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Pré-Modernismo

O período compreendido entre os anos de 1900 e 1922 caracterizava-se pela convivência de várias
correntes e estilo, com predominância do artificialismo parnasiano.
O Pré-Modernismo, que não chega a constituir propriamente uma “escola literária”, designa
genericamente esse período, no qual nem tudo era conservadorismo e alienação. Embora poucos, alguns
escritores procuravam interpretar a realidade brasileira, revelar suas tensões e posicionar-se diante dos
problemas sócio-políticos da época, antecipando elementos do Modernismo, pelo que foram chamados de
pré-modernistas.
Algumas datas podem servir de balizamento (delimitação) para esse período:
1902 – publicação de Canaã, de Graça Aranha, e de Os sertões, de Euclides da Cunha;
1922 – realização da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de
fevereiro.

1. Contexto histórico

Nos primeiros anos da república, o Brasil foi governado por presidentes militares – era a chamada
República da espada (1889 a 1894). A ela seguiu-se um período caracterizado por presidentes ligados às
oligarquias rurais, constituídas por cafeicultores de São Paulo e pecuaristas de Minas Gerais – era a
chamada República do café-com-leite (1894 a 1930).
Além da “nobreza fundiária”, que era o sustentáculo do governo civil, exerciam papel político
relevante a burguesia industrial (em formação no Rio e em São Paulo), os profissionais liberais e
militares.
Paralelamente, aumentavam as disparidades entre as regiões e entre as diferentes classes sociais.
Os antigos escravos, que pouco ou nada haviam conseguido desde a Abolição, que eram marginalizados,
e os imigrantes europeus, que chegavam para trabalhar nas lavouras ou nas indústrias recém-criadas, eram
submetidos a condições de trabalho aviltantes (humilhantes). O Nordeste vivia a estagnação (paralisação)
econômica e, já desde as últimas décadas do império, bandos de cangaceiros (bandidos que agiam no
interior nordestino) assaltavam propriedades dos “coronéis”. As secas, que se repetiram de 1877 a 1915,
levaram à morte milhares de sertanejos (só na grande seca de 1877 a 1879 morreram mais de trezentos
mil). Aqueles que não ingressavam no cangaço eram facilmente arregimentados na formação de seitas
místicas, lideradas por beatos ou conselheiros, tornando-se fanáticos, pela desesperança e crença numa
solução divina para males que, na verdade, tinham origem econômica.
Alguns desses grupos místicos eram apoiados por “coronéis” latifundiários, como o movimento
liderado pelo padre Cícero Romão Batista, por exemplo, aliado dos “coronéis” não só por ter atraído à
fértil região do Cariri (sul do Ceará) farta mão-de-obra para trabalhar nas fazendas locais, como também
porque o misticismo impedia que aquela gente se revoltasse.
Mas, como nem todos pudessem ser controlados, o início da república foi marcada pela revolta e
pela luta armada:
 na Bahia, a Guerra de Canudos (1896-1897), na qual milhares de sertanejos, liderados por
Antônio Conselheiro, foram massacrados pelos canhões e pelas metralhadoras das tropas federais;
 no Rio de Janeiro, a Revolta da Vacina (1903), que foi um protesto do povo mais contra a
opressão do que contra a vacinação obrigatória, promovida por Oswaldo Cruz, para erradicar a
febre amarela;
 ainda no Rio de Janeiro, a Revolta da Chibata (1910), em que aproximadamente dois mil
marinheiros, liderados por João Cândido, apoderaram-se de navios de guerra para exigir o fim dos
castigos corporais a que eram submetidos;
 em Santa Catarina, a Guerra do Contestado (1912 a 1916), da qual participaram cerca de
cinquenta mil camponeses, liderados pelo monge José Maria. Suas vilas santas, projeto de um
“reino milenarista” (crença na ideia de que Cristo reinaria no mundo num período de mil anos, nos
quais haveria paz, justiça e felicidade gerais), foram arrasadas por tropas do Exército, que utilizou,
pela primeira vez no Brasil, a aviação de guerra.

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Também nesse período, São Paulo é palco de inúmeras greves operárias, as mais significativas
delas ocorridas em 1917.

