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HIV
1. Por que alguns portadores do vírus da aids não desenvolvem a doença?
Até hoje, quase 30 anos depois de registrados os primeiros casos da doença, ninguém
encontrou a resposta. Os sintomas iniciais da aids costumam aparecer entre 8 e 10 anos
após a infecção pelo vírus HIV. Algumas pessoas, contudo, podem ficar décadas sem
desenvolvê-los, ainda que não tomem remédio. São os "sobreviventes de longo prazo"
(SLP), que representam 5% do total de infectados. O americano Kai Brothers, por
exemplo, acredita ter contraído o vírus em 1981. Tinha 18 anos. Hoje, aos 47, continua
sem apresentar o menor sinal da doença. Segundo o virologista Jay Levy, professor da
Universidade da Califórnia (Ucla) e um dos pioneiros na identificação o HIV, a chave
para o enigma provavelmente está nas células de defesa do organismo chamadas
linfócitos T CD8. Elas funcionam como "soldados", atuando na linha de frente contra
vírus, bactérias e outros invasores. Mas dependem de ordens enviadas pelas células CD4
(os "generais"), sem as quais não conseguem desempenhar esse papel. É justamente
nelas, as CD4, que o vírus da aids se instala para se multiplicar. Como o trabalho das
CD8 é combater células infectadas, o resultado é uma espécie de curto-circuito no
exército de defesa. Chega um momento em que o número de células CD4 presentes no
sangue é tão baixo, em decorrência do ataque das CD8, que o sistema imunológico fica
vulnerável a infecções oportunistas. É quando os sintomas da aids começam a se
manifestar. "Os sobreviventes de longo prazo, porém, conseguem manter a defesa natural
contra o vírus durante muitos e muitos anos", diz Levy. "Nessas pessoas, as células CD8
produzem um fator antiviral capaz de bloquear a replicação do HIV sem matar as CD4
infectadas." Para o virologista, é do estudo desse fator que poderá sair uma vacina efetiva
contra a aids nos próximos anos. "Antes, acreditava-se que o vírus destruía o sistema
imunológico de todos os portadores. Agora sabe-se que uma parcela deles pode
sobreviver por décadas sem os sintomas. É por isso que estimulamos as companhias
farmacêuticas a pesquisarem também o sistema imune, e não apenas o vírus." Enquanto
Levy aposta nas CD8, outros cientistas acreditam que a resposta está no CCR-5 - um
receptor que atua como mensageiro entre as células. Por causa de um "defeito" genético,
as células dos sobreviventes de longo prazo não têm esse receptor. E, sem ele, o HIV não
consegue invadi-las. O problema dessa teoria, no entanto, é que ela explica apenas uma
parte da história. "A falta do CCR-5 pode proteger as pessoas da infecção pelo tipo R5 do
vírus", afirma o pesquisador da Ucla. "Mas, quando elas são infectadas pelo tipo X4 [que
usa o receptor CXCR-4r para se espalhar], a progressão da doença ocorre normalmente."
Uma terceira hipótese está relacionada às células dentríticas plasmacitoides (PDC). Elas
produzem a proteína IFN-a, que também seria capaz de bloquear o vírus. Uma proteína
desse tipo pode ser a explicação para o misterioso caso das "prostitutas de Nairóbi". Nos
anos 80, centenas de quenianas ficaram conhecidas assim porque mantinham relações
com homens infectados pelo HIV, sem camisinha, mas não desenvolviam aids.
Pandemia de Aids
Birita
2. O alcoolismo é incurável?
Para a maioria dos médicos, sim, o alcoolismo é incurável. Trata-se de uma doença
complexa, que envolveria múltiplas causas de fundo hereditário, psicológico e social. O
cardiologista francês Olivier Ameisen, no entanto, garante ter livrado a si próprio da
dependência - embora sua suposta façanha seja vista com desconfiança pela maior parte
da comunidade científica. Dono de uma carreira brilhante nos EUA, Ameisen foi
professor da prestigiosa Universidade de Cornell, em Nova York, e sempre teve seu
consultório frequentado por celebridades. Mesmo assim, sofria de ansiedade e baixa
autoestima. Acabou encontrando no álcool um alívio. E pouco tempo depois já era um
dependente. Nos anos 90, o cardiologista diz ter tentado de tudo para para se livrar do
vício. Não conseguiu. Fechou sua clínica e retornou a Paris. Mas sempre teve a convicção
de que a causa da doença era biológica - e que haveria, portanto, uma cura possível.
