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Mariluce Santiago
A liberdade de escolha faz o homem sempre ter de responder pelos seus atos.
Leibniz
ficção, o cinema, as novelas, a leitura de jornais e revistas estão sempre nos apresentando
algumas situações que nos fazem refletir:
ada
c o é seqüestr
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Famíl
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-Meu De anco e permita nada acontece
B rme e
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q ua lq
sem
família. ir ewall
Filme: F
Filosofia e Ética 3 /19 Profa. Mariluce Santiago
● ● ● me de
Menina com Síndro
O Direito de Morrer pela
Down é abandonada
avó.
Tetraplégico por 29 anos, Ramon Sampedro
ira, teve
solicitou à justiça espanhola o direito à Fernanda, mãe solte
dá luz a
eutanásia ativa. Sua luta judicial durou cinco morte prematura ao
ancisco e
anos e foi negado seu pedido. Em 1997 mudou duas crianças: Fr
Clara, com
de cidade e planejou, junto com amigos, a sua Clara. A pequena
de vida, é
morte, de forma a não incriminar amigos ou apenas alguns dias
a avó, pelo
familiares. Tinha assistência diária dos amigos, abandonada pela su
scido com
pois não era capaz de realizar nenhuma simples fato de ter na
Penalizada
atividade, devido a tetraplegia. No dia 15 de Síndrome de Down.
menina, a
novembro de 1998 foi encontrado morto por com o abandono da
sponsável
uma das amigas que o auxiliava. Filmou os médica Helena, re
a, resolve
últimos instantes de vida, onde ficou claro que pelo parto de Clar
receio da
recebeu auxílio dos amigos, colocando o copo adotá-la. Porém, com
familiares
com canudo ao alcance de sua boca. No atitude dos demais
lve mentir
entanto, a fita também documentou que foi ele de Clara, a avó reso
eu morta.
próprio que realizou a ação de colocar o que a menina nasc
canudo na boca e sugar o conteúdo do copo. que a médica
Situação
Sua morte foi causada pela ingestão de sustentou.
cianureto. A repercussão do caso foi mundial,
com destaque na imprensa como morte
assistida. A amiga foi incriminada pela polícia central da Novela
Tema
como responsável pelo homicídio. Um Páginas da Vida, 2006
movimento internacional de pessoas enviou
cartas confessando o mesmo crime. O
processo foi arquivado por impossibilidade de
levantar todas as evidências. Em 2003, o
diretor espanhol Alejandro Amenábar realizou
o filme Mar Adentro, baseado na história de
Ramon Sampedro.
Pronto,
de
os dilemas
estão
médicos,
proveta.
postos.
Realidade ou ficção, certamente cada situação lhe causou algum tipo de reação. Estamos diante de
dilemas que nos fazem pensar, avaliar, tentar decidir.
Filosofia e Ética 4 /19 Profa. Mariluce Santiago
• O que deve fazer o Gerente do Banco? Deve permitir a entrada dos bandidos? Denunciar
para polícia? Salvar sua família?
• A médica Helena, será que agiu certo ao adotar a criança? A mentira foi por uma boa causa?
Existe mentira justa?
• E a amiga de Sampedro, agiu corretamente? Será que Sampedro tinha condições de tomar
decisões sobre sua vida?
• Quanto tempo de vida útil uma mulher de 52 anos tem para criar e acompanhar o
crescimento e o desenvolvimento de um novo ser humano?
Situações ou notícias como estas sempre nos impulsionam a fazer avaliações, a decidir, a
estabelecer um julgamento. O que nos torna responsável pelo que fazemos, por nossas escolhas,
pelas decisões que tomamos? Por que somos responsáveis mesmo quando estamos diante de
situações que parecem nos obrigar a uma ação determinada? Há muitos momentos em nossas vidas
em que nos sentimos simplesmente sem “escolha”. Por que, então, a decisão que tomamos nessas
horas pode ser considerada nossa responsabilidade?
No nosso dia-a-dia, encontramo-nos freqüentemente diante de situações nas quais a nossa decisão
depende daquilo que consideramos bom, justo ou moralmente correto. Toda vez que isso ocorre,
estamos diante de uma decisão que envolve um julgamento moral da realidade, a partir da qual
vamos nos orientar. Aristóteles já dizia: “a caracterização específica do homem em comparação com
os outros animais é que somente ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e de
outras qualidades morais”.