2. Literatura conservadora e literatura renovadora

Apesar do quadro histórico descrito anteriormente, poucos foram os literatos que observaram
criticamente a realidade da época. A grande maioria repetia o que se fazia na Europa e cultivava o
beletrismo, frequentando cafés (ponto de encontro dos intelectuais) e buscando prestígio social através da
literatura. Repetiam-se os padrões da estética parnasiana e simbolista e preocupava-se mais com a
maneira de dizer do que com o que havia de ser dito.
Dessa forma, o que se produziu em literatura pouco ou nada tinha que ver com a realidade social
brasileira.
Lima Barreto, Euclides da Cunha e Monteiro Lobato, fugindo à regra, foram escritores que
viram com olhos críticos a realidade nacional, construindo uma obra renovadora. Na poesia, destacou-se
Augusto dos Anjos.
Outros escritores também merecem ser mencionados: Graça Aranha, Valdomiro Silveira e
Simões Lopes Neto. Os dois últimos são considerados precursores do moderno regionalismo brasileiro, e
Graça Aranha não se notabilizou apenas pelo rompimento com a Academia Brasileira de Letras, ao
aderir ao movimento modernista de 22, mas também por ter escrito uma das obras que assinalam o início
de uma literatura menos alienada: Canaã.

Exercícios:

1. Que revoltas marcam a história do Brasil na última década do século XIX e nos princípios do século
XX?
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2. Que classe era o sustentáculo do poder civil nas primeiras décadas da república?
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3. Qual era a situação da classe trabalhadora nas primeiras décadas da república?
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4. O que se entende por Pré-Modernismo?
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5. Que fatos podem ser tomados para assinalar, didaticamente, os limites da literatura pré-modernista no
Brasil?
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6. O que se pode criticar em muitos escritores brasileiros do período compreendido entre o final do século
XIX e as primeiras décadas do século XX?
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7. Que autores se destacam no Pré-Modernismo brasileiro?
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3. Autores do Pré-Modernismo

Texto:
Triste fim de Policarpo Quaresma

O romance conta a história de um nacionalista ingênuo, Policarpo Quaresma, que acredita num
Brasil forte, rico e soberano, e quer salvá-lo dos políticos corruptos. Entretanto, esse exaltado
patriotismo só provoca risos e acaba por custa-lhe o internamento num hospício. Tendo apoiado o
marechal Floriano, volta-se contra o seu governo por considerá-lo incompetente e desumano. Ao
presenciar a escolha de antiflorianistas para fuzilamento, escreve, indignado, uma carta ao presidente.
No dia seguinte, é preso e fuzilado.
Por que estava preso? Ao certo não sabia; o oficial que o conduzira nada lhe quisera dizer; e, desde que saíra da ilha
das Enxadas para a das Cobras, não trocara palavra com ninguém, não vira nenhum conhecido no caminho, nem o próprio
Ricardo que lhe podia, com um olhar, com um gesto, trazer sossego às suas dúvidas. Entretanto, ele atribuía a prisão à carta
que escrevera ao presidente, protestando contra a cena que presenciara na véspera.
Não se pudera conter. Aquela leva de desgraçados a sair assim, a desoras, escolhidos a esmo, para uma carniçaria
distante, falara fundo a todos os seus sentimentos; pusera diante dos seus olhos todos os seus princípios morais; desafiara a sua
coragem moral e a sua solidariedade humana; e ele escrevera a carta com veemência, com paixão, indignado. Nada omitiu do
seu pensamento; falou claro, franca e nitidamente.
Devia ser por isso que ele estava ali naquela masmorra, engaiolado, trancafiado, isolado dos seus semelhantes como
uma fera, como um criminoso, sepultado na treva, sofrendo umidade, misturado com os seus detritos, quase sem comer...
Como acabarei? Como acabarei? E a pergunta lhe vinha, no meio da revoada de pensamentos que aquela angústia provocava
pensar. Não havia base para qualquer hipótese. Era de conduta tão irregular e incerta o Governo que tudo ele podia esperar: a
liberdade ou a morte, mais esta que aquela.
O tempo estava de morte, de carnificina; todos tinham sede de matar, para afirmar mais a vitória e senti-la bem na
consciência cousa sua, própria, e altamente honrosa.
Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da
miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara
sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava,
como ela o condecorava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não
pandegara, não amara – todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não
provara, ele não experimentara.
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe
importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do
Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas cousas de tupi, do folk-lore, das
suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura?
Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se
fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras?
Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um
encadeamento de decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física, nem a
moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia. A que existia de fato era a do Tenente Antonino, a do
Doutor Campos, a do homem do Itamarati.
E, bem pensando, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a Pátria? Não teria levado toda a sua vida norteado por uma
ilusão, por uma idéia a menos, sem base, sem apoio, por um Deus ou uma deusa cujo império se esvaía?

