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CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DE MISTURAS ASFÁLTICAS DOSADAS

EM LABORATÓRIO E EM UMA USINA DO TIPO DRUM MIXER

Trabalho 35ª RAPv - 028


Verônica T.F. Castelo Branco1; Francisco Thiago S. Aragão2 & Jorge B. Soares3

RESUMO
As misturas asfálticas produzidas em campo não dispõem do mesmo controle nos procedimentos de dosagem e
avaliação dos parâmetros mecânicos que se observa naquelas dosadas em laboratório. Este trabalho visa comparar as
propriedades mecânicas de misturas asfálticas do tipo Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ) e Areia
Asfáltica Usinada a Quente (AAUQ) dosadas em uma usina do tipo drum mixer da Prefeitura Municipal de Fortaleza
(PMF) e no Laboratório de Mecânica dos Pavimentos da Universidade Federal do Ceará (LMP/UFC). Em laboratório
foram checados os dados da caracterização dos agregados e do ligante asfáltico utilizados na usina. Os agregados e o
CAP foram obtidos na usina da PMF e novamente caracterizados no LMP/UFC. Partindo-se da granulometria proposta
na usina, foram dosados pela metodologia Marshall novos corpos de prova, realizando-se posteriormente a
caracterização mecânica destes (resistência à tração estática e módulo de resiliência). As misturas foram confeccionadas
com brita ¾”, areia de campo, areia vermelha, pó de pedra e CAP 50/60. A comparação entre as misturas foi feita
através dos parâmetros volumétricos, do teor de projeto e dos resultados dos ensaios mecânicos. Percebeu-se que as
características tanto volumétricas quanto mecânicas foram diferentes (de até 17% e 49%, respectivamente) para as
mesmas misturas dosadas em locais diferentes, na usina e no laboratório.

PALAVRAS-CHAVE: 1 - Campo 2 - Laboratório 3 - Misturas asfálticas 4 - Caracterização mecânica

ABSTRACT
Hot asphalt mixtures (HMA) produced in plants do not have the same control in the design procedures and the
evaluation of mechanical behavior as mixtures produced in the laboratory. This study shows a comparison between the
mechanical behavior of HMA´s (both asphalt concrete and sand asphalt) produced in the drum-mix plant of Fortaleza
and those produced with the same materials at the Pavement Mechanics Laboratory at Federal University of Ceará. The
aggregates and the asphalt cement were characterized both at the plant and again at the lab. Based on the aggregate
gradation proposed in the plant, new specimens were manufactured in the lab using the Marshall mix design procedure.
These specimens were then tested for mechanical properties (tensile strength and resilient modulus). The mixtures had a
¾” coarse aggregate, stone powder, field and red sand as fine aggregates, and AC 50/60 classified by penetration. The
comparison between field and lab specimens was based on volumetric and mechanical properties, as well as on the
binder content. Volumetric and mechanical properties differ by up to 17% and 49%, respectively, considering the same
mixtures prepared in the plant and in the lab.

KEY WORDS: 1 - Field 2 - Laboratory 3 – Asphalt Mixes 4 – Mechanical Behavior

1. INTRODUÇÃO
O aumento do tráfego em grandes cidades brasileiras como Fortaleza vem tornando cada vez mais necessário o
cumprimento de preceitos estabelecidos em normas para a obtenção de pavimentos resistentes e duradouros. Em campo,
devido às freqüentes coletas de materiais e à escassez de equipamentos para a análise da qualidade das misturas, muitas
vezes têm-se misturas realizadas de acordo com a experiência dos profissionais, sem uma garantia mais rigorosa de
qualidade final. Em contrapartida, a precisão dos procedimentos laboratoriais pode ser difícil de ser reproduzida na
prática de campo.

