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Manual de Formação
De culturas forrageiras e máquinas de corte
ATAHCA 2009
Vila Verde
Objectivos: Identificar e
classificar culturas forrageiras
e determinar o equipamento de corte adequado
Índice
Introdução 4
Definição de culturas forrageiras e Pastagens 5
Morfologia e fisiologia do crescimento de
gramíneas e leguminosas 6
Gramíneas 6
Leguminosas 7
Forragens 7
Forragens versus Pastagens 7
Utilização em corte único ou vários cortes 8
Esquema das principais alternativas de cultivo 9
Produção de forragens anuais de estação fria 10
Azevém ou erva castelhana 10
Cereais praganosos 11
Consociações de cereais praganosos com leguminosas
(Ervilhacas e outras) 13
Leguminosas estremes 14
Tremoceiros, serradela e trevo encarnado 14
Bersim, trevo da Pérsia e trevo vesiculoso 15
Produção de forragens anuais de estação quente 16
O Milho 17
Sorgos forrageiros 19
Produção de forrageiras bienais ou vivazes 20
Azevéns e trevo violeta 21
Luzerna 23
Colheita e conservação das forragens 25
A fenação 25
A desidratação 28
A ensilagem 29
Referências Bibliográficas
Introdução
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Culturas forrageiras e Pastagens
Entende-se por culturas forrageiras ou forragens, as culturas de plantas
herbáceas, geralmente anuais mas por vezes bienais ou vivazes, destinadas a
serem colhidas pelo homem antes da maturação completa, para a alimentação
dos animais em verde ou após a conservação.
Pastagens, prados ou culturas pratenses são culturas ou comunidades de
plantas geralmente herbáceas, aproveitadas predominantemente no próprio local
em que crescem pelos animais em pastoreio, e portanto directamente sujeitas à
sua acção de desfoliação, pisoteio e dejecção.
As forragens podem ser agrupadas conforme a duração do cultivo em:
Anuais – se for inferior a um ano;
Bienais – entre um ou dois anos;
Vivazes ou perenes – se a duração for maior que dois anos.
Existe um claro domínio das culturas de menor duração (anuais).
As pastagens ou prados podem ser permanentes ou temporários. São
permanentes quando têm uma longa duração, tanto quanto o seu estado de
conservação e produtividade o permitir, sendo em caso contrário substituídas por
nova pastagem. Estas pastagens são indicadas para solos sem aptidão agrícola.
São temporárias quando estão “encaixadas” em rotações com outras culturas
agrícolas, tendo portanto uma duração pré-determinada, estão indicadas para
solos com aptidão para culturas aráveis e contribuem para os objectivos da
rotação de culturas.
Podem ainda distinguir-se as pastagens semeadas das pastagens naturais ou
espontâneas. As primeiras, por vezes imprecisamente designadas de pastagens
melhoradas, são como o nome indica resultantes da sementeira pelo homem de
plantas seleccionadas. As pastagens naturais ou espontâneas constituem-se à
base de espécies que vegetam espontaneamente, sem introdução deliberada pelo
homem, embora possam ser sujeitas a técnicas de melhoramento como sejam a
fertilização e o maneio da sua utilização.
O recurso ou não à rega para suprir as deficiências de alimentação hídrica das
plantas, resultantes da secura estival do nosso clima, determina diferenças muito
significativas nas possibilidades e potencialidades de cultivo, pelo que se
considera importante a distinção entre culturas forrageiras e pastagens de
regadio e de sequeiro.
Os termos erva e forragem são utilizados para designar um conjunto de
alimentos que as culturas forrageiras e as pastagens permitem obter para a
alimentação animal.
Em Portugal, as culturas forrageiras e as pastagens ocupam cerca de metade da
superfície agrícola útil (SAU) do país, embora com elevada diversidade regional, já
que em regiões como os Açores e o Entre Douro e Minho têm um predomínio
quase absoluto, enquanto que na Madeira e no Algarve ocupam uma reduzida
percentagem das respectivas superfícies afectadas à agricultura.
Na Beira Litoral e no Entre Douro e Minho predominam as culturas forrageiras e os
prados temporários, enquanto que nas restantes regiões e predominantemente
no Alentejo e nos Açores predominam as pastagens e o pastoreio.
No que respeita aos animais, os bovinos assumem uma importância relativa
próxima dos 70% do efectivo de ruminantes, e dentro dos pequenos ruminantes
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os ovinos têm um claro predomínio sobre os caprinos, tendo-se registado um
sensível crescimento nas duas últimas décadas contrariamente aos caprinos.
Nos Açores, no Entre Douro e Minho e na Beira Litoral regista-se um claro
predomínio da vaca leiteira sobre os restantes ruminantes, e só estas três regiões
detêm 76,5% do efectivo de vacas leiteiras do país.
Quanto às principais culturas forrageiras, em termos regionais, merecem
destaque o milho silagem no EDM, na Beira Litoral e nos Açores, o azevém anual e
as consociações também no EDM, na Beira Litoral e no Alentejo, a aveia forrageira
em Trás-os-Montes, Beira Interior, Ribatejo e Alentejo, e o milho basto (milharada)
na Beira Interior.
Leguminosas
Os aspectos gerais e de maior importância a destacar são:
Sistema radicular aprumado e menos denso que o das gramíneas,
exceptuando-se o caso das espécies estolhosas como o trevo branco e o trevo
morango. Este menor desenvolvimento do sistema radicular tem implicações na
capacidade de competir pelos nutrientes e água no solo. A presença de
nodosidades na raiz em resultado da simbiose com o rizóbio é também um
aspecto característico e específico das leguminosas que é facilmente observável,
tendo também grande importância para a nutrição e para a competição de
misturas;
Os caules podem apresentar portes muito diversos, sendo particularmente
importantes para as pastagens as espécies cujos caules são prostrados,
crescendo no sentido horizontal;
As folhas são pecioladas apresentando três ou mais folíolos;
O fruto das leguminosas é uma vagem.
Forragens
O cultivo e produção de forragens tem como objectivo obter melhor produção de
erva em corte, conjugando e adequando qualidade e quantidade ao efectivo
animal a que se destina, tirando o melhor proveito das condições ambientais e do
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equipamento e estruturas da exploração agrícola, e permitindo melhorar a
rendibilidade da produção animal.
As forragens cortadas destinam-se sobretudo à alimentação dos animais à
manjedoura, em verde ou após conservação sob a forma de feno ou silagem,
podendo em alguns casos estas culturas serem utilizadas em períodos limitados
por pastoreio.
Trata-se em geral de culturas de duração curta (anuais), mas algumas podem
persistir por dois ou mais anos, favorecendo vários cortes anuais de erva como
por exemplo a luzerna.
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Pérsia, em cultivo para produção de semente, e em outros tipos de utilização,
como complemento de pastagens, cultura de revestimento, relvados, etc.
Cereais praganosos
O cultivo de cereais praganosos para forragem compreende técnicas de cultivo e
de utilização muito diversas. Destaca-se a utilização para cortes ou pastoreios
múltiplos em verde no período de Outono-Inverno (ferrãs), a utilização com o
duplo objectivo de pastoreio ou corte verde precoce em verde e posterior
produção de grão, e a produção em corte único na fase de desenvolvimento do
grão para conservar como feno ou silagem. As diversas espécies de cereais –
aveia, centeio, cevada, trigo e triticale – são cultivadas em diversas condições e
com diferentes utilizações e características. Entre nós a mais extensamente
cultivada é a aveia (Avena sativa, mas também a Avena strigosa e a Avena
bizantina), a qual se destaca pela sua grande maleabilidade de adaptação a
diferentes tipos de solos, pela sua menor susceptibilidade ao excesso de água em
relação aos restantes cereais e por ser mais folhosa. O centeio (Secale cereale) é
escolhido pela sua adaptação a solos de baixa fertilidade, nomeadamente de
texturas arenosas e ácidos, e ainda pelo seu melhor crescimento em condições de
baixas temperaturas no Outono e no Inverno, não sendo adequado para
aproveitamento em corte único à maturação do grão.
Quando se pretenda privilegiar a produção em verde no Outono-Inverno deve-se
optar por semear o mais cedo possível, antes ou logo após as primeiras chuvas de
Setembro/Outubro, uma mistura de cereais ou de cereais com azevém (e trevos),
havendo interesse em incluir o centeio pelo seu melhor crescimento inicial a
baixas temperaturas. A inclusão do azevém (e dos trevos) permite melhorar a
produção e qualidade do último corte na Primavera, quando os cereais pelos
repetidos aproveitamentos e em particular após o início do encanamento
reduzem sensivelmente a sua capacidade de recrescimento, bem como o seu
valor nutritivo.
Este tipo de cultivo requer uma boa disponibilidade de Azoto desde a sementeira,
com fertilização fraccionada em fundo e após cada aproveitamento a qual pode
ser reduzida na Primavera se na mistura forem incluídos trevos. A cultura assim
conduzida permite obter erva de elevado valor nutritivo, quer quanto à
digestibilidade, quer quanto aos teores de proteínas, mas em geral mais baixa
produção de matéria seca.