Como sofria de espasmos nos músculos, começou a tomar 5 miligramas diários do
relaxante muscular baclofeno. Então, veio a surpresa: "Comecei a dormir como um bebê
e o impulso de beber diminuiu". A partir daí, Ameisen se interessou por pesquisas que
avaliavam o efeito do medicamento em animais. Em 2000, deparou-se com um estudo
sobre ratos que, depois de ser levados à dependência de cocaína, libertaram-se do vício
graças ao relaxante. Logo encontrou outros trabalhos que indicavam os mesmos
resultados com camundongos viciados em heroína, anfetaminas e... álcool! Será que a
substância funcionaria em humanos? "Decidi ser a cobaia", lembra o cardiologista, que
chegou a tomar 270 miligramas de baclofeno por dia. "Em poucas semanas, parei
completamente de beber." De acordo com Ameisen, o remédio age no cérebro por meio
dos receptores GABA-B, relacionados com o controle da ansiedade. É ali que o álcool
atua, relaxando a pessoa. O baclofeno entra nesses canais e produz o mesmo efeito. A
diferença, segundo o cardiologista, é que não provoca dependência. Ele afirma que um
experimento com 60 pacientes monstrou eficácia de 88%. Mas reconhece: será difícil
convencer os colegas de que encontrou a cura para o alcoolismo. Sua suposta descoberta
foi respaldada por Jean Dausset, Prêmio Nobel de Medicina. Mesmo assim, Ameisen
continua enfrentando resistência. Segundo os críticos, tudo pode não ter passado de efeito
placebo (leia mais na pág. 56).
Drogas
3. Algumas pessoas se viciam e outras não. Por quê?
Ninguém sabe ao certo por que certos indivíduos desenvolvem dependência química e
outros não, apesar de consumirem as mesmas drogas, na mesma quantidade e pelo
mesmo período. Mas há evidências cada vez mais concretas de que o vício seja uma
doença do cérebro. Algumas pessoas apresentariam alterações em uma área chamada
"sistema de recompensa", responsável por receber estímulos de prazer e transmiti-los ao
resto do corpo. É nessa área que as drogas atuam, gerando uma ilusão temporária que
leva essas pessoas a consumi-las de forma compulsiva - não só para ter prazer mas para
evitar o extremo mal-estar que a abstinência produz. "Nesses consumidores, alguns
componentes do sistema de recompensa estariam desregulados. Portanto, a droga ajudaria
a consertar um desajuste específico, impedindo a pessoa de interromper o vício sem
ajuda", diz Carl Erickson, diretor do Centro de Pesquisas sobre Dependência da
Universidade do Texas, nos EUA. Ou seja: os entorpecentes, por si sós, não causariam
dependência. A pessoa com predisposição - talvez genética - é que desenvolveria a
doença ao ser exposta a uma droga. Isso explicaria por que alguns podem fumar maconha
ou cheirar cocaína sem ficar viciados, enquanto outros jamais seriam capazes de conter a
fissura.
Em crianças, ninguém sabe ao certo. Cansaço, poucas horas dormidas e ansiedade são
apenas candidatos a explicar por que cerca de 30% delas apresentam essa desordem do
sono. Os especialistas também suspeitam de um fator hereditário. Os episódios começam
uma ou duas horas depois que a criança dorme, geralmente antes da fase REM (a do
movimento rápido dos olhos, período no qual é mais comum a manifestação dos sonhos).
As funções motoras despertam, enquanto a consciência continua dormindo. Assim, o
sonâmbulo pode sentar na cama, ficar de pé, fazer movimentos repetitivos e até
perambular pela casa, mas não sabe o que está acontecendo. Os eventos podem durar de
poucos segundos a vários minutos, e se repetir durante a noite. À medida que a criança
cresce, o sonambulismo tende a desaparecer sem deixar vestígios. Por isso, é considerado
um distúrbio benigno. Já nos adultos, a prevalência é bem menor (4%) e pode estar
relacionada a transtornos mentais, reações a drogas ou álcool, estresse, problemas de
respiração no sono, refluxos gástricos ou esquizofrenia, entre outros fatores não
totalmente conhecidos.
Hic! Hic! Hic!
6. Por que soluçamos?
O americano Charles Osborne detém o recorde mundial da mais longa crise de soluços: o
problema durou 68 anos, de 1922 a 1990. ' Outro caso impressionante foi o do músico
britânico Chris Sands. Estima-se que ele tenha soluçado mais de 20 milhões de vezes
durante uma crise que o acometeu durante 3 anos seguidos, entre 2006 e 2009. ' Numa
crise rotineira, costumamos soluçar de 5 a 25 vezes por minuto.
