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BRUNO CAMPANA E SOUZA

PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE PRESIDIÁRIOS:


O PAPEL DA ODONTOLOGIA.

CAMPINAS
2009
BRUNO CAMPANA E SOUZA

PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE PRESIDIÁRIOS:


O PAPEL DA ODONTOLOGIA.

Monografia apresentada a Faculdade de


Odontologia São Leopoldo Mandic, como
requisito para a obtenção do título de
Especialista em Odontologia do Trabalho.

Orientador: Doutora Raquel Baroni de


Carvalho.

CAMPINAS
2009
Apresentação da Monografia em ___/___/____ ao curso de Odontologia do
Trabalho.

___________________________________________________________________
Coordenador: Doutor Urubatan Vieira de Medeiros.

___________________________________________________________________
Orientadora: Doutora Raquel Baroni de Carvalho.
RESUMO

Este trabalho faz uma avaliação da importância da Odontologia no processo de


ressocialização do presidiário através de uma revisão de literatura sob a óptica da
Odontologia do Trabalho. Concluiu-se, após análise da informações pesquisadas,
que de acordo com a legislação brasileira o presidiário possui pleno acesso aos
serviços do SUS incluindo aos serviços odontológicos, a população carcerária
apresenta grande demanda por cuidados e exige uma abordagem interdisciplinar da
equipe de saúde e que o adequado tratamento odontológico contribui positivamente
para o processo de ressocialização do presidiário.

Palavras-chave: Odontologia. Presidiário. Ressocialização.


ABSTRACT

A literature review about effects of dentistry in inmates resocialization. A labor


dentistry's view conduced the study. It was concluded that the inmates have legal
rights to be assisted in health public services including dentistry. Also it was found
that they have special interdisciplinary health needs due to their extreme stressfull
situation. At last, dentistry is important in their resocialization process.

Keywords: Dentistry. Inmate. Resocialization.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 07
2 PROPOSIÇÃO 08
3 REVISÃO DA LITERATURA 09
3.1 O sistema penitenciário no Brasil. 10
3.2 A saúde no sistema penitenciário no Brasil. 13
3.3 A saúde bucal no sistema penitenciário no Brasil. 16
4 DISCUSSÃO 19
5 CONCLUSÃO 21
REFERÊNCIAS 22
7

1 INTRODUÇÃO

Nesta monografia será abordada a importância da Odontologia no processo de


ressocialização do detento no sistema prisional.
A ressocialização tem como meta fazer com que o apenado seja humanizado,
objetivando a transformação da personalidade do réu, onde seriam embutidos valores
morais necessários para torná-lo apto a viver em sociedade, tirando dele tudo que
contribuiu para que cometesse o delito e também evitar a reincidência.
Em seu trabalho Oliveira et al. (2009) visa assegurar a ressocialização como
previsto na Lei de Execução Penal - LEP (Lei 7.210/1984), por meio do desenvolvimento
de ações que intercedam pela maior empregabilidade e que respaldem a preparação para
o mundo do trabalho, de forma crítica, consciente e autônoma, como dever do Estado e
de toda a sociedade. Afirmam que ao desenvolver projetos que envolvem a formação de
presos, o estado promove oportunidades, vez que o trabalho só ajuda a recuperar e a
reintegrar o preso na comunidade na medida em que contém os ingredientes requeridos
pelo mercado e que ele, preso se apropria dos elementos próprios da cultura do trabalho,
como a disciplina, o trabalho em equipe, a responsabilidade solidária e a subordinação a
uma rotina ditada pelo próprio meio de produção.
Podem-se citar vários benefícios com o trabalho do detento (que pode ser
remunerado pelas empresas privadas que utilizam esta mão-de-obra ou pago em forma
de pecúlio pelo Estado), seja para o detento, as empresas ou para a sociedade.
Destaca-se a remição da pena (para cada três dias de trabalho, ganha-se um dia
de redução da pena), o recebimento de uma renda e de formação de uma poupança,
além da capacitação profissional possibilitada ao detento. Para as empresas capitalistas
têm-se uma possível economia com os custos de mão-de-obra e a minimização da
ocorrência de faltas, comparando-se a um trabalhador comum. Já para a sociedade, os
benefícios podem ser traduzidos na perspectiva de melhor ressocialização do preso e na
prevenção à reincidência, bem como na diminuição dos custos com a manutenção das
unidades prisionais e das tensões comuns em ambientes carcerários.
De acordo com a pesquisa de Shikida & Brogliatto (2008) envolvendo 67
presidiários da penitenciária estadual de Foz do Iguaçu a remuneração não é um fator de
destaque para os pesquisados. Os aspectos mais importantes foram: a remissão da pena
e a ocupação do tempo e da mente.
Em seu artigo Medeiros & Abreu (2006) relatam que a saúde bucal é um
componente essencial da saúde geral do trabalhador, influenciando diretamente o seu
desempenho profissional.
Teles et al. (2006) conclui que há necessidade de se aprofundarem e se divulgarem
os estudos realizados nessa área de conhecimento, para que os cirurgiões-dentistas
saibam diagnosticar e intervir para a melhoria na qualidade de vida da população e para
que os empregadores se conscientizem da necessidade de implantação de métodos de
prevenção em sua empresa com o intuito de melhorar a saúde bucal de seus
funcionários.
8

2 PROPOSIÇÃO

Este trabalho, na forma de revisão de literatura, procura então identificar, sob a


óptica da Odontologia do Trabalho, o que o cirurgião dentista pode realizar para melhor
contribuir com a ressocialização do apenado e reinserção do mesmo como cidadão na
sociedade.
9

3 REVISÃO DA LITERATURA

Atribui-se ao ex-presidente sul-africano e Prêmio Nobel da Paz Nelson Mandela os


seguintes dizeres: “Ninguém conhece verdadeiramente uma nação até que tenha estado
dentro de suas prisões” e “Uma nação não deve ser julgada pelo modo como trata seus
cidadãos mais ilustres, mas sim pelo modo como trata seus cidadãos mais simplórios”.
Para podermos compreender o papel da odontologia no processo de
ressocialização do presidiário analisaremos o atual modelo do sistema prisional
abordando o assunto em 3 tópicos: o sistema penitenciário no Brasil; a saúde no sistema
penitenciário no Brasil e a saúde bucal no sistema penitenciário no Brasil.
10

3.1 O sistema penitenciário no Brasil.

As penitenciárias no Brasil destinam-se ao condenado à pena de reclusão, em


regime fechado. O Supremo Tribunal Federal (STF) prevê diversos tipos de prisão: prisão
temporária, preventiva, em flagrante, civil e para efeitos de extradição – modalidades
permitidas pela justiça brasileira. A prisão para execução da pena somente pode ser
iniciada quando forem julgados todos os recursos cabíveis a serem interpostos, inclusive
àqueles encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ – Recurso Especial) e
Supremo Tribunal Federal (STF – Recurso Extraordinário). É regulamentada pela Lei de
Execuções Penais (Lei 7.210/1984), que possibilita, inclusive, o sistema de progressão do
regime de cumprimento das penas, trata dos direitos e deveres dos presos e determina as
sanções às faltas disciplinares, entre outros temas (informações extraídas do site do
STF).
O órgão brasileiro responsável pela fiscalização das penitenciárias de todo o país,
tanto federais quanto estaduais é o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN). Este
órgão executivo do Ministério da Justiça é responsável pela gestão da Política
Penitenciária brasileira e manutenção administrativa-financeira do Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). Suas atribuições são estabelecidas no art. 72
da já citada Lei 7.210/1984 e no Decreto 6.061/2007, entre elas: zelar para que as normas
de execução penal sejam corretamente aplicadas em todo o Brasil; cuidar da fiscalização
e inspeção dos estabelecimentos penais brasileiros, bem como da coordenação e
supervisão das penitenciárias federais; apoiar os estados brasileiros na implantação das
unidades e serviços penais e também na formação de todo o pessoal envolvido no
sistema penitenciário; estruturar e gerir a política penitenciária brasileira; cuidar da gestão
dos recursos arrecadados ao Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN); manter o CNPCP
(informações extraídas do site do Ministério da Justiça).
Segundo o DEPEN aproximadamente 75% dos presos estão recolhidos em
presídios e penitenciárias, unidades destinadas a presos condenados à pena de reclusão
em regime fechado. As colônias agrícolas, industriais ou similares recebem presos
sentenciados ao cumprimento da pena em regime semi-aberto e os hospitais de custódia
e tratamento psiquiátrico abrigam presos em medida de segurança, ou seja, internos que,
em razão de grave transtorno mental, são incapazes de reconhecer o caráter ilícito de
suas ações. Existem ainda as casas de albergado, destinadas a presos do regime aberto,
e as cadeias públicas e distritos policias, destinados a custódia de presos provisórios
(informações extraídas do site do Ministério da Justiça).
Como exemplo de implantação e gestão no nível estadual temos a Secretaria da
Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAP) e a Secretária de
Administração Penitenciária do Rio de Janeiro (SEAP RJ). Em Minas Gerais as
penitenciárias são geridas pela Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS) criada em
2003 (Lei Delegada 56/2003), em substituição às Secretarias de Segurança e Justiça. A
criação da SEDS vai além da junção dessas duas Secretarias, ela representa o início do
delineamento de uma Política Estadual de Segurança Pública (informações extraídas dos
sites da SAP, SEAP RJ e SEDS).
11

O Sistema de Defesa Social, em Minas Gerais, integra a Subsecretaria de


Administração Prisional (SUAPI), a Subsecretaria de Atendimento às medidas
Socioeducativas (SUASE), a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), a Polícia Militar de
Minas Gerais (PMMG), Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) e a
Defensoria Pública de Minas Gerais (DEFENSORIA) (informações extraídas do site da
SEDS).
Os centros socioeducativos recebem adolescentes (12 a 17 anos) e jovens (18 a
21 anos incompletos) de ambos os sexos, encaminhados pela Vara da Infância e
Juventude, com medida socioeducativa de privação ou restrição de liberdade a serem
cumpridas, já transitado em julgado (como primeira medida, como regressão de Meio
Aberto ou Reincidência) (informações extraídas do site da SEDS).
O governo de Minas promoveu, desde 2003, várias ações que resultaram no
aumento de número de vagas prisionais no Estado. Com a construção e ampliação de
presídios e penitenciárias as vagas saltaram de 5.381, em 2003, para 21.055 até
dezembro de 2008. Já foram construídas 30 unidades prisionais, sendo dez
penitenciárias, 20 presídios e um Centro de Apoio Médico e Pericial, totalizando 10.340
vagas. Esse número, somado às 2.578 ocupações geradas através de ampliações em 11
unidades já existentes, totaliza a criação de 12.918 vagas. Além disso, foram assumidas
36 unidades prisionais que estavam sob a responsabilidade da Polícia Civil: 26 cadeias, 6
CERESPs (Centros de Remanejamento do Sistema Prisional) e 4 presídios, que totalizam
mais 4.456 vagas no sistema prisional. A SEDS fechou o ano de 2008 com 83 unidades.
No primeiro semestre de 2009 este número foi ampliado para 93 unidades (informações
extraídas do site da SEDS).
Não é o objetivo deste trabalho qualquer crítica ao atual modelo do sistema
prisional deste ou daquele estado, no entanto, vejamos o trabalho de Goffman (1974) que
utilizou o seguinte conceito de “Instituição Total”: local de residência e trabalho onde um
grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais
ampla por considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente
administrada. A partir daí criou uma classificação das instituições totais, tendo em vista os
seus objetivos, nos seguintes grupos: instituições para pessoas incapazes e inofensivas,
como asilos para cegos, velhos, órfãos e indigentes; instituições para pessoas incapazes
e ameaçadoras, como hospitais para doentes mentais, tuberculosos e leprosos;
instituições destinadas à proteção da comunidade contra perigos intencionais, como as
penitenciárias, cadeias e campos de concentração; instituições destinadas à realização
mais adequada de uma tarefa específica, como quartéis, navios ou escolas internas;
instituições utilizadas como refúgio do mundo ou para instrução religiosa, como abadias,
conventos e mosteiros. Sem prejuízo das ressalvas feitas pela teoria, o traço mais
marcante do estudo do autor é o efeito do estilo de vida em instituições de tal natureza
sobre o eu. À guisa de melhor operacionalizar a vida dentro de uma “Instituição Total”,
considerando inclusive o aspecto financeiro, a massificação de todas as atividades
desenvolvidas no seu interior acarreta o controle das necessidades humanas dos
internados, bem como da comunicação dos mesmos entre si e também com o grupo
dirigente. Operando-se assim o que pode ser chamado de “desculturamento” ou
“destreinamento” para a vida social.
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Macedo (2004) realizou, em um artigo extremamente didático para compreensão


do sistema prisional, uma análise considerando a teoria das “Instituições Totais” e da
“Mortificação do Eu” de Erving Goffman (o mesmo do artigo citado anteriormente). Afirma,
contundentemente, que do ordenamento jurídico vigente outra conclusão não brota senão
a de não cabimento da aplicação da teoria das “Instituições Totais” aos estabelecimentos
carcerários brasileiros. A previsão legal não se afina com a política imposta pelas
“Instituições Totais”. O preso no Brasil tem garantidos na lei (e frise-se, em regra apenas
na lei e não na prática) todos os direitos não excluídos pela sentença. É dizer que o preso
tem o direito de usufruir da sua situação financeira dentro do presídio pois não está
proibido de fazer inserir nele qualquer bem que possua e que não represente risco para a
ordem no estabelecimento. Tem o direito a visitas íntimas e ao contato com seus
familiares e amigos, bem como ao contato com o mundo exterior, tudo isso só podendo
lhe ser restringido ou suspenso mediante ato motivado do diretor do estabelecimento
carcerário. Acrescenta que os presídios (ainda os que funcionam bem) não são e nunca
serão capazes de ressocializar criminosos, pois a ideia de ressocialização é logicamente
incompatível com a de encarceramento segundo a própria lógica da teoria da “Instituição
Total” que enxerga o efeito do desculturamento e destreinamento para a vida social em
instituições desta natureza. Conclui que o preso brasileiro (em regra um homem pobre e
pouco instruído) a despeito do que ordena a lei, sofre a mortificação do seu eu, operada
ainda por força do despojamento dos papéis que exercia na sociedade livre e que são na
prática de pouca ou nenhuma valia na vida interna do presídio.
Segundo os sites da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados
(FBAC), filiada a Prison Fellowship International (PFI), e da Associação de Proteção e
Assistência ao Condenado (APAC) os elevados índices de reincidência, girando em torno
de 85% denotam que os egressos das prisões, delas não saem intimidados e praticam
crimes ainda mais violentos. A propalada ressocialização não ocorre. Diante desse
contexto surgiu, em 1972, a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado
(APAC), em São José dos Campos (SP). Em Minas Gerais, a APAC se implantou no início
dos anos de 1980, em Itaúna, e em 1991 passou a administrar o regime aberto e fiscalizar
as penas substitutivas. A partir de 1997, os regimes fechados e semi-abertos adotaram o
método APAC. Outras prisões no Brasil e no estrangeiro também adotaram o método
APAC, tornando-se modelo e atraindo visitantes de todos os lugares. Em Itaúna os
índices de recuperação têm alcançado um percentual de 92% do total de detentos, nos
últimos cinco anos. As estatísticas apontam para um aumento populacional na cidade e a
diminuição dos índices de criminalidade.
O método APAC se inspira no princípio da dignidade da pessoa humana e na
convicção de que ninguém é irrecuperável, pois todo homem é maior que a sua culpa.
Alguns dos seus elementos informadores são: a participação da comunidade, sobretudo
pelo voluntariado; a solidariedade entre os recuperandos; o trabalho como possibilidade
terapêutica e profissionalizante; a religião como fator de conscientização do recuperando
como ser humano, como ser espiritual e como ser social; a assistência social,
educacional, psicológica, médica e odontológica como apoio à sua integridade física e
psicológica; a família do recuperando, como um vínculo afetivo fundamental e como
parceira para sua reintegração à sociedade; e o mérito, como uma avaliação constante
que comprova a sua recuperação já no período prisional (informações extraídas do site da
APAC).
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3.2 A saúde no sistema penitenciário no Brasil.

O site da Human Rights Watch (HRW) disponibiliza relatórios periódicos sobre o


sistema prisional em várias regiões do mundo. Em 1998 no relatório “O Brasil atrás das
Grades” cita que vários documentos internacionais adicionais detalham os direitos
humanos das pessoas encarceradas, fornecendo normas básicas de como os governos
devem cumprir com suas obrigações perante o Direito Internacional. As mais amplas de
todas essas normas são as Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros das
Nações Unidas, adotadas pelo Conselho Econômico e Social, em 1957. Outros
documentos relevantes incluem o Corpo de Princípios para a Proteção de Todas as
Pessoas sob Qualquer Forma de Detenção ou Aprisionamento, adotado pela Assembleia
Geral, em 1988, e os Princípios Básicos para o Tratamento de Presos, adotado pela
Assembleia Geral, em 1990. Vale a pena notar que, embora esses instrumentos não
sejam tratados, eles fornecem interpretações vinculantes no que diz respeito ao conteúdo
das normas contidas em tratados. É afirmado no relatório que populações carcerárias em
toda parte tendem a requerer mais assistência médica do que a população como um todo.
Não apenas os presídios mantêm uma grande proporção de pessoas com maior risco de
adoecer, como usuários de drogas injetáveis, mas também o próprio ambiente prisional
contribui para a proliferação de doenças. Dentre os fatores que favorecem a alta
incidência de problemas de saúde entre os presos está o estresse de seu
encarceramento, condições insalubres, celas superlotadas com presos em contato físico
contínuo e o abuso físico. Relata ainda que várias doenças infecto-contagiosas tais como
tuberculose e Aids atingiram níveis epidêmicos entre a população carcerária brasileira. Ao
negar o tratamento adequado dos presos, o sistema prisional não apenas ameaça a vida
dos presos como também facilita a transmissão dessas doenças à população em geral
através das visitas conjugais e o livramento dos presos. Como os presos não estão
completamente isolados do mundo exterior, uma contaminação não controlada entre eles
representa um grave risco à saúde pública.
Strazza et al. (2006) em seu trabalho identificaram 13,9% de prevalência de
infectados por HIV (Human Imunodeficiency Virus) em população carcerária feminina da
Penitenciária do Butantã SP.
Lopes et al. (2001) chegaram a resultados semelhantes, também em penitenciárias
femininas da capital de São Paulo (Penitenciária Feminina do Carandiru), com 14,5% de
prevalência de HIV.
Coelho (2004) em sua dissertação de mestrado relatou uma prevalência de HIV de
5,7% na população masculina da Penitenciária de Ribeirão Preto SP.
Miranda & Zago (2001) identificaram uma prevalência de 4,9% para HIV e de 7,8%
para Sífilis entre adolescentes do sistema correcional da Grande Vitória ES. Seu estudo
estava direcionado para população jovem com média de idade de 16,3 anos (103
adolescentes, sendo 92,2% do sexo masculino e 7,8% do sexo feminino). Concluíram que
as taxas de prevalência identificadas neste estudo confirmam a existência de um
problema a ser controlado e a necessidade de implementação de programas de
prevenção e aconselhamento para esta população.
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Quanto a tuberculose Oliveira & Cardoso 2004 verificaram que a incidência no


sistema penitenciário em Campinas SP variou de 1.397,62 em 100.000 indivíduos (em
1994) a 559,04 (em 1999). Predominou a faixa etária de 25 a 34 anos (62,6%) e a AIDS
(Acquired Immune Deficiency Syndrome) como doença associada (49,9%). A forma
preponderante de tuberculose foi a pulmonar (91,9%), com baciloscopia de escarro
positiva em 70,3%.
O Plano Nacional de Saúde prevê a inclusão da população penitenciária no
Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo que o direito à cidadania se efetive na
perspectiva dos direitos humanos. O acesso dessa população a ações e serviços de
saúde é legalmente definido pela Constituição Federal de 1988, pela Lei 8.080/1990, que
regulamenta o SUS, pela Lei 8.142/1990, que dispõe sobre a participação da comunidade
na gestão do SUS, e pela Lei de Execução Penal 7.210/1984 (informações extraídas do
site do Ministério da Saúde).
A população penitenciária brasileira é composta, predominantemente, por adultos
jovens: homens brancos, solteiros e com menos de 30 anos de idade. São, em sua
grande maioria, pobres e condenados pelos crimes de furto e roubo. Poucos entre eles
foram alfabetizados e possuíam profissão definida anteriormente à prisão, caracterizando
uma situação de exclusão social anterior ao seu ingresso no Sistema Prisional. Mais da
metade é reincidente na prática de crimes e comumente associam seus atos delituosos à
situação de desemprego e pobreza em que se encontram (informações extraídas do site
do Ministério da Saúde).
Acreditando que os altos índices de criminalidade não serão reduzidos apenas com
a ampliação do Sistema Penitenciário, por meio da construção de mais presídios e do
aumento indiscriminado de vagas, surge a preocupação de investir em políticas de
atenção à saúde, à educação e à profissionalização das pessoas privadas de liberdade
(informações extraídas do site do Ministério da Saúde).
O Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP) foi elaborado a
partir de uma perspectiva pautada na assistência e na inclusão das pessoas presas e
respaldou-se em princípios básicos que assegurem a eficácia das ações de promoção,
prevenção e atenção integral à saúde (informações extraídas do site do Ministério da
Saúde).
De acordo com a Lei de Execuções Penais (Lei 7.210/84), o Sistema Penitenciário
tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar
condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. Para que tal
objetivo seja alcançado, é necessária a aplicação de meios preventivos e curativos in
loco, assegurando o acesso das pessoas presas a ações de saúde, educação,
profissionalização e trabalho. Associando-se essa função ao conceito de saúde como "um
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de
doença", surge a proposta interministerial do Ministério da Saúde e do Ministério da
Justiça de implantação do PNSSP.
Com o intuito de transformar o PNSSP, efetivamente, em uma estratégia de fazer
chegar à população penitenciária as ações e os serviços de saúde, foi criado o Incentivo
para Atenção à Saúde no Sistema Penitenciário, que deverá ser compartilhado entre os
gestores da saúde e da justiça das esferas de governo, cabendo ao Ministério da Saúde
financiar o equivalente a 70% dos recursos e os demais 30%, ao Ministério da Justiça
(informações extraídas do site do Ministério da Saúde).
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Este incentivo é um componente variável do Piso de Atenção Básica, que é


composto de uma parte fixa destinada à assistência básica e de uma parte variável
relativa a incentivos de ações estratégicas da própria atenção básica destinada às
populações específicas (informações extraídas do site do Ministério da Saúde).
A portaria nº 648/GM de 28 de março de 2006 aprova a Política Nacional de
Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da
Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes
Comunitários de Saúde (PACS). Nela fica regulamentado que a transferência dos
recursos financeiros que compõem os incentivos relacionados ao Piso de Atenção Básica
Variável da Saúde no Sistema Penitenciário se dará em conformidade ao disposto na
Portaria Interministerial 1.777/2003.
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3.3 A saúde bucal no sistema penitenciário no Brasil.

A Portaria Interministerial 1.777/2003 traz em seu cerne a importância da definição


e implementação de ações e serviços, consoantes com os princípios e diretrizes do SUS,
que viabilizem uma atenção integral à saúde da população compreendida pelo Sistema
Penitenciário Nacional, estimada em mais de 200 mil pessoas distribuídas em todas as
unidades federadas (segundo o Sistema Nacional de Informação Penitenciária “InfoPen”,
sob responsabilidade do DEPEN, o total de presos no sistema e na polícia é de 469.807
no 1º semestre de 2009, não se considerando os mandados de prisão emitidos e não
cumpridos). Em seu artigo oitavo estabelece que a atenção básica de saúde, a ser
desenvolvida no âmbito das unidades penitenciárias, será realizada por equipe mínima,
integrada por médico, enfermeiro, odontólogo, assistente social, psicólogo, auxiliar de
enfermagem e auxiliar de consultório dentário, cujos profissionais terão uma carga horária
de 20 horas semanais, tendo em conta as características deste atendimento. Sua meta
para a Odontologia é 100% da população carcerária esclarecida e orientada sobre os auto
cuidados em higiene bucal e sobre a importância do auto-exame da boca como medida
preventiva e de diagnóstico precoce do câncer bucal.
O Strategy for Modernising Dental Services for Prisoners in England (2003) no
capítulo sobre o futuro modelo de serviços odontológicos em prisões destaca que todos o
condenados deverão ter orientação e acesso ao tratamento de saúde bucal já no
momento da admissão. A triagem deverá ser feita de acordo com o tamanho da pena e da
necessidade do atendimento. Gestantes, lactantes e prisioneiros de longa sentença ou
sentença menor que 6 meses devem receber orientação dedicada.
Segundo o Prison Health Performance Indicators (2007) indivíduos na prisão,
aguardando sentença ou sob custódia, não tem demonstrado boa saúde, incluindo
problemas de saúde bucal, em índices maiores que a população comum. Muitos
prisioneiros tem a saúde bucal negligenciada. O uso de drogas, fármacos que reduzem o
fluxo salivar (como a metadona) e o tabagismo agravam os problemas, ente eles o câncer
bucal.
Segundo Godoy & Caetano (2005) o cloridrato de metadona é um agonista dos
receptores opiáceos. É um analgésico narcótico com indicações para dor grave, e
também profilaxia e tratamento da síndrome de abstinência a narcóticos opioides,
impedindo ou atenuando os sintomas de abstinência nos tratamentos de desintoxicação,
ou seja, usado no tratamento substitutivo de farmacodependência elevada devida aos
opioides, sendo um apoio à função médica, social e psicológica.
Nogueira Filho et al. (1997) explica a evolução da doença periodontal, pela
associação de casos avançados de periodontite em pacientes fumantes, o papel do fumo
como fator de risco à doença periodontal, as implicações no pós-operatório de cirurgias
periodontais e implantes, as associações do consumo de drogas como a maconha e o
"crack" , pelo paciente periodontalmente comprometido.
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Na fact sheet - mouth and throat cancer (2006) criada pelo Instituto do Câncer do
estado de New South Wales (Austrália) consta que em 52% dos homens que tiveram
câncer de boca e garganta e que em 42% das mulheres que tiveram este mesmo tipo de
câncer a causa foi atribuída ao uso de tabaco. O risco de desenvolver estas doenças é
diretamente proporcional a quantidade de tempo do hábito de fumar e a quantidade que
se fuma. Acrescenta que o grande consumo de bebidas alcoólicas é o maior fator de
risco para o desenvolvimento de câncer de boca e garganta. Quando combinados
(tabagismo e alcoolismo) são os responsáveis pela maioria dos casos destes tipos de
câncer. Observa ainda que o câncer de lábio pode ser causado por radiação ultravioleta
solar e que alguns tipos de câncer do nariz podem estar associados com a inalação de
produtos químicos comuns na marcenaria.
Funk (2007) concluiu que os pacientes assistidos no serviço de oncologia do
Hospital Nossa Senhora da Conceição (Porto Alegre RS) apresentaram o perfil típico dos
tumores de localização de cabeça e pescoço no país, com maior prevalência de homens,
tabagistas, de baixo nível sócio econômico e educacional e pobre saúde bucal.
Em seu artigo Wolf (1998) realizou pesquisas com sujeitos portadores de prótese
ou de implante dentário, objetivando compreender os aspectos psicológicos envolvidos na
perda dos dentes. A análise do material obtido mostrou a importância dos dentes para a
identidade e para a integridade egoica das pessoas e revelou que o paciente, quando
busca recursos odontológicos para substituição dos dentes perdidos, está também
demandando a reconstituição de sua imagem pessoal e social.
Souza et al. (2004) chegaram a conclusão semelhante com o estudo de seu caso
clínico. Os autores avaliaram as alterações psicossomáticas ocorridas após o tratamento
odontológico com prótese total. Constatou-se que a prótese total, quando bem planejada
e conduzida, pode afetar positivamente a estética, a autoestima e o relacionamento social
e familiar do paciente.
Sá et al. (2005) tiveram em seu estudo como objetivo identificar as possíveis
mudanças emocionais em adultos causadas pela perda dentária. Foram aplicados
questionários em 100 pacientes edêntulos totais ou parciais, sendo ou não usuários de
prótese. Os resultados mostraram que a população em estudo apresentou alterações
emocionais e físicas após a perda dos dentes. Em 63% dos entrevistados verificaram a
autoestima afetada e em 70% observaram dificuldade em aceitar a ausência dos dentes.
Concluíram que a perda dentária repercute no bem-estar emocional do paciente, além de
debilitar a aparência e algumas atividades cotidianas.
Gomes (2005) realizou pesquisa para avaliar o impacto das condições bucais no
desempenho diário em uma amostra representativa de 276 funcionários públicos com
idade entre 35 e 44 anos. Utilizou o índice Oral Impact on Daily Peformances (OIDP). Os
resultados mostraram que, do total da amostra, 73,6% tiveram pelo menos um
desempenho diário afetado por problemas odontológicos nos últimos seis meses. O
desempenho diário mais afetado foi comer e apreciar a comida (48,6%). Pessoas com
CPO-D (número médio de dentes permanentes cariados, perdidos e obturados) alto
apresentaram 5,8 vezes mais chances de apresentar impacto odontológico alto no
desempenho diário do que pessoas com CPO-D baixo e sem impacto odontológico.
Concluíram que o índice OIDP combinado com a avaliação clínica é útil para analisar
como os diferentes níveis de saúde bucal afetam as dimensões físicas, psicológicas e
sociais do desempenho diário. Concluíram também que novas pesquisas que utilizem
indicadores sociodentais contribuirão para a mudança na avaliação da saúde bucal do
enfoque predominantemente clínico para um enfoque que também englobe e valorize os
aspectos psicológicos e sociais, na busca de um entendimento do indivíduo e sua saúde
dentro de uma visão mais integral em nível individual e coletivo.
18

Freire (2005) considerou que a odontologia necessita encontrar estratégias para


difundir, de forma interdisciplinar, a temática saúde bucal, especialmente a do idoso, como
uma população em crescimento e que apresenta um acúmulo de necessidades de
atenção não satisfeitas pela odontologia durante a sua história.
No trabalho sobre um caso clínico onde foi realizada restauração dos dentes 11, 12
e 21 com severa alteração de cor, forma e posição Mello et al. (2006), segundo suas
próprias conclusões, recuperaram não só o sorriso como também a autoestima do
paciente. Facetas diretas em resina composta têm se tornado um recurso bastante
popular na busca por um sorriso harmonioso. Os avanços recentes marcados pelas
técnicas adesivas, evolução na qualidade das resinas compostas e o desenvolvimento de
pinos intra-radiculares de fibra de vidro possibilitam alcançar um resultado estético
excelente, com conservação maior da estrutura dental em relação a outras técnicas.
Estudos de casos clínicos semelhantes também obtiveram conclusões positivas
quanto a melhora da autoestima do paciente (Aquino, 2006 e Cesar Junior, 2007).
Marques (2006) realizou um estudo para avaliar a influência da higiene bucal sobre
a sensibilidade gustativa e nutrição em idosos. Utilizou 54 pacientes e concluiu que além
do aumento da ingestão calórica a higienização propiciou melhora na percepção gustativa
e melhor aceitação alimentar, incrementando as condições gerais de saúde, e também a
autoestima dos pacientes.
Em diversos estudos sobre a auto percepção da saúde bucal ficou clara a
necessidade de maior orientação sobre saúde e higiene bucal aos pacientes (Bonfanti et
al., 2006; Henriques et al., 2007; Lima et al., 2007 e Silva et al., 2004). Embora (Bonfanti
et al. 2006) tenham observado que a saúde bucal não tenha interferido na qualidade de
vida dos pacientes notou-se melhora da qualidade de vida dos mesmos após o tratamento
apropriado (Henriques et al., 2007; Lima et al., 2007; Pizzatto, 2006 e Silva et al., 2004).
Embora a atenção básica a saúde bucal no sistema penitenciário esteja prevista
em lei (igualando os direitos a saúde do sentenciado aos de qualquer outro cidadão ao
exemplo de muitos países europeus como França, Espanha e Portugal – Relatório Sobre
o Sistema Prisional editado pela Provedoria de Justiça de Portugal 1996) os desafios para
a correta aplicação dos preceitos da Odontologia do Trabalho, no que tange aos
condenados que procuram o trabalho para o processo de ressocialização e/ou remição
da pena, ainda são muitos.
No levantamento realizado no documento Evaluation for the Impact of the National
Strategy for Improving Prison Dental Services in England (2006) foram encontrados os
seguinte dados: os procedimentos de segurança dos presídios entram em atrito com a
necessidade de trânsito dos prisioneiros de suas celas para os locais de atendimento, o
equipamento odontológico frequentemente quebra e as consultas são desmarcadas e os
prisioneiros não aceitam a responsabilidade pelo cuidado de sua própria saúde.
O professor Raman Bedi (chefe do departamento de Odontologia da Inglaterra em
2005) no Reforming prison dental services in England – a guide to good practice ressalta
que o serviço odontológico na prisão apresenta dois desafios. O primeiro, a demanda por
serviços de tratamento dental de alta complexidade que os prisioneiros apresentam e que
deve ser atendida o mais rápido possível na admissão do detento. E o segundo, assumir
a responsabilidade de tentar reduzir as doenças bucais que os prisioneiros irão
desenvolver no futuro através de educação. Por exemplo: escovação regular dos dentes
com pasta contendo flúor, redução do tabagismo e orientar escolhas mais saudáveis
quanto a dieta e nutrição.
19

4 DISCUSSÃO

O sistema prisional no Brasil é complexo e possui uma legislação sólida e exemplar