Trata-se de um tipo de cultivo particularmente adaptado para complementar a
escassez de alimento no Inverno dos sistemas de produção baseados nas
pastagens de sequeiro, razão que pode justificar o cultivo dos cereais sobre este
tipo de pastos. A cultura dos cereais de corte único à maturação do grão adquiriu
importância crescente nos últimos anos, pela atribuição das ajudas à superfície
cultivada aos produtores de culturas arvenses, mas também pela sua aptidão
para se obter uma elevada produção de biomassa em um só corte para
conservação, em especial como silagem.
O cultivo para corte único deve ter uma sementeira mais tardia, fins de Outubro
(nas regiões de Inverno mais frio) e Novembro, procurando-se que uma segunda
mobilização superficial do solo aquando da sementeira permita reduzir a
competição da vegetação infestante emergida após as primeiras chuvas.
Para este tipo de cultivo normalmente recorre-se a uma só espécie, em função do
seu ajustamento ás condições edafo-climáticas e ao tipo de conservação (feno ou
silagem), e caso o corte não tenha de se realizar relativamente cedo (Abril) por
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forma de libertar o solo para instalação de uma cultura de Primavera-Verão, ou
por se tratar de uma região de Primavera muito seca, deverá ser escolhida uma
cultivar tardia que permitirá uma maior potencialidade de produção.
A sementeira deverá garantir um povoamento inicial de 250 plantas por m2, o que
significa densidades de sementeira próximas ou ligeiramente superiores a 300
sementes por m2, e se traduz conforme os diferentes pesos das sementes em 90
a 110kg/ha no caso do centeio e aveias, e 130 a 150kg/ha nos casos do trigo e
triticale.
A fertilização azotada destas culturas é uma técnica de crucial importância, em
particular nos solos de baixa disponibilidade de Azoto. A adubação azotada
deverá incorporar apenas 20 a 40kg/ha à sementeira, e 80 a 110kg/há em
cobertura ao fim do afilhamento (Fevereiro), mais cedo nas regiões mais secas
(fins de Janeiro), sendo indispensável que após a cobertura e até à colheita se
registem pelo menos 150-200mm de precipitação para se obter uma boa resposta
à adubação à cobertura. Nos solos de mais elevada disponibilidade de Azoto não
se deve aplicar adubo à sementeira, mas apenas em cobertura valores de 60 a
90kg/ha de Azoto, que tenham em conta a potencialidade da cultura, mas
também os riscos da acama.
As elevadas taxas de crescimento diário de matéria seca dos cereais a partir do
encanamento e até ao grão leitoso, com valores de 120 a 180kg de MS/ha/dia, a
par de uma evolução do valor nutritivo que regista uma queda não muito
acentuada até ao estado de ântese (desabrochar da flor) e uma estabilização ou
até ligeira melhoria posterior até ao estado de grão leitoso, determina que seja
este o momento indicado para a colheita destas culturas.
No caso de fenação, caso haja receio da desgrana durante o seu processamento,
a colheita poderá ser realizada no início do estado leitoso. Uma outra razão que
pode definir a data de corte é a ocorrência de um forte período de stress hídrico,
o qual limita severamente as taxas de crescimento referidas e acelera o
decréscimo do valor nutritivo da forragem pela senescência precoce das folhas.
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proveito da eventual disponibilidade de água para o crescimento até mais tarde, e
permitindo assim uma elevada acumulação de biomassa quando consociada com
uma cultivar tardia de cereal.
Por seu lado a ervilhaca de cachos vermelhos (Vicia bhengalensis) pode também
ser útil para associar aos cerais em solos pouco ácidos, neutros ou mesmo
alcalinos de textura franca a argilosa.
Caso se pretenda uma apreciável melhoria do valor proteico da forragem, em
especial quando se destina a conservação como silagem (no processo de fenação
as ervilhacas sofrem consideráveis perdas que reduzem o seu impacto no valor
nutritivo da forragem), a ervilhaca e o cereal deverão ter densidades próximas de
150 sementes/m2 e a fertilização azotada deverá ser moderada ou baixa. Caso se
pretenda obter produções elevadas mas melhorar um pouco o valor nutritivo da
forragem, as densidades deverão ser de 220-250 sementes/m2 de cereal e 60-80
sementes de ervilhaca, sendo a adubação azotada de 100kg de Azoto/ha ou de
60kg de Azoto/ha, conforme se trate de solos de baixa ou elevada disponibilidade
de Azoto respectivamente.
É ainda necessário conciliar a precocidade das cultivares de cereal com a da
leguminosa adoptada, para que o estado de grão leitoso do cereal coincida com o
início de formação da semente nas leguminosas. Caso haja riscos acrescidos de
perdas (sobretudo das folhas das leguminosas) na fenação ou pela ocorrência de
stress hídrico acentuado, a colheita deve ser antecipada.
Estas consociações são adequadas à utilização em corte único, num estado
avançado da maturação, destinado à conservação da forragem, permitindo
produções elevadas que beneficiam com a presença das leguminosas, quer
através da melhoria do valor nutritivo em relação aos cereais estremes, quer da
fixação simbiótica de Azoto.
Leguminosas estremes
Tremoceiros, serradela e trevo encarnado
A importância da cultura destas leguminosas para produção de forragens no
nosso país advém da extensão de solos arenosos, ácidos, de baixa fertilidade,
onde podem desempenhar um papel de pioneiras na recuperação de condições
de fertilidade.
A sua cultura não é feita sempre estreme, podendo ser consociadas com cereais
ou com azevém, mas pertence-lhes o papel principal neste tipo de cultivo, em que
não se pretende obter uma elevada produção, mas sobretudo conseguir uma
produção razoável, com apreciável valor nutritivo, a baixos custos e em situações
de baixa fertilidade.
Estes cultivos são efectuados sem recurso a adubações azotadas beneficiando da
boa capacidade de fixação simbiótica de Azoto destas leguminosas nestas
condições de cultivo, não dispensando fertilizações com adubos fosfatados, os
quais são essenciais para que produzam satisfatoriamente. De entre estas
leguminosas mais rústicas, a mais utilizada é a tremocilha ou tremoceiro amarelo
(Lupinus luteus) embora sejam utilizados também o tremoceiro branco (Lupinus
albus), o tremoceiro de folhas estreitas (Lupinus angustifolius), a serradela
(Ornithopus sativus) e o trevo encarnado (Trifolium incarnatum).
O trevo encarnado e a serradela têm sementes relativamente pequenas (mil
sementes pesam aproximadamente três gramas), devem ser semeadas sobre o
cedo, às primeiras chuvas, em densidades de 15-20kg/ha, menos quando em
consociação com o azevém, e podem proporcionar mais de um corte, o último
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para conservar principalmente como feno, em plena floração, com produções que
podem ser consideráveis em regiões e anos em que se registe uma razoável
precipitação no fim do Inverno e Primavera, sendo contudo espécies susceptíveis
ao excesso de água no solo.
A tremocilha tem sempre sementes muito maiores (mil sementes pesam mais de
cem gramas), é semeada um pouco mais tarde após as primeiras chuvas e como
se desenvolve com acentuada ramificação pode ser semeada com uma menor
densidade de sementeira, na ordem de 60-80 sementes/ m2, o que significa
porém 75-100kg,menos quando consociada com um cereal como por exemplo a
aveia.
A tremocilha tem fraca capacidade de recrescimento, pelo que deve ser cultivada
para corte único e conservação no estado de desenvolvimento das sementes na
vagem, ou tal, como é prática tradicional, em pastoreio seco após maturação
completa no Verão.
A tremocilha tem cultivares “amargas” com elevada deiscência (libertação de
sementes) das sementes e cultivares “doces” melhoradas e com vagens muito
menos deiscentes. A utilização da tremocilha requer alguma prudência, devido à
sua eventual toxicidade, quer em verde nas cultivares amargas (com menores
riscos para os ovinos), quer em seco, pelos riscos de “lupinose”, toxicidade devido
a um fungo (Phomopsis) que parasita as plantas secas quando ocorre chuva ou
humidade acentuada no Verão. A utilização em pastoreio dos tremoceiros secos
pode permitir a regeneração natural por auto-sementeira no 2º ano de cultivo, o
que representa uma vantagem acrescida no objectivo destes cultivos que como
referimos é o de obter uma produção razoável, a baixos custos em condições de
baixa fertilidade dos solos.
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O bersim revela a mais elevada potencialidade de produção de matéria seca
chegando a seis ou mais cortes em regadio de Outono a Maio/Junho, mas o seu
valor nutritivo e alimentar é claramente mais reduzido que os restantes.
