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• No que concerne aos aspectos negativos há a referir a facilidade com que tudo

circula não havendo grande controle como se pode facilmente depreender pelos
atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos da América. Esta globalização
serve para os mais fracos se equipararem aos mais fortes pois tudo se consegue
adquirir através desta grande autoestrada informacional do mundo que é a
Internet. Outro dos aspectos negativos é a grande instabilidade econômica que se
cria no mundo, pois qualquer fenômeno que acontece num determinado país
atinge rapidamente outros países criando-se contágios que tal como as epidemias
se alastram a todos os pontos do globo como se de um único ponto se tratasse.
Os países cada vez estão mais dependentes uns dos outros e já não há
possibilidade de se isolarem ou remeterem-se no seu ninho pois ninguém é
imune a estes contágios positivos ou negativos. Como aspectos positivos, temos
sem sombra de dúvida, a facilidade com que as inovações se propagam entre
países e continentes, o acesso fácil e rápido à informação e aos bens. Com a
ressalva de que para as classes menos favorecidas economicamente,
especialmente nos países em desenvolvimento, esse acesso não é "fácil" (porque
seu custo é elevado) e não será rápido.
o 5 anos atrás
o Denuncie

Aspectos negativos da globalização financeira:

O rol dos problemas encarados pelos países em desenvolvimento, devido à súbita


exposição às tentações e rigores de um mercado financeiro globalizado, aumenta
cada vez mais. Os riscos macroeconômicos da maciça entrada de capitais nas
economias de países em desenvolvimento merecem especial destaque, em virtude
da rapidez com que suas conseqüências podem ser sentidas. Cumpre mencionar,
inicialmente, os efeitos cambiais e monetários.

Em um regime de câmbio fixo, uma entrada líquida de capitais externos implicará


a emissão de moeda por parte do Banco Central em montante equivalente, de
modo a honrar seu compromisso de adquirir as divisas estrangeiras pela taxa de
câmbio oficial. Percebe-se, assim, que, tudo o mais constante, a entrada de capitais
provocará o efeito de expansão monetária, com possíveis impactos sobre a taxa de
inflação doméstica.

Contrariamente, uma súbita reversão do fluxo financeiro, com saída líquida de


capitais, acarretará o efeito oposto de contração monetária, trazendo em seu
núcleo uma provável recessão doméstica, à mercê da contração do crédito. Mais
importante do que tudo, porém, é o fato de que a política monetária perde toda a
eficácia e torna-se completamente passiva, dependente dos fluxos exógenos de
capitais. O governo vê-se, portanto, privado de um importante grau de autonomia
na condução da política econômica.

Já em um regime de câmbio flexível, o efeito de uma entrada maciça de capitais


não se manifesta diretamente sobre a quantidade de moeda, mas, sim, sobre a
própria taxa de câmbio. Inevitavelmente, nessas condições, o aumento da oferta de
divisas estrangeiras levará a uma valorização do câmbio (isto é, ao aumento do
valor da moeda nacional em referência à moeda estrangeira), com os reflexos já
conhecidos em termos de perda de competitividade comercial do país receptor de
capitais.

Um outro perigo ao qual freqüentemente, estamos sujeitos, é a súbita reversão de


expectativas do mercado, possibilidade cada vez mais presente em vista da rápida
transmissão de choques, permitida pela integração dos mercados financeiros. Em
geral, portanto, a atual fase de globalização financeira faz com que os países
emergentes se defrontem com dificuldades e vários problemas, como riscos de
volatilidade cambial, de elevação de juros, de aumento do passivo interno, e de
vulnerabilidade a choques externos.

Há um outro aspecto, porém, que talvez represente a síntese do novo cenário em


que os governos das nações em desenvolvimento se vêem forçados a atuar. Trata-se
do fato de que a integração dos mercados financeiros minou consideravelmente a
eficácia dos instrumentos tradicionais de condução da economia. De fato, a política
monetária não mais pode ser considerada à parte da política cambial. Quaisquer
medidas domésticas que afetem os juros também afetarão os fluxos de capital e,
por conseguinte, o câmbio.

Em contrapartida, quaisquer decisões sobre o câmbio limitarão o nível dos juros


disponíveis para o governo. Por seu turno, decisões de política fiscal também
exercerão influência direta sobre as expectativas de mercado e, em conseqüência,
sobre o fluxo de capitais, acarretando, ainda, no caso de países com mercados de
títulos de longo prazo, influência sobre o nível dos juros domésticos.

Concluindo, os governos perderam, vários graus de liberdade para este ente


indefinido e misterioso, o chamado "mercado". Naturalmente, este debate
encontra- se no início, suas consequências e os rumos que estão por vir, estender-
se-ão no futuro, que caberá a nós contemplar e vivenciar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GONÇALVES, Reinaldo [et al]. A nova economia internacional: uma perspectiva


brasileira. Rio de Janeiro, Campus, 1998.

GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. Quinhentos anos de periferia. Porto Alegre/Rio


de Janeiro: Editora da Universidade/UFRGS, 1999.

HALLIDAY, Fred. Repensando as relações internacionais. Porto Alegre: Editora


da Universidade/UFRGS, 1999.