Eis uma das perguntas que mais desafiam a medicina. E não é a única envolvendo essa
doença. Pergunte a qualquer médico: por que o autismo é 4 vezes mais comum em
meninos que em meninas? Ele não será capaz de responder. São tantos os mistérios
relacionados à disfunção que, para muitos especialistas, ela não é apenas uma, mas várias
doenças. A Sociedade Americana de Autismo, por exemplo, define-a como um conjunto
de transtornos que afetam suas vítimas - sempre até os 3 anos de idade - com diferentes
graus de intensidade. Estudos de gêmeos idênticos indicam que a desordem pode ser,
pelo menos em parte, de natureza genética - quando ocorre em um dos irmãos, tende a
ocorrer no outro também. Mas há evidências, por outro lado, de que a origem do autismo
esteja associada a infecções virais, como a rubéola congênita. As especulações não param
por aí. Alguns pesquisadores acreditam que o desenvolvimento do autismo pode estar
ligado também à fenilcetonúria - uma doença herdada, que decorre da falta ou ausência
total de uma enzima chamada fenilalanina hidroxilase. E certos trabalhos científicos
sugerem ainda uma relação entre o autismo e a síndrome do X frágil (assim chamada por
ser resultado de uma alteração no cromossomo X). Certo mesmo é que os autistas
geralmente apresentam uma tremenda dificuldade para interagir e se comunicar com o
mundo ao seu redor. É por isso que, no passado, acreditava-se que o transtorno tivesse
origem psicológica. Hoje, não se cogita mais essa hipótese.
Casca grossa
9. Qual é a doença do homem-árvore?
Olhe bem para Dede Koswara, o pescador indonésio da foto ao lado. Seu corpo foi
tomado por verrugas gigantes, que parecem troncos de árvore. O fenômeno começou aos
15 anos, quando Dede caiu e cortou o joelho. As "raízes" começaram a crescer sobre os
pés e as mãos, impedindo-o de estudar e trabalhar. Alvo de zombaria dos vizinhos, ele foi
deixado pela mulher. E precisou se virar para cuidar dos dois filhos: ganha uns trocados
como atração de um de show de bizarrices em Jacarta, capital da Indonésia.Os médicos
indonésios nunca foram capazes de identificar a doença do "homem-árvore". Como seu
sangue tem poucos glóbulos brancos (células de defesa), muitos pensaram que ele havia
contraído aids, mas os testes descartaram essa hipótese. Em 2007, o dermatologista
americano Anthony Gaspari anunciou ter elucidado o mistério: as "raízes" seriam
provocadas pelo vírus papiloma humano (HPV). Dede teria nascido com uma mutação
genética que impede seu sistema imune de combater as verrugas. Segundo Gaspari, o
vírus "sequestrou" a maquinaria celular de sua pele, ordenando-a a produzir formações
epiteliais conhecidas como "chifres cutâneos". Professor da Universidade de Maryland,
nos EUA, o dermatologista soube do caso ao ver o homem-árvore num documentário de
TV. Pouco tempo depois, viajou para a Indonésia e começou a tratar o pescador com altas
doses de vitamina A. "Os galhos não vão desaparecer, mas diminuirão a ponto de ele
poder usar as mãos de novo", afirma o médico. Dede também se submeteu a uma cirurgia
que cortou quase 2 quilos de "troncos". Assim, finalmente pôde ver seus dedos
novamente, depois de 10 anos. Há poucos meses, o pescador já conseguia calçar chinelo,
comer sozinho e até mandar mensagens pelo celular. O tratamento vai bem, embora a
hipótese do HPV não tenha sido 100% confirmada. Hoje, aos 37 anos, o homem-árvore
sonha com uma vida nova. "O que mais quero é um emprego", ele diz. "E, quem sabe, me
casar novamente."
