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BRUSQUE
2010
REGINALDO PEREIRA DE ALMEIDA
BRUSQUE
2010
Dedicatória:
Palavras-chave:
SUMÁRIO......................................................................................................................5
INTRODUÇÃO..............................................................................................................6
1. A CULTURA MECANICISTA....................................................................................9
1.1. MECANICISMO E DETERMINISMO.....................................................................9
1.1.1. Desenvolvimento da teoria mecanicista........................................................11
2.3. O AFRONTAMENTO...........................................................................................29
2.4. A COMUNICABILIDADE DA PESSOA................................................................31
2.5. AS DIMENSÕES DA AÇÃO.................................................................................32
2.6. PESSOA E COMUNIDADE.................................................................................34
3. A LIBERDADE NAS CONDIÇÕES TOTAIS DA PESSOA.....................................37
3.1 A PESSOA COMO SUPERAÇÃO DA NATUREZA.............................................37
3.2 A PESSOA COMO SUPERAÇÃO DAS ESTRUTURAS......................................39
3.2.1. Estrutura Comunista......................................................................................40
que as necessidades reais da pessoa sejam lançadas para um segundo plano nos
técnica, não importa mais o que ele é, mas a qualificação que tem. Na intenção de
que sufocam este movimento. Para tanto, uma breve explanação sobre o
aperfeiçoamento do método que, iniciado com Descartes, atingirá seu ponto alto em
Newton, em suas investigações das leis celestes, e mais tarde fará parte da
que o método, quanto mais minucioso, mais garantia dará sobre um acontecimento
admitem a técnica, por si mesma, como um fim supremo. Este capítulo reflete o
Pessoa surge como uma instigação à reflexão sobre a liberdade da pessoa. Somos
exterior, bem como a própria natureza humana, apresentam-se como que matérias-
nos ainda mais do termo, quando assumimos uma postura Personalista frente à
questão. Falar de Pessoa sob esta perspectiva implica numa contraposição aos
qual o ser humano é apenas mais um elemento na natureza, sujeito às mesmas leis
ser humano, sob esta perspectiva, se limitam a reações consequentes dos estímulos
ele
1
MOUNIER, Emmanuel. O Personalismo. Lisboa: Livraria Morais Editora, 1964, p. 15.
2
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução Alfredo Bosi. São Paulo: Editora
Mestre Jou, 1999, p. 229.
11
somente isso exerce influência sobre o que o rodeia. Esta é a única manifestação
a lógica que constitui a natureza das coisas. René Descartes (1596-1650), defensor
da teoria mecanicista, criou seu método para dirigir a razão e fazer com que as
ciências desvendassem as leis que regem o universo. Como Pitágoras, sua intenção
era associar as leis numéricas com as leis do mundo. Ao voltar seu olhar para a
natureza, para o céu, para as estrelas, para a Lua, Descartes comovia-se com
[...] certas leis que Deus de tal forma estabeleceu na natureza e das
quais imprimiu tais noções em nossas almas, que, após muita
reflexão, não é possível duvidarmos que elas não sejam exatamente
observadas em tudo quanto existe ou se faz no mundo.4
detalhadamente, era uma das atividades nas quais se dedicava. 6 Buscou-se tal
consideração cada uma das partes particularmente, assim como a função das suas
particularidades.
embora conceba o mundo material como regido por leis mecânicas, julga ser livre o
ser humano por possuir uma alma que controla a máquina do seu corpo.8 Todos os
5
Cf. SILVA, Luciano Pereira da. A astronomia de “Os Lusíadas”. Coimbra: Junta de
investigação do Ultramar, 1972, p. 72.
6
Cf. DESCARTES, op. cit., p. 89.
7
Cf. ibid., p. 40.
8
Cf. MONDIN, Battista. Curso de Filosofia: os filósofos do ocidente. 5. ed. Tradução Benôni
Lemos. São Paulo: Edições Paulinas, 1981. v. 3. p. 71.