Assim, o homem age no mundo de acordo com valores, a partir do julgamento do que é certo ou
errado diante de cada situação. Avaliamos o que se passa a nossa volta, conscientemente ou não,
buscando o caminho ou decisão que nos parece ser o melhor. A isso damos o nome de senso moral.
O senso moral e a consciência moral referem-se aos princípios que fundamentam nossas escolhas,
sentimentos, emoções e valores. Mesmo sem nos darmos conta destes princípios, eles são
expressão de nossas crenças, da forma como pensamos e nos relacionamos com o outro, reflexo da
nossa existência ética e valores morais.
VALOR
Filosofia e Ética 5 /19 Profa. Mariluce Santiago
Como pudemos perceber, quase sempre necessitamos avaliar as situações: seja que roupa
usar para cada ocasião, que caminho seguir para chegar mais rápido ao destino ou mesmo que
profissão escolher para o resto de nossa vida. Ao avaliarmos, seja a situação mais simples ou mais
complexa, estamos julgando, estabelecendo juízos, que no caso são juízos de valor.
Valor é a relação de não-indiferença entre o homem e os elementos com que se defronta. A
axiologia é a área da filosofia que estuda a teoria dos valores em geral, em especial, a dos valores
morais (do grego axios, que quer dizer “valioso”, “desejável”, “estimado”).
Quando nascemos já encontramos valores morais instituídos, os quais podemos ou não internalizar.
Se internalizarmos, os valores permanecem. Quando passamos a questioná-los, os valores tendem
a sofrer alterações. É o que nós chamamos de moral instituinte (em formação). A decisão de aceitar
uma regra moral é fruto de uma reflexão pessoal consciente, e se chama internalização.
Nós já falamos que consciência é saber o que está fazendo. Exemplo: uma pessoa consciente pára
no sinal vermelho porque sabe que ultrapassá-lo pode representar riscos para si e para outros. Se
pararmos apenas por receio da multa, não internalizamos a regra moral. Fazemos por pressão
(medo da multa), mas não por consciência, por saber que é certo fazer.
É por isso, que vemos muitos motoristas furando o sinal vermelho quando não há nenhum guarda
por perto. Assim, como há aqueles que param e respeitam o sinal. No caso, os motoristas
internalizaram a norma.
O homem é um ser que possui um senso ético e uma consciência moral. Isto quer dizer que
constantemente avalia e julga suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas
ou injustas.
A essa característica peculiarmente humana de discernir o justo do injusto, o que deve ser preferido
do que deve ser preterido, o bem do mal, dá-se o nome de consciência moral.
Reflita sobre essa questão: o que impede a maioria dos motoristas de furar o sinal vermelho quando
não há guardas por perto?
Podemos dizer que é a Consciência? Sim, no caso a Consciência Moral, que pode ser definida como
a capacidade de distinguir o bem do mal, de que resulta o sentimento do dever ou da interdição de
se praticarem determinados atos, e a aprovação ou o remorso por havê-los praticado.
Em outras palavras, a Consciência Moral funciona como um sensor interno, ou um árbitro, que
avalia, julga, estabelece juízos de valor e decide o que fazer, tomando como parâmetro o bem a ser
feito e o mal a ser evitado. A Consciência Moral acaba tendo maior importância que a própria lei,
pois nem sempre teremos testemunhas dos nossos atos. Porém, nossa consciência é implacável,
nos acompanha por onde quer que seja.
Nesse aspecto, além das outras pessoas que poderão julgar nossos atos, se estamos agindo com
liberdade e responsabilidade, nós temos ainda a nossa consciência moral. Vivemos certas situações,
ou sabemos que foram vividas por outros, como situações de extrema aflição e angústia. É o caso
que citamos no início do capítulo, quando os amigos ajudaram a Sampedro a tomar cianureto e pôr
fim a sua vida. O que pensaram antes de agir? Não seria melhor que descansasse em paz? Não
seria preferível deixá-lo morrer? Podemos desligar os aparelhos? Ou não temos o direito de fazê-lo?
Que fazer? Qual a ação correta?
Situações como essas – mais dramáticas ou menos dramáticas – surgem sempre em nossas vidas.