OLIVEIRA, Odete Maria (coord.). Relações internacionais e globalização –


grandes desafios. Ijuí: Unijuí, 1998.

Entendendo a Globalização e sua influência nos Blocos


Econômicos
Tércio Waldir de Albuquerque

Introdução

lobalização, mundialização, internacionalização são termos que podem ser


considerados sinônimos do que o mundo vem experimentando, segundo alguns, a
partir dos anos oitenta, para outros há mais de cinco séculos, e hoje vemos,
ouvimos e lemos inúmeras matérias que os conceituam das mais diversas maneiras
e formas. Para alguns, um obstáculo que causa tropeço no caminhar. Para outros,
um avanço com muitos benefícios.

Para Clovis Rossi, um exemplo do que seja globalização é1:

"A notícia do assassinato do presidente norte-americano Abraham Lincoln,


em 1865, levou 13 dias para cruzar o Atlântico e chegar à Europa. A queda
da Bolsa de Valores de Hong Kong (outubro-novembro/97), levou 13
segundos para cair como um raio sobre São Paulo e Tóquio, Nova York e
Tel Aviv, Buenos Aires e Frankfurt. Eis ao vivo e em cores, a globalização"

Já para Celso Pinto, o exemplo do que pode ser entendido como globalização é:

"O furacão financeiro que veio da Ásia, passou pela Europa, Estados Unidos
e chegou ao Brasil, teve pelo menos uma vantagem didática. Ninguém
pode mais alegar que nunca ouviu falar da globalização financeira. Até
poucos meses, é provável que poucos soubessem onde ficava a Tailândia
ou Hong Kong. Hoje muita gente sabe que um resfriado nesses lugares
pode virar uma gripe aqui. Especialmente se fizer uma escala em Nova
York." 2

Na visão de Voltaire Schilling 3, a globalização

se divide em três períodos distintos:

1450-1850 - Primeira fase - Expansionismo mercantilista

1850-1950 - Segunda fase - Industrial-imperialista-colonialista

pós-1989 - Globalização recente - Cibernética-tecnológica-associativa

Na verdade, o efeito globalizante pode ser visto sob aspectos negativos e positivos,
a depender da ótica com que é olhado. Para um país como os Estados Unidos da
América a situação global é excepcional, pois lhe dá condições de gerir e ingerir,
fluir e influir nos mais diversos pontos do universo em tempo real. Há 24.000
povos no mundo. Há 6.809 línguas no mundo e evidentemente não são todos
que podem gozar dos privilégios da globalização. Para países em situação de
miserabilidade a globalização é aterradora, representa ingerência externa, interfere
no cultivo das tradições, permite comparações que muitas vezes não são benéficas
e acabam por atrapalhar planos e metas governamentais. Para os países em
desenvolvimento a mundialização é uma faca de dois gumes. O primeiro, afiado
para cortar as possibilidades de que sejam acobertadas suas misérias e mazelas,
seus problemas de corrupção, de má gestão da coisa pública, do desgoverno, uma
vez que as notícias transitam em tempo real e não mais como dantes. O segundo
gume, afiado para cortar o isolamento às vezes pretendido e propiciar uma
abertura para os demais países do mundo e assim gerar possibilidades reais de um
entrelaçamento social, político, cultural e comercial.
Nesse ensaio dos efeitos gerados pela globalização aparecem as relações
comerciais, inicialmente formadas entre países fronteiriços para depois transpor
distâncias e criar um mercado efetivamente global, em que é possível perceber
claramente a necessidade de que todos procurem parceiros para seu
desenvolvimento.

No dizer do ex-presidente do Brasil, "A globalização requer a reforma das


instituições econômicas e financeiras e não pode limitar-se ao triunfo do
mercado."4

Com o avanço da globalização econômica, financeira e comercial, a temática


prioritária no campo empresarial passou a ser a competitividade. Nesse caminho, a
necessidade de se impor em um mercado sem fronteiras fez com que as economias
substituíssem o trabalho humano desqualificado pela eficiência e perfeição da alta
tecnologia, muitas vezes gerando desemprego ou realocando trabalhadores para
funções menos nobres.

Um dos efeitos considerados negativos da globalização para o Brasil está na


questão ligada ao despreparo de grande parte de sua força de trabalho, segundo
avaliação feita por Maria das Graças Reggiani Almeida5:

"A globalização, as novas tecnologias e a formação profissional alijam uma


série de pessoas. Os profissionais não estão acompanhando o
desenvolvimento tecnológico, as mudanças de mentalidade e de
comportamento".

Assim, o que inicialmente representava um pequeno negócio internacional


transforma-se em um verdadeiro bloco de integração econômica, no qual os
planos e metas são vistos e revistos a todo instante, a busca pelo desenvolvimento
e troca de tecnologias se tornam necessários, a produção e o consumo se aliam e
todos os envolvidos acabam percebendo ser indispensável esse tipo de convivência
para a sobrevivência de seus investimentos e equilíbrio de suas contas. Tudo isso
não era pensado e não era tido como imperioso, indispensável, mas hoje,
impossível imaginar de modo diverso.

