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CEFAC

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA

AUDIOLOGIA CLÍNICA

RUÍDOS OCUPACIONAIS:

SEUS EFEITOS E SUAS LEIS

ELISABET DE AZEVEDO BARROS

RIO DE JANEIRO

1998
CEFAC

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA

AUDIOLOGIA CLÍNICA

RUÍDOS OCUPACIONAIS OU NÃO,

SEUS EFEITOS E SUAS LEIS

Monografia de conclusão do

curso de especialização em

audiologia clínica. Orientadora:

Mírian Goldenberg

ELISABET DE AZEVEDO BARROS

RIO DE JANEIRO

1998
RESUMO

O objetivo deste trabalho é provar não só aos trabalhadores,

mas a elite encarregada da supervisão nesta área, a necessidade de

uma transformação de mentalidade, de uma modernização no que até o

momento é visto pelas pessoas que dão pouca importância a esta

perda que ocorre lentamente e nem sempre notada no devido tempo.

É abrir as portas para a pesquisa que anule, que substitui

esses ruídos danosos que maltratam tanto a audição da população em

geral, por outros menos intensos, mais filtrados, que a pesquisa

continue, sempre e cada vez mais, pois esta é uma área grande, com

poucos pesquisadores, diante da devastação que atinge o ser humano

e muitas vezes, sem o seu conhecimento. Estamos ainda engatinhando,

temos muito o que aprender.

Mostrarei suas novas leis, anexos, CAT (Comunicação de

Acidente do Trabalho) como ficam as obrigações do INSS, o que pode

ainda ser feito, as controvérsias, as dúvidas, as opiniões tanto do

empregador, quanto do empregado, demonstrando com isso a

consciência cada vez maior ante o problema da perda auditiva induzida

por ruído (PAIR).


Dedico este trabalho a meu pai,

que não se encontra mais entre

nós, o qual sempre acreditou em

mim; e que se sentiria muito

envaidecido se aqui estivesse.


AGRADECIMENTOS

Agradeço com alegria ao meu marido, aos meus filhos

queridos e genro: André , Patrícia, José Daniel e a minha mãe, que me

proporcionaram um ambiente tranqüilo, repleto de amor, apoio,

compreensão, pelas horas que não pude estar junto, pesquisando este

trabalho.

Aos queridos amigos “Feijão” e Elka que me presentearam

com uma impressora e foram incansáveis vindo me ajudar na

impressão deste trabalho.

A Mírian Goldengerg, por me nutrir com sua sabedoria e

inteligência no processo desta monografia.

E a todos os revisores, críticos e colegas de sala, que tanto

me ensinaram, perguntando, dando sugestões e colocando novos

valores e achados, colaborando muitas vezes, sem saber que estavam

me ajudando, ou com trabalhos, experiências e dúvidas.


O meu muito, muito obrigado a todos.

“Creio que sou sempre Divinamente guiada,

creio que encontrarei sempre á curva certa da estrada,

creio que Deus sempre abrirá um caminho, onde não houver

caminho,

creio que sempre escutarei sua Voz, distinguirei no âmago do

meu ser e sentirei Sua presença, independente da saúde dos

meus cinco sentidos.”

Teruko Taniguchi
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 01

RUÍDO OCUPACIONAL:SEUS EFEITOS E SUAS LEIS 03

HANDICAP 05

CARACTERÍSTICAS DA PAIR 11

COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO 13

AVALIAÇÃO DA DESVANTAGEM SOCIAL E FUNCIONAL 18

PESQUISA DA APLICAÇÃO DO SCREENING EM 1986 23

MEDIDAS PREVENTIVAS 36

CONCLUSÃO 46

CONSIDERAÇÕES FINAIS 51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 53
INTRODUÇÃO

A audição envolve um rico entrelaçamento de fatores que

poderiam ou não, ser a causa das perdas de audição e estas são

classificadas segundo à sua localização topográfica (condutivas,

sensorioneurais, mistas, centrais e funcionais) ou conforme sua

expressão clínica (hipoacusia, disacusia, surdez e anacusia).

A avaliação da função auditiva pode ser feita através de vários

testes que nos informam sobre a sua origem, localização, qualidade,

evolução, prognóstico, entre outros.

Escutar a fala e falar são os modos mais comuns da

comunicação humana. Uma perda auditiva induzida por ruído

obviamente causa graves problemas na comunicação auditivo-oral e é

justamente pensando na solução destes problemas tento buscar

soluções para efeitos devastadores sobre a perda da capacidade

auditiva por ruídos e suas conseqüências.

Através das leituras de diferentes autores, ficaram estas

dúvidas:

1- pode-se pensar que o diagnóstico final de uma

incapacidade auditiva causada pela PAIR não deva ser julgado apenas

pelos valores de seus limiares audiométricos, suas conseqüências para

1
a vida dos indivíduos podem variar muito de pessoa para pessoa e nem

sempre há uma relação direta entre a PAIR e as incapacidades auditivas

e handicaps conseqüentes.

2- foi visto os efeitos causados por diferentes fontes de ruído,

tais como em fábricas, ruído do tráfego de automóveis, ruído em

incubadoras, entretanto os ruídos do cotidiano podem causar

incômodo às pessoas, tais como: os vizinhos que escutam música em

volume intenso, vendedores ambulantes, cultos religiosos, animais,

construções, eletrodomésticos, entre eles: liquidificador, enceradeira,

aspirador de pó etc.

A questão do ruído abrange uma série de fatores e deveria

ser tema de novas pesquisas e discussão para uma constante e melhor

solução, antes de acusarmos um determinado fator, como sendo o

único responsável por esta perda auditiva detectada.

2
RUÍDO OCUPACIONAL (PAIR) :

SEUS EFEITOS, E SUAS LEIS.

A perda ocupacional ou perda auditiva induzida por ruído

(PAIR) é um distúrbio auditivo que afeta muitos trabalhadores expostos

a ambientes de trabalho ruidosos e pessoas na sua vida diária e diante

disso, nós, fonoaudiólogos preocupados com a prevenção, buscamos

soluções para amenizar o indivíduo com PAIR.

O indivíduo portador desta lesão irreversível e insidiosa,

muitas vezes não percebe de imediato quando sua comunicação é

prejudicada. Contudo o seu portador adquire uma série de

incapacidades auditivas ou distúrbio auditivo (perda ou anormalidade

de estrutura ou função, podendo ser anatômico-fisiológica ou

psicológica. Implica em dano, prejuízo, piora ou debilita a função

auditiva, tanto no sentido orgânico como funcional WHO-1980) e

handicap (pessoas cujas possibilidades de conservar suas atividades

profissionais estão reduzidas, após insuficiência e diminuição de sua

capacidade auditiva) que podem interferir em sua vida profissional,

familiar e social.

Essas incapacidades (referem-se à restrição ou impedimento,

3
resultante da perda auditiva, na habilidade ou performance considerada

normal para aquele indivíduo WHO,1980) auditivas podem também

prejudicar o trabalhador em relação a sua segurança e ascensão

profissional, além dos riscos com acidentes de trabalho serem bem

maiores (Magni, 1988).

4
O handicap

O handicap é descrito como: resultante de uma perda ou

incapacidade que limitam ou impedem o desempenho das funções

normais do indivíduo, de acordo com o sexo, idade, fatores sociais e

culturais. O handicap também pode estar envolvido com a interação e

adaptação do indivíduo e seu meio-ambiente. Surge conforme as

expectativas ou normas do universo individual resultante da perda

auditiva e das incapacidades auditivas foi definido em 1980 pela

Organização Mundial de Saúde (Stéphens e Hétu, 1991) como uma

limitação ou impossibilidade de desempenhar o papel que é normal

para o indivíduo (dependendo da idade, sexo e fatores sociais e

culturais). Este handicap vem traduzir toda e qualquer desvantagem

psicossocial, decorrente da perda auditiva que é compartilhada com a

esposa e filhos.

No ambiente familiar, onde o trabalhador apresenta uma

relação estreita com a esposa e filhos, o handicap é fortemente

percebido principalmente pela esposa que mantém um relacionamento

mais íntimo, muitas vezes não compreendendo a natureza do problema

5
auditivo do marido, vivencia todas as conseqüências do mesmo, sem

saber a causa do problema.