Nossas dúvidas quanto à decisão a tomar põem à prova nossa consciência moral, pois exigem que
decidamos o que fazer, que justifiquemos para nós mesmos e para os outros as razões de nossas
decisões e que assumamos todas as conseqüências delas, porque somos responsáveis por nossas
opções.
A consciência moral consiste, pois, na apreciação espontânea e imediata que o homem faz da sua
própria conduta, ao reconhecer o valor moral dos diferentes modos de proceder, bem como ao
enunciar juízos de valor acerca do seu agir.
Então, podemos resumir Consciência Moral é a faculdade que me aponta se estou agindo bem ou
Filosofia e Ética 7 /19 Profa. Mariluce Santiago
mal. É a balança que me permite usar com responsabilidade a minha liberdade, lembrando que os
meus direitos começam aonde terminam o do outro. A consciência se manifesta na capacidade de
decidir diante de possibilidades variadas, decorrentes de alguma ação que será realizada.
Em outras palavras, na vida, existe o mundo dos fatos (juízos da realidade), quando descrevemos as
coisas como elas são. Exemplos: quando afirmamos que Sócrates é filósofo, que está chovendo, ou
que este jovem é professor, estamos fazendo uma descrição da realidade, apresentando as coisas
como elas são, estabelecendo um juízo de fato. Porém, quando afirmamos que Sócrates foi o maior
de todos os filósofos, ou que a chuva é boa para a plantação, ou que este é um excelente professor,
estamos julgando, interpretando a realidade, atribuindo um significado, emitindo um juízo de valor.
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Portanto, o juízo de fato apenas descreve as coisas como são, não avalia, não julga, não interpreta.
É o fato como o fato é. Já o juízo de valor é como o próprio nome diz, valorativo. É quando julgamos
os fatos, a realidade, as pessoas, as ações, o mundo, afirmando o que seria desejável ou reprovável,
bom ou ruim, bonito ou feio, etc.
Na perspectiva da ética ou da moral, todo e qualquer ser humano julga constantemente suas
próprias ações bem como as dos outros, interpreta e avalia situações e acontecimentos, a partir de
um quadro referencial de valores que indicam aquilo que deve ser.
Assim, os juízos de valor são normativos, isto é, prescrevem as maneiras de agir, as regras e
normas de comportamento, a partir do que é tido como certo ou errado, bom ou mau:
Os juízos éticos de valor são também normativos, isto é, enunciam normas que determinam o dever
ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos comportamentos. São juízos que enunciam
obrigações e avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto.
Os juízos éticos de valor nos dizem o que são o bem, o mal, a felicidade. Enunciam também que
atos, sentimentos, intenções e comportamentos são condenáveis ou incorretos do ponto de vista
moral.
Dessa forma, os juízos de fato enunciam aquilo que é, enquanto os juízos de valo enunciam aquilo
que deve ser. Os juízos de valor resultam do exercício da consciência moral que, por sua vez,
pressupõe responsabilidade, liberdade e autonomia.
VALORES MORAIS
O homem, ao nascer, já encontra uma sociedade totalmente estruturada, com valores estabelecidos,
tais como respeitar os pais, comportar-se em público, vestir-se de acordo com a ocasião, preservar a
vida, preservar o ambiente, respeitar colegas de escola, identificar seus direitos e deveres, etc.
Assim é que desde cedo entramos em contato com esses valores e a nossa aceitação ou não destes
irá determinar nossa conduta como boa ou ruim. São os valores morais.
A partir dos valores morais que atribuímos aos fatos, podemos condenar ou ressaltar uma atitude;
elogiar ou criticar uma pessoa; achar bom ou ruim um professor; considerar a magreza como padrão
de beleza, gostar mais de Fank ou MPB. Nos alegrar ou sentir remorso por algo que fizemos; aceitar
não comer carne de vaca, porque é pecado; casar-se com apenas uma mulher. Enfim, os valores
são normas, princípios ou padrões sociais aceitos ou mantidos por indivíduo, classe, sociedade, que
servem regular a vida em grupo e como parâmetros para avaliar os fatos ou atitudes como negativos
ou positivos.
O senso comum geralmente trata Ética e Moral como sinônimos, pois estão relacionadas com o agir
humano em sociedade. Essa dificuldade em distinguir a Ética da Moral tem a ver com a própria
etimologia das palavras, como veremos a seguir.