No estabelecimento de políticas de aproximação, o comércio é o carro chefe, pois


através dele passa a ser possível uma integração dos demais temas como pessoas,
bens e serviços, e o que significava uma pequena relação de interesses transforma-
se em um gigantesco conglomerado de estados e empresas. Cada país sai em
busca do seu igual para poder criar parcerias promissoras, e a partir destas
parcerias surgem os hoje conhecidos blocos econômicos, em que alguns se
destacam mais que outros em razão de número de países, do volume de
negociações que os envolvem e, em pouco tempo, se transformam em alavancas
mundiais, globais. Podemos trazer como exemplos mais conhecidos desta nova
realidade o NAFTA, a UNIÃO EUROPÉIA, a ALCA, a COMUNIDADE ANDINA, a ALADI
e o MERCOSUL.

O NAFTA (North American Free Trade Área) é uma zona de livre comércio entre os
países da América do Norte: Estados Unidos, Canadá e México. No caso de
formação de uma união aduaneira hemisférica em 2005 (ALCA), os países do
NAFTA também serão incluídos nela, tanto que já participam das negociações.
Decorridos pouco mais de cinco anos de sua implementação, o intercâmbio
comercial entre os países aumentou, o que significa o aumento do saldo de suas
balanças comerciais, especialmente no caso do México.
A União Européia é resultado de uma tentativa bem sucedida da segunda metade
do século XX. Mas tudo começou em 1951, quando seis Nações devastadas pela
guerra decidiram unir suas matérias-primas industriais de carvão e de aço para
evitar a guerra entre elas. A Constituição de base desta Comunidade, o Tratado de
Roma, entrou em vigor em 1958. A UE é formada por 15 países, mas apenas 11
adotaram a moeda única, o euro: França, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal,
Luxemburgo, Áustria, Grécia, Bélgica, Reino Unido, Irlanda, Holanda, Dinamarca,
Suécia e Finlândia. A união monetária foi aprovada pelo Tratado de Maastricht, em
1991.

A ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) é uma proposta dos EUA de
integração comercial que, se concluída, abrangerá todos os países das Américas,
com exceção de Cuba. Os países-membros da ALCA terão, entre si, preferências
tarifárias. O objetivo é que as tarifas para o comércio intrabloco sejam reduzidas
até que fiquem zeradas, facilitando o fluxo de bens e serviços na região.

A Comunidade Andina (CAN) é uma organização sub-regional com personalidade


jurídica internacional composta por: Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.
Os cinco países tinham mais de 111 milhões de habitantes e PIB de US$ 270
bilhões em 1999. O principal objetivo da CAN é contribuir para o desenvolvimento
da região mediante a integração econômica e social dos países membros e a
gradual formação de um mercado comum latino-americano.

A Aladi (Associação Latino-Americana de Integração) é uma organização


intergovernamental, cujo objetivo é promover a expansão da integração regional e
a constituição de um mercado comum, contribuindo, assim, para o
desenvolvimento econômico e social.

O Mercosul é o mais importante projeto de política externa do Brasil. Decorridos


praticamente dez anos desde a assinatura do Tratado de Assunção, o MERCOSUL
representa hoje um agrupamento regional economicamente pujante e politicamente
estável, que tem sabido aproveitar os ensinamentos e as oportunidades da
globalização e tem, assim, atraído, cada vez mais, o interesse de todo o mundo.

A assinatura, em 26/3/91, do Tratado de Assunção culmina um processo de


negociações iniciado em agosto de 1990 entre Brasil, Argentina, Paraguai e
Uruguai. O Tratado materializa antiga aspiração de seus povos, refletindo os
crescentes entendimentos políticos em âmbito regional, a densidade dos vínculos
econômicos e comerciais e as facilidades de comunicações propiciadas pela infra-
estrutura de transporte dos quatro países.

A integração em curso dá cumprimento a dispositivo incorporado no art. 4º,


parágrafo único, de nossa Constituição, e é ferramenta valiosa para a inserção mais
competitiva das quatro economias no mercado internacional, em um quadro em
que se destacam a formação de grandes blocos econômIcos e os grandes desafios
impostos pela globalização.

Constituindo-se na mais recente experiência de integração da América do Sul, o


Mercosul é, sem dúvida, uma das mais bem sucedidas iniciativas diplomáticas da
história do continente.

Sem sombras de dúvidas que neste tempo o maior desafio, quando se trata do
assunto globalização e blocos econômicos, é o processo de criação da ÁREA DE
LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS - ALCA, cuja proposta visa aglutinar em
torno de seu projeto 34 países e todos os blocos econômicos existentes e cujos
membros ou parceiros estejam dentre do contorno estabelecido para sua
abrangência - do Alaska à Terra do Fogo. Esta arrojada pretensão, que tem como
mola propulsora os Estados Unidos da América e os demais países que junto com
ele compõem o NAFTA - México e Canadá tem encontrado barreiras de toda
ordem, podendo destacar as relativas ao temor de vários estados em se tornarem
reféns desse processo que por muitos está sendo chamado de anexação, volta ao
colonialismo, entrega de soberania, estratégia hegemônica de dominação
americana, absorção e não integração, e muitas outras denominações que em
nada auxiliam no desenvolvimento do projeto, mas que têm sua importância no
momento em que chamam a atenção para vários aspectos que precisam ser mais
bem discutidos pelos estados chamados à sua composição.