13
seres animados funcionam como máquinas e agem como autômatos, até mesmo o
Há quem considere que tudo o que se havia especulado até Isaac Newton
acerca das forças do universo, foi apenas uma introdução. 9 Embora seja
Filosofia. Sua ciência era composta de duas partes: deduzir leis mediante as
9
Cf. REALE, Giovanni. História da Filosofia: do humanismo a Descartes. São Paulo: Paulus,
2004. v. 3. p. 233.
10
Cf. ibid., p. 231.
14
dimensões que não alcançam nossos sentidos. Ou seja, toda a matéria, quando
lugares.11 Vale destacar, para esta nossa pesquisa que, das regras por ele
experiência que nos é proporcionada, podem ser induzidas a todos os efeitos que
fazê-la tomar a Sociologia como Física Social. Assim como em todas as áreas do
saber, o conhecimento só terá valor na medida em que configurar seu discurso nos
limites do que é positivo. O próprio termo positivo faz tomar por verdadeiro apenas
aquilo que está posto, que é observável e livre de hipóteses. É a ciência newtoniana
levada ao seu extremo. Para o positivista, apenas o conhecimento que estiver sob
maior rigor sobre aquilo que se conhece, ao contrário da Filosofia que, embora
11
Contanto que seja levada em consideração a primeira de suas regras: “Não se hão de admitir
mais causas das coisas naturais do que as que sejam verdadeiras e ao mesmo tempo bastem para
explicar os fenômenos de tudo.” (NEWTON, Sir Isaac. Princípios Matemáticos. Tradução Carlos
Lopes de Mattos e Pablo Rubén Mariconda. 2. ed. São Paulo: Editora Abril, 1983, p. 18)
12
Cf. Ibid., loc. Cit.
13
Cf. REALE, Giovanne; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do romantismo até os nossos
dias. 6. ed. São Paulo: Paulus, 2003. v. 3. p. 298.
15
camponês, assim como o artesão, deixa seus trabalhos de subsistência, para estar
sob o seu domínio todas as fases da produção e a criatividade era sua auxiliar ao
dar forma à criação. Esse tipo de trabalho cede lugar à produção mecanizada e o
ritmo da produção passa a ser determinado pela máquina. Essa transformação, que
gerou e cresceu junto com o espírito capitalista de acúmulo de capital, fez pesar
14
Ibid., p. 295.
16
responsável por uma etapa da produção, podendo trabalhar sem nem mesmo saber
entre estes dois modos de produção. O termo labor se refere à atividade que o
exemplo, que se encarrega desde a busca pela matéria prima até a escolha das
cores e da forma de seu trabalho. Para um outro modo de produção, Guareschi cita
[...] a pessoa trabalha no que não é seu, o que a pessoa faz não fica
para ela, não decide e nem participa do destino de sua produção.
Quando a alienação o transforma em um robô, um autômato, um
alienado mental. Ele é simples máquina produtora. Incorpora as
relações e os movimentos da máquina, transformando-se, ele
mesmo, em máquina. A sensibilidade humana e criadora, a iniciativa
e a espontaneidade desaparecem.16
centralidade do rendimento. Para ele, toda a produção deve ser orientada pelo
consumo, e o consumo por uma ética das necessidades reais da pessoa. Tudo
empresa um objeto de aplicação das teorias científicas, sendo uma das ideias
17
ARGURYS, Chris. Personalidade e Organização. Rio de Janeiro: Editora Renes, 1969, p.
135.
18
algo inteiramente palpável. Vale lembrar que as análises dessas correntes sempre
teve por base experimentos com animais não humanos, como a análise da salivação
por Skinner.
Emmanuel Mounier ainda cita Ruskin, defensor de que a primeira virtude do ser
19
MOUNIER, Emmanuel. Sombras de Medo Sobre o Século XX. Tradução Salústio de
Figueiredo. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1958, p. 68.
