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I Semana de Arte LGBT

Universidade Federal de Viçosa

Da ciência sexual à arte erótica: Breve


panorama histórico da literatura
homoerótica no Brasil

Juan Filipe Stacul


(Mestrando em Letras - DLA/UFV)

Viçosa
23 de maio de 2011
Se amor? Era aquele latifúndio ... Diadorim tomou
conta de mim
(Guimarães Rosa – Grande sertão: Veredas)

...é só de amor que eu falo...


minha alma é um soluço apaixonado
é um suspiro perdido
que procura um coração onde gemer...
(Cassandra Rios – Carne em Delírio)

Sou o amor que não ousa dizer o nome.


(Alfred Douglas para Oscar Wilde)

I Semana de Arte LGBT


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Oficurso: “Da ciência sexual à arte erótica: Breve panorama histórico da literatura homoerótica no Brasil”
Juan Filipe Stacul
A arte erótica
Por um lado as sociedades – e elas foram numerosas: a China,
o Japão, a Índia, Roma, as nações àrabes-muçulmanas – que
se dotaram de uma ars erotica. Na arte erótica, a verdade é
extraída do próprio prazer, encarado como prática e
recolhido como experiência; não é por referência a uma lei
absoluta do permitido e do proibido, nem a um critério de
utilidade, que o prazer é levado em consideração, mas, ao
contrário, em relação a si mesmo: ele deve ser conhecido
como prazer, e portanto, segundo sua intensidade, sua
qualidade específica, sua duração, suas reverberações no
corpo e na alma.
(FOUCAULT, 1988, p. 57, grifo nosso)
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Juan Filipe Stacul
A ciência sexual

Nossa civilização, pelo menos à primeira vista, não possui


ars erotica. Em compensação é a única, sem dúvida, a
praticar uma scientia sexualis. Ou melhor, só a nossa
desenvolveu, no decorrer dos séculos, para dizer a
verdade do sexo, procedimentos que se ordenam, quanto
ao essencial, em função de uma forma de poder-saber
rigorosamente oposta à arte das iniciações e ao segredo
magistral, que é a confissão.
(FOUCAULT, 1988, p. 58, grifo nosso)
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A ciência sexual
Tanto a ternura mais desarmada quanto os mais sangrentos
poderes tem necessidade de confissões. O homem, no
Ocidente, tornou-se um animal confidente.

Daí , sem dúvida a metamorfose na literatura: de um prazer


de contar e ouvir, [...] passou-se a uma literatura ordenada
em função da tarefa infinita de buscar, no fundo de si
mesmo, entre as palavras, uma verdade que a própria
forma de confissão acena como sendo o inaccessível.
(FOUCAULT, 1988, p. 59)
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Juan Filipe Stacul
O Ateneu (Raul Pompéia, 1888)
Um trabalho insano! Moderar, animar, corrigir esta massa de
caracteres, onde começava a ferver o fermento das
inclinações; encontrar e encaminhar a natureza na época dos
violentos ímpetos; amordaçar excessivos ardores;(...)
prevenir a corrupção; desiludir as aparências sedutoras do
mal;(...) prevenir a depravação dos inocentes; espiar os
sítios obscuros; fiscalizar as amizades; desconfiar das
hipocrisias...(...) Ah! meus amigos, conclui ofegante, não é
o espírito que me custa, não é o estudo dos rapazes a minha
preocupação... É o caráter! Não é a preguiça o inimigo, é a
imoralidade!
(POMPÉIA,2001, p.28)
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Olhe; um conselho; faça-se forte aqui, faça-se homem. Os fracos
perdem-se. Isto é uma multidão, é preciso ter força de cotovelos
para romper. Não sou criança, nem idiota; vivo só e vejo de
longe; mas vejo. Não pode imaginar. Os gênios fazem aqui
dois sexos como uma escola mista. Os rapazes tímidos,
ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o
sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos
como meninas ao desamparo. Quando, em segredo dos pais
pensam que o colégio é a melhor das vidas, com o acolhimento
dos mais velhos, ente brejeiro e afetuoso, estão perdidos... Faça-
se homem, meu amigo! Comece por não admitir protetores.
(POMPÉIA, 2001, p. 33, grifo nosso)