O aproveitamento destes trevos, tanto no Outono-Inverno, em que as plantas têm
elevados teores de água, como na Primavera, faz-se por uma sucessão de cortes
em verde ou por pastoreio, havendo ensaios que reconhecem o elevado interesse
do trevo da Pérsia nestas condições para a alimentação de vacas leiteiras. O
último corte, a realizar na plena floração, deve preferencialmente destinar-se a
conservar como feno ou silagem.
Estas espécies, embora mais produtivas, revelam maior susceptibilidade a
algumas doenças e vírus, embora com diferenças apreciáveis entre espécies e
cultivares, como seja à antracnose ( doença provocada por fungos) (bersim), às
ferrugens (trevo da Pérsia) e aos vírus (trevo vesiculoso).
O milho
O milho (Zea mays) é uma cultura de grande tradição em Portugal, sobretudo no
Noroeste, onde o cultivo para grão, estreme ou mais frequentemente consociado
com feijão, desde há muito que contribuía para a alimentação dos ruminantes,
através dos desbastes, do corte dos “pendões”, da utilização das palhas e do
folhelho.
Em certas condições, que ainda hoje se mantêm com expressão significativa
sobretudo na Beira Interior, é utilizado em cultivo de altas densidades, semeado a
lanço, com o objectivo de o cortar gradualmente e utilizar em verde ou como feno
na alimentação dos animais, em geral a partir da floração masculina (bandeira) no
fim do Verão (Agosto/Setembro) – milho basto ou milharada. É um tipo de cultivo
tradicional que se concilia com uma sementeira relativamente tardia após uma
cultura de Inverno, de erva (p. ex. azevém) ou mesmo de grão (cereal
praganoso), realizado com baixos custos, sem recurso a sementes certificadas e
herbicidas.
Porém, o milho tornou-se entre nós nas últimas décadas a principal forragem
anual de estação quente, através do cultivo com semeadores de precisão, de
híbridos seleccionados, em povoamentos pouco superiores ao cultivo para grão,
com controlo de infestantes através de herbicidas, fertilização abundante e regas
adequadas, com corte e conservação como silagem em estado avançado de
maturação do grão – o milho silagem- o qual se tornou a base da alimentação das
explorações intensivas de vacas leiteiras.
É uma cultura de muito elevado potencial de produção, de elevada
digestibilidade, excelente valor energético e ingestão voluntária, e de muito fácil
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conservação como silagem, com produção em corte único. É pois imbatível para
estas condições de produção e utilização, embora os seus valores em proteína
sejam relativamente baixos.
Os principais aspectos técnicos a ter em conta respeitam à escolha das cultivares
ou variedades, às datas e densidades de sementeira, ao controlo de infestantes,
fertilização, rega e momento de corte.
Os primeiros aspectos estão inter-relacionados, já que a escolha da variedade
começa pela duração do seu ciclo cultural, vulgarmente referenciada por ciclo
FAO (200 a 800), o que está dependente da potencialidade climática da estação
de crescimento local (somatório de graus dia entre as possíveis datas de
sementeira e colheita), sendo as plantas de ciclo mais curto, a adoptar em
sementeiras mais tardias, plantas de menor estatura e por isso com óptimos de
densidade de povoamento mais elevados.
A escolha das variedades deve estar apoiada em ensaios de adaptação regional
como sucede há anos no EDM, embora se possam recomendar como
características a atender na escolha de híbridos para forragem a tolerância a
baixas temperaturas e vigor juvenil, a elevada resistência à acama, a manutenção
da folhagem verde até estados avançados de maturação, e os valores de
digestibilidade e ingestibilidade da planta inteira que podem apresentar
diferenças apreciáveis entre variedades.
A sementeira deverá realizar-se quando já não haja riscos de ocorrência de geada
e os valores médios da temperatura média do solo a 5cm de profundidade sejam
próximos ou superiores a 15ºC, sendo desejável que a temperatura média do ar
na fase da plântula seja de pelo menos 13 a 15ºC.
Em termos práticos, embora dependendo muito em cada ano da evolução das
temperaturas, da ocorrência de precipitação, e do regime hídrico dos solos, as
sementeiras mais precoces ocorrem na primeira quinzena de Abril nas regiões
menos frias do Centro e Sul do país, sendo possível adoptar as variedades de ciclo
muito tardio (FAO 700 e 800) e de mais elevada potencialidade produtiva, com as
mais baixas densidades, 65 a 75 mil sementes/ha. No extremo oposto podemos
considerar as regiões mais frias do Centro e Norte, obrigando a adoptar milhos de
ciclo curto (classes FAO 200-300), com sementeiras nos fins de Maio/princípios de
Junho e densidades de 100-115 mil sementes/ha.
Quanto às infestantes, o controlo é feito com possibilidade de recurso e diversos
herbicidas, com predominância actual para os produtos à base de atrasina
incorporados em pré-sementeira, e com possibilidade de complementar com
aplicações em pós-emergência para o controlo de infestantes mais resistentes
como a junça. A possibilidade de limitações ao uso da atrasina em face da
contaminação das toalhas freáticas deverá determinar mudanças técnicas a
curto-médio prazo.
A mobilização do solo para o cultivo do milho silagem também apresenta
vantagens para o controlo das infestantes e ainda permite a incorporação de
chorumes ou estrumes e um aquecimento do solo na cama da sementeira
conduzindo a uma emergência mais rápida. Porém, a mobilização mínima e os
equipamentos de sementeira directa têm vindo progressivamente e ser
adoptados por diversos agricultores, pelas vantagens relativas em termos de
rapidez de implantação das culturas e de mais baixos custos, a que acresce a
recente regulamentação das medidas agro-ambientais com a atribuição de um
prémio.
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A rega, conduzida por diferentes técnicas, deve garantir que ao longo de todo o
cultivo o milho não seja sujeito a stresses hídricos. Desde que o solo esteja
adequadamente provido em água aquando da sementeira, situação frequente nas
nossas condições, o milho poderá não ser regado nas primeiras fases de
desenvolvimento, mas a ideia de que se deve “forçar” o desenvolvimento
radicular não regando nas primeiras fases não parece justificar-se. As exigências
hídricas da cultura sobem progressivamente ao longo do desenvolvimento
vegetativo, sendo máximas entre o aparecimento da bandeira e o início do
desenvolvimento dos grãos. A rega deverá ser especialmente assegurada a partir
da 10ª-12ª folha até ao estado leitoso do grão.
De forma a maximizar a produção, a digestibilidade e a ingestibilidade, o corte
deve ser realizado, para conservação em silos horizontais no estado pastoso duro
do grão, ou seja com a linha de leite a 1/2 - 2/3 do grão.
Sorgos forrageiros
Os sorgos forrageiros apresentam diferenças acentuadas em relação aos sorgos
para grão, ao contrário do que sucede com o milho, e apresentam diferenças
entre si relativamente à estatura, espessura dos colmos, afilhamento e relação
folhas/caule entre outras. Cultivam-se em geral híbridos, quer de erva do Sudão
(Sorghum sudanense), normalmente de menor estatura dos colmos, mas maior
afilhamento e mais folhoso, aptos a um maior número de cortes, quer híbridos
deste com Shorgum bicolor.
A principal razão que pode ditar o seu cultivo entre nós em relação ao milho
reside no facto de através do afilhamento os sorgos poderem recrescer e serem
explorados em mais de um corte, favorecendo assim a utilização múltipla em
verde, eventualmente em pastoreio, embora possam ser ensilados e, menos
vezes, sujeitos a fenação, já que revelam alguma dificuldade na secagem dos
colmos, pelo que requerem corte com gadanheira condicionadora.
O sorgo, tal como o milho é uma gramínea com boa adaptação a crescer na
estação quente, embora mais exigente que o milho em temperaturas e menos em
água. O facto de ser mais sensível que o milho a temperaturas baixas obriga a
uma sementeira um pouco mais tardia que o milho (1 a 3 semanas), o que
contribui juntamente com o nosso clima para lhe “retirar a vantagem da menor
exigência em água, fazendo com que em geral só seja possível obter boas
produções em regadio. No entanto tira maior partido que o milho de terrenos de
sequeiro que conservam uma certa humidade durante o Verão.
A escolha das variedades deve atender aos resultados de ensaios de adaptação e
depende do tipo de utilização desejado, em particular de um maior ou menor
número de cortes, devendo também optar-se por variedades com baixo risco de
toxicidade.
Os sorgos podem ser semeados a lanço ou em linhas espaçadas de 25-30cm, a
densidades de 300-400 mil sementes/ha, o que significa em geral 20-30kg de
semente/ha, sendo conveniente proceder a uma rolagem após a sementeira
quando o solo tenha pouca humidade à superfície, e no caso da sementeira em
linhas orientá-las preferencialmente Norte-Sul.
A fertilização, para além de atender a eventuais necessidades de correcção do
solo quando o pH seja inferior a 5,5, e de incorporar Fósforo e Potássio tendo em
conta as análises do solo e eventuais estrumações, deverá atender à repartição
equilibrada da adubação azotada, à sementeira e após os cortes (excepto o
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último), evitando-se aplicações exageradas (> 100kg/ha) que para além de
poderem induzir perdas aumentam os riscos de toxicidade da forragem de sorgo.
