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Correio do Patriota

Portugal é pioneiro a nível mundial no aproveitamento da energia das ondas


24-Set-2008

É hoje inaugurado o parque da Aguçadoura, que vai gerar electricidade ao largo da Póvoa de Varzim. Mas a zona piloto
para novos projectos ainda aguarda entidade gestora
Portugal é, a partir de hoje, o primeiro país do mundo a produzir, a sério, electricidade a partir das ondas. Há muitos
protótipos em teste em vários pontos do globo. Mas o parque das ondas da Aguçadoura, que é hoje inaugurado ao largo
da Póvoa de Varzim, é pioneiro na produção eléctrica numa escala pré-comercial, a partir de equipamentos produzidos
industrialmente.

São três máquinas com tecnologia britânica, que oscilarão ao sabor das ondas, gerando electricidade que o fabricante
diz ser suficiente para alimentar 1500 habitações (ver infografia na página ao lado).

O projecto da Aguçadoura arranca com uma pequena capacidade - 2,25 megawatts (MW), equivalente à de um único
aerogerador de um parque eólico. É uma migalha no bolo energético nacional.

Mas sair na frente pode ser decisivo para o país. "É claramente um projecto pioneiro", afirma António Sarmento, do Centro
de Energia das Ondas, uma associação privada que estuda e promove esta forma alternativa de produzir electricidade.

O projecto da Aguçadoura é uma aposta do grupo Enersis, que se dedica às energias renováveis em Portugal (ver caixa)
e que há alguns anos contratou uma nova tecnologia desenvolvida pela empresa Pelamis Wave Power, com sede na
Escócia. A instalação dos equipamentos, prevista para 2006, sofreu sucessivos atrasos.

O primeiro acabou por ser colocado no seu posto, a cinco quilómetros da costa, apenas em meados de Julho passado.
Uma segunda máquina foi instalada posteriormente. Ambas já estão a produzir electricidade. A terceira estará hoje
ancorada no Porto de Leixões, para a cerimónia de inauguração. Depois, bastará rebocá-la e uni-la a um ponto de ligação,
como uma ficha a uma tomada.

"Parque está operacional"

"O parque está operacional", afirma Rui Barros, responsável na Enersis pelo parque da Aguçadoura. O projecto prevê
uma segunda fase, com mais 27 máquinas Pelamis, somando 20 MW. A empresa está a pensar mais alto e tem
projectos para mais 550 MW ao longo da costa.

É mais do que os 330 MW que o Governo quer pôr à disposição de novos projectos pré-comerciais ou de demonstração, numa
zona piloto para a energia das ondas, ao largo de São Pedro de Moel, Marinha Grande. Mas ainda não está operacional
a entidade gestora que irá servir de interlocutor único para as empresas interessadas.

A entidade gestora possivelmente será uma sociedade a ser criada pela Rede Eléctrica Nacional. Os detalhes da
concessão ainda não foram, porém, formalizados. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Economia e da
Inovação, já está concluído um projecto de decreto-lei, que se encontra à espera de pareceres até ao final deste mês.
"No início do mês de Outubro será iniciado o processo formal para aprovação do diploma em Conselho de Ministros",
assegura o Ministério da Economia, numa nota enviada ao PÚBLICO.

A costa portuguesa tem potencial para a instalação de 5000 MW de potência em energia das ondas - 15 vezes a
capacidade da zona piloto. Mas, para António Sarmento, do Centro de Energia das Ondas, o pontapé de partida com o
projecto da Aguçadoura e a zona piloto "é um bom começo".

"Pode fazer diferença, dependendo do que o país conseguir fazer das iniciativas que estão a ser lançadas", diz António
Sarmento. O desenvolvimento de novos projectos pode proporcionar não só a fabricação de componentes no país como o
seu próprio desenvolvimento tecnológico, associado a patentes.

Além disso, as primeiras empresas a lançar-se, como agora a Enersis, estarão em melhores condições de abrir caminho
no mercado. "Há aqui uma série de oportunidades, e a componente energia é apenas uma delas", diz Sarmento. Mas
tudo isto, acrescenta o especialista, implica esforço em inovação, compartilhado entre empresas e o Estado.

62 tecnologias possíveis

Numa lista elaborada pelo Centro de Energia das Ondas, aparecem 62 possíveis tecnologias para o aproveitamento da
energia das ondas. Algumas foram já testadas em Portugal, como a central de coluna de água oscilante da ilha do
Pico, Açores, ou o sistema Archimedes, cujos ensaios deixaram um ponto de ligação eléctrica reaproveitado agora pelo
projecto da Aguçadoura.

