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EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA

Experimentos sobre

e qualidade de detergentes

sas afirmações.
A seção “Experimentação no Ensino de Química” descreve O objetivo principal desse experi-
experimentos cuja implementação e interpretação contribuem para a mento é determinar os raios atômicos
construção de conceitos científicos por parte dos alunos. Os dos metais alumínio, ferro e cobre. Para
materiais e reagentes usados são facilmente encontráveis, tal, determina-se a densidade do sólido
permitindo a realização dos experimentos em qualquer escola. Esta e fazem-se alguns cálculos e aplica-
edição traz experimentos sobre a determinação de raios atômicos de ções de regras simples de geometria
átomos metálicos e de qualidade de detergentes. e de estequiometria.
Materiais necessários
• 2 garrafas de refrigerante tipo PET,
Determinação do raio atômico de de 2 L, com seção cilíndrica uniforme.
• régua
alguns metais José de Alencar Simoni
• barbante ou tiras de papel
Matthieu Tubino • pedaços de alumínio, ferro ou co- 41
bre, com massas entre 500 e 1000 g,
de formas geométricas definidas
Este experimento que trata da determinação dos raios atômicos de (cilíndricas, cúbicas ou mais comple-
alguns metais tem como aspectos marcantes a percepção do que xas) e também de formas indefinidas
representa o tamanho do átomo, de como um sólido cristalino se • balança comum (pode ser usada,
estrutura, da relação existente entre o micro e o macrocosmo e a por exemplo, a balança do açougue
interdisciplinaridade entre a química, a física e a matemática. ou da padaria etc.)

raio atômico, metais, experimentação em química Procedimentos

Sólidos metálicos de forma


geométrica definida
Pegue um pedaço do metal com

H
á alguns anos, publicamos licos têm as características desejáveis
um artigo que descrevia um para a realização do experimento. forma geométrica definida, determine
experimento para a determi- Dimensões de átomos, íons e sua massa em uma balança comum,
nação dos parâmetros de uma cela distâncias de ligação situam-se na com precisão de ± 5 g. Determine as
unitária (Tubino, 1983), aplicável aos faixa de 10-10 metros (1 ângstron ou 100 dimensões necessárias para o cálculo
cursos de química de nível superior. picometros). Imagine uma fileira de 1 de seu volume. Procure em livros de
Percebemos que muitos professores cm de átomos de sódio (raio atômico matemática a equação adequada a
do ensino médio gostariam de usar o 185,8 pm): ela seria formada por quase essa figura.
experimento mas esbarravam em duas 27 milhões de átomos de sódio: Sólidos metálicos de forma geomé-
dificuldades: a balança de precisão e 1 átomo → 2 x 185,8 x 10-12 m
trica definida ou não: determinação da
a compra e uso do tolueno. Assim, pro- no de átomos → 1 x 10-2 m
densidade pelo deslocamento de
curamos fazer algumas modificações, Pode-se perguntar: com essas
tornando o experimento de menor reduzidas dimensões, é possível obter uma coluna de água
custo e exeqüível em condições sim- os valores de raios atômicos ou iônicos Determine inicialmente a massa do
ples. A idéia fundamental é que o volu- com razoável segurança? A resposta metal como no item anterior. O volume
me de um líquido deslocado por deter- é sim. E também: para isso, sempre do sólido será determinado pelo des-
minada massa de um sólido pode ser será necessário uma aparelhagem locamento de um líquido, no caso a
utilizado para determinar a densidade muito sofisticada? A resposta é não. O água. Corte uma garrafa PET na sua
desse sólido. Alguns ‘tarugos’ metá- experimento aqui proposto prova es- parte superior. Cole uma fita adesiva