Embora menos sujeito a competição pelas infestantes do que o milho, dadas as
mais elevadas densidades e menor espaçamento das linhas, assim como devido
ao aproveitamento em mais de um corte, poder-se-á ter que recorrer à aplicação
de controlo de infestantes, mais frequentemente em pós-emergência.
O valor alimentar do sorgo é em geral mais baixo que o do milho, embora
dependa muito do estado de desenvolvimento em que é cortado. No caso de
cortes para alimentação em verde é preferível cortar mais vezes na fase de
encanamento, antes do início do espigamento, conseguindo-se assim um melhor
valor alimentar e mais elevado teor em proteínas. Deve ainda ter-se o cuidado de
executar os cortes a uma altura superior a 10cm do solo para facilitar o
recrescimento. No caso de se pretender ensilar o corte deverá ocorrer no estado
de grão-pastoso, procurando-se assim assegurar uma mais elevada produção no
corte.
A exploração em pastoreio tem de ser feita com altura da erva superior a 50-
60cm, de forma a evitar riscos de toxicidade, riscos estes que são maiores
quando a cultura é sujeita a stresses, como falta de água ou temperaturas baixas.
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O trevo violeta, embora registe um declínio de interesse e áreas semeadas nas
últimas décadas, dispõe de um leque alargado de cultivares, com diferenças
apreciáveis de precocidade, permitindo, as mais precoces, o início dos cortes mais
cedo na Primavera e maior número de cortes.
O trevo violeta estreme deve ser semeado com 10-15Kg/ha, ou valores mais
elevados conforme as cultivares (ter em conta o tamanho das sementes), e no
caso de consociações com gramíneas podem usar-se 4-7kg/ha. Esta cultura
requer uma adequada fertilização em Fósforo e Potássio e eventualmente em
Cálcio e Enxofre, beneficiando de uma pequena adubação de Azoto à sementeira
caso o solo não tenha razoável disponibilidade em Azoto mineral.
A sua utilização é feita em vários cortes de Abril/Maio a Setembro/Outubro, os
quais não devem ser muito frequentes para respeitar o restabelecimento das
reservas de glúcidos e não comprometer a persistência da cultura, o que é
possível já que o decréscimo do valor nutritivo é pouco acentuado com o avançar
da maturação e os seus caules apresentam um valor nutritivo apreciável,
contribuindo para que seja uma forragem de elevada ingestibilidade. É utilizado
para a alimentação em verde, silagem ou feno, devendo nos dois primeiros casos
haver alguma prudência quando em cultivo estreme pelos riscos de timpanismo,
sendo preferível a sua cultura em consociação com uma das gramíneas.
Os azevéns, cultivares de maior persistência de Lolium multiflorum (fig.1) subsp.
italicum, ou os azevéns híbridos resultantes do seu cruzamento com L. perenne,
permitem também obter culturas com boa produção por 2-3 anos.
Os azevéns adaptam-se melhor às regiões de Inverno ameno e clima húmido, a
diferentes tipos de solo e ao excesso de água no solo, sendo susceptíveis às
elevadas temperaturas, pelo que entre nós apresentam muito bons crescimentos
na Primavera, mas uma queda sensível na produção durante o Verão quente,
apesar da rega.
Todas as culturas aqui referidas podem nas condições de regadio ser
estabelecidas em duas épocas do ano, o fim do Verão início do Outono
(Setembro/Outubro), ou o fim do Inverno início da Primavera (Março/Abril),
dependendo a escolha da libertação do terreno pela cultura precedente e do
estado do solo e do clima na época de instalação prevista, devendo-se evitar o
excesso de água e temperaturas baixas (< 10ºC), nas primeiras semanas de
estabelecimento das culturas.
A fertilização deverá atender à eventual necessidade de correcção da acidez, em
especial no caso do trevo violeta, caso o pH seja inferior a 5,5-6, à adubação
fosfopotássica em fundo, em função das análises de solo e das exportações
previsíveis, e especialmente à adubação azotada que deverá ser substancial e
repartida em diversas aplicações de cobertura após os cortes no caso de
gramíneas estremes, com valores anuais de 300 a no máximo 400 unidades (risco
de perdas), repartidas em 6 a 8 aplicações, mais elevadas no fim do Inverno/início
da Primavera.
No caso das consociações com o trevo violeta a adubação azotada deverá atender
ao equilíbrio da consociação e aos diferentes ritmos de crescimento anual, do
trevo e das gramíneas, justificando-se a aplicação em cobertura no fim do Inverno
de 50-80 unidades de Azoto para suportar o maior potencial de crescimento da
gramínea no início da Primavera e eventualmente um valor na ordem de 30-40
unidades de Azoto no final do Verão/início do Outono, já que se registará aí algum
potencial de crescimento da gramínea até ao fim do Outono e o trevo violeta cede
pouco Azoto à gramínea da consociação.
17
A rega destas culturas depende das condições da região e do ano climático, sendo
de admitir que nos casos de maior exigência se prolongue por cinco meses (Maio-
Setembro), com valores que poderão atingir 400-650mm/ha/ano.
Luzerna
A luzerna é a leguminosa mais cultivada como forragem de corte a nível mundial,
com mais de 30 milhões de hectares, embora em Portugal o seu cultivo seja
reduzido. É uma planta vivaz, com uma raiz aprumada e carnuda que se
desenvolve a grande profundidade, a qual à superfície do solo forma uma coroa
de onde se desenvolvem sucessivamente diversas gemas produzindo novos
caules, o que lhe confere uma boa capacidade de recrescimento e adaptação a
condições adversas do meio.
As luzernas cultivadas na nossa região pertencem à espécie Medicago sativa ou
aos seus híbridos naturais com Medicago falcata, designados Medicago×media.
As primeiras não possuem dormência invernal acentuada sendo pouco resistentes
ao frio, mantendo um certo crescimento em zonas de Inverno ameno e revelam
uma mais rápida recuperação da área foliar após os cortes através de uma maior
mobilização de Azoto armazenado pela planta. As luzernas híbridas apresentam
maior resistência ao frio de Inverno, podendo resistir a temperaturas de 20ºC
negativos à custa de uma acentuada dormência invernal que provém da
Mendicago falcata, assim como um porte menos erecto e por vezes alguns caules
rizomatosos, o que lhes confere também maior adaptação ao pisoteio.
Com diferentes graus de adaptação ao frio de Inverno, a luzerna adapta-se a
Verões bem quentes, e mesmo à secura através do seu muito profundo sistema
radicular e da capacidade de apresentar dormência estival em caso se stress
hídrico. Pode ser cultivada entre nós em sequeiro, mas apresenta produções bem
mais elevadas em regadio quer estreme quer em consociação com gramíneas.
A luzerna é exigente em solos para exprimir o seu potencial de produção,
requerendo solos profundos, bem drenados e bem providos de cálcio. Não se
adapta a solos com pouca profundidade, nem a solos ácidos, nem a solos com
excesso de água, razões que justificam as suas escassas áreas de cultivo em
Portugal, embora em Espanha seja uma das forrageiras mais cultivadas, com
cerca de duzentos e cinquenta mil hectares.
A luzerna é explorada em geral durante 3 a 5 anos, com vários cortes por ano,
menor número nas regiões de Inverno mais frio e prolongado, podendo fornecer
apenas 3 a 5 cortes de Maio/Junho a Setembro, ou maior número, 7 a 9 cortes
anuais nas regiões de Inverno ameno do litoral Sul, em condições de regadio.
A intensidade de exploração da luzerna, através do número ou ritmo de cortes e
do estado de desenvolvimento em que são realizados, afecta a produção, o valor
nutritivo e a persistência da cultura. Menor número de cortes realizados em
estado mais avançado (média ou plena floração p. ex.) permite maior produção
de biomassa e maior persistência/perenidade da cultura, mas inferior valor
nutritivo da produção. Inversamente em maior número de cortes, em estado de
desenvolvimento mais precoce (abotoamento ou início da floração), permite mais
elevado valor nutritivo e qualidade da forragem, o que só é possível sem
comprometer muito a perenidade da cultura com as variedades tipicamente
mediterrânicas, sem dormência invernal e com melhor capacidade de
recuperação após corte.
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O luzernal pode ser estabelecido com sementeiras a lanço ou linhas espaçadas de
15-20cm, ou mesmo em sementeira directa, com densidades de 12 a 25kg/ha,
sendo os valores mais elevados quando se recear escassez de água para a
emergência, ou ataque de inimigos às jovens plântulas. A sementeira deve ser
feita a pouca profundidade, 1-2cm conforme os solos, havendo vantagens em
rolar para melhor aconchegar a terra à semente.
A sementeira pode ser feita no final do Verão - início do Outono (Setembro/início
de Outubro), ou no final do Inverno – início da Primavera (Março/Abril), sendo em
geral as sementeiras de Outono menos susceptíveis à competição pelas
infestantes.