Em Peniche, está em curso uma nova experiência, da empresa portuguesa Eneólica. Um protótipo, com uma asa
submersa que bascula com as correntes de fundo, foi alvo de testes em 2007 e 2008. Agora será instalada uma nova
máquina, com três asas, numa escala piloto.
http://www.correiodopatriota.com Criado em: 28 de Março de 2011 às 14:26
Correio do Patriota

Os ensaios em Peniche aproveitam uma licença já existente, para a instalação de um megawatt de potência das ondas
no local - fora da zona piloto da Marinha Grande.

Mas as atenções principais voltam-se agora para as máquinas Pelamis da Aguçadoura, que serão as primeiras a operar
em contínuo, em regime pré-comercial, produzindo electricidade e injectando-a no sistema eléctrico nacional.

A empresa Pelamis Wave Power, detentora da tecnologia, tem dois outros projectos em curso no Reino Unido - na
Escócia e na Cornualha -, mas num estádio menos avançado. "Esperamos construir mais máquinas dentro de alguns
meses", afirma Max Carcas, director da empresa.

Um bom empurrão seria a segunda fase do projecto da Aguçadoura, que depende da Enersis. "Da nossa parte,
gostaríamos de avançar o mais rapidamente possível", diz Max Carcas.
Um investimento arriscado mas com grande potencial

O preço da produção de energia a partir de ondas está por avaliar por não ter sido ainda testado na prática.
O investimento superior aos 8,5 milhões de euros que hoje ganha corpo ao largo da Póvoa de Varzim tem um retorno
ainda imprevisível, dado o seu carácter pioneiro. Mas, se tudo correr bem, pode impulsionar as energias renováveis no
país, uma vez que permitirá uma produção constante, ao contrário de outras fontes alternativas.

A Enersis e o seu parceiro escocês Ocean Power Energia asseguram o grosso do investimento, tendo os 15 por cento
restantes origem em apoios públicos. Mas a ideia é colocar mais duas máquinas a flutuar, o que implicará mais cinco
milhões de euros. E poderão não parar por aqui.

Sendo este um projecto pioneiro e experimental, o custo da produção de energia é ainda muito elevado, sendo dos mais
caros do mercado, só se equiparando ao fotovoltaico. É três vezes mais caro que o eólico e duas vezes mais que a
biomassa. O que for produzido será pago a 26 cêntimos por kilowatt/hora, enquanto a eólica é a 8 e o fotovoltaico
chega aos 44.

A forma como se comportará o projecto é uma das grandes incógnitas do investimento. Mas para a Enersis o retorno
não é, para já, a principal preocupação. "É um projecto cujo objectivo claramente não é esse", diz Rui Barros, que
coordena o empreendimento. O principal benefício é o de estar na linha de frente da exploração comercial da energia das
ondas.

Mas, se der certo, pode ser um enorme passo em frente, já que permite uma produção de energia constante (entre 5000
a 7000 horas por ano), quando as eólicas andam pelas 2000 a 2200 horas, a hídrica pelas 2400 e a fotovoltaica pelas
1500.

António Sarmento, do Centro de Energia das Ondas, afirma que a factura real da produção eléctrica no oceano ainda
está por avaliar. "Como não há nada no mar a funcionar continuamente, tudo o que há são expectativas", explica.

Uma empresa apetecida

Há vários interessados na compra da Enersis. Avaliada entre 1,3 e 1,5 mil milhões de euros, a Enersis tem andado,
nos últimos tempos, sob o olhar dos investidores depois de o grupo de investimento australiano Babcock & Brown ter
anunciado que queria vender a sua participação na empresa portuguesa até final do ano.

Esta empresa de energias renováveis tem 517 megawatts de potência eólica em exploração, cerca de mais 300 em
construção, uma participação no consórcio Ventiveste (que ganhou a fase B do concurso das eólicas que prevê a atribuição
de 400 MW de capacidade instalada) e lança-se agora na energia das ondas.

A empresa de energias renováveis foi vendida pela Semapa à Babcock & Brown Wind Partners no final de 2005. Os
australianos pagaram, pelos 89,92 por cento detidos pelo grupo de Pedro Queiroz Pereira, 420,85 milhões de euros. No
início deste ano, estes activos foram postos à venda, tendo já surgido notícias de vários interessados. João Talone, do
fundo Magnun Capital, é um dos que estão na corrida, mas fala-se também do interesse dos franceses da GdF Suez e
dos espanhóis da Iberdrola.
O equipamento Pelamis
O parque de ondas de Aguçadura terá três máquinas Pelamis - desenvolvidas por uma empresa britânica. Parecem
enormes cobras que oscilam ao sabor do mar. Será o primeiro parque de ondas em regime pré-comercial do mundo.
Visualizar esquemaFonte: Público, 23 de Setembro de 2008

http://www.correiodopatriota.com Criado em: 28 de Março de 2011 às 14:26

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