Ética deriva da palavra grega Éthos, que diz respeito ao modo de ser, comportamento, costumes. A
palavra Moral vem do latim morale, que significa praticamente a mesma coisa: maneira de se
comportar regulada pelo uso, em outras palavras: hábitos, costumes.
Relembrando o exemplo que abordamos no início deste capítulo, o do gerente do banco, o que você
pensa que ele deveria fazer? Será que ele tem alguma “escolha” diante da questão: abrir o cofre e
proteger sua família ou correr o risco, avisar a polícia e ver o que acontece? Será que poderíamos
responsabilizá-lo por qualquer conseqüência de sua decisão?
O sujeito ético ou moral deve responder pelos seus atos, isto é, deve avaliar os efeitos e as
conseqüências de suas ações (através da consciência moral), responsabilizando-se por ela e por
seus resultados. Tal sujeito só é responsável pelo que faz quando age isento de qualquer forma de
coação e constrangimento, ou seja, quando age livremente.
O sujeito, para que seja responsável por sua ação, deve atender a quatro características. No
esquema abaixo, seguiremos as características enfatizadas por Chauí (2000, p. 434):
Ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos
outros como sujeitos éticos iguais a ele;
Ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos,
tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade
para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis;
Ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e conseqüências dela
sobre si e sobre os outros, assumi-la bem como às suas conseqüências, respondendo por elas;
Ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e
ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer
e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto o poder para escolher entre vários possíveis, mas o
poder para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.
Filosofia e Ética 11 /19 Profa. Mariluce Santiago
Portanto, não podemos falar em ética e moral sem abordar essas características:
Liberdade => Responsabilidade => Consciência
O homem somente poderá ser julgado por sua ação se está livre para decidir, se tem consciência
dos seus atos. Sob ameaça ou aprisionado, não existe o sujeito ético. Entretanto, em condições
normais, o sujeito torna-se responsável por suas escolhas e pelas suas conseqüências. A
responsabilidade implica, em sentido geral, sermos responsáveis por nós próprios, mas também
pelas outras pessoas.
Três constituintes fundamentais da vida ética:
1º) Consciência: característica da espécie humana, que permite ao homem saber o que está
fazendo e julgar os atos realizados;
2º) liberdade: Poder de agir, no seio de uma sociedade organizada, segundo a própria
determinação, sem coação ou força;
3º) Responsabilidade: Situação de um agente consciente com relação aos atos que ele pratica
voluntariamente (compromisso com o outro).
Para exercer sua liberdade, o homem precisa estar consciente. Não há liberdade sem consciência.
Enquanto a consciência psicológica possibilita ao homem escolher, a consciência moral, com seus
valores, normas e prescrições, orienta a escolha. A idéia de que somos responsáveis pelos nossos
atos e que uma decisão nossa tem conseqüências diretas sobre nossa vida e na vida do outro está
expressa na teoria do Efeito Borboleta, formulada pela primeira vez pelo meteorologista do MIT
(Massachusetts Institute of Technology) Edward Lorenz, que diz “'se uma borboleta bater as asas na
China, um tufão pode atingir Nova York”. O que significa isso? A idéia de que na vida pequenos
gestos, pequenas decisões podem resultar em grandes alterações ao nosso redor. Em se tratando
de ética, isso é fundamental. Uma decisão hoje trará conseqüências amanhã. Não há como pensar
que nossas escolhas, por mais simples que sejam, não tragam conseqüências, não modifiquem
nossas vidas e também a do outro, afinal “nenhum homem é uma ilha”.
Para exemplificar, vamos abordar uma manchete que foi bastante comentada na época:
Presidência admite que Lula assistiu cópia pirata do filme Dois Filhos de Francisco
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assistiu mesmo a uma cópia pirata do filme Dois Filhos de
Francisco durante viagem presidencial no dia 18 de outubro.
A assessoria de imprensa da presidência admitiu ao site Terra, na noite de quarta-feira (9/11), que "a
cópia exibida no trajeto presidencial do dia 18 de outubro era não oficial", conforme publicaram os
principais jornais de São Paulo.
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Ainda de acordo com a assessoria de imprensa do Planalto, ocorreu uma falha da ajudância de
ordens, departamento que cuida de pequenos detalhes do gabinete do presidente.