A cultura da luzerna apresenta razoável susceptibilidade às infestantes, em
particular na fase de estabelecimento e nos períodos anuais de repouso de
Inverno, havendo um leque de herbicidas susceptíveis de utilização em diferentes
fases e para diferentes tipos de infestantes. As medidas culturais, como sejam a
preparação do solo para a sementeira, o ritmo de cortes e eventuais cortes de
“limpeza” no estabelecimento ou no final do Inverno podem ser suficientes para o
controlo de infestantes.
Embora mais frequentemente seja cultivada estreme, pela dificuldade de conciliar
ritmos de crescimento e corte, a luzerna pode ser consociada com gramíneas
como sejam a Dactylis glomerata e a Festuca arundinacea.
Em solos pouco profundos ou medianamente providos a adubação de fundo
poderá incorporar 300-400kg/ha de K2O e as coberturas anuais 150-200kg/ha. O
risco de competição das infestantes justifica também uma pequena adubação
azotada à sementeira (20-30kg de Azoto/ha) caso o solo disponha de pouco Azoto
mineral nessa fase, ou a sementeira se realize sobre o tarde de Outono.
Embora com apreciável resistência à seca, para obter boas produções a luzerna
deverá ser convenientemente regada, pelo que são previsíveis, ao longo da
estação de crescimento, regas de Abril/Maio a Setembro/Outubro.
A principal utilização da luzerna é o feno, embora haja que adoptar precauções e
procedimentos que minimizem o risco de queda da folha e consequentes perdas
do valor nutritivo. A ensilagem é possível e por vezes adoptada especialmente no
primeiro corte da estação de crescimento, sendo indispensável utilizar
conservantes ou realizar pré-fenação, quer para conservação em silos horizontais,
quer em grandes fardos redondos plastificados.
A luzerna pode ainda ser utilizada para cortes em verde, pastoreada, de
preferência com pastoreio rotacional ou racionado, ou com variedades adaptas ao
pisoteio, e ainda desidratada em instalações próprias.
A luzerna destaca-se pelo seu elevado valor proteico, sendo uma forragem de
características complementares do milho silagem, mas os seus valores de
digestibilidade e ingestão podem ser afectados quer pelo mais avançado estado
de maturação aquando do corte, quer pelas perdas nos processos de
conservação.
19
Nas explorações de tipo familiar e, também, nas que já possuem uma certa
dimensão, a fenação e a ensilagem são os métodos mais utilizadas. Na realidade,
estes métodos estão mais ao alcance dos pequenos agricultores do que o
processo da desidratação, que obriga a instalações dispendiosas e exige
consumos de energia somente viáveis para grandes explorações pecuárias onde
não se discutem os meios para se conseguir a máxima eficiência alimentar das
forragens destinadas aos gados.
A fenação
De todos os métodos adoptados para a conservação de forragens, a fenação é o
de uso mais geral devido à simplicidade das operações e à economia de mão-de-
obra. Considerando mesmo o facto de em certas épocas do ano o clima (chuva,
humidade e orvalhos) dificultar a secagem da forragem, este método não deixa
de possuir vantagens consideráveis para qualquer criador de gado.
Existem espécies forrageiras de difícil fenação, sobretudo em virtude da
acentuada grossura dos colmos (caules) e da elevada percentagem de água que
entre na sua composição. No entanto, pode-se dizer que para todas as espécies
de gramíneas e de leguminosas de pasto a fenação é um método de fácil
aplicação.
Identicamente ao que acontece com a desidratação ou a ensilagem da forragem,
para a fenação há que ter-se em conta que as gramíneas são mais palatáveis e
digestíveis antes do início da floração do que na fase de plena eclosão floral. Já o
mesmo não sucede com as leguminosas forrageiras, que são mais saudáveis e
nutritivas no decurso da máxima floração. Nas gramíneas os valores de vitaminas
e energia também são maiores antes da floração. No entanto recomenda-se que o
corte das gramíneas nunca seja realizado antes da floração, a não ser por
necessidade extrema para se dispor de forragem para a alimentação dos animais.
Procedendo-se assim o que se poderá perder em valor nutritivo será bem
compensado em volume de produção.
Para o corte da forragem existem dois momentos, que admitem o avanço ou o
atraso de alguns dias conforme a ocorrência do clima. Assim, o corte deve ter
lugar desde o início da floração até que a planta atinja a fase de plena eclosão
floral. Se não for possível efectuar o corte nessa fase, a operação deve realizar-se
sem demora quando a gramínea esteja no máximo de emissão de flores, se
houver qualquer atraso, à medida que progride o desenvolvimento da planta
registam-se perdas progressivamente maiores de proteínas nutrientes além da
massa verde se tornar menos palatável e cada vez menos indigesta.
Com o progresso do envelhecimento os colmos das gramíneas forrageiras
lenhificam-se e, por isso, tornam-se mais duros. Por sua vez, nas leguminosas
verifica-se a queda de uma grande quantidade de folhas, os órgãos da planta que
contêm mais elevado valor nutritivo.
Por vezes a demora no corte justifica-se pela necessidade de ultrapassar um
período chuvoso ou de elevados valores de humidade atmosférica, facto que não
prejudica de modo sensível a forragem desde que o atraso não exceda os limites
da floração como já foi referido anteriormente.
As chuvas, o nevoeiro e o orvalho são dos factores que mais prejudicam a boa
fenação. Eles obrigam a que, tanto quanto possível, se procure adiantar, por meio
de volteadura, o processo da secagem. Evitam-se assim perdas de clorofila,
seguidas de outros princípios nutritivos, que provocam o desaparecimento da
tonalidade verde, evidência de uma boa fenação e responsável pelo aroma
20
característico do feno. Quando este adquire a tonalidade amarelada ou cor de
palha já são bastante elevadas as perdas de princípios nutritivos.
No feno obtido sob as condições mais favoráveis, o valor biológico pode
encontrar-se reduzido de 25 a 30% em relação ao que caracterizava a forragem
no estado verde. As perdas por atrasos e acções devidas à humidade excessiva
chegam a atingir os 50%. Se o processo de secagem for muito demorado devido à
incidência de condições adversas, incluindo a ocorrência de chuvas, o valor
nutritivo, em relação à forragem verde inicial pode reduzir-se em 65%.
Durante o processo da fenação apesar de se verificar importantes perdas de
provitaminas, vitaminas e outros princípios nutritivos, verifica-se também
consideráveis acréscimos de vitamina D devido à acção da radiação solar.
As voltas que periodicamente se dão à forragem imprimem maior rapidez ao
processo de fenação.
Desde há alguns anos, a colheita do feno é realizada por meios mecânicos,
mesmo nas mini-explorações, por meio de máquinas enfardadeiras apropriadas
nas quais, por efeito de pressão, a conservação de forragem pode ser mais
prolongada e as perdas sofridas são menores em relação ao que se verifica
quando a colheita e a conservação são executadas pelos métodos tradicionais.
Por outro lado, e com especial incidência nas leguminosas, quando a manipulação
tem lugar em dias quentes de Verão e o enfardamento se realiza com a forragem
já em avançado estado de secura podem perder-se certos princípios nutritivos
sobretudo devido à perda de uma quantidade considerável de folha. Seja qual for
o método, a colheita da forragem deve ser feita pela manhã, no decurso do Verão
e, de tarde, na Primavera e no Outono. Quanto ao acondicionamento em fardos
deve ter-se em atenção que a forragem contém uma razoável quantidade de
água, o que pode originar fermentações inconvenientes no caso de se proceder
imediatamente ao armazenamento. Esta situação pode ser evitada, caso o
permita a estabilidade do tempo, desde que os fardos sejam deixados, em
posição vertical, três ou quatro dias em pleno campo. Ficam criadas deste modo
as condições para a evaporação de uma maior quantidade de água contida na
biomassa, contribuindo-se para que se não alterem as qualidades organolépticas
da forragem.
O feno recente não deve ser fornecido de imediato ao gado, sobretudo tratando-
se de espécies leguminosas forrageiras, em virtude de poder provocar certos
transtornos intestinais. Convém aguardar-se pelo menos algumas semanas. A
substituição pelo feno dos alimentos que vinham sendo dados deve ser realizada
gradualmente e não de modo brusco.
Quando armazenado, o feno vai perdendo diversos princípios nutritivos em
virtude de sofrer oxidações e desintegrações provocadas ao longo do tempo por
vários microorganismos. Estas alterações reflectem-se na perda da
digestibilidade. É por este motivo que o feno nunca deve conservar-se de um ano
para o outro. Embora, geralmente, o objectivo pretendido com a preparação do
feno seja o de se poder dispor de um alimento nutritivo e apreciado pelo gado
durante o período crítico do Inverno e até se desenvolverem as forragens verdes
da Primavera, o consumo do produto deve ter lugar no mesmo ano em que se
procedeu à sua preparação.
