Você está na página 1de 2

QUEM SOMOS?

A aparente simplicidade de uma questão como sugere o título, mostra-se


extremamente complexa quando como pensantes, dinâmicos, inteligentes, criativos
e inconformados, os seres humanos, movidos pela filosofia, não se dando por
satisfeitos com as respostas que lhes são dadas, fazem dessas, novas questões
promovendo assim, um permanente movimento de busca –“movimento de
construção do saber” - (GALLO, 2002, p. 11) [1] que se abre à complexidade do
gênero humano diante da complexidade do mundo.

“O que é o homem? (...) a primeira e principal pergunta da filosofia” [2] – como


Gramsci a define -, de certa forma, preocupa os filósofos desde os inícios da
filosofia e suas tentativas de respostas se movem dentro de duas grandes
tendências: essencialistas e existencialistas. Para os primeiros, há uma natureza
humana universal que tende a ser, gradualmente, desenvolvida em direção à
plenitude. Ou seja, há uma potência a ser atualizada, um “vir-a-ser”, até chegar-se
ao pleno desenvolvimento que o ser humano é capaz. Já para os existencialistas, o
ser humano é visto como “possibilidade de”. Em outras palavras, é visto em sua
existência humana concreta e vivida. Ou ainda, enquanto um “modo de ser no
mundo”. [3]

Pelas diferentes concepções de ser humano que seguem, pode-se perceber, por
exemplo, que os conceitos que o ser humano constrói/tem de si mesmo, estão
molhados pelo contexto sócio-cultural-histórico, ou seja, pelas diferentes situações
e, até mesmo, pelas dificuldades de produção da existência ao longo dos anos e
pelas diferentes tentativas de explicar o mundo do qual faz parte. Em outras
palavras, uma ruptura na forma de produzir a existência, mexe com o conceito que
o ser humano tem/tinha de si mesmo e, dessa forma, o impele a buscar um novo
olhar, uma nova compreensão de si mesmo. E, a chegada a uma nova
compreensão pode tornar-se também possibilidade de reinvenção da existência -
uma nova ruptura. Assim, produz-se um circuito entre compreensão de ser
humano, ruptura em relação à produção da existência, possibilidade de uma nova
compreensão de ser humano e possibilidade de nova ruptura.

DIFERENTES IDÉIAS SOBRE O SER HUMANO [4]

Bíblia: “Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”.

Aristóteles: “Zóon logikón, animal racional”. (384 a.C.-322 a.C)

Agostinho: “Fizestes-nos para Vós, Senhor. Inquieto está o nosso coração


enquanto não repousar em Vós”. (354-430)

Pascal: “Caniço pensante. Mesmo se o universo aniquilasse o homem, este ainda


seria mais nobre do que aquilo que o mata, porque sabe que morre; o universo não
o sabe. O pensamento é, portanto, a nossa suprema dignidade”. (1623-1662)

Hobbes: “Homo homini lupus. O homem é um lobo para o homem”. (1588-


1679)

La Mettrie: “O homem é uma máquina”. (1709-1751)


Rousseau: “Tudo é bom, quando sai das mãos do Criador, tudo degenera sob as
mãos do homem”. (1712-1778)

Goethe: “Mantém-te puro na tranqüilidade e deixa trovejar ao teu redor; quanto


mais sentes ser um homem, tanto mais semelhante és aos deuses”. (1749-1832)

Fichte: “O sentido da espécie humana não consiste apenas em ser racional, mas
em tornar-se racional”. (1762-1814)

Kierkegaard: O homem é uma “relação que se relaciona consigo mesma”.


(1813-1855)

Marx: O homem não passa dum “conjunto de relações sociais”. (1818-1883)

Nietzsche: O homem é “o animal doente, o animal não fixado. Percorrestes os


caminhos, do verme ao homem e muita coisa em vós ainda é verme. Outrora éreis
macacos e mesmo agora o homem é mais macaco do que qualquer macaco... O
homem é um cabo, preso entre o animal e o super-homem, - um cabo sobre um
abismo”. (1844-1900)

Scheler: “Biologicamente o homem é um erro da vida; metafisicamente, é


alguém que é capaz de dizer ‘não’, um asceta da vida.” (1874-1928)

Heidegger: “O homem é ‘o ente, em cujo ser se trata dele mesmo’. É o “pastor


do ser’”. (1889-1976)

Sartre: “A existência precede a essência”. O traço fundamental do ser humano é


ser para-si, liberdade, criador de valores. Mas, no fundo, tudo é absurdo e o
homem é uma “paixão inútil”. (1905-1980)

[5]
Morin : “Somos seres infantis, neuróticos, delirantes e também racionais”.
(1921-)

[1]
GALLO, Sílvio. Ética e cidadania: caminhos da filosofia. 9 ed. Campinas:
Papirus, 2002.

[2]
In: ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. Pires. Temas de filosofia. 2 ed.
São Paulo: Moderna, 2000. p. 36.

[3]
ABAGNANO, Nicola. Existencialismo. In: Dicionário de filosofia. São Paulo:
Mestre Jou, 1962. p. 382.

[4]
As 15 primeiras idéias foram extraídas do livro de: RABUSKE, Edvino A.
Antropologia filosófica. Petrópolis:Vozes, 1987. p.8-10.

[5]
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São
Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2000. p. 59.

Você também pode gostar