Numa parceria da Universidade Federal do Ceará (UFC), por meio do seu Laboratório de Mecânica dos Pavimentos
(LMP), com a Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF), vem sendo realizado um controle de qualidade dos materiais e

1
Universidade Federal do Ceará
Departamento de Engenharia de Transportes
Laboratório de Mecânica dos Pavimentos
Campus do Pici, s/ nº
Centro de Tecnologia, Bloco 703
CEP: 60.455-760
Fortaleza, Ceará, Brasil
Fone/Fax: (85) 288.9570 ramal 240
veronica@det.ufc.br
2
idem,
fthiago@det.ufc.br
3
idem,
jsoares@det.ufc.br

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misturas produzidas na usina de asfalto da PMF, além de um treinamento dos engenheiros e técnicos da usina. Logo,
com o intuito de verificar as diferenças entre as características de misturas asfálticas dosadas em usina e em laboratório,
esta pesquisa foi realizada.

A usina da PMF é do tipo drum-mix produzida pela CIFALI & Cia Ltda (Figura 1). A usina foi instalada em Fevereiro
de 2000 e tem potencial para produção de 80 a 100 toneladas de massa asfáltica por hora. Atualmente são produzidas na
usina cerca de 70 a 80 toneladas/hora de misturas do tipo Concreto Betuminoso Usinado a Quente (30%) e Areia
Asfáltica Usinada a Quente (70%). A maior parte desta produção (85%) destina-se a operações do tipo “tapa buraco”
realizadas na capital e região metropolitana, o restante é utilizado para a construção de novos pavimentos e
regularizações (Silva, 2004).

Figura 1. Vista da usina da PMF

O presente trabalho de pesquisa tem como objetivo principal a avaliação da influência da precisão dos trabalhos
laboratoriais sobre as propriedades mecânicas de misturas asfálticas, tanto do tipo CBUQ quanto do tipo AAUQ
provenientes da usina de asfalto da PMF e comparadas com misturas confeccionadas com os mesmos materiais e
dosadas no LMP/UFC.

Os objetivos específicos da pesquisa foram caracterizar os agregados por meio de ensaios laboratoriais normatizados e
comparar os resultados com os fornecidos pela PMF; realizar a dosagem Marshall de misturas asfálticas dos tipos
CBUQ e AAUQ utilizando brita ¾”, areia de campo, pó de pedra e CAP 50/60 (misturas denominadas CBUQ1 e
AAUQ1) e brita ¾”, areia vermelha, pó de pedra e CAP 50/60 (misturas denominadas CBUQ2 e AAUQ2); caracterizar
mecanicamente as misturas obtidas na usina e as obtidas em laboratório; comparar os parâmetros volumétricos, os
teores de projeto (fornecidos pela PMF, resultantes das extrações e obtidos no LMP) e os parâmetros mecânicos das
misturas dosadas na usina e em laboratório.

2. OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS


Os agregados e o ligante utilizados nesta pesquisa foram obtidos na usina de asfalto da PMF, localizada em Fortaleza
(Figura 2). A brita ¾” e o pó de pedra são oriundos da Pedreira Itaitinga, localizada a 30 km da capital Fortaleza, as
areias de campo e vermelha foram obtidas no município de Aquiraz e o ligante foi fornecido pela Lubnor/Petrobras.
Foram coletados cerca de 100 kg de cada agregado (brita ¾” de origem granítica, areia de campo, areia vermelha e pó
de pedra) e 50 litros de CAP 50/60. São fornecidos cerca de 600 m3 de agregado por dia, os mesmos sendo estocados a
céu aberto. Com relação ao ligante, são fornecidas cerca de 80 toneladas por dia. O ligante utilizado nesta pesquisa foi
coletado diretamente do caminhão transportador. Foram compactados manualmente, com esforço de 50 golpes, 60
corpos de prova (30 de CBUQ e 30 de AAUQ) com as misturas dosadas em usina para futura caracterização. A
compactação dos corpos de prova pode ser vista na Figura 3a.

No ato da coleta, as temperaturas de mistura e compactação foram checadas (Figura 3b). A temperatura de mistura no
dia da coleta estava em torno de 146ºC. Outros parâmetros considerados importantes para a realização do estudo
também foram obtidos, tais como: faixa granulométrica utilizada, composição e parâmetros volumétricos das misturas
dosadas na usina. Observou-se a presença de brita na massa de AAUQ, o que denota falhas no processo de limpeza da
usina.