Apesar das perdas sofridas no decurso da fenação, impossíveis de evitar desde
que se deseja um grau de dissecação adequado, o produto final obtido é mais
nutritivo do que a massa verde de que derivou, embora menos palatável e
digestível para o gado equino e, em muitos casos, também pelos ruminantes.
21
Contrariamente ao que costuma suceder com as forragens verdes, o feno pode
ser dado ao gado em todas as épocas do ano, pois não existe o perigo de causar
quaisquer perturbações no organismo animal.
A desidratação
A desidratação artificial das forragens tem-se imposto cada vez com maior
amplitude nos países onde, sob o aspecto climático, predominam os céus muito
nublados e ambientes com elevado grau de humidade, condições que tornam
bastante difícil o êxito na fenação. A forragem desidratada é mais concentrada do
que a ensilada. Transformada em farinha é um alimento apreciado por todos os
animais domésticos a evidenciar boas condições para poder utilizar-se em
substituição de outro tipo de alimentos muito concentrados.
Na Península Ibérica são ainda muito escassas as instalações para a desidratação
da forragem de luzerna, a única que, de momento, interessa verdadeiramente. A
farinha de luzerna que em geral aparece no mercado não provém de operações
de desidratação artificial mas sim de fenação. O valor nutritivo da farinha obtida
do feno é muito inferior ao da resultante do produto desidratado.
Para a desidratação da forragem é necessário dispor-se de uma instalação
bastante dispendiosa e, portanto, só ao alcance de cooperativas ou de empresas
industriais dedicadas ao fabrico de alimentos para animais. O equipamento para a
finalidade referida não é recomendável para as explorações pecuárias de regular
dimensão (como as existentes em Portugal e Espanha) em virtude de exigir
elevado dispêndio de capital.
No entanto são muitos os criadores de gado franceses interessados pela
instalação “PROMIL”, tipo “S. M. 600”, que possui as seguintes características
principais:
-Capacidade de evaporação de água………………………2200 litros/hora
-Consumo de gasóleo……………………………………...200kg/hora
-Consumo de energia eléctrica…………………………….150kw/hora
Ao custo da instalação e ao consumo de energia deve ainda somar-se os encargos
com a mão-de-obra e com o transporte da forragem desde o campo até à fábrica.
Contudo, considerando a capacidade de produção obtida é-se de opinião que o
rendimento económico da instalação não será muito satisfatório no nosso clima,
cujas características permitem uma regular fenação.
Em comparação com a fenação e a ensilagem, a desidratação da forragem tem
como vantagem a eliminação das perdas de caroteno, vitaminas e substâncias
nutritivas.
No entanto, cremos que a desidratação só é de recomendar naqueles países que,
em virtude de dificuldades climatéricas na preparação de fenos, necessitam de
recorrer, para a conservação da forragem, à ensilagem, método nem sempre
isento de problemas. Na realidade o leite das vacas alimentadas com a forragem
ensilada influencia negativamente o fabrico de queijos duros provocando graves
prejuízos de todos os tipos.
A ensilagem
A ensilagem é um processo de conservação de forragens por via húmida, em que
as plantas morrem por asfixia e em que a conservação é assegurada por
fermentações que conduzem a uma acidificação da massa ensilada.
Na evolução do processo de ensilagem, após o fecho do silo, podemos distinguir
duas fases:
22
Fase aeróbia – fase que dura enquanto houver oxigénio no silo e que
convém ser reduzida ao mínimo. A forragem recém-cortada continua a respirar,
havendo consumo de açúcares nessa respiração. Na prática, consegue-se
encurtar esta fase fazendo-se um bom calcamento e fechando bem e
rapidamente o silo.
Fase anaeróbia – fase em que todo o oxigénio do silo se esgotou,
havendo agora fermentações ao abrigo do ar.
24
Exigências edafo-climáticas das culturas forrageiras
Escolher criteriosamente as espécies e variedades para o terreno onde
pretendemos instalar a forragem;
Preparar bem o terreno de modo a obter uma boa cama para a
semente, com a terra bem esmiuçada na superfície e mais compactada em
profundidade;
Semear de modo a que as sementes fiquem a uma profundidade de
cerca de 2cm;
Utilizar sementes certificadas;
Aplicar as densidades de sementeira recomendadas, não esquecendo
que há necessidade em aumentar essa densidade sempre que:
- A qualidade da semente é deficiente;
- O solo está deficientemente preparado;
- Prevê-se forte infestação de ervas daninhas;
- A sementeira é realizada tardiamente.
Semear na época mais apropriada para cada zona;
Adubar correctamente à sementeira e de acordo com a análise de
solo
Fazer os cortes na altura mais indicada (início do espigamento para
as gramíneas e aboteamento para as leguminosas);
Sistema de Regadio
ESPÉCIES SEMENTE/ ha DURAÇÃO UTILIZAÇÃO
1- Azevém italiano 20 – 30 Kg 1 – 2,5 Corte, em verde,
(estreme) anos fenos e silagem
2- Luzerna (estreme) 20 – 30 Kg 3 – 5 anos " " "
3- Trevo violeta 20 – 30 Kg 2 anos " " "
(estreme)
4- Azevém italiano * Trevo 15 Kg * 15Kg 2 anos " " "
violeta
5- Luzerna * Festuca alta 15 – 20 Kg* 3 – 5 anos Pastoreio, corte,
10 – 15Kg feno e silagem
6- Luzerna * Pé de galo 15 – 20 Kg* 7 3 – 5 anos " " "
– 12Kg
7- Trevo branco * 2 – 4 Kg* 15 – 4 – 6 anos Pastoreio
Festuca alta 20Kg (principalmente)
(1)
8- Trevo branco * Pé de galo 2 – 4 Kg* 7 – 4 – 6 anos " " " (1)
12Kg
9- Trevo branco * 2 – 4 Kg* 15 – 4 – 6 anos " " " (1)
Azevém perene 20Kg
25
Sistema de Sequeiro
ESPÉCIES SEMENTE/ ha DURAÇÃO UTILIZAÇÃO
1- Trevo branco * Festuca 2 – 4 Kg* 15 – 20Kg 4 – 6 anos Pastoreio
alta (principalmente)
(1)
2- Trevo branco * Pé de galo 2 – 4 Kg* 7 – 12Kg 4 – 6 anos " " " (1)
3- Trevo morango * Festuca 3 – 5 Kg* 15 – 20 Kg 6 anos ou mais " " " (1)
alta
4- Trevo morango * Pé de 3 – 5 Kg* 7 – 12Kg " " " " " (1)
galo
5- Trevo subterrâneo * Pé de 12 – 18 Kg* 7 – 12Kg " " " " " (1)
galo
6- Trevo morango * Trevo 2 – 4 Kg* 1 – 2Kg* 5 – " " " " " (1)
branco * Festuca alta 10 Kg
GRAMÍNEAS LEGUMINOSAS
Raiz Fasciculada (sem Aprumada
raiz principal)
Caule Oco Mais volumoso
Folhas Estreitas e Largas (desprendem-
26
compridas se facilmente quando
secas)
Valor nutritivo Mais ricas em Mais ricas em
energia proteínas
Necessidades Dispensam quase
em Azoto (N) Necessitam de totalmente os adubos
adubos azotados azotados
Exemplos Milho, sorgo, trigo, aveia, Luzerna, trevos, ervilhacas,
cevada, centeio, azevém,feijão, ervilha, tremoço, etc.
festuca, etc.
Preparação do terreno
A preparação do terreno deve ser feita preferencialmente no fim do Verão, de
forma a permitir a sementeira às primeiras chuvas de Outono.
A mobilização do solo pode ser feita com diferentes graus de intensidade em
ligação com o método de sementeira adoptado, de forma a assegurar um boa
“cama” e contacto entre as sementes e as partículas de solo, favorecendo
elevada percentagem e rapidez de emergência das plântulas. Para estes
objectivos pode contribuir a rolagem antes ou após a sementeira, sendo
dispensável quando a sementeira ocorra em período de precipitações
abundantes, devendo-se mesmo de evitar em solos húmidos com risco de
formação de uma crosta à superfície (solos argilosos). A mobilização deve ser de
reduzida profundidade e sem reviramento da leiva, através de escarificações ou
gradagens, já que em geral, nos nossos solos, a camada superficial concentra
bem mais elevada disponibilidade de nutrientes e matéria orgânica, situações em
que a mobilização reduzida permite obter melhor implantação e produção de
pastagens à base de espécies anuais. A preocupação de reduzir a competição da
vegetação espontânea às plantas semeadas nas primeiras fases de
desenvolvimento determina que imediatamente antes (sementeira com
equipamento que garanta a cobertura da semente) ou logo após uma sementeira
a lanço seja feita uma gradagem muito superficial que destroí as plântulas
espontâneas emergidas com as primeiras chuvas.