20
Ibid., loc. Cit.
20
Humanas e Sociais, afetou diretamente a visão sobre o ser humano e seu modo de
agir, acabando por enquadrar o seu próprio comportamento nos moldes da ciência.
2. EMMANUEL MOUNIER E O PROCESSO DE PERSONALIZAÇÃO
1905. O trabalho por ele desenvolvido foi fortemente marcado pelas experiências
vividas no seio familiar. Viveu com sua modesta família até os dezessete anos de
idade e foi neste período que desenvolveu sua capacidade de meditação e reflexão
acerca da vida. Em seus escritos, Mounier traz recordações da maneira como a vida
21
Cf. SEVERINO, Antonio Joaquim. Pessoa e Existência: iniciação ao personalismo de
Emmanuel Mounier. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1983, p. 1.
22
MOUNIER, apud Ibid., loc. Cit.
22
Os laços entre Emmanuel Mounier e sua família eram muito fortes. A família,
sendo fortemente religiosa, foi a promotora de sua fé cristã que permeou toda a sua
de origem por mais tempo, dedicou-se ao estudo da medicina. Assim descreve como
o ambiente familiar, querendo apenas o seu bem, voltou-se contra seus próprios
anseios:
Ciências, seu desespero acerca do futuro que estava construindo para si o levou a
desejar morrer a estudar medicina. E foi num retiro espiritual que tomou posse de
sua verdadeira vocação e a assumiu com garra. Tal disposição levou até mesmo
sua família a apoiá-lo. Assim iniciava, na sua terra natal, os estudos em filosofia,
para o jovem Mounier, pois dedicara-se com gosto ao saber filosófico. Obteve o
23
Ibid., p. 2.
24
Cf. ibid., p. 3.
25
Cf. Ibid., loc. Cit.
23
de três anos, ingressa na Sorbonne, mas não se adapta àquele meio. Sua principal
Sobornne. Segundo Mounier, eles estavam a considerar suas carreiras como “[...]
se firme e, incentivado por seu amigo Jean Lacroix, se debruça sobre o tema da
personalidade.27
Mounier, com a colaboração de seus amigos Georges Izard, Déleage, Jean Lacroix,
nasceu das exigências de uma nova geração, inconformada com o estado das
coisas e com a atitude que diante dele tomava a velha geração.”28 O engajamento de
por não hesitar em seu compromisso com a verdade. Por diversas vezes, no período
da Segunda Guerra Mundial, foi preso por seu ideal de afrontar-se amorosamente
incensurável.29
Após o período de guerra, Mounier viaja pelo mundo inteiro para reorganizar
26
Ibid.,. p. 4.
27
Cf. Ibid., loc. Cit.
28
Ibid., p. 5.
29
Cf. ibid., p. 5-6.
30
Cf. ibid., p. 7.
24
cardíaco.
um ser encarnado, feito matéria corpórea em meio ao mundo material. Eis os traços
dos demais seres por fazer supor duas dimensões, dois movimentos que se unificam
pessoa são na sua natureza experiências no próprio corpo, na matéria, que somente
Fazer com que esses instintos transcendam para uma dimensão significante
é uma ação permitida exclusivamente ao ser humano. Por ser a espécie humana
também um elemento natural, está sim sujeita às leis da natureza que oferecem,
nada mais “[...] que um feixe infinitamente complicado de determinações, das quais
31
Por universo pessoal Mounier designa todas as facetas que constituem o ser pessoa. Desde
os fatores hereditários que possam condicionar o agir até os sentimentos mais íntimos provindos das
relações pessoais e com o meio. Também se considere a capacidade criadora do ser humano, sua
criatividade, espontaneidade, liberdade e o significado que tudo isso vai adquirindo no seu interior.
32
MOUNIER, 1964, p. 36.