O conhecimento das reais incapacidades auditivas dos

trabalhadores portadores de PAIR e do handicap vivenciado por eles e

por suas esposas poderá futuramente fornecer subsídios para a

atuação do fonoaudiólogo em uma possível estruturação de um

processo de reabilitação para estes indivíduos, já que ele é o

profissional competente para desenvolver estratégias de comunicação

que auxiliem estes trabalhadores e suas esposas.

Os aspectos da Incapacidade Auditiva e Handicap na Pair,

teve início por volta da década de 70, nos trabalhos de Atheerley, Noble

(1970) e Noble (1978). A maioria desses estudos procurou medir o

handicap em indivíduos com PAIR e correlacionar seus fatores aos

limiares auditivos tonais.

A partir desses trabalhos, muitos autores dedicaram-se ao estudo da

incapacidade auditiva e ao handicap, por questionários e entrevistas,

relacionando uma série de fatores da incapacidade auditiva e handicap

em trabalhadores com PAIR.

Hétu, Lalonde e Getty (1987), e Hétu, Getty (1991) relacionaram as

seguintes dificuldades dentro dos aspectos da incapacidade auditiva,

experienciados por seus pacientes com PAIR:

quanto à incapacidade auditiva:

6
♦ percepção ambiental-sons de alarme, sons domésticos,

dificuldade de compreender fala em grandes salas (igrejas,

festas), alto volume da televisão e rádio;

♦ problemas de comunicação, em grupos, lugares ruidosos,

no carro, ônibus, telefone e qualquer situação desfavorável

para o ouvinte.

Quanto ao handicap:

♦ esforços e fadiga - atenção e concentração excessivas

durante a conversação e dificuldade para compreender

leitura oral;

♦ stress e ansiedade-irritação e aborrecimento causados

pelo zumbido, irritação e intolerância a lugares ruidosos,

intolerância em interações sociais, cansaço pelos efeitos

do trabalho em local ruidoso e aborrecimento pela

consciência da deterioração da audição;

♦ dificuldades nas relações: familiares confusões pelas

dificuldades de comunicação, confusões pelo alto volume

da televisão, impaciência para atividades ruidosas e

impaciência com relação à reação das pessoas pela sua

dificuldade auditiva;

♦ isolamento, recusa a encontros, grupos de conversação,

festas, deixando de freqüentar esses lugares;

7
♦ auto-imagem negativa, incômodo por não compreender as

pessoas, por estas terem de repetir freqüentemente a

mensagem, com o indivíduo sentindo-se “surdo, velho ou

incapaz”.

Os valores de referência para avaliação das lesões auditivas, quanto a

critério de notificação e indenização, segundo Santos 1997é o seguinte:

são bem controversos para fins de diagnóstico, medidas

providenciarias e preventivas. Os critérios da AA00-1959 (Americana

Acedam of Ophthalmology and Otolaningology), sugeria o uso da média

das freqüências de 500,1000 e 2000 Hz, considerando dentro da

normalidade alterações até 25 dB ,outros têm sido utilizados, entre eles

o de Rossi que incorporaram a frequência de 3000Hz. Atualmente

verifica-se que incluem progressivamente as freqüências agudas 3,4 e 6

KHz na avaliação.

Considerando a perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR), como um

distúrbio auditivo que acomete grande parte da população de

trabalhadores expostos a ruído intenso, estudos para melhor conceituá-

la e compreendê-la têm sido conduzidos por fonoaudiólogos. Seria

necessário, entretanto, que esses estudos não estivessem restritos

apenas ao caráter orgânico do distúrbio, pois a PAIR, como qualquer

outra doença da audição, acarreta abrangentes e sérias conseqüências

para a vida dos indivíduos. As manifestações da PAIR são ainda pouco

8
conhecidas e, além disso, é grande a dificuldade dos profissionais da

área para avaliar esse tipo de prejuízo.

No Brasil, excetuando-se a anamnese clínica, não existia nenhum

procedimento padronizado para avaliação de tais manifestações da

PAIR., antes desta lei atual .

Algumas manifestações, a partir da perda auditiva, foram denominadas

de incapacidade auditiva e handicap.

As definições de distúrbio auditivo e incapacidade auditiva referem-se

aos termos traduzidos do inglês impairment e disability,

respectivamente. O termo handicap foi mantido sem tradução do inglês

para o português, como sugerido em Stephens; Hétu (1991) e conforme

utilizado por profissionais da área.

Estas questões vêm sendo discutidas há vários anos em outros países,

entretanto, no Brasil, este estudo é recente, não apenas para o

trabalhador com PAIR, mas dentro da audiologia como um todo.

Considerando-se o pouco conhecimento destes aspectos na PAIR e a

dificuldade encontrada pelos profissionais da área a respeito de alguma

forma de avaliação dessas manifestações, foi de grande importância a

elaboração de um instrumento de fácil acesso e aplicabilidade na clínica

diária, que possa avaliar as manifestações de incapacidade auditiva e

do handicap nos pacientes com PAIR. Além disso, o conhecimento

exato das manifestações na PAIR muito poderia auxiliar em situações

9
práticas, no tratamento do indivíduo dentro da indústria, assim como

para fins de indenizações.

As deduções de alterações decorrentes de idade (presbiacusia) e da

exposição ao meio ambiente habitual de vida (socioacusia) dos valores

encontrados nos testes de audiometria tonal, para fins de cálculo da

alteração do limiar, não estão mais sendo usadas com regularidade,

como antes; estão em desuso, ou são levadas apenas para indivíduos

com idade mais avançada, acima de 55 anos. Com a Norma

Regulamentadora 7 (NR-7) e o atual critério previdênciário reinterado na

regulamentação dos benefícios da Previdência de 08.12.91, considera

apenas as freqüências 500, 1000 e 2000 Hz, em resumo: não foi

concedido para surdez profissional induzida por ruído. A manutenção

do mesmo critério para avaliar indenizações mantido no novo

regulamento de Benefícios da Previdência, sugere que o Ministério

elaborou-a sem cuidado, isso, na época de sua elaboração.

O trabalho de Salomon e Parving (1985) considera a correlação entre

dados audiológicos e questionários de auto-avaliação; os autores

propõem o uso de todos esses procedimentos para cálculo de

indenizações e procedimentos de ordem legal.

Nesta mesma linha, ou seja, utilizando procedimentos de avaliação para

concessão de indenizações, por meio de dados audiológicos e

aspectos referentes à incapacidade auditiva e handicap, encontramos o

10
trabalho de Albera; Beatrice; Romana (1993). A posição dos autores é a

de que o estudo das manifestações de incapacidade auditiva e do

handicap devem fazer parte da avaliação para concessão de benefícios

aos trabalhadores. Sugerem, os autores, um modelo experimental a

partir do diagnóstico orgânico da PAIR e a avaliação da presença de

incapacidade e handicap para indicação de benefícios. (Silva-1998).

Características da PAIR

Segundo Diário Oficial de 19/08/98, as características da PAIR, de

acordo com o Comitê de Ruído e Conservação da Audição da American

College Of Occupational Médicine, e segundo o Comitê Nacional de

Ruído e Conservação Auditiva, são:

• ser sempre neurossensorial, por comprometer as células

do órgão de Córti;

• ser quase sempre bilateral (ouvidos direito e esquerdo com

perdas similares) e, uma vez instalada, irreversível;

• muito raramente provocar perdas profundas não

ultrapassando geralmente os 40 dB(NA) nas altas;

• a perda tem seu início, e predomina, nas freqüências de

6.000, 4.000 e/ou 3.000 Hz progredindo lentamente às

freqüências 8.000, 2.000, 1.000, 500 e 250 Hz para atingir

11
seu nível máximo, nas freqüências mais altas, nos

primeiros 10 a 15 anos de exposição estável a níveis

elevados de pressão sonora;

• por atingir a cóclea, o trabalhador portador de PAIR pode

desenvolver intolerância a sons mais intensos

(recrutamento), perda da capacidade de reconhecer

palavras, zumbidos, que somando-se ao déficit auditivo

propriamente dito prejudicarão o processo de

comunicação;

• cessada a exposição ao nível elevado de pressão sonora,

não há progressão da PAIR. Exposições pregressas não

tornam o ouvido mais sensível e exposições futuras, ao

contrário, a progressão da perda se dá mais lentamente à

medida que aumentam os limiares auditivos;

• os seguintes fatores influenciam nas perdas,

características físicas do agente causal (tipo, espectro,

nível de pressão sonora), tempo e dose de exposição e

susceptibilidade individual.