Fertilização
É essencial que o agricultor possua um conhecimento, tão perfeito quanto
possível, do meio em que ocorrem as reacções e outros fenómenos que
conduzem à formação de matéria orgânica a partir de inorgânica. Se isto
acontecer, ele vai poder incorporar no solo, antes de proceder às sementeiras de
certas espécies forrageiras, as doses correctas de fertilizantes que auxiliem a
obtenção de produções máximas de matéria orgânica vegetal com elevado valor
nutritivo para o animal que a consome. Caso contrário, corre-se o risco da
aplicação de adubos ser feita em excesso ou em doses excessivamente reduzidas
o que, não raramente, é causa de alterações mais ou menos acentuadas no
metabolismo celular do animal. Os prados plurianuais necessitam que todos os
anos lhes sejam repostas as quantidades de nutrientes no solo, à medida que eles
vão sendo extraídos pelas produções do próprio prado.
Tal como todos os anos adubamos o milho à sementeira, também há necessidade
de anualmente adubar os prados nos anos que se seguem à sementeira, caso
contrário corremos o risco de produzir cada vez menos e ir esgotando o solo em
nutrientes. Este esgotamento dependerá do nível de fertilidade do solo e da
27
produção do prado (quanto maior é a produção, maior é a extracção de nutrientes
do solo).
O conhecimento do teor actual dos elementos químicos no solo é obtido através
da realização de análises de amostras de terra, nomeadamente para a
determinação do pH, da percentagem de calcário, dos teores em matéria
orgânica, Fósforo, Potássio assimilável, Ferro, Magnésio, nitratos, etc.
A ignorância quanto ao estado do solo em elementos nutricionais contribui em
larga escala para que cada vez com maior frequência se verifiquem doenças por
carências nos animais, em consequência da alimentação de que dispõem ser
constituída por forragens de composição desequilibrada.
Desde que se consiga manter a fertilidade do solo em nível elevado, por meio de
fertilizações racionais e oportunas, a forragem obtida irá influenciar muito
favoravelmente o animal, nomeadamente na criação de imunidade relativa a
determinadas enfermidades de índole bacteriológica, vírica ou parasitária e,
também, na intensificação dos mecanismos de defesa geral do organismo contra
o ataque de agentes externos. De seguida são descritas as várias acções
desempenhadas pelos macronutrientes nas forragens (carência e excesso) e o
seu efeito nos animais.
Azoto
Este elemento é a base da nutrição das plantas e um dos componentes mais
importantes da matéria orgânica.
O Azoto é o elemento fertilizante que maior influência exerce no desenvolvimento
das plantas. No entanto, a sua acção só possibilita a obtenção do máximo
rendimento quando em presença do Fósforo e do Potássio em quantidades
equilibradas. A incorporação de quantidades excessivas de Azoto nos prados,
sobretudo nos artificiais, se por um lado promove o desenvolvimento das plantas
por outro lado provoca o rápido esgotamento de outros elementos fertilizantes
que também se integram nas fontes naturais do solo. Este enfraquecimento em
alguns nutrientes minerais impede que a planta elabore uma matéria orgânica de
composição equilibrada, o que tem como resultado o aparecimento de doenças
fisiológicas, nos animais que se alimentam de pastos ou forragens com essas
carências. Além disso se a quantidade exagerada de Azoto não for acompanhada
por incorporações equilibradas de Fósforo e Potássio pode ocorrer uma deficiência
de cobre no solo e consequentemente nos pastos, o que se repercutirá no sangue
dos animais.
O Azoto quando aplicado em composições adequadas nos solos destinados à
cultura de gramíneas de pasto, além de promover o desenvolvimento das plantas,
aumenta o teor azotado da forragem e melhora o nível biológico da proteína bruta
do alimento e, por isso, o seu valor nutritivo.
As leguminosas componentes de numerosos prados artificiais podem prescindir
das adubações azotadas em virtude das necessidades de Azoto serem satisfeitas
pelas bactérias radicículas que vivem em simbiose nas raízes das plantas dessas
famílias.
A incorporação no solo de quantidades excessivas de fertilizantes azotados além
de causar alterações no equilíbrio nutritivo das plantas pode originar nos prados a
tetania das ervas(contracções musculares), de consequências fatais para o gado.
Fósforo
28
Depois do Azoto, o Fósforo figura entre os elementos de maior importância para o
vigor e para o desenvolvimento das plantas.
Geralmente, encontra-se nos solos em quantidades muito variáveis e sob formas
muito complexas, actuando como uma substância de reserva.
O Fósforo incorporado no solo como adubo, sob a forma de fosfatos e
superfosfatos, pode perder eficácia devido ao seu grande poder de fixação, razão
porque a planta só aproveita uma parte. Por este motivo, a quantidade de
fertilizante a aplicar deve ser superior à efectivamente necessária para se
conseguir o desenvolvimento óptimo da cultura.
Quanto maior for o pH do solo mais alto vai ser o poder de fixação do ácido
fosfórico no solo. Por outro lado à medida que o pH desce e se verifica o aumento
progressivo da acidez do solo, a fixação do ácido fosfórico vai sendo menor, o que
torna mais facilmente assimilável pela planta.
O Fósforo desempenha uma função básica na formação de matéria orgânica,
sendo de importância primordial para todas as plantas forrageiras. Quando este
fertilizante está ausente no solo de cultura, a realização da fotossíntese, ou
formação de clorofila, torna-se muito difícil pela falta de mobilidade suficiente das
substâncias no organismo vegetal. Na verdade, o Fósforo é a força motriz
impulsionadora das correntes de seiva que possibilitam a transferência de
reservas e promovem o desenvolvimento e crescimento da planta.
As forragens de gramíneas e de leguminosas possuem maior riqueza em Fósforo
nas fases antes da floração. Todavia, verifica-se um decréscimo sempre que a
forragem é submetida à fenação ou à ensilagem.
Segundo a opinião de diversos autores, nos animais alimentados à base de pastos
ou forragens sobretudo deficientes em Fósforo podem revelar-se irregularidades
no cio das fêmeas, redução da secreção de leite nas fêmeas lactantes, e
esterilidade temporária nos machos e nas fêmeas.
Potássio
Embora o Potássio se encontre geralmente em todos os solos, os de textura
argilosa (compacta) são mais ricos neste elemento do que os arenosos (soltos) no
entanto a sua assimilação pelas plantas é muito difícil nas terras com elevado
provimento de argila (solos pesados) apesar de serem as que maior quantidade
possuem deste elemento.
A presença do Potássio é imprescindível visto tratar-se de um dos elementos
básicos para a elaboração de matéria orgânica. Além de estar na origem de
diversas enfermidades, a deficiência em Potássio traduz-se pela falta de
resistência geral da planta e pela redução do seu ritmo de desenvolvimento. Na
verdade, a presença deste elemento em excesso ou em deficiência é uma das
causas mais fáceis de alterações no equilíbrio nutritivo, podendo mesmo provocar
carências de outros elementos. Em geral verifica-se que as forragens verdes de
leguminosas são mais ricas em Potássio do que as de gramíneas ou as
submetidas a fenação.
Tal como o Fósforo, a assimilação do Potássio pela planta contribui para a
melhoria da resistência dos tecidos vegetais, tornando-os menos sensíveis aos
efeitos das secas, ao frio e aos ataques dos parasitas. Quantidades anormais de
Potássio nas pastagens naturais ou nos pastos artificiais, temporários ou
permanentes, podem provocar a tetania das ervas, sobretudo nos casos em que
os animais não dispõem de sal para contrabalançar esse excesso.
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Enxofre
Desde há alguns anos que, tanto cientificamente como na prática, o Enxofre é
reconhecido como um elemento essencial para a nutrição e imprescindível para a
respiração dos vegetais. Encontra-se nos solos sob as formas de sulfuretos e
sulfatos. A sua carência e a existência sob formas não assimiláveis é revelada
pelo amarelecimento, característico e inconfundível, da planta, seguida pela
perda progressivamente mais acentuada da clorofila.
As carências de Enxofre são pouco frequentes nas terras beneficiadas com
fertilizações periódicas à base de sulfatos ou superfosfatos. Estes compostos
químicos contêm quantidades consideráveis de Enxofre assimilável pelas plantas.
A aplicação destes tipos de adubos é recomendável nas terras alcalinas mas
contra-indicada nas de reacção ácida.
Desconhecem-se os sintomas nos animais alimentados com pastos e forragens
com deficiência de Enxofre, pois este elemento só tem sido detectado na
pelagem.
Cálcio
Todos os solos possuem quantidades maiores ou menores de Cálcio como
elemento componente de diversas combinações químicas (carbonatos, sulfatos,
cloretos, fosfatos, etc.). Todos os vegetais necessitam deste elemento para
crescerem e se desenvolverem. Nas gramíneas a deficiência neste elemento é
revelada pelo engrossamento dos colmos e redução do comprimento dos
entrenós o que decresce o valor nutritivo das forragens e as torna menos
assimiláveis pelo organismo animal. São contudo, as raízes das leguminosas que
consomem, quantidades muito maiores de Cálcio do que as gramíneas ou as
plantas de tubérculo.
