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dos
Orixás
do Candomblé Paulista
Profa. Dra. Rita Amaral
Textos base do curso “Mitologia e Arte Sacra Afro-Brasileiras”, oferecido pelo
Museu de Arqueologia da Universidade de São Paulo.
1o. Semestre de 2000
Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 2
Rita Amaral
Março/julho de 2000
do movimento. Uma vez acionado é preciso Xangô e Oxóssi, era voraz e insaciável.
Como a fome é um dos motivos que levam o que vivia. Depois disso, passou a comer as
homem a se mover em direção a um objetivo, árvores, os pastos, tudo que via até chegar
Exu come demais. E por comerem as ao mar. Orunmilá previu então que Exu não
como sendo de Exu e a terra dos tudo que visse pela frente, chegando mesmo
formigueiros também. Ele é compreendido na a comer o céu. Ordenou então a Ogum que
África como um deus do movimento (nada a contivesse o irmão Exu a qualquer custo.
ver com o diabo cristão, embora o Para conseguir isto, Ogum foi obrigado a
sincretismo o associe assim, no Brasil), que matar Exu, a fim de preservar a terra criada e
come tudo que pode, e que é "quente". os seres humanos. Mas mesmo depois da
morte de Exu, a natureza, os pastos, as
Exu mora nas encruzilhadas (a idéia
árvores, os rios, tudo permaneceu ressecado
é "o que é mas não é", sempre. Uma
e sem vida, doente, morrendo. Um babalaô ferramentas, com a foice ele abriu os
alertou Orunmilá de que o espírito de Exu primeiros caminhos para o resto do mundo, o
sentia fome e desejava ser saciado, que dá a ele o poder de abri-los ou fecha-los.
ameaçando provocar a discórdia entre os Com a faca ele fez o primeiro sacrifício ritual,
povos como vingança pelo que Orunmilá e por isso sempre se louva Ogum durante
Ogum haviam feito. Orunmilá determinou estes sacrifícios e sua invenção da faca.
então que em toda e qualquer oferenda que Com o ancinho ele arou terras e plantou, com
fosse feita pelos homens a um orixá, a tesoura cortou peles e inventou os abrigos.
houvesse uma parte em homenagem a Exu, Com o machado cortou árvores para
e que esta parte seria anterior a qualquer construir abrigos, com o martelo pode unir
outra, para que se mantivesse sempre com pregos que inventou, os troncos. Com a
satisfeito e assim possibilitasse a concórdia". cunha pode levantar grandes pesos e assim
aconteceu de Ogum, com a espada que
Símbolo: Okó, ou ogó (pênis) de madeira
forjou, guerrear e conquistar territórios para
Cor: preto e azul escuro entre os iorubas,
seu povo. Ele, no entanto, não quis ser rei,
preto e vermelho entre os angolas
pois preferia os desafios ao poder. Continuou
Comida: de azeite de dendê, carnes, um lutando e inventando para sempre. Hoje em
prato de carne com alface, tomates, dia diz-se que os computadores são de Ogun
eranpeteré e filhos de Ogun são também todos os
analistas de sistemas.
Elemento: fogo e ar
Ogun só cometeu um erro nos mitos,
Saudação: Laroiê, Exu!
quando seu pai mandou que fizesse uma
tarefa e ele, pelo caminho, embebedou-se
OGUM
com vinho de palmeira e acabou não
realizando o que devia. A partir daí nunca
O orixá Ogun é um dos mais amados bebeu, mas diz-se que os filhos de Ogun
na cultura ioruba. Em primeiro lugar porque adoram vinho branco e devem tomar muito
ele foi o primeiro ferreiro. Como foi ele, cuidado com bebidas.
também, quem descobriu a fundição e
A guerra é de Ogun, cujo nome
inventou todas as ferramentas que existem.
significa exatamente guerra. Como Ogun
Portanto, é o patrono da tecnologia e da
nunca se cansa de lutar, costuma-se chamar
própria cultura, pois sem as ferramentas
por sua ajuda em situações em que é
nada mais poderia ser inventado até mesmo
extremamente difícil continuar lutando ou
plantar em grandes extensões seria
quando o inimigo é extremamente forte. Não
extremamente difícil. Tendo inventado as
se deve invocar Ogun à toa, pois seu gênio é
extremamente violento e diz um oriki que ele Tendo sido roubada por Xangô, seu irmão,
“mata o injusto e o justo, o ladrão e o dono Ogum passou a viver sozinho, para a guerra
da casa roubada” (porque permitiu que e a metalurgia.
acontecesse) portanto, este orixá, que não
Símbolo: obé (facão)
perdoa.