Gu gu, dá dá
10. Como uma jovem de 17 anos pode parecer um bebê?
E bota frio nisso! Aos 51 anos, o holandês Wim Hof coleciona 9 recordes no Guinness
por suas façanhas. Uma delas foi ficar com o corpo submerso no gelo, de sunga, durante
1 hora e 13 minutos. O "homem-gelo", como ficou conhecido, também mergulhou no
Polo Norte e disputou uma meia maratona descalço na Finlândia, a 25 graus Celsius
negativos, usando apenas um shortinho. Nessas condições, o sistema cardiovascular de
qualquer pessoa entraria em colapso. Mas Hof não se abala: em vez de entrar em
hipotermia (uma queda de temperatura que pode levar à morte), seu corpo se estabiliza
em torno dos 35 graus, o que lhe garante um metabolismo normal. "Consigo controlar
meu termostato", ele brinca. O médico americano Kenneth Kamler, autor do livro
Surviving the Extremes ("Sobrevivendo aos Extremos", inédito no Brasil), acredita que a
resistência de Hof venha das conexões de seu cérebro. "O mesmo controle mental que
utilizamos para regular o coração quando temos medo poderia ser usado para controlar
outros órgãos." Pode ser também que Hof pratique a técnica de meditação Tumo, usada
por monges do Tibete para tolerar o frio. Se for isso, Hof seria a única pessoa a dominar
essa técnica sem ser monge.
Em algum lugar do passado
12. Por que a gente não se lembra da 1a infância?
Tente buscar lá no fundo da memória a lembrança de algo que tenha ocorrido com você
antes dos 3 anos de idade. Difícil, não? A maioria de nós só consegue resgatar flashes
daquela época, às vezes nem isso. A ciência ainda não desvendou o segredo desse
fenômeno, conhecido como amnésia infantil. Mas as primeiras peças do quebra-cabeça já
começam a ser encaixadas. Para alguns cientistas, a explicação está numa parte do
cérebro chamada hipocampo. O psicólogo Lynn Nadel, da Universidade do Arizona, nos
EUA, diz que temos dois tipos de memória: uma para episódios e eventos, outra para
habilidades e hábitos. A primeira está ligada ao hipocampo. Usando imagens de
ressonância magnética, Nadel observou, em 7 pessoas idosas, que o hipocampo se
iluminava quando elas acessavam memórias específicas do passado recente (um diálogo,
por exemplo) e do passado distante (aprender a dirigir). Já a memória implícita -
habilidades e hábitos que adquirimos com o tempo - envolve outras partes do cérebro,
como a amígdala. De acordo com o psicólogo, o sistema da amígdala já está plenamente
desenvolvido quando nascemos, enquanto o hipocampo só amadurece depois. Seria por
isso, segundo Nadel, que os eventos da nossa 1a infância podem deixar um registro
emocional e influenciar hábitos e conhecimentos implícitos, sem deixar nenhum traço dos
episódios no hipocampo. Já a psicóloga Alexandra Horowitz, da Universidade de
Colúmbia, também nos EUA, aposta em outra teoria: não guardamos lembranças daquilo
que ocorre antes dos 3 anos porque, até essa idade, ainda não temos pleno domínio da
linguagem - ou seja, não somos capazes de ponderar, categorizar e armazenar nossas
experiências. "Podemos, é claro, guardar recordações físicas de eventos, pessoas e até
pensamentos", diz Alexandra, "mas o que chamamos de lembrança talvez seja algo
facilitado apenas com o advento da competência linguística". A terceira hipótese é a da
autoconsciência. De acordo com essa tese, as memórias estão ligadas ao senso que cada
um tem de si mesmo. Como a criança só passa a ter autoconsciência em torno dos 2 anos
de idade (consegue se reconhecer numa foto, por exemplo), não recordamos dos fatos
anteriores a essa etapa. As recordações podem até estar armazenadas no cérebro, mas não
conseguimos entendê-las.