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Juan Filipe Stacul
Se não houvesse olvidado as práticas, como a assistência
pessoal do Rebelo, eu notaria talvez que pouco a pouco
me ia invadindo, como ele observara a efeminação
mórbida das escolas.(...)E, como se a alma das crianças,
a maneira do físico, esperasse realmente pelos dias para
caracterizar em definitiva a conformação sexual do
indivíduo, sentia-me possuído de certa necessidade
preguiçosa de amparo, volúpia de fraqueza em rigor
imprópria do caráter masculino.
(POMPÉIA, 2001, p. 40, grifo nosso)
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A amizade de Bento Alves por mim e a que nutri por ele,
me faz pensar que, mesmo sem o caráter de abatimento
que tanto indignava o Rebelo, certa efeminação pode
existir como um período de constituição moral.
Estimei-o femininamente, porque era grande, forte,
bravo; porque me podia valer; porque me respeitava,
quase tímido, como se não tivesse ânimo de ser amigo.
(POMPÉIA, 2001, p. 84, grifo nosso)

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O Bom-Crioulo (Adolfo Caminha, 1895)
Não havia jeito, senão ter paciência, uma vez que a 'natureza'
impunha-lhe esse castigo. (...) Se os brancos faziam, quanto
mais os negros! É que nem todos têm força para resistir: a
natureza pode mais que a vontade humana...
(CAMINHA, 1999, p. 32)

Bom-Crioulo estava de folga. Seu espírito não sossegara toda a


tarde ruminando estratagemas com que desse batalha
definitiva ao grumete, realizando, por fim, o seu forte desejo
de macho torturado pela carnalidade grega.
(CAMINHA, 1999, p. 37)

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 Depois de um silêncio cauteloso e rápido, Bom-Crioulo, conchegando-
se ao grumete, disse-lhe qualquer cousa no ouvido. Aleixo conservou-
se imóvel, sem respirar. Encolhido, as pálpebras cerrando-se
instintivamente de sono, ouvindo, com o ouvido pegado ao convés, o
marulhar das ondas na proa, não teve ânimo de murmurar uma palavra.
Viu passarem, como em sonho, as mil e uma promessas de Bom-
Crioulo: o quartinho da Rua da Misericórdia no Rio de Janeiro, os
teatros, os passeios...; lembrou-se do castigo que o negro sofrera por
sua causa; mas não disse nada. Uma sensação de ventura infinita
espalhava-se-lhe em todo o corpo. Começava a sentir no próprio
sangue impulsos nunca experimentados, uma como vontade ingênita de
ceder aos caprichos do negro, de abandonar-se-lhe para o que ele
quisesse – uma vaga distensão dos nervos, um prurido de passividade...
– Ande logo! Murmurou apressadamente, voltando-se. E consumou-se
o delito contra a natureza.
 (CAMINHA, 1999, p. 38)

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Nunca vira formas de homem tão bem torneadas, braços
assim, quadris rijos e carnudos como aqueles... Faltavam-
lhe os seios para que Aleixo fosse uma verdadeira mulher!
[...] Que beleza de pescoço, que delícia de ombros, que
desespero!
(CAMINHA, 1999, p. 49).

Quis ela mesma despir o rapaz, tirar-lhe a camisa de meia,


tirar-lhe as calças, pô-lo nu a seus olhos. Bom-Crioulo já
lhe havia dito que Aleixo “tinha formas de mulher”.
(CAMINHA, 1999, p. 73)
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Estava gordo, forte, sadio, muito mais homem, apesar da
pouca idade que tinha, os músculos desenvolvidos como
os de um acrobata, o olhar azul penetrante, o rosto largo e
queimado. Em pouco tempo adquirira uma expressão
admirável de robustez física, tornando-se ainda mais belo
e querido.
(CAMINHA, 1999, p. 82)

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O menino do Gouveia (Capadócio Maluco, 1914?)
Estendido junto a mim na cama suspirativa do chateau, depois de ter
sido enrabado duas vezes, tendo na mão macia e profissional a minha
respeitável porra, em que fazia umas carícias aperitivas, o menino do
Gouveia, isto é, o Bembem, contou-me pitorescamente a sua história
com todos os não-me-bulas de sua voz suave de puto matriculado.

