55 0,49 0,53 0,00 0,01 0,00 0,01 13,95 0,26 1.378,1 13,6
Baixadas
661,91 10,37 0,23 0,31 0,04 0,00 0,01 14,75 0,27 997,0 9,8
Litorâneas
Baía Ilha
691,29 1,46 0,03 0,05 0,01 0,00 0,00 9,77 0,18 749,4 7,4
Grande
Serrana 751,27 13,58 0,43 0,46 0,01 - - 0,01 19,03 0,35 1.211,4 12,0
Médio
828,82 13,16 0,30 0,43 0,00 0,02 0,00 0,00 4,71 0,09 1.249,0 12,3
Paraíba
Centro Sul 945,17 6,69 0,19 0,22 0,00 0,00 0,00 3,43 0,06 1.161,6 11,5
Total 6.218,71 116,46 2,91 3,70 0,78 2,06 0,05 0,09 206,73 3,81 10.127,8 100
Fonte: SEA (2007)
Obs.: Modificada do Inventário de Emissões de Gases do Efeito Estufa do Estado do Rio de Janeiro.
Em vermelho as regiões de interesse.
I: Uso do Solo; II: Fermentação Entérica; III: Manejo de Dejetos; IV: Cultivo de Arroz; V: Queima de
Resíduos da Cana; VI: Uso de Fertilizantes nitrogenados; VII: Uso de Calcáreo e Dolomita; VIII: Uso
de Uréia.
Observa-se a Região Norte é a que apresenta as maiores emissões de CO2eq a partir dos
diferentes usos do solo dentre todas as Regiões do Estado. As emissões desta Região tota-
lizam 2.024,5 Gg de CO2eq, o que equivale a 20,0% das emissões do Estado. As emissões
por mudanças do uso do solo respondem por quase a metade de todos os gases emitidos
na Região Norte (45,9%), com valor de 930,02 Gg de CO2eq, que é semelhante aos valores
da Região Metropolitana e Centro-Sul.

Esta Região se diferencia nas emissões, a partir da fermentação entérica (31,62 Gg de


CH4), como também no manejo dos dejetos dos rebanhos (0,66 Gg de CH4 e 0,91 Gg de
N2O).

As emissões pelo uso do calcáreo e dolomita também são bastante expressivas na Região,
totalizando 111,17 Gg de CO2. Já a Região Noroeste apresenta a terceira maior emissão de
gases de efeito estufa a partir dos diferentes usos do solo de todo o Estado (13,4%), atrás
somente das Regiões Norte e Metropolitana. Nessa Região, as emissões, a partir de mu-
danças do uso do solo são as menores de todo o Estado (506,14 Gg de CO2eq), mas ela
apresenta grande quantidade de emissões de gases de efeito estufa a partir da fermentação
entérica e manejo de dejetos dos rebanhos ali existentes.

Com relação às emissões a partir de resíduos sólidos urbanos, observa-se que quase todas
as regiões do Estado apresentam pequena participação nas emissões dos gases de efeito
estufa quando comparadas à região Metropolitana, em virtude desta região concentrar a
maior parte da população do Estado do Rio de Janeiro. A Região Norte emite 113,4 Gg de
CO2eq, o equivalente a 3,1% das emissões do Estado, enquanto a Região Noroeste apre-
senta emissões ainda menores (33,0 Gg de CO2eq ou 0,9%), somente comparável à Região
Centro-Sul Fluminense.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 485


Gráfico 6 – Emissões de CO2eq pelos Resíduos Sólidos Urbanos (Gg CO2eq e %)

Obs.: Destaque em vermelho para as regiões de interesse.


Fonte: SEA (2007)
Dos totais emitidos pelos resíduos sólidos urbanos nas Regiões Norte e Noroeste Fluminen-
se, observa-se que na Região Norte existe um equilíbrio de emissões entre os aterros sani-
tários (2,6 Gg de CH4) e os lixões (2,8 Gg de CH4).

O relatório SEA (2007) ressalta que, apesar dos aterros sanitários serem uma das melhores
alternativas para saneamento, eles possuem maior fator de emissão.

Isto se dá uma vez que a decomposição dos resíduos se dá em um ambiente com maior
anaerobiose que nas outras duas opções (aterros controlados e lixões), o que aumenta a
metanogenese (produção de metano).

Já na Região Noroeste, não existem emissões a partir de aterros sanitários, enquanto são
registradas pequenas emissões de gases estufa a partir de aterros controlados (0,5 Gg de
CH4) e maiores emissões dos lixões (1,1 Gg de CH4), lembrando-se que os lixões proporcio-
nam maiores problemas ambientais em virtude, por exemplo, da contaminação dos aquífe-
ros.

Tabela 2 - Emissões de Gases Estufa pelos Resíduos Sólidos Urbanos por Tipo de Disposição
e por Região (Gg)
Aterro Sanitário Aterro Controlado Lixão TOTAL
Região
CH4 CH4 CH4 CO2 eq
Norte 2,6 0,0 2,8 113,4
Noroeste 0,0 0,5 1,1 33,-
Metropolitana 22,7 115,7 8,7 3.088,5
Baixadas Litorâneas 0,8 1,5 2,6 102,5
Baía Ilha Grande 0,0 1,4 0,6 43,3
Serrana 7,0 1,5 0,4 186,5
Médio Paraíba 0,2 2,7 2,8 120,1
Centro Sul 0,0 0,2 1,0 25,6
Total 33,3 123,5 20,0 3.712,9
Fonte: Modificado de SEA (2007)

486 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


As emissões de gases de efeito estufa a partir dos esgotos sanitários expressam as diferen-
ças de concentração populacional entre as diferentes regiões, o que resulta nas observa-
ções de maiores emissões de gases de efeito estufa a partir da Região Metropolitana.
A Região Noroeste emite 18,6 Gg de CO2eq (1,9%), valor este que é mais elevado que nas
regiões da Baía de Ilha Grande e Centro-Sul.
Já a Região Norte aparece como a terceira maior emissora de gases de efeito estufa a partir
dos esgotos sanitários, com quantidades de 52,6 Gg de CO2eq, o que representa 5,5% do
total.
A partir da Região Norte são emitidas 1,28 Gg de metano e 0,08 Gg de óxido nitroso, en-
quanto foi registrada a emissão de 0,35 Gg de metano e 0,04 Gg de óxido nitroso a partir da
Região Noroeste do Estado do Rio de Janeiro, no ano de 2005.
Tabela 3 - Emissões de CO2eq pelos Esgotos Sanitários por Região (Gg CO2eq e %)
Região CH4 N2O Total CO2 eq
Norte 1,28 0,08 52,6
Noroeste 0,35 0,04 18,6
Metropolitana 16,37 1,14 697,1
Baixadas Litorâneas 1,32 0,06 46,9
Baía Ilha Grande 0,33 0,03 17,3
Serrana 1,85 0,06 59,0
Médio Paraíba 0,96 0,1 50,7
Centro Sul 0,3 0,03 15,9
Total 22,76 1,55 958,5
Fonte: Extraído de SEA (2007)
A contabilização das emissões totais de gases de efeito estufa pelo tratamento de resíduos
está indicada abaixo. Entende-se emissão por tratamento de resíduos a todas às emissões
relacionadas com os resíduos sólidos urbanos e industriais, esgotos sanitários e efluentes
industriais. Entretanto, o relatório SEA (2007) lembra que, nesse cálculo geral, não estão
incluídas as emissões de resíduos industriais, uma vez que não puderam ser regionalizadas,
e que as emissões de efluentes industriais foram calculadas apenas para a Região Metropo-
litana, já que a organização dos dados disponíveis somente permitiu a contabilização desta
Região.

Gráfico 7 - Emissões de CO2eq pelo Setor de Tratamento de Resíduos por Região (Gg
CO2eq e %)

Fonte: Extraído de SEA (2007)


Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 487
A contabilidade geral das emissões de CO2eq pelo tratamento de resíduos demonstra a pre-
dominância da Região Metropolitana sobre as demais (82,3%).

A Região Norte apresenta pequena participação no âmbito geral (3,4%), com emissões da
ordem de 166,0 Gg de CO2eq, enquanto as emissões da Região Noroeste são ainda meno-
res (51,6 Gg de CO2eq ou 1,0%), o que demonstra a pequena participação dessas Regiões
nas emissões de gases de efeito estufa, a partir do tratamento de resíduos do Estado do Rio
de Janeiro.

3.10 Considerações Finais

Poluição e contaminação ambiental são temas centrais num projeto de desenvolvimento


sustentável, como o que ora se apresenta. O Estado do Rio de Janeiro possui algumas das
mais antigas e sólidas instituições e empresas de pesquisa e monitoramento na área ambi-
ental.

Contudo, o principal resultado deste relatório temático indica a existência de diversas lacu-
nas e carências conceituais e procedimentais, no campo do estudo e monitoramento das
emissões de poluentes e contaminantes no ambiente.

Inicialmente, constata-se um entrave de natureza institucional. Não houve uma política res-
ponsável de monitoramento rigoroso e sistemático das emissões. Esse fato leva à inexistên-
cia de séries de dados que possam subsidiar análises e interpretações de longo termo. Exis-
tiram campanhas de monitoramento, tal como o exemplo do convênio Brasil-França de ocor-
rência isolada.

Em segundo lugar, o estado carece de uma rede de monitoramento padronizada, que permi-
ta a comparação entre dos dados coletados em vários pontos e que permita, por exemplo,
uma interpolação da qualidade do ar ou da água nos diversos municípios ou no entorno de
distritos industriais.

Um terceiro aspecto relevante é a pequena malha coberta pela rede de monitoramento, que
gera dados de pontos distantes que, em princípio, não poderão ser correlacionados.

As diversas estações de monitoramento pertencem a empresas e não ao estado, o que difi-


culta a manutenção e operação das mesmas, bem como limita a possibilidade dos órgãos
ambientais interferirem na operação das estações e na seleção e configuração dos instru-
mentos, haja vista que são instalados aqueles que atendem às necessidades específicas da
empresa, normalmente, no âmbito de condicionantes de um processo de licenciamento am-
biental.

Finalmente, fato recorrente no Brasil, os programas governamentais, via de regra, não pos-
suem continuidade além dos mandatos eletivos, além de serem adequados a propostas de
governo, o que torna ocasional a seleção dos parâmetros e a operação das estações.

Faz-se necessária a proposta de criação de um programa integrado e de fácil acesso para


coleta, armazenamento, tratamento e disponibilização ampla de dados de poluição atmosfé-
rica, água e solos. Esse programa deverá ter um viés educacional, através do livre acesso
aos bancos de dados, por parte de instituições de ensino e pesquisa, de todos os níveis.

Portanto, o grande desafio no campo do monitoramento das emissões é a criação e, princi-


palmente, a operacionalização de forma contínua, de um programa de gerenciamento e ges-
tão da qualidade ambiental no Estado.

488 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


4. COMPENSAÇÕES AMBIENTAIS

Medidas Compensatórias são aquelas tomadas pelos responsáveis pela execução de um


projeto, destinadas a compensar impactos ambientais e sociais negativos gerados pela im-
plantação do mesmo.

Compensações são, via de regra, propostas de minimização de impactos negativos não mi-
tigáveis em estudos de impacto ambiental de empreendimentos de potencial poluidor e de-
gradador (Casério, 2010).

Também são utilizadas como ferramentas de ressarcimento a danos ambientais gerados,


através de instrumentos legais como o Termo de Ajuste de Conduta – TAC, imposto pelo
Poder Público.

A criação de unidades de conservação é, talvez, a mais importante estratégia para a con-


servação da biodiversidade e preservação das paisagens naturais, mas, apenas criá-las,
não basta: é necessário implantá-las de fato, regularizando sua situação fundiária, erguendo
as estruturas físicas de apoio à administração e ao uso público, e, dotá-las de pessoal pró-
prio para fiscalização e suporte à visitação e à pesquisa científica.

Diversas fontes de financiamento concorrem para a implantação de parques, reservas e


outras unidades de conservação, sendo a mais importante, dentre elas, as chamadas medi-
das compensatórias por empreendimentos de significativo impacto ambiental. Instituída por
meio da Lei Federal nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que criou o Sistema Nacional de Uni-
dades de Conservação, SNUC.

A compensação ambiental deve ser aplicada de acordo com prioridades bem definidas, en-
tre as quais a regularização fundiária (aquisição de terras privadas em unidades que devam
ser de domínio público), e a demarcação física das unidades de conservação são as princi-
pais. A elaboração de planos de manejo, a construção de sedes, guaritas e centros de visi-
tantes, a aquisição de veículos e a própria operação diária destas unidades são outras ativi-
dades a serem apoiadas por projetos financiados com a compensação ambiental.

O destino dos recursos das medidas compensatórias decorrentes dos licenciamentos efetu-
ados pelo Instituto Estadual do Ambiente, INEA, é decidido por um colegiado denominado
Câmara de Compensação Ambiental, CCA. Esta é presidida pela Secretaria de Estado do
Ambiente, SEA, e conta com representantes tanto do Poder Público estadual e municipal
quanto de organizações da sociedade civil, como rede de ongs da Mata Atlântica, FIRJAN e
UFRJ, que aplicam grande rigor na seleção dos projetos que lhes são submetidos para es-
truturação e fortalecimento das áreas protegidas do Estado.

Este capítulo apresenta informações e dados levantados sobre Medidas Compensatórias


aos impactos ambientais gerados por grandes empreendimentos e/ou atividades em anda-
mento na Região em estudo, tais como: Complexo Portuário e Industrial da Barra do Furado,
Porto do Açu, a Usina Termelétrica de Porto do Açu, a Linha de Transmissão de 345 kV –
UTE de Porto do Açu – Campos dos Goytacazes, o Aeródromo de Farol de São Tomé e a
Agroindústria de Bom Jesus do Itabapoana.

As informações relativas a esses empreendimentos foram obtidos nos respectivos Estudos


de Impacto Ambiental – EIA e Relatórios de Impacto Ambiental – RIMA disponíveis na biblio-
teca do INEA, no Rio de Janeiro.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 489


4.1 A Compensação Ambiental dos Grandes Empreendimentos do Norte e Noro-
este Fluminense

4.1.1 Complexo do Porto do Açu

A Compensação Ambiental para a instalação do Porto do Açu envolve um programa de res-


gate da fauna e flora, além de recuperação das áreas remanescentes de restinga, na área
de influência do empreendimento. No estudo não foi quantificada a área a ser recuperada.

4.1.2 Usina Termelétrica de Porto do Açu

Na Usina Termelétrica de Porto do Açu a compensação ambiental proposta foi a destinação


de no mínimo 0,5% dos custos diretos do empreendimento para serem aplicados em Unida-
des de Conservação conforme a Lei Federal n° 9.985/ 2000 (SNUC – Sistema Nacional de
Unidades de Conservação). A área pré-selecionada para implantação da Unidade de Con-
servação foi o complexo Lagunar Grussaí-Iquipari-Taí, situado a SW do município de São
João da Barra.

4.1.3 Linha de Transmissão 345 kV, UTE Porto do Açu – Campos dos Goytacazes

A Linha de Transmissão 345 kV, UTE de Porto do Açu – Campos dos Goytacazes, atraves-
sa uma área de influência direta de 1.340 ha dos ecossistemas de restinga. Em 127 ha en-
contram-se ainda fragmentos da vegetação natural, segundo o Estudo de Impacto Ambiental
realizado e submetido à apreciação do INEA.

A Compensação Ambiental proposta para esse empreendimento consiste em um programa


de recuperação e conservação da restinga que tem como metas o resgate da flora, produ-
ção de mudas, recuperação de reserva legal e criação de RPPN (foram consideradas duas
áreas com potenciais para criação de RPPN – Área 1: 14,5 ha; Área 2: 22 ha).

4.1.4 Aeródromo de Farol de São Tomé


A Petrobrás, empresa responsável pelo Aeródromo de Farol de São Tomé propôs no Estudo
de Impacto Ambiental um programa de monitoramento da fauna e flora local, programa de
salvamento da fauna e flora local, programa de monitoramento da ictiofauna local, programa
de monitoramento da avifauna local e a elaboração de um Programa de Criação e Consoli-
dação de Unidades de Conservação apresentando três alternativas para a alocação dos
recursos previstos em lei:
• a Alternativa 1 constitui a consolidação da UC e elaboração do Plano de Manejo
da Área de Proteção Ambiental (APA) da Lagoa do Lagamar, localizada no distri-
to Farol de São Tomé, Área de Influência Indireta do empreendimento

• a Alternativa 2 consiste na criação e implementação de UCs em áreas que com-


põem o ambiente de restinga, ecossistema costeiro que será diretamente afeta-
do pelo empreendimento.

• a Alternativa 3 constitui a criação e implementação de UC em áreas que com-


põem o ambiente de lagoas costeiras, ecossistema que será diretamente afetado
pelo empreendimento.
4.1.5 Agroindústria de Bom Jesus de Itabapoana

A Agroindústria de Bom Jesus do Itabapoana propôs em seu Estudo de Impacto Ambiental


apenas um programa de Monitoramento Ambiental dos meios físico, biótico e sócio-
490 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
econômico que contempla a recuperação de áreas degradadas, reflorestamento da mata
ciliar e recuperação do depósito de lixo (vazadouro) da Região, como medidas compensató-
rias relevantes.

4.1.6 As Atividades da Petrobrás

A pesquisa sísmica é realizada no fundo do oceano para descobrir a presença de petróleo e


gás. Seis cabos vão ao fundo do mar, emitindo ondas sonoras para as diversas camadas do
subsolo. Elas atingem até sete mil metros abaixo da terra, sob as águas. A cada camada do
subsolo, a onda retorna ao navio sísmico para efetuação da leitura. Devido à realização
desta pesquisa, diversas espécies de peixes diminuíram significativamente no litoral flumi-
nense. De maneira similar o seu processo influencia o meio ambiente, uma vez que a rota
migratória de golfinhos e baleias é alterada. O mesmo acontece com o itinerário para deso-
va das tartarugas que também é modificado. São várias as empresas que fazem a pesquisa.

As pesquisas sísmicas tiveram início em meados da década de 1990, ocasionando prejuízos


ao meio ambiente, ao setor sócio-econômico e às comunidades que vivem da pesca.

Sem a pesquisa sísmica é quase impossível descobrir novas acumulações de petróleo. A-


lém de descobrir novas acumulações, as campanhas sísmicas têm o objetivo de monitorar
os campos já em produção. Atualmente, 95% dos campos de petróleo “onshore”, isto é, em
terra, foram descobertos através de pesquisas sísmicas, o que, em ambiente “offshore”
(ambiente marítimo), sobe para 100%.

Segundo a legislação vigente, o Plano de Compensação da Atividade Pesqueira não deve


incluir nenhum tipo de indenização financeira e sim a realização de projetos dirigidos às co-
munidades pesqueiras como benfeitorias, qualificação profissional e ações sociais.

A Petrobrás iniciou uma campanha sísmica na Bacia de Campos, com duração mínima pre-
vista para dois anos. As pesquisas vêm sendo realizadas em águas com profundidade supe-
rior a 50 m e distância mínima de 50 km da costa.

Segundo classificação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis, IBAMA, pesquisas realizadas em águas com profundidade entre 50 e 200 m
pertencem à classe 2. Já as pesquisas realizadas em profundidade superior a 200 m per-
tencem à classe 3. Esta diferenciação determina as medidas compensatórias que serão de-
senvolvidas pelas empresas responsáveis pela aquisição sísmica para a obtenção do seu
licenciamento ambiental.

4.1.7 Petróleo na Costa Brasileira

As atividades petroquímicas na região costeira ocasionam impactos que devem ser cuida-
dosamente estudados devido à característica interdisciplinar dos processos envolvidos que
contribuem para a poluição marinha por petróleo.

Esses impactos dependem de vários fatores bióticos e abióticos, das fontes de contamina-
ção, da forma de contaminação e do destino do petróleo no mar, sendo de primordial impor-
tância destacar a fração de petróleo solúvel em água e suas alterações químicas, bem como
a fração de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e seus aspectos toxicológicos.

Ênfase especial deve ser dada aos parâmetros de biodegradação e fotodegradação, tanto
em estudos de monitoramento ambiental quanto nos de impacto ambiental, já que muitas
vezes quantificar os constituintes originais do petróleo derramado no ambiente pode forne-
cer dados incompletos e pouco representativos.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 491


A economia petrolífera no Brasil é essencialmente costeira: atualmente mais da metade da
produção de óleos brutos e quase toda a produção de gás natural vem de plataformas marí-
timas. A produção é carregada em petroleiros ou bombeada por dutos que levam aos par-
ques de tancagem na costa. Essa é a paisagem marcante no trecho de Macaé a Campos,
litoral do Rio de Janeiro.

Nas áreas mais importantes da zona costeira, do ponto de vista ecológico – os manguezais
– a experiência indica que a melhor ação é evitar-se ao máximo a contaminação por petró-
leo. Porém, uma vez que a área foi contaminada, o melhor é deixar o petróleo se degradar
naturalmente, sem tentar nem mesmo recolhê-lo, porque o recolhimento do petróleo é mui-
tas vezes mais danoso do que a sua ação.

Impacto do petróleo no ambiente marinho

O grau do impacto do petróleo no ambiente marinho vai depender de diversos fatores, entre
eles, da área atingida. É necessário distinguir duas situações:
• Derrames em mar aberto ou em áreas confinadas, que ameacem atingir a costa:
mar aberto (ecossistema oceânico) é a região que vai além das plataformas con-
tinentais, onde a profundidade aumenta drasticamente. Embora o ecossistema
oceânico seja rico em nutrientes e a vida na área oceânica seja diversa, possui
um alto grau de dispersão e, por isso, as áreas mais sensíveis, do ponto de vista
ecológico, fazem parte do ecossistema costeiro (são os manguezais e as praias
planas em baías). Nesses ecossistemas, a quantidade e variedade de vida são
grandes e é pequena a capacidade de diluição.
• Derrames em áreas preservadas ou áreas contaminadas.

4.1.7.1 Formas de Contaminação por Petróleo

A forma aguda de contaminação geralmente provém de um derrame acidental, em uma de-


terminada região e suas conseqüências são, em grande parte, função do tipo de óleo der-
ramado e se o derrame se dá em uma área confinada ou em mar aberto. É evidente, além
disso, que a quantidade de óleo derramada também é importante, porém os efeitos para o
meio ambiente nem sempre são proporcionais à quantidade.

Técnicas para conter o óleo derramado: o uso de barreiras de contenção para impedir o
espalhamento do óleo, a remoção mecânica do óleo derramado, a queima da massa de
óleo, a utilização de culturas mistas para a biodegradação de hidrocarbonetos, a utilização
de adsorventes e dispersantes químicos. Outras técnicas têm sido usadas nos últimos anos
como alternativas ou medidas complementares, entre elas, a queima in situ. O uso de dis-
persantes é visto com restrições e seu uso é proibido ou sujeito a severas limitações em
diversos países.

A poluição crônica é designada quando pequenas quantidades de óleo são lançadas de


modo contínuo ou de maneira intermitente. Embora acidentes envolvendo petroleiros te-
nham grande repercussão nos meios de comunicação, a principal forma de contaminação
de petróleo no mar é a forma crônica e de origem nos navios.

As principais fontes antropogênicas de poluição por petróleo no ambiente marinho são:

• águas de lavagem dos tanques dos petroleiros;


• águas de lastro;

492 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


• despejos das refinarias costeiras;
• operação dos petroleiros nos terminais;
• acidentes envolvendo navios petroleiros e outros tipos de navios.
4.1.7.2 Licenças, Exigências e Autorizações

Licenças ambientais são concedidas pelo IBAMA à Petrobras para cada plataforma em fun-
cionamento. Como condicionante, o Empreendedor deve implantar imediatamente os proje-
tos ambientais aprovados e apresentar relatórios semestrais das instalações realizadas e de
cada um dos seguintes projetos: Relatório de Instalação; Projeto de Monitoramento Ambien-
tal; de Comunicação Social; de Controle da Poluição e de Educação Ambiental dos Traba-
lhadores.

O processo de licenciamento ambiental das atividades de exploração e produção de petró-


leo e gás natural engloba as seguintes licenças exigências e autorizações:

• Licença prévia de perfuração – LPper: Para sua concessão é exigida a elaboração


do Relatório de Controle Ambiental – RCA e após a aprovação do RCA, é autorizada
a atividade de perfuração;
• Licença prévia de produção para pesquisa – LPpro: Para sua concessão é exigida a
elaboração do Estudo de Viabilidade Ambiental, EVA, e, após a aprovação do EVA é
autorizada a atividade de produção para pesquisa da viabilidade econômica da jazi-
da;
• Licença de instalação – LI: Para sua concessão é exigida a elaboração do Estudo de
Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental e após a aprovação
do Estudo de Impacto Ambiental, EIA, com a respectiva realização de Audiência Pú-
blica é autorizada a instalação de novos empreendimentos de produção e escoamen-
to ou, para sua concessão é exigida a elaboração do Relatório de Avaliação Ambien-
tal, RAA, e após a aprovação do RAA são autorizadas novas instalações de produ-
ção e escoamento onde já se encontra implantada a atividade;
• Licença de operação – LO para atividade de exploração e produção marítima: Para
sua concessão é exigida a elaboração do Projeto de Controle Ambiental, – PCA, e
após a aprovação do PCA é autorizado o início da operação de produção;
• Licença de operação sísmica – LO para atividade sísmica: para sua concessão é e-
xigida a elaboração do Estudo Ambiental – EA e após a aprovação do EA é autoriza-
da a atividade de levantamento de dados sísmicos marítimos.

O órgão ambiental fixará as condicionantes das licenças supracitadas. Tais licenças abran-
gem dois grupos de condicionantes: (i) as condicionantes gerais, que compreendem o con-
junto de exigências legais relacionadas ao licenciamento ambiental, e (ii) as condicionantes
específicas, que compreendem um conjunto de restrições e exigências técnicas associadas,
particularmente, à atividade que está sendo licenciada.

A validade da licença ambiental está condicionada ao cumprimento das condicionantes nela


discriminadas, que deverão ser atendidas dentro dos respectivos prazos estabelecidos, e
nos demais anexos constantes do processo que, embora não estejam transcritos no corpo
da licença, são partes integrantes da mesma.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 493


4.1.8 UTE de Macaé (“El Paso”)

Através de compensação ambiental pela instalação da Usina Termelétrica de Macaé, de


propriedade da “El Paso”, está sendo realizado o Projeto de Consolidação do Parque Esta-
dual do Desengano (PED) que, além de melhorias em sua infra-estrutura, inclui a elabora-
ção do Plano de Manejo e o Programa de Educação Ambiental e Práticas Sustentáveis.

No dia 27 de março de 2004, foi inaugurado o Centro de Visitantes com sala de exposições,
auditório com sistema audiovisual, biblioteca, sala de reuniões, terminais de consultas, cafe-
teria, anfiteatro e áreas de lazer com tratamento paisagístico e sinalização direcional.

4.1.9 Transpetro – Lagoa de Jurubatiba

O Parque Nacional de Jurubatiba, administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conserva-


ção da Biodiversidade (ICM-Bio), abriga a Lagoa de Jurubatiba, em Macaé.

A área é bastante procurada nos finais de semana, a Lagoa fica dentro da área do Parque e
vai receber obras de infra-estrutura para melhor receber os visitantes. Essa infra-estrutura
resulta de negociação da compensação ambiental e foi imposta à TRANSPETRO, por der-
ramamentos de óleo ocorridos na área do Parque da Lagoa de Jurubatiba, em Macaé.

4.1.10 Projeto Pólen

Implantado em 2004, o Projeto Pólen é uma medida mitigadora condicionada ao licencia-


mento ambiental da atividade de ampliação do Sistema de Tratamento e Escoamento da
Fase 2, do Campo de Marlim, por meio do FPSO P-47, e da atividade de Produção e Esco-
amento de Petróleo e Gás Natural no Campo de Espadarte e área leste do Campo de Ma-
rimbá, por meio do FPSO Espadarte, ambos operacionalizados pela Petrobrás, na Bacia de
Campos.

O Projeto foi elaborado pelo Núcleo de Pesquisa Ecológica Macaé – UFRJ em parceria com
as Municipalidades e suas secretarias de Educação e Meio Ambiente na área de abrangên-
cia dos empreendimentos, isto é, Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo
Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Macaé, Quissamã, Rio das
Ostras, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e Saquarema, e é supervisionado
pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, IBAMA.

5. CRÉDITOS DE CARRBONO

De acordo com Man Yu (2002, apud Oliveira et al., 2006), o Brasil é um dos primeiros
países em desenvolvimento a criar regras específicas para obtenção de créditos de carbono
dentro do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), espinha dorsal do Protocolo de
Kyoto para reduzir as emissões mundiais de gases do efeito estufa.

Os MDLs são projetos entre os países desenvolvidos com compromisso de redução de


emissões e os países em desenvolvimento, sem compromissos de emissão.

Os mesmos autores afirmam que entre as atividades elegíveis para projetos de MDL estão o
aumento da eficiência energética, o uso de fontes renováveis de energia e os projetos de
florestamento e reflorestamento.

494 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


O pagamento dos créditos carbono para projetos de florestamento e reflorestamento,
contudo, depende da quantificação das taxas de fixação de carbono em tipo de sistema
florestal.

O MDL preconiza projetos que promovam a redução de emissões com desenvolvimento


social, econômico, étnico, cultural, técnico e ambientalmente sustentáveis nos PeDs.

Moraes (2008, p. 14) afirma que a capacidade de atração de investimentos externos por
parte dos países em desenvolvimento, além dos bons e bem estudados projetos de MDL (de
redução das emissões e/ou seqüestro do CO2, depende também das variáveis nacionais de
estrutura tributária, disponibilidade e custos de mão-de-obra e estabilidade política e macro-
econômica.
Como benefícios dessa participação espontânea dos países em desenvolvimento com seus
projetos de MDL são esperadas:
• a autopromoção do desenvolvimento sustentável;
• a promoção da eqüidade intra e inter países em desenvolvimento (com políticas
de distribuição de benefícios);
• a promoção da transferência Norte-Sul (dos países desenvolvidos para os paí-
ses em desenvolvimento) de tecnologia descarbonizante;
• a promoção de projetos domésticos mais eficientes e menos intensivos no uso
da energia e nas emissões de CO2;
• a inserção dos países em desenvolvimento no mercado de créditos de carbono;
• adequação às especificidades de cada país em desenvolvimento, garantindo a
manutenção das suas condições de crescimento econômico.
O modelo energético mundial atual (Tabela seguinte) está embasado nos recursos não-
renováveis, representados principalmente pelos recursos fósseis (80% do consumo global
de energia) que foram, ao longo da história, determinantes nas transformações econômicas,
sociais, tecnológicas e infelizmente nas ambientais Moraes (2008, p. 20).

Tabela 4 – Matriz Energética Mundial em 2004

Combustível Participação (%)


Carvão 23,4
Petróleo 35,7
Gás Natural 20,3
Nuclear 6,7
Renováveis 11,2
Hídricas 2,3
Outras 0,4
Total 100,0
Fonte: World Coal Institute, 2005 apud Conejero, 2006

5.1 Conceito e Discussão

Créditos de Carbono ou Redução Certificada de Emissões (RCE) são certificados emitidos


para um agente que reduziu a sua emissão de gases do efeito estufa (GEE). As agências de
proteção ambiental reguladoras emitem certificados autorizando emissões de toneladas de
dióxido de enxofre, monóxido de carbono e outros gases poluentes. Inicialmente, selecio-
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 495
nam-se indústrias que mais poluem no País e a partir daí são estabelecidas metas para a
redução de suas emissões.

Por convenção, uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) corresponde a um crédito de


carbono. Este crédito pode ser negociado no mercado internacional. A redução da emissão
de outros gases, igualmente geradores do efeito estufa, também pode ser convertida em
créditos de carbono, utilizando-se o conceito de Carbono Equivalente. Comprar créditos de
carbono no mercado corresponde aproximadamente a comprar uma permissão para emitir
gases de efeito estufa.