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(a) Coleta dos agregados (b) Coleta do ligante
Figura 2. Coleta dos materiais na usina de asfalto da PMF

(a) Moldagem de corpos de prova na usina (b) Medida de temperatura da massa asfáltica na usina
Figura 3. Realizações na usina de asfalto da PMF

A caracterização dos agregados foi feita baseando-se nas recomendações do Manual de Pavimentação do DNER
(DNER, 1996) e nas normas DNER – ES 313/97 - Pavimentação – concreto betuminoso e DNER – ES 312/97 -
Pavimentação – areia asfalto a quente. A caracterização dos agregados utilizados na pesquisa foi feita no Laboratório de
Mecânica dos Solos, no Laboratório de Materiais de Construção e no LMP, todos situados na UFC.

A brita ¾” utilizada apresentou absorção de 0,8%, densidades aparente de 2,610 e real de 2,665 (DNER – ME 081/98 e
ASTM C 127/88). Os agregados miúdos apresentaram densidades reais de 2,642; 2,610 e 2,643 para o pó de pedra, a
areia de campo e a areia vermelha, respectivamente (DNER – ME 084/94). Os fíleres utilizados foram oriundos da areia
de campo e vermelha, apresentando densidades real de 2,510 e 2,578, respectivamente (DNER – ME 085/94).

No ensaio de granulometria realizado no LMP/UFC (DNER – ME 083/98) obtiveram-se os resultados mostrados na


Tabela 1, que também apresenta a granulometria fornecida pela usina de asfalto da PMF dos mesmos materiais. A
norma DNER – ES 313/97 fixa limites de 40% para o ensaio de abrasão Los Angeles e de 0,5 para o de índice de forma,
para o agregado graúdo. O primeiro foi realizado na faixa B prescrita na norma DNER – ME 035/98 e apresentou como
resultado o valor de 39%, que está dentro do limite recomendado. O índice de forma encontrado segundo a norma
DNER - ME 086/94 foi de 0,77, valor superior ao limite estabelecido, o que caracteriza o material como lamelar e de
fácil rompimento. O equivalente de areia (DNER – ME 054/97) obtido para a areia de campo foi próximo de 31% e
para a areia vermelha, próximo de 22%, o que indica a presença de finos nas areias. Por fim, o ensaio de adesividade,
realizado segundo a norma DNER-ME 078/94, apresentou como resultado uma aderência satisfatória do ligante com o
agregado, motivo pelo qual não se usou nenhum melhorador de adesividade.

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Tabela 1. Ensaio de granulometria, em porcentagem passando acumulada
Peneira (mm) Brita ¾” Pó de pedra Areia de campo Areia vermelha
LMP PMF LMP PMF LMP PMF LMP PMF
25,4 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
19,1 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
12,5 68,7 60,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
9,5 35,9 20,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
4,8 5,0 1,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
2 2,9 0,0 74,1 83,0 95,1 100,0 98,6 100,0
0,42 1,7 0,0 36,8 50,0 51,7 79,5 68,1 93,3
0,18 0,8 0,0 14,6 17,0 19,8 9,0 4,7 11,6
0,075 0,3 0,0 4,6 7,0 7,8 3,5 0,5 3,3

É possível verificar que as granulometrias obtidas no LMP e fornecidas pela usina são diferentes para os mesmos
materiais. Acredita-se que, devido ao constante fornecimento de agregado, os materiais que foram coletados podem não
ser exatamente iguais aos utilizados para caracterização realizada pela própria usina. A caracterização fornecida pela
usina foi realizada em Junho de 2003 e a do LMP em Julho de 2004.

O ligante usado no Ceará é classificado por penetração como CAP 50/60. Originado da Fazenda Alegre, no Espírito
Santo, o mesmo atendeu às especificações brasileiras do Departamento Nacional de Combustíveis (DNC, 1993). Este
CAP pode ainda ser classificado, de acordo com as especificações Superpave, como um PG 64-28 (Soares et al., 1999).
Essas especificações e os valores medidos no CAP, resultados fornecidos pela usina de asfalto da PMF, encontram-se
na Tabela 2.