LIMA BARRETO. Triste fim de Policarpo Quaresmo.


www.ebooksbrasil.org/adobeebook/policarpoE.pdf (Páginas 384 à 387)

Exercícios

1. O que levou o Major Quaresma a escrever uma carta ao presidente?


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2. Que elementos do segundo parágrafo caracterizam a personalidade de Quaresma?
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3. Como o Major Quaresma caracteriza o governo do marechal Floriano?
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4. De que maneira era glorificada e afirmada a vitória sobre os revoltosos?
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5. Justifique com elementos do texto a afirmação de que o Major Quaresma tinha um forte sentimento
nacionalista.
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6. Segundo Pero Vaz de Caminha, “(A terra) em tal maneira é graciosa que, querendo-o aproveitar, dar-se-
á nela tudo...”. Que comentário faz Quaresma a esse respeito?
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7. É comum a crença de que o povo brasileiro possui espírito pacífico, generoso e cordial. O que pensa
Policarpo Quaresma a respeito disso?
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8. Que ilusão teria guiado. Quaresma até o fim da sua vida?
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Lima Barreto (Afonso Henriques de Lima Barreto)


Nasceu: Rio de Janeiro (1881)
Faleceu: Rio de Janeiro (1922)

Mestiço de origem humilde, estudou no Colégio Pedro II e na Escola Politécnica, que teve de
abandonar por problemas financeiros, sem concluir o curso. Além de jornalista, foi funcionário público,
trabalhando na Secretaria da Guerra. O alcoolismo levou-o à morte prematura.

Obras:
Romance: Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909); Triste fim de Policarpo Quaresma (1915);
Numa e Ninfa (1915); Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919); Os bruzundangas (1923); Clara do
Anjos (1948). As duas últimas obras foram publicadas postumamente.

Características da obra
Lima Barreto, contrariando os seus contemporâneos, procurou nas classes populares e no
desmascaramento da vida cotidiana da pequena burguesia a matéria dos seus romances e contos. Isso,
aliado ao sarcasmo com que ironizava os políticos e literatos de sua época, fez com que fosse pouco
apreciado no seu tempo. Seu desprezo ao artificialismo e à retórica parnasiana levou-o a escrever numa
linguagem simples, algumas vezes até desleixada, o que lhe valeu muitas críticas. Porém, deixou-nos um
valioso registro do Rio de Janeiro da sua época.
Dentre os seus romances, destacam-se: Recordações do escrivão Isaías Caminha, obra que
denuncia o preconceito racial, a mediocridade e a falsa concepção de imprensa e literatura; Numa e Ninfa,
que, segundo Francisco de Assis Barbosa, “é o mais belo poema em prosa que já se escreveu sobre o Rio
de Janeiro, na descrição da sua vida urbana e suburbana” e tem como inspiração a trama política que
levaria à presidência o marechal Hermes da Fonseca; e Triste fim de Policarpo Quaresma, romance do
qual extraímos o texto lido.