Nessa esteira de desenvolvimento globalizado e com a necessidade de que, a


cada dia, mais e mais países busquem aproximação para poder comprar, vender e
permutar seus produtos e serviços, sua tecnologia, é importante que os governos
envolvidos nesse processo procurem torná-los mais transparentes possível,
propiciando a toda coletividade conhecer os detalhes dos compromissos que serão
assumidos, demonstrando com clareza as vantagens e desvantagens e o grau de
interferência dos mesmos para a população em geral, e não somente dar a
conhecer a grupos de interesses de uma forma fechada e às vezes isolada. Este
tipo de procedimento nestes processos pode facilitar muito o seu desenvolvimento
e, no momento em que todos os aspectos forem bem conhecidos e discutidos, o
país será, sem dúvida alguma, beneficiado.

O surgimento de um bloco econômico nem sempre significa vantagens imediatas


a seus componentes, que, por vezes, precisam criar condições de competitividade
com os demais e para que isso ocorra é necessário que o próprio governo adote
medidas de incentivo ao desenvolvimento, evitando, assim, que no momento da
abertura comercial as empresas locais não tenham condição de sobreviver à
entrada das concorrentes, além de criar uma situação social insustentável, com
elevação do nível de desemprego, redução salarial, perdas de benefícios e outros.
De outro lado, quando o governo está comprometido com o desenvolvimento
sustentável, sua vinculação a um bloco econômico vai significar uma ampliação,
não só em sua balança comercial, mas na condição de vida de seu povo.

Em recente entrevista aos meios de comunicações, o presidente da Abracelpa,


Associação Brasileira dos Produtores de Celulose e Papel, Osmar Zogbi, ao
indagado sobre os benefícios ou prejuízos ao seu seguimento caso o Brasil participe
efetivamente da ALCA, trouxe uma informação assustadora. Disse o entrevistado:

"Tem oito ou dez empresas americanas, cada uma isoladamente


representa toda a produção brasileira de celulose e papel. De repente lá
tem uma crise econômica e eles resolvem despejar o produto no Brasil. Aí
acaba com a indústria brasileira"7

Nesse sentido o cuidado deve ser maior, valendo inclusive o estudo de viabilidade
de uma reserva de mercado por um período necessário para que as indústrias
brasileiras possam se adequar e chegar a uma condição de igualdade de tecnologia
e produção com os demais países, e, em especial, com os Estados Unidos da
América, que, como já dissemos, é o mentor e maior interessado nesse processo.

Conclusão

Como vemos, existe uma diferença entre GLOBALIZAÇÃO e BLOCOS


ECONÔMICOS. No primeiro caso, visto sobre os mais diversos ângulos e formas, o
processo é irreversível e pode significar ganhos e perdas, a depender dos países
envolvidos. Neste caso não há muita opção em ser ou não partícipe, pois ele
caminha sozinho e a passos largos e se utiliza de mecanismos que nem sempre
podem ser controlados pelos estados, como é o caso da comunicação em tempo
real, em que notícias transitam no mundo todo, levando e trazendo boas e más
informações que podem acabar por interferir nos planos de investidores detentores
do conhecido capital especulativo que, de um instante para outro, desfalca reservas
cambiais. No segundo caso, a existência de blocos econômicos passa
necessariamente pela expressa vontade do Estado em fazer ou não parte do
processo e mesmo diante de ameaças de boicotes, sobretaxas, barreiras não
tarifárias, redução ou ampliação de quotas de importação e exportação, e
muitos outros, ainda assim, é prerrogativa do Estado sua inserção ou não naqueles
blocos. A experiência tem demonstrado que muitos dos blocos existentes
trouxeram grandes benefícios a seus membros, graças ao estabelecimento de
políticas coerentes com as necessidades e possibilidades de cada um dos Estados e
pouco se vê falar sobre prejuízos advindos em razão de ter o Estado passado a
compor um bloco econômico. Sim, sabemos que muitas vezes os benefícios não
alcançam todos os seguimentos econômicos e sociais, mas com o aprimoramento
das relações entre os Estados essas eventuais assimetrias vão sendo superadas.

Referências Bibliográficas

Celso Pinto - do Conselho Editorial - Folha de São Paulo.

3 Voltaire Schilling - é professor de História e Mestrando na UFRGS.

4 Fernando Henrique Cardoso - Montevidéu, Uruguai, 20 de agosto de 2002 -


Discurso na Associação Latino-Americana de Integração (ALADI).

5 Maria das Graças Reggiani Almeida - Coordenadora do Departamento de


Desenvolvimento Gerencial do Ietec.

6 Global 21 e Página Oficial do Mercosul - www.global21.com.br e


www.mercosul.gov.br.

7 Entrevista ao Jornal da Globo de 30/01/03.

Podemos considerar 3 as características negativas da globalização:

1) a insegurança de emprego e de rendimento: há um aumento significativo na


taxa de desemprego devido ao facto de cada vez mais as empresas sairem do
país em que se situam para outros paises onde a mão-de-obra é mais barata
deixando assim um grande número de desempregados.
Devido ao facto dos estados não terem poder suficiente para interferir nas leis de
mercado e de concorrência, já que vivemos num mundo neoliberal; os
trabalhadores ficam sujeitos a contratos precários sem garantias de renovação dos
mesmos.