25
não chegamos mesmo a saber se, para além dos sistemas que formulamos para
como bem distingue Marx, mesmo sendo um ser natural, é um ser natural humano: o
único que tem consciência destas determinações que a natureza lhe impõe.34 Desta
forma “[...] o homem singulariza-se por uma dupla capacidade de romper com a
natureza. Só ele conhece esse universo que o absorve e só ele o pode transformar,
objetos que encontramos na natureza. Isso por não poder se definir pessoa como
objeto que, como uma pedra, apenas sofre as conseqüências das forças que sobre
o seu universo pessoal na realidade objetiva. Há uma interação consciente por parte
33
Ibid., p. 38.
34
Cf. ibid., p. 39.
35
Ibid., p. 40.
36
Cf. ibid., p. 78.
37
Ibid., p. 16.
26
Uma vez que assim a consideramos temo-la integralmente como algo não
INTERIORIDADE E OBJETIVIDADE
podem, quer fixá-la, quer dissipá-la.”38 É mediante a dialética que existe entre
quarto o afrontamento e no quinto, liberdade com condições. Note-se que não são
38
Ibid., p. 90.
27
correndo o risco de encontrar neste movimento um doce refúgio, uma fuga das
uma explicação sistematizada do sentido do “ser Pessoa” que moverá esta busca.
“A pessoa não é ‘uma coisa’ que se pode encontrar no fundo das análises, ou uma
liberdade ali presente. A este centro da liberdade, Mounier o trata como um segredo
pessoal, singular, intocável, uno e indivisível, “[...] onde a exaltação criadora e a vida
39
Ibid., p. 81.
40
Ibid., p. 80.
41
Ibid., loc. Cit.
28
dependências deste meio para que floresça a vida pessoal na intimidade daquele
todos os segredos que orientam o viver, encarnada num elemento material, num
material e se defronta com ela. A existência está compreendida entre dois pólos: ser
e ter. A realização do ser ignora o mundo exterior e os riscos que ele comporta,
42
Ibid., loc. Cit.
43
Ibid., p. 78.
44
Ibid., loc. Cit.
29
meio onde está ele inserido. Existir implica ser e ter espaço, pois “sem ter, a
existência não se agarra, perde-se nos objetos.”45 Logo, a realização da pessoa está
ter, entre a íntima suavidade e aquilo que se opõe aos gostos particulares é um
2.3. O AFRONTAMENTO
resgata a palavra grega que mais se aproxima de sua concepção acerca da pessoa.
Prósopon designa “[...] aquele que olha de frente, que afronta”.46 Faz-se pertinente
quanto ao fazer face frente ao outro. Como citado na sua biografia, já na infância ele
se sentia atraído pelo encontro com pessoas. Este encontro favorecia conhecer
universos paralelos ao seu, que funcionavam dependentes uns dos outros, mas com
posso adquirir conhecimento como posso também ensinar. “O mundo dos outros
45
Ibid., p. 85.
46
Ibid., p. 93.
47
Ibid., 56.
30
quando disponho de minha vida interior, de meus conhecimentos que, por vezes, se
Num mundo onde tudo parece se formar e evoluir sem um controle, onde o
próprio indivíduo não é soberano de sua liberdade e de seu modo de ser, coagido a
suplica por originalidade de vida, que suplica por querer exprimir-se conforme o que
O indivíduo se sente cada vez menos senhor do seu meio, que, por
seu lado, se desenvolve e organiza fora da sua alçada, a uma
velocidade cada vez maior; as máquinas, as massas, os poderes, a
administração, o universo e suas forças apresentam-se-lhe cada vez
mais como uma generalização da ameaça, enquanto ele procurava
nelas uma generalização da protecção.49
Viver controlado por uma ideologia ou conduzir a vida orientada por normas
violência até se justifica quando se trava uma luta entre a ação e a regra, a vida e a
48
Ibid., p. 95.
49
Ibid., p. 96.