12
Comunicação de acidente do trabalho

Vejamos agora a Emissão de CAT (Comunicação de Acidente

do Trabalho) por perda auditiva, atual.

Este é um procedimento que, sob vários aspectos, está

causando apreensão para médicos e empresas e até mesmo originando

um certo mal-estar entre ambos .

Pela NR-7 (Diretrizes e Parâmetros Mínimos para Controle da

Audição dos Trabalhadores Expostos a Níveis de Pressão Sonora

Elevados) 4.8-(a) cabe aos médicos a obrigação de indicar os casos que

necessitam receber a comunicação e eles sabem que se não cumprirem

com estas normas estão sujeitos a diversas penalidades. Às empresas

não interessa a emissão, entre outros motivos porque na realidade

13
estão assumindo uma confissão de culpa pela doença do empregado,

mesmo sabendo que muitas vezes elas (a culpa e a doença) são

procedentes. A idéia de que a CAT protege a empresa ou a desobriga de

responsabilidades não resiste a uma análise do que é a função

“seguradora” do INSS.

O INSS tem seus próprios critérios para fornecer ou não

auxílio acidentário para perdas auditivas. Esses critérios consideram

médias de limiares audiométricos em 0.5, 1.0, 2.0 e 3.0 KHZ. Como

alterações auditivas ocupacionais caracterizam-se por afetar de uma

forma bastante significativa as altas freqüências (3.0, 4.0 e 6.0 KHZ) e

pouco ou quase nada as baixas, observa-se que os critérios do INSS

não avaliam perdas ocupacionais. Isso significa que 99.2% das

possíveis perdas que pudessem ser encaminhadas ao INSS para

estabelecimento de nexo causal retornariam com uma informação

desse tipo: existe nexo causal entre a perda e a exposição ao ruído,

mas o segurado não receberá qualquer auxílio porque sua perda não se

enquadra nos critérios. A maioria dos raros casos em que o segurado

receberá o auxílio, corresponderão a perdas não ocupacionais, cujo

nexo causal não foi bem estabelecido (Kwitko -1998).-

Em qualquer situação a empresa que emitiu uma CAT está às

voltas com um problema maior do que antes: o médico, que não tem

responsabilidade pela perda e muito menos pelo nexo causal

14
estabelecido, cumpriu com suas obrigações; o empregado teve

reconhecido o nexo causal entre sua patologia e o agente nocivo (mas

nem por isso na maioria das vezes recebeu qualquer auxílio

pecuniário); à empresa restou a óbvia responsabilidade de assumir

toda culpa pela doença comunicada, quer esteja o empregado

recebendo auxílio ou não. Neste momento da história isso ainda não

está causando grande comoção na empresa porque o pior ainda está

por vir.

Não diante da recusa do INSS em fornecer o auxílio

acidentário, mas pelo fato de ter reconhecido o nexo causal, muitos

empregados estão ingressando com ações indenizatórias contra a

seguradora oficial exigindo os seus direitos(Bernardi - 1998). As ações

acidentárias são embasadas pela Súmula 44, que diz textualmente (essa

seria outra cláusula importante): “A definição, em ato regulamentar, de

grau mínimo de desacusia, não exclui, por si só, a concessão do

benefício previdenciário”.

Essa súmula confunde o sinal “disacusia” com a doença,

ignora outros agentes causais e nem mesmo considera a idade, pois o

que poderá ser perda auditiva para um indivíduo de 30 anos poderá ser

audição normal para outro de 60 anos. Ao equacionar a questão desta

forma é o perfeito retrato da simplificação: existe perda auditiva e

exposição ao ruído ocupacional? Então existe nexo causal e direito a

15
concessão de benefícios. Conforme os ensinamentos , num artigo do

Dr. José Luiz Dias Campos, mestre em ciências jurídicas,1998 como a

ação é contra o INSS as empresas não se envolvem e estando o órgão

participando de tantas ações, assoberbado de trabalho, a defesa

geralmente é deficiente e o empregado ganha a causa. Conforme este

jurista, muitas vezes o empregado está trabalhando na empresa

enquanto move a ação contra o INSS e tem ganho de causa por

“incapacidade” para o trabalho. Depois disso a ação civil contra a

empresa é quase inevitável.

Isso significa que a empresa não deve emitir CAT por perdas

auditivas. Isso sugere consistentemente que a empresa necessita com

urgência repensar três procedimentos:

1-Somente emitir CATS que tiverem passado por uma análise

interna que estabeleça o nexo causal. A sigla CAT como já foi dito,

significa “comunicação de acidente do trabalho” e acidente do trabalho

para o INSS é a mesma coisa que doença ocupacional.

Conseqüêntemente não tem sentido, emitir um documento para perdas

auditivas que não sejam ocupacionais, para as que são compatíveis

com a idade ou para as que já estavam presentes por ocasião da

admissão. Para isso, é preciso adotar a seguinte sistemática:

Nunca emitir CAT baseado em audiometria de “screening”,

útil apenas para estabelecer o público-alvo para análise de emissão da

16
CAT. (análise de emissão da CAT não é a mesma coisa que emissão da

CAT). Dada a importância do assunto, é preciso documentar a audição

do empregado ao menos através da audiometria tonal aérea e óssea,

discriminação vocal, SRT e imitânciometria.

2-Estabelecer o público-alvo para análise de provável

emissão da CAT, atendendo tanto as exigências da NR-7 como do

INSS: Segundo a NR-7 são indivíduos com

ocorrência ou agravamento da perda auditiva, segundo o INSS os que

se enquadram nos seus critérios matemáticos.

Analisar as comprovadas perdas auditivas considerando as

nosoacusias, as sociacusias, as presbiacusias e a real exposição ao

ruído ocupacional. Também são importantes outras variáveis como

idade, sexo, raça, tempo de trabalho, tabagismo e índice de massa

corporal.

Quantificar a importância de cada agente causal para que nos

casos em que a CAT for emitida a empresa seja responsável apenas

pelo que causou. Por exemplo, num indivíduo com 50 anos de idade e

uma perda auditiva neuro-sensorial bilateral assimétrica, avaliar em

termos percentuais para cada ouvido a importância do ruído

ocupacional, da presbiacusia e de outras causas (ruído não

ocupacional?)

17
Avaliação da desvantagem social e funcional

Avaliar a desvantagem social e a funcional, que não são a

mesma coisa. A estimativa da desvantagem e/ou incapacidade não é

fornecida apenas pelos resultados audiométricos. Por isso, é preciso

caracterizar adequadamente o que é perda auditiva, desvantagem e

incapacidade. Pode-se adotar os critérios e métodos de quantificação

da AAO-HNS (American Academy of Otolaryngology-Head and Neck

18
Sugery) que assim define esse três níveis:

• Perda auditiva = é a função fora dos limites da normalidade.

• Desvantagem = é uma dificuldade causada por uma perda

suficiente para afetar a eficiência do indivíduo nas

atividades diárias (sociais e/ou laborais)

• Incapacidade = uma real ou presumida inabilidade para

manter salário integral.

Emitir conclusões claras e concisas quanto à emissão ou

não da CAT, justificando a decisão e também aproveitando os achados

para sugerir outras condutas, tais como rever as condições coletivas

e/ou individuais da proteção auditiva se ocorreram agravamentos num

certo período, aprofundar pesquisas em eventuais socioacusias no

caso de perdas auditivas unilaterais ou assimétricas, ou ainda rever os

reais níveis de exposição ao ruído (através da audiodosimetria) se

ocorreram agravamentos incompatíveis com o tempo e a intensidade

dos níveis de ruído informados.

Realizar uma auditoria dos procedimentos médico-legais: se

a empresa não tem ainda uma auditoria da efetiva adequação dos

procedimentos médico-legais hoje realizados, seria prudente que

pensasse nessa possibilidade. Essa auditoria, tarefa executada por um

auditor externo, poderá integrar todos os dados que estão em poder

dos diversos profissionais das áreas de segurança, administrativa e

19
jurídica para originar eficientes “check-list” que atendam às

necessidades gerais.