As empresas tomam decisões em benefício próprio, com vista ao lucro, realizando


fusões e aquisições que culminam com a redução ou despedimento colectivo e
que inúmeras pessoas sem rendimentos.

2) a insegurança na saúde, isto é, com a livre circulação de pessoas


(desaparecimento de fronteiras), aumentou o movimento migratório, o que
conduziu à propagação de determinadas doenças como por exemplo o vírus HIV
que pode ser transmitido, por exemplo, através do contacto sexual desprotegido.
3) a insegurança cultural. Cada vez mais estamos a perder a nossa identidade
cultural devido ao bombardeamento constante de publicidade, música e filmes e
outros produtos audiovisuais dos quais resultam a formação de autênticas tribos
globais de determinada marca ou estilo.

Zygmunt
Bauman
"Ou encontramos o modo de controlar as forças globais
liberadas e, no momento, desenfreadas, ou desmoronaremos,
mais cedo do que tarde, todos juntos."

Zygmunt Bauman é sociólogo. Iniciou sua carreira na Universidade


de Varsóvia, onde teve artigos e livros censurados e em 1968 foi
afastado da universidade. Logo em seguida emigrou da Polônia para
o Canadá, Estados Unidos e Austrália até chegar à Grã-Bretanha,
onde em 1971 tornou-se professor titular da Universidade de Leeds.
Responsável por uma prodigiosa e premiada produção, atualmente é
professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e
Varsóvia. Tem mais de dez obras publicadas no Brasil pela Jorge
Zahar, dentre as quais Globalização: as conseqüências humanas,
Modernidade Líquida, Em busca da Política, Vidas Desperdiçadas e
Medo Líquido, último título publicado no Brasil em 2008.

entrevista por Ana Manuella Soares


tradução por Vanessa Parisi

Considerado um sociólogo humanista, Zigmunt Bauman consegue


com brilhantismo o que a maioria dos cientistas procura fazer com o
resultado de suas pesquisas. Em linguagem direta e simples,
escrevendo para milhares e não apenas para iniciados, Bauman faz
diagnósticos do complexo sistema capitalista globalizado. Para o
professor emérito das universidades de Leeds e de Varsóvia, a
sociologia tem hoje o papel de explicar como funcionam as relações
de poder e de consumo na sociedade e de ampliar a visão dos
indivíduos, alargando seus horizontes cognitivos, dando a eles
condições de enxergar além do individualismo dominante.

Para o cientista social, não há como negar que a Terra é hoje “um
planeta abarrotado e intercomunicado”. Na por ele chamada
‘modernidade sólida’, as ameaças para a existência humana eram
mais óbvias. “Era óbvio, por exemplo, que alimento, e só alimento,
era o remédio para a fome”.

Hoje, segundo o autor de Medo Líquido, publicado este ano pela


editora carioca Zahar, os riscos são de outra ordem. Para além do
palpável ou previsível. Não há como ver, ouvir ou tocar as condições
climáticas que se apresentam cada vez mais ameaçadoras em um
tempo não mais essencialmente natural ou histórico. Os níveis de
radiação e de poluição, a disputa pelo controle mundial das fontes de
energia não-renováveis e os processos de globalização das nações
sem controle político, segundo Bauman, solapam as bases da
existência humana e sobrecarregam a vida dos indivíduos com um
grau de incerteza e ansiedade sem precedentes em nossa história.

em formação: A Era Moderna foi destinada a ser o tempo em


que os fenômenos naturais seriam, por assim dizer,
‘dominados’ pelo homem. Após dois séculos de investimentos
em ciência e tecnologia, no entanto, a humanidade parece
estar totalmente vulnerável ao que o senhor chama de ‘caos de
tipo natural’. Como o senhor analisa o alardeamento de grande
parte da comunidade científica internacional de que o planeta
estaria profundamente ameaçado por um aquecimento térmico
global?

Zigmunt Bauman – O “projeto de modernidade” foi uma guerra


declarada à contingência, ao acidente, ao cego destino que golpeava
esperanças, expectativas e planos humanos. O mundodeveria tornar-
se transparente, previsível e administrável – e ‘a conquista da
natureza’, que deveria submetê-la à razão humana e estender suas
forças a serviço da segurança e da certeza humanas, era vista como
um dos principais meios de atingir tal objetivo. Sob gerência humana
– assim foi esperado e prometido – a natureza seria a garantia de
certeza e segurança, e não fonte de perigo e medos. O que estou
tentando explicar com o estudo dos medos que nos assombram dois
séculos mais tarde é o motivo pelo qual essas esperanças foram
golpeadas e por que nossas inseguranças presentes são, talvez, ainda
mais aterrorizantes do que secas, enchentes e terremotos que
atingiram nossos antepassados. Desastres naturais continuam
ocorrendo ao acaso e sem avisos assim como ocorriam desde tempos
imemoriais; o destino não deixou de ser cego e imprevisível. Ao invés
de a natureza começar a se comportar tão ‘razoavelmente’ quanto
nós, os humanos armados de razão, acreditávamos sermos capazes
de nos comportar – são os produtos e produtos secundários de nossas
ações humanas que nos atingem com a casualidade e a ferocidade
dos desastres naturais. Além dessa espantosa visão de planeta
superaquecido, há a perspectiva de uma crise de energia sem
precedente que pode ainda retornar como uma nova onda de fome e
revoltas dos famintos, ou do desgaste do suprimento de água
potável… Ainda que seja longa a lista de catástrofes conhecidas e já
temidas, sentimos que está incompleta – e esperamos que novos
itens se adicionem a ela devido às horríveis descobertas que, via de
regra, surgem tarde demais para que se possa prevenir o desastre…