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Determinação de Raios Atômicos N° 9, MAIO 1999


externamente à garrafa, no sentido lon- Tabela 1: Relações estequiométricas e geométricas para os diversos retículos do sistema
gitudinal. Coloque um volume de água cúbico.
que possa encobrir totalmente a amos-
Propriedade\ Sistema cúbico Sistema cúbico de Sistema cúbico de
tra após a sua imersão. Marque o nível simples face centrada corpo centrado
da água utilizando uma caneta de es-
crita fina. Mergulhe totalmente o metal Número de átomos
na água, tomando o cuidado para não
por cela unitária 1 4 2
deixar ‘espirrar’ água para fora da gar-
rafa. Não deixe bolhas de ar aderidas Base de cálculo rat = au / 2 rat = au / 2√2 rat = au√3/4
às paredes do metal. Anote a nova Base geométrica aresta diagonal da face diagonal do
posição do nível da água. Com o auxí- centro
lio de um barbante ou de uma fita de
papel, determine o perímetro da circun-
ferência da garrafa. Calcule o volume regulares. A essa repetição, quando cubo, compare o volume determinado
de água deslocado: considerada em três eixos, denomina- dessa maneira com o calculado para
se retículo cristalino. Na natureza exis- uma esfera. Use os dados de raios atô-
V = A x (H2 – H1)
tem 14 possíveis retículos cristalinos, micos da Tabela 2 (procure em livros
A = π x r2 os quais podem ser agrupados em se- de matemática como determinar o
te sistemas. Aqui será tratado apenas volume de uma esfera a partir de seu
r = P/2π
o sistema cúbico, que possui três pos- raio).
onde V é o volume de água deslocada, síveis retículos, conforme mostrado na
H2 – H1 a diferença entre os dois níveis, Figura 2. Hipótese II
A a área de seção, r o raio da circunfe-
rência e P o perímetro do cilindro. Este Hipótese I Considerando o sólido como sendo
último pode ser obtido colocando-se do sistema cúbico simples e que o
um barbante ou fita em volta da gar- Considerando um sólido sem
átomo seja uma esfera (repare que
42 rafa, conforme mostrado na Figura 1. espaços vazios entre os átomos.
agora já há espaços vazios entre as
Considere inicialmente que o sólido esferas)
Densidade
metálico não tem espaços vazios e
A densidade (d) do metal pode ser que, portanto, seja formado por ‘áto- Para a discussão seguinte, haven-
calculada pela equação: mos cúbicos’. Para um mol de átomos do dificuldade em visualizar a contribui-
há uma massa correspondente (massa ção de cada átomo para a cela unitária,
d=m/V sugerimos a construção de modelos
molar, M) e um volume molar (Vm). A
onde m é a massa e V o volume do partir da densidade experimental pode- com maçãs, laranjas ou bolas de iso-
sólido. se calcular Vm: por e palitos de madeira. Isso deve aju-
dar bastante a percepção visual do
Raio atômico d = M / Vm aluno.
Todo sólido cristalino tem um arran- Para se determinar o volume de um Veja a Figura 2, para a cela unitária
jo ordenado das partículas que o com- átomo divide-se Vm pela constante de considerada. Há 1/8 de átomo em
põem. Essas partículas repetem-se em Avogadro, no caso 6,023 x1023 mol-1. cada vértice do cubo; assim, cada cela
uma determinada direção, a distâncias Como o átomo foi considerado um unitária contém a massa de um átomo.

Perímetro

Cilindro
Tira de transparente
fita
adesiva

H2 H1

Amostra

Figura 1: Esquema da montagem experi- Figura 2: Diferentes retículos pertencentes ao sistema cúbico e os parâmetros das celas
mental e medidas. unitárias utilizados para os cálculos dos raios atômicos em cada caso.