Dessa forma será possível contar e fornecer quando

necessário, de forma rápida e completa, todas informações relevantes a

respeito dos cuidados referentes à saúde e segurança de cada

empregado. É de interesse da empresa investir nesta área com os

testes, os EPIs, (equipamento de proteção individual) dispondo de

profissionais competentes, mas existe convicção de que tudo que

necessita ser feito está sendo bem feito e, principalmente documentado.

A auditoria legal mostrará como melhor organizar uma sólida

defesa e a auditoria médica como saber se os procedimentos adotados

são satisfatórios. Algumas perguntas terão que ser respondidas como

por exemplo: Será que os testes audiométricos estão sendo

adequadamente realizados ou somente sendo realizados? A cabina

oferece boa atenuação ou somente tem um visual bonito? O audiômetro

está calibrado? Os testes mantém coerência entre um ano e outro ou

mostram resultados discrepantes que mais servem para “comprovar”

perdas auditivas muitas vezes inexistentes? A audiometria dos

empregados está sendo analisada através de métodos epidemiológicos

ou apenas os testes são realizados e é utilizado o método do “acho”:

acho que está tudo bem ou acho que está havendo piora em alguns

casos. A tendência da audição dos empregados é de estabilidade, o que

20
sugere medidas de segurança adequadas ou há uma tendência de

agravamento, donde se conclui que algo está deixando a desejar.

Ao mesmo tempo, a empresa necessita acompanhar como

terceira interessada as ações acidentárias movidas contra o INSS para

certificar-se de que a defesa será bem feita.( a maioria das vezes,

conforme o médico otorrinolaringologista Dr. Airton Kwitko, iniciam-se

as causas legais contra as empresas começam a partir daí.)

3- Implantar um bom Programa de Conservação Auditiva

(PCA).

A atividade de análise das perdas auditivas para eventual

emissão da CAT é um trabalho de bombeiro para evitar que a casa

queime imediatamente, já que as brasas permanecem. Apenas o PCA

realmente evita o incêndio. É preciso que providências sejam tomadas

sob pena da empresa ficar apenas analisando perdas.

A análise sistematizada de cada caso para eventual emissão

ou não da CAT e a auditoria médico-legal já foram adotadas por

diversas empresas do país e observamos imediatamente os excelentes

resultados. Em relação a emissão da CAT há um perfeito controle da

situação, por um lado porque a empresa tem certeza de que está

emitindo documentos para os casos realmente com doença

ocupacional e ainda assim, muitas vezes, tendo sua responsabilidade

minimizada pela concomitância de outros agentes causais (sendo o

21
mais comum a presbiacusia), por outro, porque os documentos

emitidos não mais se sujeitam à análises apressadas através do INSS,

recebendo nexos causais muitas vezes equivocados.

Nos casos em que não há indicação de emissão da CAT a

análise e o subsequente parecer constitui-se num respaldo para o

médico coordenador e para a empresa, pois existe uma justificativa

técnica esclarecendo o porquê da não-emissão, eximindo a ambos da

responsabilidade. Também é importante documentação para o futuro,

caso haja alguma ação (acidentária ou civil).

Interessante como empresas tão cuidadosas com a qualidade

de seus produtos, com sua publicidade e imagem, com os

investimentos que realiza em equipamentos e na qualificação de mão-

de-obra especializada, de tudo avaliando em detalhes os custos e

benefícios, ignora essas “ações contra a indústria” adotando uma

política de avestruz, enfiando a cabeça na areia para não ver o perigo.

Os psicólogos organizacionais têm uma explicação para isso? (Airton

Kwitko).

Existem, muitas dúvidas e controvérsias, omissões, que

deverão ser solucionadas para o crescimento integral não só dos

trabalhadores, mas de todos os setores que afetem a saúde auditiva. Só

assim atingiremos uma meta para o bem estar comum da população

geral.

22
Pesquisa da aplicação do Screening em 1986

Vejamos agora, um trabalho, realizado em 1986, sobre a

aplicação do Screening audiométrico (atualmente em desuso), numa

23
indústria têxtil da cidade de São Paulo, visando um programa de

conservação auditiva por: Capuzzo; Carvalho; Domingueti; Fernandes

Foganholo; Godoy; Pacheco, onde esse método foi aplicado em alguns

de seus funcionários (50), dos quais 39 falharam no procedimento e

foram encaminhados para posterior avaliação audiológica. Os autores

concluíram que tanto o nível de ruído, quanto o tempo de exposição a

ele são fatores determinantes no estabelecimento de perdas auditivas

ocupacionais, enfatizando a importância do uso de equipamento de

proteção individual para evitá-la.

Nesta pesquisa foi observado que a preocupação com os

efeitos que os ruídos produzem na audição já era tema de trabalho

entre os antigos. Com alguns documentos encontram-se relatos de

pessoas com aversão ao ruído, entre os gregos ,produzido pelo

martelo. Já os siberianos, em 600 aC., afastavam dos limites de sua

cidade o ruído produzido pelo trabalho com metais. O advento da

Revolução Industrial, em 1789, trouxe ao mundo a mecanização e o

conseqüente aumento do nível de ruído gerado pelas máquinas. Se por

um lado isto proporcionou maior comodidade ao homem, por outro

interferiu sobremaneira no equilíbrio e no funcionamento do seu

organismo, principalmente no que diz respeito à função auditiva.

O termo ruído expressa uma sensação auditiva desagradável,

e perturbadora, tanto pela inesperabilidade, quanto pela

24
inoportunidade. O ruído se caracteriza pela aperiodicidade, ou seja, é

uma mistura de freqüências que não possuem uma relação harmônica

entre si. O reconhecimento dos riscos do ruído industrial para a audição

baseia-se em pesquisas que visam identificar os fatores de exposição

que levam a perdas auditivas temporárias ou permanentes. Como

fatores principais, os autores classificaram:

1. a intensidade acima de 85 dB;

2. faixa de freqüência - 3.000 A 6.000 Hz;

3. tempo de exposição;

4. suscepetibilidade individual: idade, condições

piscofisiológicas;

5. tipo de ruído: contínuo ou intermitente e inesperado.

Esse reconhecimento levou a necessidade de criar e

implementar programas de conservação auditiva em indústrias, nos

países desenvolvidos. Apesar da legislação vigente em nosso país

determinar normas de segurança que prevêm, entre outros aspectos, a

realização de exames otológicos-audiológicos em industriários,

observa-se que, na prática, ela não é rigorosamente aplicada.

Desta maneira, foram propostos programas de screening

audiométrico em indivíduos, visando a conscientização de empregados

e empregadores sobre a importância da preservação da audição tanto

25
individual como socialmente. Isso tudo acompanhando o trabalho das

autoras na fábrica têxtil. O screening não tenta definir o tipo de

problema e nem a severidade dele, mas visa, identificar os indivíduos

que necessitam de avaliação audiológica mais detalhada.

Sendo o screening um procedimento simples, de comprovada

eficácia e rapidez, o objetivo dos autores, aplicá-lo numa população de

industriários da cidade de São Paulo para determinar o número e o

percentual de falhas, visando o encaminhamento e a orientação quanto

ao uso de equipamento de proteção individual e avaliação audiológica

completa. Os procedimentos usados foram que todos esses

trabalhadores desta indústria têxtil, em diferentes seções como:

tecelagem, cerzimento, tingimento, expedição, escritório e serviços

gerais, fossem testados durante seu período de trabalho. No começo foi

feito um mapeamento de ruído, a serem determinado os valores médios

nos vários setores da indústria com o uso de um decibelímetro para

medir os vários ruídos, numa tabela pré-estabelecida para cada setor.

Em seguida, os trabalhadores eram retirados do seu local de

trabalho e conduzidos ao local de testagem constituída do seguinte:

1. Otoscopia somente para observar a presença de rolha de

cerumem obstrutivo no conduto auditivo externo, pois a mesma

impediria a realização do exame.

2. Questionário composto das seguintes perguntas:

26
• nome;

• idade;

• profissão;

• há quanto tempo trabalha em ambiente ruidoso?

• Já teve algum problema de ouvido?

• Na família há alguém com problema de audição?

A finalidade deste questionário era obter dados quanto ao

passado ontológico do indivíduo, bem como o tempo em que ele

trabalha em ambiente ruidoso.

3- Screening audiométrico que utilizou as freqüências de

1.000 e 2.000 Hz e 20 dB e 3.000, 4.000 e 6.000 Hz a 25 dB (ANSI-1969).

Como não foi possível a utilização da sala menos ruidosa da

indústria, o teste foi realizado no interior de um automóvel com vidros e

portas fechadas, que possibilitou o nível máximo de ruído de 50 dBNPS.

4- Critério para falha: os indivíduos que deixaram de perceber

o estímulo sonoro em uma ou mais freqüências em um ou em ambos os

ouvidos, falharam no teste e, por esta razão, foram orientados no

sentido de se submeterem a uma avaliação audiológica completa.

As conclusões, após a realização deste trabalho, , foi que

fatores, como o tempo de exposição, a intensidade e a faixa de

freqüência do ruído, são relevantes no estabelecimento de danos

auditivos ocupacionais.

27
Tendo em vista o grande número de falhas encontradas neste

estudo, ficou evidente a necessidade do uso de protetores auriculares

como um dos meios para a preservação da acuidade auditiva e

conseqüente preservação da saúde do indivíduo como um todo.

Concluíram, ainda, que o screening, sendo menos oneroso

do que os procedimentos convencionais, de rápida aplicação e

comprovada eficácia, constitui um método prático e de grande validade

em programas que visam a identificação e posterior encaminhamento

dos indivíduos com prováveis perdas auditivas.

Pode ser que esta não seja a melhor maneira de se

estabelecer as bases de um programa de conservação auditiva em

indústrias, mas na época deste trabalho (1986) o grupo acreditou ser o

início de um trabalho de suma importância para a realidade da época,

uma vez que o ruído industrial em intensidade crescente tende a

aumentar de modo considerável o número de suas vítimas.

O sucesso do programa de controle de ruído industrial

depende da colaboração de todos os departamentos envolvidos, tais

como: manutenção, operação, projeto, entre outros. A manutenção das

máquinas e equipamentos industriais contribui significativamente para

a redução de ruído e vibrações. Um exemplo que se vê, constantemente

em fábricas de primeiro porte é a medição do espectro de vibrações na

faixa de freqüências de 0 a 12,5 KHs. Os espectros de vibrações com

28
rolamentos novos e rolamentos com defeitos na pista externa são

mostrados e avaliados e o resultado é gritante. Aparece um aumento

significativo na amplitude de vibrações na freqüência de ressonância de

6,4KHs, entretanto, os aumentos dos níveis de vibrações nas

freqüências de defeito são em geral pequenos e mascarados por outras

vibrações. Daí a necessidade constante de um técnico no local para

observar as possíveis variações que possam ocorrer diariamente.

As conclusões que se chega são que os sinais de vibrações

medidos nos locais dos rolamentos são complexos, devido a defeitos e

outras fontes de vibrações tais como: turbulências, cavitação,

desbalanceamento e desalinhamento, além da contribuição da trajetória

entre o ponto de medição e o local da falha.

A vibração do rolamento tem forma de pulsos, portanto seu

espectro é de banda larga que pode excitar modos de ressonância

mecânica da estrutura e mancais.(Samir & Martins.1988) O ruído de

banda larga, também chamado de ruído branco é aquele que contém

energia na faixa de freqüências de 100 a l0.000 Hz, sendo a área mais

efetiva até 6.000 Hz. É uma forma de onda aperiódica com igual energia

dentro de qualquer banda de freqüência de 1 Hz de; largura, e com

todas as fases presentes em uma distribuição ao acaso. É denominado

de ruído branco, por ser análogo à luz branca, a qual caracteriza igual

energia em todos os comprimentos de onda luminosa. Seu espectro de

29
amplitude é contínuo e o envelope de espectro é uma linha paralela à

linha de base. Em audiologia é usado para mascarar os sons de fala

usados na logoaudiometria (Santos & Russo, 1993). Existem ainda o

ruído rosa, o ruído de fala e o ruído de banda estreita, só que neste

caso, deve-se usar o de banda larga.

Neste exemplo esta fábrica apresenta estes caracteres;

existem vários outros tipos de ruído nocivo que danificam a audição.

Em cada local deveriam existir pessoas especializadas para

desenvolver um trabalho capaz da absorção do ruído nocivo, evitaria

além desta perda auditiva nos trabalhadores os prejuízos que advém,

com médicos com indenizações e processos tanto às fábricas como

INSS.

Nível de vibração medido depende do defeito no rolamento,

defeitos de outros componentes e trajetória de transmissão entre o

defeito e o ponto de medição. Componentes de vibrações de baixas

freqüências propagam-se na transmissão sem atenuação, o que

intensifica os níveis de vibrações de fundo. Como conseqüência o

espectro das falhas é mascarado por altos níveis de vibrações de

fundo. Uma das técnicas mais utilizadas, do presente trabalho é a

verificação para a análise acústica da espectrografia acústica, pela qual

é possível analisar a onda sonora em seus componentes básicos.

Alguns autores têm procurado determinar os parâmetros da análise

30
espectrográfica mais significativos para esse estudo e a identificação

de um indivíduo no local em que esteja trabalhando ou que conviva em

sua vida diária.

Os primeiros parâmetros acústicos investigados pela

espectrografia foram a freqüência e a amplitude fundamentais e as

características temporais da onda sonora (Potter, Kopp e Green,1947;

Lisker e Abramson 1964). Além dos parâmetros básicos, outros têm

sido propostos e, desses, a proporção harmônico-ruído (harmonic-to-

noise ratio - HNR) é considerada a mais promissora. A proporção

harmônico-ruído (PHR) baseia-se no pressuposto de que uma onda

acústica de uma vogal sustentada consiste de dois componentes: um

componente periódico, que é o mesmo de ciclo a ciclo, e um

componente de ruído adicional, que é variável.

Desde a sua criação, a PHR foi considerada “um dos

melhores parâmetros de aplicação” (Baken, 1987), na quantificação de

desvios ruidosos. Assim a PHR representa a relação entre o

componente harmônico e o componente ruído, para cada amostra

detectada. Pelo fato do componente de ruído representar uma variação

casual da pressão sonora ao redor de zero, somando-se os valores

instantâneos das amplitudes de ruído, por um intervalo de tempo

relativamente longo, obtém-se uma amplitude de ruído resultante

mensurável. Por outro lado, somando-se de modo semelhante as ondas

31
consecutivas do componente periódico, obtêm-se uma onda somatória

resultante ainda maior. Do momento em que o envelope total da onda

sonora representa uma fração de período livre de ruído, pode-se

subtrair seu valor de cada ponto no tempo de um período vocal real, ou

seja, contaminado por ruído. Assim, a PHR, expressa em decibels, é

apenas a amplitude da onda média dividida pela amplitude do

componente ruído isolado para cada série de ciclos analisados (Baken,

1987);

Segundo Ladefoged (1963), seria esperado que a energia

acústica gerada por fatores aperiódicos acústicos da onda tivesse uma

ampla representação espectral, ou seja, fosse vista como um ruído de

espectro amplo, enquanto aquela devida à aperiodicidade da onda seria

restrita às freqüências harmonicamente relacionadas à freqüência

fundamental. Deste modo verifica-se os valores da proporção

harmônico-ruído em relação a possível perda auditiva, detectada pela

qualificação da análise do local, proveniente dos registros obtidos

(Titze-1995).

A análise de envelope, isto é, a de modulação das freqüências

de defeito na alta freqüência de ressonância, fornece os picos de

defeito sem mascaramento em faixa dinâmica larga. A vantagem de

eliminar possíveis mascaramentos torna a técnica de envelope a mais

poderosa na detecção e diagnóstico de falhas em rolamentos, até o

32
momento.

As medições sonoras, de um modo geral, não só em

determinado setor de uma fábrica, mas todo ruído prejudicial, permitem

análise precisas dos componentes de freqüência, intensidade e

duração, atributos físicos indispensáveis para o processo de

determinação nocividade de um ruído. É muito importante saber a

dosagem de pressão sonora que um indivíduo acumula durante sua

jornada de trabalho em ambientes ruidosos (Akkerman,1976).

Na medição do ruído são empregados, basicamente, dois

tipos de medidores de nível de pressão sonora, conhecidos como

decibelímetros e dosímetros. Tais medidores são constituídos por um

sistema onde o microfone é a peça vital, aliado a um amplificador e um

indicador de nível.