Tabela 2. Especificações e valores medidos para a amostra de CAP 50/60 Fazenda Alegre (Lubnor/Petrobras)
Característica Método Especificação Unidade Resultados
Penetração ASTM D 5 50 a 60 0,1 mm 58
ECA – % Penetr. Original X 021* 50 min % 74
Ductilidade a 25ºC ASTM D 113 60 min Cm >150
ECA – Variação de massa ASTM D 1754 1,0 max % 0,09
Índice de Susc. Térmica X 018 -1,5 a 1,0 - -0,6
Ponto de fulgor ASTM D 92 235 min ºC 256
Solubilid. no tricloroetileno ASTM D 2042 99,5 min % massa 100
Visc. Saybolt Furol a 135ºC ASTM E 102 110 min S 361
Aquecimento a 175ºC X 215 Não espuma - Não espuma
*Calculado do percentual da penetração original determinada pelo método ASTM D 5

3. DOSAGEM MARSHALL
As proporções dos agregados utilizados tanto na usina de asfalto da PMF quanto no LMP estão na Tabela 3. Foi
utilizada a faixa C do DNER para revestimentos do tipo CBUQ e AAUQ. Observando-se as Figuras 4 e 5, é possível
perceber que com a composição proposta pela usina para a mistura do tipo CBUQ1, não houve enquadramento na faixa
granulométrica utilizada. As composições das misturas dosadas em laboratório foram alteradas devido as
granulometrias dos agregados encontradas em laboratório e adicionou-se fíler de areia vermelha na mistura do tipo
AAUQ2. Apesar das tolerâncias estabelecidas em norma (DNER – ME 312 e 313/97) as misturas de agregados (em
usina e em laboratório) foram diferentes.

Tabela 3. Proporções dos agregados utilizadas para as misturas no LMP e na usina da PMF
Material utilizado (%)
Material CBUQ1 CBUQ2 AAUQ1 AAUQ2
LMP PMF LMP PMF LMP PMF LMP PMF
Brita 3/4" 31 31 36 36 - - - -
Pó de pedra 44 34 39 38 - 60 55 75
Areia de campo 22 25 - - 100 40 - -
Fíler areia campo 3 - - - - - - -
Areia vermelha - - 22 26 - - 45 25
Fíler areia vermelha - - 3 - - - - -

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100%
90%
80% Faixa C - DNER
70% PMF - CBUQ1
% passada

60%
LMP - CBUQ1
50%
PMF - CBUQ2
40%
LMP - CBUQ2
30%
20%
10%
0%
0,01 0,1 1 10 100
abertura das peneiras (mm)
Figura 4. Enquadramento das misturas de agregados na Faixa C do DNER para CBUQ

100%
90%
80%
70% Faixa C - DNER
% passada

60% PMF - AAUQ1


50% LMP - AAUQ1
40% PMF - AAUQ2
30%
LMP - AAUQ2
20%
10%
0%
0,01 0,1 1 10 100
abertura das peneiras (mm)
Figura 5. Enquadramento das misturas de agregados na Faixa C do DNER para AAUQ

As Densidades Máximas Teóricas (DMT’s) das misturas foram determinadas em laboratório (Vasconcelos et al., 2003)
e os resultados são apresentados na Tabela 4. As DMT’s destas mesmas misturas dosadas na usina e informadas pelos
profissionais da própria usina estão na Tabela 5. Percebe-se que os valores calculados em laboratório e fornecidos pela
usina para misturas com o mesmo teor de CAP foram diferentes. A maior diferença encontrada foi de aproximadamente
6,0% superior para a mistura do tipo AAUQ2 dosada em laboratório. Estas diferenças devem ter influenciado os
parâmetros volumétricos encontrados.