Cor: azul cobalto (ou azul ferreiro, como
Ogun vive sozinho; é um solteirão
chamam alguns) A cor exata é o azul da
convicto. Teve muitas mulheres mas não vive
chama do fogo ou verde
com nenhuma, e criou um filho adotivo
Comida: inhame ou feijoada
abandonado nas mãos dele por Iansã, a
deusa dos ventos e raios que por sua vez o Saudação: Ogun Iê! Ogun asi wa jo (o que
havia adotado de Oxum, a deusa do amor e vai na frente)
da riqueza Um dos mitos sobre ele diz que
Dia: terça-feira
Ogum, é filho de Iemanjá com Odudwa.
Desde criança já era destemido, impetuoso,
arrojado e viril, tendo se tornado sempre OXOSSI
Diz ainda o mito que foi Ogum quem Dizem os mitos que aprendeu a
ensinou Oxóssi a defender-se, a caçar e a caçar com seu irmão Ogum, quando este lhe
abrir seus próprios caminhos nas matas onde deu as pontas de flechas e, mais tarde, a
principal delas Iansã, guerreira como ele. um objetivo". Fixar um alvo e atingi-lo.
desde que desceu do orum (o céu ioruba). Ossain, ao ver o que acontecia,
Embrenhou-se pelas florestas e vive para pronunciou palavras mágicas que solicitavam
descobrir e se apoderar dos segredos que as folhas voltassem às matas, sua casa
mágicos das folhas, o elemento mais e seu domínio. Todas as folhas voltaram,
importante, sem dúvida, no candomblé. mas cada orixá ficou conhecendo o poder
Alguns mitos dizem que Ossain aprendeu os daquelas que conseguiu apanhar. Só que
segredos das folhas com Aroni (uma espécie elas não tinham o mesmo axé (poder,
de gnomo africano, que tem uma perna só) e energia) que quando estavam sob o domínio
com os pássaros (alguns deles a forma de Ossain. Para evitar novos episódios de
tomada pelas temíveis feiticeiras africanas roubo e inveja, Ossain permitiu, então, que
(ajé) Iyami oxorongá, cujo nome não deve cada orixá se tornasse dono de algumas
ser pronunciado para não atraí-las). folhas cujo poder mágico, de conhecimento e
cura ele liberaria quando lhe pedissem ao
Sentindo-se sozinho, enfeitiçou
retirá-las de suas plantas. Em troca exigiu
Oxóssi, a quem sempre encontrava nas
que jamais cortassem ou permitissem o corte
matas, e o levou para os fundos destas onde
de uma planta curativa ou mágica.
lhe ensinou muitos segredos e pretendia
mantê-lo (alguns mitos dizem que como Toda a medicina ioruba se baseia,
amigo, outros dizem que como amante) o portanto, nos poderes de Ossain sobre as
que Iemanjá e Ogum não permitiram, folhas-remédio e Obaluaiê o deus que rege
voltando Ossain à sua solidão. as doenças graves. Ambos os orixás são
muito temidos e respeitados, porque também
Segundo o mito, Xangô, o deus
entre os iorubas, o mesmo princípio que
trovão, desejando obter os fundamentais
cura, mata. Remédio e veneno são questão
poderes de Ossain, pediu à sua mulher,
de grau.
Iansã, a deusa dos ventos e das
tempestades, que ventasse muito no lugar Símbolo: Opá Ossain um ramo de folhas com
onde morava Ossain, para que as folhas um pássaro pousado, indicando seus
sagradas que guardava em sua cabaça de poderes de cura e de magia.
segredos fossem espalhadas e ele pudesse
Cor: verde e branca
apanhá-las.
Comida: acarajé, abará, ekuru, farofa, emu
Por seu amor a Xangô, Iansã assim (cachaça)
fez. No entanto, quando vento espalhou as
Dia da semana: quinta-feira
folhas todos os orixás correram para apanhá-
Elemento: ar
las, sabendo de seus poderes.
Saudação: Ewê! Aça!
que rege as pestes como a varíola, sarampo, sentiu fome e pediu às pessoas de uma
catapora e outras doenças de pele. Ele aldeia por onde passava que lhe dessem
(físico) com o mundo (a terra). A interface com o homem coberto desde a cabeça com
pele/ar. A aparência das coisas estranhas e a palhas, expulsaram-no da aldeia e não lhe
relação com elas. Ele também rege as deram nada. Obaluaiê, triste e angustiado
positivo, ele rege a cura, através da morte e observando as pessoas. Durante este tempo
Obaluaiê senão suas pernas e braços, onde uma imensa festa dos orixás. Como não se
não fora tão atingido. Aprendeu com Iemanjá sentia bem entrando numa festa coberto de
e Oxalá como curar estas graves doenças. palhas, ficou observando pelas frestas da
oxumaré vive com sua irmã Ewá no fim do mulheres favoritas de seus dois irmãos, às
arco-íris. quais seduziu com sua beleza, inteligência e
poder, pois ele reinou sobre todas as terras e
Símbolo: dã (cobra de ferro)
teve como esposas Oxum, a deusa do amor
e da beleza, roubada de Oxóssi, o deus das
Símbolo: A cobra (eju) de ferro enrolada
matas, e Iansã, a sensual deusa dos ventos
numa haste que representa a árvore,
e tempestades, roubada de seu irmão Ogum,
simbolizando o poder da adaptaçãoComida:
o deus da guerra. Ele manteve sempre três
batata doce
esposas, sendo a terceira delas a poderosa
Dia da semana: quinta-feira Obá, guerreira forte, a única a enfrentar
Ogum numa luta física (perdendo, embora, a
Saudação: Arroboboi Oxumarê! luta) e senhora dos segredos da cozinha, aos
quais Xangô não resistiu, embora Obá não
fosse uma mulher bonita.
Oxum é a força dos rios, que correm velho, recusou-se a ensinar o que sabia a
sempre adiante, levando e distribuindo pelo Oxum.
mundo sua água que mata a sede, seus
Oxum então seduziu Exu, que não
peixes que matam a fome e o ouro que
pôde resistir ao encanto de sua beleza e
eterniza as idéias dos homens nele
pediu-lhe roubasse o jogo de ikin (cascas de
materializadas. Como as águas das rios, a
coco de dendezeiro) de Orunmilá. Para
força de Oxum vai a todos os cantos da terra.
assegurar seu empreendimento Oxum partiu
Ela dá de beber as folhas de Ossain, aos
para a floresta em busca das Iyami oxorongá,
animais e plantas de Oxóssi, esfria o aço
as perigosas feiticeiras africanas, a fim pedir
forjado por Ogum, lava as feridas de
também a elas que a ensinassem a ver o
Obaluaiê, compõe a luz do arco-íris de
futuro. Como as Iyami desejavam provocar
oxumaré.
Exu há tempos, não ensinaram Oxum a ver o
Oxum é por isso associada à futuro, pois sabiam que Exu já havia roubado
maternidade, da mesma maneira que os segredos de Orunmilá, mas a fazer
Iemanjá. Por sua doçura e feminilidade, por inúmeros feitiços em troca de que a cada um
sua extrema voluptuosidade advinda da deles elas recebessem sua parte.
água, Oxum é considerada a deusa do amor.
Tendo Exu conseguido roubar os
Como acontece com as águas, segredos de Orunmilá, o deus da
nunca se pode prever o estado em que adivinhação se viu obrigado a partilhar com
encontraremos Oxum, e também não Oxum os segredos do oráculo e lhe entregou
podemos segura-la em nossas mãos. Assim, os 16 búzios com que até hoje as mulheres
Oxum é o ardil feminino. A sedução. A deusa jogam. Oxum representa, assim a sabedoria
que seduziu a todos os orixás masculinos. e o poder feminino.
Diz o mito q Oxum era a mais bela e Em agradecimento a Exu, Oxum deu
amada filha de Oxalá. Dona de beleza e a Exu a honra de ser o primeiro orixá a ser
meiguice sem iguais, a todos seduzia pela louvado no jogo de búzios, e entrega a eles
graça e inteligência. Oxum era também suas palavras para que as traga aos
extremamente curiosa e apaixonada. E sacerdotes. Assim, Oxum é também a força
quando certa vez se apaixonou por um dos da vidência feminina.
orixás, quis aprender com Orunmilá, o melhor
Mais tarde, Oxum encontrou Oxóssi
amigo de seu pai, a ver o futuro. Como o
na mata e apaixonou-se por ele. A água dos
cargo de oluô (dono do segredo) não podia
rios e floresta tiveram então um filho,
ser ocupado por uma mulher, Orunmilá, já
chamado Logun-Edé, a criança mais linda, de rios, e também o vapor fino sobre as
inteligente e rica que já existiu. lagoas, que se espalha nos dias quentes
pelas florestas. Logun representa o encontro
Apesar do seu amor por Oxossi,
de naturezas distintas sem que ambas
numa das longas ausências destes Oxum foi
percam suas características. É filho de
seduzida pela beleza, os presentes (Oxum
Oxóssi com Oxum, dos quais herdou as
adora presentes) e o poder de Xangô, irmão
características. Assim, tornou-se o amado,
de Oxossi, rompendo sua união com o deus
doce e respeitado príncipe das matas e dos
da floresta e da caça. Como Xangô não
rios, e tudo que alimenta os homens, como
aceitasse Logun-Edé em seu palácio, Oxum
as plantas, peixes e outros animais, sendo
abandonou seu filho, usando como pretexto a
considerado então o dono da riqueza e da
curiosidade do menino, que um dia foi vê-la
beleza masculina. Tem a astúcia dos
banhar-se no rio. Oxum pretendia abandoná-
caçadores e a paciência dos pescadores
lo sozinho na floresta, mas o menino se
como principais virtudes.
esconde sob a saia de Iansã a deusa dos
raios que estava por perto. Oxum deu então Dizem os mitos que sendo Oxóssi e
seu filho a Iansã e partiu com Xangô Oxum extremamente vaidosos, não puderam
tornando-se, a partir de então, sua esposa viver juntos, pois competiam pelo prestigio e
predileta e companheira cotidiana. admiração das pessoas e terminaram
separando-se. Ficou combinado entre eles
Símbolo: abebê
que Logun-Edé viveria seis meses nas águas
dos rios com Oxum e seis meses nas matas,
Cor: amarela
com seu pai Oxóssi. Ambos ensinariam a
Comida: ipetê Logun a natureza dos seus domínios. Ele
seria poderoso e rico, além de belo.
Dia da semana: Sábado
No entanto, o hábito da espreita
Saudação: Ora ieieu, Oxum! aprendido com seu pai, fez com que, um dia,
curioso a respeito da beleza do corpo de sua
mãe, de que tanto se falava nos reinos das
LOGUN-EDÉ águas, Logun-Edé vestindo-se de mulher
fosse espiá-la no banho. Como Oxum
estivesse vivendo seu romance com Xangô,
Logun-Edé, chamado geralmente tio de Logun, e Xangô tivesse exigido como
apenas de Logun, é o ponto de encontro condição do casamento que ela se livrasse
entre os rios e florestas, as barrancas, beiras de Logun, Oxum aproveitou a oportunidade
um amigo caçador ao orum (céu). Iansã não ser Obá extremamente forte e destemida,
parava jamais. Ogum se viu obrigado a usar de um truque
contra ela, espalhando quiabo amassado no
Um dia em que Xangô foi visitar seu
chão, e atraindo Obá para aquele canto,
irmão Ogum e encomendar-lhe armas para a
onde a guerreira escorregou e não apenas
guerra, Iansã (também conhecida como Oyá)
perdeu a luta como foi possuída à força por
apaixonou-se por Xangô e partiu para viver
Ogum, que se tornou seu inimigo.
com ele, deixando Logun-Edé com Ogum,
que terminaria de criá-lo. A partir de então, Sendo uma cozinheira excelente foi
tornou-se uma das três esposas de Xangô e escolhida para ser a terceira esposa de
com ele reina e luta, enviando seus ventos Xangô, o deus trovão.
para limpar o mundo e anunciando a
Sempre se sentindo menos desejada
chegada dos raios e trovões de seu amado.
por seu amado que Oxum e Iansã, Obá se
Símbolo: eruxim esmerava em agradá-lo com seus pratos
cada vez mais aprimorados. Mas Oxum era
Cor:vermelha ou cor de rosa
sempre a preferida de Xangô. Um dia Obá
Comida: acarajé
não se conteve e perguntou a Oxum qual o
Dia da semana: quarta-feira segredo de sua sedução. Oxum, que vivia
com a cabeça enrolada em turbantes
Saudação: Eparrei, Oyá!
maravilhosos, disse que havia cortado a
própria orelha e colocado no amalá (uma
comida à base de quiabo) de Xangô que, ao
OBÁ
comê-lo, por ela se perdera de paixão para
sempre.
chorou e teve raiva que se transformou num transformações, mudanças e adaptações são
rio revoltoso. Na África, no lugar onde se regidas por ela.
encontram os rios Obá e Oxum o estouro das
Ewá é virgem, bela e iluminada.
águas é extremamente violento.
Apesar desta beleza e do assédio dos orixás
Outra versão do mito diz que Xangô masculinos, nunca quis se casar, sendo uma
teve pena de Obá e determinou que a partir moça quieta e isolada, voltada para o
de então apenas ela fosse a dona da cozinha conhecimento dos segredos das
e de todas as panelas, opons, alguidares e transformações.
louças, proibindo que qualquer outra iabá se
Nanã, preocupada com sua filha,
aproximasse de seus domínios. A partir de
pediu a Orunmilá que lhe arranjasse um
então, o sabor das comidas, o sucesso das
amor, um casamento, mas Ewá desejava
receitas e todo material da cozinha
viver sozinha, dedicada à sua tarefa de fazer
pertencem a Obá, responsável pela
cair a noite no horizonte, puxando o sol com
transformação dos alimentos.
seu arpão.
Símbolo: ofá, espada, colher de pau
Como Nanã insistisse em seu
Cor: vermelha e amarela
casamento, Ewá pediu ajuda a seu irmão
Comida: amalá oxumaré, o arco-íris, que a escondeu no
lugar onde ele se acaba, por trás do
Dia da semana: Quarta-feira
horizonte, e Nanã não mais pôde alcançá-la.
Saudação: Obá xirê!
Assim, os dois irmãos passaram a viver
juntos, para sempre inatingíveis. Ambos
regem o intangível e Ewá também é
EWÁ compreendida como a energia que torna
possível o abandono do corpo e a entrada do
espírito numa nova dimensão.
sua promessa, ameaçando matar o outro coisas cíclicas, tudo que pode se repetir
filho que lhe dera caso ela retirasse "sua" infinitamente. A força contida, o equilíbrio.
criança dali. Então a mulher, desesperada,
Iemanjá uniu-se a Oxalá, a criação, e
procurou o babalaô, que jogando os búzios
com ele teve os filhos Ogum, Exu e Oxóssi e
sugeriu que ela mandasse fazer um boneco
Xangô.
de madeira com as feições de uma criança,
banhasse com determinadas ervas e quando
Como seus filhos se afastaram dela,
Iroko estivesse dormindo, substituísse a
Iemanjá foi aos poucos se sentindo mais e
criança pelo boneco. E assim ela fez. Dizem
mais sozinha e resolveu correr o mundo, até
que até hoje pode-se ver, nas gameleiras
chegar a Okerê, onde foi adorada por sua
brancas o bebe de Iroko, repousando deitado
beleza, inteligência e meiguice. Lá, o rei se
em seus galhos.
apaixonou por ela, desejando que se
tornasse sua mulher. Iemanjá então fugiu,
Em sua copa vivem também as Iyami
mas o Alafin colocou seus exércitos para
oxorongá, as ajés (feiticeiras, mulheres-
persegui-la. Durante sua fuga, foi
pássaros) da floresta.
encurralada por Oke (as montanhas) e caiu,
Símbolo: grelha cortando seus enormes seios, de onde
nasceram os rios. Assim, ela é também a
Cor: roxo terra
mãe de Oxum, Obá e Iansã (em alguns
Comida: verduras em geral
mitos).
Dia da semana: Quinta-Feira
Conta-se que a beleza de Iemanjá é
Saudação: Iroko!
tamanha que seu filho Xangô não resistiu a
ela e passou a persegui-la, com o desejo
IEMANJÁ incestuoso de possuí-la. Na fuga, Iemanjá cai
e corta os seios, dando origem às águas do
mundo e aos Ibejis, filhos de Xangô com
Iemanjá. Outro mito ainda, narra a sedução
Iemanjá, são todas as águas
em sentido contrário. É Iemanjá quem
salgadas e areias do mar. É considerada o
persegue seu filho Aganju (a terra firme) e
princípio de tudo, juntamente com a terra,
este é quem foge.
Oduduwa. Iemanjá é o mar que alimenta, que
umidifica as terras, que energiza a terra, e
Representando o inconsciente,
também o maior cemitério do mundo.
Iemanjá é considerada também a "dona das
Representa ainda as profundezas do
cabeças", no sentido de ser ela quem dá o
inconsciente, o movimento rítmico, todas as
equilíbrio necessário aos indivíduos para lidar de madeira, e os deu de presente a Oxum,
com suas emoções e desejos inconscientes. para q deles cuidasse e para que pudessem
ficar juntos para sempre.
Símbolo: abebê prateado
Símbolo: duas crianças, menino e menina
Cor: azul claro, verde-água, cristal
Cor: Rosa e Azul
Comida: arroz
Comida: caruru com amendoim e castanha
Saudação: Omi O! (Grande Água!)
de caju. Ibeji também gostam de tudo que
Dia da Semana: Sábado
crianças gostam, até uma banana amassada
com açúcar e com uma gema de ovo em
IBEJI cima.
Saudação: Ibeji O!
Diz o mito que Obatalá havia reunido disse não ficaria na terra, mas entregaria a
todos os materiais necessários à criação do seu pai uma herança que serviria
mundo e que mandou a Estrela da Manhã eternamente para todos os deuses de Oxalá.
convocar todos os orixás a fim de começar o E explicou que os 16 nomes que havia dito
trabalho com sua ajuda. Mas na hora eram os nomes de seus futuros filhos e que
marcada, apenas Orunmilá apareceu. cada um deles tinha um conhecimento. Que
Obatalá gostou muito da atitude de Orunmilá se transformaria numa palmeira e que com
e o recompensou, ordenando à Estrela da os caroços de seus frutos (seus filhos) se
Manhã que revelasse a Orunmilá todos os faria o jogo de Ifá, que poderia ser
segredos da criação e do porvir. E ela consultado quando se quisesse saber o
entregou a Orunmilá todos os segredos e futuro ou como resolver problemas.
materiais que compõem a vida humana, e
Símbolo:opanifá
que estavam escondidos há muito tempo
dentro de uma concha de caramujo guardada
Cor: verde e amarela
num vaso que ficava entre as pernas de
Obatalá. Orunmilá tornou-se, desde este dia, Comida: bananeira
o dono dos segredos, das magias, das
fórmulas dos ebós, dos rituais, de tudo Dia da semana: sexta-feira
depositando o conflito de idéias e valores que adivinho, seu grande amigo. Este jogou os
mudam o mundo e Ogum fornecendo os ikins (casca de caroços de dendezeiro)
meios para a transformação, seja a divinatórios e lhe disse que a viagem não se
tecnologia ou a guerra. encontrava sob bons auspícios. E que se ele
desejasse que tudo corresse bem deveria se
Símbolo: mão de pilão, espada e escudo
vestir inteiramente de branco e não sujar
suas roupas até chegar ao palácio, devendo
Cor: branca e azul
também manter silêncio absoluto até o
Comida: inhame pilado momento em que encontrasse seu filho. E
assim fez Oxalá.
Dia da semana: sexta-feira
Exu, contudo, que adorava
Saudação: Exeuê, babá!, Epa Babá! atormentar Oxalá, disfarçou-se de mendigo e
apareceu no caminho deste, pedindo a ajuda
para levantar um pesado saco de carvão que
OXALUFÃ se encontrava no chão. Sem poder
responder nada e sendo piedoso, Oxalá
Oxalufã é o princípio da criação, o levanta o saco de carvão para Exu, mas
vazio, o branco, a luz, o espaço onde tudo estando este saco com o fundo rasgado,
pode ser criado, e também a paz, a abre-se e cai sobre Oxalá sujando sua roupa
harmonia, a sabedoria que vem depois do branca. Exu ri loucamente e se vai.
conflito (Oxaguiã). O fim do círculo e o
Prevenido como sempre fora, Oxalá
recomeço. Oxalufã é o compasso do terra,
toma banho num rio e veste roupas brancas
Oduduwa. Caminha apoiado em seu cajado
novamente. E segue seu caminho.
cerimonial, que é o também o símbolo da
Novamente Exu se disfarça e pede ajuda ao
ligação que ele estabeleceu entre o Orun (o
viajante, dessa vez para entornar um barril
céu) e o Ayê (a terra). O grande pai ioruba,
de óleo num tacho.
considerado a bondade masculina.
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