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Tabela 2: Raios atômicos e densidades dos metais cobre, ferro e alumínio. José de Alencar Simoni (caja@iqm.unicamp.
br), licenciado em química pela F.F.C.L.R.P. da USP e
Átomo Raio atômico / pm Densidade / kg dm-3 doutor em ciências pela Unicamp, é professor do
Instituto de Química da Unicamp. Matthieu Tubino
Cobre 128 8,96 (tubino@iqm.unicamp.br), bacharel em química pela
Ferro 126 7,87 USP e doutor em ciências pela Unicamp, é professor
do Instituto de Química da Unicamp.
Alumínio 143 2,69
Referências bibliográficas
Logo, um mol de átomos corresponde A Tabela 1 resume todos as fórmulas 1. TUBINO, M. Determinação de
a um mol de celas unitárias. Portanto, de cálculo para os três tipos de retícu- parâmetros da cela unitária – ex-
o volume molar Vm do item anterior é los do sistema cúbico. periência de química geral. Química
também o volume ocupado por um mol Para estabelecer as relações da Nova, v. 6, n. 3, p. 109-111, 1983.
de celas unitárias. A aresta do cubo (au) Tabela 1, aplica-se o teorema de Pitá-
nesse retículo é do tamanho de dois goras uma única vez para o sistema de Para saber mais
raios atômicos (rat): faces centradas e duas vezes para o de CHASSOT, A.I. Catalisando trans-
corpo centrado. O valor de raio atômico formações na educação. 3. ed., Ijuí:
au = 2 rat
calculado deve ser comparado com os Ed. Unijuí, 1995, cap. 6.
Como o volume da cela unitária (Vu) valores da Tabela 2. O resultado que http://www.chem.ox.ac.uk/
se relaciona com a aresta por: mais se aproximar do valor expresso na course/inorganicsolids/
tabela serve para definir a qual sistema threedim.html
Vu = (au)3
o metal em questão pertence. http://mach-pc66.mse.uiuc.edu/
o raio atômico pode ser calculado. ~tw/metals/prin.html

maionese a partir de óleo e vinagre (du-


Avaliação da qualidade de detergentes a as fases imiscíveis), a gema do ovo age
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partir do volume de espuma formado como emulsificante.


Os sabões e detergentes podem
ser produzidos a partir de sais de dife-
Aída Maria Bragança Bittencourt Filha
Valéria Gonçalves Costa
rentes substâncias, que podem ter
Humberto Ribeiro Bizzo ânions moleculares (sabões/detergen-
tes aniônicos) ou cátions moleculares
(detergentes catiônicos). A caracterís-
Este experimento permite que, a partir de uma simples reação de tica comum entre seus íons molecula-
formação de espuma, a propriedade emulsificante de sabões e res é possuir uma parte apolar, em
detergentes possa ser percebida e comparada. geral uma longa cadeia hidrocarbôni-
ca, e uma extremidade polar, conforme
detergentes, espuma, emulsificante, sabões mostrado na Figura 1.
Quando lavamos um prato sujo de
óleo, utilizando um sabão ou deter-
gente dissolvido em água, formam-se

A
espuma é formada por um cula se rompa muito rapidamente.
grande número de pequenas Os sabões e os detergentes são as micelas. As micelas são agregados
bolhas de gás espalhadas emulsificantes que utilizamos em nos- de ânions moleculares (agrupamento
(dispersas) em uma fase líquida. Uma sa vida diária (usualmente, os emulsi- de 40 a 100 ânions) rodeados por cá-
fina película de líquido separa as bo- ficantes sintéticos são chamados de tions. Nesses agregados (vide Figura
lhas de gás entre si. Quando o líquido detergentes). Eles agem não apenas 2), as cadeias longas apolares dos
é a água, as bolhas não duram muito em sistemas de gases dispersos em ânions estão direcionadas para dentro
tempo, pois a película fina se rompe líquidos (espuma), mas também em e as extremidades polares para fora,
rapidamente, liberando o gás contido sistemas de dois materiais que normal- interagindo com a água. A parte interna
em seu interior. É o que se observa ao mente não se dissolvem um no outro da micela, que contém as cadeias lon-
se dissolver um comprimido eferves- (duas fases distintas), causando a for-
extremidade
cente. A reação que libera o gás ocorre mação de emulsões. A substância cadeia longa apolar polar
entre o bicarbonato de sódio e o ácido emulsificante age diminuindo a diferen-
cítrico, presentes no comprimido. Um ça de tensão superficial (isto é, a repul-
meio de estabilizar a película líquida é são mútua) entre as duas fases, de
adicionar à água um emulsificante, isto modo que uma passe a ‘molhar’ a Figura 1: Estrutura básica do íon molecular
é, uma substância que evite que a pelí- outra. Por exemplo, ao se preparar de um sabão.

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