O circuito de medição desses instrumentos pode ter

respostas lentas ou rápidas. As lentas são empregadas em medições de

ruído, contínuos e intermitentes são determinados com o uso deste tipo

de medidor. A resposta rápida é empregada para ruído contínuo de nível

constante ou para determinar valores externos de ruído intermitente.

Quando o ruído é de impacto ou impulsivo o circuito de

medição deve ser específico, não devendo ser usados circuitos

comuns para respostas lentas e rápidas.

Os dosímetros são recomendáveis quando é necessário

33
avaliar a exposição individual do trabalhador a níveis elevados de ruído,

durante sua jornada de trabalho.

Existem várias escalas padronizadas internacionalmente e

são chamadas de circuitos de compensação A, B e C designadas para

reproduzirem a audibilidade em função da freqüência sonora. Como o

ouvido não responde linearmente ao espectro de freqüência, o medidor

de nível sonoro procura, através desses circuitos, reproduzir o

comportamento auditivo humano em relação a níveis de intensidade,

respectivamente de 40,70 e 100 d B a 1000Hz.

O circuito A é o mais utilizado na medição de ruídos

contínuos e intermitentes em ambientes de trabalho, pois mede o

volume percebido pelo ouvido humano, com ênfase nas freqüências

altas. Já o circuito C é empregado nas medidas de ruído de impacto, por

ser um circuito de resposta mais liniar.

O ouvido humano não é igualmente sensível para todas as

freqüências da faixa audível, para avaliar a sensação auditiva ao ruído

foi realizada uma pesquisa, confrontando-se a audibilidade de um tom

de l.000Hz, comparada a das demais freqüências, à medida que a

intensidade sonora crescia. E desta maneira, foi criada uma curva,

formada por todos os sons que emitem igual sensação auditiva, a uma

determinada intensidade, tendo como referência a freqüência de

l.000Hz.

34
A zona de maior sensibilidade auditiva foi encontrada entre

3.000 e 4.000Hz e essas curvas foram denominadas de curvas de igual

audibilidade ou curvas isofônicas, (Costa e col, 1989).

A norma ISO R-226 apresenta as curvas isofônicas para tons

puros.

Uma exposição contínua a ruídos superiores a 85 dBA pode

causar perdas permanentes de audição e acima deste nível, um

aumento de apenas 5 dB implica na redução do tempo de exposição ao

ruído pela metade.

Não só os ruídos ocupacionais que fazem mal , mas alguns

que fazem parte de atividades de lazer: danceterias, motos, carros de

corrida, rock, orquestra, alguns brinquedos infantis, cujos níveis de

intensidade podem atingir 128 dBA ,como revólver, corneta, bombinhas

e vários outros que escutamos quase que diariamente sem saber de

sua gravidade para o nosso organismo.

Quando estamos expostos a esses ruídos em geral, nossos

ouvidos são dotados de macanismos protetores que alteram a

sensibilidade auditiva durante e após a estimulação acústica. Sofremos

a ação de um fenômeno descrito como mascaramento, toda vez que a

percepção de um som é diminuída em presença de um ruído de maior

intensidade que encubra este som. Se nossa sensibilidade auditiva é

reduzida durante a apresentação de um estímulo sonoro intenso e

35
duradouro, houve adaptação auditiva, é assim que dizemos. Quando,

isso ocorre, após a parada do estímulo, entramos em fadiga auditiva,

também chamada de mudança temporária no limiar.

A diferença entre adaptação e fadiga auditiva é que a primeira

é um fenômeno peri-estimulatório e a segunda é pós-estimulatória.

Segundo Melnick (1985)os efeitos do ruído se classificam em

três categorias:

1. mudança temporária no limiar

2. trauma acústico

3. mudança permanente no limiar, que é chamada também de

Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR).

36
Medidas preventivas

As medidas preventivas com relação ao meio, nestas empresas,

algumas delas, já conscientes de suas responsabilidades com seus

funcionários já desenvolveu os chamados Programas de Conservação

Auditiva, que incluem, desde a monitorização da exposição ao ruído,

controles administrativos e de engenharia, que são controles do ruído

na fonte, até a realização de exames audiométricos periódicos,

indicação de equipamentos de proteção individual (EPI), educação,

treinamento e motivação do pessoal envolvido no programa, isso evita

redução no custo com despesas médicas e ações trabalhistas.

Essas medidas preventivas, nada mais são que o controle de ruído na

fonte, fundamentalmente, medidas de engenharia, as quais são

definidas como qualquer modificação ou substituição de equipamentos

37
ou relativas a fonte sonora ou no caminho de transmissão do ruído, que

reduzam os níveis deste para proteção do trabalhador.

Os controles de engenharia mais freqüentes envolvem:

• Redução ou eliminação do ruído na fonte - enclausurando-

a e instalando abafadores.

• Interrupção do caminho de transmissão do ruído -

construindo barreiras.

• Redução da reverberação - usando materiais absorventes.

• Redução da vibração estrutural - substituindo engrenagens

por correias ou borrachas e lubrificando adequadamente o

maquinário.

• Redução por distanciamento-levando a fonte produtora

para local distante do ponto onde o ruído é desejável.

Além destas medidas de engenharia, controles

administrativos são necessários a fim de alterar as escalas de trabalho

dos funcionários, realizando operações ruidosas e horários nos quais

poucas pessoas se encontram no local, desde que estas sejam

protegidas com o uso de equipamento de proteção individual. Este tipo

de medida preventiva constitui o isolamento da fonte protetora de ruído

no tempo.

Essas medidas são em relação ao meio como já mencionei no

começo, existem também medidas preventivas em relação ao homem.

38
Dentro de programa de conservação auditiva, as medidas

preventivas com relação ao homem desempenham, juntamente com as

de engenharia e administrativas, um papel decisivo para o sucesso

deste programa.

Essas medidas devem envolver os vários profissionais que

trabalham na empresa, que são: os diretores, gerentes, funcionários de

todos os níveis, engenheiros de segurança, médicos do trabalho,

fonoaudiólogos, auxiliares de enfermagem e constam basicamente , de:

1. Avaliações audiométricas periódicas - pré-admissionais,

revisões periódicas anuais e pós demissionais, a fim de avaliar a

audição dos funcionários, preferencialmente em condições ideais, em

cabines acústicas, com o uso de audiômetro calibrado e realizada por

fonoaudiólogos, no próprio local de trabalho ou em clínicas

especializadas.

2-Fornecimento de equipamentos de proteção individual

(EPI). A proteção do ouvido é indispensável para todos que se expõem

a ruídos superiores a 85 dBA ,conforme a legislação trabalhista vigente

no país. E assim devem ser oferecidos protetores auriculares, que

podem ser, desde circum-aurais (fones), elmos ou capacetes com fones

protetores, até intra-aurais (plugs de inserção de vários materiais). O

tipo mais adequado de protetor a ser empregado irá variar de acordo

com as características do ruído e do ambiente. O importante é que ele

39
seja efetivamente utilizado pelo funcionário (Russo).

O uso de EPIS auditivos para atenuar o ruído ocupacional é

amplamente difundido. Os administradores freqüentemente têm a

compreensão errônea de que o controle do ruído através de medidas de

engenharia poderia ser de difícil execução e dispendioso e com isso

elas são proteladas, em alguns casos. Muitas vezes, toda a prevenção

da Perda Auditiva Induzida pelo Ruído Ocupacional está restrita ao EPI

auditivo, dada a crença de que a simples utilização do equipamento é a

medida principal e plenamente satisfatória como procedimento de

conservação auditiva.

Conhecemos as dificuldades que as empresas enfrentam

com os empregados para usar o equipamento. A reação do trabalhador

ao ruído tende a ser passiva e freqüentemente voltada para o

desconforto imediato, estresse e dificuldade de concentração, mais do

que no risco da perda auditiva a médio e longo prazo. Desta forma, os

esforços baseados nos meios tradicionais (palestras, filmes, controles,

cartazes etc) para a utilização do EPI são infrutíferos.

Os EPIS não são utilizados com a freqüência necessária e

nem com a boa vontade requerida. Além disso, existe outro aspecto que

torna esse equipamento menos atraente: eles não proporcionam ao

trabalhador no uso do dia a dia a mesma atenuação que o fabricante

informa, e sim apenas uma fração dessa.