Em Medo Líquido, o senhor analisa as origens e a trajetória dos


temores do homem e sua busca racional pelo controle das
intempéries naturais ou sociais. Barbáries morais impetradas
por sociedades modernas como o genocídio nazista do século
XX ou as recentes guerras terroristas entre nações ou, ainda, o
estado de miséria que se encontra boa parte dos povos na
África subsaariana, na América Latina e Ásia seriam provas de
que o projeto da Modernidade teria fracassado?

Uma coisa é certa – o triunfo do novo modo de vida (ou seja, o estado
de modernização permanente, obsessiva e compulsiva) não conseguiu
tornar a crueldade menos freqüente e suas vítimas menos numerosas.
Mas as condições que precipitam a crueldade se modificaram no curso
da história moderna. Você mencionou o genocídio nazista, o
nascimento do terrorismo global e a amplamente espalhada miséria
humana de uma só vez – mas esses fatos têm raízes diferentes.
Genocídios nazistas (e também comunistas) foram o cúmulo do que
chamo de busca ‘moderna sólida’ por uma linha de chegada para o
tumulto aflitivo da mudança perpétua; por uma ordem definitiva, um
Reich milenar, uma sociedade completamente purificada (das raças do
mal ou classes do mal), completamente regulada e administrada na
qual nenhuma nova mudança seria solicitada ou bem recebida.
Conforme Hannah Arendt apontou, a ‘tendência totalitária’ foi um
traço endêmico de um estágio da história humana, e a maior ameaça
foi a perspectiva de um estado todo-poderoso detentor de uma
soberania ilimitada e indivisível sobre a vida e a morte de seus
indivíduos. Desastres humanitários dos nossos tempos de
‘modernidade’ líquida brotam, ao contrário, da crescente lacuna entre
nossa dependência mútua, que já é global, e das agências de ação
(política) efetiva, que permanecem locais. Até agora, a globalização
foi puramente negativa: apenas as forças que negligenciam leis e
modos de vida locais, ignoram fronteiras e esvaziam soberanias
(forças como o capital, as finanças, o comércio, a criminalidade, a
violência, o tráfico de drogas e de armas etc.) globalizaram-se, mas
instituições de representação política, legislações, poderes judiciário e
executivo e controle democrático permanecem, assim como antes,
confinados ao domínio do estado-nação – muito estreito para se opor
ou lidar efetivamente com problemas produzidos globalmente. Daí a
acelerada polarização de condições e perspectivas de vida, acoplada
com a proliferação de sentimentos tribais e guerras, massacres e
genocídios (de vizinhanças) locais. Para os problemas globais do
nosso tempo, não há soluções locais praticáveis, mas não há até
agora forças capazes de articular e impingir soluções tão globais
quanto os problemas…

O senhor considera que vivemos um processo de ‘globalização


negativa’, altamente seletiva do comércio e do capital, vigiada,
sob a coerção das armas, do crime e do terrorismo, elementos
que destroem soberanias e desrespeitam fronteiras entre
Estados. No planeta globalizado, vivemos, então, sem
segurança em relação aos fenômenos da natureza e suas
conseqüências, tampouco em relação à barbárie social. Diante
deste quadro, quais as chances de superação desta condição?
É possível uma ‘globalização positiva’?

Essa é a maior das questões que a humanidade confrontará e será


pressionada a responder neste século. Uma questão, podemos dizer
com total responsabilidade, de vida e morte. Ou encontramos o modo
de controlar as forças globais liberadas e, no momento, desenfreadas,
ou desmoronaremos, mais cedo do que tarde, todos juntos. O desafio
que todos confrontamos juntos é o de dar o mesmo conteúdo e a
mesma realidade ao conceito abstrato de ‘humanidade’ assim como
nossos ancestrais fizeram com o igualmente abstrato conceito de
‘nação’. E imbuir aquela ‘comunidade imaginada’ com semelhante
espírito de diálogo, solidariedade, compromisso mútuo, com o qual a
idéia e a prática de ‘nação’ têm sido saturadas. Sob condições de
interdependência global, a sobrevivêncianão é um valor pelo qual
diferentes agrupamentos humanos (sejam eles étnicos ou religiosos)
podem significativamente competir, a sobrevivência de cada parte da
humanidade depende da solução dos problemas globais, e devo
repetir que os problemas globais somente podem ser resolvidos, se tal
solução pode, de fato, ocorrer globalmente…

Este século será dedicado à busca (e esperançosamente à descoberta


e ao estabelecimento) de instituições globais de representação,
legislação e jurisdição pública, e à equiparação de seu poder ao poder
já conquistado pelo capital, comércio, armas de guerra, criminalidade
ou terrorismo… Eu não sou profeta e não posso antecipar a direção
que nós, juntos, finalmente daremos à nossa história compartilhada.
Mas estou certo de que não há nenhuma alternativa ao direto
confronto desse desafio.

Qual o papel das comunidades de pesquisadores e professores


das chamadas Ciências Naturais e das Humanidades na
construção dessa superação?

Um papel crucial… A particularmente espantosa e potencialmente


mórbida natureza dos perigos contemporâneos é o mais
freqüentemente não visível dentro do campo da experiência
individual: você não sente pessoalmente o ‘aquecimento do planeta’,
a elevação de radiação deteriorando a qualidade da água e do ar, ou a
ameaça de terroristas conspiradores preparando seu conluio,
obviamente, com extremo sigilo. Menos ainda seria você capaz de
deduzir as causas de todas essas calamidades se conseguisse
percebê-las e nomeá-las. Sobre os perigos contemporâneos
(rebatizados de ‘riscos’, porque talvez seja possível calcular sua
probabilidade, mas não prever exatamente onde e quando eles
atacarão) nós podemos apenas aprender com os especialistas, que
têm acesso a dados muito mais amplos do que temos
individualmente, e que conduzem sua investigação sistematicamente
utilizando instrumentos de pesquisa inacessíveis aos homens e
mulheres comuns. Daí a singular responsabilidade dos cientistas. E
daí também a suspeita com a qual suas comunicações são
freqüentemente recebidas. Devido à invisibilidade dos riscos e à sua
intensidade, é fácil encobrir sua presença e assim manter o público
ignorante a respeito do custo real dos empreendimentos de negócios,
políticos ou militares. É também relativamente fácil fazer o oposto,
mas igualmente desastroso em suas conseqüências: exagerar ao
ponto de até mesmo ‘inventar’ os riscos, intensificar os medos
humanos e, depois, capitalizar em cima desses medos alimentados
artificialmente. Companhias de marketing podem encher os bolsos
graças às elevadas demandas de equipamentos declarados
necessários para afastar o perigo ou, se a catástrofe anunciada não se
concretizar, líderes políticos podem gabar-se de que algo foi
prevenido graças ao energético combate empreendido pelo governo –
uma pretensão de que a suposta ignorância pública não pode jamais
ser colocada à prova…

BAUMAN: Não sei o que esses ?acadêmicos? têm em mente. Até agora, nossa
globalização é totalmente negativa. Todas as sociedades já estão abertas.
Não há mais abrigos seguros para se esconder. A ?globalização negativa?
cumpriu seu papel, mas sua contrapartida ?positiva? nem começou a atuar.
Esta é a tarefa mais importante em que o nosso século terá que se
empenhar. Espero que um dia seja cumprida. É questão de vida ou morte da
Humanidade!

?As pessoas não são excluídas porque são más, mas porque outros
demonstram ser mais espertos na arte de passar por cima dos outros.
Todos são avisados de que não têm capacidade de permanecer porque existe
uma cota de exclusão que precisa ser preenchida?
Civilização sem tempo para refletir.

O que será preciso acontecer para que nossa sociedade se dê conta da


armadilha que caiu em busca da suposta ?modernidade??

BAUMAN: A civilização moderna não tem tempo nem vontade de refletir sobre
a escuridão no fim do túnel. Ela está ocupada resolvendo sucessivos
problemas, e principalmente os trazidos pela última ou penúltima tentativa
de resolvê-los. O modo com que lidamos com desastres segue a regra de
trancar a porta do estábulo quando o cavalo já fugiu e provavelmente já
correu para bem longe para ser pego. E o espírito inquieto da modernização
garante que haja um número crescente de portas de estábulos que precisam
ser trancadas. Ocasiões chocantes como o 11 de Setembro, a tsunami na
Ásia, (o furacão) Katrina, deveriam ter servido para nos acordar e fazer
agir com sobriedade. Chamar o que aconteceu em Nova Orleans e redondezas
de ?colapso da lei e ordem? é simplista. Lei e ordem desapareceram como se
nunca tivessem existido.

O senhor aponta uma ?crise aguda da indústria de remoção de refugo


humano?. É possível criar mecanismos de inclusão dos seres humanos
?excessivos? e ?redundantes?? A modernização implica, necessariamente, uma
?lixeira humana??

BAUMAN: Esse excesso de população precisa ser ajudado a retornar ao


convívio social assim que possível. Eles são o ?exército reserva da
mão-de-obra? e lhes deve ser permitido que voltem à ativa na primeira
oportunidade. Os ?redundantes? são obrigados a conviver com o resto da
sociedade, o que é legitimado pela capacidade de trabalho e consumo. Em
vez de permanecer, como era visto anteriormente, como um problema de uma
parte separada da população, a designação de ?lixo? torna-se a perspectiva
potencial de todos. Há partes do mundo que se confrontaram com o antes
desconhecido fenômeno de ?população sobrando?. Os países subdesenvolvidos
não se disporiam, como no passado, a receber as sobras de outros povos e
nem podem ser forçados a aceitar isso.

Países como Brasil, Índia e China são constantemente apontados como


estratégicos para o século XXI. Ao mesmo tempo, são três países com grande
número de ?lixo humano?, com alto índice de desemprego. Isso não é uma
contradição?