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Euclides da Cunha (Euclides Pimenta da Cunha)
Nasceu: Cantagalo/RJ (1866)
Faleceu: Rio de Janeiro (1909)

Órfão aos 13 anos, foi educado por parentes. Após ter sido expulso da Escola Militar, em 1888,
por motivo de rebeldia, transfere-se para São Paulo. Retornando ao Rio, conclui o curso de Engenharia.
Com a proclamação da República é readmitido no Exército, desligando-se em 1896. A convite do jornal
O Estado de S.Paulo, segue, em 1896, para fazer a cobertura da Guerra de Canudos. Em 1902 publica Os
sertões, livro originário das reportagens sobre Canudos e que lhe trouxe fama e prestígio. Foi membro da
Academia Brasileira de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico e professor do Colégio Pedro II.
Morreu assassinado, em 1909, por questões de honra familiar.

Obras:
Os sertões (1902); Peru versus Bolívia (1907); Contrastes e confrontos (1907); À margem da história
(1909); Canudos: diário de uma expedição (1939) – publicação póstuma.

Características da obra
Sua obra máxima é Os sertões, um ensaio sociológico e histórico em torno da campanha de
Canudos. O autor dividiu-o em três partes: “A terra”, “O homem” e “A luta”, do que se percebe a
formação positivista e a ótica determinista do narrador. Fatores geográficos, raciais e históricos
determinam as ações dos jagunços rebeldes. Na primeira parte -“A terra”-, o autor analisa o
condicionamento geográfico, com o clima exercendo um papel preponderante na formação do meio e do
homem, produto desse meio. Na segunda parte -“O homem”-, temos a análise da miscigenação e seus
efeitos. Na última parte -“A luta”-, a descrição do conflito resultante. Contudo, o autor peca pelo estilo
retórico-discursivo, muitas vezes barroco e pomposo, mas que de modo algum retira o alto nível e a
importância de Os sertões.

Texto:
A terra

Ao sobrevir das chuvas, a terra, como vimos, transfigura-se em mutações fantásticas, contrastando com a desolação
anterior. Os vales secos fazem-se rios. Insulam-se os cômoros escalvados, repentinamente verdejantes. A vegetação recama de
flores, cobrindo-os, os grotões escancelados, e disfarça a dureza das barrancas, e arredonda em colinas os acervos de blocos
disjungidos — de sorte que as chapadas grandes, intermeadas de convales, se ligam em curvas mais suaves aos tabuleiros altos.
Cai a temperatura. Com o desaparecer das soalheiras anula-se a secura anormal dos ares. Novos tons na paisagem: a
transparência do espaço salienta as linhas mais ligeiras, em todas as variantes da forma e da cor.
Dilatam-se os horizontes. O firmamento sem o azul carregado dos desertos alteia-se, mais profundo, ante o expandir
revivescente da terra.
E o sertão é um vale fértil. É um pomar vastíssimo, sem dono.
Depois tudo isto se acaba. Voltam os dias torturantes; a atmosfera asfixiadora; o empedramento do solo; a nudez da flora;
e nas ocasiões em que os estios se ligam sem a intermitência das chuvas — o espasmo assombrador da seca.
A natureza compraz-se em um jogo de antíteses.

CUNHA, Euclides da. Os sertões.


www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000091.pdf

Exercícios:

1. O principal aspecto focalizado pelo narrador é a transformação da paisagem. Qual é o agente dessa
transformação?
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2. Leia a última frase do texto. Que sentimento o narrador atribui à natureza?
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3. Que frase do texto denota a efemeridade (pouca duração) dessas transformações?
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4. Que elementos prenunciam a chegada da seca?
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5. À flor, como agente de transformação, cabe um papel. Qual?
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6. Que elemento contribui para salientar as variantes de forma e cor da paisagem?
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O homem

De repente, uma variante trágica.


Aproxima-se a seca.
O sertanejo adivinha-a e graças ao ritmo singular com que se desencadeia o flagelo.
Entretanto não foge logo, abandonando a terra a pouco e pouco invadida pelo limbo candente que irradia do Ceará.
Buckle, em página notável, assinala a anomalia de se não afeiçoar nunca, o homem, às calamidades naturais que o
rodeiam. Nenhum povo tem mais pavor aos terremotos que o peruano; e no Peru as crianças ao nascerem tem o berço
embalado pelas vibrações da terra.
Mas o nosso sertanejo faz exceção à regra. A seca não o apavora. É um complemento à sua vida tormentosa,
emoldurando-a em cenários tremendos. Enfrenta-a, estóico. Apesar das dolorosas tradições que conhece através de um sem
numero de terríveis episódios, alimenta a todo o transe esperanças de uma resistência impossível.