Acordos internacionais como o Protocolo de Quioto determinam uma cota máxima de gases
de efeito estufa que os países desenvolvidos podem emitir. Os países, por sua vez, criam
leis que restringem as emissões de GEE. Assim, aqueles países ou indústrias que não
conseguem atingir as metas de reduções de emissões, tornam-se compradores de créditos
de carbono daqueles que os possuem em excesso. Por outro lado, aquelas indústrias que
conseguiram diminuir suas emissões abaixo das cotas determinadas, podem vender, a
preços de mercado, o excedente de "redução de emissão" ou "permissão de emissão" no
mercado nacional ou internacional.

As empresas recebem bônus negociáveis na proporção de suas responsabilidades. Cada


bônus, cotado em dólares, equivale a uma tonelada de poluentes. Quem não cumpre as
metas de redução progressiva estabelecidas por lei, compra certificados das empresas mais
bem sucedidas. O sistema tem a vantagem de permitir que cada empresa estabeleça seu
próprio ritmo de adequação às leis ambientais.

A criação de mecanismos de mercado que valorizam os recursos naturais é uma extraordi-


nária inovação cujo primeiro exemplo deu-se nos Estados Unidos com a emenda de 1990
ao Clean Air, de 1970. Por causa dessa Emenda de 1990, que criou as cotas comercializá-
veis de poluição nas bacias aéreas regionais dos EUA, a poluição do ar diminuiu em média
40%, neste país, entre 1991 e 1998.

Iniciativas similares, seguindo este mesmo princípio, estão sendo adotadas, atualmente, em
vários países e o Protocolo de Kyoto estabeleceu os critérios que permitem esta negocia-
ção, com objetivo de incentivar a redução das emissões de carbono na atmosfera.

Estes certificados podem ser comercializados através das Bolsas de Valores e de Mercado-
rias, como o exemplo do Clean Air e os contratos na bolsa estadunidense (“Emission Tra-
ding - Joint Implementation”). Há várias empresas especializadas no desenvolvimento de
projetos que reduzem o nível de gás carbônico na atmosfera e na negociação de certifica-
dos de emissão do gás espalhadas pelo mundo se preparando para vender cotas dos paí-
ses subdesenvolvidos e países em desenvolvimento, que em geral emitem menos poluen-
tes, para os que poluem mais.

Os volumes do Mercado de Carbono têm estimativas das mais variadas, e na maior parte
das matérias publicadas pela imprensa os índices não batem. Cada fonte indica um dado
diferente, vai desde U$ 500 milhões até US$ 80 bilhões por ano – os analistas de investi-
mentos consideram o volume estimado pelos especialistas insignificante, comparado com
alguns setores que giram volumes equivalentes num mês.

No caso Brasil, como também no da África, é exigida uma série de certificações e avais em
função dos riscos de crédito, por todas as questões de credibilidade decorrentes do chama-
do “Risco Brasil”, ainda persistente, o que implica na inclusão de “spreads”, onerando signi-
ficativamente o custo do capital.

496 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Tudo isso entra na contabilidade dos empréstimos internacionais, e o risco que se corre, no
Brasil, é de acontecer de o dinheiro com taxa baixa ou a fundo perdido chegar à mão do
pequeno com taxas muito altas.

5.2 MDL e “Commodities” Ambientais

Existem grandes diferenças entre as CDMs e as “commodities” ambientais. Os CDMs ou


MDLs (Mecanismos de Desenvolvimento Limpo), em síntese, são alternativas que implicam
em assumir uma responsabilidade para reduzir as emissões de poluentes e promover o de-
senvolvimento sustentável. Trata-se de um mecanismo de investimentos, pelo qual países
desenvolvidos podem estabelecer metas de redução de emissões e de aplicação de recur-
sos financeiros em projetos como reflorestamentos, produção de energia limpa.

As empresas, por exemplo, ao invés de utilizar combustíveis fósseis, que são altamente po-
luentes, passariam a utilizar energia produzida em condições sustentáveis, como é o caso
da biomassa.

Nem todo projeto de CDM gera necessariamente uma “commodity tradicional” e muito me-
nos uma “commodity ambiental”. A troca de créditos de cotas entre países desenvolvidos,
que estabelecem limites de “direitos de poluir” (“joint implementation e emission trading”,
pode ser transformada em títulos comercializáveis em mercados de balcão ou secundários
(mediante contratos de gaveta, “side letters”), ou em mercados organizados (bolsas, inter-
bancários, intergovernamentais, etc.).

De um lado as “commodities” ambientais tem como seu principal diferencial o modelo da


pirâmide, no qual os contemplados pelos recursos financeiros devem diretamente ser os
excluídos. De outro, o “trading emission” (compra e venda de créditos de carbono) atende
ao tradicional modelo de operações financeiras.

O CDM pode ser aplicado ao conceito “commodities ambientais”, observadas duas condi-
ções: se o projeto de controle de emissão de poluentes estiver gerando uma “commodity”
como energia (biomassa), madeira, biodiversidade, água, minério, reciclagem, e se o mode-
lo vier a promover a geração de emprego e renda e financiar educação, saúde, pesquisa e
preservação de área protegidas.

Não importa para as “commodities ambientais” o que capta mais carbono. Importa, porém, o
que gera mais emprego e mantém mais áreas de preservação. O modelo de “commodities
ambientais” deve debater a produção de uma trava que impeça que um ecossistema seja
prejudicado para favorecer a exploração comercial do outro.

Há risco dos certificados de carbono serem transformados apenas numa operação financei-
ra e não gerar nenhuma vantagem para o meio ambiente, caso os instrumentos econômicos
sejam apenas promessas de capturar carbono no futuro.

Por isso foi criada a proposta “BECE” (“Brazilian Environment Commodities Exchange”),
genuinamente brasileira. A proposta se baseia no mapeamento das reais necessidades pa-
ra, então, adotar uma postura mais séria e fazer propostas mais concretas nas relações com
a ALCA, Mercosul, Protocolo de Kyoto, etc.

Apesar dos riscos implícitos, ao implantar os Fóruns Regionais BECE tenta-se descobrir os
meios de resolver o problema. Os Créditos de Carbono, se mal desenhados e lançados no
mercado no afã da euforia, apenas para suprir uma expectativa de captar investimentos in-
ternacionais, podem mascarar a ação de muitos “oportunistas de negociatas”.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 497


5.3 Crédito de Carbono e sua Importância

A ideia de se criar o sistema de créditos de carbono resultou da busca de um mecanismo


para compensar a emissão de gases que produzem o efeito estufa através de um programa
que desperta, nos países, a vontade política de rever os seus processos industriais e
energéticos e, com isso, diminuir a poluição na atmosfera e o seu impacto no aquecimento
do clima.

Em função disso, foi criado um certificado que é emitido pelas agências de proteção
ambiental reguladoras, atestando que houve redução de emissão de gases do efeito estufa.
A quantidade de créditos de carbono recebida varia de acordo com a quantidade de
emissão de carbono reduzida.

Foi convencionado que uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) equivale a um crédito de
carbono. Outros gases que contribuem para o efeito estufa também podem ser convertidos
em créditos de carbono, utilizando o conceito de carbono equivalente.

Esse certificado é negociado no mercado internacional, onde a redução de gases do efeito


estufa passa a ter um valor monetário para conter a poluição. Há diversos meios para
consegui-lo, alguns exemplos são: reflorestamento; redução das emissões provenientes da
queima de combustíveis fósseis; substituição de combustíveis fósseis por energia limpa e
renovável, como eólica, solar, biomassa, PCH (Pequena Central Hidrelétrica), entre outras;
aproveitamento das emissões que seriam de qualquer forma descarregadas na atmosfera
(metano de aterros sanitários) para a produção de energia.

Em acordos internacionais os países desenvolvidos passaram a ter cotas máximas para


emitir esses gases do efeito estufa. Coube a esses países criar leis para restringir a emissão
desses gases em seus territórios.

O mercado de carbono possui um critério que se chama adicionalidade. Segundo este, um


projeto precisa absorver dióxido de carbono da atmosfera, no caso de reflorestamentos, ou
evitar o lançamento de gases do efeito estufa, no caso de eficiência energética.

Alguns criticam esses certificados por entenderem que eles autorizam países e indústrias a
poluir. E isso pode ser verdade, pois a intenção da criação desse certificado era organizar
critérios de neutralização da emissão desses gases poluidores.

Porém, também havia embutido dentro do programa a intenção de que os países poluidores
diminuissem suas emissões, e que esse mercado de carbono servisse de estímulo para
incentivar os países em desenvolvimento, atraídos pelo ganho financeiro, para que
cuidassem melhor de suas florestas e evitassem queimadas.

A criação dos créditos de carbono tem um papel importante de conscientização dos países e
suas indústrias.

5.4 A Criação e a Valoração dos Créditos de Carbono

Pode-se dizer que créditos de carbono são gerados a partir de projetos que reduzam as
emissões já realizadas ou que inibam futuras emissões de carbono para a atmosfera. Os
projetos de MDL são analisados de acordo com avaliações técnicas que incluem estudo de
viabilidade técnica e econômica do projeto, estimativa da quantidade de créditos de carbono
que podem ser gerados e o investimento necessário para a implementação do projeto.
Quando o projeto MDL é implantado e a redução dos gases do efeito estufa é certificada,
obtem-se os Certificados de Redução de Emissão de Carbono (CRE), negociáveis no Mer-
cado de Carbono. Segundo SNSA (2006), os requisitos para obtenção dos CRE são:

498 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


• Voluntariedade de participação: a participação deve ser voluntária e aprovada
por cada parte envolvida. A voluntariedade na implementação é atestada pelo
Estado envolvido. Segundo SNSA (2006), no Brasil, essa tarefa cabe à Comis-
são Interministerial de Mudança Global do Clima, segundo o artigo 3º, IV, do De-
creto de 7 de julho de 1999;
• Efetividade dos benefícios: os benefícios devem ser reais, mensuráveis e de
longo prazo e relacionados com a mitigação da mudança do clima;
• Adicionalidade dos benefícios do projeto: os benefícios das reduções de emis-
sões devem ser adicionais aos que ocorreriam na ausência de atividade certifi-
cada no projeto.
Equivalência

Em termos mensuráveis, cada crédito de carbono equivale à redução da emissão de 1 tone-


lada de CO2 na atmosfera. A conversão de reduções de outros tipos de gases em 1 tonelada
de CO2 se dá pelo potencial de aquecimento global. O gás metano (CH4), por exemplo,
possui um potencial de aquecimento 21 vezes maior que o CO2 e dessa maneira a redução
de 1 tonelada de metano por ano gera 21 créditos de carbono.

Titularidade dos Créditos de Carbono

A geração dos Certificados de Redução de Emissão de Carbono (CRE) através da queima


ou reaproveitamento do gás metano nos aterros sanitários leva à questão da titularidade
desses créditos. No caso dos projetos de aterros sanitários de RSU, a titularidade dos even-
tuais CRE produzidos pertencerá ao município no qual foi implantado o aterro. No caso de
aterros instituídos através de Consórcios Públicos ou através de concessões ou permissões
a entidades privadas, pode ser admitida a transferência de titularidade, desde que por via
contratual ou legal.

Os Consórcios Públicos são instrumentos legais geridos a partir de contratos entre entes
federados e estes contratos devem versar sobre a titularidade dos CREs produzidos. No que
diz respeito aos aterros privados, mesmo que estes recebam resíduos sólidos oriundos da
limpeza pública municipal, eventuais introduções para captação do biogás ou mesmo a im-
plantação de uma nova infra-estrutura traria à entidade privada, a certificação da redução de
emissões e os respectivos créditos de carbono.

Obviamente, a introdução desta nova variável acarretou modificações nos sistemas de ges-
tão dos resíduos sólidos urbanos, pois passou a incluir a capacidade de comercialização
dos créditos de carbono para a administração pública através da disposição adequada de
seus resíduos em aterros sanitários. Da mesma forma, o aproveitamento do lixo urbano, nas
usinas que geram energia elétrica, também incluem a possibilidade de negociação dos cré-
ditos de carbono, se a redução das emissões forem certificadas.

Um exemplo dessa situação é observado em Campos dos Goytacazes, cuja Lei nº 7.951, de
3 de outubro de 2007, autoriza a outorgar concessão da Gestão Integrada do Sistema de
Limpeza Pública do Município e institui, no §1º do artigo 3º, que o edital de licitação da con-
cessão poderá exigir que a concessionária ficará obrigada a recolher ao Município uma par-
cela, a título de outorga, do valor monetário por ela a ser recebido, mensalmente, junto a
seus outros clientes usuários da CTR, bem como dos valores oriundos da eventual comerci-
alização no mercado mundial dos créditos de carbono.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 499


5.5 Créditos de Carbono no Estado do Rio de Janeiro

A Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) e a Caixa Econômica Federal assinaram o pri-


meiro acordo de cooperação técnica em âmbito nacional para implantação de projetos de
Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os primeiros projetos contemplados serão
os de construção de aterros sanitários de maior porte, por meio dos consórcios intermunici-
pais e que já estão em andamento no Estado com apoio do Governo, de modo a gerar gás
metano em quantidades viáveis para ser comercializado no mercado internacional de carbo-
no pelo Banco Mundial (BIRD).

O primeiro convênio com Prefeitura de Caxias, a COMLURB e a Reduc (Refinaria Duque de


Caxias) para a produção de energia no aterro de Gramacho, que tem capacidade para todo
o abastecimento domiciliar do Estado do Rio de Janeiro e que suprirá 10% da necessidade
de consumo de gás da refinaria. E ainda vai gerar recursos com a venda de créditos de car-
bono que serão ofertados no mercado internacional e cujos recursos serão partilhados entre
a Prefeitura de Caxias, os catadores e a COMLURB.

O Aterro Metropolitano de Gramacho é um dos maiores da América Latina. Lá são despeja-


das aproximadamente 9 mil toneladas por dia, provenientes da capital e de outros municí-
pios. O Estado busca créditos de carbono relativos à recuperação dos gases, com a cons-
trução de aterros sanitários.

A Secretaria do Ambiente já negociou, em parceria com a Fundação Nacional de Saúde


(Funasa), e com os municípios, a formação de sete consórcios para construção e operação
de aterros sanitários com capacidade para, em média, 200 toneladas/dia. O primeiro, em
Teresópolis, já está em operação e beneficia outras quatro cidades: Carmo, São José do
Vale do Rio Preto, Sumidouro e Sapucaia. A partir do acordo de cooperação com a Caixa
Econômica, os empreendimentos serão ampliados de modo a permitir uma maior capacida-
de de geração de energia.

A Caixa Econômica Federal, instituição fomentadora de políticas públicas, é primeira institui-


ção brasileira signatária do Fundo de Crédito de Carbono do BIRD. Por exigência da CEF as
construtoras contratadas para os empreendimentos financiados pelo banco devem utilizar,
obrigatoriamente, madeira certificada.

Essa participação permite comercializar os créditos de carbono em uma plataforma superior


à especificada pelo Protocolo de Kyoto, o que possibilitará ao Brasil subir da terceira coloca-
ção para as primeiras entre os países que mais ofertam créditos de carbono no mercado
internacional.

O MDL está inserido no artigo 12 do Protocolo de Kyoto. Fruto de uma proposta brasileira, o
mecanismo auxilia os países emergentes a alcançarem o desenvolvimento sustentável e se
beneficiarem de atividades de projetos que resultem em Reduções Certificadas de Emis-
sões, mediante oferta de capital para financiamento de projetos destinados à redução de
gases de efeito-estufa.

Países em Desenvolvimento podem implantar projetos que contribuam para o desenvolvi-


mento sustentável e que apresentem reduções significativas na emissão de gases de efeito
estufa. O MDL visa ao alcance do desenvolvimento sustentável nesses países a partir da
utilização de tecnologias mais limpas, baseados em fontes renováveis e alternativas de e-
nergia ou reflorestamento.

500 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Tabela 5 - Relação de Empreendimentos e Projetos Aprovados para Habilitação de Crédito de
Carbono e MDL, no Estado do Rio de Janeiro, 2005-2009
Item Autorização Empreendimento Descrição Atividade Localização
Aterro de Adrianópo-
1 01/05 Aproveitamento de biogás Nova Iguaçu
lis e Marambaia
Incineração de resíduos sólidos urba-
nos com carga de decomposição
2 27/05 Usinaverde - UFRJ similar ao RDF, evitando emissão de Rio de Janeiro
metano e promovendo geração de
eletricidade para autoconsumo.
3 85/06 Votorantim Uso da escoria de alto forno na pro- Volta Redonda
5 85/06 Votorantim dução de cimento Cantagalo
5 111/06 Quimvale Troca de combustível para gás natural Barra do Piraí
Rio de Janeiro e
6 152/06 Pão de Açúcar
Petrópolis
Campos dos Goy-
7 172/07 Pão de Açúcar
tacazes
Rio de Janeiro e
8 173/07 Pão de Açúcar
Petrópolis
Gerenciamento de eletricidade pelo Rio de Janeiro,
9 175/07 Pão de Açúcar lado da demanda Niterói e Petrópo-
lis
Alcântara e São
10 175/07 Pão de Açúcar
Gonçalo
Rio de Janeiro,
11 176/07 Pão de Açúcar Niterói e Petrópo-
lis
12 177/07 Pão de Açúcar Rio de Janeiro
13 231/08 Aterro de Gramacho Aproveitamento de biogás Rio de Janeiro

Projetode compos-
15 233/09 Aproveitamento de biogás Duque de Caxias
tagem "Lixo Zero"
Fonte: Comissão Interministerial no Âmbito do Desenvolvimento Limpo. Disponível na internet.
http://www.mtc.gov.br. Acesso em fevereiro/2010.
Responsável por 83% da produção de petróleo nacional, o Norte Fluminense se prepara, até
2010, para receber R$68,5 bilhões em investimentos da Petrobrás, do total de R$86 bilhões
previstos para o Estado do Rio de Janeiro. A cadeia produtiva do petróleo gera ao menos 25
mil empregos diretos e indiretos e a extração rende, anualmente, royalties e participações
especiais de quase R$2 bilhões aos nove municípios produtores da Bacia de Campos. Mas
os indicadores sociais dessas cidades nem de longe espelham sua pujança econômica.

A Região tem vocação histórica para se tornar grande fornecedor de energia - fica em Quis-
samã a usina de álcool mais antiga do país. Porém, enquanto a disparada no preço do pe-
tróleo multiplicou os investimentos em álcool no Brasil (há 89 usinas em construção), o setor
sucroalcooleiro do Norte Fluminense demora a decolar.

5.6 Considerações

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) pode vir a se tornar um importante instru-


mento balizador do desenvolvimento, convertendo-se num provável indicador das vantagens
que, porventura, decorram de decisões políticas tomadas em favor da preservação ambien-
tal.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 501


Embora a geração e a negociação dos créditos de carbono já estejam devidamente regula-
mentada, faltam a devida divulgação e valorização do mecanismo de redução dos danos
ambientais, que traz embutida uma via para equacionar diferenças sociais e econômicas
internacionais.
6. LEGISLAÇÃO E REGULAÇÃO AMBIENTAL

6.1 Evolução da Política Ambiental no Brasil

A política ambiental brasileira se desenvolveu de forma tardia quando comparada às demais


políticas setoriais brasileiras, basicamente, em resposta às exigências de movimentos inter-
nacionais ambientalistas. A visão governamental da época de que a proteção ambiental não
deveria sacrificar o desenvolvimento econômico do país, constituíram os principais entraves
para a inserção do componente ambiental no modelo de desenvolvimento econômico brasi-
leiro.

A questão ambiental emergiu no cenário internacional na segunda metade do século XX.


Nesse período, segundo Magrini, ocorreram no desenvolvimento de três óticas em relação à
questão ambiental: a ótica corretiva (preponderante nos anos 1970), a ótica preventiva (pre-
ponderante nos anos 1980) e finalmente, a ótica integradora (característica dos anos 1990),
e que fornece a base teórica para a elaboração das ações políticas ambientais atuais.

Até a década de 70 não haviam políticas públicas voltadas para o meio ambiente no Brasil,
ou seja, as questões ambientais não eram prioridades nas políticas públicas, o que refletiu
no atraso do estabelecimento de normas ambientais no país. Em 1972 foi promovida na
cidade de Estocolmo a Conferencia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, de acordo
com Ferreira (1998) a posição do Brasil em relação às questões ambientais colocadas pela
Conferencia foi que o crescimento econômico não deveria ser sacrificado em nome de um
ambiente mais puro. Os delegados brasileiros até reconheceram a ameaça da poluição am-
biental, mas sugeriram que os países desenvolvidos deveriam pagar pelos esforços dessa
purificação.

Porém, em 1973, um ano após a Conferencia de Estocolmo e como produto desta, foi criada
a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), ligada ao Ministério do Interior, apresen-
tando grande descentralização e um acentuado viés regulatório.

A Sema dedicava-se a legislar e aos assuntos que demandavam negociação em nível na-
cional, tais como a produção de detergentes biodegradáveis, a poluição por veículos e a
criação de unidades nacionais de conservação. Até então só existia no Brasil recursos es-
pecíficos que regulamentavam a exploração dos recursos naturais, tais como: Código das
Águas, Código Florestal, Defesa da Borracha entre outros.

No ano de 1981 foi criada a Lei nº 6.938, implementando a Política Nacional do Meio Ambi-
ente, estabelecendo ações, objetivos e instrumentos. Entre os quais foram estabelecidos
padrões de qualidade ambiental, o zoneamento ambiental, a avaliação de impactos ambien-
tais, o licenciamento e revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras, etc.

Na mesma época da criação da SEMA foram criados o Sistema Nacional do meio Ambiente
(SISNAMA) e o Conselho nacional do Meio Ambiente (CONAMA), dois importantes órgãos
que foram os precursores na sistematização da política ambiental brasileira. No final dos
anos 80 foi criado o Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-
veis (IBAMA) com o objetivo de regulamentar e fiscalizar as atividades que possam ser lesi-
vas ao meio ambiente.

502 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


O modelo instituído e coordenado nacionalmente pela Sema era ainda executado de forma
descentralizada pelos órgãos estaduais de meio ambiente nos estados de maior desenvol-
vimento. Nesse contexto, surgiu no Rio de Janeiro a Fundação Estadual de Engenharia do
Meio Ambiente – FEEMA.

Novos temas de política ambiental foram assim redefinidos no mundo e a necessidade de


um novo pacto entre as nações gerou uma nova conferência internacional, a Unced-92
(Conferencia das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento), conhecida co-
mo Eco-92, realizada no Rio de Janeiro. O principal documento resultante dessa Conferên-
cia foi a Agenda XXI, que apresentou um elenco de programas que podem ser considerados
instrumentos fundamentais para a elaboração de políticas públicas em todos os níveis e que
privilegiavam a iniciativa local. Nesta, as questões com o desenvolvimento sustentável, bio-
diversidade, mudanças climáticas, águas (doces e oceanos) e resíduos (tóxicos e nucleares)
tornavam-se problemas do planeta e da humanidade.

Na década de 90, duas importantes leis para a defesa do meio ambiente foram aprovadas,
em 1996 foi criada a Política Nacional dos Recursos Hídricos, que versa sobre o uso e ges-
tão dos recursos hídricos, e em 1998, foi criada a Lei de Crimes Ambientais que prevê pena-
lidades para os responsáveis de atividades lesivas ao ambiente, sendo uma das mais avan-
çadas do mundo. Assim, condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente pas-
saram a ser punidas civil, administrativa e criminalmente. Além da punição esta lei incorpora
métodos e possibilidades de não aplicação das penas, desde que o infrator recupere o dano
ou, de outra forma, pague sua dívida à sociedade.

Atualmente a instituição ambiental é gerenciada nas três esferas – federal, estadual e muni-
cipal – estando na esfera federal é o Ministério do Meio Ambiente (MMA) que tem como ob-
jetivo planejar a política nacional do meio ambiente, o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), órgão ministerial deliberativo, que tem por objetivo assessorar, estudar e propor
diretrizes para as políticas ambientais com ampla participação da sociedade civil, e por fim,
o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) que
objetiva fiscalizar as diversas atividades sobre o ambiente, inclusive das exigências dos es-
tudos e dos relatórios de impactos ambientais - EIAs /RIMAs.

6.2 Política Ambiental no Estado do Rio de Janeiro

A Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) constitui órgão de primeiro nível hierárquico da


administração ambiental estadual, e tem como missão formular e coordenar a política esta-
dual de proteção e conservação do meio ambiente e de gerenciamento dos recursos hídri-
cos, visando ao desenvolvimento sustentável do Estado do Rio de Janeiro (SEA, 2010).

A gestão ambiental pública no Estado do Rio de Janeiro está apoiada no sistema estadual
de meio ambiente, coordenado pela SEA e da qual fazem parte:

a) a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), responsável pelo licen-


ciamento, controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras, bem como pelo
monitoramento e qualidade ambiental do Estado;

b) a Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (SERLA), responsável pela


execução da política estadual de recursos hídricos e pela realização de obras de proteção
de rios, canais e lagoas;

c) a Fundação Instituto Estadual de Florestas (IEF), responsável pela execução da política


florestal e da política de conservação dos recursos naturais renováveis;

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 503


d) a Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA), órgão colegiado diretamente vincu-
lado ao Secretário, possui o objetivo de coordenar, supervisionar e controlar o uso racional
do meio ambiente no Rio de Janeiro. Compete a esta, entre outras atribuições, baixar as
normas ambientais e outros atos complementares necessários ao funcionamento do licenci-
amento ambiental, aplicar as penalidades cabíveis aos infratores da legislação de controle
ambiental, e dar solução final aos processos de licenciamento ambiental;

e) o Fundo Estadual de Controle Ambiental (FECAM), fundo de natureza contábil que tem
por objetivo financiar projetos de apoio à execução da Política Estadual de Meio Ambiente.
Os recursos são provenientes, principalmente, da arrecadação de multas e indenizações por
infração à legislação ambiental estadual e de royalties de petróleo.

f) o Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONEMA), é um órgão colegiado, deliberativo e


consultivo, instituído no âmbito da Secretaria de Estado do Ambiente, que tem por finalidade
deliberar sobre as diretrizes da Política Estadual de Meio Ambiente e sua aplicação pela
Secretaria de Estado do Ambiente e demais instituições nele representadas, bem como ori-
entar o Governo do Estado na gestão do meio ambiente.

Compete ao CONEMA:

I - Definir as áreas em que a ação do Estado do Rio de Janeiro relativa à qualidade ambien-
tal deva ser prioritária, considerando as macrorregiões ambientais estabelecidas no Decreto
n° 26.058, de 2000;

II - Propor objetivos e metas para a Política Estadual de Meio Ambiente;

III - Estabelecer especificações técnicas e aprovar os Zoneamentos Ecológico-Econômico e


Costeiro;

IV - Analisar planos, programas e projetos potencialmente modificadores do meio ambiente,


quando solicitado pela SEA;

V - Articular-se com o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, com o Comitê de Defesa do


Litoral do Estado do Rio de Janeiro e com a Comissão Estadual de Controle de Agrotóxicos
e Biocidas;

VI - Estabelecer diretrizes no sentido de tornar os municípios aptos, mediante convênio, pa-


ra a aplicação das normas de licenciamento e fiscalização ambiental;

VII - Propor temas prioritários para a pesquisa aplicada à conservação e à utilização susten-
tada do meio ambiente;

VIII - Instituir Câmaras Técnicas permanentes e temporárias.

Recentemente o Governo do Estado do Rio de Janeiro criou através da Lei nº 5.101, de 04


de outubro de 2007, o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) com a missão de proteger,
conservar e recuperar o meio ambiente para promover o desenvolvimento sustentável. O
novo Instituto, instalado em 12 de janeiro de 2009, unifica e amplia a ação dos três órgãos
ambientais vinculados à Secretaria de Estado do Ambiente (SEA): a Fundação Estadual de
Engenharia e Meio Ambiente (Feema), a Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Ser-
la) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF).

O Instituto, formado pela fusão de três Instituições (Feema, Serla e IEF), nasce com a pre-
tensão de ser um órgão ambiental de referência. A meta é exercer papel estratégico na a-

504 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


genda de desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro com quadro técnico qualificado e
valorizado. Sua atuação será descentralizada por meio de nove Superintendências Regio-
nais correspondentes às regiões hidrográficas do Estado, integrando assim, a gestão ambi-
ental e a de recursos hídricos. As Superintendências regionais terão autonomia, inclusive,
para expedir licenças ambientais para atividades de pequeno porte.

A Constituição do Estado do Rio de Janeiro, publicada em 05 de outubro de 1989, possui


um capítulo reservado ao meio ambiente. Com isso, além da legislação federal, devem ser
respeitadas e cumpridas as legislações estadual e municipais. Abaixo segue descrito o Ca-
pítulo VIII da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, o qual trata do meio ambiente.

Capítulo VIII - Do Meio Ambiente


Art. 261 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se a todos, e em especial
ao Poder Público, o dever de defendê-lo, zelar por sua recuperação e proteção em benefício
das gerações atuais e futuras.
§1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - fiscalizar e zelar pela utilização racional e sustentada dos recursos naturais
II - proteger e restaurar a diversidade e a integridade do, patrimônio genético, bioló-
gico, ecológico, paisagístico, histórico e arquitetônico;
III - implantar sistema de unidades de conservação representativo dos ecossiste-
mas originais do espaço territorial do Estado vedada qualquer utilização ou atividade que
comprometa seus atributos essenciais;
IV - proteger e preservar a flora e a fauna, as espécies ameaçadas de extinção as
vulneráveis e raras, vedadas as práticas que submetam os animais à crueldade, por ação
direta do homem sobre os mesmos;
V - estimular e promover o reflorestamento ecológico em áreas degradadas, objeti-
vando especialmente a proteção de encostas e dos recursos hídricos, a consecução de ín-
dices mínimos de cobertura vegetal, o reflorestamento econômico em áreas ecologicamente
adequadas, visando suprir a demanda de matéria-prima de origem florestal e a preservação
das florestas nativas;
Vl - apoiar o reflorestamento econômico integrado com essências diversificadas em
áreas ecologicamente adequadas, visando suprir a demanda de matérias-primas de origem
vegetal;
Vll - promover, respeitada a competência da União, o gerenciamento integrado dos
recursos hídricos, na forma da lei, com base nos seguintes princípios:
a) - adoção das áreas das bacias e sub-bacias hidrográficas como unida-
des de planejamento e execução de planos, programas e projetos;
b) - unidade na administração da quantidade e da qualidade das águas;
c) - compatibilização entre os usos múltiplos, efetivos e potenciais;
d) - participação dos usuários no gerenciamento e obrigatoriedade de con-
tribuição para recuperação e manutenção da qualidade em função do tipo e da intensidade
do uso;
e) - ênfase no desenvolvimento e no emprego de método e critérios bioló-
gicos de avaliação da qualidade das águas:
f) - proibição do despejo nas águas de caldas ou vinhotos, bem como de
resíduos ou dejetos capazes de torná-las impróprias, ainda que temporariamente, para o
consumo e a utilização normais ou para a sobrevivência das espécies;
Vlll - promover os meios defensivos necessários para evitar a pesca predatória;
IX - controlar e fiscalizar a produção, a estocagem, o transporte, a comercialização
e a utilização de técnicas, métodos e instalações que comportem risco efetivo ou potencial
para a qualidade de vida e o meio ambiente, incluindo formas geneticamente alteradas pela
ação humana;

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 505


X - condicionar, na forma da lei, a implantação de instalações ou atividades efetivas
ou potencialmente causadoras de alterações significativas do meio ambiente à prévia elabo-
ração de estudo de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
IX - determinar a realização periódica, preferencialmente por instituições científicas
e sem fins lucrativos, de auditorias nos sistemas de controle de poluição e prevenção de
riscos de acidentes das instalações e atividades de significativo potencial poluidor, incluindo
a avaliação detalhada dos efeitos de sua operação sobre a qualidade física, química e bio-
lógica dos recursos ambientais;
Xll - estabelecer, controlar e fiscalizar padrões de qualidade ambiental, consideran-
do os efeitos sinérgicos e cumulativos da exposição às fontes de poluição, incluída a absor-
ção de substâncias químicas através da dieta alimentar, com especial atenção para aquelas
efetiva ou potencialmente cancerígenas, mutagênicas e teratogênicas;
Xlll - garantir o acesso dos interessados às informações sobre as fontes e causas
da degradação ambiental
XIV - informar sistematicamente à população sobre os níveis de poluição, a quali-
dade do meio ambiente, as situações de risco de acidentes e a presença de substâncias
potencialmente danosas à saúde na água potável e nos alimentos;
XV - promover medidas judiciais e administrativas de responsabilização dos causa-
dores de poluição ou de degradação ambiental, e dos que praticarem pesca predatória;
XVI - buscar a integração das universidades, centros de pesquisa, associações
civis, organizações sindicais para garantir e aprimorar o controle da poluição;
XVII - estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a utilização de tecnologias poupa-
doras de energias, bem como de fontes energéticas alternativas que possibilitem, em parti-
cular nas indústrias e nos veículos, a redução das emissões poluentes;
XVIII - estabelecer política tributária visando à efetivação do princípio poluidor-
pagador e o estímulo ao desenvolvimento e implantação de tecnologias de controle e recu-
peração ambiental mais aperfeiçoadas, vedada a concessão de financiamentos governa-
mentais e incentivos fiscais às atividades que desrespeitem padrões e normas de proteção
ao meio ambiente;
XIX - acompanhar e fiscalizar as concessões de direito de pesquisa e exploração
de recursos hídricos e minerais efetuadas pela União no território do Estado;
XX - promover a conscientização da população e a adequação do ensino de forma
a incorporar os princípios e objetivos de proteção ambiental;
XXI - implementar política setorial visando a coleta seletiva transporte, tratamento e
disposição final de resíduos urbanos, hospitalares e industriais, com ênfase nos processos
que envolvam sua reciclagem:
XXII - criar o Conselho Estadual do Meio Ambiente, de composição paritária, no
qual participarão os Poderes Executivo e Legislativo, comunidades científicas e associações
civis, na forma da lei;
XXIII - instituir órgãos próprios para estudar, planejar e controlar a utilização racio-
nal do meio ambiente;
XXIV - aprimorar a atuação na prevenção apuração e combate nos crimes ambien-
tais, inclusive através da especialização de órgãos:
XXV - fiscalizar e controlar, na forma da lei, a utilização de áreas biologicamente
ricas de manguezais, estuários e outros espaços de reprodução e crescimento de espécies
aquáticas, em todas as atividades humanas capazes de comprometer esses ecossistemas;
XXVI - criar, no Corpo de Bombeiros Militar, unidade de combate a incêndios flores-
tais, as segurando a prevenção, fiscalização, combate a incêndios e controle de queimadas.
§2º - As condutas e atividades comprovadamente lesivas ao meio ambiente sujeita-
rão os infratores a sanções administrativas, com a aplicação de multas diárias e progressi-
vas nos casos de continuidade da infração ou reincidência incluídas a redução do nível de
atividade e a interdição, além da obrigação de reparar, mediante restauração, os danos cau-
sados.