"A ajudância de ordens já foi devidamente advertida", segundo a assessoria. O DVD do filme Dois
Filhos de Francisco chega às lojas somente em 7 de dezembro.
www.terra.com.br (acesso em novembro de 2005)
Bem, sem querer julgar a atitude da equipe do Presidente, vamos nos deter a um aspecto da
questão: que mal pode haver em uma pessoa assistir um simples CD pirata?
Se pensarmos isoladamente, é um pequeno gesto. Mas, considerando a teoria do Efeito Borboleta,
um pequeno gesto com grandes efeitos. Leia a notícia abaixo:
BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO - A indústria da pirataria está fazendo o Brasil perder R$ 10 bilhões
por ano na arrecadação de impostos. É quase todo o dinheiro que o Governo gasta em um ano com
educação, saneamento e habitação.
No topo da lista dos produtos falsificados de maior circulação no país estão roupas, calçados, CDs,
cigarros, brinquedos e, até mesmo, remédios. Além do prejuízo estimado pela Receita Federal em
impostos que deixam de ser pagos à União (R$ 6 bilhões) e aos Estados, os caixas das empresas
também sangram com as perdas de receita e os investimentos para enfrentar os criminosos. Apenas
os fabricantes de roupas, cigarros, CDs e brinquedos perdem anualmente, pelo menos, R$ 5,6
bilhões.
www.folhaonline.com.br
É por isso que não podemos conceber a nossa ação como um algo isolado ou com conseqüências
individuais, porque de fato não é isso que acontece. Quando decido comprar um CD pirata, a
decisão é minha. Mas, afeta a vida de todos, como vimos na reportagem. Principalmente porque não
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Liberdade
Liberdade, liberdade
Abre as asas sobre nós
Falamos muito sobre liberdade, então pergunto a você: o que ser livre? Será que ser livre é fazer
tudo o que quisermos, sem qualquer espécie de limite? Que mundo teríamos se assim pudéssemos
viver? O homem está preparado para ser livre? Vale dizer: Somos totalmente livres?
Do ponto de vista filosófico, podemos sintetizar três respostas diferentes para essa questão,
segundo COTRIM (2002):
⇒ Determinismo absoluto: a liberdade não existe, pois o homem é sempre determinado, seja
por sua natureza biológica (necessidades e instintos), seja por sua natureza histórico-social
(leis, normas, costumes). Ou seja, as ações individuais seriam causadas e determinadas por
fatores naturais ou constrangimentos sociais, e a liberdade seria apenas uma ilusão.
Responsabilidade
“Semeia um pensamento, colhe um ato; semeia um ato, colhe um hábito; semeia um hábito, colhe
um caráter; semeia um caráter, colhe um destino”.
(Marion Lawense)
O homem não é responsável por todos os atos que pratica. Só o é em duas condições:
a) O ato deve ser consciente
b) O ato deve ser livre.
Quando escolho, minha concepção se torna em ato. Faço algo. Daí decorrem várias conseqüências.
É preciso lembrar, todavia, que tomei determinada decisão, agi, minha responsabilidade está
Filosofia e Ética 15 /19 Profa. Mariluce Santiago
instalada nas conseqüências de meus atos. Assim, não se pode falar em LIBERDADE SEM
RESPONSABILIDADE.
No processo de escolha das condutas, avaliam-se os meios em relação aos fins, pesa-se o que será
necessário para realizá-las, quais ações a fazer, e que conseqüências esperar. Assim, para poder
deliberar, realizar constantemente as escolhas, tornam-se fundamentais dois aspectos: consciência
e liberdade
Responsabilidade - do lat. responsabilitas, de respondere = responder, estar em condições de
responder pelos atos praticados, de justificar as razões das próprias ações.
A princípio, todo o homem é responsável. Porque todo homem é racional, consciente e livre para
decidir sobre seus atos.
Já falamos também que qualquer atitude que tomemos têm conseqüências que não se relacionam
apenas a nós, mas a todos os que habitam conosco esse universo. Caso você resolva abandonar
seu trabalho, seus estudos, uma relação de amizade, seu ato não se reflete apenas sobre você. Se
você resolve guiar seu automóvel completamente alcoolizado seu ato apresenta perigo
potencialmente lesivo também a outros. E todos conhecem o velho axioma: "a minha liberdade
termina onde inicia a do outro". Mas essa proposição deve valer sempre no sentido inverso também.