- Eu lhe conto. Eu tomo dentro por vocação; nasci para isso como
outros nascem para músicos, militares, poetas ou até políticos. Parece
que quando me estavam fazendo, minha mãe, no momento da
estocada final, peidou-se, de modo que teve todos os gostos no cu e
eu herdei também o fato de sentir todos os meus prazeres na bunda.

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Mesmo sem querer, tive que admirar-lhe as pernas bem-
feitas, as coxas grossas, torneadas e muito claras, a basta
pentelhada castanho-escura e - com quanta raiva o
confesso! – o seu traseiro, amplo, macio, gelatinoso.

Ah! se eu tivese um cu daqueles, era feliz! Era impossível


que meu titio, tendo ao seu dispor um cagueiro daqueles,
pudesse vir a gostar da minha modesta bunda! Quanto
ciúmes eu tive da tia naquela noite!

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Juan Filipe Stacul
Não quis ou não pude assistir ao resto da cena. Eu tinha uma
sensação esquisita no cu, parecia que as pregas latejavam.
Mais tarde vim a saber que isso era tesão na bunda.

Corri para o meu quarto, fechei-me por dentro, atirei para


longe a camisola, que me incomodava e, tendo arrancado
a vela do castiçal, tentei metê-la pelo cu acima a ver se me
acalmava. Fui caipora; as arestas da bugia machucavam-
me o ânus e não a deixavam entrar.

Passei uma noite horrível.

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Grande sertão: Veredas (J. Guimarães Rosa, 1956)
O menino sorriu bonito. Eu vi o rio. Vi os olhos dele,
produziam uma luz ... Os olhos, eu sabia e hoje ainda mais
sei, pegavam um escurecimento duro ... Mas eu agüentei o
ataque do olhar dele. Aqueles olhos foram ficando bons,
retomando brilho. E o menino pôs a mão na minha.
Encostava e ficava fazendo parte da minha pele, no profundo,
desse a minhas carnes alguma coisa. Era uma mão branca,
com os dedos dela delicados. [...] Amanheci minha aurora.

(ROSA, 1985, p. 99-100).

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Ao cada dia mais distante, eu mais Diadorim, mire veja. O
senhor saiba – Diadorim: que, bastava ele me olhar com
os olhos verdes tão em sonhos, e, por mesmo de minha
vergonha, escondido de mim mesmo eu gostava do cheiro
dele, do existir dele, do morno que a mão dele passava
para a minha mão. [...] Eu era dois diversos? O que não
entendo hoje, naquele tempo eu não sabia.
(ROSA, 1985, p. 457)

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“...Diadorim. Só pensava nele ...Com meu amigo Diadorim,
me abraçava, sentimento meu ia-voava direto para ele ...’
(p. 20)
“Eu estava todo o tempo quase com Diadorim ... Diadorim e
eu, nós dois ... Com assim a gente se diferenciava dos
outros ...”
(p. 27)
“... eu olhava para os braços dele – tão bonitos braços alvos,
em bem feitos ...”
(p. 33)
“As vontades de minha pessoa estavam entregues a Diadorim”
(p. 35)
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“[Ele] põe a mão em meu braço. Do que me estremeci de
dentro, mas repeli esses alvoroços de doçura. Me deu a
mão: e eu”.
(p. 36).

“Que mesmo, no fim de tanta exaltação, meu amor inchou,


de empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de
pegar em Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços,
beijar, as muitas demais vezes, sempre”.
(p. 36)
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“Diadorim – mesmo o bravo guerreiro – ele era para tanto
carinho: minha repentina vontade era beijar aquele perfume
no pescoço: a lá, aonde se acabava e remansava a dureza do
queixo, do rosto ...”
(p. 539)

“Meu corpo gostava de Diadorim. Estendi a mão para suas


formas; mas, quando ia, bobamente, ele me olhou – os olhos
dele não me deixaram. [...]Tive um gelo. Só os olhos
negavam ... Meu corpo gostava do corpo dele, na sala do
teatro”.
(p. 170)
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“Diadorim e eu, a gente parava em som de voz e alcance de
olhos, constante um não muito longe do outro. De manhã
à noite, a afeição nossa era duma cor de uma peça”.
(p. 174)
 

“Só em Diadorim era que eu pensava” .