40
Como geralmente não é feito um trabalho de escolha

individual, há necessidade de inferir alguns parâmetros que possam

indicar se há ou não adequação ao indivíduo e ao meio em que ele

trabalha (Kwitko-1998).

Voltemos agora para a terceira e última medida preventiva,

3- Educação e treinamento do funcionário - não basta

controlar a audição e fornecer EPIs para os funcionários; é necessário

educá-los a fim de que compreendam a importância de sua participação

ativa no programa, para que o objetivo primordial possa ser alcançado,

ou seja, proteger a audição do indivíduo exposto ao ruído. Muitas

vezes, quando não é dada a devida importância a esta etapa, o

programa não é bem sucedido.

Todos os envolvidos no programa de conservação devem

conhecer a importância da audição e as implicações psico-sociais e de

trabalho das perdas auditivas induzidas pelo ruído; devem ser

instruídos com relação ao uso do EPI, principalmente quanto à higiene

na manipulação de protetores de inserção auricular, a fim de evitarem

afecções de ouvido externo; devem conscientizar-se da participação de

cada elemento da empresa no cumprimento das normas exigidas para

seu perfeito funcionamento (Suter e Franks, 1990).

Já o controle do ruído não ocupacional, depende de todos

nós em engajarmos numa campanha de redução do controle de volume

41
dos equipamentos sonoros coletivos ou individuais, a fim de que o

ouvido possa ser respeitado em sua excelência, além de estarmos,

assim contribuindo, para melhorar nossa própria qualidade de vida, tão

ameaçada pelos vários tipos de poluição ambiental e sonora.

Ruído urbano, na cidade de São Paulo, é um problema de

saúde pública, pois afeta milhares de pessoas de diferentes faixas

etárias, trazendo diversos prejuízos à saúde. A dimensão deste

problema ainda não foi devidamente analisada no Brasil, e deveria ter

um maior estudo e atenção, especialmente por representar um dos

fatores de maior desgaste para os indivíduos que habitam os grandes

centros urbanos.

Essa interferência do ruído significa na qualidade de vida dos

indivíduos, na interação entre fatores ambientais e as necessidades

biopsíquicas humanas (Coimbra, 1985).

Atualmente, nas grandes cidades, o nível de ruído tem

aumentado na proporção alarmante de 2 dBNPS por ano (Nepomuceno,

1979).

Segundo Fernandes (1990),pesquisas feitas pela Organização

Mundial de Saúde apontam São Paulo como uma das cinco cidades

mais ruidosas deste planeta, apresentando níveis de ruído entre 95 dB

a105dB. Comprovadamente, São Paulo tem características acústicas

desfavoráveis, devido ao alto nível de concentração de veículos

42
automotores, de indústrias, de residências, característico de uma

megalópole, e são necessários estudos sobre as conseqüências

desses ruídos para a saúde das pessoas, tanto no que se refere aos

aspectos auditivos quanto aos não auditivos.

De acordo com Quick et al. (1981), Costa (1991), Seligman

(1993) e. Zamperlini (1998), o problema do ruído deve ser encarado

seriamente, não somente no âmbito da saúde do trabalhador, mas

também no âmbito da comunidade em geral, pois este afeta a

coletividade como um todo, podendo trazer sérios problemas à saúde

como: cefaléia, distúrbios gástricos, otalgias, hipertensão arterial,

alterações no sono e no comportamento. As pessoas expostas a ruído

prolongado mostram mais sensibilidade e podem ficar mais propensas

a brigas e discussões devido ao seu nervosismo, irritabilidade e tensão.

Para atuar, eficazmente, no controle dos efeitos auditivos e

não auditivos relacionados ao ruído urbano, precisamos, identificar os

seus efeitos sobre os indivíduos, e se este está representando um

problema para a população.

Buscando trabalhos na literatura, sobre ruído urbano para

poder compreender melhor esta questão, foi observado que a maior

parte dos estudos estrangeiros estão voltados para o ruído de tráfego

aéreo e o de automóveis. Já na literatura nacional, ocorreu que a

maioria das pesquisas como as de Morata (1986), Carnicelli (1988),

43
Schochat (1991), Costa (1992), Fiorini (1994), Zampererlini (1998) eram

dirigidas à questão do ruído industrial.

Como o excesso de ruído está se acentuando em muitas

cidades brasileiras, foram criados alguns programas dentro das

Prefeituras para ajudar a população. Entre elas estão: Belo Horizonte,

Curitiba e São Paulo.

Na cidade de São Paulo, foi criado o Programa de Silêncio

Urbano (PSIU) em outubro de 1994, visando controlar o ruído que

incomoda a população de São Paulo.

As principais fontes de ruído urbano que incomodam as

pessoas de acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de

Belo Horizonte (1992) são:

• o trânsito de veículos, com o ruído dos motores, buzinas,

sirenes ,apitos dos guardas e até o atrito com a

pavimentação;

• as obras, construção de prédios, a abertura e recuperação

de vias e outros espaços públicos onde são utilizados

bate-estacas, martelos e serras de vários tipos;

• tráfego aéreo, ruído de turbinas e motores;

• as indústrias, com ruídos internos e externos;

• ruídos em geral como: caminhões de lixo,

estacionamentos, áreas de recreação e esportes, e música.

44
Axelsson (1991) comenta que atividades de lazer estão

surgindo cujos níveis de ruído parecem aumentar com o passar dos

anos; sendo assim, tem havido uma preocupação em relação a essas

atividades ruidosas, tais como: concerto de rock/pop, onde os níveis de

ruído chegam aproximadamente 105-115 dB(A), walkman, estéreos de

carro, que podem produzir ruído entre 120-140 dB(A) armas de fogo,

que podem exceder de 150 a 160 dB(A) e outras atividades (carros de,

corrida, motocross, aviões-miniaturas, barcos, tratores motorizados,

jogos de fliperama, apitos e barulhos em estádios de futebol). Os

adultos jovens é que são mais freqüente expostos a níveis intensos de

sons durante estas atividades de lazer.

Vários autores relatam que os efeitos do ruído para a saúde

advêm de exposições a ruídos urbanos e industriais. Esses efeitos

podem ser divididos em não auditivos e auditivos, como já foi

comentado anteriormente.

De acordo com Merluzzi (1981), efeitos não auditivos são

conseqüências da exposição a ruído igual ou superior a 70dB(A). Eles

podem ocorrer tanto imediatamente, como podem ser resultado de

muitos anos de exposição, sendo que sua ocorrência dependerá de

diversos fatores e da suscetibilidade individual.

Um exemplo foram os técnicos de audição realizaram quatro

medições no Elevado, em São Paulo. Na via superior com o Minhocão,

45
aberto, a média chega a 86 dBA o limite considerado adequado de 60

dBA para as cidades e interditado a média é de 74,2 dBA. Na via inferior,

praça Marechal Deodoro, o nível de ruído com o Minhocão aberto,

apontou que os moradores da região convivem com a média de 84dBA

e com o elevado interditado, a média e de 79 dBA.

No dia da realização dos testes, os técnicos chegaram a

medir 91 dBA, valor de pico, com o movimento dos automóveis que

circulam na pista. Após estes testes um técnico do laboratório de

Acústica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas-IPT, realizou a

medição num apartamento vizinho do Elevado e constatou que os

níveis de ruído caem em 10 dBA depois das 21h30, quando está

interditado. Esse nível sonoro intenso, pode alterar o sono ou provocar

outros efeitos nas pessoas. Essa pesquisa foi realizada em abril de

1996 e provocou entre os moradores, revolta e eles passaram entre a

população um abaixo assinado contra a reabertura do Elevado.

Até o final de junho de 1996 contavam com mais de 6 mil

assinaturas e promoveram um ato público para pressionar e sensibilizar

o prefeito da época Sr. Dr. Paulo Maluf, a sancionar o projeto aprovados

pelos vereadores.

46
Conclusão

Deixemos que a conversação entre os indivíduos possa

voltar, enfim nos humanizemos diante destes fatos, que afetam um

47
determinado local ou vários.

Deixemos que a música tocada nas festas e reuniões sociais

é, verdadeiramente, de fundo e, como tal, digna de ser apreciada por

todos.