31
abstratamente,
pois
defesa. Defender-se e estar pronto para o outro não deixam de ser atitudes
pelo próprio processo criativo que ela desenvolve na sua transformação do mundo.
51
Ibid., p. 58.
52
SEVERINO, 1983, p. 106.
33
e da técnica e sua medida é a eficácia.”54 Severino ainda comenta que esta ação
econômica não deve estar desvinculada das demais dimensões da ação, que a
vincularão a uma finalidade suprema, superando a pura eficácia tecnicista, pois que
exige, para sua realização mais perfeita, uma superação desta febre de produção.”55
agente, expressa-se da melhor forma com o verbo agir. “É a zona da ação ética e
sua medida está na autenticidade.”56 Esta é a ação que orientará a ação econômica
para uma finalidade suprema, sendo complementar àquela. Não nos cabe defini-la
do “homo-faber” que deve manter sua autenticidade, sem deixar ser tratado como
53
Cf. Ibid., loc. Cit.
54
Ibid., loc. Cit.
55
Ibid., p. 107.
56
Ibid., loc. Cit.
57
Ibid., p. 108.
34
compreendida nestas três dimensões acima citadas, deve ter por finalidade a
58
Ibid., loc. Cit.
59
Ibid., loc. Cit.
60
Ibid., p. 109.
35
seres humanos, onde se defende uma natureza egoísta do querer impor-se sobre os
incomunicável, formada por si mesma, enfim, livre. Nenhuma singularidade pode ser
repetida, justamente pelo fato de que o conjunto das experiências com o mundo e
risco à minha liberdade, para Mounier o sentido de uma relação comunitária é criar
possibilidades.
O primeiro acto da pessoa deve ser, pois, a criação com outros duma
sociedade de pessoas, cujas estruturas, costumes, sentimentos e até
instituições estejam marcados pela sua natureza de pessoas:
sociedade de que apenas começamos a entrever e a esboçar os
costumes.62
61
MOUNIER, 1964, p. 58.
62
Ibid., p. 60-61.
36
dimensão comunitária que ela deve envolver. Sonhar uma comunidade com
valores universais uma tentativa de massificação. Tais valores não estarão a favor
sejam, ali, condicionadas para uma finalidade única, tal finalidade, por não
encontrar-se na natureza humana, não pôde ser contemplada por todos, mas
planejada por poucos. Huxley constrói em sua obra “[...] a antítese dum universo
pessoal, exactamente porque tudo está regulado, nada se cria, nada corre aí o risco
bonecas.”63
63
Ibid., p. 16-17.
3. A LIBERDADE NAS CONDIÇÕES TOTAIS DA PESSOA
natureza das ações do ser humano. Quando a ação é fruto de uma inspiração
encontra-se livre das coerções sobre sua atividade, apta para reagir a qualquer
como seres racionais, sabemos da graça que nos é dada do conhecimento do bem e
38
do mal. A ideia de bem e a ideia de mal nos são universais, bem como o desejo pelo
natural, a sobreposição de uma força herdada que pode ser lapidada e tornar-se
uma preciosa pedra, ou manifestada na sua mais bruta naturalidade, que por vezes
fere a dignidade.
grande máquina que é o universo, objeto de análise das forças por Newton
viam jogados no mundo. Sob esta perspectiva, o ser humano, mesmo consciente de
forças que o organizam. Porém quando estas forças alcançam o plano humano, ali e
próprio, que faz nascer um universo particular tão imenso quanto o universo fora
limitações frente a uma necessidade de se impor como nação (no caso da guerra)
científicas, etc... Sendo ela componente das estruturas, deve respeitar as leis
66
MOUNIER, 1958, p. 61-62.
40
benéficas ao conjunto e lutar sempre pela participação ativa nas decisões dos
Mounier acerca da sociedade burguesa67, defende que a igualdade deve reinar entre
trabalho, é o que ele define como encarnação, situar-se, fazer frente, criar
pessoa humana.