506 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


§3º - aquele que utilizar recursos ambientais fica obrigado, na forma da lei a realizar
programas de monitoragem a serem estabelecidos pelos órgãos competentes.
§4º - A captação em cursos d'água para fins industriais será feita a jusante do ponto
de lançamento dos efluentes líquidos da própria indústria, na forma da lei.
§5º - Os servidores públicos encarregados da execução da política estadual do
meio ambiente, que tiverem conhecimento de infrações persistentes, intencionais ou por
omissão dos padrões e normas ambientais, deverão imediatamente, comunicar o fato ao
Ministério Público, indicando os elementos de convicção sob pena de responsabilidade ad-
ministrativa, na forma da lei.
Art. 262 - A utilização dos recursos naturais com fins econômicos será objeto de taxas cor-
respondentes aos custos necessários à fiscalização, à recuperação e à manutenção dos
padrões de qualidade ambiental.
Art. 263 - Fica autorizada a criação na forma da lei, do Fundo Estadual de Conservação
Ambiental, destinado à implementação de programas e projetos de recuperação e preserva-
ção do meio ambiente, vedada sua utilização para pagamento de pessoal da administração
pública direta e indireta ou de despesas de custeio diversas de sua finalidade.
§1º - Constituirão recursos para o fundo de que trata o caput deste artigo, entre
outros:
I - 20 % (vinte por cento) da compensação financeira a que se refere o art. 20, pa-
rágrafo primeiro, da Constituição da República;
II - o produto das multas administrativas e de condenações judiciais por atos lesivos
ao meio ambiente;
III - dotações e créditos adicionais que Ihe forem atribuídos;
IV - empréstimos, repasses doações, subvenções auxílios, contribuições, legados
ou quaisquer transferencias de recursos;
V - rendimentos provenientes de suas operações ou aplicações financeiras.
§2º - A administração do Fundo de que trata este artigo caberá a um Conselho em
que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, na
forma a ser estabelecida em lei.
Art. 264 - A implantação e a operação de instalações que utilizem ou manipulem materiais
radioativos estarão sujeitas ao estabelecimento e à implementação de plano de evacuação
da população das áreas de risco e a permanente monitoragem de seus efeitos sobre o meio
ambiente e a saúde da população.
Parágrafo único - As disposições deste artigo não se aplicam à utilização de radioisótopos
previstos no art. 21, XXIII, "b", da Constituição da República.
Art. 265 - Os projetos governamentais da administração direta ou indireta, que exijam a re-
moção involuntária de contingente da população, deverão cumprir, dentre outras, as seguin-
tes exigências;
I - pagamento prévio e em dinheiro de indenização pela desapropriação, bem como
dos custos de mudança e reinstalação, Inclusive, neste caso, para os não-proprietários, nas
áreas vizinhas às do projeto de residências, atividades produtivas e equipamentos sociais;
II - implantação, anterior à remoção, de programas sócio-econômicos que permitam
as populações atingidas restabelecerem seu sistema produtivo garantindo sua qualidade de
vida;
III - implantação prévia de programas de defesa ambiental que reduzam ao mínimo
os impactos do empreendimento sobre a fauna, a flora e as riquezas naturais e arqueológi-
cas.
Art. 266 - O Estado promoverá, com participação dos Municípios e das comunidades, o zo-
neamento ambiental de seu território.
§1º - A implantação de áreas ou pólos industriais, bem como as transformações de
uso do solo, dependerão de estudo de impacto ambiental, e do correspondente licenciamen-
to.
§2º - O registro dos projetos de loteamento dependerá do prévio licenciamento na
forma da legislação de proteção ambiental.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 507
§3º - Os proprietários rurais ficam obrigados, na forma da lei, a preservar e a recu-
perar, com espécies nativas suas propriedades.
Art. 267 - A extinção ou alteração das finalidades das áreas das unidades de conservação
dependerá de lei específica.
Art. 268 - São áreas de preservação permanente:
I - os manguezais, lagos, lagoas e lagunas e as áreas estuarinas;
II - as praias, vegetação de restingas quando fixadoras de dunas as dunas, costões
rochosos e as cavidades naturais subterrâneas-cavernas:
III - as nascentes e as faixas marginais de proteção de águas superficiais;
IV - as áreas que abriguem exemplares ameaçados de extinção, raros, vulneráveis
ou menos conhecidos, na fauna e flora, bem como aquelas que sirvam como local de pouso,
alimentação ou reprodução;
V - as áreas de interesse arqueológico, histórico, científico, paisagístico e cultural;
Vl - aquelas assim declaradas por lei;
VlI - a Baia de Guanabara.
Art. 269 - São áreas de relevante interesse ecológico, cuja utilização dependerá de prévia
autorização dos órgãos competentes, preservados seus atributos essenciais
I - as coberturas florestais nativas;
II - a zona costeira;
III - o Rio Paraiba do Sul;
IV - a llha Grande;
V - a Baía de Guanabara;
Vl - a Baía de Sepetiba.
Art. 270 - As terras públicas ou devolutas, consideradas de interesse para a proteção ambi-
ental, não poderão ser transferidas a particulares a qualquer título.
Art. 271 - A iniciativa do Poder Público de criação de unidades de conservação, com a finali-
dade de preservar a integridade de exemplares dos ecossistemas será imediatamente se-
guida dos procedimentos necessários a regularização fundiária, demarcação e implantação
da estrutura de fiscalização adequadas.
Art. 272 - O Poder Público poderá estabelecer restrições administrativas de uso de áreas
privadas para fins de proteção de ecossistemas.
Parágrafo único - As restrições administrativas de uso a que se refere este artigo deverão
ser averbadas no registro imobiliário no prazo máximo de um ano a contar de seu estabele-
cimento.
Art. 273 - As coberturas florestais nativas existentes no Estado são consideradas indispen-
sáveis ao processo de desenvolvimento equilibrado e à sadia qualidade de vida de seus
habitantes e não poderão ter suas áreas reduzidas.
Art. 274 - As empresas concessionárias ou permissionárias de serviços públicos deverão
atender aos dispositivos de proteção ambiental em vigor.
Art. 275 - Fica proibida a introdução no meio ambiente de substâncias cancerígenas, muta-
gênicas e teratogênicas, além dos limites e das condições permitidas pelos regulamentos
dos órgãos do controle ambiental.
Art. 276 - A implantação e a operação de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras
dependerão de adoção das melhores tecnologias de controle para proteção do meio ambi-
ente, na forma da lei.
Parágrafo único - O Estado e os Municípios manterão permanente fiscalização e controle
sobre os veículos, que só poderão trafegar com equipamentos antipoluentes, que eliminem
ou diminuam ao máximo o impacto nocivo da gaseificação de seus combustíveis.
Art. 277 - Os lançamentos finais dos sistemas públicos e particulares de coleta de esgotos
sanitários deverão ser precedidos, no mínimo, de tratamento primário completo, na forma da
lei.
§1º - Fica vedada a implantação de sistemas de coleta conjunta de águas pluviais e
esgotos domésticos ou industriais.

508 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


§2º - As atividades poluidoras deverão dispor de bacias de contenção para as á-
guas de drenagem, na forma da lei.
Art. 278 - É vedada a criação de aterros sanitários à margem de rios, lagos, lagoas, man-
guezais e mananciais.
Art. 279 - O Estado exercerá o controle de utilização de insumos químicos na agricultura e
na criação de animais para alimentação humana, de forma a assegurar a proteção do meio
ambiente e a saúde pública.
Parágrafo único - O controle a que se refere este artigo será exercido, tanto na esfera da
produção quanto na de consumo, com a participação do órgão encarregado da execução da
política de proteção ambiental.
Art. 280 - A lei instituirá normas para coibir a poluição sonora.
Art. 281 - Nenhum padrão ambiental do Estado poderá ser menos restritivo do que os pa-
drões fixados pela Organização Mundial de Saúde.
Art. 282 - As empresas concessionárias do serviço de abastecimento público de água deve-
rão divulgar, semestralmente, relatório de monitoragem da água distribuída à população, a
ser elaborado por instituição de reconhecida capacidade técnica e científica.
Parágrafo único - A monitoragem deverá incluir a avaliação dos parâmetros a serem defini-
dos pelos órgãos estaduais de saúde e meio ambiente.

6.3 Legislação Ambiental dos Municípios da Região Norte e Noroeste Fluminense

A Constituição de 1988 garante que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é bem de


uso comum do povo e cabe ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e pre-
servá-lo para as presentes e futuras gerações. Exercendo a competência de defender o
meio ambiente conforme prevê a Constituição de 1988, as prefeituras das cidades vêm pro-
curando estruturar secretarias, departamentos e conselhos de meio ambiente que possam
atender às denúncias e solicitações da população reclamante, assumindo, gradativamente,
as atribuições antes pertinentes aos órgãos estaduais de meio ambiente ou ao Ibama.

Notadamente, a legislação ambiental advinda das Leis Orgânicas dos municípios do Norte e
Noroeste Fluminense seguem a lei federal e a estadual, com alguns detalhamentos locais
em alguns casos.

A seguir seguem os trechos referentes a legislação ambiental contidas na Lei Orgânica dos
seus respectivos municípios, para a Região Noroeste e Norte Fluminense.

6.3.1 Região Noroeste Fluminense

6.3.1.1 Aperibé
Lei Orgânica Municipal publicada em 30 de junho de 1993.
TÍTULO VI - Disposições Orgânicas Gerais
Art. 157 - Quanto ao meio ambiente, o Município observará:
157.1 - Todos têm direito a um ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à adequada qualidade de vida, impondo-se a todos e, es-
sencialmente aos poderes públicos municipais, o dever de recuperá-lo para o benefício das
gerações atuais e futuras.
157.2 - Para assegurar a efetividade desses direitos, compete ao Município:
157.2.1 - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais das espécies e dos e-
cossistemas;
157.2.2 - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou de atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambien-
tal, a que dará publicidade;
157.2.3 - proteger:

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 509


157.2.3.1 - a flora e a fauna, vedadas as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem extinção de espécie ou submetam animais a crueldade,
fiscalizando a extração, captura, produção, abate, transporte e comercialização de suas es-
pécies e sub-produtos;
157.2.3.2 - o meio ambiente, combater a poluição, preservar os mananciais, efetuar o trata-
mento do lixo;
157.2.3.3 - vedar terminantemente o depósito de lixo atômico no Município e
157.2.3.4 - incentivar, com impostos especiais e atrativos, a reciclagem do lixo, dando con-
dições a instalação de indústrias com tal finalidade.
157.2.4 - criar o horto florestal.
157.2.5 - estimular o uso e ocupação do solo e águas através de planejamento que
englobe diagnósticos e análise técnica, evitando-se a monocultura, fazendo perfurações de
poços artezianos em áreas de interesse coletivo.
157.2.6 - subsidiar a implantação de energia solar em áreas de interesse coletivo

6.3.1.2 Bom Jesus Itabapoana


Lei Orgânica Municipal publicada em 1990.
TÍTULO V - Da Administração Municipal
CAPÍTULO XI - Das Políticas Municipais
SEÇÃO VI – Da política do meio ambiente
ART. 240 – O Município deverá atuar no sentido de assegurar a todos os cidadãos o direito
ao meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à qualidade de vida.
§ Único – Para assegurar a efetividade desse direito, o Município deverá articular-
se com os órgãos estaduais, regionais e federais competentes e ainda, quando for o caso,
com outros Municípios, objetivando a solução de problemas comuns relativos a proteção
ambiental.
ART. 241 – O Município deverá atuar mediante planejamento, controle e fiscalização das
atividades, públicas e privadas, causadoras efetivas ou potenciais de alterações
significativas ao meio ambiente.
ART. 242 – O Município, ao promover a ordenação de seu território, definirá zoneamento e
diretrizes gerais de ocupação que assegurem a proteção dos recursos naturais, em
consonância com o disposto na legislação estadual pertinente.
ART. 243 – A política urbana do Município e o seu plano diretor deverão contribuir para a
proteção do meio ambiente, através da doação de diretrizes adequadas de uso e ocupação
do solo urbano.
ART. 244 – Nas licenças de parcelamento, loteamento e localização, o Município exigirá o
cumprimento da legislação de proteção ambiental emanada da União e do Estado.
ART. 245 – As empresas concessionárias ou permissionárias de serviços públicos deverão
atender rigorosamente aos dispositivos de proteção ambiental em vigor, sob pena de não
ser renovada a concessão ou permissão pelo Município.
ART. 246 – Ficam criados no âmbito do Município, de conformidade com os artigos 98 e 99,
duas (02) instâncias colegiadas de caráter deliberativo: a Conferência e Conselho Municipal
de Meio Ambiente.
ART. 247 – Fica criado o Fundo Municipal de Preservação Ambiental.
§ Único – A Receita desta será oriundo das multas provenientes à agressão ao
meio ambiente.

6.3.1.3 Cambuci
Lei Orgânica Municipal publicada em 5 de abril de 1990.
CAPÍTULO XI - Das Políticas Municipais
Seção VI - Da Política do Meio Ambiente
510 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
Art. 206 – O Município deverá atuar no sentido de assegurar a todos os cidadãos o direito
ao meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à qualidade de vida.
Parágrafo único - Para assegurar efetividade a esse direito, o Município deverá articular-se
com os órgãos estaduais, regionais e federais competentes e ainda, quando for o caso, com
outros Municípios, objetivando a solução de problemas comuns relativos a proteção ambien-
tal.
Art. 207 – O Município deverá atuar mediante planejamento, controle e fiscalização das ati-
vidades, públicas ou privadas, causadoras efetivas ou potenciais de alterações significativas
no meio ambiente.
Art. 208 – O Município, ao promover a ordenação de seu território, definirá zoneamento e
diretrizes gerais de ocupação que assegurem proteção dos recursos naturais, em conso-
nância com o disposto na legislação estadual pertinente.
Art. 209 – A política urbana do Município deverá contribuir para a proteção do meio
ambiente, através de adoção de diretrizes adequadas de uso e ocupação do solo urbano.
Art. 210 – Nas licenças de parcelamento, loteamento e localização, o Município exigirá o
cumprimento da legislação de proteção ambiental emanada da União e do Estado.
Art. 211 – As empresas concessionárias ou permissionárias de serviços públicos deverão
atender rigorosamente aos dispositivos de proteção ambiental em vigor, sob pena de não
ser renovada a concessão ou permissão pelo Município.
Art. 212 – O Município assegurará a participação das entidades representativas da
comunidade no planejamento e na fiscalização de proteção ambiental, garantindo o
amplo acesso dos interessados às informações sobre as fontes de poluição e degradação
ambiental ao seu dispor.
Art. 213 – É terminantemente proibido jogar lixo nos rios, valões e ribeirões em todo o terri-
tório municipal.
Art. 214 – O Poder Executivo poderá conveniar-se com órgãos federais e estaduais para a
execução dos serviços e obras essenciais de tratamento dos esgotos sanitários no Municí-
pio.

6.3.1.4 Italva
Lei Orgânica Municipal publicada em 04 de abril de 1990.
TÍTULO VII - Da Educação, da Cultura, do Desporto, do Meio Ambiente e da Saúde
CAPÍTULO II Do Meio Ambiente
Art. 79 - O Município, através de lei, disporá sobre a política ambientalista, observando os
princípios da Constituição da república e a orientação dos Órgãos Federais e Estaduais,
adaptáveis às condições locais.

6.3.1.5 Itaocara
Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de abril de 1990.
CAPÍTULO XII - Das Políticas Municipais
Seção IX - Do Meio Ambiente
Art. 297 - Todos têm direito ao meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado, im-
pondo-se a todos e, em especial, ao Poder Público Municipal, o dever de defendê-lo, pre-
servá-lo e conservá-lo para o benefício das gerações atuais e futuras.
Parágrafo Único - O direito ao ambiente saudável estende-se ao ambiente, de trabalho, fi-
cando o Município obrigado a garantir e proteger o trabalhador contra toda e qualquer con-
dição nociva à sua saúde física e mental.
Art. 298 - É dever do Poder Público elaborar e implantar, através de lei, um Plano Municipal
de Meio Ambiente e Recursos Naturais que contemplará a necessidade do conhecimento
das características e recursos dos meios físico e biológico, de diagnóstico de sua utilização

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 511


e definição de suas diretrizes para melhor aproveitamento no progresso de desenvolvimento
econômico-social.
Art. 299 - Cabe ao Poder Público, através de órgãos da administração direta, indireta e fun-
dacional:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais das espécies e dos e-
cossistemas;
II - preservar e restaurar a diversidade e a integridade do patrimônio biológico e
paisagístico, no âmbito municipal;
III - definir e implantar áreas e seus componentes representativos de todos os e-
cossistemas originais do espaço territorial do Município a serem especialmente protegidos,
sendo a alteração e supressão, inclusive dos já existentes, permitidos somente por lei, ve-
dada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção, mantendo as unidades de conservação atualmente existentes;
IV - fazer cumprir, no que couber, as normas emendas por órgãos e entidades res-
ponsáveis pela política nacional e estadual do meio ambiente;
V - exigir, na forma da lei, para a instalação de obra ou de atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambien-
tal, a que se dará publicidade garantidas audiências públicas e sendo submetido à aprecia-
ção do Legislativo.
Parágrafo Único - As obras do Poder Público estão sujeitas à avaliação de impacto ambien-
tal.
VI - proteger a fauna e a flora, vedadas as práticas que coloquem em risco sua fun-
ção ecológica, provoquem extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade, fisca-
lizando a captura, produção, transporte, comercialização e consumo de seus espécimes e
subprodutos;
VII - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VIII - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e ex-
ploração de recursos hídricos e minerais em seu território;
XI - definir o uso e ocupação do solo, subsolo e águas, através de planejamento
que englobe diagnóstico, análise e definição de diretrizes de gestão de espaços com a parti-
cipação popular e socialmente negociadas, respeitando a conservação da qualidade ambi-
ental;
X - estimular e promover o reflorestamento em áreas degradadas, objetivando es-
pecialmente a proteção de encostas e dos recursos hídricos, bem como a consecução de
um mínimo de 20% de cobertura vegetal do território do Município;
XI - controlar e fiscalizar a produção, a estocagem de substância, o transporte, a
comercialização é a utilização de técnicas, método e as instalações, que comportem risco
efetivo ou potencial para a saudável qualidade de vida e ao meio-ambiente natural e de tra-
balho, incluindo materiais geneticamente alterados pela ação humana, resíduos químicos e
fontes de radioatividade;
XII - requisitar a realização periódica de auditorias no sistema de controle de polui-
ção e prevenção de riscos de acidentes das instalações e atividades de significativo poten-
cial poluidor, incluindo a avaliação detalhada dos efeitos de sua operação sobre a qualidade
física, química e biológica dos recursos ambientais, bem como sobre a saúde dos trabalha-
dores e da população afetadas;
XIII - estabelecer, controlar e fiscalizar padrões de qualidade ambiental;
XIV - garantir amplo acesso dos interessados às informações sobre as fontes e
causas de poluição, da degradação ambiental sobre níveis de poluição, qualidade de meio-
ambiente, situações de riscos de acidentes e a presença de substâncias potencialmente
danosas à saúde na água potável e nos alimentos;
XV - promover medidas judiciais e administrativas de responsabilização dos causa-
dores de poluição ou de degradação ambiental;

512 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


XVI - incentivar a integração das escolas, instituições de pesquisa e associações
civis nos esforços para garantir e aprimorar o controle da poluição, inclusive no ambiente de
trabalho;
XVII - estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a utilização, de fontes de energia
alternativas, não poluentes, bem como de tecnologias poupadoras de energia.
XVIII - é vedada a concessão de recursos ou incentivos fiscais às atividades que
desrespeitam as normas e padrões de proteção ao meio-ambiente, natural de trabalho;
XIX - preservar e fomentar o plantio de árvores nos critérios definidos em lei;
XX - descriminar por lei:
a) as áreas e as atividades de significativa potencialidade degradação ambiental;
b) os critérios para estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental;
c) o licenciamento de obras causadoras de impacto ambiental, obedecendo suces-
sivamente aos seguintes estágios: licença prévia de instalação e funcionamento;
d) as penalidades para empreendimentos já iniciados ou concluídos sem licencia-
mento e a recuperação da área degradada, segundo critérios e métodos definidos pelos
órgãos competentes;
e) os critérios que nortearão a exigência de recuperação e reabilitação das áreas
sujeitas a atividades de mineração.
XXI - exigir o inventário das condições ambientais das áreas sob ameaça de degra-
dação ou já degradadas e enviá-lo ao Poder Legislativo;
XXII - proibir no território do Município, a estocagem, a circulação e o comércio de
alimentos ou insumos oriundos de áreas contaminadas;
XXIII - promover a conscientização da população e a educação do ensino de forma
a incorporar os princípios e objetos da Educação Ambiental a Educação Florestal;
XXIV - implementar política municipal visando à coleta seletiva, transporte, trata
mento e disposição final de resíduos urbanos, hospitalares e industriais, com ênfase nos
processos que envolvam sua reciclagem;
XXV - coibir a propaganda, de técnicas, produtos, equipamentos ou substâncias
que comportam risco à saúde, à qualidade de vida ou ao meio-ambiente.
Art. 300 - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio-ambiente
degradado, de acordo com a solução técnica, exigida pelo órgão público competente, na
forma da lei.
Art. 301 - É obrigatório a recuperação da vegetação nativa nas áreas protegidas por lei e
todo proprietário que não respeitar restrições ao desmatamento, deverá recuperá-los.
Art. 302 - É proibida a instalação de reatores nucleares, com exceção daqueles destinados à
pesquisa científica e ao uso terapêutico, cuja localização, e especificações serão definidas
em lei complementar.
Art. 303 - O Poder Público manterá obrigatoriamente o Conselho Municipal de Meio-
Ambiente, órgão colegiado autônomo e deliberativo, composto paritariamente por represen-
tantes do Poder Pública, entidades ambientalistas, representantes da sociedade civil que
entre outras atribuições definidas em lei deverá:
I - analisar, aprovar ou vetar qualquer projeto público ou privado que implique em
impacto ambiental;
II - solicitar, por um terço dos seus membros referendo;
§ 1º - Para o julgamento de projetos a que se o inciso I deste artigo, o Conselho
Municipal de Meio-Ambiente realizará audiências públicas obrigatórias, em que se ouvirá as
entidades interessadas, especialmente com representantes da população atingida.
§ 2º - As populações atingidas gravemente pelo impacto ambiental dos projetos, re-
feridos no inciso I deverão ser consultados obrigatoriamente através de referendo.
Art. 304 - As condutas e atividades lesivas ao meio-ambiente sujeitarão os infratores a san-
ções administrativas com aplicação de multas diárias, incluídas a redução do nível de ativi-
dades e a interdição, independentemente da obrigação dos infratores de restaurar os danos
causados.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 513


Art. 305 - Nos serviços públicos prestados pelo Município e na sua concessão, permissão e
renovação deverá ser avaliado o serviço e seu impacto ambiental.
Parágrafo Único - As empresas concessionárias ou permissionárias de, serviços públicos
deverão atender rigorosamente aos dispositivos de proteção ambiental, não sendo permitida
a renovação da permissão ou concessão, no caso de reincidência da infração.
Art. 306 - Aquele que utilizar recursos ambientais fica obrigado na forma da lei, a realizar
programas de monitoragem a serem estabelecidos pelos órgãos competentes.
Art. 307 - Os recursos oriundos de multas administrativas e condenações judiciais por atos
lesivos ao meio ambiente e das taxas incidentes sobre a utilização dos recursos ambientais,
serão destinados a um fundo gerido pelo Conselho Municipal de Meio-Ambiental na forma
da lei.
Art. 308 - Lei Municipal fará tombamento das árvores históricas e paisagísticas.
Art. 309 - É vedada a mudança paisagística é urbanística ao longo da beira do rio Paraíba
do Sul, que margeia as ruas Sebastião da Penha Rangel, seguindo a rua Magno Martins até
o prédio do Asilo "O Bem Comum de Todos".
Art. 310 - É vedada aterrar leito d’água que nasce ou que passe pelo Município.
Art. 311 - Lei complementar disporá sobre as áreas de proteção permanente.
Art. 312 - Lei Municipal criará e estabelecerá o funcionamento do Horto Florestal.
Art. 313 - Qualquer espécie de árvore poderá ser declarada imune ao corte, por motivo de
sua localização, raridade, beleza, ou por solicitação da comunidade, devendo também pro-
mover sua proteção.
Parágrafo Único - Os serviços de poda ou cortes somente poderão ser efetuadas mediante
autorização do órgão ambiental e com sua orientação.
Art. 314 - Caberá ao Município a coordenação das atividades destinadas a controlar e evitar
incêndios nas áreas florestadas ou providas das demais formas de vegetação, bem como a
criação do serviço de prevenção e controle da poluição acidental, forma da lei.
Art.315 - O trecho do rio Paraíba do Sul, que margeia o Município de Itaocara, é considera-
do área de relevante interesse ecológico, cuja utilização dependerá de prévia autorização
dos órgãos competentes do Estado, conforme preceitua a Constituição do Estado do Rio de
Janeiro.
Seção X
Da Política Pesqueira e de Caça
Art. 316 - O Município, no que couber, apoiará e integrará a política dos setores pesqueiro e
de caça.
Art. 317 - É vedada e será reprimida na forma da lei, pelo Município, que terá atribuição es-
pecífica para fiscalizar e controlar as atividades pesqueiras e de caças, a pesca e a caça
predatórias sob qualquer das suas formas.

6.3.1.6 Itaperuna
Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de abril 1990.
TÍTULO V - Da Ordem Econômica e Social
CAPÍTULO III - Do Orçamento
SEÇÃO IV – Da Política Agrícola, Pesqueira e do Meio Ambiente
SUBSEÇÃO III – Do meio ambiente
Art. 213 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se a todos, e em especial
ao Município, o dever de zelar por sua recuperação e preservação em benefício das gera-
ções atuais e futuras.
Parágrafo único – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Municipal:
I – zelar pela utilização racional dos recursos naturais;
II – preservar e restaurar a diversidade e a integridade do patrimônio genético, bio-
lógico, ecológico e paisagístico;
III – proteger a flora e a fauna;
514 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
IV – estimular e promover reflorestamento ecológico, em áreas degradadas, objeti-
vando especialmente a proteção de encostas e dos recursos hídricos, a consecução de ín-
dices mínimos de cobertura vegetal, o reflorestamento econômico em áreas ecologicamente
adequadas, visando suprir a demanda de matéria-prima de origem florestal e a preservação
das florestas nativas;
V – proibição do despejo nas águas de calcas ou vinhotos, bem como de resíduos
de dejetos capazes de torná-las impróprias, ainda que temporariamente, para o consumo e
a utilização normais ou para sobrevivência da espécie;
VI – informar sistematicamente à população sobre os níveis de poluição, a qualida-
de do meio ambiente, as situações de risco de acidentes e a presença de substâncias po-
tencialmente danosas à saúde na água potável e nos alimentos;
VII – promover medidas judiciais e administrativas de responsabilização dos causa-
dores de poluição ou de degradação ambiental e os recursos oriundos de multas, serão a-
plicados no desenvolvimento de tecnologia e na implantação de projetos de recuperação do
meio ambiente;
VIII – buscar a integração com órgãos federais, estaduais e particulares, nos esfor-
ços para garantir e aprimorar o controle da poluição, inclusive no ambiente de trabalho;
IX – criar o Conselho Municipal do Meio Ambiente, de composição paritária, no qual
participarão os Poderes Executivos e Legislativo, comunidades científicas e associações
civis, na forma da lei, além do Serviço de Extensão Rural oficial.
Art. 214 – Compete ainda ao Município:
I – promover e educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientiza-
ção pública para preservação do meio ambiente;
II – a nível urbano a educação ambiental será de responsabilidade dos estabeleci-
mentos de ensino público e privado;
III – a nível Rural a educação ambiental será de responsabilidade de Secretaria de
Educação ou Secretaria do Meio Ambiente ou Agricultura, juntamente com o Serviço Oficial
de Assistência Técnica e Extensão Rural.
Art. 215 – A efetiva implantação de áreas ou pólos industriais, bem como as transformações
de uso, dependerá de estudo de impacto ambiental e do correspondente licenciamento, na
foram da lei:
I – o registro dos projetos de loteamentos dependerá do prévio financiamento na
forma da legislação de proteção ambiental;
II – as propriedades rurais ficam obrigadas a preservar, ou a recuperar com espé-
cies nativas, um mínimo de 05% (cinco por cento) de suas áreas.
Art. 216 – São áreas de preservação permanente:
I – as áreas de proteção das nascentes dos rios;
II – as áreas que abriguem exemplares raros da fauna e da flora, bem como aque-
las que servem como local de pouso ou reprodução de espécies migratórias;
III – as paisagens notáveis.
Art. 217 – As coberturas florestais, existentes no Município, são consideradas indispensá-
veis ao processo de desenvolvimento.
Art. 218 – O Município garantirá a compatibilização da política de meio ambiente com a polí-
tica agrária, através de:
I – seus órgãos de fiscalização e controle;
II – do serviço de assistência técnica e extensão rural e pescadores oficiais;
III – da pesquisa agropecuária oficial;
IV – dos programas de incentivo fiscal.