Vida moderna
13. Por que os casos de asma se multiplicaram nos últimos anos?
No Reino Unido, um dos lugares que mais sofrem com a asma, os casos da doença
aumentaram 5 vezes nos últimos 25 anos. O avanço da enfermidade varia de um país para
outro, mas os especialistas alertam: já estamos diante de uma pandemia. Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), neste momento ela afeta cerca de 300 milhões de
pessoas ao redor do planeta. Asma é uma inflamação crônica das vias respiratórias. Nas
crises, a reatividade dos brônquios aumenta ainda mais, causando chiado no peito, tosses
e falta de ar. Sabe-se que a doença envolve fatores genéticos e ambientais. Muita gente
tem predisposição genética e nunca a desenvolve, enquanto outros manifestam os
sintomas ao serem expostos a poeira, fumaça de cigarro e produtos químicos, entre outros
"gatilhos". Mas a explicação para o aumento de casos verificado nos últimos anos é
motivo de polêmica. De acordo com a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, uma das
causas pode ser o estilo de vida ocidental. As pessoas estão mais expostas aos malefícios
do tabaco, à poluição e às infecções, além de viverem em contato frequente com
substâncias químicas (como produtos de limpeza). A alimentação também pode estar por
trás do aumento, e não apenas pelo excesso de aditivos e conservantes. Um estudo do
Royal Children´s Hospital, na Austrália, indica que uma dieta rica em gorduras poli-
insaturadas (presente em margarinas e óleos vegetais) pode dobrar o risco de asma em
crianças. Automedicação é outro provável gatilho. Um estudo do Instituto de Pesquisas
Médicas da Nova Zelândia concluiu que o analgésico paracetamol - largamente usado no
mundo todo para baixar a febre - aumentou em 46% o risco de asma em crianças de 31
países. E o estresse, um dos males mais típicos da vida moderna, também é apontado
como possível vilão. Um levantamento feito pelo Centro de Controle e Prevenção de
Doenças dos EUA mostrou que milhares de americanos expostos aos atentados do 11 de
Setembro desenvolveram asma nos 6 anos posteriores. Boa parte deles inspirou a poeira
levantada pelo desabamento das Torres Gêmeas. E nada menos que 36% também
apresentaram sintomas de estresse pós-traumático depois do atentado.
A asma no Brasil
8ºLUGAR - Nossa posição no ranking dos países com maior número de asmáticos.
2,2 MILHÕES - Número aproximado de visitas ao pediatra todo ano motivadas pela
asma.
250 MIL - Internações hospitalares anuais em decorrência da asma e suas complicações.
2,2 MIL - Mortes provocadas pela asma a cada ano durante a hospitalização.
Esse mistério tirou o sono dos médicos durante décadas. Eles sabiam que a ausência das
papilas dérmicas (digitais) era comum aos portadores de duas doenças congênitas: a
síndrome de Nagali e a dermatopatia pigmentosa reticularis (DPR). A primeira atinge
uma pessoa em cada grupo de 3 milhões - ou 2 500 indivíduos no mundo todo. A outra é
ainda mais rara e tem sintomas parecidos. Além da falta de digitais, as vítimas das duas
enfermidades apresentam unhas quebradiças, dentes frágeis e manchas escuras no corpo.
A palma das mãos e a sola dos pés são tão grossas que impedem a transpiração. Os
médicos tinham todas essas pistas, mas faltava desvendar a origem das doenças - e, de
quebra, o enigma das digitais. O enigma parece ter chegado ao fim em 2006. Naquele
ano, pesquisadores do Instituto de Tecnologia Technion, em Israel, anunciaram a
descoberta de um gene mutante que provoca a síndrome de Nagali e a DPR. Segundo
eles, a mutação ocorre no gene que codifica uma proteína chamada queratina 14
(KRT14). Esse defeito aciona um mecanismo de morte celular programada (apoptose) na
pele durante a gestação. Assim, em vez de nascerem com os desenhos das papilas
dérmicas, essas pessoas vêm ao mundo com a superfície dos dedos completamente lisa.
Como até hoje o estudo dos israelenses não foi contestado, tudo leva a crer que a mutação
do KRT14 seja mesmo a causa das doenças - aliás, da doença. "As duas desordens são
causadas por mutações no mesmo domínio [o gene KRT14]. Por isso, agora acreditamos
que sejam, na verdade, uma só", afirma Jennie Lugassy, líder da equipe, em artigo
publicado no The American Journal of Human Genetics.
Anatomia II
15. Para que serve o apêndice?
Muita gente tem a resposta na ponta da língua: serve só para inflamar. Tanto que sua
retirada não compromete a saúde de ninguém. Até pouco tempo atrás, os cientistas
achavam que esse pequeno tubo ligado ao intestino grosso era um órgão vestigial - ou
seja, um resquício da evolução. Sua função original teria se perdido com algum de nossos
antepassados. Em 2007, contudo, houve uma reviravolta. Cientistas da Universidade
Duke, nos EUA, publicaram um estudo sugerindo que o apêndice serve de abrigo para
bactérias que ajudam na digestão. A estrutura promoveria a proliferação da flora
intestinal (o playground dos micro-organismos "do bem" que vivem em nosso aparelho
digestivo), ajudando, assim, a repor os desfalques causados por uma eventual infecção.
Outra teoria sugere que o apêndice contribui para as defesas do corpo, já que nele se
aglomeram células linfoides, produtoras de anticorpos. Essa seria sua principal função
num passado remoto. Hoje, no entanto, o que esse órgão realmente promove é a
apendicite. Ela atinge 0,25% da população e pode até matar. É por isso que, em caso de
inflamação, o melhor mesmo é remover o dito-cujo.