Tabela 4. DMT’s calculadas para as misturas dosadas em laboratório


CBUQ1 CBUQ2 AAUQ1 AAUQ2
% CAP DMT % CAP DMT % CAP DMT % CAP DMT
5,5 2,426 5,5 2,435 7,5 2,337 7,5 2,361
6,0 2,409 6,0 2,417 8,0 2,321 8,0 2,344
6,5 2,391 6,5 2,399 8,5 2,305 8,5 2,328
7,0 2,374 7,0 2,382 9,0 2,289 9,0 2,312
7,5 2,357 7,5 2,365 9,5 2,273 9,5 2,296

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Tabela 5. DMT’s fornecidas para as misturas dosadas na usina
CBUQ1 CBUQ2 AAUQ1 AAUQ2
% CAP DMT % CAP DMT % CAP DMT % CAP DMT
6,5 2,301 6,5 2,301 8,5 2,190 8,5 2,190

Os teores de projeto são baseados num valor selecionado a partir dos teores obtidos para atender os limites do DNER de
Volume de vazios (Vv) (3% a 5% para CBUQ e de 3% a 8% para AAUQ) e de Relação Betume-Vazios (RBV) (75% a
82% para CBUQ e de 65% a 82% para AAUQ) (Soares et al., 2000). Para a obtenção do teor de projeto, os corpos de
prova foram compactados manualmente com um esforço de 50 golpes, a uma temperatura média de 146ºC e com
diferentes teores de ligante. Os corpos de prova foram moldados com 1.200 e 1.100 g para CBUQ e AAUQ,
respectivamente, para que os mesmos atingissem a altura especificada em norma (DNER – ME 043/95). Os valores de
teores de projeto obtidos em laboratório e fornecidos pela usina estão na Tabela 6. Os parâmetros volumétricos
encontrados em laboratório para todos os corpos de prova apresentaram-se de forma coerente, isto é, o Vv e o RBV
diminuíram e aumentaram, respectivamente, para todas as misturas. Com relação aos corpos de prova moldados no teor
de projeto, apresentaram Vv e RBV dentro dos limites estabelecidos pelo DNER para todas as misturas.

Tabela 6. Teores de projeto (%) para as misturas dosadas em laboratório e na usina


Local CBUQ1 CBUQ2 AAUQ1 AAUQ2
LMP 6,5 7,0 10,1 10,3
PMF 6,5 6,5 8,5 8,5

Percebe-se, observando a Tabela 6, que os valores de teores de projeto encontrados em laboratório e fornecidos pela
usina são diferentes, exceto para a mistura do tipo CBUQ1. Nota-se que apesar das misturas CBUQ1 e CBUQ2, e
AAUQ1 e AAUQ2 serem diferentes, os teores de projeto fornecidos pela usina são iguais. Isto é mais um indicativo de
que as caracterizações dos materiais e das misturas não foram re-adaptadas apesar da mudança de material (areia de
campo para as misturas do tipo 1 e areia vermelha para as misturas do tipo 2).

A título de curiosidade, foi realizada extração de ligante nos corpos de prova moldados na usina (mistura do tipo
AAUQ1) a fim de verificar se o teor de projeto informado era realmente o utilizado. A norma utilizada foi a DNER –
ME 053/94 e o valor encontrado (8,4%, média de quatro determinações) foi muito próximo do informado.

4. CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA
Os corpos de prova moldados no teor de projeto, tanto dosados em laboratório quanto fornecidos pela usina, foram
submetidos aos ensaios de resistência à tração por compressão diametral (RT) (DNER – ME 138/94) e módulo de
resiliência (MR) (DNER – ME 133/94). Os resultados (média e desvio padrão de três determinações) dos ensaios de RT
e MR estão nas Tabelas 7 e 8, respectivamente. As relações MR/RT para as misturas estudadas estão na Tabela 9.