6.3.1.7 Laje do Muriaé


Lei Orgânica Municipal publicada em 04 de abril de 1990.
TÍTULO VII - Da ordem Social
CAPÍTULO V - Do Meio Ambiente
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 515
Art. 157 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se a todos, e em especial
ao Poder Público, o dever de defendê-lo e zelar por sua recuperação e proteção em benefí-
cio das gerações atuais e futuras.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Município:
I - fiscalizar e zelar pela utilização racional e sustentada dos recursos naturais;
II - proteger e restaurar a diversidade e a integridade do patrimônio genético, bioló-
gico, paisagístico, histórico, psicontológico e arquitetônico;
III - implantar sistema de unidades de conservação representativo de todos os e-
cossistemas originais do espaço territorial do Município, vedada qualquer utilização ou ativi-
dade que comprometa seus atributos essenciais;
IV - proteger e preservar a fauna e a flora, em especial as espécies ameaçadas de
extinção, as vulneráveis e raras, assegurando sua preservação e reprodução, vedadas as
práticas que submetem os animais a crueldade;
V - estimular e promover o reflorestamento ecológico em áreas degradadas, objeti-
vando especialmente a proteção de encostas e dos recursos hídricos, bem como a conse-
cussão de índices mínimos de cobertura vegetal;
VI - promover o gerenciamento integrado dos recursos hídricos, com a participação
das associações civis e usuários, diretamente ou mediante permissão de uso, com base nos
seguintes princípios:
a) adoção das áreas das bacias e sub-bacias hidrográficas como unidade de plane-
jamento e execução de planos, programas e projetos;
b) unidade da administração da quantidade e da qualidade das águas;
c) compatibilização entre os usos múltiplos, efetivos e potenciais;
d) participação dos usuários no gerenciamento e obrigatoriedade de contribuição
para a recuperação e manutenção da qualidade em função do tipo e intensidade do uso;
e) ênfase no desenvolvimento e no emprego de métodos e critérios biológicos de
avaliação da qualidade das águas;
f) a captação em cursos d’água para fins industriais será feita a jusante do ponto de
lançamento dos afluentes líquidos da própria indústria, na mesma distância da margem e na
mesma altura em relação ao nível de água, independente dos tratamentos que recebem
estes afluentes, por exigência dos órgãos encarregados do controle ambiental.
VII - promover os meios defensivos necessários para evitar a pessoa predatória;
VIII - promover o zoneamento agrícola do território, estabelecendo normas para a
utilização dos solos que evitem a ocorrência de processos erosivos e a redução da fertilida-
de, estimulando o manejo integrado e a difusão de técnicas de controle biológico;
IX - controlar e fiscalizar a produção, a estocagem, o transporte, a comercialização
e a utilização de técnicas, métodos e instalações que comportem risco efetivo ou potencial
para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente, incluindo materiais geneticamente alte-
rados pela ação humana e agentesde radioatividade, som, calor e outras.
X - condicionar a implantação de instalações ou atividades efetivas ou potencial-
mente causadoras de alterações significativas do meio ambiente a prévia elaboração de
estufas de impacto ambiental, a que se dará publicidade e à realização de audiências públi-
cas, e de peblicitos com a população envolvida;
XI - requisitar a realização periódica de auditorias nos sistemas de controle da polu-
ição e a prevenção de riscos de acidentes das instalações e atividades de significativo po-
tencial poluidor, incluindo a avaliação detalhada dos efeitos de sua operação sobre a quali-
dade de física, química e biológica dos recursos ambientais, bem como sobre a saúde de
seus trabalhadores e da população afetada;
XII - estabelecer, controlar e fiscalizar padrões de qualidade ambiental, consideran-
do os efeitos sinérgicos e cumulativos da exposição às fontes de poluição, incluída a absor-
ção de substâncias químicas através da dieta alimentar, com especial atenção para aquelas
efetiva ou potencialmente cancerígenas, metagênicas e teratogênicas;

516 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


XIII - garantir o amplo acesso dos interessados às informações sobre as fontes e as
causas da poluição e da degradação ambiental e, em particular, aos resultados das monito-
ragens e das auditorias a que se refere o inciso XI deste artigo;
XIV - informar-se sistematicamente a população sobre o nível de poluição, a quali-
dade do meio ambiente, as situações de risco de acidentes e a presença de substâncias
danosas à saúde na água potável e nos alimentos;
XV - promover medidas judiciais e administrativas de responsabilização dos causa-
dores de poluição ou de degradação ambiental e as que praticaram pesca predatória, obri-
gando-os, além das sanções que sofrerem, a repararem o dano causado, vedada a conces-
são de financiamentos governamentais e incentivos fiscais ou facilidades de qualquer espé-
cie às atividades que desrespeitem as normas e padrões de proteção ambiental;
XVI - buscar a integração das universidades, centros de pesquisa, associações ci-
vis e organizações sindicais nos esforços para garantir e aprimorar o controle da poluição,
inclusive no ambiente do trabalho;
XVII - estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a utilização de fontes de energia
alternativa, não poluente, bem como as tecnologias poupadoras de energia;
XVIII - estabelecer política tributária visando a efetivação do princípio poluidor-
pagador e o estímulo ao desenvolvimento e implantação de tecnologias de controle e recu-
peração ambiental mais aperfeiçoadas;
XIX - acompanhar e fiscalizar as concessões e direitos de pesquisa e exploração de
recursos naturais efetuados pela União ou pelo Estado no território do Município especial-
mente os hídricos e minerais;
XX - promover a conscientização permanente e sistemática da população e a ade-
quação do ensino dentro do princípio de conscientizar-mobilizar, de forma a incorporar os
princípios e objetivos de Educação Ambiental na escola e comunidade;
XXI - implementar política setorial visando a coleta, transporte, tratamento e dispo-
sição final de resíduos urbanos, com ênfase nos processos que envolvam sua reciclagem;
XXII - instituir órgão específico, composto de um terço de representante da coletivi-
dade notoriedade ligados às questões ambientais no Município, um terço de representantes
de entidades ambientalistas com sede no Município e um terço de representantes do Poder
Público, ao qual caberá, entre outras atribuições definidas por lei complementar, dispor so-
bre sua formação e funcionamento, definir a Política Municipal do Meio Ambiente, bem como
aprovar as normas de proteção ambiental, atendidos, ainda, os seguintes princípios:
a) ser presidido por pessoa especialmente designada pelo Prefeito dentre os mem-
bros do Conselho;
b) mandato não remunerado e por um período de dois anos, podendo ser recondu-
zido;
c) vaga para a entidade ambientalista, que poderá trocar o representante a seu cri-
tério.
§ 2º - As condutas e atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores a
sanções administrativas com a aplicação de multas diárias e progressivas nos casos de con-
tinuidade da infração ou reincidência, incluídas a redução do nível de atividades e a interdi-
ção, além da obrigação de restaurar os danos causados.
§ 3º - Aquela que utilizar recursos ambientais fica obrigado a realizar programas de
monitoragem, a serem estabelecidos e fiscalizados pelos órgãos competentes, e recuperar
gradativamente, à medida do uso, o meio ambiente degradado, a critério do órgão de con-
trole ambiental.
§ 4º - Os servidores públicos, bem como assessores em cargo de chefia ou respon-
sáveis por setores da Administração Pública especialmente os encarregados da execução
da política Municipal do Meio Ambiente, terão poderes para fazer cumprir a legislação ambi-
ental em vigor, podendo intimar, multar, autuar ou embargar obra ou ilícito, pessoalmente ou
com auxílio de força policial, tendo prioridade em encaminhamentos diante do Poder Públi-
co.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 517


§ 5º - Os servidores públicos, especialmente os diretamente encarregados da exe-
cução da política Municipal do Meio Ambiente, que tiveram conhecimento de infrações per-
sistentes, intencionais ou por omissão às normas e padrões ambientais, deverão imediata-
mente , comunicar o fato ao Ministério Público e, no prazo máximo de dez dias, apresentar
seus relatórios, sob pena de responsabilidade administrativa.
Art. 158 - O Poder Público estabelecerá especial encargo financeiro sobre a utilização, por
particulares, dos recursos naturais, correspondentes aos custos dos investimentos necessá-
rios à recuperação e à manutenção dos padrões de qualidade ambiental.
Parágrafo Único - O encargo a que se refere este artigo será estabelecido com base no tipo,
na intensidade e na lesividade dos recursos ambientais.
Art. 159 - A instalação e a operação de atividade efetiva ou potencialmente causadoras de
alterações significativas do meio ambiente estarão condicionadas a aprovação, por plebisci-
to mediante convocação pelo Poder Legislativo, inclusive por iniciativa de cinco por cento do
eleitorado nos termos do art. 14 da Constituição Federal.
Art. 160 - As obras públicas ou privadas cuja implantação implique em remoção massiva de
moradores só poderão ser executadas depois de assegurado o reassentamento da comuni-
dade atingida, na mesma região ou em local próximo.
Art. 161 - O município promoverá, com a participação das comunidades, o zoneamento eco-
nômico-ecológico de seu território.
§ 1º - O zoneamento será feito com o concurso das associações civis, especialmen-
te aquelas dedicadas às questões ambientais.
§ 2º - A efetiva implantação de áreas ou pólos industriais, bem como quaisquer
transformações do uso do solo, dependerá de estudo de impacto ambiental do correspon-
dente licenciamento.
§ 3º - O registro dos projetos de loteamento dependerá de prévio licenciamento, na
forma da legislação de proteção ambiental.
§ 4º - As propriedades rurais ou consideradas como tal ficam obrigadas a preservar,
ou recuperar em espécies nativas, um mínimo de 20% ( vinte por cento) de sua área.
Art. 162 - São áreas de preservação permanente:
I - as restingas, costões rochosos e ilhas;
II - as nascentes e as faixas de proteção de águas superficiais;
III - as áreas que abriguem exemplares raros ou ameaçados de extinção, vulnerá-
veis ou pouco conhecidos da fauna e flora silvestres, bem como aquelas que sirvam como
local de pouso, alimentação e reprodução;
IV - as áreas de interesse arqueológico, histórico, científico, paisagístico e cultural;
V - as áreas sujeitas a erosão, deslizamento e inundação periódica;
VI - aquelas assim declaradas por Lei.
Art. 163 - São áreas de relevante interesse ecológico, cuja utilização dependerá de prévia
autorização dos órgãos ambientais componentes, preservados seus atributos essenciais:
I - as coberturas florestais nativas e primitivas;
II - as serras e florestas do Belo-Monte, Boa-Vista, Buqueirão, Monte Alegre, São
Sebastião, Cascata, São José e Eden;
III - grutas e cavernas.
Art. 164 - O Poder Público estabelecerá restrições administrativas de uso de áreas privadas
para fins de proteção de ecossistemas.
Art. 165 - As coberturas florestais nativas e primitivas, bem como as árvores que compõem
o verde urbano existente no Município, públicas ou privadas, são consideradas patrimônio
especial de interesse público e indispensáveis ao processo de desenvolvimento equilibrado
e à sadia qualidade de vida de seus habitantes, e não poderão ter suas áreas reduzidas,
cabendo ao Poder público estabelecer políticas e regulamentos de proteção e incentivo à
arborização levando em consideração os seguintes princípios:
I - estimular a ampliação das áreas;
II - estabelecer exigência de plantio de árvores proporcional à área utilizada;

518 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


III - elaborar programas de arborização, estabelecendo padrões mínimos anuais de
área verde por habitante, visando atingir o mínimo de doze metros quadrados por pessoa,
conforme exigido pela Organização Mundial de Saúde;
IV - estimular projetos de arborização privados, especialmente aqueles elaborados
por associações ambientalistas;
V - proteger do corte qualquer árvore pública ou privada, a não ser em caso de a-
meaça à saúde ou à segurança pública, ou em casos especiais, comprovados e a critério do
órgão ambiental municipal;
VI - punir o corte não autorizado de árvores no Município com, além das sanções
que o infrator vier a sofrer, obrigatoriedade de plantar no mesmo local ou vizinhança, dez
novas árvores da mesma espécie para cada uma cortada;
VII - condicionar a aprovação de projetos de construção ou loteamento, a manter as
árvores existentes na propriedade;
VIII - condicionar a aprovação de novos loteamentos ao plantio de árvores nativas
da mata atlântica, estabelecendo proporcionalidade entre distância de plantio e porte
máximo das árvores;
IX - criar política especial de proteção a árvore relevante interesse ecológico, histó-
rico, paisagístico, tornando-se imunes ao corte.
Art. 166 - As empresas concessionárias ou permissionárias de serviços públicos deverão
atender rigorosamente aos dispositivos de proteção ambiental, não sendo permitida a reno-
vação de permissão ou concessão nos casos de infrações persistentes, intencionais ou por
omissão.
Art. 167 - Fica proibida a introdução no meio ambiente de substâncias cancerígenas, muta-
gênicas e teratogênicas, segundo relações periódicas a serem divulgadas pelo Poder Exe-
cutivo.
Art. 168 - a implantação e a operação de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras
dependerá da adoção de tecnologias de controle para proteção do meio ambiente, indepen-
dentemente da capacidade de absorção dos corpos receptores.
§ 1º - Aplica-se o dispositivo deste artigo aos sistemas públicos e particulares de
coleta de esgoto sanitário, cujos lançamentos finais deverão ser precedidos, no mínimo, de
tratamento primário completo.
§ 2º - O lançamento de esgotos em lagos, lagoas, lagunas, reservatórios, deverá
ser precedida de tratamento terciário.
§ 3º - Fica vedada a implantação de sistemas de coleta conjunta de águas pluviais
e esgotos domésticos ou industriais.
§ 4º - fica vedada a implantação das atividades a que se refere este artigo quando
conferirem ao corpo receptor características em desacordo com a legislação.
§ 5º - As atividades poluidoras deverão dispor de bacias de contenção para as á-
guas de drenagem, de forma a assegurar seu tratamento adequado, quando necessário, a
critério do órgão de controle ambiental.
Art. 169 - nenhum padrão ambiental no Município poderá ser menos restritivo do que os pa-
drões fixados pela Organização Mundial de Saúde.
Art. 170 - A lei definirá política e regulamentos para coibir atividades que causem poluição
atmosférica especialmente a combustão livre, emissão de gases por veículos e chaminés.
Art. 171 - O Poder Público instituirá taxas de serviços públicos para coleta, tratamento e
destinação de lixo doméstico, hospitalar e industrial, proporcional ao custo das operações.
§ 1º - A coleta coletiva do lixo receberá tratamento diferenciado e privilegiado, sen-
do estimulada através da educação e conscientização ambiental nas escolas e comunida-
des, e da concessão de incentivos tributários e outras vantagens.
§ 2º - Fica vedado o lançamento de lixo de um distrito em outro.
§ 3º - O lixo contaminado ou contaminante deverá ser regido por regulamento es-
pecífico a ser determinado em lei.
Art. 172 - As associações civis, com finalidades ambientalistas, receberão incentivos e apoio
do Poder Público, para sua formação, atuação e divulgação.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 519
6.3.1.8 Miracema
Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de abril de 1990.
TÍTULO V – Da ordem econômica e social
CAPÍTULO VII – Do meio ambiente
Art. 161 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público Municipal e à co-
letividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e provar o manejo eco-
lógico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscali-
zar as entidades dedicadas a pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegi-
dos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambien-
tal, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substância que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientiza-
ção pública para a preservação do meio ambiente,
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldades.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio am-
biente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na
forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independen-
temente da obrigação de reparar os danos causadores.
Art. 162 - Os proprietários rurais ficam obrigados na forma da Lei a preservar e a recuperar
com espécies nativas suas Propriedades.
Art. 163 - As Propriedades rurais situadas no território deste Município. pertencente as pes-
soas físicas ou jurídicas, que se hajam possuído, ou não, sua superfície total ou parcial co-
berta por vegetação caracterizada como florestal obrigam-se a promover o parcial o plantio
de árvores nos seguintes percentuais:
a) Propriedades que meçam de três a dez hectares um mínimo de 3% (três por cen-
to);
b) Propriedades que meçam de onze a cinqüenta hectares um mínimo de 5% (cinco
por cento);
c) Propriedades que meçam de cinqüenta e um a cem hectares um mínimo de 8%
(oito por cento) ;
d) acima de 100 (cem) hectares, 10% (dez por cento);
Art. 164 - Fica criado o Conselho Municipal de Meio Ambiente de composição partidária no
qual participarão os Poderes Executivo e Legislativo, a comunidade científica, as associa-
ções civis e especializadas na matéria.
§ 1º - A lei disporá também sobre o funcionamento do Conselho a que se refere es-
te artigo.
§ 2º - Os servidores públicos encarregados da execução da política municipal do
meio ambiente, que tiveram conhecimento de infrações, internacionais ou por omissão, dos
padrões e normas ambientais, deverão imediatamente comunicar o fato a Ministério Público,
520 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
indicado os elementos da convicção, sob pena de responsabilidade administrativa na forma
da Lei.

6.3.1.9 Natividade
Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de abril de 1990.
TÍTULO IV - Da Ordem Econômica e Social
CAPÍTULO VIII - Do Meio Ambiente
Art. 192. Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público Muni-
cipal e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gera-
ções.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar, os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscali-
zar as entidades dedicadas à `pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegi-
dos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a, integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambien-
tal, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientiza-
ção pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da (ei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
a crueldade.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio am-
biente degradado, de acordo com Solução técnica exigida pelo órgão público competente,
na forma da lei.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas, lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independen-
temente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 4º - A capitação em cursos d'água pata fins industriais será feita a jusante do pon-
to de lançamento dos efluentes líquidos da própria indústria, na forma da lei;
§ 5º - Os servidores públicos encarregados da execução da política municipal do
meio ambiente, que tiverem conhecimento de infrações persistentes, intencionais ou por
omissão dos padrões e normas ambientais, deverão, imediatamente, comunicar o fato ao
Ministério Público, indicando os elementos de convicção, sob pena de responsabilidade ad-
ministrativa, na forma da lei.
Art. 193. Fica o poder Público Municipal autorizado a criar na forma da lei, o Fundo Munici-
pal de Conservação Ambiental, destinado à implementação de programas e projetos de re-
cuperação e preservação do meio ambiente; vedada sua utilização para pagamento de pes-
soal da administração pública direta e indireta ou de despesas de custeio diversas de sua
finalidade.
§ 1º Constituirão recursos para o fundo de que trata o caput deste artigo, entre ou-
tros:
I - 20% (vinte por cento) da compensação financeira a que se refere o parágrafo ú-
nico, artigo 101 desta Lei Orgânica;
II - no produto das multas administrativas e de condenações judiciais por atos lesi-
vos ao meio ambiente;
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 521
III - dotações de créditos adicionais que lhe forem atribuídos;
IV - empréstimos, repasses, doações, subvenções, auxílios, contribuições, legados
ou quaisquer transferências de recursos;
IV - rendimentos provenientes de suas operações ou aplicações financeiras.
§ 2º - A administração do fundo de que trata este artigo caberá a um Conselho em
que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, na
forma a ser estabelecida em lei.

6.3.1.10 Porciúncula
Lei Orgânica Municipal publicada em 04 de abril de 1990.
CAPÍTULO V - Da Ordem Econômica e Social
Seção IV - Da Educação, da Cultura e do Desporto
Subseção V - Do Meio Ambiente
Art. 122 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso co-
mum do. povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à co-
munidade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Município:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo eco-
lógico das espécies e ecossistemas;
II - definir, em lei complementar, os espaços territoriais do Município e seus compo-
nentes a serem especialmente protegidos e a forma da permissão para a alteração e su-
pressão vedado qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifi-
quem sua proteção;
III - exigir, na forma da lei, para instalação de obras, atividade ou parcelamento do
solo potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudos prá-
ticos de impacto ambientar, a que se dará publicidade;
IV - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
V - promover a educação ambiental na sua rede de ensino e a conscientização da
comunidade para a preservação do meio ambiente;
VI - proteger a fauna e a flora, vedadas na forma da Lei, as práticas que coloquem
a extinção de espécies ou submetam animais à crueldade.
§ 2º - A captação em cursos d'água para fins industriais será feita a jusante do pon-
to do lançamento dos afluentes líquidos da própria, na forma da Lei.
§ 3º - Aquele que explorar recursos minerais, inclusive extração de areia, cascalho
ou pedreiras, fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado de acordo com solução
técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da Lei.
§ 4º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, às sanções administrativas e penais, independen-
temente da obrigação de reparar os danos causados.
§ 5º - Os servidores públicos encarregados da execução da política Municipal do
meio ambiente, que tiverem conhecimento de infrações persistentes intencionais ou por o-
missão, dos padrões e normas ambientais, deverão, imediatamente comunicar o fato ao
Ministério Público, indicando os elementos de convicção, sob pena de responsabilidade ad-
ministrativa, na forma da lei.
Art. 123 - Fica o Poder Público Municipal autorizado a criação na forma da lei, do Fundo
Municipal de Conservação Ambiental, destinado a implementação de programas e projetos
de recuperação e preservação do meio ambiente, vedada sua utilização para pagamento de
pessoal da administração pública, direta e indireta ou de despesas de custeio, diversas de
sua finalidade.
§ 1º - Constituirão recursos para o fundo de que trata o caput deste artigo, entre ou-
tros: I - o produto das multas administrativas e de condenações judiciais por atos lesivos ao
meio ambiente;
522 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
II - dotações e créditos adicionais que lhe forem atribuídos;
III - empréstimos, repasses, doações, subvenções, auxílios, contribuições, legados
ou quaisquer transferências de recursos;
IV - rendimentos provenientes de suas operações ou aplicações financeiras;
§ 2º - A administração do Fundo de que trata este artigo caberá a um Conselho em
que participará necessariamente um representante do Executivo Municipal e representantes
da comunidade, na forma a ser estabelecida em Lei.

6.3.1.11 Santo Antônio de Pádua


Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de abril
CAPÍTULO IX - Das Políticas Municipais
Seção VII - Da Política Do Meio Ambiente
Art. 198 - O Município deverá atuar no sentido de assegurar a todos os cidadãos o direito ao
meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem de uso comum do povo e es-
sencial à qualidade de vida.
Parágrafo Único - Para assegurar efetividade a esse direito, o Município deverá articular-se
com os órgãos estaduais, regionais e federais competentes e ainda, quando for o caso, com
outros Municípios, objetivando a solução de problemas comuns relativos a proteção ambien-
tal.
Art. 199 - O Município deverá atuar mediante planejamento, controle e fiscalização das ativi-
dades públicas ou privadas, causadoras efetivas ou potenciais de alterações significativas
no meio ambiente.
Art. 200 - O Município, ao promover a ordenação de seu território, definirá zoneamento e
diretrizes gerais de ocupação que assegurem proteção dos recursos naturais, em conso-
nância com o disposto na legislação estadual pertinente.
Art. 201 - A política urbana do Município e o seu plano diretor deverão contribuir para a pro-
teção do meio ambiente, através da adoção de diretrizes adequadas de uso e ocupação do
solo urbano.
Art. 202 - Nas licenças de parcelamento, loteamento e localização, o Município exigirá o
cumprimento da legislação de proteção ambiental emanada da União e do Estado.
Art. 203 - As empresas concessionárias ou permissionárias de serviços públicos deverão
atender rigorosamente aos dispositivos de proteção ambiental em vigor, sob pena de não
ser renovada a concessão ou permissão pelo Município.
Art. 204 - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores pessoas físicas ou jurídicas a sanções administrativas e penais independentemen-
te de reparos causados.
Art. 205 - Proteger a flora e a fauna, vedando na forma da lei as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção da espécie ou submeta animais a cruel-
dade.
Art. 206 - Fica expressamente proibida nos rios e mananciais d’água do Território Municipal,
a atividade de garimpo com utilização de produtos químicos; bem como o despejo de quais-
quer produtos poluentes, detritos, entulhos e lixo, ficando os infratores condenados a multa
independentemente das ações penais competentes.
Art. 207 - É vedado na jurisdição do Município a instalação de usinas ou reatores nucleares,
bem como depósitos de lixo atômico.
Art. 208 - O Município assegurará a participação das entidades representativas da comuni-
dade no planejamento e na fiscalização de proteção ambiental, garantindo o amplo acesso
dos interessados às informações sobre as fontes de poluição e degradação ambiental ao
seu dispor.
Art. 209 - As populações atingidas gravemente pelo impacto ambiental dos projetos, deve-
rão ser consultadas obrigatoriamente através de referendo.
Art. 210 - Nos serviços públicos prestados pelo Município e na sua concessão, permissão e
renovação deverá ser avaliada o serviço e seu impacto ambiental.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 523
6.3.1.12 São José de Ubá
Lei Orgânica Municipal publicada em 29 de setembro de 1997.
CAPÍTULO XI - Das Políticas Municipais
Seção VI - Da Política do Meio Ambiente
Art. 206 - O Município deverá atuar no sentido de assegurar a todos os cidadãos o direito ao
meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem de uso comum do povo e es-
sencial à qualidade de vida.
Parágrafo Único - Para assegurar efetividade a esse direito, o município deverá articular-se
com os órgãos estaduais, regionais e federais competentes, Organizações não Governa-
mentais, e ainda, quando for o caso, com outros Municípios, objetivando a solução de pro-
blemas comuns relativos a proteção ambiental.
Art. 207 - O Município deverá atuar mediante planejamento, controle e fiscalização das ativi-
dades, públicas ou privadas, causadoras ou potenciais de alterações significativas no meio
ambiente.
Art. 208 - O Município, ao promover a ordenação de seu território, definirá zoneamento e
diretrizes gerais de ocupação que assegurem proteção dos recursos naturais, em conso-
nância com o disposto na legislação estadual pertinente.
Art. 209 - A política urbana do Município deverá contribuir para a proteção do ambiente, a-
través da adoção de diretrizes adequadas de uso e ocupação do solo urbano.
Art. 210 - Nas licenças de parcelamento, loteamento e localização o Município exigirá o
cumprimento da legislação de proteção ambiental emanada da União e do Estado.
Art. 211 - As empresas concessionárias ou permissionárias de serviços públicos deverão
atender rigorosamente aos dispositivos de proteção ambiental em vigor, sob pena de não
ser renovada a concessão ou permissão pelo Município.
Art. 212 - O Município assegurará a participação das entidades representativas da comuni-
dade no planejamento e na fiscalização de proteção ambiental, garantindo o amplo acesso
interessados às informações sobre as fontes de poluição e degradação ambiental ao seu
dispor.
Art. 213 - É terminantemente proibido jogar lixo e resíduos de defensivos agrícolas nos rios,
valões e ribeirões em todo o território municipal.
Art. 214 - O Poder Executivo poderá conveniar-se com órgãos federais e estaduais para a
execução dos serviços e obras essenciais de tratamento dos esgotos sanitários no Municí-
pio.

6.3.1.13 Varre-Sai
Lei Orgânica Municipal publicada em 30 de junho 1993.
TÍTULO V - Da Ordem Econômica e Social
CAPÍTULO IV - Do Meio Ambiente
Art. 209 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e essencial à quali-
dade de vida, impondo-se à todos e em especial ao município o dever de zelar por sua re-
cuperação e preservação em benefício da geração atual e futura.
§ 1o - Para se assegurar a efetividade desse direito, compete ao Município:
I - zelar pela utilização racional dos recursos naturais;
II - preservar e restaurar a integridade do patrimônio genético, biológico e paisagís-
tico;
III - proteger a flora e a fauna;
IV - estimular e promover reflorestamento ecológico, em áreas degradadas, objeti-
vando a proteção de encostas e dos recursos hídricos e o reflorestamento econômico em
áreas ecologicamente adequadas, visando suprir a demanda de matéria-prima e a preser-
vação das florestas nativas;

524 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


V - proibição de despejos de resíduos de dejetos nos córregos, rios e valões, capa-
zes de tornar a água imprópria, ainda que temporariamente, para o consumo e sua utiliza-
ção normal ou para sobrevivência da espécie;
VI - promover medidas administrativas e judiciais de responsabilização dos causa-
dores de poluição ou de degradação ambiental;
VII - buscar, junto aos órgãos federais, estaduais e particulares, orientação para ga-
rantir e aprimorar o controle da poluição, inclusive no ambiente de trabalho;
VIII - criar o Conselho Municipal do Meio Ambiente, de composição paritária, do
qual participarão os Poderes Executivo e Legislativo, comunidades científicas e associações
civis, além do serviço de extensão rural oficial, na forma da lei.
§ 2o - O Município deverá incentivar a coleta do lixo, através de coletas seletivas,
para fins de:
I - providenciar a reciclagem do lixo com a seguinte destinação:
a) todos materiais aproveitáveis serão alienados;
b) todos materiais orgânicos serão transformados em adubo orgânico.
§ 3o - Para se efetuar a reciclagem do lixo, o Município poderá firmar convênios
com outros Municípios, órgãos públicos ou empresas particulares que se interessarem, na
forma da lei.
Art. 210 - Compete ainda ao Município a educação ambiental em todos os níveis de ensino
e a conscientização dos municípios para a preservação do meio ambiente.
Art. 211 - A implantação de indústrias, bem como as transformações de áreas em pólos in-
dustriais, dependerá de estudo do impacto ambiental e de aprovação pelo órgão competente
na forma da lei.
Parágrafo Único: Aprovação e registro dos projetos de loteamentos dependerá de prévio
licenciamento na forma da legislação de proteção ao meio ambiente.
Art. 212 - As propriedades rurais do município deverão preservar e ou recuperar com espé-
cies nativas um mínimo de 5% (cinco por cento) de suas áreas.
Art. 213 - São áreas de preservação permanente no Município:
I - as áreas e as nascentes dos rios e córregos;
II - as áreas que abriguem exemplares raros da fauna e da flora, bem como aquelas
que servem como local de pouso ou reprodução de espécies migratórias;
III - as paisagens naturais notáveis.
Art. 214 - As coberturas florestais, existentes no Município, são consideradas indispensáveis
à manutenção do meio ambiente e ao progresso de desenvolvimento do povo varresaiense.

6.3.2 Região Norte Fluminense

6.3.2.1 Campos dos Goytacazes


Lei Orgânica Municipal publicada em 28 de março de 1990
CAPÍTULO VII – Do meio ambiente
Art. 242- Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente sadio e equilibrado, bem de
uso comum e essencial à qualidade de vida, cabendo à sociedade e, em especial ao gover-
no, o dever de recuperá-lo e protegê-lo em benefício das presentes e futuras gerações, que
devem recebê-lo enriquecido.
Art. 243- Incumbe ao Governo Municipal, respeitando as orientações dos Governos Federal
e Estadual, ou colaborando com eles e com a participação da sociedade, através de seus
organismos representativos:
I- proceder ao zoneamento econômico-ecológico do território do Município;
II- restaurar e defender as unidades de proteção ambiental e as reservas ecológi-
cas, assim consideradas pela legislação vigente, situadas total ou parcialmente nos limites
do Município;
III- inventariar, mapear e gravar todos os ecossistemas nativos, ou parcelas deles,
localizados no território do Município, vendando a sua redução e adulteração e promovendo,
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 525
direta ou indiretamente, a sua restauração de acordo com solução técnica dos órgãos públi-
cos competentes;
IV- estimular e promover o florestamento e o reflorestamento ecológicos em áreas
degradadas, visando especialmente à proteção de encostas e de margens de ecossistemas
aquáticos;
V- criar unidades de preservação e de conservação ambiental, com a finalidade de
proteger e permitir a restauração de amostras de todos os ecossistemas ou de seus rema-
nescentes, existentes no território do Município, providenciando com brevidade a sua efeti-
vação por meio de indenizações devidas e a manutenção de serviços públicos indispensá-
veis à sua integridade;
VI- tomar medidas que permitam a compatibilização de atividades econômicas e a
proteção do meio ambiente, estimulando, principalmente, o desenvolvimento de técnicas e
tecnologias apropriadas à utilização auto-sustentada, múltipla, integrada e ótima dos ecos-
sistemas, especialmente com relação às coleções hídricas existentes nos limites do território
municipal;
VII- impor e exigir dos órgãos competentes a adoção de normas conservacionistas
para extração e utilização dos recursos não-renováveis e renováveis;
VIII- estimular e promover a arboricultura, de preferência com essências
autóctones e diversificadas em áreas adequadas, para o suprimento de energia e de maté-
ria-prima;
IX- elaborar e executar programas de arborização urbana compatíveis com as ca-
racterísticas ambientais e culturais do Município;
X- impedir a coleta conjunta de águas pluviais e de esgotos domésticos ou industri-
ais;
XI- exigir que os lançamentos finais dos sistemas públicos e particulares de coletas
de esgotos sanitários sejam precedidos, no mínimo, por tratamento primário completo, na
forma da lei;
XII- proibir o despejo, nas águas, de caldas ou vinhoto, bem como de resíduos de
dejetos capazes de torná-las impróprias, ainda que temporariamente, para o consumo e a
utilização normais ou para sobrevivência das espécies;
XIII- adotar medidas para prevenir, controlar ou impedir a poluição de qualquer tipo;
XIV- zelar pela boa qualidade dos alimentos;
XV- estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a utilização de fontes energéticas
renováveis e não-poluentes e tecnologias poupadoras e energia, assegurando a todas as
pessoas, nos meios rural e urbano, o direito de utilizá-las;
XVI- tomar medidas que assegurem a diversidade e a integridade genética no Mu-
nicípio e na região em que este se insere;
XVII- coibir práticas que ameacem as espécies vegetais e animais, notadamente as
consideradas em perigo de extinção, vulneráveis e raras;
XVIII- a tutela sobre a fauna silvestre autóctone, proibindo sua caça, captura e prá-
ticas que submetam animais a crueldade;
XIX- a tutela sobre animais domésticos, assegurando-lhes existência e coibindo to-
da e qualquer prática que implique em crueldade, inclusive exigindo a adoção de equipa-
mentos e procedimentos adequados para os animais de tração e de métodos de insensibili-
zação para animais de abate;
XX- coibir, mediante instrumentos legais, a pesca predatória;
XXI- proibir a realização de eventos que impliquem no consumo de animais captu-
rados em seus ambientes nativos;
XXII- proteger os monumentos e os sítios paleontológicos e paleoecológicos;
XXIII- promover a educação ambiental formal e informal em todos os níveis existen-
tes na rede de ensino, ministrando-a através de disciplina específica e das outras discipli-
nas, dos meios de comunicação social e de outros recursos;
XXIV- divulgar mensalmente, através dos meios de comunicação social, informa-
ções obtidas pela monitoragem do meio ambiente e da qualidade da água distribuída à po-
526 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
pulação, a serem fornecidas pelos órgãos governamentais competentes e pelas empresas
concessionárias ou permissionárias ou ainda produzidas pela própria municipalidade, fican-
do assegurado a todos os interessados o acesso a tais informações;
XXV- criar o Conselho Municipal do Meio Ambiente, de composição paritária, do
qual participarão os Poderes Executivo e Legislativo, a comunidade científica e as organiza-
ções não-governamentais, na forma da lei.
§1°- Fica excluído da proibição referida no inciso XII deste artigo, o lançamento de
resíduos em áreas especialmente reservadas para este fim, denominadas águas de lagoas
de estabilização.
§2°- Incumbe ao Governo Municipal, direta ou indire tamente, providenciar a restau-
ração dos ecossistemas vegetais nativos destruídos, de forma a atingir pelo menos o míni-
mo da cobertura exigido pela legislação vigente, de acordo com solução técnica apresenta-
da pelos órgãos governamentais competentes.
§3°- Ficam proibidas obras de drenagem e retificaçã o ou aterros, parciais ou totais,
de todos os ecossistemas aquáticos situados inteiramente nos limites do Município, ainda
que integralmente localizados no interior de propriedade particular, incumbindo ao Governo
Municipal alinhar suas margens e orlas, bem como definir suas respectivas faixas marginais
de proteção, na forma da lei, até que o órgão governamental competente do Estado tome
tais providências.
§4°- Todo e qualquer padrão ambiental adotado pelo Governo Municipal deverá ser
igual ou mais restritivo que os padrões adotados pelo Governo do Estado.
§5°- As unidades de preservação e de conservação am bientais serão criadas por
lei ordinária, medida provisória ou decreto, este último ratificado por lei, e somente alteradas
e suprimidas através da lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos
atributos que justifiquem a sua proteção.
Art. 244- Na ausência de ação dos Governos Federal e Estadual, cumpre ao
Governo Municipal efetuar a transferência das populações e dos estabelecimentos indevi-
damente instalados em caráter permanente, em áreas destinadas por lei à proteção ambien-
tal inteiramente situadas nos limites do Município, observados os seguintes princípios:
I- recurso à ação administrativa e judicial para retirada de invasores comprovada-
mente detentores de bens que tornem desnecessário o uso das áreas invadidas;
II- implantação de programas econômico-sociais que permitam a transferência das
populações de baixa renda, sem qualquer ônus para elas, para áreas seguras e legalizadas;
III- implantação de programas que reduzam no mínimo os impactos
ambientais causados pela transferência e proporcionem às populações transferidas melhor
qualidade de vida.
Art. 245- Todo e qualquer projeto, obra e atividade que possa causar, direta ou indiretamen-
te, efetiva ou potencialmente, danos ao meio ambiente, só terá sua instalação e operação
aprovadas e autorizadas pela Prefeitura mediante apresentação de licença do órgão compe-
tente da União ou do Estado, exigindo-se, caso necessário, relatório de impacto ambiental e
sua apresentação em audiência pública na forma da lei.
§1°- É dever inadiável da Prefeitura embargar todo e qualquer projeto, obra ou ati-
vidade que, instalando-se ou operando clandestinamente, cause, direta ou indiretamente,
potencial ou efetivamente, danos ao meio ambiente e contrarie a legislação em vigor, ainda
que conte com a aprovação e a autorização dos órgãos governamentais competentes.
§2°- Para defender o meio ambiente no Município e a qualidade de vida de seus
habitantes, o Governo Municipal deverá, sempre que necessário, recorrer a todos os meios
cabíveis, administrativos e judiciais.
Art. 246- Os servidores públicos encarregados da execução da política municipal de meio
ambiente que tiverem conhecimento de infrações persistentes, intencionais ou por omissão
dos padrões e normas ambientais, deverão, imediatamente, comunicar o fato ao Ministério
Público, indicando os elementos de convicção, sob pena de responsabilidade administrativa,
na forma da lei.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 527


Art. 247- Após o prazo de 90 (noventa) dias da criação do Conselho Municipal de Meio Am-
biente, as ações do Governo Municipal concernentes a esta matéria serão norteadas por
política específica, na forma da lei.
Art. 248- O Poder Executivo poderá, através do convênio com qualquer órgão, efetuar ou
fiscalizar a limpeza e conservação de rios e canais dentro do Município, ouvido o Legislativo.
Art. 249- Fica o Poder Público obrigado a efetuar os despejos de lixos ou detritos em áreas
a serem destinadas pelos órgãos competentes, conforme dispuser a lei no prazo de 120
(cento e vinte) dias.
Art. 250- As usinas de açúcar sediadas no Município ficam obrigadas a adotar, no prazo de
180 (cento e oitenta) dias a contar da promulgação desta Lei, dispositivos que impeçam o
lançamento de fuligem pelas suas chaminés.
Parágrafo Único- O não cumprimento do disposto neste artigo implicará em multa a ser es-
tabelecida em lei.
Art. 251- Fica proibida a queima de canaviais nas propriedades localizadas na periferia da
cidade, bem como nas proximidades das sedes dos distritos.
Parágrafo Único- O não cumprimento do disposto neste artigo implicará em multa a ser es-
tabelecida em lei.

6.3.2.2 Cardoso Moreira


Lei Orgânica Municipal publicada em 4 de dezembro de 1997
TÍTULO IX - Das Políticas Municipais
Seção VII - Da Política do Meio Ambiente
Art. 243 - O Município deverá atuar no sentido de assegurar a todos os cidadãos o direito ao
meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem de uso comum do povo e es-
sencial à qualidade de vida.
Parágrafo Único - Para assegurar efetividade desse direito, o Município deverá articular-se
com os órgãos estaduais, regionais e federais competentes e ainda, quando for o caso, com
outros municípios, objetivando a solução de problemas comuns relativos à proteção ambien-
tal.
Art. 244 - O Município deverá atuar mediante planejamento, controle e fiscalização das ativi-
dades, públicas e privadas, causadoras efetivas ou potências de alterações significativas no
meio ambiente.
Art. 245 - O Município, ao promover a ordenação de seu território, definirá zoneamento e
diretrizes gerais de ocupação que assegurem a proteção dos recursos naturais, em conso-
nância com o disposto na legislação estadual pertinente.
Art. 246 - A política urbana do Município e o seu plano diretor deverão contribuir para a pro-
teção do meio ambiente, através da adoção de diretrizes de uso e ocupação do solo urbano.
Art. 247 - Nas licenças de parcelamento, loteamento e localização o Município exigirá o
cumprimento da legislação de proteção ambiental da União e do Estado.
Art. 248 - As empresas concessionárias ou permissionárias de serviços públicos deverão
atender rigorosamente aos dispositivos de proteção ambiental em vigor, sob pena de não
ser renovada a concessão ou permissão pelo Município.
Art. 249 - O Município assegurará a participação das entidades representativas da comuni-
dade no planejamento e na fiscalização de proteção ambiental, garantindo o amplo acesso
dos interessados às informações sobre as fontes de poluição e degradação ambiental ao
seu dispor.
Art. 250 - Proibir despejo de caldas ou vinhoto, bem como de resíduos e dejetos diretamente
nos corpos d’água ou em áreas próximas com iminentes riscos de contaminação destes,
tornando-os impróprios, mesmo que temporariamente, ao consumo e utilização normais ou
para a sobrevivência das espécies, bem como danos ao ecossistema.
Art. 251 - Promover os meios defensivos necessários para erradicar a pesca e a caça preda-
tórias.

528 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Art. 252 - Controlar a produção, o transporte, a comercialização e o emprego de técnicas,
métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio am-
biente.
Art. 253 - Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente.
Art. 254 - Proteger a fauna e a flora, vedada, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade
Art. 255 - Implementar política setorial visando a coleta seletiva, transporte, tratamento e
disposição final de resíduos urbanos, hospitalares e industriais, com
ênfase nos processos que envolvem sua reciclagem.
Art. 256 - Proteger e restaurar a diversidade e a integridade do patrimônio genético, biológi-
co, ecológico, paisagístico, histórico e arquitetônico.
Art. 257 - Promover o reflorestamento ecológico em áreas degradadas objetivando especi-
almente a proteção de encostas e dos recursos hídricos, a consecução de índices mínimos
de cobertura vegetal, o reflorestamento econômico em áreas ecologicamente adequadas,
visando suprir a demanda de matéria prima de origem florestal, a preservação e a recupera-
ção das florestas nativas e manguezais.
Art. 258 - Os lançamentos finais dos sistemas públicos e particulares de coleta de esgotos
sanitários deverão ser procedidos, no mínimo, de tratamento primário completo, na forma da
lei.
Art. 259 - O Poder Público poderá estabelecer restrições administrativas de uso de áreas
privadas para fins de proteção do ecossistema.
Parágrafo Único - Fica vedada a implantação de sistema de coleta conjunta de águas pluvi-
ais e esgotos domésticos ou industriais.
Art. 260 - A política urbana do Município e seu plano diretor deverão contribuir para a prote-
ção do meio ambiente, através da adoção de diretrizes adequadas de uso e ocupação do
solo urbano.
Art. 261 - Fica autorizada a criação na forma da Lei, do Fundo Municipal de Conservação
Ambiental, destinado à implementação de programas e projetos de recuperação e preserva-
ção do Meio Ambiente, vedada sua utilização para pagamento de pessoal da administração
pública direta e indireta ou de despesas de custeio diversas de sua finalidade.
Parágrafo Único - Os recursos para atender o fundo de que trata o caput deste artigo, deve-
rá ser objeto de lei complementar

6.3.2.3 Carapebus
Lei Orgânica Municipal publicada em 20 de maio de 1998
CAPÍTULO VI - Meio Ambiente
Seção I - Princípios Gerais
Princípios Fundamentais
Art. 236 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, patrimônio co-
mum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se à coletividade e em espe-
cial ao Poder Público o dever de defendê-lo, garantida sua conservação, recuperação e pro-
teção em benefício das gerações atuais e futuras. Incumbência do Poder Público
Art. 237 - Visando à defesa dos princípios a que se refere o artigo anterior, incumbe ao Po-
der Público:
I - estabelecer legislação apropriada, na forma do disposto no artigo 30 da Constitu-
ição da República;
II - definir política específica, assegurando a coordenação adequada dos órgãos di-
reta ou indiretamente encarregados de sua implementação;
III - zelar pela utilização racional e sustentada dos recursos naturais e, em particu-
lar, pela integridade do patrimônio ecológico, genético, paisagístico, histórico, arquitetônico,
cultural e arqueológico;
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 529
IV - proteger a fauna e flora silvestres, em especial as espécies em risco de extin-
ção, as vulneráveis e raras, preservando e assegurando as condições para sua reprodução,
reprimindo a caça, a extração, a captura, a matança, a coleção, o transporte e a comerciali-
zação de animais capturados na natureza e consumo de seus espécimes e subprodutos e
vedadas as práticas que submetam os animais, nestes compreendidos também os exóticos
e domésticos, a tratamento desnaturado;
V - controlar, monitorar e fiscalizar as instalações, equipamentos e atividades que
comportem risco efetivo ou potencial para a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - estimular a utilização de fontes energéticas alternativas não poluidoras, em par-
ticular, do gás natural, do biogás para fins automotivos e de equipamentos e sistemas de
aproveitamento da energia solar e eólica;
VII - promover a proteção das águas contra ações que possam comprometer o seu
uso, atual ou futuro;
VIII - proteger os recursos hídricos, minimizando a erosão e a sedimentação;
IX - efetuar levantamento dos recursos hídricos, incluindo os do subsolo, para pos-
terior compatibilização entre os seus usos múltiplos efetivos e potenciais com ênfase no de-
senvolvimento e no emprego de métodos e critérios de avaliação da qualidade das águas;
X - estimular e promover o reflorestamento ecológico em áreas degradadas, sem-
pre que possível com a participação comunitária, através de planos e programas de longo
prazo;
XI - promover os meios necessários para evitar a pesca predatória;
XII - disciplinar as atividades turísticas, compatibilizando-as com a preservação de
suas paisagens e dos recursos naturais;
XIII - garantir a limpeza e a qualidade da areia e da água das praias, a integridade
da paisagem natural e o direito ao sol;
XIV - garantir a limpeza e a qualidade dos bens públicos.
Execução da Política de Meio Ambiente
Art. 238 - São instrumentos de execução da política de meio ambiente estabelecida nesta
Lei Orgânica:
I - a fixação de normas e padrões como condição para o licenciamento de ativida-
des potencialmente poluidoras ou causadoras de impacto ambiental;
II - a permanente fiscalização do cumprimento das normas e padrões ambientais
estabelecidos na legislação federal, estadual e municipal;
III - a criação de unidades de conservação, tais como áreas de preservação perma-
nente, de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico ou cultural, parques munici-
pais, reservas biológicas e estações ecológicas;
IV - o tombamento de bens;
V - a sinalização ecológica.
Seção II - Controle e Preservação do Meio Ambiente
Disposições Gerais
Art. 239 - São instrumentos, meios e obrigações de responsabilidade do Poder Público para
preservar e controlar o meio ambiente:
I - celebração de convênios com universidades, centros de pesquisa, associações
civis e organizações sindicais nos esforços para garantir e aprimorar o gerenciamento ambi-
ental;
II - adoção das áreas das bacias e sub-bacias hidrográficas, como unidades de pla-
nejamento e execução de planos, programas e projetos;
III - estímulo à pesquisa, desenvolvimento e utilização de:
a) tecnologias poupadoras de energia;
b) fontes energéticas alternativas, em particular do gás natural e do biogás para fins
automotivos;
c) equipamentos e sistemas de aproveitamento da energia solar e eólica.
IV - concessão de incentivos fiscais e tributários, conforme estabelecido em lei, à-
queles que:
530 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
a) implantem tecnologias de produção ou de controle que possibilitem a redução
das emissões poluentes a níveis significativamente abaixo dos padrões em vigor;
b) adotem fontes energéticas alternativas menos poluentes.
V - execução de políticas setoriais, com a participação orientada da comunidade,
visando à coleta seletiva, transporte, tratamento e disposição final de resíduos urbanos, pa-
tológicos e industriais, com ênfase nos processos que envolvam sua reciclagem;
VI - registro, acompanhamento e fiscalização das concessões de direitos de pes-
quisa e exploração de recursos hídricos e minerais no território municipal, condicionadas à
autorização da Câmara Municipal;
VII - implantação descentralizada de usinas de processamento e reprocessamento
de resíduos urbanos, visando a neutralizar ou eliminar impactos ambientais;
VIII - manutenção e defesa das áreas de preservação permanente, assim entendi-
das aquelas que, pelas suas condições fisiográficas, geológicas, hidrológicas, biológicas ou
climatológicas, formam um ecossistema de importância no meio ambiente natural, desta-
cando-se:
a) os manguezais, as áreas estuarinas e as restingas;
b) as nascentes e as faixas marginais de proteção de águas superficiais;
c) a cobertura vegetal que contribua para a estabilidade das encostas sujeitas à e-
rosão e deslizamentos ou para fixação de dunas;
d) as áreas que abriguem exemplares raros, ameaçados de extinção ou insuficien-
temente conhecidos da flora e da fauna, bem como aquelas que sirvam como local de pou-
so, abrigo ou reprodução de espécies;
e) lagoas, lagos, lagunas, parque e outros bens naturais que a lei definir.
IX - criação de mecanismos de entrosamento com outras instâncias do Poder Pú-
blico que atuem na proteção do meio ambiente e áreas correlatas sem prejuízo das compe-
tências e da autonomia municipal;
X - instituição de limitações administrativas ao uso de áreas privadas, objetivando a
proteção de ecossistemas, de unidades de conservação e da qualidade de vida.
§ 1º - O Poder Público estimulará a criação e a manutenção de unidades de con-
servação privadas, principalmente quando for assegurado o acesso de pesquisadores e de
visitantes, de acordo com suas características e na forma do plano diretor.
§ 2º - As limitações administrativas a que se referem o inciso X serão averbadas no
Registro de Imóveis no prazo máximo de três meses, contados de sua instituição.
§ 3º - A pesquisa e a exploração a que se refere o inciso VI deste artigo serão precedidas de
licenciamento do órgão municipal competente.
§ 4º - Será criado o conselho Municipal do Meio Ambiente que será formado por re-
presentantes de distintas entidades da sociedade civil, sem ônus para o Município e com
atribuições que a lei estabelecer.

6.3.2.4 Conceição de Macabu


Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de abril de 1990.
TITULO V - Do Planejamento e das Políticas Municipais
Seção V - Da Política do Meio Ambiente
Art. 189 - O Município deverá atuar no sentido de assegurar a todos os cidadãos o direito ao
meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem de uso comum do povo e es-
sencial à qualidade de vida.
Parágrafo Único – Para assegurar efetividade a esse direito, o Município deverá articular-se
com os Órgãos Estaduais, Regionais e Federais competentes e ainda, quando for o caso,
com outros municípios, objetivando a solução de problemas comuns relativos à proteção
ambiental.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 531


Art. 190 - O Município deverá atuar mediante planejamento, controle e fiscalização das ativi-
dades, públicas ou privadas, causadoras efetivas ou potenciais de alteração significativa no
meio ambiente.
Art. 191 - O Município , ao promover a ordenação de seu território, definirá zoneamento de
diretrizes gerais de ocupação que assegurem a proteção dos recursos naturais em conso-
nância com o disposto na Legislação Estadual pertinente.
Art. 192 – A política urbana do Município e seu plano diretor deverão contribuir para a prote-
ção do meio ambiente, através da adoção de diretrizes adequadas de uso e ocupação do
solo urbano.
Art. 193 – Nas licenças de parcelamento, loteamento e localização o Município exigirá o
cumprimento da legislação ambiental emanada da União, do Estado, desta Lei Orgânica e
do Código de Preservação Ambiental a ser editado em lei complementar.
Parágrafo Único – Promulgada esta Lei Orgânica, a Câmara Municipal votará em regime de
urgência no prazo de trinta (30) dias, o Código de Preservação Ambiental referido no caput
deste artigo, in fine .
Art. 194 – As empresas concessionários ou permissionárias de serviços públicos deverão
entender rigorosamente aos dispositivos de proteção ambiental em vigor, sob pena de ser
caçada, ou não ser renovada a concessão ou permissão pelo Município.
Art. 195 – O Município assegurará a participação das entidades representativas da comuni-
dade no planejamento e na fiscalização de proteção ambiental, garantindo um amplo acesso
dos interessados às informações sobre as fontes de poluição ambiental ao seu dispor.

6.3.2.5. Macaé
Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de Abril de 1990
TÍTULO IV - Da Ordem Econômica e do Meio Ambiente
CAPÍTULO II - Do Meio Ambiente
Art. 156 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, a bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público Muni-
cipal e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gera-
ções.
§ 1° - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe o poder público estabe-
lecer legislação apropriada na forma do disposto no artigo 30, incisos I e II da Constituição
da República, definindo a política setorial específica, assegurando a coordenação adequada
dos órgãos direta ou indiretamente encarregados de sua implantação, visando a:
a) preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo das
espécies e ecossistemas;
b) preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do Município, de
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
c) definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegi-
dos sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
d) zelar pela utilização racional e sustentada dos recursos naturais e, em particular,
pela integridade do patrimônio biológico, em benefício, das gerações atuais e futuras;
e) exigir na forma da lei, para instalação de obras ou atividades potencialmente
causadoras de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambi-
ental, a que se dará publicidade:
1 - para efeito desse item, considera-se impacto ambiental o resultado de interferência tanto
no ambiente natural como no modo de vida consolidado pela população;
f) controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
1 - fica expressamente proibida a instalação de depósitos explosivos e qualquer de seus
similares, mesmo fogos de espetáculos pirotécnicos, no perímetro urbano e na periferia da

532 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


cidade, próximo a bairros que tenham núcleos residenciais para os quais representem peri-
go;
2 - constatada a infração, devem o fato ser comunicado a autoridade policial e judiciária,
para interdição do local e apreensão da mercadoria considerada objeto do caput desta alí-
nea.
g) promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientiza-
ção pública para preservação do meio ambiente, estimulando e promovendo o refloresta-
mento ecológico em áreas degradadas, visando:
1 - a proteção de manguezais, recursos hídricos e terrenos sujeitos a erosão ou inundações;
2 - a proteção das restingas;
3 - a recomposição paisagística assistida e orientada por projetos de arborização e de reflo-
restamento ecológico, utilizando prioritariamente espécies vegetais nativas da Mata Atlântica
e da Restinga;
4 - a consecução de um índice mínimo da cobertura florestal não inferior a 20% (vinte por
cento) do território do Município.
h) proteger a fauna e a flora, vedada, na forma da lei, as práticas que coloquem em
risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade;
i) determinar a realização periódica por instituições capacitadas e, preferencialmen-
te, sem fins lucrativos, de auditorias ambientais e programas de monitoragem que possibili-
tem a correta avaliação e a minimizarão da poluição, às expensas dos responsáveis por sua
ocorrência;
j) estimular a utilização de fontes energéticas alternativas, e, em particular, do gás
natural e do biogás para fins automotivos, bem como, de equipamentos e sistemas de apro-
veitamento de energia solar e eólica;
1) garantir o acesso dos interessados às informações sobre as causas da poluição e da de-
gradação ambiental;
m) proibir a implantação e ampliação de atividades poluidoras, cujas emissões pos-
sam conferir aos corpos receptores, em quaisquer condições, características em desacordo
com os padrões de qualidade ambiental em vigor;
n) conceder incentivos tributários, por prazos limitados, na forma da lei, àqueles
que: 1 - implantarem tecnologias de produção ou de controle que possibilitem a redução das
emissões poluentes a níveis significativamente abaixo dos padrões em vigor;
2 - executarem projetos de recuperação ambiental;
3 - adotarem fontes energéticas alternativas menos poluentes;
o) proibir a concessão de qualquer tipo de incentivo, isenção ou anistia àqueles que
tenham infringido normas e padrões de proteção ambiental nos 24 meses anteriores;
p) regulamentar a concessão e proibição de que tratam as alíneas "n" e "o" através
de lei a ser elaborada pelo Executivo e encaminhada à Câmara;
q) é vedada a desafetação de unidades de conservação, áreas verdes, praças e
jardins, bem como qualquer utilização ou atividade que comprometa os seus atribu-
tos essenciais;
r) qualquer espécie de árvore poderá ser declarada imune de corte, mediante ato
do órgão especializado da administração, por motivo de sua localização, raridade, beleza,
condição de porta-semente ou por solicitação da comunidade, devendo também promover
sua proteção;
s) fica terminantemente proibido cortar, derrubar, danificar árvores ou arbustos nos
logradouros, jardins ou parques públicos, sem autorização expressa da Prefeitura.
§ 2° - O Poder Público poderá estabelecer restriçõe s administrativas de uso de á-
reas privadas, objetivando a proteção de ecossistemas e da qualidade de vida.
§ 3° - As restrições administrativas a que se refer e este artigo serão averbadas no
registro de imóveis no prazo máximo de 3 (três) meses a contar de sua promulgação.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 533


§ 4° - Aquele que explorar recursos minerais, fica obrigado a recuperar o meio am-
biente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público competente,
na forma da lei.
§ 5° - A auditoria ambiental é cabível nos casos de evidência ou suspeita de des-
cumprimento de normas legais ou compromissos assumidos por meio de documentos.
§ 6° - O órgão público competente credenciará repre sentantes indicados pelas enti-
dades requerentes.
§ 7° - Obriga-se o Município a designar um técnico agrícola dos quadros funcionais
da Prefeitura no prazo de 3 (três) meses nos assentamentos de terra, com mais de 50 (cin-
qüenta) famílias.
Art. 157 - Consideram-se áreas de preservação permanente:
I - o manguezal do Rio Macaé e sua área estuarina;
II - a vegetação de restinga;
III - as nascentes e as faixas marginais de proteção de águas superficiais;
IV - a cobertura vegetal que contribua para estabilidade das encostas sujeitas a e-
rosão e deslizamentos;
V - as áreas que abriguem exemplares raros, endêmicos, ameaçados de extinção
ou insuficientemente conhecidos da flora e da fauna, bem como, aquelas que sirvam como
local de pouso, abrigo ou reprodução de espécies migratórias e nativas;
VI - o Arquipélago de Santana, formado pelo conjunto da ilhas de Santana, Papa-
gaio, Francês, Ilhote do Sul e Ponta das Cavalas;
VII - as Lagoas de Imboassica, Jurubatiba, Comprida, Carapebus e Paulista, bem
como, as respectivas bacias contribuintes que as abastecem, ficando a abertura das referi-
das lagoas condicionada à prévia audiência do Prefeito, da Câmara dos Vereadores, e dos
moradores adjacentes ouvida a SERLA - Superintendência Estadual de Rios e Lagoas, e a
AMDA - Associação Macaense de Defesa Ambiental;
VIII - Pico do Frade, Peito do Pombo e a Serra dos Três Picos;
IX - a restinga da Praia do Pecado;
X - o Farolito;
XI - o Rio Macaé e o Rio São Pedro;
XII - as praias que constituem a orla do Município;
XIII - o morro do Forte Marechal Hermes;
XIV - a Igreja de Santana;
XV - o Castelo (Instituto Nossa Senhora da Glória);
XVI - a Estação Ferroviária de Macaé;
XVII - a Praça Veríssimo de Mello;
XVIII - a Praça Washington Luiz;
XIX - a Igreja Católica, Matriz de Carapebus;
XX - o prédio do N.E.C. (Núcleo de Educação Comunitária);
XXI - o prédio antigo da Escola Estadual Matias Neto;
XXII - o Sindicato dos Ferroviários;
XXIII - a sede do SESC - Serviço Social do Comércio - Imbetiba;
XXIV - o prédio da sede do Corpo de Bombeiros;
XXV - a Praça Gê Sardemberg e o prédio nela contido;
XXVI - a Igreja São João Batista de Macaé;
XXVII - o prédio da Sociedade Musical Lira dos Conspiradores;
XXVIII - o prédio da Sociedade Musical Nova Aurora;
XXIX - o prédio antigo do Hospital São João Batista;
XXX - a Estação da Estrada de Ferro de Glicério;
XXXI - a Igreja Matriz de Glicério; e
XXXII - àquelas assim declaradas por lei;
XXXIII - a Pedra denominada Oratório, em Córrego do Ouro;
XXXIV - a Serra da Cruz, na Vila Paraíso.

534 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Parágrafo Único - Lei Complementar regulamentará as atividades que poderão ser exerci-
das nas áreas acima descritas, bem como as sanções e medidas a serem tomadas na pro-
teção, manutenção, reposição e preservação das mesmas.
Art. 158 - A captação em cursos d’água para fins agro-industriais será feita a jusante do pon-
to de lançamento dos efluentes líquidos da própria indústria, na forma da lei.
Art. 159 - O lançamento de esgotos sanitários efluentes industriais e resíduos oleosos em
ambientes aquáticos, tais como, rios, canais, lagoas, lagunas e oceano, somente será per-
mitido após tratamento, no mínimo a nível secundário, ou até terciário, de acordo com o ór-
gão municipal de meio ambiente, dentro de padrões nacionais em vigor.
Art. 160 - Caberá ao Município a coordenação das atividades destinadas a controlar e evitar
incêndios nas áreas florestadas ou providas das demais formas de vegetação.
Art. 161 - As emissões líquidas e gasosas provenientes de atividades polidoras industriais e
de veículos automotores, além de obedecerem aos critérios e padrões nacionais de emissão
em vigor, não poderão conferir ao meio ambiente características em desacordo com os crité-
rios e padrões de qualidade ambiental.
Art. 162 - As atividades poluidoras já instaladas no Município, têm o prazo máximo de 02
(dois) anos para atender às normas e padrões federais e estaduais em vigor na data da
promulgação desta lei.
Art. 163 - Deverá o Município, através do órgão responsável pela política de meio ambiente,
providenciar o cadastramento das atividades de extração mineral determinando providên-
cias, medidas e sanções para que seja feita a recomposição ambiental.
Art. 164 - O Município adotará o princípio poluidor-pagador sempre que possível, devendo
as atividades efetivas potencialmente causadoras de degradação ambiental, arcarem inte-
gralmente com os custos, monitoragem e recuperação das alterações do meio ambiente
decorrentes de seu exercício, sem prejuízo da aplicação de penalidades administrativas e
da responsabilidade civil.
§ 1° - O disposto no caput deste artigo incluirá a imposição de taxa do poder de po-
lícia, proporcional aos seus custos totais e vinculadas a sua operacionalização.
§ 2° - O Poder Público estabelecerá política tribut ária que penalize, de forma pro-
gressiva, as atividades poluidoras, em função da quantidade e da toxidade dos
poluentes emitidos.
§ 3° - Serão concedidos incentivos tributários, por prazos limitados, na forma da lei,
àqueles que:
a) implantarem tecnologias de produção ou de controle que possibilitem a redução
das emissões poluentes a níveis significativamente abaixo dos padrões em vigor;
b) executarem projetos de recuperação ambiental;
c) adotarem fontes energéticas alternativas menos poluentes.
Art. 165 - As infrações à legislação municipal de proteção ao meio ambiente serão objeto
das seguintes sanções administrativas:
I - multa proporcional à gravidade da infração e do dano efetivo ou potencial;
II - redução do nível de atividade de forma a assegurar o atendimento as normas e
padrões em vigor;
III - embargo ou interdição.
Parágrafo Único - As multas a que se refere o inciso I deste artigo serão diárias e progressi-
vas nos casos de persistência ou reincidência.