Deixemos que o abuso da amplificação sonora nos cinemas,

teatros, casas de espetáculos, festas infantis, cesse, para que

possamos desfrutar do prazer que existe em tudo o que sentimos,

vemos e ouvimos.

Que o respeito a este sentido tão vital - a audição - e a este

órgão tão perfeito - o ouvido humano - seja compromisso mais que

momentâneo, mas de todos nós, enquanto vivermos.

Além das alterações no sono, na concentração e atenção,

irritação e nervosismo, incômodo, cefaléia, problemas cardiovasculares

e gástricos. Como vimos as reações são idênticas tanto no ruído

ocupacional ou não.

Miller (1974) comenta que tem sido estudada, por pesquisas

sociais, a relação entre o ruído, incômodo e das reações da

comunidade. O incômodo e a resposta da comunidade quanto ao ruído

são estudados por meio de uma queixa em particular. Ele apontou

dificuldades na realização das pesquisas, tais como: a postura do

observador diante da comunidade, método de entrevista e construção

de questionário que pode influenciar nos dados coletados.

48
Freqüentemente, um profissional qualificado em acústica analisa o

problema e este usualmente obtém as informações por meio de um

prontuário e de uma pesquisa social.

A U. S. s Environmental Protection Agency (1977) publicou um

estudo em que observou a reação da comunidade a uma ampla gama

de ruídos urbanos. A pesquisa mostrou que moradores em

comunidades urbanas não expostas a ruído de aeroportos e vias

expressas, ainda assim, podem se sentir incomodados pelo ruído de

transporte e ruído de vizinhos, animais de estimação, construções,

equipamentos de jardins, rádios e televisões. O incômodo generalizado,

em relação ao ruído, foi manifestado pelas pessoas pesquisadas como

aquele que degrada a qualidade de vida no ambiente urbano.

Borsky (1980) relata que pouco tem sido feito para diminuir o

ruído apesar do fato de um grande número de residentes da

comunidade sentirem-se incomodados pelo ruído ambiente. Poucas

pessoas se queixam a um órgão oficial adequado.

Muitas pessoas têm o hábito de dormirem com o rádio ou TV

ligados a noite toda, como um mascaramento para a “dor” de seus

problemas cotidianos, e com isso, além de prolongar a não resolução

desses problemas, muitas vezes, dependendo do volume destes

aparelhos, estão adquirindo uma perda auditiva, por vezes, sem saber

sua procedência.

49
Como existem também muitas pessoas que já se habituaram

ao ruído, e “convivem bem com ele” no momento que vão se recolher,

num local silêncioso ficam tão angustiadas, nervosas, que acabam,

voltando ao local anterior, ou buscando outros subterfúgios para

mascarar o silêncio. Daí a necessidade de muitas campanhas para

alertar sobre o que está por “traz” desse gosto pelo barulho, também de

psicólogos para colocar claro a necessidade de buscar soluções.

Outra preocupação, é com a gestante exposta ao ruído -

durante o período gestacional a mulher passa por um estado

particularizado em sua vida. Essa ligação existente entre mãe e filho faz

com que já no útero materno o bebê seja susceptível a uma série de

experiências.( Vieira-1998)

Considerando o reduzido número de publicações, abordando

esses riscos que a gestante e o bebê correm em sua vida diária e em

casa, na rua ou muitas vezes no trabalho. A contratação da população

feminina com faixa etária acima de 25 anos também sofreu elevação nas

últimas décadas, levando a existência de um maior número de

gestantes trabalhadoras. Os efeitos não auditivos, considerados foram:

• a irritabilidade ou nervosismo;

• a intolerância a ruídos domésticos;

• os distúrbios do sono;

• a cefaléia;

50
• a diminuição da memória;

• as alterações gastro-intestinais.

O propósito deste trabalho é descrever os efeitos auditivos e

não auditivos, suas leis, não só referentes ao trabalhador, a gestante,

nas incubadoras, nas ruas, enfim os riscos da população em geral em

todos os setores diários causadores da perda auditiva e verificar como

é ínfima o andamento dentro desta área e quantas barreiras são

encontradas, diante muitas vezes de interesses ocasionados por um

grupo ou realmente pela falta de pessoas interessadas em buscar

soluções definitivas, ou pela falta de verbas, ou de capacidade ou

acomodação diante talvez de problemas maiores. São interrogações

que vão continuar existindo, até ser encontrado uma solução definitiva.

Neste caso, o da gestante, observar se há correlação, entre o

tempo de gravidez e o aumento dos desconfortos, relatados pela

gestante.

Nas incubadoras, em unidades de tratamento intensivo, os

níveis observados, foi constatado o malefício produzido pelo ruído em

seus componentes fisiológicos e psicológicos também neonatias e

berçários.

Em incubadoras, geralmente, variam de 70 a 80 dB e em

alguns momentos podem atingir até 130 a 140 dB quando, por exemplo,

se fecha abruptamente a porta da incubadora, quando se utilizam

51
respiradores, aspiradores, ou mesmo quando a criança chora.

Outro fator segundo Almeida,1998 a ser lembrado é o tempo

de exposição que estas crianças ficam expostas, quanto maior o tempo,

maior os danos causados induzidos pelo ruído.

Conforme Rezende,1998 não há órgão, aparelho ou sistema

do organismo que não seja vulnerável ao ruído, incluindo o setor

psíquico.

Crianças em incubadoras são freqüentemente tratadas com

drogas potencialmente ototóxicas, e o ruído potencializa o

desenvolvimento da disacusia, nestas circunstâncias.

Os altos níveis de ruídos em incubadoras por um tempo

prolongado podem ser considerados um fator de risco para a audição,

podendo causar hipoacusia sensorial, o que é comum em prematuros.

Disacusia por trauma acústico em crianças e jovens aparece cada vez

mais em decorrência da exposição a sons intensos produzidos também

por brinquedos, música eletrônicamente amplificada, ambientes de

lazer e outros.

Devemos nos lembrar constântemente que o ruído é danoso

para todos nós, independente de idade e o cuidado contra a poluição

sonora deve existir onde quer que haja vida, contribuindo desta

maneira que ela ocorra com a melhor qualidade possível.

52
Considerações Finais

O preço do progresso é um risco que muitas vezes temos que

enfrentar e devemos parar para pensar nas conseqüências e verificar se

compensa ou não, colocando o ser humano, acima desse “progresso

aparente”.

Os riscos, muitas vezes, são irreversíveis e sem lei, que

quantifique a importância de cada agente causal e que compense todos

os danos ocorridos.

Muitas vezes, verificamos na alegria que determinado

ambiente ruidoso proporciona. Ou um eletrodoméstico moderno, novo,

anunciado na TV e Jornais e não temos sossego enquanto não o

adquirimos. Vamos a festas barulhentas, somos obrigados a conviver

com vizinhos que colocam rádio em volume alto e muitas e muitas

outras situações que sem perceber vão nos ocasionando perdas

auditivas por vezes irreversíveis.

Como saber o dano causado por estas fontes geradoras

diárias e sem controle e conhecimento da maioria da população,

constantes em nossas vidas?

53
Chegou a hora da conscientização da população.

Nós fonoaudiólogos temos obrigação de alertar nos meios de

comunicação geral existentes e buscar soluções em todos os setores, e

que garanta a saúde auditiva e todas as conseqüências que isso

acarreta.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 ALMEIDA,E;REZENDE,V.;VIEIRA,J. - O ruído e a criança -. -

Rio de Janeiro,Revinter,1998.

2 BERARD,A. Apostila da saúde do trabalhador -São Paulo,1998

3 BEVILACQUA,C. & COSTA,O. Audiologia atual. São

Paulo,Frôntis,1998 -

4 BOONE,D.& PLANTE,E. - Comunicação humana e seus

distúrbios - Porto Alegre,Artes Médicas,1994.

5 BRUEL & KJAER- Apostila do curso intensivo de audiologia

Baurú -São Paulo, 1989.

6 Jornal do Conselho Regional de Fonoaudiologia n/27-2/Região-

São Paulo,( sem nome do autor da matéria).

7 KWILKO,A-.Apostila: O ruído e você - São Paulo, 1996.

8 RUSSO,I. Acústica e Psicoacústica Aplicadas à Fonoaudiologia

São Paulo,Lovisse,1993.

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