Admirável Mundo Novo de Huxley, do que a uma sociedade de Pessoas. Aliás, ser é
também afirmar-se.
Todo regime e partido políticos, bem como toda religião deve conceder aos
uma produção material em larga escala, assim como um sistema de produção das
necessidades pessoais, tem por finalidade, como o próprio nome já diz, o capital, o
próximo do auge de sua evolução. No entanto, a evolução foi unilateral. Como acima
mencionamos, esta é apenas uma das dimensões da ação do ser humano, a qual
69
MOUNIER, 1964, p. 102.
42
comportamento do ser humano diante do mundo técnico. Não foram poucas vezes
gerava a revolta dos trabalhadores. A crise foi mais de ordem psicológica diante da
mudança:
mas a forma como sua utilização era empregada, tirava a liberdade de quem a
“[...] deixa a liberdade evoluir fora de qualquer disciplina, abre a porta a todos os
como o otimismo liberal, o lucro e o dinheiro citados por Georges Ngango) 75, torna-
72
Ibid., loc, Cit.
73
Ibid., loc. Cit.
74
LACROIX, 1969, p. 107.
75
Cf. Ibid., loc. Cit.
76
Ibid., loc. Cit.
44
autômato, perde sua liberdade e sua originalidade. Seus gostos são definidos pela
propaganda, sua vida orientada pelo dinheiro que buscará satisfazer aqueles gostos;
seu trabalho terá por finalidade a aquisição dos bens que lhe informaram serem
necessários para uma vida melhor. O ser humano é um joguete na economia que
satisfaçam.
Diante desta constatação, não basta uma revolução social como propõe o
ser senhores de outros que consideraríamos mais fracos. Ciente dos perigos que a
uma sociedade socialista. Porém as bases para transformação são diferentes: para
necessária antes uma revolução pessoal, que conscientize a todos das reais
das necessidades.
Trata-se de uma ética individual que admite uma certa pobreza como
norma econômica ideal da pessoa. ‘Por pobreza entendemos [...] a
desconfiança do apego às coisas materiais, um gosto de
simplicidade, um estado de disponibilidade e de liberdade que não
exclui nem a magnificência, nem a generosidade, nem mesmo um
importante movimento de riquezas, se for um movimento preservado
da avareza’.”78
77
Ibid., p. 109.
78
Ibid., p. 110.
46
como toda ciência, pretende ser determinista; o personalismo, por seu lado,
considera que os atos da pessoa são livres, ou antes, que a pessoa em ato se
conforme as obrigações que lhe são impostas pelo meio. O personalismo aposta na
interação da pessoa com o meio: este oferece os subsídios para a atividade criativa
da pessoa.
vida da pessoa. O que existe é a possibilidade de apoiar-se neles (que sim, existem)
para construir-se enquanto pessoa. Uma ética das necessidades, como a proposta
por Mounier, envolve toda uma reflexão sobre a condição humana. Guiar-se pelas
existencial que favoreça encontrar o outro como um outro-eu, que compartilha das
79
Cf. ibid., p. 95.
80
Ibid., loc. Cit.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
deve ser um meio para atingirmos a realização humana. Quando a atividade aliena o
Por esta razão este trabalho apresentou a revolução proposta por Mounier
a dupla dimensão desta transformação: a pessoal (onde deve-se admitir uma certa
sua essência. Assim como Mounier, não adotamos uma pretensão utópica de uma
DESCARTES, René. Discurso sobre o método: Para bem dirigir a própria razão e
procurar a verdade nas ciências. Tradução Márcio Pagliesi e Norberto de Paula
Lima. São Paulo: Editora Hemus, 1995.
LACROIX, Jean. et al. Presença de Mounier. Tradução Maria Lúcia Moreira. São
Paulo: Duas Cidades, 1969.
____. Sombras de Medo Sobre o Século XX. Tradução Salústio de Figueiredo. Rio
de Janeiro: Agir Editora, 1958.