(p. 202)

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As traças (Cassandra Rios, 1981)
[...] Andréa entrelaçou os dedos nos dedos de Berenice e
sentiu-a apertar sua mão com força. Mundo pobre!
Hipócrita! Teve Vontade de gritar, mas estava sem forças,
lábios grudados, dentes trincados. Afrouxou os dedos e
sentiu um gelo de faca rasgá-la toda quando ouviu a voz
trêmula e doce de sua mãe dizer palavras que a torturavam,
e sem comiseração alguma, pesar e ter noção que sua mãe
era linda, muito linda, tão linda quanto ela própria, ou talvez
muito mais. Eram palavras terríveis como punhais afiados
que a estraçalhavam: ‘- Berenice, você não fez com minha
filha o que fez comigo, não?
(RIOS, 1981, p.283)
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[...] a gente vê. Tá na cara! Não adianta esconder. E não
pense que falo assim com todo mundo, não. Só com
quem eu acho que posso. Não adianta esconder, quando a
mulher é entendida, logo se percebe. Há um processo de
identificação que não se pode evitar. Tá como que no ar.
Logo vi que você era também. Não adianta fingir,
dissimular, arranjar namorado e nem casar. Isso é tudo
besteira. Um dia a pessoa cai.
(RIOS, 1981, p.35).

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Rosana afastou o rosto que apertava contra sua face e
olhou-a nos olhos. As mãos ágeis e atrevidas, tateando
puxou o vestido para cima desnudando-lhe as pernas,
deslizou pelo seu corpo abaixo, enfiou a cabeça no meio
das coxas e beijou-a lá. Ficou tecendo carícias com a
língua até que Andréa contorceu-se no gozo demorado.
(RIOS, 1981, p.146)

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Somo duas traças.
- Traças? Por quê? Eu não quero ser traça, prefiro ser um
cogumelo branco do mato, você já viu? É tão Lindo, tão
branco, parece um pompom de algodão, mas é venenoso.
- Eu sou a traça, pertenço à família dos tineidas e dos tisanuros,
talvez do gênero lepisma, sou aquilo que destrói pouco a
pouco, não vê o franjar das minhas asas e as unhas em forma
de cascos?
- Não são cascos! Prefiro que você seja uma cigarra.
- Traça. Sou traça! Tentando passar despercebida entre os outros,
sinto-me a traça que se esconde entre as costuras dos livros
pra o fim morrer esmagada entre suas páginas.
(RIOS, 1981, p.214).
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Queer Trash - Yasen Zgurovski

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Queer Trash - Nick Lopez 

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Bibliografia
BARCELLOS, José Carlos. Literatura e Homoerotismo Em
Questão . Rio de Janeiro: Dialogarts, 2006.
BUTLER, Judith. Bodies That Matter. New York: Routledge,
1993.
CAMINHA, Adolfo. O Bom-Crioulo. Rio de Janeiro: Ática, 1999.
FOUCAULT, Michel. A história da sexualidade I: A vontade de
saber. 9.Ed. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
LOPEZ, Nick; ZGUROVSKI, Yasen. Queer Trash: Queer
expression through art. Disponível em:
http://www.queertrash.com. Acesso: 10/5/2011.
MALUCO, Capadócio. O menino do Gouveia. Disponível em:
http://tahkion.wordpress.com/2009/08/24/o-menino-do-gouveia/
. Acesso: 9/5/2011.
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POMPÉIA, Raul. O Ateneu. 21 ed. São Paulo: Ática, 2001.
RIOS, Cassandra. As Traças. Rio de Janeiro: Record, 1981.
_______. Carne em delírio. Rio de Janeiro: Record, 1981.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: Veredas. 18. Ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
SEDGWICK, Eve Kosofsky. Between men: English
literature and male homosocial desire. Columbia
University Press: New York, 1985.
_______. Epistemology of the Closet. In.: ABELOVE,
Henry; AINA BARALE, Michèle; HALPERIN, David M.
(org) The lesbian and gay studies reader. New
York/London: Routledge, 1993. p. 45-61.
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No que narrei, o senhor talvez até ache mais do que eu, a
minha verdade.
(Guimarães Rosa – Grande sertão: Veredas)
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