E tudo isso é nossa responsabilidade, porque foram escolhas que fizemos: ou como uma ação direta
ou porque nos omitimos e deixamos as coisas acontecerem como se fossem naturais e não fruto da
ação humana.
A estrela do mar
Um homem fazia um passeio pela praia, ao alvorecer, quando avistou um jovem rapaz que parecia
dançar ao longo das ondas. Ao se aproximar, percebeu que o jovem pegava estrelas do mar na areia
e as atirava suavemente de volta a água. E, então, o homem lhe perguntou:
“O que está fazendo?”
“O sol está subindo e a maré está baixando, se eu não as devolver ao mar, irão morrer”.
“Mas, meu caro jovem, há quilômetros e quilômetros de praias cobertas de estrelas do mar... Você
não vai conseguir fazer qualquer diferença”.
O jovem se curvou, pegou mais uma estrela do mar e atirou-a carinhosamente de volta ao oceano,
além da arrebentação das ondas. E retrucou:
“Fiz diferença para essa pequena estrela”.
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Assim como este jovem, todos nós fomos dotados da capacidade de fazer diferença. Porque somos
responsáveis e livres. Eis nosso maior desafio. E também mais sublime e humano.
DOUTRINAS ÉTICAS
Para facilitar o estudo das doutrinas éticas, ou teorias acerca da moral, preferimos dividi-las nos
seguintes segmentos, correlacionados historicamente: ética grega, ética cristã medieval, ética
moderna e ética contemporânea.
Sendo assim, vamos partir do princípio que a história da ética teve sua origem, pelo menos sob o
ponto de vista formal, na antigüidade grega, através de Aristóteles (384 - 322 a.C.) e suas idéias
sobre a ética e as virtudes éticas.
Na Grécia, porém, mesmo antes de Aristóteles, já é possível identificar traços de uma abordagem
com base filosófica para os problemas morais e até entre os filósofos conhecidos como pré-
socráticos encontramos reflexões de caráter ético, quando buscavam entender as razões do
comportamento humano.
Sócrates (470-399 a.C.) considerou que ninguém pratica voluntariamente o mal. Somente o
ignorante não é virtuoso, ou seja, só age mal, quem desconhece o bem, pois todo homem quando
fica sabendo o que é bem, reconhece-o racionalmente como tal e necessariamente passa a praticá-
lo. Ao praticar o bem, o homem sente-se dono de si e conseqüentemente é feliz.
A virtude seria o conhecimento das causas e dos fins das ações fundadas em valores morais
identificados pela inteligência e que impelem o homem a agir virtuosamente em direção ao bem.
Aristóteles (384-322 a.C.), afirma que toda a atividade humana, em qualquer campo, tende a um fim
que é, por sua vez, um bem: o Bem Supremo ou Sumo Bem, que seria resultado do exercício
perfeito da razão, função própria do homem. Assim sendo, o homem virtuoso é aquele capaz de
deliberar e escolher o que é mais adequado para si e para os outros, movido por uma sabedoria
prática em busca do equilíbrio entre o excesso e a deficiência.
Daí ser difícil, segundo Aristóteles, ser bom na medida em que o meio termo não é facilmente
encontrado: "Por isso a bondade tanto é rara quanto nobre e louvável".
Para Epicuro (341-270 a.C) o prazer é um bem e como tal o objetivo de uma vida feliz. Estava
lançada então a idéia de hedonismo que é uma concepção ética que assume o prazer como
princípio e fundamento da vida moral. Mas, existem muitos prazeres, e nem todos são igualmente
bons. É preciso escolher entre eles os mais duradouros e estáveis, para isso é necessário a posse
Filosofia e Ética 17 /19 Profa. Mariluce Santiago
de uma virtude sem a qual é impossível a escolha. Essa virtude é a prudência, através da qual
podemos selecionar aqueles prazeres que não nos trazem a dor ou perturbações. Os melhores
prazeres não são os corporais - fugazes e imediatos - mas os espirituais, porque contribuem para a
paz da alma.
Hedonismo
Toda concepção ética que assume o prazer como princípio e fundamento da vida moral.