BAUMAN: Certamente. Isso fica ainda pior quando os gigantes do século XXI,
China, Índia, Brasil, entram no ?processo de modernização?. O número de
?pessoas desnecessárias? crescerá. E aí há o grande problema que mais cedo
ou mais tarde teremos que enfrentar: capacitar ou não China, Índia e
Brasil a imitar o modelo de ?bem-estar? adotado nos Estados Unidos em uma
época em que ?modernização? ainda era um privilégio de poucos? Para dar
vazão, seriam necessários três planetas, mas nós só temos um para dividir.
Um dos mais importantes compositores brasileiros, Chico Buarque de
Holanda, afirmou que ?uma nação grande e forte é perigosa, mas que uma
nação grande, forte e ignorante é ainda mais perigosa?. Ter uma nação
grande, forte e ignorante no comando do mundo ? como parecem ser os
Estados Unidos da Era Bush ? não pode acirrar ainda mais o ?refugo? dos
seres humanos?

BAUMAN: Lamento não conhecer Chico Buarque: ele toca no cerne da questão.
Até onde vai a situação de nosso planeta com um único superpoder,
confundido e subjugado pela ilusão de sua repentina ilimitada liberdade? A
elevação súbita dos Estados Unidos à posição de superpotência absoluta e
uma incontestada hegemonia mundial pegou líderes políticos americanos e
formadores de opinião desprevenidos. É muito cedo para declarar a natureza
deste novo império e generalizar seu impacto no planeta. Seu comportamento
é, possivelmente, o fator mais importante da incerteza definida como ?Nova
Desordem Mundial?. Um império estabelecido pela guerra tem que se manter
por guerras. Acabamos de ver isso no Iraque, apesar de todos saberem que
era óbvio que bombardear e invadir o país não aniquilaria o terrorismo.

No Brasil, temos uma expressão muito popular, ?jeitinho brasileiro?, que


representa a capacidade do povo de superar adversidades, sejam elas
pequenos problemas do cotidiano ou não. O senhor acredita que há nações
com seres ?redundantes? que saibam sobreviver melhor do que outros?

BAUMAN: O que vocês chamam de ?jeitinho brasileiro? é a maneira que a


modernização nos obrigou a reagir. Um dos resultados cruciais da
modernização é a dependência dos processos da vida humana pelos
?jeitinhos?. Isso implica o outro lado da mesma moeda: a vulnerabilidade
crescente dos legítimos modos instruídos de viver.

Aos 80 anos, sua produção intelectual ainda é grande. O que o motiva a


continuar escrevendo?

BAUMAN: Pierre Bourdieu ressaltou que o número de personalidades do


cenário político que podem compreender e articular expectativas e demandas
está encolhendo. Precisamos aumentá-lo, e isso só pode ser feito
apresentando problemas e necessidades. O próximo século pode ser o da
catástrofe final ou um período no qual um novo acordo entre os
intelectuais e as pessoas que representam a Humanidade seja negociado e
trazido à tona. Vamos esperar que a escolha entre estes dois futuros ainda
seja nossa.

Todas suas obras apresentam um cenário bastante pessimista do mundo. Temos


razão para acreditar em dias melhores?

BAUMAN: Rejeito enfaticamente essa afirmação. Otimistas são pessoas que


insistem que o mundo que temos é o melhor possível; os pessimistas são os
que suspeitam que os otimistas podem ter razão. Portanto eu não sou nem
otimista nem pessimista, porque acredito fortemente que outro mundo,
alternativo e quem sabe melhor, seja possível. Acredito que os seres
humanos sejam capazes de tornar real essa possibilidade.

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Casamento resistente à fluidez

Não deixa de ser irônico que um intelectual que estude e escreva tanto
sobre a fluidez dos relacionamentos amorosos na pós-modernidade esteja
casado há tantos anos. Há quase seis décadas, Zygmunt e Janina Bauman
dividem uma casa, três filhas e a paixão pela sociologia. Freqüentemente
convidado para fazer palestras e conferências ao redor do mundo, Zygmunt
Bauman recusa as propostas por uma razão tão singela quanto romântica: com
a saúde um pouco debilitada, Janina não pode acompanhá-lo em suas
incursões fora da Inglaterra.

O mais recente livro de Janina acaba de ser lançado no Brasil. ?Inverno na


manhã ? Uma jovem no Gueto de Varsóvia? narra os seis anos em que ela, na
época uma judia não-praticante de 14 anos, viveu no Gueto de Varsóvia. A
partir de seus diários ? escondidos durante a guerra e reencontrados
intactos ao final do conflito ? Janina retorna aos anos de medo em que
viveu ao lado da mãe e da irmã após Hitler invadir a Polônia. ?Durante a
guerra aprendi (...) que a coisa mais brutal da crueldade é que ela
desumaniza suas vítimas antes de destruí-las?, conclui.

Janina graduou-se na Academia de Ciências Políticas e Sociais em Varsóvia,


em 1950. Durante 20 anos trabalhou como tradutora, pesquisadora e editora
de roteiro em filmes poloneses. Em 1968, Janina, Bauman e as três filhas
tiveram que deixar a Polônia. Após morarem em Israel, se mudaram para
Leeds, na Inglaterra, onde vivem até hoje. ( G.P. )

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