6.3.2.6 Quissamã
Lei Orgânica Municipal publicada em 17 de novembro de 990
SEÇÃO IX – da política do meio ambiente
Art. 275 - Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente sadio e equilibrado, bem de
uso comum e essencial a qualidade de vida cabendo à sociedade e, em especial, ao Gover-
no o dever de recuperá-lo e protegê-lo em beneficio das presentes e futuras gerações que
devem recebê-lo enriquecido,
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 535
Art. 276 - Incumbe ao Governo Municipal, respeitando as orientações dos Governos Federal
e Estadual, ou colaborando com eles e com a participação da sociedade através de seus
organismos representativos:
I - proceder ao saneamento econômico-ecológico do território do Município;
II - restaurar e defender as unidades de proteção ambiental e as reservas ecológi-
cas, assim consideradas pela legislação vigente, situadas total ou parcialmente nos limites
do Município;
III - inventariar, mapear e gravar todos os ecossistemas nativos ou parcela delas,
localizados no território do Município, vedando a sua redução e adulteração e promovendo
direta ou indiretamente, a sua restauração de acordo com a solução técnica dos órgãos pú-
blicos competentes;
IV - estimular e promover o florestamento e o reflorestamento ecológico em áreas
degradadas, visando especialmente a proteção de margens de ecossistemas aquáticos:
V - criar unidades de preservação e de conservação ambiental com a finalidade de
proteger e permitir a restauração de amostra de todos os ecossistemas ou de seus rema-
nescentes, existentes no território do Município, providenciando com brevidade a sua efeti-
vação por meio de indenizações devidas e a manutenção de serviços públicos indispensá-
veis à sua integridade.
VI - tomar medidas que permitam a compatibilização de atividades econômicas e
proteção do meio ambiente estimulando, principalmente o desenvolvimento de técnicas e
tecnologias apropriadas à utilização auto-sustentada, múltipla, integrada e ótima dos ecos-
sistemas, especialmente com relação às coleções hídricas existentes nos limites do território
municipal;
VII - impor e exigir dos órgãos competentes a adoção de normas conservacionais para ex-
tração e utilização dos recursos não renováveis e renováveis.
VIII - estimular e promover a arboricultura com essências autóctones e diversifica-
das em áreas adequadas para o suprimento de energia e matéria prima;
IX - elaborar e executar programas de arborização urbana compatíveis com as ca-
racterísticas ambientais e culturais do município;
X - impedir a coleta conjunta de águas pluviais e de esgotos domésticos e industri-
ais;
XI - exigir que os lançamentos finais dos sistemas públicos e particulares de coletas
de esgotos sanitários sejam precedidos no mínimo, por tratamento primário completo, na
forma da lei;
XII - proibir o despejo nas águas de caldas ou vinhoto, bem como de resíduos de
objetos capazes de torná-las impróprias, ainda que temporariamente, para o consumo e a
utilização normal ou para sobrevivência das espécies;
XIII - adotar medidas para controlar ou impedir a poluição de qualquer tipo;
XIV - zelar pela boa qualidade dos alimentos;
XV - estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a utilização de fontes energéticas
renováveis e não-poluentes e tecnologias poupadoras de energia, assegurando a todas as
pessoas, nos meios rural e urbano o direito de utilizá-los;
XVI - tomar medidas que assegurem a diversidade e a integridade genética do Mu-
nicípio e na região em que este se insere;
XVII - a tutela sobre animais domésticos, assegurando-lhes existência e coibindo
toda e qualquer prática que implique em crueldade inclusive exigindo a adoção de equipa-
mentos e procedimentos adequados para os animais de tração e de métodos de insensibili-
zação em animais de abate;
XVIII - proibir a realização de eventos que impliquem no consumo de animais captu-
rados em seus ambientes nativos;
XIX - proteger os monumentos e os sítios paleontológicos e paleocológicos;
XX - promover a educação ambiental, formal e informal em todos os níveis existen-
tes na rede de ensino ministrando-a através de disciplinas, dos meios de comunicação soci-
al e de outros recursos;
536 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
XXI - divulgar mensalmente, através dos meios de comunicação social, informações
obtidas pela monitoragem do meio ambiente e da qualidade da água distribuída à popula-
ção, a serem fornecidas pelos órgãos governamentais e pelas empresas concessionárias ou
permissionárias ou ainda produzidas pela própria municipalidade, ficando assegurado a to-
dos os interessados acesso a tais informações;
XXII - criar conselho Municipal do Meio Ambiente, de composição paritária, do qual
participarão os Poderes Executivo e legislativo, a comunidade científica e as organizações
não-governamentais, na forma da lei;
XXIII - o Município reservará obrigatoriamente espaço destinado exclusivamente a
despejo do lixo hospitalar não permitindo em hipótese nenhuma o despejo a menos de 500
(quinhentos) metros do lixo doméstico.
§ 1º - Fica excluído da proibição constante no inciso XII deste artigo, o lançamento
de resíduos em áreas especialmente reservadas para este fim, denominadas águas de la-
goas de estabilização.
§ 2º - Incumbe ao Governo Municipal direta ou indiretamente, providenciar a restau-
ração dos ecossistemas vegetais nativos destruídos, de forma a atingir pelo menos o míni-
mo da cobertura exigido
pela legislação vigente, de acordo com solução técnica apresentada pelos órgãos governa-
mentais competentes.
§ 3º - Ficam proibidas obras de drenagem e retificação ou aterros parciais ou totais,
de todos os ecossistemas aquático situados inteiramente nos limites do Município, ainda
que integralmente localizados no interior de propriedade particular, incumbindo ao Governo
Municipal alinhar suas margens e orlas, bem como definir suas respectivas faixas, marginais
de proteção, na forma da lei, até que o órgão governamental competente do Estado tome
tais providências.
§ 4º - Todo e qualquer padrão ambiental adotado pelo Governo Municipal deverá
ser igual ou mais restritivo que os padrões adotados pelo Governo do Estado.
§ 5º - As unidades de preservação ambientais serão criadas por lei ordinária ou de-
creto, este ratificado por lei, e somente alteradas e suprimidas através de lei, vedada qual-
quer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem a sua proteção.
Art. 277 - Na ausência de ação dos Governos Federal e Estadual cumpre ao Governo Muni-
cipal efetuar a transferência das populações e dos estabelecimentos indevidamente instala-
dos em caráter permanente, em áreas destinadas por lei à proteção ambiental inteiramente
situadas nos limites do Município, observados os seguintes princípios:
I - recurso à ação administrativa e judicial para retirada de invasores comprovada-
mente detentores de bens que tornem desnecessários o uso das áreas invadidas;
II - implantação de programas econômicos sociais que permitam a transferência
das populações de baixa renda, sem qualquer ônus para elas, para áreas seguradas e lega-
lizadas;
III - implantação de programas que reduzam ao mínimo os impactos ambientais
causados pela transferência que proporcionou às populações transferidas a possibilidade de
melhor qualidade de vida.
Art.178 - Todo e qualquer projeto, obra e atividade que possa causar direta ou indiretamen-
te, efetiva ou potencialmente, danos ao meio ambiente, só terá sua instalação e operação
aprovadas e autorizadas pela Prefeitura mediante apresentação de licença do órgão compe-
tente da União ou do Estado, exigindo-se caso necessário, relatório de impacto ambiental e
sua apresentação em audiência pública na forma da lei.
§ 1º - É dever inadiável da Prefeitura embargar todo e qualquer projeto, obras ou a-
tividades, que instalando-se operando clandestinamente, cause direta ou indiretamente,
potencial ou efetivamente, danos ao meio ambiente e contrarie a legislação em vigor ainda
que conte com a aprovação e a autorização dos órgãos governamentais competentes.
§ 2º - Para defender o meio ambiente no Município e a qualidade de vida de seus
habitantes, o Governo Municipal deverá sempre que necessário, recorrer a todos os meios
cabíveis, administrativos e judiciais.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 537
Art. 279 - Os servidores públicos que tiverem conhecimento de infrações persistentes e in-
tencionais que comprovadamente agridam o meio ambiente deverão imediatamente comu-
nicar o fato ao Gabinete do Prefeito que tomará as providências cabíveis.
Art. 280 - Após o prazo de 90 (noventa) dias da criação do conselho Municipal de Meio Am-
biente as ações do Governo Municipal concernentes a esta matéria serão norteadas por
política específica na forma da lei.
Art. 281 - O Poder Executivo poderá, através de convênio com qualquer órgão, efetuar ou
fiscalizar a limpeza e conservação de rios e canais dentro do Município.
Art. 282 - Fica criado o Fundo Municipal de Conservação Ambiental, destinado à implemen-
tação de projetos de recuperação e proteção ambientar, vedada a sua utilização para o par-
lamento de pessoal da administração direta e indireta, bem como para o custeio de ativida-
des especificas de política administrativa.
§ 1º - Lei complementar regulamentará as fontes de recursos do fundo, bem como
a sua aplicação e designação de pessoal para executar os trabalhos.
Art. 283 - Fica o Poder Público obrigado a efetuar os despejos de lixos ou detritos em áreas
a serem determinadas pelos órgãos competentes conforme dispuser a lei no prazo de 120
(cento e vinte) dias.
Art. 284 - Toda e qualquer indústria instalada ou que vier a se instalar no Município deverá
obedecer aos padrões ambientais adotados pelo Município e pelo Governo Estadual e Fede-
ral.
Parágrafo único - O não cumprimento do disposto neste artigo implicará na não concessão
do respectivo alvará de funcionamento além do pagamento de muita a ser estabelecida em
lei, que terá obrigatoriamente caráter progressivo.
Art. 285 - Todo aquele que explorar recursos minerais ou de forma comprovada agredir o
meio ambiente, fica obrigado a recuperar o estrago causado, de acordo com a solução téc-
nica exigida pelo Poder Público na forma da lei.
§ 1º - As condutas e atividades comprovadamente lesivas ao meio ambiente sujei-
tarão os infratores a sanções administrativas, com a aplicação de multas diárias e progressi-
vas nos casos de continuidade da infração ou reincidência.
§ 2º - Aquele que utilizar recursos ambientais, fica obrigado, na forma da lei a reali-
zar programas de monitoragem a serem estabelecidos pelos órgãos competentes.
Art. 286 - Fica proibida a queima de canaviais nas propriedades localizadas ria periferia da
cidade bem como nas proximidades das sedes dos distritos.
Parágrafo único - O não cumprimento do disposto neste artigo implicara em multa a ser es-
tabelecida em lei.

6.3.2.7 São Fidélis


Lei Orgânica Municipal publicada em 05 de abril de 1990
CAPÍTULO VIII - Do Meio Ambiente
Art. 241 – Todos os cidadãos têm direito ao meio ambiente ecologicamente saudável e equi-
librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público Municipal e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§1º - Para assegurar a efetividade desse direito o Município deverá articular-se com
os órgãos estaduais, regionais e federais competentes, quando for o caso, com outros mu-
nicípios objetivando a solução de problemas comuns relativos à proteção ambiental incum-
bindo ao Poder Público Municipal:
I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscali-
zar as entidades dedicadas à pesquisa e manutenção de material genético;

538 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


III – definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegi-
dos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer
utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambien-
tal, a que se dará ampla publicidade;
V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco de vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscienti-
zação pública para a preservação do meio ambiente;
VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem
em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais
à crueldade.
Art. 242 – O Município deverá atuar mediante planejamento, controle e fiscalização das ati-
vidades públicas ou privadas, causadoras ou potenciais de alterações significativas no meio
ambiente.
Art. 243 – O Município, ao promover a ordenação de seu território, definirá zoneamento e
diretrizes gerais de ocupação que assegurem a proteção dos recursos naturais, em conso-
nância com o disposto na legislação pertinente.
Art. 244 – A política urbana do Município e o seu plano diretor deverão contribuir para a pro-
teção do meio ambiente através de adoção de diretrizes adequadas de uso e ocupação do
solo urbano.
Art. 245 – Nas licenças de parcelamento, loteamento e localização o Município exigirá o
cumprimento da legislação de proteção ambiental emanada da União e do estado.
Art. 246 – As empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público deverão a-
tender rigorosamente ao dispositivo de proteção ambiental em vigor sob pena de não ser
renovada a concessão ou permissão pelo Município.
Art. 247 – Fica proibido dentro do Município:
I – a atividade de garimpo de ouro ou qualquer outro mineral, com utilização de
produtos químicos, nos leitos dos rios, riachos, lagos ou nascentes de águas no território
Municipal, bem como, o despejo de quaisquer produtos químicos poluentes, detritos, entu-
lhos e lixo, ficando os infratores condenados a multa, independentemente das ações penais
competentes;
II – colocação de resíduo nocivo à saúde humana e ao meio ambiente;
III – depósito e armazenamento de lixo atômico.
Art. 248 – As propriedades rurais situadas no território deste Município, pertencentes às
pessoas físicas ou jurídicas, que hajam possuído, ou não, sua superfície total ou parcial co-
berta por vegetação caracterizada como florestal, obrigam-se a promover o plantio de árvo-
res, nos seguintes percentuais das suas áreas:
a) propriedades que medem de 20 a 50 há, um mínimo de 2% (dois por cento);
b) propriedades que medem de 51 a 100 há, um mínimo de 4% (quatro por cento);
c) propriedades que medem acima de 100 há, um mínimo de 6% (seis por cento).
§1º - Excluem-se desta obrigação, aquelas propriedades rurais que na data da
promulgação desta Lei, estejam em situação que atendam aos percentuais mínimos trata-
dos este artigo, determinando-se contudo, que o desmatamento não poderá ser praticado.
§2º - As propriedades sujeitas ao reflorestamento disporão do prazo de 01 (um) ano
para iniciá-lo, a contar da data da promulgação desta Lei, findo o qual, não atendido o dis-
posto deste parágrafo, os infratores ficarão sujeitos às seguintes penalidades:
a) multa de 01 (uma) UFISF por hectare ou fração de todo da propriedade;
b) persistindo no descumprimento da presente Lei, a penalidade será aplicada ao
final de cada 06 (seis) meses a partir do primeiro auto de infração lavrado, em valores do-
brados.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 539


§3º - O Poder Municipal poderá celebrar convênios com órgão do Estado ou da U-
nião, visando ao fiel cumprimento desta Lei, e os instrumentos celebrados dependerão de
homologação legislativa para sua vigência.
Art. 249 – O Poder Público Municipal ficará obrigado a pelo menos uma vez por ano proce-
der ao exame de todas as águas de fontes naturais, normalmente utilizadas pela população,
interditando aquelas que forem consideradas impróprias para consumo.
Art. 250 – Ao Poder Público Municipal caberá, em defesa e preservação do meio ambiente,
a arborização de todos os logradouros públicos, principalmente as áreas pertencentes ao
domínio público, que ficam às margens do Rio Paraíba do Sul.
Art. 251 – Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público competente, na
forma da Lei.
Parágrafo Único – As consultas e atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infrato-
res, pessoas físicas ou jurídicas, às sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados.

6.3.2.8 São Francisco do Itabapoana


Lei Orgânica Municipal publicada em 30 de julho de 1999
CAPÍTULO VI - Do Meio Ambiente
Art. 233 - Para os efeitos desta Lei, entende-se meio ambiente como o conjunto organica-
mente articulado de ecossistemas nativos, transformados e antrópicos sobre o qual se as-
sentam as sociedades humanas, com ele interagindo de forma dinâmica sobretudo no que
concerne à troca de matéria e energia
Art. 234 - Todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, cabendo à sociedade, e em
especial ao governo, o dever de recuperá-lo e protegê-lo em benefício das presentes e futu-
ras gerações, que devem recebê-lo enriquecido.
Art. 235 - Incumbe ao Governo Municipal, respeitando as orientações dos Governos Federal
e Estadual ou colaborando com eles e com a participação da sociedade, através de seus
organismos representativos, proceder ao zoneamento do território do Município, distinguin-
do:
I - áreas destinadas à proteção de ecossistemas nativos, entendidos como tais toda
e qualquer formação paisagística geológica, aquática e vegetal constituída pela natureza,
que comporta restauração de sua fisionomia original;
II - áreas destinadas à proteção e à utilização de ecossistemas transformados,
entendendo-se como tais os ecossistemas nativos alterados por atividades humanas que
conservam traços de sua fisionomia original e que sirvam de suporte a qualquer tipo de ati-
vidade econômica;
III - áreas destinadas ao desenvolvimento de ecossistemas antrópicos, entendidos
como tais os ecossistemas agropecuários, urbanos e todos aqueles oriundos de uma deter-
minada atividade econômica e social.
Art. 236 - No que concerne às áreas destinadas à proteção de ecossistemas nativos, é de-
ver do Governo Municipal:
I - restaurar e preservar ou colaborar com os Governos Federal e Estadual na res-
tauração e na preservação de unidades de proteção ambiental e de reservas ecológicas,
assim consideradas pela legislação vigente, situadas total ou parcialmente nos limites do
Município;
II - inventariar, mapear e gravar todos os ecossistemas nativos, ou parcelas deles,
localizados no território do Município, vedando a sua redução e adulteração e promovendo,
direta, ou indiretamente, a sua restauração de acordo com solução técnica dos órgãos pú-
blicos competentes;

540 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


III - estimular e promover o florestamento e o reflorestamento ecológico em áreas
degradadas, visando especialmente à proteção de encostas e de margens de ecossistemas
aquáticos;
IV - criar estações ecológicas com finalidades de realizar pesquisa para o desen-
volvimento e conservação dos ecossistemas nativos, ficando proibido nesta área:
a) exploração de recursos naturais;
b) presença de rebanho de animais domésticos de propriedade particular;
c) porte e uso de armas de qualquer título;
d) porte e uso de instrumentos de corte de árvores;
e) porte e uso de redes de apreensão de animais e outros artefatos de captura;
f) exploração de recursos materiais, exceto para fins experimentais ou científicos
que não importem em prejuízo para manutenção da biota nativa.
V - criar unidades de preservação ambiental com a finalidade de proteger e permitir
a restauração de amostras de todos os ecossistemas, ou de seus remanescentes, existen-
tes no território do Município, providenciando com brevidade, a sua efetivação por meio de
indenização devida e manutenção de serviços públicos indispensáveis à sua integridade.
§ 1º - Os ecossistemas nativos, situados nos limites municipais, seja qual for a sua
dimensão, o seu estado de conservação, o seu estágio de desenvolvimento e a figura jurídi-
ca que os protege, não serão considerados recursos, ficando vedada, pois a sua exploração
para fins econômicos, salvo no que diz respeito a atividades comprovadamente compatíveis
com a preservação dos ecossistemas, segundo parecer técnico dos órgãos públicos compe-
tentes.
§ 2º - Incumbe ao Governo Municipal, direta ou indiretamente, providenciar a res-
tauração dos ecossistemas vegetais nativos destruídos, de forma a atingir pelos menos, o
mínimo de cobertura exigido pela legislação vigente, de acordo com a solução técnica apre-
sentada pelos órgãos governamentais competentes, ouvida a sociedade através de seus
organismos representativos.
§ 3º - O inventário e o mapeamento dos ecossistemas de que trata o inciso II deste
artigo, poderão ser efetuados pelo Governo Municipal com o concurso dos Governos Fede-
ral e Estadual e vice-versa, contando com a participação da sociedade através de seus or-
ganismos representativos.
Art. 237 - No que concerne às áreas destinadas à proteção e à utilização de ecossistemas
transformados, é dever do Governo Municipal:
I - tomar medidas que permitam a compatibilização de atividades econômicas e pro-
teção do meio ambiente, estimulando, principalmente, o desenvolvimento de técnicas e tec-
nologia apropriadas à utilização auto-sustentada, múltipla, integrada e ótima dos ecossiste-
mas, especialmente com relação aos ecossistemas aquáticos existentes nos limites do terri-
tório Municipal;
II - criar unidades de conservação ambiental que permitam o aproveitamento racio-
nal dos ecossistemas.
§ 1º - Ficam proibidas obras de drenagem e retificação ou aterros, parciais ou totais
de todos os ecossistemas aquáticos situados inteiramente em limites do Município, ainda
que integralmente localizados no interior de propriedade particular, incumbindo ao Governo
Municipal alinhar suas margens e orlas, bem como definir suas respectivas faixas marginais
de proteção na forma da lei, até que o órgão governamental competente do Estado tome
tais providências.
§ 2º - Incumbe ao Governo Municipal desobstruir os leitos e margens de cursos
d’água e de lagoas inteiramente situados no território do Município e ocupados por assen-
tamentos humanos e atividades econômicas, em conformidade com a legislação em vigor,
buscando alternativas para a população de baixa renda.
Art. 238 - As unidades de preservação e de conservação ambiental serão criadas por Lei
Ordinária, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justi-
fiquem a sua proteção.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 541


Parágrafo Único - Na ausência de ação dos Governos Federal e Estadual, cumpre ao Go-
verno Municipal efetuar a transferência das populações e dos estabelecimentos indevida-
mente instalados em caráter permanente, em áreas destinadas por lei à proteção ambiental,
inteiramente situadas nos limites do Município, observados os seguintes princípios:
I - recurso à ação administrativa e judicial para retirada de invasores comprovada-
mente detentores de bens que tornem necessário o uso das áreas invadidas;
II - implantação de programas econômico-sociais que permitam a transferência das
populações de baixa renda, sem qualquer ônus para elas, para áreas seguras e legalizadas;
III - implantação de programas que reduzam ao mínimo os impactos ambientais
causados pela transferência e proporcionem às populações transferidas melhor qualidade
de vida
Art. 239 - No que concerne às áreas destinadas ao desenvolvimento de ecossistemas an-
trópicos é dever do Governo Municipal:
I - proceder a um zoneamento rural urbano, de modo a definir às áreas reservadas
a atividades extrativistas, agrícolas, pecuárias, aqüícolas e ao assentamento e expansão
urbanas;
II - proceder a um zoneamento edafo-climático nas áreas rurais, de modo a definir a
aptidão intrínseca dos solos às diversas atividades extrativistas, agrícolas, pecuárias e agrí-
colas;
III - impor e exigir dos órgãos competentes a imposição de normas conservacionis-
tas a extração e a utilização dos recursos não-renováveis e renováveis, a fim de perenizá-
los as gerações presentes e futuras;
IV - disciplinar o uso de insumos e de implementos agropecuários e incrementar o
desenvolvimento de técnicas e tecnologia apropriadas, de forma a evitar a erosão e outros
danos ao solo, bem como, a proteger a saúde do trabalhador, a qualidade dos alimentos e a
sanidade do meio ambiente;
V - estimular e promover a arboricultura, de preferência com essências nativas au-
tóctones e diversificadas, em áreas ecologicamente adequadas, para o suprimento de ener-
gia e da demanda das matérias primas de origem vegetal;
VI - proceder ao zoneamento da sede do Município e das sedes dos Distritos, de
forma a definir zonas compatíveis com cada atividade econômica;
VII - elaborar e aplicar Plano Diretor e outros mecanismos que disciplinem o desen-
volvimento dos núcleos urbanos do Município de forma apropriada à realidade ambiental e
cultural;
VIII - elaborar e executar programas de arborização urbana compatíveis com as ca-
racterísticas ambientais e culturais do Município;
IX - assegurar o abastecimento público de água de boa qualidade para o maior nú-
mero de pessoas possíveis, diretamente ou por parte de empresa concessionária ou per-
missionária;
X - assegurar um serviço de coleta de esgoto que atenda a maior parte da popula-
ção, diretamente ou por parte de empresa concessionária ou permissionária;
XI - assegurar um sistema de coleta seletiva, de transporte, de disposição e de des-
tinação adequada do lixo domiciliar, hospitalar e industrial com o menor impacto ambiental
possível e buscando a reciclagem máxima dos rejeitos;
XII - impedir a coleta conjunta de águas pluviais e de esgotos domésticos ou
industrializados;
XIII - exigir que os lançamentos finais dos sistemas públicos e particulares de coleta
de esgotos sanitários sejam procedidos, no mínimo, por tratamento primário completo na
forma da lei;
XIV - adotar medidas para prevenir, controlar ou impedir a poluição de qualquer ti-
po;
XV - zelar pela boa qualidade dos alimentos;

542 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


XVI - estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a utilização de fontes energéticas
renováveis e não poluentes e tecnologia poupadoras de energia, assegurando a todas as
pessoas, nos meios rural e urbano o direito de utilizá-las.
§ 1º - Todo e qualquer padrão ambiental adotado pelo Governo Municipal deverá
ser igual ou mais restritivo que os padrões adotados pelo Governo do Estado.
§ 2º - O Governo Municipal fica autorizado a exercer os serviços públicos direta-
mente ou a transferi-los, mediante instrumento legal, para empresas concessionárias ou
permissionárias, públicas ou privadas, desde que atendam aos interesses da coletividade
Art. 240 - Todo e qualquer projeto, obra e atividade que possam causar, direta ou indireta-
mente, efetiva ou potencialmente, danos ao meio ambiente, em áreas destinadas à proteção
de ecossistemas nativos, transformados e antrópicos só terão sua instalação e operação
aprovadas e autorizadas pela Prefeitura mediante apresentação de licença do órgão compe-
tente da União ou do Estado, exigindo-se, caso necessário relatório de impacto ambiental e
sua apresentação em audiência pública na forma da lei.
§ 1º - É dever imprescindível da Prefeitura embargar todo e qualquer projeto, obra e
atividade que seja, direta ou indiretamente, potencial ou efetivamente causador de danos ao
meio ambiente, que esteja instalado ou operando clandestinamente ou cuja instalação e
operação não tenham a aprovação e autorização dos órgãos governamentais competentes,
ou arrepio da legislação em vigor.
§ 2º - Para defender o meio ambiente no Município e a qualidade de vida de seus
habitantes, o Governo Municipal deverá, sempre que necessário, recorrer a todos os meios
cabíveis, administrativos e judiciais.
§ 3º - Para a tomada de decisões relativas ao meio ambiente que suscitem ampla
discussão pública, o Governo Municipal deverá convocar plebiscito e acatar o seu resultado.
Art. 241 - No que concerne à flora e à fauna, compete ao Governo Municipal:
I - tomar medidas que assegurem a diversidade e a integridade genética no Municí-
pio e na região em que este se insere;
II - coibir práticas que ameacem as espécies vegetais e animais notadamente as
consideradas em perigo de extinção, vulneráveis e raras;
III - a tutela sobre a fauna silvestre autóctone e alóctone, proibindo sua caça, captu-
ra e práticas que submetam animais à crueldade;
IV - a tutela sobre animais domésticos, assegurando-lhes existência digna e coibin-
do toda e qualquer prática que implique em crueldade, inclusive exigindo a adoção de
equipamentos e procedimentos adequados para os animais de tração e de métodos de in-
sensibilização para animais de abate;
V - proibir a realização de eventos que impliquem no consumo de animais captura-
dos em seus ambientes nativos;
Art. 242 - É dever do Governo Municipal e do cidadão proteger os monumentos e os sítios
paleontológicos e paleoecológicos.
I - deve o Governo Municipal promover a educação ambiental formal e informal em
todos os níveis existentes na sua rede de ensino, ministrando-a através de disciplina especí-
fica e das outras disciplinas, dos meios de comunicação social e de outros recursos;
II - fica o Governo Municipal obrigado a divulgar mensalmente, através dos meios
de comunicação social, informações obtidas pela monitoração do meio ambiente e da quali-
dade da água distribuída à população, a serem fornecidas pelos órgãos governamentais
competentes e pelas empresas concessionárias ou permissionárias ou ainda produzidas
pela própria municipalidade, assim como fica assegurado a todos os interessados o acesso
a tais informações.
Art. 243 - Fica criado um Fundo Municipal para subvencionar estudos e elaborar projetos e
programas de proteção ao meio ambiente, com recursos provenientes, entre outros, das
seguintes fontes:
I - 10% (dez por cento) da compensação financeira a que se refere o § 1º do artigo
20 da Constituição Federal;

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 543


II - o produto das multas administrativas e de condenações judiciais por atos lesivos
ao meio ambiente;
III - dotações e créditos adicionais que lhe forem atribuídos;
IV - empréstimos, repasses, doações, subvenções, auxílios, contribuições, legados
ou quaisquer transferências de recursos;
V - rendimentos provenientes de suas operações ou aplicações financeiras.
§ 1º - A administração do Fundo de que trata este artigo caberá a um Conselho
com participação necessária do Ministério Público, de representantes da comunidade, na
forma a ser estabelecida em lei.
§ 2º - Fica vedada a utilização de seus recursos para pagamento de pessoal da
administração pública direta e indireta ou de despesas de custeio diversas de sua finalidade.
Art. 244 - As ações do Governo Municipal, no que tange ao meio ambiente, serão norteadas
por política específica inspirada na Agenda 21 e instituída por lei a entrar em vigor no prazo
máximo de 90 (noventa) dias da promulgação desta Lei.
I - a política municipal de meio ambiente e as ações dela decorrentes serão execu-
tadas por órgão específico da Administração Municipal assistido por um conselho próprio;
II - os servidores públicos encarregados da execução da Política Municipal de Meio
Ambiente que tiverem conhecimento de infrações persistentes, intencionais ou por omissão
dos padrões e normas ambientais, deverão, imediatamente, comunicar o fato ao Ministério
Público, indicando os elementos de convicção, sob pena de responsabilidade administrativa,
na forma da lei;
Parágrafo Único- A poluição do ar será punida nos mesmos moldes para os transgressores
deste artigo.
Art. 245 - Os dispositivos gerais não auto-aplicáveis deste Capítulo serão regulamentados
por Leis Complementares e Ordinárias pelos Poderes Públicos do Município no prazo de 90
(noventa) dias após a promulgação desta Lei

6.3.2.9 São João da Barra


Lei Orgânica Municipal publicada em de 05 de abril de 1990
Seção IV - Da Política do Meio Ambiente
Art. 199 – Para os efeitos desta Lei, entende-se meio ambiente como o conjunto organica-
mente articulado de ecossistemas nativos, transformados e antrópicos sobre o qual se as-
sentam as sociedades humanas, com ele interagindo de forma dinâmica sobretudo no que
concerne à troca de matéria e energia.
Art. 200 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente sadio e equilibrado, bem de
uso comum e essencial à qualidade de vida, cabendo à sociedade e, em especial ao gover-
no o dever de recuperá-lo e protegê-lo em benefício das presentes e futuras gerações, que
devem recebê-lo enriquecido.
Art. 201 – Incube ao Governo Municipal, respeitando as orientações dos Governos Federal e
Estadual ou colaborando com eles contra participação da sociedade, através de seus orga-
nismos representativos, proceder ao zoneamento do território do Município, distinguindo:
I – áreas destinadas à proteção de ecossistemas nativos, entendidosveomo tais to-
da e qualquer formação paisagística geológica, aquática e vegetal espontaneamente consti-
tuída pela natureza, intocada, virtualmente intocada ou que, apesar de degradada, compos-
ta restauração de sua fisionomia original;
II – áreas destinadas à proteção e à utilização de ecossistemas transformados, en-
tendendo-se como tais os ecossistemas nativos alterados por atividades humanas que con-
servam traços de sua fisionomia original e, que sirvam de suporte a qualquer tipo de ativida-
de econômica.
III – áreas destinadas ao desenvolvimento de ecossistemas antrópicos, entendidos
como tais os ecossistemas agropecuários, urbanos e todos aqueles oriundos de uma deter-
minada atividade econômica e social.