Anatomia III
16. Como é possível alguém nascer com os órgãos invertidos?
Cerca de 0,01% das pessoas possui os órgãos internos posicionados do lado contrário,
como se estivessem diante do espelho. A medicina tem um nome para isso: situs inversus.
Na maioria dos casos, a transposição não afeta a qualidade de vida desses indivíduos.
Muitos, aliás, só descobrem sua condição ao fazer uma cirurgia. Foi o caso do indiano
Ashok Shivnani, provavelmente o sujeito com a disposição de órgãos mais estranha do
mundo. Ele estava a ponto de ser operado para a retirada de um tumor no abdome quando
os médicos descobriram tudo "fora de lugar": o coração ficava do lado direito e, claro, as
veias e artérias estavam invertidas. Em vez de um fígado grande, Ashok tem dois
pequenos. Ele não possui intestino delgado, e o intestino grosso é bem menor do que o
normal. A causa do situs inversus ainda não foi inteiramente esclarecida. No entanto,
especialistas já identificaram pelo menos um gene que atuaria no processo. Diversos
outros fatores, ainda desconhecidos, também estariam por trás da inversão. A única
certeza é a de que 25% das pessoas com esse quadro também apresentam discinesia ciliar
primária (DCP) - uma doença genética que prejudica o transporte de secreções pelas vias
respiratórias, favorecendo a proliferação de bactérias.
Mal feminino
17. Por que o câncer de mama atinge cada vez mais mulheres?
Um mal galopante
• Câncer de mama é o 2o tipo de câncer mais frequente no mundo, e o mais comum entre
as mulheres.
• Trata-se da maior causa de morte entre as brasileiras, principalmente dos 40 aos 69 anos
(mais de 11 mil óbitos anuais).
• No mundo todo, cerca de 1 milhão de mulheres recebem o diagnóstico da doença
anualmente.
• Para cada 100 mulheres diagnosticadas com câncer de mama, apenas um homem
desenvolve a doença.
Para o nadador holandês Maarten van der Weijden, que se livrou de um câncer
recentemente, pensamento positivo não cura doença alguma. "Acho até perigosa essa
ideia. Ela sugere que você vai perder se não pensar positivamente. Foram os médicos que
me salvaram, sou apenas um sujeito sortudo", afirma o campeão de natação. Diversos
estudos, no entanto, indicam que ver o copo "meio cheio" ajuda mais que vê-lo "meio
vazio". Um deles, produzido por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos EUA,
acompanhou 100 mil mulheres acima dos 50 durante 8 anos. E concluiu que as otimistas
tinham risco 9% menor de ter problemas cardíacos e 14% menor de morrer por qualquer
causa relacionada à idade (câncer e ataque cardíaco, por exemplo). Segundo outra
pesquisa, desta vez levada a cabo na Universidade Ben Gurion, em Israel, mulheres que
passam por situações muito difíceis, como a perda de familiares ou um divórcio, têm
mais risco de desenvolver câncer de mama. O estudo israelense verificou que essas
mulheres tendem a relatar problemas de depressão e ansiedade antes do diagnóstico.
"Esses dados sugerem que o otimismo é protetor e que o pessimismo é prejudicial quando
se fala em desenvolvimento de várias doenças, especialmente as do coração", diz a
médica americana Laura Kubzansky, da Universidade Harvard. "Mas ainda falta
descobrir muita coisa sobre os mecanismos envolvidos nessa proteção."
Fé na ciência
21. Estamos longe da cura?
AIDS
Debilita o sistema imune de sua vítima, deixando-a vulnerável a uma série de infecções
oportunistas.
1981 - A doença é descrita pela primeira vez. No ano seguinte, seriam confirmados os
primeiros casos no Brasil.
1984 - Cientistas descobrem o retrovírus considerado agente causador da doença - mais
tarde batizado de HIV.
1986 - Os EUA aprovam o uso do medicamento AZT, primeiro a dar resultados positivos
no tratamento da aids.
2009 - O número de contaminados pelo HIV chega a 33,4 milhões no mundo, segundo a
Organização Mundial da Saúde.
Anos 60 - Os cientistas reconhecem que Alzheimer é uma doença. Até então, achavam
que era parte do envelhecimento.
1993 - Identificado um gene mutante da apolipoproteína, que responderia por até 25%
dos casos de Alzheimer
2009 - Mais 4 genes ligados ao Alzheimer são identificados, ampliando as possibilidades
de combate à doença.