Tabela 7. Ensaio mecânico RT (MPa, 25ºC)


CBUQ1 CBUQ2 AAUQ1 AAUQ2
Local
Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão
LMP 1,26 0,06 1,23 0,19 1,02 0,12 0,81 0,08
PMF 0,85 0,19 0,67 0,10 0,52 0,07 0,72 0,10

Tabela 8. Ensaio mecânico MR (MPa, 25ºC)


CBUQ1 CBUQ2 AAUQ1 AAUQ2
Local
Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão
LMP 3.609 189,9 3.026 401,5 1.786 99,8 1.682 107,0
PMF 2.651 163,0 2.297 455,4 1.825 143,7 1.683 109,0

Tabela 9. Relação MR/RT das misturas


CBUQ1 CBUQ2 AAUQ1 AAUQ2
Parâmetro
LMP PMF LMP PMF LMP PMF LMP PMF
MR/RT 2.864 3.119 2.460 3.428 1.751 3.510 2.077 2.338

Como é possível verificar, somente os valores de MR dos AAUQ’s moldados em laboratório foram inferiores (porém
muito próximos) aos valores encontrados para os corpos de prova moldados na usina. As misturas dosadas em
laboratório apresentaram valores de RT até 49% superiores para a mistura do tipo AAUQ1. Com relação aos ensaios de

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MR, os valores encontrados para as misturas do tipo CBUQ foram até 27% superiores (CBUQ1). A relação MR/RT foi
superior para as misturas dosadas na usina. Soares et al. (2002) sugeriram o intervalo entre 3.000 e 3.500 para esta
relação em misturas do tipo CBUQ na faixa C do DNER que utilizassem CAP 50/60 oriundo do petróleo Bachaquero.
Apesar do asfalto utilizado nesta pesquisa ser oriundo do petróleo nacional Fazenda Alegre, tanto os CBUQ’s do
laboratório quanto os da usina tiveram esta relação próxima de 3.000.

De maneira geral, os corpos de prova moldados na usina apresentaram-se bastante irregulares com relação à altura,
apesar da compactação dos mesmos ter sido fiscalizada. Este fator pode ter influenciado os resultados dos ensaios
mecânicos, principalmente o ensaio de MR que é mais sensível por medir pequenas deformações.

5. CONCLUSÕES
Após a realização deste trabalho experimental, foram possíveis as seguintes conclusões:
• A caracterização dos agregados e das misturas precisa ser refeita com uma freqüência maior, visto que há
mudanças significativas em suas características como foi possível comprovar com a realização da caracterização
dos mesmos em laboratório. Além disto, alguns resultados apresentaram-se fora dos limites estabelecidos pelas
normas (por exemplo, índice de forma);
• O procedimento para compactação dos corpos de prova na usina precisa ser melhorado diante das características
das amostras recolhidas. Este fator pode ter influenciado alguns resultados encontrados neste estudo;
• Com relação à caracterização mecânica das misturas avaliadas, foi possível perceber que a maioria das misturas
dosadas em laboratório apresentou características mecânicas superiores às das misturas dosadas em usina;
• A instalação de um laboratório dentro da usina de asfalto da PMF contribuirá para a melhoria da qualidade das
misturas fornecidas e conseqüentemente dos serviços prestados para a cidade de Fortaleza.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos colegas do LMP/UFC pelas sugestões em especial ao aluno de graduação Clonilo Moreira
Sideaux de Oliveira Filho pela execução de alguns ensaios mecânicos; à Prefeitura Municipal de Fortaleza pelo
fornecimento dos materiais e apoio operacional; em especial ao técnico Francisco Colombo Miranda da Silva e ao
engenheiro José Tarcísio Chaves Vasconcelos. Registra-se ainda o reconhecimento ao CNPq pelas bolsas dos autores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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absorption of coarse aggregate”.
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betume”.
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DNER - Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, 1994, ME 078 “Agregado graúdo - adesividade à ligante
betuminoso”.
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determinação da massa específica real”.
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forma”.
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Marshall”.
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densidade real”.
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Angeles”.
SILVA, F.C.M., 2004, Contato pessoal realizado na usina de asfalto da PMF – 13/08/2004.

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ótimo e nas propriedades das misturas asfálticas”. XIII Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes,
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