544 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Art. 202 – No que concerne às áreas destinadas à proteção de ecossistemas nativos, é de-
ver do Governo Municipal:
I – restaurar e preservar ou colaborar com os governos Federal e Estadual na res-
tauração e na preservação de unidades de proteção ambiente e de reservas ecológicas,
assim consideradas pela legislação vigente, situadas total ou parcialmente nos limites do
Município;
II – inventariar, mapear e gravar todos os ecossistemas nativos, ou parcelas deles,
localizados no território do Município, vedando a sua redução e adulteração e promovendo,
direta, ou indiretamente, a sua restauração de acordo com solução técnica dos órgãos pú-
blicos competentes;
III – estimular e promover o florestamento e o reflorestamento ecológicos em áreas
degradadas, visando especialmente à proteção de encostas e de margens de ecossistemas
aquáticos.
IV – criar unidades de preservação ambiental com a finalidade de proteger e permi-
tir a restauração de amostras de todos os ecossistemas, ou de seus remanescentes, exis-
tentes no território do município, providenciado com brevidade, a sua efetivação por meio de
indenização devida e manutenção de serviços públicos indispensáveis à sua integridade.
1º - Os ecossistemas nativos, situados nos limites municipais, seja qual for a sua dimensão,
o seu estado de conservação, o seu estágio de desenvolvimento e a figura jurídica que os
protege, não serão considerados recursos, ficando vedada, pois a sua exploração para fins
econômicos, salvo no que diz respeito a atividades comprovadamente compatíveis com a
preservação dos ecossistemas, segundo parecer técnico dos órgãos públicos competentes.
§ 2º - Incube ao governo municipal, direta ou indiretamente, providenciar a restau-
ração dos ecossistemas vegetais nativos destruídos, de forma a atingir pelo menos, o míni-
mo de cobertura exigida pela legislação vigente, de acordo com a solução técnica apresen-
tadas pelos órgãos governamentais competentes, ouvida a sociedade através de seus orga-
nismos representativos.
§ 3º - O inventário e o mapeamento dos ecossistemas de que trata o Inciso II deste
Artigo poderão ser efetuados pelo governo municipal com o concurso dos governos Federal
e Estadual e vice-versa contando com a participação da sociedade através de seus orga-
nismos representativos.
Art. 203 – No que concerne às áreas destinadas à proteção e à utilização de ecossistemas
transformados, é dever do governo municipal:
I – tomar medidas que permitam a compatibilização das atividades econômicas e
proteção do meio ambiente, estimulando, principalmente, o desenvolvimento de técnicas e
tecnologias apropriadas à utilização auto-sustentada, múltipla, integrada e ótima dos ecos-
sistemas especialmente com relação às coleções hídricas existentes nos limites do território
Municipal..
II – criar unidades de conservação ambiental que permitam o aproveitamento racio-
nal dos ecossistemas.
§ 1º - Ficam proibidas obras de drenagem e retificação ou aterros, parciais ou todos
os ecossistemas aquáticos situados inteiramente em limites do município, ainda que inte-
gralmente localizados no interior de propriedade particular, incumbindo ao governo munici-
pal alinhar suas margens e orlas, bem como definir suas respectivas faixas marginais de
proteção na forma da lei, até que o órgão governamental competente do Estado tome tais
providências.
§ 2º - Incumbe ao governo municipal desobstruir os leitos e margens de cursos
d’água e de lagoas inteiramente situados no território do município e ocupados por assen-
tamentos humanos e atividades econômicas, em conformidade com a legislação em vigor,
buscando alternativas para a população de baixa renda.
Art. 204 – As unidades de preservação e de conservação ambientais serão criadas por lei
ordinária, medida provisória ou decreto, este último ratificado por lei e somente alteradas e
suprimidas através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos
atributos que justifiquem a sua proteção.
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 545
Art. 205 – Na ausência de ação dos governos Federal e Estadual, cumpre ao governo muni-
cipal efetuar a transferência das populações e dos estabelecimentos indevidamente instala-
dos em caráter permanente, em áreas destinadas por lei a proteção ambiental, inteiramente
situadas nos limites do município, observados os seguintes princípios:
I – recurso à ação administrativa e judicial para retirada de invasores comprovada-
mente detentores de bens que tornem necessário o uso das áreas invadidas;
II – implantação de programa econômico-sociais que permitam transferência das
populações de baixa renda, sem qualquer ônus para elas para áreas seguras e legalizadas;
III – implantação de programas que reduzam ao mínimo os impactos ambientais
causados pela transferência e proporcionem as populações transferidas melhor qualidade
de vida.
Art. 206 – No que concerne às áreas destinadas ao desenvolvimento de ecossistemas an-
trópicos, é dever do governo municipal:
I – proceder a um zoneamento rural-urbano, de modo a definir as áreas reservadas
a atividades extrativistas, agrícolas, pecuárias, equívocas e ao assentamento e expansão
urbanos;
II – proceder a um zoneamento edafo-climático nas áreas rurais, de modo a definir
a aptidão intrínseca dos solos às diversas atividades extrativistas, agrícolas, pecuárias e
aquícolas;
III – impor e exigir dos órgãos competentes a imposição de normas conservacionis-
tas à extração e à utilização dos recursos não renováveis e renováveis, a fim de perenizá-
los às gerações presentes e futuras;
IV – disciplinar o uso de insumos e de implementos agropecuários e incrementar o
desenvolvimento de técnicas e tecnologia apropriadas de forma a evitar a erosão e outros
danos ao solo, bem como a proteger a saúde do trabalhador, a qualidade dos alimentos e a
sanidade do meio ambiente;
V – estimular e promover a arboricultura, de preferência com essência nativas au-
tóctones e diversificadas em áreas adequadas , para o suprimento de energia e de matérias
primas;
VI – proceder ao zoneamento da sede do município e das sedes dos Distritos, de
forma a definir zonas compatíveis com cada atividade econômica;
VII – elaborar e aplicar planos diretores e outros mecanismos que disciplinem o de-
senvolvimento dos núcleos urbanos do município de forma apropriada à realidade ambiental
e cultural;
VIII – elaborar e executar programas de arborização urbana compatíveis com as ca-
racterísticas ambientais e culturais do município;
IX – assegurar o abastecimento público de água de boa qualidade para o maior
número de pessoas possível, diretamente ou por parte de empresa concessionária ou per-
missionária;
X – assegurar um serviço de coleta de esgoto que atenda à maior parte da popula-
ção, diretamente ou parte de empresa concessionária ou permissionária;
XI – assegurar um sistema de coleta seletiva de transporte, de disposição e de des-
tinação adequada do lixo domiciliar, hospitalar, e industrial com o menor impacto ambiental
possível e buscando a reciclagem máxima dos rejeitos;
XII – impedir a coleta conjunta de águas pluviais e de esgotos domésticos ou indus-
trializados;
XIII –exigir que os lançamentos finais dos sistemas públicos e particulares de coleta
de esgoto sanitários sejam procedidos, no mínimo, por tratamento primário completo, na
forma da lei;
XIV – adotar medidas para prevenir, controlar ou impedir poluição de qualquer tipo;
XV – zelar pela boa qualidade dos alimentos;
XVI – estimular a pesquisa, o desenvolvimento e a utilização de fontes energéticas
renováveis e não poluentes e tecnologias poupadoras de energia, assegurando a todas as
pessoas, nos meios rural urbano, o direito de utilizá-las.
546 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
§ 1º - Todo e qualquer padrão ambiental adotado pelo governo municipal deverá
ser igual ou mais restritivo que os padrões adotados pelo governo do Estado.
§ 2º - O governo municipal fica autorizado a exercer os serviços públicos diretamen-
te ou a transferi-los, mediante instrumento local, para empresas concessionárias ou permis-
sionárias, públicas ou provadas, desde que atendam aos interesses da coletividade.
Art. 207 – Todo e qualquer projeto, obra e atividade que possa causar, direta ou indireta-
mente, efetiva ou potencialmente, danos a meio ambiente, em áreas destinadas à proteção
de ecossistemas nativos, transformados e antrópicos só terão sua instalação e operação
aprovadas e autorizadas pela Prefeitura mediante apresentação de licença do órgão compe-
tente da União ou do Estado, exigindo-se, necessário relatório de impacto ambiental e sua
apresentação em audiência pública na forma da lei.
§ 1º - É dever indispensável da Prefeitura embargar todo qualquer projeto, obra e
atividade que seja, direta ou indiretamente potencial ou efetivamente causador de danos ao
meio ambiente, que esteja instalado ou operando clandestinamente ou cuja instalação ope-
ração contem com a aprovação e autorização dos órgãos governamentais competentes, ou
arrepio da legislação em vigor.
§ 2º - Para defender o meio ambiente no município e a qualidade de vida de seus
habitantes, o governo municipal deverá, sempre que necessário, recorrer a todos os meios
cabíveis, administrativos e judiciais.
§ 3º - Para a tomada de decisões relativas ao meio ambiente que suscitem ampla
discussão pública, o governo municipal deverá convocar plebiscito e acatar o seu resultado.
Art. 208 – No que concerne à fauna, compete ao governo municipal:
I – tomar medidas que assegurem a diversidade e a integridade genética no muni-
cípio e na região em que este se insere;
II – coibir práticas que ameacem as espécies vegetais e animais, notadamente as
consideradas em perigo de extinção, vulneráveis e raras;
III – a tutela sobre a fauna silvestre autóctone, proibindo sua caça, captura e práti-
cas que submetam animais à crueldade;
IV – a tutela sobre animais domésticos, assegurando-lhes existência digna e coi-
bindo toda e qualquer prática em crueldade, inclusive exigindo a adoção de equipamentos e
procedimentos adequados para os animais de tração e de métodos de insensibilização para
animais de abate;
V – coibir, mediante instrumentos legais, a pesca predatória;
VI – proibir a realização de eventos que impliquem no consumo de animais captu-
rados em seus ambientes nativos.
Art. 209 – É dever do governo Municipal e do cidadão proteger os monumentos e os
sítios paleontológicos e paleoecológicos.
Art. 210 – Deve o governo municipal promover a educação ambiental formal e informal em
todos os níveis existentes na sua rede do ensino, ministrando-a através de disciplina especí-
fica e das outras disciplinas dos meios de comunicação social e de outros recursos.
Art. 211 – Fica o governo municipal obrigado a divulgar mensalmente, através dos mios de
comunicação social, informações obtidas pela monitoragem do meio ambiente e da qualida-
de da água despoluída à população, a serem fornecidas pelos órgãos governamentais com-
petentes e pelas empresas concessionárias ou permissionárias ou ainda produzidas pela
própria municipalidade, assim como fica assegurada a todos os interessados o acesso a tais
informações.
Art. 212 – Fica criado um fundo municipal para subvencionar estudos e elaborar projetos e
programas de proteção ao meio ambiente com recursos provenientes, entre outras das se-
guintes fontes:
I – 10% da compensação financeira a que se refere o § 1º do artigo 20 da Constitu-
ição da República;
II – o produto das multas administrativas e de concessões judiciais por atos lesivos
ao meio ambiente;
III – dotações e créditos adicionais que lhe forem atribuídos;
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 547
IV – empréstimos, reparos, doações, subvenções, auxílios contribuições, legados
ou quaisquer transferências de recursos;
V – rendimentos provenientes de suas operações ou aplicações financeiras;
§ 1º - A administração do fundo de que trata este artigo caberá a um conselho com
participação necessária de representantes da comunidade, na forma a ser estabelecida em
lei;
§ 2º - Fica vedada a utilização de seus recursos para pagamento de pessoal da
administração direta ou indireta ou de despesas diversas de sua finalidade.
Art. 213 – As ações do governo municipal, no que tange ao meio ambiente, serão norteadas
por política específica instituída por lei a entrarem em vigor no prazo máximo de 90 dias da
promulgação desta Lei.
Art. 214 – A política municipal de meio ambiente e as ações decorrentes serão executadas
por órgão específico da administração municipal assistido por um conselho próprio.
Art. 215 – Os servidores públicos encarregados da execução política municipal de meio am-
biente que tiverem conhecimento de infrações persistentes, intencionais ou por omissão dos
padrões e noormas ambientais, deverão, imediatamente, comunicar o fato ao Ministério Pú-
blico, indicando os elementos de convicção, sob pena de responsabilidade administrativa,
na forma da lei.
Art. 216 – Nenhuma empresa exploradora do solo ou subsolo que opere com material Radi-
ativo e poluente, tais como, Usina de Mineração, Fábricas, Usinas de Açúcar, sem o devido
sistema de controle ambiental aprovado pela FEEMA ou outro órgão competente, poderá
operar ficando ainda, impedidas todas estas empresas de contraírem de outros Estados e
Municípios, materiais contendo Radioatividade como rejeito Mineral de Tório, urânio, zinco-
nita, irumenita e rutlo. Tudo aquilo que venha a colocar em risco a saúde da população e
que venha a depredar o meio ambiente como: Poluição Sonora, Mau Cheiro, Poluição dos
Rios, Lagos e Canais, falta de higiene em Matadouros, Hospitais, tudo aquilo que for nocivo
à saúde da população e venha oferecer riscos ao Meio Ambiente, ficará sob a tutela do Po-
der harmônico da Municipalidade para corrigir ou punir os infratores.
Art. 217 – As dragagens ou construções de canais realizadas em propriedades rurais, de-
penderá de licença prévia dos órgãos competentes.
Art. 218 – O Poder Executivo fará num prazo máximo de 2 (dois) anos arborização em todas
as estradas municipais, num distanciamento máximo entre árvores de 300 metros. No mes-
mo prazo o município providenciará para que sejam arborizados todos os distritos e a sede
do município com distanciamento máximo entre árvores de 100 metros.
Art. 219 – O poder público promoverá fiscalização e instituirá medidas coibitórias ao despejo
nas águas de rios, lagoas, canais córregos de caldas ou vinhoto, bem como, de resíduos de
dejetos capazes de torná-las impróprias ainda que, temporariamente, para o consumo e a
utilização normais ou para sobrevivência das espécies.
Parágrafo Único – A poluição do ar será punida nos mesmos moldes para os transgressores
deste artigo.
Art. 220 – O município deverá atuar no sentido de assegurar a todos os cidadãos o direito
ao meio ambiente ecologicamente saudável e equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à qualidade de vida.
Parágrafo Único – Para assegurar efetividade a esse direito, o município deverá articular-se
com os órgãos estaduais, regionais e federais competentes e ainda, quando for o caso, com
outros municípios objetivando a solução de problemas comuns relativos à proteção ambien-
tal.
Art. 221 – O Município deverá atuar mediante planejamento, controle e fiscalização das ati-
vidades, públicas ou privadas, causadoras, efetivas ou potenciais de alterações significati-
vas no meio ambiente.
Art. 222 – O município, ao promover a ordenação de seu território definirá zoneamento e
diretrizes gerais de ocupação que assegurem a proteção dos recursos naturais, em conso-
nância com o disposto da legislação estadual pertinente.

548 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Art. 223 – A política Urbana Municipal e o seu plano diretor deverão contribuir para a prote-
ção do meio ambiente através da adoção de diretrizes adequadas de uso e ocupação do
solo urbano.
Art. 224 – Nas licenças de parcelamento, loteamento e localização do município exigirá o
cumprimento da legislação de proteção ambiental emanada da União e do Estado.
Art. 225 – As empresas concessionárias ou permissionárias de serviços públicos deverão
atender rigorosamente aos dispositivos de proteção ambiental em vigor, sob pena de não
ser renovada a concessão ou permissão pelo município.
Art. 226 – O Município assegurará a participação das entidades representativas da comuni-
dade no planejamento e fiscalização e proteção ambiental, garantindo o amplo acesso dos
interessados às formações sobre as fontes de poluição e degradação ambiental ao seu dis-
por.

6.4 Convênios para o Licenciamento Municipal

Quanto ao licenciamento ambiental, a solicitação de licenças, autorizações, certificados e


demais documentos devem ser entregues à Central de Atendimento do INEA ou à Superin-
tendência Regional correspondente ao município onde se situa o empreendimento/atividade
a ser licenciado.

O licenciamento ambiental de empreendimentos/atividades de pequeno e médio potencial


poluidor, localizados em municípios que firmaram convênio com o Governo do Esta-
do/Sea/extinta Feema, Inea para a descentralização do licenciamento, está sendo feito pe-
las Secretarias Municipais de Meio Ambiente, de acordo com o Decreto 42.050/09 (em ane-
xo). São considerados de impacto local os empreendimentos e atividades que não ultrapas-
sam os limites territoriais do município.

Os empreendimentos/atividades que não são considerados de impacto local são licenciados


pelo Inea. Neste caso, enquadram-se os empreendimentos/atividades potencialmente cau-
sadores de significativa degradação ao meio ambiente, que necessitem de EIA/Rima, aque-
les localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação natural de
preservação permanente, aqueles cujo impacto alcança mais de um município e aqueles
relacionados no Decreto 42.050/09 (em anexo).

A Política de Descentralização do Licenciamento Ambiental tem a finalidade de fortalecer o


Sistema Estadual de Meio Ambiente e, em consequência, o Sistema Nacional de Meio Am-
biente. Objetiva promover a estruturação e qualificar os municípios para realizar o licencia-
mento e a fiscalização ambientais das atividades de impacto local. Através da celebração de
convênio entre o Governo do Estado e os municípios, são definidas as atividades que cada
município, especificamente, tem capacidade técnica instalada para licenciar.

O município estará habilitado a assinar o Convênio, segundo o decreto 42.050/09, desde


que:
• Possua corpo técnico especializado, integrante do quadro funcional próprio, para a
realização da fiscalização e do licenciamento ambiental;
• Tenha implantado e em funcionamento Conselho Municipal de Meio Ambiente, instân-
cia normativa, colegiada, consultiva e deliberativa de gestão ambiental, com represen-
tação da sociedade civil organizada;
• Possua legislação própria disciplinando o licenciamento ambiental municipal e as san-
ções administrativas pelo seu descumprimento;
• Possua Plano Diretor, se possuir população superior a 20.000 (vinte mil) habitantes;

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 549


• Possua Lei de Diretrizes Urbanas, se a população for igual ou inferior a 20.000 (vinte
mil) habitantes;
• Tenha implantado o Fundo Municipal de Meio Ambiente.
Considerando os municípios integrantes das Regiões Norte e Noroeste Fluminense, atual-
mente, somente o município de Macaé possui convênio para proceder ao licenciamento am-
biental. Este número reduzido de municípios com convenio com o INEA para licenciamento
ambiental pode estar relacionado ao pouco tempo em que o decreto 42.050/09 foi assinado,
25 de setembro de 2009.

No município de Macaé o licenciamento de empreendimentos/atividades com impacto ambi-


ental local e de pequeno potencial poluidor como condomínios habitacionais até 350 unida-
des, cemitérios, coleta e tratamento de esgoto sanitário, estabilização de encostas, postos
de abastecimento, atividades industriais de pequeno porte, atividades comerciais, entre ou-
tras, é realizado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

O licenciamento das atividades e empreendimentos de maior porte é realizado pelo INEA ou


pelo IBAMA.

Quanto à inclusão de novos municípios no convênio para a descentralização do licencia-


mento ambiental, segundo informações fornecidas pelo INEA atualmente não existe nenhum
município em processo de habilitação.

Foi informado também que foi aberta uma chamada para os municípios se inscreverem e
estes receberam cursos de capacitação das equipes técnicas municipais visando formar os
quadros dedicados ao licenciamento ambiental e à fiscalização.

Os municípios interessados na época e que se enquadraram no perfil mínimo regulamenta-


do pelo INEA para tal processo, já assinaram o convenio e até recentemente não há proces-
sos de inclusão de novos municípios.

6.5 Os Estados Limítrofes

Os Estados que fazem divisa com a região em estudo, Minas Gerais e Espírito Santo, pos-
suem estruturas ambientais e legislações distintas, porém, com algumas similaridades em
relação ao Estado do Rio de Janeiro.

Cabe ressaltar que os estados não possuem convênios de caráter ambiental formalizados
em entre si, salvo a participação de Minas Gerais no Comitê Gestor da Bacia do Rio Paraíba
do Sul, uma vez que parte de sua área se encontra em território mineiro.

À seguir são apresentadas as estruturas e governança ambiental destes estados.

6.5.1 Estrutura Ambiental do Estado de Minas Gerais

6.5.1.1 SISEMA

O Sistema Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) é formado pela Secre-
taria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), pelos conselhos
estaduais de Política Ambiental (Copam) e de Recursos Hídricos (CERH) e pelos órgãos
vinculados: Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), responsável pela qualidade am-
550 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
biental no Estado, no que corresponde à Agenda Marrom, Instituto Estadual de Florestas
(IEF) responsável pela Agenda Verde e Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) que
responde pela Agenda Azul.

6.5.1.2 SEMAD

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) tem co-


mo missão formular e coordenar a política estadual de proteção e conservação do meio am-
biente e de gerenciamento dos recursos hídricos e articular as políticas de gestão dos recur-
sos ambientais, visando ao desenvolvimento sustentável no Estado de Minas Gerais.
Competências da SEMAD:
• planejar, propor e coordenar a gestão ambiental integrada no Estado, com vistas à ma-
nutenção dos ecossistemas e do desenvolvimento sustentável;
• consolidar, em conjunto com órgãos e entidades que atuam na área ambiental, normas
técnicas a serem por eles observadas, coordenando as ações pertinentes;
• promover a aplicação da legislação e das normas específicas de meio ambiente e re-
cursos naturais;
• coordenar e supervisionar as ações voltadas para a proteção ambiental;
• garantir a execução da política ambiental e de gestão de recursos hídricos do Estado;
• desenvolver atividades informativas e educativas, relacionadas aos problemas ambien-
tais;
• estabelecer a cooperação técnica, financeira e institucional com organismos internacio-
nais e estrangeiros, visando a proteção ambiental e ao desenvolvimento sustentável do
Estado.
6.5.1.3 COPAM

Criado em 1977, O Conselho de Política Ambiental - COPAM é um órgão normativo,


colegiado, consultivo e deliberativo, subordinado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável – SEMAD. Tem por finalidade deliberar sobre diretrizes, políti-
cas, normas regulamentares e técnicas, padrões e outras medidas de caráter operacional,
para preservação e conservação do meio ambiente e dos recursos ambientais, bem como
sobre a sua aplicação pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sus-
tentável, pelas entidades a ela vinculadas e pelos demais órgãos locais. São considerados
órgãos locais os órgãos ou as entidades do Poder Público Municipal cujas atividades este-
jam associadas às de proteção e controle do uso dos recursos ambientais.
O COPAM tem a seguinte estrutura:
I Presidência;
II - Plenário;
III - Câmara Normativa e Recursal;
IV - Câmaras Temáticas:
a) Câmara de Energia e Mudanças Climáticas;
b) Câmara de Indústria, Mineração e Infra-Estrutura;
c) Câmara de Atividades Agrossilvopastoris;
d) Câmara de Instrumentos de Gestão Ambiental; e
e) Câmara de Proteção à Biodiversidade e de Áreas Protegidas;
V - Secretaria Executiva;
VI - Unidades Regionais Colegiadas, em número máximo de quatorze, com sede e jurisdi-
ção estabelecidas no Anexo deste Decreto;
Sua estrutura, fundamentada em um sistema colegiado, consagrou a fórmula do gerencia-
mento participativo, inovando a forma de organização de conselhos governamentais e a
própria elaboração de políticas públicas. Exercendo o papel de órgão colegiado do sistema

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 551


ambiental estadual é responsável pela deliberação e normatização das políticas públicas
formalizadas pelo Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SISEMA (SE-
MAD, FEAM, IGAM e IEF) na área ambiental. O Copam está organizado em sete Câmaras
Especializadas, que têm competência para atuar na elaboração de normas, visando a prote-
ção e a preservação ambiental, na sua respectiva área de atuação.

O Plenário reúne-se, ordinariamente, a cada trimestre, em data, local e hora fixados com
antecedência de pelo menos 5(cinco) dias pela Secretaria Executiva. E, extraordinariamen-
te, por iniciativa do Presidente, da maioria de seus membros ou por solicitação de qualquer
Câmara Especializada, quando convocado pela Secretaria Executiva com antecedência de
no mínimo 2 (dois) dias.

6.5.1.4 CERH

O Conselho Estadual de Recursos Hídricos, CERH – MG, foi criado pelo Decreto. nº
26.961 de 28/04/87 a partir da necessidade da integração dos órgãos públicos, do setor
produtivo da sociedade civil organizada, visando assegurar o controle da água e sua utiliza-
ção em quantidade e qualidade.

Objetivo:

Promover o aperfeiçoamento dos mecanismos de planejamento, compatibilização, avaliação


e controle dos Recursos Hídricos do Estado, tendo em vista os requisitos de volume e quali-
dade necessários aos seus múltiplos usos.

O CERH-MG é composto por:


• Representantes do poder público, de forma paritária entre o Estado e os municípios;
• Representantes dos usuários e de entidades da sociedade civil ligadas aos recursos
hídricos, de forma paritária com o poder público.
• Representantes do poder público, de forma paritária entre o Estado e os municípios;
• Representantes dos usuários e de entidades da sociedade civil ligadas aos recursos
hídricos, de forma paritária com o poder público.
• A presidência do CERH-MG será exercida pelo titular da Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, à qual está afeta a Política Estadual de Re-
cursos Hídricos.
• Conselho Estadual de Recursos Hídricos- CERH - MG - Criado p/ Decreto. Nº 26.961
de 28/04/87
Criado a partir da necessidade da integração dos órgãos públicos, do setor produtivo da
sociedade civil organizada, visando assegurar o controle da água e sua utilização em quan-
tidade e qualidade.

6.5.1.5 FEAM

A Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) tem por finalidade executar, no âmbito do
Estado de Minas Gerais, a política de proteção, conservação e melhoria da qualidade ambi-
ental no que concerne à prevenção, à correção da poluição ou da degradação ambiental
provocada pelas atividades industriais, minerárias e de infra-estrutura, bem como promover
e realizar estudos e pesquisas sobre a poluição e qualidade do ar, da água e do solo. É res-
ponsável pela Agenda Marrom.

552 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


6.5.1.6 IEF

O Instituto Estadual de Florestas (IEF) propõe e executa as políticas florestais, de pesca e


de aqüicultura sustentável. É autarquia vinculada à Secretaria de Estado de Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável, responsável pela preservação e a conservação da vegeta-
ção, pelo desenvolvimento sustentável dos recursos naturais renováveis; pela pesquisa em
biomassas e biodiversidade; pelo inventário florestal e o mapeamento da cobertura vegetal
do Estado. Administra as unidades de conservação estaduais, áreas de proteção ambiental
destinadas à conservação e preservação.

6.5.1.7 IGAM

O Instituto Mineiro de Gestão das Águas ( Igam ) é responsável pela concessão de direito
de uso dos recursos hídricos estaduais, pelo planejamento e administração de todas as a-
ções voltadas para a preservação da quantidade e da qualidade de águas em Minas Gerais.
Coordena, orienta e incentiva a criação dos comitês de bacias hidrográficas, entidades que,
de forma descentralizada, integrada e participativa, gerenciam o desenvolvimento sustentá-
vel da região onde atuam.

6.5.2 Licenciamento / Regularização Ambiental

Em Minas Gerais, as atribuições do licenciamento ambiental e da Autorização Ambiental de


Funcionamento (AAF) são exercidas pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Co-
pam), das Unidades Regionais Colegiadas (URCs), das Superintendências Regionais de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Suprams), que representa a Fundação Es-
tadual de Meio Ambiente (Feam), o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e o Institu-
to Estadual de Florestas (IEF).
Para a regularização ambiental, considera-se a classificação dos empreendimentos nos
termos da, conforme a seguir:
Classe 1 - pequeno porte e pequeno ou médio potencial poluidor;
Classe 2 - médio porte e pequeno potencial poluído;
Classe 3 - pequeno porte e grande potencial poluidor ou médio porte e médio potencial polu-
idor;
Classe 4 - grande porte e pequeno potencial poluidor;
Classe 5 - grande porte e médio potencial poluidor ou médio porte e grande potencial polui-
dor;
Classe 6 - grande porte e grande potencial poluidor.
Para os empreendimentos classes 1 e 2, considerados de impacto ambiental não significati-
vo, é obrigatória a obtenção da Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF).

Para as demais classes (3 a 6), o caminho para a regularização ambiental é o processo de


licenciamento, com o requerimento das licenças Prévia (LP), de Instalação (LI) e de Opera-
ção (LO).

A regularização ambiental de um empreendimento não termina, entretanto, com a obtenção


da Licença de Operação (LO) ou da AAF. O fato de ter obtido um ou outro desses diplomas
legais significa que o empreendimento atendeu a uma exigência legal, mas a manutenção
da regularidade ambiental pressupõe o cumprimento permanente de diversas exigências
legais e normativas, explícitas ou implícitas na licença ambiental ou na AAF.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 553


6.5.3 Outorga de Uso da Água

É o instrumento legal que assegura ao usuário o direito de utilizar os recursos hídricos. Atra-
vés da outorga, o IGAM executa a gestão quantitativa e qualitativa do uso da água, emitindo
autorização para captações e lançamentos, bem como para quaisquer intervenções nos
rios, ribeirões e córregos de Minas Gerais.

A outorga não dá ao usuário a propriedade de água ou sua alienação, mas o simples direito
de seu uso. Portanto, a outorga poderá ser suspensa, parcial ou totalmente, em casos ex-
tremos de escassez ou de não cumprimento pelo outorgado dos termos de outorga previstos
nas regulamentações, ou por necessidade premente de se atenderem os usos prioritários e
de interesse coletivo.

Em Minas Gerais, os usuários de recursos hídricos, de qualquer setor, devem solicitar ao


IGAM a outorga de águas de domínio do Estado. Para o uso de águas de rios de domínio da
União, a concessão deve ser solicitada à Agência Nacional de Águas (ANA).

São de domínio estadual as águas subterrâneas e as águas superficiais dos cursos de água
que escoam desde sua nascente até a foz passando apenas por um Estado. São de domí-
nio da União as águas dos rios e lagos que banham mais de um estado, fazem limite entre
estados ou entre o território do Brasil e o de um país vizinho.

Cadastro de Uso Insignificante

Algumas captações de águas superficiais e/ou subterrâneas, bem como acumulações de


águas superficiais, não estão sujeitas à outorga. Elas são consideradas de uso insignifican-
te.

A Deliberação Normativa 09/04 do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CE-


RH) estabelece critérios que definem os usos considerados insignificantes no Estado de
Minas Gerais, sendo necessário, nesse caso, fazer um cadastramento junto ao IGAM.

O procedimento inicial para o cadastro de uso insignificante são os mesmos para a solicita-
ção de outorga.

6.5.3.1 Modalidades de Outorga

• Captação ou derivação de água em um corpo de água;


• Exploração de água subterrânea;
• Construção de barramento ou açude;
• Construção de dique ou desvio em corpo de água;
• Construção de estruturas de lançamento de efluentes em corpo de água;
• Construção de estrutura de recreação nas margens;
• Construção de estrutura de transposição de nível;
• Construção de travessia rodo-ferroviária;
• Dragagem, desassoreamento e limpeza de corpo de água;
• Lançamento de efluentes em corpo de água ;
• Retificação, canalização ou obras de drenagem;
• Transposição de bacias;
554 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
• Aproveitamento de potencial hidroelétrico;
• Outras modificações do curso, leito ou margens dos corpos de água.
6.5.4 Estrutura Ambiental do Espírito Santo

6.5.4.1 SEAMA

A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEAMA é um órgão da


administração direta, gestora da política do Meio Ambiente. Foi criada em 1987 para orientar
as ações da sociedade para o uso sustentável dos recursos naturais e a melhoria da quali-
dade de vida. Tem como finalidade, gerenciar as políticas estaduais de Meio Ambiente e de
Recursos Hídricos, supervisionar e apoiar a elaboração de pesquisas, estudos científicos e
projetos que visem à elaboração e definição de padrões ambientais, supervisionar as ações
que visem promover a preservação e a melhoria da qualidade ambiental, promover a inte-
gração das atividades ligadas à defesa do Meio Ambiente e coordenar as ações do Conse-
lho Estadual de Meio Ambiente – CONSEMA -, dos Conselhos Regionais de Meio Ambiente
– CONREMAS - e do Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CERH.
6.5.4.2 CONSEMA E CONREMAS
O Conselho Estadual de Meio Ambiente - CONSEMA e os Conselhos regionais de Meio
Ambiente – CONREMAS, são órgãos colegiados constituídos paritariamente por represen-
tantes da Sociedade Civil que tenham representatividade na Comunidade, por representan-
tes do Setor Empreendedor, e por representantes da Administração Publica, tendo caráter
consultivo, deliberativo, normativo e recursal e com finalidade e competência prevista nos
termos da lei complementar nº 152 de 17 de junho de 1999.