Para Epicuro (341-270 a.C) o prazer é um bem e como tal o objetivo de uma vida feliz. Mas, existem
muitos prazeres, e nem todos são igualmente bons. É preciso escolher entre eles os mais
duradouros e estáveis, para isso é necessário a posse de uma virtude sem a qual é impossível a
escolha. Essa virtude é a prudência, através da qual podemos selecionar aqueles prazeres que não
nos trazem a dor ou perturbações. Os melhores prazeres não são os corporais - fugazes e imediatos
- mas os espirituais, porque contribuem para a paz da alma.
Para os estóicos (por exemplo, Zenão, Sêneca e Marco Aurélio) o homem é feliz quando aceita seu
destino com imperturbabilidade e resignação. O universo é um todo ordenado e harmonioso onde os
sucessos resultam do cumprimento da lei natural racional e perfeita. O bem supremo é viver de
acordo com a natureza, aceitar a ordem universal compreendida pela razão, sem se deixar levar por
paixões, afetos interiores ou pelas coisas exteriores. O homem virtuoso é aquele que enfrenta seus
desejos com moderação aceitando seu destino. O estóico é um cidadão do cosmo não mais da pólis.
Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo,
disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus;
pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.
A ética do cristianismo possui uma característica absoluta. Esta característica está fundamentada na
crença num Deus infinitamente perfeito que almeja que os homens sejam bons de acordo com a
perfeição imutável da Sua própria natureza.
Outro filósofo importante que pensa sobre ética é o filósofo alemão moderno Immanuel Kant
Kant afirma que não somos apenas seres racionais, também somos submetidos à natureza, ou seja,
temos uma parte "animal" que nos domina além da nossa racionalidade.
Nosso corpo e nossa alma são feitos de apetites, desejos, impulsos, essa é a nossa parte natural,
que nos leva a agir por interesse, de modo egoísta e passional. Por isso, precisamos que
nossa razão nos faça agir de modo livre e independente a estes instintos. Isto é, Kant afirma que
nossa razão nos conduz a agir de modo ético e, portanto, livre, enquanto que nossos impulsos nos
fazem egoístas e aprisionados aos desejos.
Kant afirma que, para evitar sermos dominados pelos nossos instintos, precisamos ter "dentro de
nós" uma lei moral: "Age sempre de tal maneira que tua ação possa servir como lei universal". Esta
afirmação é conhecida como Imperativo Categórico.
A filosofia moral de Kant afirma que a base para toda razão moral é a capacidade do homem de agir
racionalmente. O fundamento para esta lei de Kant é a crença de que uma pessoa deve comportar-
se de forma igual a que ela esperaria que outra pessoa se comportasse na mesma situação,
tornando assim seu próprio comportamento uma lei universal.
A lei moral de Kant é baseada na idéia de que os seres humanos são racionais e independentes. Em
sua obra, Metafísicas da Ética (1797), Kant propõe que a razão humana é a base da moralidade.
Segundo Kant, toda ação deve ser tomada com um senso de responsabilidade ditado pela razão.
O Utilitarismo é um tipo de ética normativa -- com origem nas obras dos filósofos e economistas
ingleses do século XVIII e XIX. Jeremy Bentham e John Stuart Mill, -- segundo a qual uma ação é
moralmente correta se tende a promover a felicidade e condenável se tende a produzir a infelicidade,
considerada não apenas a felicidade do agente da ação mas também a de todos afetados por ela.
O Utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a que o indivíduo deva perseguir seus próprios
interesses, mesmo às custas dos outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere
Filosofia e Ética 19 /19 Profa. Mariluce Santiago
ações ou tipos de atos como certos ou errados independentemente das conseqüências que eles
possam ter.
O Utilitarismo assim difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter de bom ou mal de
uma ação depender do motivo do agente porque, de acordo com o Utilitarismo, é possível que uma
coisa boa venha a resultar de uma motivação ruim no indivíduo.
A concepção utilitarista da moralidade faz depender a moralidade das ações das suas
conseqüências: se o resultado de uma ação for favorável ao maior número, então a ação será
moralmente correta e moralmente incorreta se os resultados não forem positivos para a maioria.
Independentemente do que se tenha praticado, o valor da ação estará sempre nas vantagens que foi
capaz de trazer ou nas conseqüências da sua concretização.
Bibliografia Consultada: