Você está na página 1de 25

Mitos

dos
Orixás
do Candomblé Paulista
Profa. Dra. Rita Amaral
Textos base do curso “Mitologia e Arte Sacra Afro-Brasileiras”, oferecido pelo
Museu de Arqueologia da Universidade de São Paulo.
1o. Semestre de 2000
Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 2
Rita Amaral
Março/julho de 2000

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 3
Rita Amaral
Março/julho de 2000

encruzilhada a princípio não é caminho

Mitos dos Orixás do Candomblé algum e ao mesmo todos eles) Os pés de


qualquer animal também são de Exu. E Exu
Paulista
é controvertido, porque tem um gênio
travesso (Em Cuba, por causa disso ele é o
Este texto é composto por mitos dos orixás
Menino Jesus) e faz o que lhe pedem. Não
recolhidos por mim na pesquisa de campo e
bibliográfica que fiz com vistas à elaboração tem noção de bem e de mal e se movimenta
de minha Dissertação de Mestrado em
apontando o pênis pro lugar onde quer ir.
Antropologia Social, defendida em 1992 junto
ao Departamento de Antropologia da Não existe lugar, no passado, presente ou
Universidade de São Paulo, intitulada “Povo-
futuro a que Exu não possa ir. Existe um oriki
de-santo, povo de festa – um estudo
antropológico do estilo de vida dos adeptos (verso sagrado) que diz, inclusive, que "Exu
do candomblé paulista”, financiada pela
mata ontem um passarinho com pedra que
FAPESP e pelo CNPq.
atirou hoje."

Rita Amaral Exu também é associado à


Doutora em Antropologia Social pela
sexualidade, a segunda fome humana. O dia
Universidade de São Paulo
da semana: segunda-feira (o primeiro dia na
semana ioruba , que tem 4 dias).
EXU Existem infinitos avatares e mitos de
Exu. Um deles, conta que "Exu, filho

Exu é o primeiro orixá a ser louvado primogênito de Iemanjá com Orunmilá, o

no candomblé, porque representa o principio deus da adivinhação e irmão de Ogum,

do movimento. Uma vez acionado é preciso Xangô e Oxóssi, era voraz e insaciável.

controla-lo, como a qualquer movimento. Conseguiu comer todos animais da aldeia em

Como a fome é um dos motivos que levam o que vivia. Depois disso, passou a comer as

homem a se mover em direção a um objetivo, árvores, os pastos, tudo que via até chegar

Exu come demais. E por comerem as ao mar. Orunmilá previu então que Exu não

plantações, é que as formigas são tidas pararia e acabaria comendo os homens, e

como sendo de Exu e a terra dos tudo que visse pela frente, chegando mesmo

formigueiros também. Ele é compreendido na a comer o céu. Ordenou então a Ogum que

África como um deus do movimento (nada a contivesse o irmão Exu a qualquer custo.

ver com o diabo cristão, embora o Para conseguir isto, Ogum foi obrigado a

sincretismo o associe assim, no Brasil), que matar Exu, a fim de preservar a terra criada e

come tudo que pode, e que é "quente". os seres humanos. Mas mesmo depois da
morte de Exu, a natureza, os pastos, as
Exu mora nas encruzilhadas (a idéia
árvores, os rios, tudo permaneceu ressecado
é "o que é mas não é", sempre. Uma

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 4
Rita Amaral
Março/julho de 2000

e sem vida, doente, morrendo. Um babalaô ferramentas, com a foice ele abriu os
alertou Orunmilá de que o espírito de Exu primeiros caminhos para o resto do mundo, o
sentia fome e desejava ser saciado, que dá a ele o poder de abri-los ou fecha-los.
ameaçando provocar a discórdia entre os Com a faca ele fez o primeiro sacrifício ritual,
povos como vingança pelo que Orunmilá e por isso sempre se louva Ogum durante
Ogum haviam feito. Orunmilá determinou estes sacrifícios e sua invenção da faca.
então que em toda e qualquer oferenda que Com o ancinho ele arou terras e plantou, com
fosse feita pelos homens a um orixá, a tesoura cortou peles e inventou os abrigos.
houvesse uma parte em homenagem a Exu, Com o machado cortou árvores para
e que esta parte seria anterior a qualquer construir abrigos, com o martelo pode unir
outra, para que se mantivesse sempre com pregos que inventou, os troncos. Com a
satisfeito e assim possibilitasse a concórdia". cunha pode levantar grandes pesos e assim
aconteceu de Ogum, com a espada que
Símbolo: Okó, ou ogó (pênis) de madeira
forjou, guerrear e conquistar territórios para
Cor: preto e azul escuro entre os iorubas,
seu povo. Ele, no entanto, não quis ser rei,
preto e vermelho entre os angolas
pois preferia os desafios ao poder. Continuou
Comida: de azeite de dendê, carnes, um lutando e inventando para sempre. Hoje em
prato de carne com alface, tomates, dia diz-se que os computadores são de Ogun
eranpeteré e filhos de Ogun são também todos os
analistas de sistemas.
Elemento: fogo e ar
Ogun só cometeu um erro nos mitos,
Saudação: Laroiê, Exu!
quando seu pai mandou que fizesse uma
tarefa e ele, pelo caminho, embebedou-se
OGUM
com vinho de palmeira e acabou não
realizando o que devia. A partir daí nunca
O orixá Ogun é um dos mais amados bebeu, mas diz-se que os filhos de Ogun
na cultura ioruba. Em primeiro lugar porque adoram vinho branco e devem tomar muito
ele foi o primeiro ferreiro. Como foi ele, cuidado com bebidas.
também, quem descobriu a fundição e
A guerra é de Ogun, cujo nome
inventou todas as ferramentas que existem.
significa exatamente guerra. Como Ogun
Portanto, é o patrono da tecnologia e da
nunca se cansa de lutar, costuma-se chamar
própria cultura, pois sem as ferramentas
por sua ajuda em situações em que é
nada mais poderia ser inventado até mesmo
extremamente difícil continuar lutando ou
plantar em grandes extensões seria
quando o inimigo é extremamente forte. Não
extremamente difícil. Tendo inventado as
se deve invocar Ogun à toa, pois seu gênio é

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 5
Rita Amaral
Março/julho de 2000

extremamente violento e diz um oriki que ele Tendo sido roubada por Xangô, seu irmão,
“mata o injusto e o justo, o ladrão e o dono Ogum passou a viver sozinho, para a guerra
da casa roubada” (porque permitiu que e a metalurgia.
acontecesse) portanto, este orixá, que não
Símbolo: obé (facão)
perdoa.
Cor: azul cobalto (ou azul ferreiro, como
Ogun vive sozinho; é um solteirão
chamam alguns) A cor exata é o azul da
convicto. Teve muitas mulheres mas não vive
chama do fogo ou verde
com nenhuma, e criou um filho adotivo
Comida: inhame ou feijoada
abandonado nas mãos dele por Iansã, a
deusa dos ventos e raios que por sua vez o Saudação: Ogun Iê! Ogun asi wa jo (o que
havia adotado de Oxum, a deusa do amor e vai na frente)
da riqueza Um dos mitos sobre ele diz que
Dia: terça-feira
Ogum, é filho de Iemanjá com Odudwa.
Desde criança já era destemido, impetuoso,
arrojado e viril, tendo se tornado sempre OXOSSI

mais e mais um brilhante guerreiro e


conquistado, para seu pai, muitos reinos, não
Oxóssi, é filho de Iemanjá com
havendo, por esta razão, um só caminho que
Orunmilá. É divinização da floresta, reinando
Ogum não tenha percorrido. Nos intervalos
sobre o verde sobre os animais selvagens,
entre as guerras e as conquistas, Ogum criou
dos quais é considerado o dono e dos quais
os metais, a forja e as ferramentas que
tem todas as virtudes. Oxossi é sagaz como
facilitaram a vida dos homens no mundo. Ele
o leopardo, forte como o leão, leve como um
forjou a primeira faca, a primeira ponta de
pássaro, silencioso como um tigre,
lança, a primeira espada, a primeira tesoura.
observador como a coruja, sabe se esconder
Um irmão dedicado, diz o mito que Ogum
como um tatu, é vaidoso como o pavão, corre
tinha por Oxóssi uma afeição muito especial,
como os coelhos, sobe em árvores como
defendendo-o várias vezes de seus inimigos
macaco, conhece os animais profundamente
e passando mesmo a morar fora de casa
e com eles partilha o conhecimento da
com Oxóssi, quando este foi expulso de casa
natureza.
por Iemanjá.

Diz ainda o mito que foi Ogum quem Dizem os mitos que aprendeu a

ensinou Oxóssi a defender-se, a caçar e a caçar com seu irmão Ogum, quando este lhe

abrir seus próprios caminhos nas matas onde deu as pontas de flechas e, mais tarde, a

reina. Ogum teve muitas mulheres, a espingarda. A essência de Oxossi é "atingir

principal delas Iansã, guerreira como ele. um objetivo". Fixar um alvo e atingi-lo.

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 6
Rita Amaral
Março/julho de 2000

Alimentar a família. Oxossi sempre foi o transformam em pássaros e atacam as


responsável por alimentar a família. É pessoas e cidades com doenças e miséria.
considerado o orixá que dá de comer às
Tendo uma destas feiticeiras
pessoas, pois sob seus domínios estão os
pousado sobre o palácio do rei de Ketu, e os
animais e os vegetais. Assim, invoca-se a
demais caçadores do reino perdido todas as
energia de Oxóssi quando se quer encontrar
suas flechas tentando matá-la, Oxóssi, com
algo ou atingir algum objetivo e para prover
apenas uma, deu cabo do perigoso pássaro,
sustento (moral ou físico) durante as
tendo sido conclamado o rei de Ketu. Pede-
jornadas.
se a Oxóssi, portanto, que destrua feitiços ou
energias maléficas.
No limite, é Oxossi o patrono da
natureza, enquanto Ogum o é a cultura.
Um dia, enquanto caçava elefantes
Como sempre foi muito observador aprendeu
para retirar-lhes as presas, Oxóssi encontrou
também os mistérios e poderes das plantas
e apaixonou-se por Oxum, a deusa das
com Ossain, orixá dono dos poderes de cura
águas doces e do ouro que repousa em seus
das folhas, que certa vez o enfeitiçou,
leitos e com ela teve um filho, Logun-Edé.
levando-o para o fundo da floresta a fim de
Filho da floresta com as águas dos rios,
ter companhia. Iemanjá, sua ciumenta mãe,
Logun-Edé é considerado o orixá da fartura e
enfurecendo-se, mandou que Ogum fosse
da riqueza que ambos os domínios
buscar seu irmão na floresta e o arrancasse
apresentam e dos quais compartilha.
dos feitiços de Ossain (invoca-se Oxossi,
portanto, quando se quer encontrar remédios Símbolo: ofá (arco e flecha)
para certos males, embora seja necessário
Cor: azul celeste
pedir a Ossain que o remédio faça efeito).
Ogum assim o fez, mas como Oxóssi Comida: milho e coco.

relutasse em voltar ao lar, e ao voltar Dia da Semana: quinta-feira


desfeiteasse sua mãe, esta o proibiu de viver
Elemento: ar e terra
dentro da casa, deixando-o ao relento. Como
havia prometido ao irmão ser sempre seu Saudação: Odé Aro-le

companheiro, Ogum foi viver também do lado


de fora de casa. OSSAIN

Oxóssi tornou-se o melhor dos


caçadores e diz o mito que foi ele quem Ossain, é a energia mágico/curativa
livrou Araketu, sua cidade, de um grande das folhas e por isso divinizada na forma do
feitiço das perigosíssimas ajés (feiticeiras senhor das folhas e dos remédios. Seu
africanas) Iyami Oxorongá, que se interesse pela ciência tornou-o um solitário

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 7
Rita Amaral
Março/julho de 2000

desde que desceu do orum (o céu ioruba). Ossain, ao ver o que acontecia,
Embrenhou-se pelas florestas e vive para pronunciou palavras mágicas que solicitavam
descobrir e se apoderar dos segredos que as folhas voltassem às matas, sua casa
mágicos das folhas, o elemento mais e seu domínio. Todas as folhas voltaram,
importante, sem dúvida, no candomblé. mas cada orixá ficou conhecendo o poder
Alguns mitos dizem que Ossain aprendeu os daquelas que conseguiu apanhar. Só que
segredos das folhas com Aroni (uma espécie elas não tinham o mesmo axé (poder,
de gnomo africano, que tem uma perna só) e energia) que quando estavam sob o domínio
com os pássaros (alguns deles a forma de Ossain. Para evitar novos episódios de
tomada pelas temíveis feiticeiras africanas roubo e inveja, Ossain permitiu, então, que
(ajé) Iyami oxorongá, cujo nome não deve cada orixá se tornasse dono de algumas
ser pronunciado para não atraí-las). folhas cujo poder mágico, de conhecimento e
cura ele liberaria quando lhe pedissem ao
Sentindo-se sozinho, enfeitiçou
retirá-las de suas plantas. Em troca exigiu
Oxóssi, a quem sempre encontrava nas
que jamais cortassem ou permitissem o corte
matas, e o levou para os fundos destas onde
de uma planta curativa ou mágica.
lhe ensinou muitos segredos e pretendia
mantê-lo (alguns mitos dizem que como Toda a medicina ioruba se baseia,
amigo, outros dizem que como amante) o portanto, nos poderes de Ossain sobre as
que Iemanjá e Ogum não permitiram, folhas-remédio e Obaluaiê o deus que rege
voltando Ossain à sua solidão. as doenças graves. Ambos os orixás são
muito temidos e respeitados, porque também
Segundo o mito, Xangô, o deus
entre os iorubas, o mesmo princípio que
trovão, desejando obter os fundamentais
cura, mata. Remédio e veneno são questão
poderes de Ossain, pediu à sua mulher,
de grau.
Iansã, a deusa dos ventos e das
tempestades, que ventasse muito no lugar Símbolo: Opá Ossain um ramo de folhas com
onde morava Ossain, para que as folhas um pássaro pousado, indicando seus
sagradas que guardava em sua cabaça de poderes de cura e de magia.
segredos fossem espalhadas e ele pudesse
Cor: verde e branca
apanhá-las.
Comida: acarajé, abará, ekuru, farofa, emu
Por seu amor a Xangô, Iansã assim (cachaça)
fez. No entanto, quando vento espalhou as
Dia da semana: quinta-feira
folhas todos os orixás correram para apanhá-
Elemento: ar
las, sabendo de seus poderes.
Saudação: Ewê! Aça!

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 8
Rita Amaral
Março/julho de 2000

Assim cresceu Obaluaiê, sempre coberto por


OBALUAIÊ palhas, escondendo-se das pessoas,
taciturno e compenetrado, sempre sério e até
Obaluaiê ou Omolu (os nomes se mal-humorado.
referem a fases míticas, onde o mesmo deus
seria mais jovem ou mais velho), é o energia Um dia, caminhando pelo mundo,

que rege as pestes como a varíola, sarampo, sentiu fome e pediu às pessoas de uma

catapora e outras doenças de pele. Ele aldeia por onde passava que lhe dessem

representa o ponto de contato do homem comida e água. Mas as pessoas, assustadas

(físico) com o mundo (a terra). A interface com o homem coberto desde a cabeça com

pele/ar. A aparência das coisas estranhas e a palhas, expulsaram-no da aldeia e não lhe

relação com elas. Ele também rege as deram nada. Obaluaiê, triste e angustiado

doenças transmissíveis em geral. No aspecto saiu do povoado e continuou pelos arredores,

positivo, ele rege a cura, através da morte e observando as pessoas. Durante este tempo

do renascimento. os dias esquentaram, o sol queimou as


plantações, as mulheres ficaram estéreis, as
Diz o mito que Obaluaiê é filho de crianças cheias de varíola, os homens
Nana (a lama primordial de que foram feito doentes. Acreditando que o desconhecido
os humanos) e Oxalá, tendo nascido cheio coberto de palha amaldiçoara o lugar,
de feridas e marcas pelo corpo como sinal do imploraram seu perdão e pediram que ele
erro cometido por ambos, já que Nana novamente pisasse na terra seca.
seduziu Oxalá mesmo sabendo que lhe era
interditado por ser ele o marido de Iemanjá. Ainda com fome e sede, Obaluaiê
atendeu ao pedido dos moradores do lugar e
Ao ver o filho feio e malformado, novamente entrou na aldeia, fazendo com
coberto de varíola, Nanã o abandonou à que todo o mal acabasse. Então, o
beira do mar, para que a maré cheia o alimentaram e lhe deram de beber,
levasse. Iemanjá o encontrou quase morto e rendendo-lhe muitas homenagens. Foi
muito mordido pelos peixes e, tendo ficado quando Obaluaiê disse que jamais negassem
com muita pena, cuidou dele até que ficasse alimento e água a quem quer fosse, tivesse a
curado. No entanto Obaluaiê ficou marcado aparência que tivesse. E seguiu seu
por cicatrizes em todo o corpo, e eram tão caminho.
feias que o obrigavam a cobrir-se
inteiramente com palhas. Não se via de Chegando à sua terra, encontrou

Obaluaiê senão suas pernas e braços, onde uma imensa festa dos orixás. Como não se

não fora tão atingido. Aprendeu com Iemanjá sentia bem entrando numa festa coberto de

e Oxalá como curar estas graves doenças. palhas, ficou observando pelas frestas da

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 9
Rita Amaral
Março/julho de 2000

casa. Neste momento Iansã, a deusa dos Oxumaré ou Oxumaré, é a energia


ventos, o viu nesta situação e, com seus das cores, da luz do sol após as chuvas, o
ventos levantou as palhas, deixando que arco-íris, e por isso mesmo associado às
todos vissem um belo homem, já sem serpentes, que são muito coloridas e
nenhuma marca, forte, cheio de energia e poderosas.
virilidade E dançou com ele pela noite
Conta o mito que apesar de tudo que
adentro. A partir deste dia, Obaluaiê e Iansã-
houvera com Obaluaiê, Nanã e Oxalá tiveram
Balé se uniram contra o poder da morte, das
outro filho: oxumaré. Contudo, como
doenças e dos espíritos dos mortos, evitando
novamente eles haviam desobedecido os
desgraças aconteçam aos homens.
preceitos de Orunmilá, oxumaré nasceu sem
Os iorubas acreditam que este mito braços e sem pernas, com a forma da
nos mostra que o mal existe, que ele pode serpente, rastejando pelo terra e, ao mesmo
ser curado, mas principalmente que é preciso tempo, de homem. Mais uma vez
ter consciência do momento em que ele decepcionada, Nanã abandonou oxumaré.
terminou, sabendo recomeçar após um
oxumaré entretanto possuía grande
violento sofrimento.
capacidade adaptativa e, mesmo sem
membros para locomover-se, aprendeu a
Obaluaiê rege também a força da
subir em árvores, a caçar para comer, a
terra (herdado de sua filiação a Nanã). A
colher as batatas doces de que tanto
umidade dela (por suas adoção por Iemanjá)
gostava, a nadar e possuía imensa astúcia e
e as doenças das plantações.
inteligência.
Símbolo: xaxará(um cilindro de palha
Orunmilá, o deus da adivinhação do
trançada com sementes mágicas e segredos
futuro, admirando-se e apiedando-se dele,
dentro)
tornou-o um orixá belo, de sete cores de luz,
Cor: branca, preta e vermelha
encarregando-o de levar e trazer as águas do
Comida: pipoca (deburu), mostarda, aberém, céu para o palácio de Xangô. É oxumaré
feito à base de milho de canjica triturado portanto quem traz as águas da chuva e é a
ele que se pede que chova.
Dia da semana: segunda-feira

Saudação: Atotô! Como seu percurso era longo, Oxalá,


seu pai, fez com que ele tomasse a forma do
OXUMARÊ arco-íris quando tivesse esta missão a
realizar. Com as águas da chuva, oxumaré
traz as riquezas ao homens ou a pobreza.

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 10
Rita Amaral
Março/julho de 2000

oxumaré vive com sua irmã Ewá no fim do mulheres favoritas de seus dois irmãos, às
arco-íris. quais seduziu com sua beleza, inteligência e
poder, pois ele reinou sobre todas as terras e
Símbolo: dã (cobra de ferro)
teve como esposas Oxum, a deusa do amor
e da beleza, roubada de Oxóssi, o deus das
Símbolo: A cobra (eju) de ferro enrolada
matas, e Iansã, a sensual deusa dos ventos
numa haste que representa a árvore,
e tempestades, roubada de seu irmão Ogum,
simbolizando o poder da adaptaçãoComida:
o deus da guerra. Ele manteve sempre três
batata doce
esposas, sendo a terceira delas a poderosa
Dia da semana: quinta-feira Obá, guerreira forte, a única a enfrentar
Ogum numa luta física (perdendo, embora, a
Saudação: Arroboboi Oxumarê! luta) e senhora dos segredos da cozinha, aos
quais Xangô não resistiu, embora Obá não
fosse uma mulher bonita.

XANGÔ Em suas lutas Xangô conta sempre


com a vidência e magia da deusa dos rios,
Oxum, com a coragem e impetuosidade de
Iansã e com a força bruta de Obá. Xangô
Xangô, em seu avatar Ayrá é a força
mora num palácio nos céus, onde prepara as
representada pelo som do Trovão, e no
chuvas para sua mãe Iemanjá
avatar Aganju, é a terra firme. É um orixá que
representa o poder em todas as suas Xangô tem poderes secretos, e seu
dimensões: da riqueza, da sedução, da machado bipene é o portador de sua justiça.
justiça, da força física, da inteligência. É O barulho dos trovões é o machado de
irmão de Ogum e de Oxóssi, sendo um filho Xangô caindo do céu para fazer justiça.
mais caseiro e próximo de Iemanjá.
Símbolo: oxé (machado)
Xangô Aganju, a terra firme,
Cor: vermelha e branca ou marrom
apaixonou-se por sua mãe Iemanjá, o mar,
perseguindo-a por longo tempo até que ela, Comida: amalá
cansada, caiu e Aganju a possuiu. Deste Dia da semana: quarta-feira
incesto nasceram outros orixás, filhos de
Saudação: Kaô Kabiecilê, Xangô!
Iemanjá e Aganju, entre eles os Ibejis.

Xangô era extremamente OXUM


mulherengo e competitivo, tendo roubado as

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 11
Rita Amaral
Março/julho de 2000

Oxum é a força dos rios, que correm velho, recusou-se a ensinar o que sabia a
sempre adiante, levando e distribuindo pelo Oxum.
mundo sua água que mata a sede, seus
Oxum então seduziu Exu, que não
peixes que matam a fome e o ouro que
pôde resistir ao encanto de sua beleza e
eterniza as idéias dos homens nele
pediu-lhe roubasse o jogo de ikin (cascas de
materializadas. Como as águas das rios, a
coco de dendezeiro) de Orunmilá. Para
força de Oxum vai a todos os cantos da terra.
assegurar seu empreendimento Oxum partiu
Ela dá de beber as folhas de Ossain, aos
para a floresta em busca das Iyami oxorongá,
animais e plantas de Oxóssi, esfria o aço
as perigosas feiticeiras africanas, a fim pedir
forjado por Ogum, lava as feridas de
também a elas que a ensinassem a ver o
Obaluaiê, compõe a luz do arco-íris de
futuro. Como as Iyami desejavam provocar
oxumaré.
Exu há tempos, não ensinaram Oxum a ver o
Oxum é por isso associada à futuro, pois sabiam que Exu já havia roubado
maternidade, da mesma maneira que os segredos de Orunmilá, mas a fazer
Iemanjá. Por sua doçura e feminilidade, por inúmeros feitiços em troca de que a cada um
sua extrema voluptuosidade advinda da deles elas recebessem sua parte.
água, Oxum é considerada a deusa do amor.
Tendo Exu conseguido roubar os
Como acontece com as águas, segredos de Orunmilá, o deus da
nunca se pode prever o estado em que adivinhação se viu obrigado a partilhar com
encontraremos Oxum, e também não Oxum os segredos do oráculo e lhe entregou
podemos segura-la em nossas mãos. Assim, os 16 búzios com que até hoje as mulheres
Oxum é o ardil feminino. A sedução. A deusa jogam. Oxum representa, assim a sabedoria
que seduziu a todos os orixás masculinos. e o poder feminino.

Diz o mito q Oxum era a mais bela e Em agradecimento a Exu, Oxum deu
amada filha de Oxalá. Dona de beleza e a Exu a honra de ser o primeiro orixá a ser
meiguice sem iguais, a todos seduzia pela louvado no jogo de búzios, e entrega a eles
graça e inteligência. Oxum era também suas palavras para que as traga aos
extremamente curiosa e apaixonada. E sacerdotes. Assim, Oxum é também a força
quando certa vez se apaixonou por um dos da vidência feminina.
orixás, quis aprender com Orunmilá, o melhor
Mais tarde, Oxum encontrou Oxóssi
amigo de seu pai, a ver o futuro. Como o
na mata e apaixonou-se por ele. A água dos
cargo de oluô (dono do segredo) não podia
rios e floresta tiveram então um filho,
ser ocupado por uma mulher, Orunmilá, já

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 12
Rita Amaral
Março/julho de 2000

chamado Logun-Edé, a criança mais linda, de rios, e também o vapor fino sobre as
inteligente e rica que já existiu. lagoas, que se espalha nos dias quentes
pelas florestas. Logun representa o encontro
Apesar do seu amor por Oxossi,
de naturezas distintas sem que ambas
numa das longas ausências destes Oxum foi
percam suas características. É filho de
seduzida pela beleza, os presentes (Oxum
Oxóssi com Oxum, dos quais herdou as
adora presentes) e o poder de Xangô, irmão
características. Assim, tornou-se o amado,
de Oxossi, rompendo sua união com o deus
doce e respeitado príncipe das matas e dos
da floresta e da caça. Como Xangô não
rios, e tudo que alimenta os homens, como
aceitasse Logun-Edé em seu palácio, Oxum
as plantas, peixes e outros animais, sendo
abandonou seu filho, usando como pretexto a
considerado então o dono da riqueza e da
curiosidade do menino, que um dia foi vê-la
beleza masculina. Tem a astúcia dos
banhar-se no rio. Oxum pretendia abandoná-
caçadores e a paciência dos pescadores
lo sozinho na floresta, mas o menino se
como principais virtudes.
esconde sob a saia de Iansã a deusa dos
raios que estava por perto. Oxum deu então Dizem os mitos que sendo Oxóssi e
seu filho a Iansã e partiu com Xangô Oxum extremamente vaidosos, não puderam
tornando-se, a partir de então, sua esposa viver juntos, pois competiam pelo prestigio e
predileta e companheira cotidiana. admiração das pessoas e terminaram
separando-se. Ficou combinado entre eles
Símbolo: abebê
que Logun-Edé viveria seis meses nas águas
dos rios com Oxum e seis meses nas matas,
Cor: amarela
com seu pai Oxóssi. Ambos ensinariam a
Comida: ipetê Logun a natureza dos seus domínios. Ele
seria poderoso e rico, além de belo.
Dia da semana: Sábado
No entanto, o hábito da espreita
Saudação: Ora ieieu, Oxum! aprendido com seu pai, fez com que, um dia,
curioso a respeito da beleza do corpo de sua
mãe, de que tanto se falava nos reinos das
LOGUN-EDÉ águas, Logun-Edé vestindo-se de mulher
fosse espiá-la no banho. Como Oxum
estivesse vivendo seu romance com Xangô,
Logun-Edé, chamado geralmente tio de Logun, e Xangô tivesse exigido como
apenas de Logun, é o ponto de encontro condição do casamento que ela se livrasse
entre os rios e florestas, as barrancas, beiras de Logun, Oxum aproveitou a oportunidade

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 13
Rita Amaral
Março/julho de 2000

para punir Logun com sua transformação Símbolo: ofá e abebê


num orixá meji (hermafrodita) e abandoná-lo
Cor: azul e amarela
na beira do rio. Iansã o encontra, e fascinada
Comida: coco, milho, feijão fradinho e peixe
pela beleza da criança leva Logun para casa
onde, juntamente com Ogum, passa a criá-lo Dia da semana: quinta-feira
e educa-lo.
Saudação: Loci loci, Logun!

Com Ogum Logun-Edé aprendeu a


arte da guerra e da forja e com Iansã o amor
à liberdade. Diz o mito que Logun tinha tudo, IANSÃ
menos amor das mulheres, pois mesmo
Iansã, quando roubada de Ogun por Xangô,
Iansã é a força dos ventos, dos
abandona Logun com seu tio, criando assim
furacões, das brisas que acalmam, das
um profundo antagonismo entre Xangô e
coisas que passam como o vento, dos
Logun, já que por duas vezes Xangô lhe tira
amores efêmeros, sensuais, das
a mãe.
tempestades, que assolam a existência mas
não duram para sempre.
Em outro episódio Logun vai brincar
nas águas revoltas (a deusa Obá, também
Iansã ajudava Ogum na forja dos
esposa de Xangô) e esta tenta matá-lo como
metais, soprando o fogo com o fole para
vingança contra Oxum, que lhe fizera uma
aviva-lo mais e mais, e assim fabricarem
enorme falsidade. Oxum, vendo em seu jogo
mais ferramentas para trabalhar o mundo e
de búzios o que estava sucedendo com seu
armas para as guerras de que ambos tanto
filho abandonado, pede a Orunmilá que o
gostavam. Por seu temperamento livre e
salve e este, que sempre atendia às preces
guerreiro, Iansã era uma companheira
da filha de Oxalá, faz uma oferenda a Obá,
perfeita para Ogum. Diz o mito que Iansã não
que permite então que os pescadores salvem
podia ter filhos, por isso adotou Logun-Edé,
Logun-Edé, encarregando-o de proteger, a
filho abandonado por Oxum, e o criou
partir daquele dia, os pescadores, as
durante algum tempo.
navegações pelos rios e todos os que
vivessem à beira das águas doces. Diz o mito, também , que Iansã era
tão linda que, para fugir ao assédio
Logun nunca se casou, devido a seu
masculino vestia-se com uma pele de búfalo
caráter infantil e hermafrodita e sua
e saía para a guerra. Que era amiga tão leal
companhia predileta é Ewá, que também
que foi ela a primeira a realizar uma
vive, como ele, solitária e no limite de dois
cerimônia de encaminhamento da alma de
mundos diferentes.

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 14
Rita Amaral
Março/julho de 2000

um amigo caçador ao orum (céu). Iansã não ser Obá extremamente forte e destemida,
parava jamais. Ogum se viu obrigado a usar de um truque
contra ela, espalhando quiabo amassado no
Um dia em que Xangô foi visitar seu
chão, e atraindo Obá para aquele canto,
irmão Ogum e encomendar-lhe armas para a
onde a guerreira escorregou e não apenas
guerra, Iansã (também conhecida como Oyá)
perdeu a luta como foi possuída à força por
apaixonou-se por Xangô e partiu para viver
Ogum, que se tornou seu inimigo.
com ele, deixando Logun-Edé com Ogum,
que terminaria de criá-lo. A partir de então, Sendo uma cozinheira excelente foi
tornou-se uma das três esposas de Xangô e escolhida para ser a terceira esposa de
com ele reina e luta, enviando seus ventos Xangô, o deus trovão.
para limpar o mundo e anunciando a
Sempre se sentindo menos desejada
chegada dos raios e trovões de seu amado.
por seu amado que Oxum e Iansã, Obá se
Símbolo: eruxim esmerava em agradá-lo com seus pratos
cada vez mais aprimorados. Mas Oxum era
Cor:vermelha ou cor de rosa
sempre a preferida de Xangô. Um dia Obá
Comida: acarajé
não se conteve e perguntou a Oxum qual o
Dia da semana: quarta-feira segredo de sua sedução. Oxum, que vivia
com a cabeça enrolada em turbantes
Saudação: Eparrei, Oyá!
maravilhosos, disse que havia cortado a
própria orelha e colocado no amalá (uma
comida à base de quiabo) de Xangô que, ao
OBÁ
comê-lo, por ela se perdera de paixão para
sempre.

Obá representa as águas revoltas Obá então cortou a própria orelha e a


dos rios. As pororocas, as águas fortes, o colocou no amalá. Ao ver Obá com um
lugar das quedas são considerados domínios ferimento no lugar da orelha Xangô quis
de Obá. Ela representa também o aspecto saber o que houvera e Obá contou. Neste
masculino das mulheres (fisicamente) e a momento Oxum tirou seu turbante e,
transformação dos alimentos de crus em mostrando as duas orelhas intactas a Obá,
cozidos. desatou a rir.

Por sua envergadura física e força, Xangô, zangado com a insensatez de


tornou-se uma guerreira, a única mulher Obá e enojado por ver sua orelha na comida,
capaz de desafiar Ogum para uma luta, e por expulsou-a de seu palácio e Obá tanto

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 15
Rita Amaral
Março/julho de 2000

chorou e teve raiva que se transformou num transformações, mudanças e adaptações são
rio revoltoso. Na África, no lugar onde se regidas por ela.
encontram os rios Obá e Oxum o estouro das
Ewá é virgem, bela e iluminada.
águas é extremamente violento.
Apesar desta beleza e do assédio dos orixás
Outra versão do mito diz que Xangô masculinos, nunca quis se casar, sendo uma
teve pena de Obá e determinou que a partir moça quieta e isolada, voltada para o
de então apenas ela fosse a dona da cozinha conhecimento dos segredos das
e de todas as panelas, opons, alguidares e transformações.
louças, proibindo que qualquer outra iabá se
Nanã, preocupada com sua filha,
aproximasse de seus domínios. A partir de
pediu a Orunmilá que lhe arranjasse um
então, o sabor das comidas, o sucesso das
amor, um casamento, mas Ewá desejava
receitas e todo material da cozinha
viver sozinha, dedicada à sua tarefa de fazer
pertencem a Obá, responsável pela
cair a noite no horizonte, puxando o sol com
transformação dos alimentos.
seu arpão.
Símbolo: ofá, espada, colher de pau
Como Nanã insistisse em seu
Cor: vermelha e amarela
casamento, Ewá pediu ajuda a seu irmão
Comida: amalá oxumaré, o arco-íris, que a escondeu no
lugar onde ele se acaba, por trás do
Dia da semana: Quarta-feira
horizonte, e Nanã não mais pôde alcançá-la.
Saudação: Obá xirê!
Assim, os dois irmãos passaram a viver
juntos, para sempre inatingíveis. Ambos
regem o intangível e Ewá também é
EWÁ compreendida como a energia que torna
possível o abandono do corpo e a entrada do
espírito numa nova dimensão.

Muito pouco se sabe atualmente


No Brasil poucos candomblés
sobre Ewá.
cultuam Ewá, pois dizem que o
conhecimento sobre as folhas necessárias ao
Ela é também filha de Nanã, e é vista
seu culto foi perdido durante o processo de
como horizonte, o encontro do céu com a
aculturação dos africanos escravos.
terra, do céu com o mar. Ewá representa
ainda outros horizontes, como a interface
Símbolo: arpão e cabaça
onde se tocam a vida e a morte, o dia e a
Cor: rosa ou vermelha
noite e outros. Assim, todas as

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 16
Rita Amaral
Março/julho de 2000

Comida: batata doce que o homem começa a desenvolver cultura.


Seja como for, Nanã é o princípio do ser
Dia da semana: segunda-feira
humano físico. E assim é considerada a mais
Saudação: Rirró!
velha das iabás (orixás femininos).

Dizem os mitos que nunca foi bonita.


Sempre ranzinza, instável, sua aparência
NANÃ
afastava os homens, que dela tinham medo.

Nanã, teve dois filhos com Oxalá:


Nanã é a lama primordial, o barro, a Obaluaiê e oxumaré (a terra e o arco-íris) e
argila da qual são feitos os homens. Dela uma filha, Ewá, que teria nascido de uma
saem seres perfeitos e imperfeitos, relação entre Nanã e Oxóssi ou, ainda, entre
modelados por Oxalá e cuja cabeça é Nanã e Orunmilá, conforme o mito.
preparada pelo sensível Ajalá.
Como já vimos nos mitos de
Dizem os mitos que antes de criar o Obaluaiê e oxumaré, ela os gerou
homem do barro, Oxalá tentou criá-lo de ar, defeituosos, por ter quebrado uma interdição
de fogo, de água, pedra e madeira, mas em e mantido relações sexuais com Oxalá,
todos os casos havia dificuldades. O homem marido de Iemanjá. Abandonou a ambos, que
de ar esvanecia; não adquiria forma. O de foram criados por outros orixás, e acabou
fogo, consumia-se, o de pedra era inflexível e sozinha quando Ewá, para fugir de um
assim por diante. Foi então que Nanã se casamento que sua mãe lhe impingia, fugiu
ofereceu a Oxalá, para que com ela criasse de casa para morar no horizonte entre o céu
os homens, impondo, contudo, a condição de e o mar.
que quando estes morressem fossem
Alguns mitos dizem que ela é
devolvidos a ela.
também a mãe de Iansã, os ventos, que foi
Sendo o barro, Nana está sempre no expulsa de casa para não matar sua mãe, a
principio de tudo, relacionada ao aspecto da lama, ressecando-a.
formação das questões humanas, de um
Nanã sempre esteve em demanda
indivíduo e sua essência. Ela é relacionada
com Ogum, que amava muito sua mãe
também , freqüentemente, aos abismos,
Iemanjá, tomando partido desta na disputa
tomando então o caráter do inconsciente, dos
que se estabeleceu entre elas pelo amor de
atavismos humanos. Nanã tanto pode trazer
Oxalá.
riquezas como miséria. Está relacionada,
ainda, ao uso das cerâmicas, momento em

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 17
Rita Amaral
Março/julho de 2000

Ogum muitas vezes tentou se É também a permanência dentro da


apoderar dos territórios lamacentos de Nanã impermanência e impermanência na
sem, no entanto, conseguir. Como diversão, permanência. O ciclo vital, que não muda
Ogum gostava de provocar a orixá, que com o transcorrer da eternidade. A infinita e
exigia de Oxalá que este fosse castigado, generosa oferta que a natureza nos faz,
sem nunca ter conseguido, pois Ogum tinha desde que saibamos reverencia-la e louvá-la.
fama de justo. Tantas vezes Ogum irritou É também conhecido, nos candomblés como
Nanã que ela não recebe nenhuma oferenda "Tempo", embora esta seja uma designação
feita ou cortada com objetos de metal e própria do rito angola.
mesmo o sacrifício de animais feito em sua
Diz o mito que no princípio de tudo, a
homenagem deve ser feito com faca de
primeira árvore nascida, foi Iroco. Iroko era
madeira ou coberta por um pano.
capaz de muita magia, tanto para o bem
Símbolo: ibiri quanto para o mal, e se divertia atirando
frutos aos pés das pessoas q passavam.
Cor: azul e branca
Quando não tinha o que fazer, brincava com
Comida: mostarda
as pedras que guardava nos ocos de seu
Dia da semana: segunda-feira tronco. Um dia, as mulheres de uma aldeia
próxima ficaram todas estéreis, por ação das
Saudação: Saluba!
Iyami. Então elas foram a Iroko e pediram
fertilidade. Iroko, contudo, exigiu dádivas em
IROKO troca, pois é preciso abrir espaço para
receber dons, como é preciso perder as
flores para receber os frutos. As mulheres
concordaram e prometeram muitos
Iroko é a árvore primordial. A
presentes. Uma delas, contudo, tendo como
primeira dádiva da terra (Oduduwa) aos
única riqueza seu filho, prometeu dar a Iroko
homens. Existe desde o princípio dos tempos
esta criança. Quando engravidaram, as
e a tudo assistiu, a tudo resistiu, a tudo
mulheres foram a Iroko e fizeram as
resistirá.
oferendas. Menos a que prometera a criança,
Iroko é a essência da vida pois ela amava muito o filhinho.
reprodutiva. Do poder da terra. Alguns mitos
Iroko ficou muito zangado. E
dizem que Iroko é o cajado de Oduduwa, a
aguardou o dia em que a criança brincava ao
Terra, que através dele ensina aos homens o
redor dele e a raptou. Quando a mãe foi
sentido da vida.
buscar a criança, Iroko lembrou a mulher de

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 18
Rita Amaral
Março/julho de 2000

sua promessa, ameaçando matar o outro coisas cíclicas, tudo que pode se repetir
filho que lhe dera caso ela retirasse "sua" infinitamente. A força contida, o equilíbrio.
criança dali. Então a mulher, desesperada,
Iemanjá uniu-se a Oxalá, a criação, e
procurou o babalaô, que jogando os búzios
com ele teve os filhos Ogum, Exu e Oxóssi e
sugeriu que ela mandasse fazer um boneco
Xangô.
de madeira com as feições de uma criança,
banhasse com determinadas ervas e quando
Como seus filhos se afastaram dela,
Iroko estivesse dormindo, substituísse a
Iemanjá foi aos poucos se sentindo mais e
criança pelo boneco. E assim ela fez. Dizem
mais sozinha e resolveu correr o mundo, até
que até hoje pode-se ver, nas gameleiras
chegar a Okerê, onde foi adorada por sua
brancas o bebe de Iroko, repousando deitado
beleza, inteligência e meiguice. Lá, o rei se
em seus galhos.
apaixonou por ela, desejando que se
tornasse sua mulher. Iemanjá então fugiu,
Em sua copa vivem também as Iyami
mas o Alafin colocou seus exércitos para
oxorongá, as ajés (feiticeiras, mulheres-
persegui-la. Durante sua fuga, foi
pássaros) da floresta.
encurralada por Oke (as montanhas) e caiu,
Símbolo: grelha cortando seus enormes seios, de onde
nasceram os rios. Assim, ela é também a
Cor: roxo terra
mãe de Oxum, Obá e Iansã (em alguns
Comida: verduras em geral
mitos).
Dia da semana: Quinta-Feira
Conta-se que a beleza de Iemanjá é
Saudação: Iroko!
tamanha que seu filho Xangô não resistiu a
ela e passou a persegui-la, com o desejo
IEMANJÁ incestuoso de possuí-la. Na fuga, Iemanjá cai
e corta os seios, dando origem às águas do
mundo e aos Ibejis, filhos de Xangô com
Iemanjá. Outro mito ainda, narra a sedução
Iemanjá, são todas as águas
em sentido contrário. É Iemanjá quem
salgadas e areias do mar. É considerada o
persegue seu filho Aganju (a terra firme) e
princípio de tudo, juntamente com a terra,
este é quem foge.
Oduduwa. Iemanjá é o mar que alimenta, que
umidifica as terras, que energiza a terra, e
Representando o inconsciente,
também o maior cemitério do mundo.
Iemanjá é considerada também a "dona das
Representa ainda as profundezas do
cabeças", no sentido de ser ela quem dá o
inconsciente, o movimento rítmico, todas as

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 19
Rita Amaral
Março/julho de 2000

equilíbrio necessário aos indivíduos para lidar de madeira, e os deu de presente a Oxum,
com suas emoções e desejos inconscientes. para q deles cuidasse e para que pudessem
ficar juntos para sempre.
Símbolo: abebê prateado
Símbolo: duas crianças, menino e menina
Cor: azul claro, verde-água, cristal
Cor: Rosa e Azul
Comida: arroz
Comida: caruru com amendoim e castanha
Saudação: Omi O! (Grande Água!)
de caju. Ibeji também gostam de tudo que
Dia da Semana: Sábado
crianças gostam, até uma banana amassada
com açúcar e com uma gema de ovo em
IBEJI cima.

Saudação: Ibeji O!

Os Ibejis representam a Dia da Semana: Todos


solidariedade, a gemelaridade (qualidade das
coisas gêmeas, compostas de dois ORUNMILÁ
inseparáveis, e assim do próprio processo de
conhecimento humano, composto de pares
Orunmilá, também conhecido como
inseparáveis de oposições). Representam
Ifá, é o princípio da intuição, da premonição,
ainda os irmãos, a infância, o inicio da vida,
os sentidos do espírito, o olhar que conhece
momento em que a dependência da
o futuro. É o deus invocado no jogo de
solidariedade é maior.
búzios, pois é ele quem conhece todos os
destinos (odus), cabeças (oris) e caminhos.
Um dos mitos diz que os orixás
Ele diz a Exu que movimente suas palavras
crianças, os gêmeos Ibejis, eram
até os búzios, indicando que orixá esta
companheiros de brincadeira de Logun-Edé e
regendo uma pessoa, porque, com q destino.
de Ewá, sendo filhos de Iemanjá. Um dia,
É considerado um avatar de Oxalá, pois ele
enquanto brincavam numa cachoeira, um
estava no começo do mundo. Olodumare (o
deles acabou se afogando. O Ibeji que ficou,
universo) Obatalá (o principio), Oxalá (a
começou então a se tornar a cada dia menos
criação), Oxaguiã (o conflito), Orunmilá
forte, mais melancólico e sem interesse pela
(intuição), Oduduwa (o planeta terra), Ajalá (o
vida. Foi então a Orunmilá e suplicou que
oleiro q molda os oris - cabeças)e Fururu (o
este lhe trouxesse seu irmão de volta.
sopro de vida) são considerados Oxalá todos
Não podendo fazer tal coisa, eles. O começo de tudo. O princípio dividido
Orunmilá transformou a ambos em imagens em oito, o infinito.

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 20
Rita Amaral
Março/julho de 2000

Diz o mito que Obatalá havia reunido disse não ficaria na terra, mas entregaria a
todos os materiais necessários à criação do seu pai uma herança que serviria
mundo e que mandou a Estrela da Manhã eternamente para todos os deuses de Oxalá.
convocar todos os orixás a fim de começar o E explicou que os 16 nomes que havia dito
trabalho com sua ajuda. Mas na hora eram os nomes de seus futuros filhos e que
marcada, apenas Orunmilá apareceu. cada um deles tinha um conhecimento. Que
Obatalá gostou muito da atitude de Orunmilá se transformaria numa palmeira e que com
e o recompensou, ordenando à Estrela da os caroços de seus frutos (seus filhos) se
Manhã que revelasse a Orunmilá todos os faria o jogo de Ifá, que poderia ser
segredos da criação e do porvir. E ela consultado quando se quisesse saber o
entregou a Orunmilá todos os segredos e futuro ou como resolver problemas.
materiais que compõem a vida humana, e
Símbolo:opanifá
que estavam escondidos há muito tempo
dentro de uma concha de caramujo guardada
Cor: verde e amarela
num vaso que ficava entre as pernas de
Obatalá. Orunmilá tornou-se, desde este dia, Comida: bananeira
o dono dos segredos, das magias, das
fórmulas dos ebós, dos rituais, de tudo Dia da semana: sexta-feira

quanto envolvia o conhecimento da alma


humana e de seu destino. Ele conhece a AJALÁ
vontade dos orixás e sabe com que matéria
foi feito cada homem.
Ajalá é o oleiro primordial. A parte de
Outro mito narra que Orunmilá/Ifá é Oxalá responsável pela criação física dos
filho dos dois princípios mágicos. Que homens, por seu corpo, sua cabeça. Ele
nasceu mudo e não disse uma só palavra até representa o aspecto mais orgânico do ser
a adolescência, quando seu pai lhe bateu humano; o tipo de barro, de maior ou menor
com um bastão. E neste dia ele disse : "Gbê- qualidade, mais ou menos cozido (o que
medji", palavra que ninguém compreendia. implica maior ou menor numero de
Quando apanhou de novo, tempos depois, problemas), mais claro ou escuro. Ajalá
disse: "Yeku-medji". E assim, em diversas mistura ao barro folhas, frutas, minérios,
ocasiões, ele foi dizendo palavras, as 16 sangues e uma série de materiais que
palavras q compõem o opelê-ifá. Depois, determinam como será aquela pessoa. Estes
disse a seu pai que se apanhasse mais ingredientes, com o tempo, perdem o axé
poderia dizer muito mais que uma só palavra. (energia) e precisam ser, de vez em quando,
O pai então bateu muito em Orunmilá, que

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 21
Rita Amaral
Março/julho de 2000

repostos, o que é feito nos rituais do necessária ao dinamismo da vida e da


candomblé, entre eles a iniciação. sociedade e a busca do conhecimento. Por
isso é compreendido como Oxalá moço,
Diz um dos mitos que Ajalá foi
enquanto a paz, a tranqüilidade, a
incumbido de moldar as cabeças dos
estabilidade, a sabedoria são compreendidos
homens com a lama do fundo dos rios e
como Oxalá velho, Oxalufã. Ele é também
outros elementos da natureza. Ele moldava
guerreiro, e sente prazer em destruir para q o
as cabeças e as punha para assar em seu
novo se estabeleça.
forno.
Um dos mitos diz que Oxaguiã
Ajalá tinha, contudo, o hábito de
nasceu apenas de Obatalá. Não teve mãe.
embriagar-se enquanto cozia o barro e criou
Nasceu dentro de uma concha de caramujo.
muitas cabeças defeituosas, queimando
E quando nasceu, não tinha cabeça, por isso
algumas e deixando outras com o barro cru.
perambulava pelo mundo, sem sentido.
A causa dos problemas que muitas pessoas
apresentam antes de serem iniciadas viria Um dia encontrou Ori numa estrada e
exatamente de um ori cru, ou queimado, ou este lhe deu uma cabeça de inhame pilado,
mal proporcionado feito durante alguma branca. Apesar de feliz com sua cabeça. ela
bebedeira de Ajalá. Como os orixás não esquentava muito, e quando esquentava
gostam de cabeças ruins, a pessoa ficaria Oxaguiã criava mais conflitos. E sofria muito.
desprotegida, sem a energia do orixá. Foi quando um dia encontrou a morte (iku),
Depois que Ajalá terminava de fazer os oris que lhe ofereceu uma cabeça fria. Apesar do
(cabeças) Obatalá soprava nelas e lhes dava medo que sentia, o calor era insuportável, e
eni, a vida. ele acabou aceitando a cabeça preta que a
morte lhe deu. Mas essa cabeça era dolorida
Ajalá é considerado avatar de Oxalá,
e fria demais. Oxaguiã ficou triste, porque a
mantendo as mesmas características. Não é
morte com sua frieza estava o tempo todo
cultuado. Apenas louvado.
acompanhando o orixá. Foi então que Ogum
apareceu e deu sua espada para Oxaguiã,
que espantou Iku. Ogum também tentou
OXAGUIÃ arrancar a cabeça preta de cima da cabeça
de inhame, mas tanto apertou que as duas
se fundiram e Oxaguiã ficou com a cabeça
Oxaguiã, também conhecido como azul, agora equilibrada e sem problemas.
Ajagunã, é a tensão, o conflito que antecede
a paz; a revolução que antecede as A partir deste dia, ele e Ogum andam
transformações profundas; a instabilidade juntos transformando o mundo. Oxaguiã

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 22
Rita Amaral
Março/julho de 2000

depositando o conflito de idéias e valores que adivinho, seu grande amigo. Este jogou os
mudam o mundo e Ogum fornecendo os ikins (casca de caroços de dendezeiro)
meios para a transformação, seja a divinatórios e lhe disse que a viagem não se
tecnologia ou a guerra. encontrava sob bons auspícios. E que se ele
desejasse que tudo corresse bem deveria se
Símbolo: mão de pilão, espada e escudo
vestir inteiramente de branco e não sujar
suas roupas até chegar ao palácio, devendo
Cor: branca e azul
também manter silêncio absoluto até o
Comida: inhame pilado momento em que encontrasse seu filho. E
assim fez Oxalá.
Dia da semana: sexta-feira
Exu, contudo, que adorava
Saudação: Exeuê, babá!, Epa Babá! atormentar Oxalá, disfarçou-se de mendigo e
apareceu no caminho deste, pedindo a ajuda
para levantar um pesado saco de carvão que
OXALUFÃ se encontrava no chão. Sem poder
responder nada e sendo piedoso, Oxalá
Oxalufã é o princípio da criação, o levanta o saco de carvão para Exu, mas
vazio, o branco, a luz, o espaço onde tudo estando este saco com o fundo rasgado,
pode ser criado, e também a paz, a abre-se e cai sobre Oxalá sujando sua roupa
harmonia, a sabedoria que vem depois do branca. Exu ri loucamente e se vai.
conflito (Oxaguiã). O fim do círculo e o
Prevenido como sempre fora, Oxalá
recomeço. Oxalufã é o compasso do terra,
toma banho num rio e veste roupas brancas
Oduduwa. Caminha apoiado em seu cajado
novamente. E segue seu caminho.
cerimonial, que é o também o símbolo da
Novamente Exu se disfarça e pede ajuda ao
ligação que ele estabeleceu entre o Orun (o
viajante, dessa vez para entornar um barril
céu) e o Ayê (a terra). O grande pai ioruba,
de óleo num tacho.
considerado a bondade masculina.

Sem poder responder para explicar e


São muitos os mitos que falam de
tendo boa vontade em ajudar, Oxalá levanta
Oxalá, mas o mais conhecido nos
o barril e Exu o derrama sobre suas roupas,
candomblés é o que conta que Oxalá sentia
que desta vez não podiam mais ser trocadas,
muitas saudades de seu filho Xangô, e
pois eram as últimas roupas limpas que
resolveu visitá-lo.
Oxalá tinha para trocar.
Para saber se a longa viagem lhe
seria propícia, foi consultar Orunmilá o deus

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 23
Rita Amaral
Março/julho de 2000

Sujo e cansado, Oxalá vai seguindo Bibliografia


seu caminho quando vê o exército de Xangô
ABIMBOLA, Wande Sixteen Great Poems of
se aproximar dele, sinal de que estava bem Ifá. Lagos, Unesco.1975.
perto de seu destino. Este, contudo, prende ARÓSTEGUI, Natalia Bolívar Los orishas en
Oxalá, confundindo-o com um procurado Cuba. Havana, Ediciones Unión, 1994
ladrão. Como não podia falar, Oxalá nada diz AUGRAS, Monique. O duplo e a
e acaba jogado numa prisão durante sete metamorfose: a identidade mítica em
comunidades nagô. Petrópolis, Vozes. 1983.
anos.
BARROS, José Flávio Pessoa de. O segredo
das folhas: sistema de classificação de
Neste meio tempo o reino de Xangô vegetais no candomblé jêje-nagô. Rio de
entra em decadência: suas terras não Janeiro, Pallas e UERJ.1993
produzem alimentos, os animais morrem, o BASCOM, William. Ifa Divination:
povo fica doente. Communication between Gods and Men in
West Africa. Bloomington e Londres, Indiana
University Press.1969
Desesperado, Xangô chama um
BASCOM, William Sixteen Cowries: Yoruba
babalaô que ao jogar o ikin lhe diz que todo o Divination from Africa to the New World.
mal do reino advém do fato de haver injustiça Bloomington e Londres, Indiana University
Press.1980
na terra do senhor da justiça. Xangô vai
então averiguar pessoalmente todos os BASTIDE, Roger Imagens do Nordeste
místico em branco e preto. Rio de Janeiro,
presos de seu reino e descobre Oxalá pai na Empresa Gráfica O Cruzeiro.1945
prisão. Desolado, coloca o velho pai sobre BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia: rito
suas próprias costas e o carrega para o nagô. São Paulo, Nacional. 1978
palácio, onde se encarrega de banha-lo e BENISTE, José. Òrun Àiyé, o encontro de
vesti-lo com sua alvas roupas, realizando a dois mundo: o sistema de relacionamento
nagô-yorubá entre o Céu e Terra. Rio de
seguir uma grande festa. Janeiro, Bertrand Brasil.1997

BRAGA, Júlio Santana. Contos afro-


A cerimônia do candomblé chamada brasileiros. Salvador, Fundação Cultural do
"Águas de Oxalá" rememora este episódio. Estado da Bahia.1989

Símbolo: opaxorô CABRERA, Lidia. Yemanjá y Ochún:


kariocha, iyalorichas y olorichas, Madri,
Cor: branca Ediciones C. R., Colección del Chicherekú en
Comida: arroz, canjica de milho branco Exilio.1974

Dia da semana: sexta-feira CABRERA, Lidia. El monte. Havana, Letras


Cubanas.1993
Saudação: Epa, Babá! Exeuê, Babá
CARNEIRO, Edson. Candomblés da Bahia.
Rio de Janeiro, Editorial Andes.1954.

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 24
Rita Amaral
Março/julho de 2000

EDUARDO, Octavio da Costa. The Negro in SANTOS, Juana Elbein dos. Os nagô e a
Northern Brazil. Seatle, University of morte. Petrópolis, Vozes.1976
Washington Press. 1948
SEGATO, Rita Laura . Santos e daimones: o
FEIJOO, Samuel. Mitologia cubana. Havana, politeísmo afro-brasileiro e a tradição
Letras Cubanas.1986 arquetipal. Brasília, Editora Universidade de
Brasília.1995
FROBENIUS, Leo. Mythologie de l'Atlantide.
Paris, Payot.1949 SELJAN, Zora A. O.. Iemanjá, mãe dos
orixás. São Paulo, Editora Afro-
HERSKOVITS, Melville J.. Dahomey: An Brasileira.1973
Ancient West African Kingdom. Nova York,
J.J.Augustin Publisher. 1938 VERGER, Pierre Fatumbi . Dieux d'Afrique.
Paris, Paul Hartmann Éditeur.1954
RAMOS, Arthur. O negro brasileiro. São
Paulo, Nacional.1940 VERGER, Pierre Fatumbi Os orixás da
Bahia. In: CARYBÉ. Iconografia dos deuses
RAMOS, Arthur. O folclore negro no Brasil. africanos no candomblé da Bahia. Salvador,
Rio de Janeiro, Casa do Estudante do Fundação Cultural do Estado da Bahia.1980
Brasil.1952
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás: deuses
RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Mãe negra, o iorubas na África e no Novo Mundo.
significado ioruba da maternidade. Tese de Salvador, Corrupio.1981
Doutorado em Antropologia. São Paulo,
Universidade de São Paulo.1995 VERGER, Pierre Fatumbi . Lendas africanas
dos orixás. Ilustrações de Carybé. Salvador,
RIBEIRO, Ronilda . Alma africana no Brasil: Corrupio. 1985
os iorubas. São Paulo, Oduduwa.1996
VERGER, Pierre Fatumbi. Artigos. São
RODRIGUES, Raimundo Nina. Os africanos Paulo, Corrupio.1992
no Brasil. Rio de Janeiro, Nacional.1945
VERGER, Pierre Fatumbi e SAMPAIO,
SÀLÁMÌ, Síkírú. A mitologia dos orixás Enéas Guerra. Oxóssi, o caçador. Salvador,
africanos: Sàngó, Oya, Òsun, Obá. São Corrupio e Fundação Cultural do Estado da
Paulo, Oduduwa.1990. Bahia.1981
SÀLÁMÌ, Síkírú. Ògún e a palavra da dor e VIDAL, Mara Regina Aparecida . A atuação
de júbilo entre os yoruba. Dissertação de da mulher na preservação e resistência da
Mestrado em Sociologia. São Paulo, herança cultural africana: o caso do Ilê
Universidade de São Paulo.1993 Leuiwyato, Guararema, SP. Dissertação de
Mestrado em Comunicação Social. São
SANTOS, Deoscóredes Maximiliano dos Paulo, Instituto Metodista de Ensino
(Mestre Didi). Contos negros da Bahia. Rio Superior.1994
de Janeiro, Edições GRD.1961
VOGEL, Arno e MELLO, Marco Antonio da
SANTOS, Deoscóredes. Contos de nagô. Rio Silva e BARROS, José Flávio Pessoa de. A
de Janeiro, Edições GRD.1963 galinha-d’angola: iniciação e identidade na
SANTOS, Deoscóredes Contos crioulos da cultura afro-brasileira. Rio de Janeiro, Pallas,
Bahia. Petrópolis, Vozes.1976 EDUFF e FLACSO.1993

SANTOS, Deoscóredes. Contos de Mestre WOORTMANN, Klaas. Cosmologia e


Didi. Rio de Janeiro, Codecri.1981 geomancia: um estudo da cultura Yorùbá-
Nàgô. In: Anuário antropológico 77. Rio de
SANTOS, Deoscóredes . Porque Oxalá usa Janeiro, Tempo Brasileiro. 1978
ekodidé. Salvador, Edição Cavaleiro da
Lua.1997

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com


Mitos dos Orixás do Candomblé Paulista 25
Rita Amaral
Março/julho de 2000

YEMONJÁ, Mãe Beata de (Beatriz Moreira


Costa). Caroço de dendê: a sabedoria dos
terreiros. Rio de Janeiro, Pallas.1997

Rita Amaral - ritaamaral@pobox.com

Você também pode gostar