A deficiência de Cálcio nas pastagens e forragens além de causar dificuldades no
desenvolvimento das plantas, reduz a resistência destas contra as geadas de
Inverno e contra as secas dos dias quentes de Verão.
É sabido que o Cálcio é o elemento-base do esqueleto ósseo do animal e, em
certa medida, também dos restantes tecidos. Este facto constitui mais uma razão
de peso para que os alimentos fornecidos ao animal contenham este elemento
nas quantidades disponíveis necessárias.
Enquanto não alcança a idade adulta, o animal precisa de uma alimentação rica
em Cálcio, o que possibilita a formação do esqueleto ósseo em condições
óptimas. Na fase adulta, as necessidades de Cálcio reduzem-se praticamente à
manutenção do poder de regeneração dos ossos já formados e completamente
desenvolvidos.
Estes factos explicam a vantagem das incorporações de correctivos calcários ou a
aplicação de fertilizantes de reacção alcalina nos solos relativamente ácidos (com
baixos valores de pH). Procedendo deste modo assegura-se que os pastos e as
forragens produzidas nesses terrenos não transmitam ao gado deficiências em
Cálcio.
O animal que se alimenta de pastos ou forragens deficientes neste elemento
apresenta sinais de raquitismo em virtude de ingerir produtos desequilibrados sob
o aspecto biológico.
As leguminosas, sobretudo a luzerna e os trevos, são grandes consumidores de
Cálcio e, por isso, as forragens verdes e fenos provenientes destas espécies são
ricas neste elemento. Já o mesmo não sucede com os pastos e forragens de
gramíneas. O seu mais fraco teor em Cálcio torna recomendável o fornecimento
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aos animais de suplementos alimentares ricos neste elemento, assegurando,
assim, a constituição de esqueletos fortes e com grande resistência a fracturas
causadas por acidentes.
Magnésio
Embora em quantidades muito variáveis, o Magnésio ocorre em todos os solos,
sendo os solos calcários e argilosos os que possuem maiores quantidades de
Magnésio e os de reacção ácida os mais pobres.
A acção deste elemento no desenvolvimento das plantas incide sobretudo na
formação de clorofila, em cuja composição entra em considerável percentagem.
A carência na planta verifica-se pelo decréscimo da resistência geral: os caules
tornam-se quebradiços e as folhas vão perdendo a coloração normal.
São relativamente frequentes as doenças no gado alimentado com forragens
deficientes em Magnésio. Não raras vezes os animais aparentam boa saúde mas
sofrem alterações metabólicas nas células que constituem o aparelho reprodutivo,
o que pode conduzir à esterilidade. O gado bovino é particularmente sensível a
esta doença fisiológica. Ao afectar o ovário das vacas a carência dá lugar a
frequentes abortos e a nados-mortos. Os recém-nascidos sobreviventes
evidenciam uma debilidade extrema. No entanto, os touros reprodutores
alimentados com pastos e forragens deficientes em Magnésio não revelam mais
do que tendência para uma esterilidade mais ou menos passageira.
A fertilização destas pastagens é uma técnica que permite elevadas respostas da
produção. Particular destaque merece a correcção calcária da acidez dos solos,
dado que é uma situação frequente entre nós, embora existam espécies e
cultivares de leguminosas anuais com adaptação e tolerância à acidez do solo,
assim como leguminosas vivazes.
A acidez do solo tem tendência a agravar-se em pastagens baseadas em
leguminosas, esta circunstância reforça a necessidade de ao estabelecer uma
pastagem em sequeiro se procure assegurar à partida um pH mais favorável a
uma maior diversidade de leguminosas, reduzindo os riscos de toxicidade de
alumínio e manganês, e melhorando a disponibilidade de Fósforo do solo, e por
outro lado assegurar uma boa presença de gramíneas, de modo a remover o
excesso de Azoto que contribui para a acidificação.
Os valores da correcção calcária, embora dependam das características dos solos
que deverão para o efeito ser analisados, têm como indicação de carácter geral a
correcção dos solos de pH ≤ 5,5.
Destaque merece também o Fósforo, o principal nutriente na fertilização destas
pastagens, registando-se respostas muito significativas à adubação fosfatada que
se recomenda ser feita com superfosfato 18% pelo facto deste adubo conter
elevada percentagem de Enxofre, elemento que juntamente com o Fósforo se
revelou de grande importância no estabelecimento destas pastagens em alguns
dos nossos solos.
A adubação fosfatada deverá ser feita em fundo com valores na ordem de 50-60
unidades de P2O5 em solos com teores médios de Fósforo assimilável, com valores
mais elevados (60-90 unidades) no caso dos respectivos teores serem baixos ou
muito baixos, sendo necessário proceder a coberturas anuais nos anos seguintes
com 25-40 unidades, valores que com o decorrer dos anos podem ser
progressivamente reduzidos.
Fertilização
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A fertilização, dependendo dos resultados das análises do solo, deverá ser mais
substancial do que no caso de sequeiro, dadas as mais elevadas produções, tendo
em conta que se podem realizar cortes para conservação, que os animais em
pastoreio podem não permanecer todo o tempo na pastagem sendo recolhidos,
que a eficiência do pastoreio tem grande influência assim como a participação
relativa das leguminosas.
Em face da maior importância das gramíneas neste tipo de pastagens, deverá ser
feita adubação azotada à sementeira, com valores da ordem de 30-50 kg/ha de
Azoto, excepto se os resíduos de Azoto mineral no solo forem apreciáveis. Em
solos com teores baixos a médios de Fósforo e Potássio assimiláveis os valores da
adubação de fundo deverão ser na ordem de 100kg/ha de P 2O5 e de 150-200kg/ha
de K2O. A acidez deverá ser corrigida quando os valores de pH forem inferiores a
5,5. A fertilização anual deve contemplar a adubação de Potássio e Fósforo,
devendo os valores de adubação, em pastagens cujas análises ao solo referem
baixos teores nestes elementos e aproveitamento apenas para pastoreio, ser na
ordem de 50 a 70 unidades de P2O5 e 70 a 90 unidades de K2O por ano.
Embora a nutrição azotada destas pastagens se deva basear na fixação simbiótica
de Azoto pelas leguminosas, a adubação estratégica em períodos do ano em que
a potencialidade de crescimento das gramíneas é muito superior à das
leguminosas, pode permitir acréscimos significativos da produção e, por outro
lado, deve ser utilizada na gestão da competição das componentes gramíneas e
leguminosas, de forma a manter os equilíbrios desejados. É manifestamente o
caso da adubação nos fins de Inverno, início de Primavera, com valores que em
geral não deverão exceder as 100 (Kg /ha ) unidades de Azoto por ano.
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No caso particular do estabelecimento de pastagens de mais curta duração com
luzerna ou misturas de trevo violeta e azevéns de menor persistência as
densidades de sementeira e técnicas de estabelecimento são semelhantes às das
culturas com utilização para corte (referido no capítulo 2.6).
Estratégias de melhoramento
Há um conjunto de técnicas generalizáveis que podem ser adoptadas em conjunto
ou progressivamente por etapas, de acordo com a seguinte ordem obrigatória de
adopção:
Pastoreio controlado (ou pastoreio + corte);
Fertilização;
Controlo de infestantes;
Sementeira de espécies melhoradas.
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boa adaptação de que se destaca o Timóteo (Phleum pratense) e dos Lótus
apresentarem maior importância relativamente ao trevo morango menor.
Outra técnica de melhoramento e maneio tradicionalmente utilizada em Trás-os-
Montes é a rega, não só para evitar ou reduzir o stress hídrico de Verão, mas
também a rega de protecção contra as geadas de Inverno e Primavera através de
escorrimento superficial – “rega de lima”.
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ALFAIAS DE MOBILIZAÇÃO DO SOLO – Implantação de
pastagens/ forrageiras
GRADAGEM – GRADE DE
DENTES E DE DISCOS
MANUALMENTE
TAMBÉM AINDA SE
PREPARA O SOLO/ SEMENTEIRA À LANÇO
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SEMEADORES DE PASTAGENS E ESPÉCIES FORRAGEIRAS
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tecnologia de localização por satélite, e ao sistema de agricultura de
precisão GreenStar da John Deere.
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SEMENTEIRA DIRECTA – SEM MOBILIZAÇÃO DO SOLO : Evita a
erosão do solo, protege a estrutura e a textura do solo e é mais económica a
implantação de pastagens e de espécies forrageiras, embora sendo muma
operação onerosa/preço/hora de trabalho.
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ALFAIAS DE CORTE E CONSERVAÇÃO DE PASTAGENS E
FORRAGENS
TIPOS DE GADANHEIRAS
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MÁQUINAS USADAS PARA A CONSERVAÇÃO DE FORRAGENS
SILAGEM E FENAÇÃO
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DISTRIBUIDOR DE ADUBOS/SEMENTES E DE CHORUME
Referências Bibliográficas
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