6.5.4.3 CERH
O Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CERH, é um órgão colegiado central a nível de
deliberação superior do Sistema Integrado de Gerenciamento e Monitoramento dos Recur-
sos Hídricos, tendo funções deliberativas, normativas e recursais, sendo integrante da estru-
tura organizacional da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEA-
MA e auxiliar nas ações administrativas comandadas pela pasta.
O CERH foi instituído através do Decreto 038 -R, de 6 de abril de 2000, estando atualmente
regulamentado pelo Decreto 1.737, de 3 de outubro de 2006. O Regimento Interno, vigente,
foi criado através da Portaria nº 003-N, de 13 de dezembro de 2000 e alterado pela Resolu-
ção CERH 011/2006.

6.5.4.4 IEMA

O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos- IEMA, criado em 2002, é uma
entidade autárquica vinculada à SEAMA, com autonomia técnica, financeira e administrativa
e tem por finalidade planejar, coordenar, executar, fiscalizar e controlar as atividades de
meio ambiente, dos recursos hídricos estaduais e dos recursos naturais federais, cuja ges-
tão tenha sido delegada pela União.
Fazem parte do IEMA os seguintes setores:
• Gerência de Controle Ambiental - GCA
• Gerência de Fiscalização - GFI
• Gerência de Recursos Naturais - GRN
• Gerência de Educação Ambiental - GEA
• Gerência de Recursos Hídricos - GRH
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 555
Figura 2 - Macro Estrutura Ambiental no Estado do Espírito Santo

SEAMA Secretaria Estadual de


Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos Agricultura,
Abastecimento,
Aquicultura e Pesca

CONSEMA
Conselho
Estadual de
Meio Ambiente
Gerência de OUTORGA DE
Recursos Hidricos USO DA ÁGUA IDAF
Instituto de
CONREMAS Defesa
IEMA Gerência de Conselhos Agropecuária e
Instituto Estadual de Meio Controle Ambiental LICENCIAMENTO
Regionais de Florestal
Ambiente e Recursos Hídricos Meio Ambiente
Gerência de MONITORAMENTO
Fiscalização (AR, ÁGUA, SOLO)
CERH
Conselho
Gerência de UNIDADES DE SUPRESSÃO
Estadual de
Não Recursos Naturais CONSERVAÇÃO VEGETAL
Recursos
Potencial Poluidor Local? Hidricos
Gerência de EDUCAÇÃO
Educação Ambiental AMBIENTAL

Sim
Comitês de
Bacias
Hidrográficas
Sec. Mun. M.A.

Sec. Mun. M.A.


Sec. Mun. M.A.

Sec. Mun. M.A.

Sec. Mun. M.A.

Sec. Mun. M.A.

Sec. Mun. M.A.


CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM

MUNIZ FREIRE
GUARAPARI
SANTA TEREZA

ITAPEMIRIM
Sec. Mun. M.A.

Sec. Mun.. Meio Ambiente


COLATINA
ARACRUZ
VITÓRIA

SERRA

LICENCIAMENTO

6.5.5 Licenciamento Ambiental

Licenciamento Ambiental é o procedimento administrativo pelo qual o órgão competente


licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades
de pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado que utilizem recursos ambien-
tais e sejam consideradas efetivas ou potencialmente poluidoras ou, ainda, daquelas que,
sob qualquer forma ou intensidade, possam causar degradação ambiental, considerando as
disposições gerais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

Licença Ambiental
Ato administrativo pelo qual o órgão competente, estabelece as condições, restrições e me-
didas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, de forma a
prevenir os impactos ambientais. A Licença Ambiental pode ser Simplificada (LS), Prévia
(LP), de Instalação (LI), de Operação (LO), de Operação para Pesquisa (LOP) e, ainda, de
Regularização (LAR).
Compete ao órgão ambiental estadual o licenciamento ambiental dos empreendimentos e
atividades:
• Localizadas ou desenvolvidas em mais de um município ou em Unidades de Conser-
vação Estadual;
• Localizadas ou desenvolvidas nas florestas;
• Cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais
municípios;
• Delegados pela União aos Estados e ao Distrito Federal.
O licenciamento ambiental do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos -
IEMA está previsto em leis, decretos, resoluções e portarias federais e estaduais, e existe
556 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
para assegurar o desenvolvimento dessas atividades sem danos ao meio ambiente. Estão
sujeitas ao licenciamento ambiental os empreendimentos industriais, de pesquisa e extração
mineral, de tratamento e/ou disposição de resíduos, de armazenamento de substâncias pe-
rigosas, imobiliários, comerciais e de serviços, viários, agropecuários, agrícolas, de esgota-
mento sanitário e obras diversas. Tais atividades serão enquadradas de acordo com o porte
e potencial poluidor e/ou degradador.

As atividades florestais e a supressão vegetal têm seu licenciamento realizado pelo Instituto
de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo - IDAF. Já as atividades de pequeno
porte e baixo impacto ambiental podem ser licenciadas por municípios devidamente habilita-
dos.

6.5.5.1 Tipos de Licenças Ambientais

Licença Ambiental Simplificada (LS): ato administrativo pelo qual o órgão ambiental emite
uma única licença estabelecendo as condições, restrições e medidas de controle ambiental
que deverão ser obedecidas pelo empreendedor para localizar, instalar, ampliar e operar
empreendimentos ou atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas de baixo
impacto ambiental que se enquadrem nas Classes “S” e “I” em instruções normativas do
órgão competente.

O prazo de validade da Licença Simplificada (LS) será, no mínimo, de 4 (quatro) anos , não
podendo ultrapassar 06 (seis) anos, neste último caso, quando comprovada a implementa-
ção do programa de gestão ambiental voluntário e cuja eficiência tenha sido atestada pelo
órgão ambiental.

Vantagens:

• Licença única;

• Taxa de licenciamento reduzida;

• FINDES, SEBRAE e Assembléia Legislativa.

Licença Prévia (LP): Deve ser solicitada na fase inicial do projeto e determina a viabilidade
ambiental e a localização do empreendimento. Especifica as condições básicas a serem
atendidas durante a instalação do empreendimento. A licença Prévia tem validade estabele-
cida pelo cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos, mas não pode ser
superior a 5 (cinco) anos.

Licença de Instalação (LI): Com o cumprimento das exigências contidas na LP e a apresen-


tação dos documentos/informações necessárias, a LI é emitida e autoriza o início da implan-
tação do projeto. O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá ser, no mínimo, o
estabelecido pelo cronograma de instalação do empreendimento ou atividade, não podendo
ser superior a 6 (seis) anos.

Licença de Operação (LO): após a instalação dos equipamentos e toda a infra-estrutura ne-
cessária à operação do empreendimento, bem como a implantação dos sistemas de contro-
le de poluição hídrica, atmosférica, de resíduos sólidos, ruídos e vibrações, a Licença de
Operação é emitida, permitindo o início das atividades operacionais. Esta licença tem vali-
dade que varia de 4 (quatro) a 6 (seis) anos.
Além das Licenças Ambientais existem outros Instrumentos de Licenciamento e Controle
Ambiental, destacados a seguir:
• Termo de Compromisso Ambiental (TCA);
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 557
• Consulta Prévia Ambiental (CPA)
Consulta submetida pelo interessado ao órgão ambiental, para obtenção de informações
sobre a necessidade de licenciamento de sua atividade ou sobre a viabilidade de localização
de seu empreendimento.

• Auditoria Ambiental;

• Certidão Negativa de Débito Ambiental (CNDA);

• Termo de Responsabilidade Ambiental (TRA).

Declaração firmada pelo empreendedor cuja atividade se enquadre na Classe Simplificada,


juntamente com seu responsável técnico, perante o órgão ambiental, mediante a qual é de-
clarada a eficiência da gestão de seu empreendimento e a sua adequação à legislação am-
biental pertinente.

• Autos - Advertência, Multa, Embargo/Interdição.

Figura 3 - Fluxograma de Licenciamento Ambiental

Fonte: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA) / Instituto Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) - www.meioambiente.es.gov.br

558 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Avaliação Ambiental

Avaliação Ambiental AvA: são todos os estudos relativos aos aspectos ambientais relacio-
nados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimen-
to apresentado como subsídio para análise da licença requerida, tais como:
• AA - Auditoria Ambiental;
• RA - Relatório Ambiental;
• Relatório de Controle Ambiental.

Avaliação ambiental intermediária exigível com base em parecer técnico e/ou jurídico fun-
damentado, em todos os licenciamentos de empreendimentos ou atividades de qualquer
porte e potencial poluidor e/ou degradador, para os quais não seja adequada a exigência de
EIA/RIMA e nem suficiente à exigência de PCA.
• RAP - Relatório Ambiental Preliminar;
• PCA - Plano de Controle Ambiental;
• PRAD - Plano de Recuperação de Área Degradada;
• EVA - Estudo de Viabilidade Ambiental;
• APR - Análise Preliminar de Riscos;
• AAE - Avaliação Ambiental Estratégica;
• EIA/RIMA - Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental;
• Anuência Prévia Ambiental.

Figura 4 – Etapas Básicas de Avaliação Ambiental

Fonte: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA) / Instituto Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) - www.meioambiente.es.gov.br

6.5.6 Outorga de Uso da Água

Apresentação

A outorga de uso de recursos hídricos é um dos instrumentos das Políticas Nacional (Lei
Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997) e Estadual (Lei Estadual nº 5.818, de 29 de de-
zembro de 1998) de Recursos Hídricos.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 559


No Espírito Santo, os critérios gerais sobre a outorga de direito de uso de recursos hídricos
de domínio estadual foram estabelecidos por meio da Resolução Normativa do Conselho
Estadual de Recursos Hídricos - CERH nº 005, de 7 de julho de 2005. Os procedimentos
administrativos e critérios técnicos referentes à outorga de direito de uso de recursos hídri-
cos de domínio estadual, foram estabelecidos pela Instrução Normativa IEMA nº 019, de 04
de outubro de 2005.

Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos

A outorga de direito de uso de recursos hídricos é o ato administrativo mediante o qual o


poder público outorgante faculta ao outorgado (usuário requerente) o direito de uso dos re-
cursos hídricos superficiais e subterrâneos, por prazo determinado, nos termos e nas condi-
ções expressas no respectivo ato administrativo. É o documento que assegura ao usuário o
direito de utilizar os recursos hídricos.

Outorga Preventiva

A outorga preventiva não confere direito de uso de recursos hídricos e se destina a reservar
a vazão passível de outorga, possibilitando, aos investidores, o planejamento de empreen-
dimentos que necessitem desse recurso.

Importância da Outorga

A outorga é um instrumento necessário para o gerenciamento dos recursos hídricos, pois


permite o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água, possibilitando uma distribui-
ção mais justa e equilibrada desse recurso. Através da outorga também é possível garantir o
efetivo exercício dos direitos de acesso aos recursos hídricos por parte dos usuários inte-
ressados. É, também, um instrumento importante para minimizar os conflitos entre os diver-
sos setores usuários.

O direito de uso da água não significa que o usuário seja o proprietário da mesma ou que
ocorra alienação desse recurso. Portanto, a outorga poderá ser suspensa, parcial ou total-
mente, em casos de escassez ou de não cumprimento pelo outorgado dos termos de outor-
ga previstos nas regulamentações, ou por necessidade premente de se atenderem os usos
prioritários e de interesse coletivo.

Órgãos Competentes para Emissão da Outorga

Compete ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - IEMA outorgar o


direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio estadual. São de domínio
estadual as águas subterrâneas e as águas superficiais dos cursos de água que escoam
desde sua nascente até a foz passando apenas por um estado.

Compete à Agência Nacional de Águas – ANA, outorgar o direito de uso de recursos hídri-
cos em corpos de água de domínio da União. São de domínio da União às águas dos rios e
lagos que banham mais de um estado, fazem limite entre estados ou entre o território do
Brasil e o de um país vizinho.

6.5.6.1 Modalidades de Outorga

Concessão: destinada à pessoa jurídica quando o uso do recurso hídrico se destinar à fina-
lidade de utilidade pública. Prazo máximo de vigência: 12 anos.

560 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Autorização: destinada à pessoa jurídica ou física quando o uso do recurso hídrico não se
destinar à finalidade de utilidade pública. Prazo máximo de vigência: 6 anos.

Permissão: destinada à pessoa jurídica ou física sem destinação de uso com finalidade de
utilidade pública e que produzam efeito insignificante no corpo de água. Prazo máximo de
vigência: 2 anos.

Usos da Água Sujeitos à Outorga


De acordo com a Lei Estadual nº 5.818/98, de 29 de dezembro de 1998, estão sujeitos a
outorga os seguintes usos de recursos hídricos:
• Captação de água superficial;
• Captação de água de aqüífero subterrâneo;
• Lançamento de efluentes em corpo de água;
• Barramentos em cursos de água com e sem captação;
• Uso de água em empreendimentos de aqüicultura ;
• Aproveitamentos hidrelétricos;
• Outras interferências que alterem o regime, a qualidade ou quantidade das águas
Usos e Interferências já Outorgados pelo IEMA
Na Instrução Normativa IEMA nº 019 de 04 de outubro de 2005 foram estabelecidos critérios
técnicos referentes à outorga de direito de uso de recursos hídricos para os seguintes usos:
• Captação de águas superficiais em rios, córregos, lagoas etc;
• Barramentos em cursos de água;
Na Instrução Normativa IEMA nº 007 de 21 de junho de 2006 foram estabelecidos critérios
técnicos referentes à outorga para diluição de efluentes em corpos de água.

Na Instrução Normativa IEMA nº 008 de 10 de julho de 2007 foram estabelecidos os proce-


dimentos administrativos e critérios técnicos referentes à Declaração de Reserva de Dispo-
nibilidade Hídrica e Outorga de Direito Uso de Recursos Hídricos para aproveitamentos hi-
drelétricos.

Usos e Interferências Ainda Não Outorgados pelo IEMA

O IEMA ainda não emite outorga para uso de águas subterrâneas e para interferência que
não alteram o regime de vazões dos corpos de água, tendo em vista que os critérios técni-
cos para tais usos serão estabelecidos em Instrução Normativa específica, conforme art.10
e 13-A da Instrução Normativa IEMA nº 019, de 04 de outubro de 2005.

Usos que independem de outorga

Os usos em corpos de água superficiais definidos como insignificantes pela Resolução


Normativa nº 017, de 13 de março de 2007, estão dispensados de outorga, conforme esta-
belecido na Lei Estadual nº 5.818, de 29 de dezembro de 1998, mas deverão, obrigatoria-
mente, ser cadastradas junto ao IEMA e estão sujeitos a fiscalização.

São os seguintes os usos definidos como insignificantes:


I. As derivações e captações em corpos de águas superficiais, por usuário em um
mesmo corpo de água, cujas vazões captadas sejam iguais ou inferiores a 1,5 (um vírgula
cinco) l/s, limitadas a um volume máximo diário de 43.200 (quarenta e três mil e duzentos)
litros;

II. As acumulações superficiais, por usuário em um mesmo curso de água, com volume
máximo de 10.000 (dez mil) m3, desde que respeitados os valores estabelecidos no inciso I;
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 561
III. As derivações e captações em corpos de água superficiais, por usuário em um mesmo
corpo de água, para o atendimento a pequenos núcleos populacionais, cujas vazões capta-
das sejam iguais ou inferiores a 1,5 (um vírgula cinco) I/s.

IV. Os lançamentos de efluentes em corpos de água superficiais, por usuário em um


mesmo corpo de água, com exceção dos lagos e reservatórios, e a montante desses, cujas
concentrações de DBO sejam iguais ou inferiores às concentrações de referência estabele-
cidas para as respectivas classes de enquadramento dos corpos receptores, em consonân-
cia com a Resolução CONAMA nº 357/05.

V. Os usos itinerantes, referentes a captações esporádicas realizadas durante o período


máximo de 30 (trinta) dias.

Em caso de deferimento do pedido de cadastramento, o IEMA emitirá a Certidão de Dispen-


sa de Outorga, com prazo máximo de vigência igual a 2(dois) anos.

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www.itaperunaonline.com.br

566 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


Anexos

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 567


ANEXO I – MAPA GEOLÓGICO SIMPLIFICADO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Fonte: DRM/DJ

568 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


ANEXO II – MAPA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Fonte: Projeto "Zoneamento Econômico-Ecológico do Estado do Rio de Janeiro"

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 569


ANEXO III – MAPA GEOMORFOLÓGICO

Fonte: ZEE – RJ
570 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
ANEXO IV – MAPA DE SUSCEPTIBILIDADE A EROSÃO

Fonte: ZEE – RJ

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 571


ANEXO V - REGIÃO NORTE E NOROESTE FLUMINENSE – GRANDES EMPREENDIMENTOS PREVISTOS EU EM FASE DE INSTALA-
ÇÃO

572 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


ANEXO VI - DECRETO Nº 42.050, DE 25 DE SETEMBRO DE 2009
DECRETO Nº 42.050 DE 25 DE SETEMBRO DE 2009

DISCIPLINA O PROCEDIMENTO DE DESCENTRALIZAÇÃO DO LICENCIAMENTO AM-


BIENTAL MEDIANTE A CELEBRAÇÃO DE CONVÊNIOS COM OS MUNICÍPIOS DO ES-
TADO DO RIO DE JANEIRO, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, no uso de suas atribuições consti-
tucionais e legais, tendo em vista o que consta do processo E- 07/500.523/2009;
CONSIDERANDO:
- o disposto no art. nº 241 da Constituição Federal;
- o previsto no art. nº 65, parágrafo único, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro;
- as previsões de descentralização do licenciamento ambiental constantes do Decreto nº
40.793, de 5 de junho de 2007, e da Lei Estadual nº 5.101, e 14 de outubro de 2007; e
- a necessidade de se adequar à descentralização do licenciamento ambiental no Estado do
Rio de Janeiro ao disposto nos artigos 6º e 22 da Lei Estadual nº 5.101, de 14 de outubro de
2007, que cria o Instituto Estadual do Ambiente, e no Decreto Estadual nº 41.628, de 12 de
janeiro de 2009,
DECRETA:
Art. 1º - O Instituto Estadual do Ambiente - INEA - poderá celebrar convênios com os Muni-
cípios do Estado do Rio de Janeiro, tendo como objeto a transferência da atividade de licen-
ciamento ambiental em casos específicos e determinados nos quais o impacto ambiental
seja local e o empreendimento classificado como de pequeno e médio potencial poluidor, de
acordo com Resolução do Conselho Diretor do INEA, nos termos deste artigo.
§ 1º - A participação do INEA nos convênios a serem celebrados dependerá de autorização
do Conselho Diretor.
§ 2º - Os convênios celebrados deverão ser devidamente numerados, identificados, catalo-
gados e disponibilizados na sede do INEA e no sítio eletrônico do Instituto, sem prejuízo da
disponibilidade em outros sítios oficiais do Estado do Rio de Janeiro e, principalmente, da
publicação obrigatória do respectivo extrato no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro.
§ 3º - A celebração de convênio previsto no caput deste artigo deverá ser comunicada à
Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, ao Tribunal de Contas do Estado do
Rio de Janeiro e ao Tribunal de Contas do Município, se existente.
§ 4º - As atividades objeto de convênios previstos neste decreto deverão ser especificadas
por Resolução do Conselho Diretor do INEA.
§ 5º - A Resolução do Conselho Diretor referida no parágrafo anterior deverá aprovar ativi-
dades previamente indicadas pelo Município como passíveis de licenciamento local satisfa-
tório, devendo tal indicação ser feita, preferencialmente, por ato de Conselho Municipal de
Meio Ambiente ou do Chefe do Poder Executivo Municipal.
§ 6º - O Conselho Diretor do INEA poderá rever o rol de atividades sujeitas ao licenciamento
ambiental municipal por meio de Resolução devidamente motivada.
Art. 2º - Para os efeitos deste Decreto serão adotadas as seguintes definições:
I - atividades com impacto ambiental local direto: as atividades capazes de ensejar compro-
metimento dos meios físicos e biológicos no Município, definidas em Resolução do Conse-
lho Diretor do Instituto, ressalvadas as atividades constantes do artigo 3º e do Anexo deste
Decreto.
II - área urbana consolidada: aquela que atende a pelo menos dois dos seguintes critérios:
a) definição legal pelo Poder Público;
b) existência de, no mínimo, 04 (quatro) dos seguintes equipamentos de infraestrutura urba-
na: malha viária com canalização de águas pluviais; rede de abastecimento de água rede de
esgoto; distribuição de energia elétrica e iluminação pública; recolhimento de resíduos sóli-
dos urbanos; tratamento de resíduos sólidos urbanos;
c) densidade demográfica superior a 5.000 (cinco mil) habitantes por km².

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 573


III - Intervenção ou supressão eventual e de baixo impacto ambiental: as intervenções ou
supressões com o percentual máximo de 5% (cinco por cento) da área de preservação per-
manente localizada na posse ou propriedade, desde que não comprometam as funções am-
bientais destes espaços e destinadas às seguintes obras ou atividades:
a - abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando neces-
sárias à travessia de um curso de água, ou à retirada de produtos oriundos das atividades
de manejo agroflorestal sustentável praticado na pequena propriedade ou posse rural famili-
ar;
b - implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes tra-
tados, desde que comprovada a outorga do respectivo direito de uso, quando couber, e de
corredor de acesso de pessoas e animais para obtenção de água;
c - implantação de trilhas para desenvolvimento de ecoturismo e construção de rampa de
lançamento de barcos e pequeno ancoradouro;
d - construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades qui-
lombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em áreas rurais onde o abasteci-
mento de água ocorra pelo esforço próprio dos moradores;
e - construção e manutenção de cercas de divisa de propriedades;
f - pesquisa científica, desde que não interfira com as condições ecológicas da área, nem
enseje qualquer tipo de exploração econômica direta, respeitados outros requisitos previstos
na legislação aplicável;
g - coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção de mudas, co-
mo sementes, castanhas e frutos, desde que eventual e respeitada a legislação específica a
respeito do acesso a recursos genéticos e plantio de espécies nativas produtoras de frutos,
sementes, castanhas e outros produtos vegetais em áreas alteradas, plantados junto ou de
modo misto;
h - outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventual e de baixo impacto
ambiental pelo conselho estadual de meio ambiente.
Art. 3º - Compete ao Estado o licenciamento dos empreendimentos:
I - localizados ou desenvolvidos em mais de 01 (um) Município;
II - localizados em Unidades de Conservação do Estado;
III - que sejam potencialmente causadores de significativa degradação do meio ambiente e
estejam sujeitos à elaboração de Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo relatório
(EIA/RIMA), conforme a legislação federal e estadual;
IV - que importem na supressão de vegetação pertencente ao bioma da mata atlântica, res-
salvado o disposto no art. 19, § 2º, da Lei nº 4.771/65 (Código Florestal), e art. 14, § 2º, da
Lei nº 11.428/06 (Utilização e Proteção da Vegetação Nativa do Bioma Mata Atlântica);
V - que constem do Anexo deste decreto, bem como outros definidos por Resolução do
Conselho Diretor do INEA;
VI - que importem na supressão de vegetação ou intervenção em áreas de preservação
permanente, condicionadas à expedição da pertinente autorização para realização da su-
pressão de vegetação ou intervenção pelo INEA, excetuadas as hipóteses previstas nos
parágrafos abaixo.
§ 1º - casos de empreendimentos ou atividades que importem em intervenção ou supressão
eventual e de baixo impacto ambiental, observando-se, para tanto, a definição do inciso III
do artigo 2º deste decreto.
§ 2º - casos de empreendimentos ou atividades em áreas urbanas consolidadas devidamen-
te reconhecidas pelo Poder Público Municipal, observando-se, para tanto, a definição do
inciso II do artigo 2º deste decreto.
Art. 4º - A celebração de convênio de que trata este ato normativo não desobriga o Estado
do exercício do poder de polícia ambiental, quando caracterizada a omissão ou inépcia do
Município no desempenho das atividades de licenciamento e fiscalização, não impedindo a
adoção pelo Estado de medidas urgentes necessárias a evitar ou minorar danos ambientais.

574 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro


§ 1º - Nos casos em que o licenciamento a ser realizado pelo Município envolva remoção de
vegetação nativa em área urbana consolidada ou em Área de Preservação Permanente -
APP, esta intervenção deverá ter a anuência prévia do INEA para supressão de vegetação.
§ 2º - Em caso de área definida legalmente como urbana pelo Poder Público, ficar[a total-
mente ao encargo da municipalidade a remoção de espécies vegetais exóticas, bem como
de espécies utilizadas na arborização ornamental de empreendimentos imobiliários, ou que
caracterizem cultura agrícola.
§ 3º - Nos casos em que o licenciamento a ser realizado pelo Município envolva demarcação
de Faixa Marginal de Proteção - FMP, este procedimento deverá ser realizado pelo INEA.
§ 4º - Nos casos em que o licenciamento a ser realizado pelo Município envolva obtenção de
outorga do direito de uso dos recursos hídricos, este procedimento deverá ser realizado pelo
INEA.
§ 5º - Nos casos dos §§ 1º, 3º e 4º, bem como em outros que se façam necessários, os mu-
nicípios deverão orientar os empreendedores quanto à necessidade de realizarem os proce-
dimentos específicos junto ao INEA.
§ 6º - Os Órgãos/Entidades ambientais municipais deverão apresentar ao órgão/entidade
ambiental estadual, bimestralmente, o cadastro georeferenciado das atividades licenciadas,
juntamente com a cópia das licenças ambientais outorgadas em meio digital.
§ 7º - Os Órgãos/Entidades ambientais municipais deverão dar ciência ao órgão/Entidade
ambiental estadual sobre as informações relativas aos seguintes instrumentos de controle
vigentes, conforme respectivas Deliberações CECA ou CONEMA: PROCON Ar, PROCON
Água, Inventário e Manifesto de Resíduos.
§ 8º - O órgão/entidade ambiental estadual poderá exigir, quando necessário, o Relatório de
Auditoria Ambiental de empreendimentos licenciados pelos Municípios.
§ 9º - Nos casos de omissão ou inépcia do Município no desempenho das atividades de li-
cenciamento e fiscalização poderá o INEA denunciar o convênio celebrado, podendo, inclu-
sive, nesses casos, rever os atos praticados pelo Município em razão do instrumento.
Art. 5º - Será condição para celebração de convênio e, conseqüentemente, para a realiza-
ção do licenciamento ambiental pelo Município, que este:
I - possua corpo técnico especializado, integrante do quadro funcional próprio, para a reali-
zação da fiscalização e do licenciamento ambiental;
II - tenha implantado e em funcionamento o Conselho Municipal de Meio Ambiente, instância
normativa, colegiada, consultiva e deliberativa de gestão ambiental, com representação da
sociedade civil organizada;
III - possua legislação própria disciplinando o licenciamento ambiental municipal e as san-
ções administrativas pelo seu descumprimento;
IV - possua Plano Diretor, se possuir população superior a 20.000 (vinte mil) habitantes;
V - possua lei de diretrizes urbanas, se a população for igual ou inferior a 20.000 (vinte mil)
habitantes;
VI - tenha implantado o Fundo Municipal do Meio Ambiente.
Parágrafo único: O Município deverá comprovar previamente à celebração do convênio o
atendimento dos requisitos elencados neste artigo, juntando aos autos do procedimento
referente ao convênio a ser celebrado, dentre outros
documentos:
I - relação dos profissionais que integram seu corpo profissional especializado, incluindo a
qualificação profissional e o vínculo destes com o Município;
II - o endereço no qual serão requeridas as licenças;
III - legislação ambiental municipal existente;
IV - cópia do ato ou lei de criação do Conselho Municipal de Meio mbiente, bem como a re-
lação de seus membros e a ata da última reunião realizada;
V - cópia da lei que aprova o plano diretor ou da lei de diretrizes urbanas;
VI - cópia da lei que criou o Fundo Municipal de Meio Ambiente, bem como a relação dos
integrantes do respectivo órgão gestor.

Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro 575


Art. 6º - As despesas financeiras e econômicas decorrentes da execução dos convênios a
serem celebrados deverão correr à conta de dotações próprias dos Municípios.
Art. 7º - Compete ao INEA a orientação e a supervisão dos procedimentos de licenciamento
atribuídos aos Municípios.
Art. 8º - Os convênios celebrados em data anterior à publicação deste Decreto deverão ser
adequados às suas disposições no prazo de 120 (cento e vinte) dias contados da sua publi-
cação.
Art. 9º - Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições
em contrário, em especial os Decretos nºs 40.793, de 05/06/2007, 40.980, de 15/10/2007,
41.230, de 18/03/2008, e 41.442, de 14.8.2008.

Rio de Janeiro, 25 de setembro de 2009


SÉRGIO CABRAL
ANEXO AO DECRETO Nº 42.050 DE 25/09/2009 RELAÇÃO DAS ATIVIDADES MENCIO-
NADAS NOS ARTS. 1º E 2º DO DESTE DECRETO:
1. Transporte de resíduos industriais, hospitalares e carga perigosa;
2. Coleta e tratamento de esgoto doméstico público acima de 1.000m3/dia;
3. Centrais terceirizadas de tratamento de efluentes industriais;
4. Fabricação de cimento e clínquer e co-processamento de resíduos;
5. Metalurgia dos metais não ferrosos em formas primárias, com operação de têmpera, ce-
mentação e tratamento térmico;
6. Fabricação de inseticidas, germicidas e fungicidas; corantes, pigmentos, polímeros e de-
mais indústrias químicas que envolvam síntese;
7. Fabricação de explosivos à base de celulose, nitroglicerina, cloratos e percloratos, nitrato
de amôneo, trinitrotolual;
8. Recuperação de óleos lubrificantes - inclusive óleo queimado;
9. Fabricação de lâmpadas incandescentes, fluorescentes, a gás de mercúrio e néon, de
arco, de raio infravermelho e ultravioleta e semelhantes – inclusive lâmpadas miniaturas e
lâmpadas descartáveis “flash”;
10. Estaleiros para construção de navios para transporte de cargas ou passageiros, constru-
ção de barcos pesqueiros, rebocadores, embarcações esportivas e recreativas, estruturas
flutuantes;
11. Empreendimentos destinados à construção, montagem e reparação de aviões e outros
materiais de transporte aéreo - inclusive a fabricação de peças e acessórios, e a reparação
de turbinas e motores de avião;
12. Fabricação de veículos automotores;
13. Unidades de recuperação de baterias em geral;
14. Atividade de extração mineral (pedreiras de brita, de bloco, calcário, concha calcária),
substâncias minerais para construção civil não artesanal;
15. Certificado de Registro de Agrotóxico;
16. Indústrias de cosméticos com fabricação de tintura;
17. Indústria farmacêutica;
18. Bases de distribuição de combustíveis líquidos e álcool carburante derivado de petróleo;
19. Bases de engarrafamento de gases liquefeitos de petróleo - GLP;
20. Atividades que armazenam ou manipulam cloro na forma gasosa;
21. Atividades que armazenam ou manipulam amônia anídrica;
22. Atividades que armazenam ou manipulam produtos inflamáveis e combustíveis em
quantidade superior a 10.000kg, em único reservatório ou em diversos recipientes em uma
mesma área;
23. Estações de rádio base;
24. Regularização de cemitérios já implementados;
25. Silvicultura econômica;
26- Fabricação de artefatos de fibra de vidro.
Publicado no D.O. em 28.09.09
576 Plano de Desenvolvimento Sustentável do Norte do Estado do Rio de Janeiro
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Av. do Contorno, 8000 - sl. 1701 - Santo Agostinho


30.110-056 - Belo Horizonte
Minas Gerais | Brasil

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