(basta ler a LEP e verificar). No entanto, o crescente número da população carcerária e os
alarmantes índices de reincidência (segundo o InfoPen 2009) nos fazem questionar se a
realidade prática não se adequa a teoria. Concordo com Macedo (2004) que não é
possível, no modelo de “Instituição Total” de Goffman (1974), a recuperação do apenado.
Talvez neste contexto o modelo da APAC seja um objeto de estudo. É realmente
necessário maiores estudos científicos futuros sobre o processo de adequação do
comportamento humano ao convívio social. É preciso uma visão munida das lentes da
metodologia científica para validar se esta ou aquela metodologia são realmente
eficientes no processo de ressocialização.
O processo de ressocialização é de interesse de todos, por isso o governo e a
própria sociedade (FBAC, PFI, APAC e HRW) procuram agir e evitar um completo colapso
ou falência do sistema prisional. No que concerne ao cirurgião dentista, como membro de
uma equipe de saúde no sistema prisional, é necessário responder algumas perguntas
antes de se traçar o escopo de alguma ação. Qual o perfil do presidiário brasileiro? A
abordagem da equipe de saúde deve ser interdisciplinar? Qual o papel da Odontologia no
processo de ressocialização?
Verificamos pelos relatórios da HRW e por informações do Ministério da Saúde que
o perfil do paciente em ambiente prisional é de extrema carência, sem boa saúde e pouca
educação. No entanto, a grande maioria é jovem e em fase de maior produtividade
representando um verdadeiro exército de mão-de-obra. Vemos aí algo que pode atrair o
interesse do setor privado. Isto é importante para o cirurgião dentista no momento em que
for necessário procurar parcerias, investimentos ou doações para execução de
determinados projetos de cunho educativo e/ou preventivo nos presídios.
Doenças sexualmente transmissíveis, respiratórias, estomacais são comuns no
ambiente prisional (segundo o site da HRW; Coelho, 2004; Lopes et al., 2001; Miranda &
Zago, 2001; Oliveira & Cardoso, 2004 e Strazza et al., 2006). Por isto o odontólogo deve
procurar informações sobre as manifestações orais das mesmas e qual a conduta
interdisciplinar em cada caso. Por outro lado, há a necessidade de divulgação do
conhecimentos sobre saúde bucal e sua inter-relação com a saúde sistêmica tanto com
pacientes como também com outros profissionais da área de saúde (Bonfanti et al., 2006;
Freire, 2005; Henriques et al., 2007; Lima et al., 2007 e Silva et al., 2004). A conduta da
equipe de saúde dever ser interdisciplinar.
Devido ao tabagismo, uso de drogas, farmacoterapia, redução do fluxo salivar, má
nutrição e precária saúde bucal, programas de escovação supervisionada pra melhorar a
saúde bucal, a nutrição, o paladar e qualidade de vida dos pacientes são recomendáveis
(Gomes, 2005 e Marques, 2006).
Diversos trabalhos demonstraram que o cirurgião dentista pode, através do
tratamento odontológico (alívio da dor, restauração anatômica, funcional e estética) ser
fonte de motivação, melhoria da autoestima e consequentemente da qualidade de vida do
paciente (Aquino, 2006; Cesar Junior, 2007; Henriques et al., 2007; Lima et al., 2007;
Mello et al., 2006; Pizzatto, 2006; Silva et al., 2004; Souza et al., 2004 e Wolf, 1998). É
pertinente inferir que o adequado tratamento odontológico contribui positivamente para o
20

processo de ressocialização.
O cirurgião dentista deve possuir conhecimento dos trabalhos realizados no
ambiente prisional para melhor construir sua abordagem de atendimento clínico, ou seja,
uma vez que há uma grande demanda é necessário mecanismos de triagem para
classificação dos casos mais urgentes e também é necessário que o trabalhador se
ausente o mínimo possível de suas atividades para que não tenha prejudicada a sua
remição e que todo este processo ainda seja compatível com os protocolos de segurança
adotados no local.
Embora possa parecer tecnicamente complicado o atendimento in loco do paciente
é muito mais simples e econômico do que o trânsito para atendimento externo (uma vez
que além de um equipe de profissionais de saúde estaremos imobilizando agentes para a
escolta, veículo para transporte, veículo para escolta, motoristas, armas, etc.). No entanto,
parcerias com Unidades Básicas de Saúde e com os Centros de Especialidades
Odontológicas ainda são necessárias para suprir a necessidade de procedimentos de alta
complexidade (como orienta o próprio PNSSP).
É indicada a presença do Odontólogo do Trabalho nas equipes de coordenação
estaduais e federais dos estabelecimentos prisionais juntamente com equipe de saúde
multidisciplinar (agentes de saúde, enfermeiros, médicos do trabalho e psicólogos) para
criação ou adaptação e execução de protocolos de Atenção Básica a Saúde com enfoque
específico para o perfil de pouca motivação do interno de penitenciárias. Se objetivamos
um baixo índice de absenteísmo no trabalho (Medeiros & Abreu, 2006) sua presença no
desenvolvimento dos procedimentos operacionais padrão do processo de ressocialização
de um presídio também é essencial.
21

5 CONCLUSÃO

Após a avaliação das informações desta revisão de literatura sobre o papel da


Odontologia no processo de ressocialização do presidiário é possível concluir que:
a) de acordo com a legislação brasileira o presidiário possui pleno acesso aos serviços do
SUS incluindo aos serviços odontológicos;
b) a população carcerária apresenta grande demanda por cuidados e exige uma
abordagem interdisciplinar da equipe de saúde;
c) o adequado tratamento odontológico contribui positivamente para o processo de
ressocialização do presidiário.
22

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