CUNHA, Euclides da. Os sertões.


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Exercícios:

1. Como Euclides da Cunha caracteriza o homem sertanejo?


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2. Em que o homem sertanejo difere do peruano?
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3. Por que Buckle caracteriza como uma “anomalia” o fato de o homem não se afeiçoar nunca às
calamidades naturais que o rodeiam?
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4. Destaque do texto uma passagem que demonstra ser o flagelo da seca algo repetitivo e bastante
conhecido pelo sertanejo.
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5. Como Euclides da Cunha caracteriza o fenômeno da seca?
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A luta

Fechemos este livro.


Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo.
Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus
últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na
frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.
Forremo-nos à tarefa de descrever os seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Esta página,
imaginamo-la sempre profundamente emocionante e trágica; mas cerramo-la vacilante e sem brilhos.
Vimos como quem vinga uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a
vertigem. . .
Ademais, não desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem
mulheres precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos...
E de que modo comentaríamos, com a só fragilidade da palavra humana, o fato singular de não
aparecerem mais, desde a manhã de 3, os prisioneiros válidos colhidos na véspera, e entre eles aquele Antônio
Beatinho, que se nos entregara, confiante — e a quem devemos preciosos esclarecimentos sobre esta fase
obscura da nossa História?

6
Caiu o arraial a 5. No dia 6 acabaram de o destruir desmanchando-lhe as casas, 5.200,
cuidadosamente contadas.
Antes, no amanhecer daquele dia, comissão adrede escolhida descobrira o cadáver de Antônio
Conselheiro.
Jazia num dos casebres anexos à latada, e foi encontrado graças à indicação de um prisioneiro.
Removida breve camada de terra, apareceu no triste sudário de um lençol imundo, em que mãos piedosas
haviam desparzido algumas flores murchas, e repousando sobre uma esteira velha, de tábua, o corpo do
"famigerado e bárbaro" agitador. Estava hediondo. Envolto no velho hábito azul de brim americano, mãos
cruzadas ao peito, rosto tumefato, e esquálido, olhos fundos cheios de terra — mal o reconheceram os que
mais de perto o haviam tratado durante a vida.
Desenterraram-no cuidadosamente. Dádiva preciosa — único prêmio, únicos despojos opimos de tal
guerra! — , faziam-se mister os máximos resguardos para que se não desarticulasse ou deformasse, reduzindo-
se a uma massa angulhenta de tecidos decompostos.
Fotografaram-no depois. E lavrou-se uma ata rigorosa firmando a sua identidade: importava que o
país se convencesse bem de que estava, afinal, extinto aquele terribilíssimo antagonista.
Restituíram-no à cova. Pensaram, porém, depois, em guardar a sua cabeça tantas vezes maldita — e,
como fora malbaratar o tempo exumando-o de novo, uma faca jeitosamente brandida, naquela mesma atitude,
cortou-lha; e a face horrenda, empastada de escaras e de sânie, apareceu ainda uma vez ante aqueles
triunfadores...
Trouxeram depois para o litoral, onde deliravam multidões em festa, aquele crânio. Que a ciência dissesse a última
palavra. Ali estavam, no relevo de circunvoluções expressivas, as linhas essenciais do crime e da loucura...

CUNHA, Euclides da. Os sertões.


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Exercícios:

1. Com que expressão Euclides da Cunha caracteriza a ferocidade dos soldados?


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2. Além da desproporção numérica, que fato acentua a desigualdade do confronto final?
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3. O que poderia parecer inacreditável aos leitores futuros?
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4. Com relação aos prisioneiros, qual a denúncia feita por Euclides da Cunha?
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5. Que atitude dos vencedores pode ser considerada bárbara?
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6. Com base no texto, procure explicar por que o livro de Euclides da Cunha, ao ser publicado, provocou
um forte descontentamento em parte do Exército.
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Monteiro Lobato (José Bento Monteiro Lobato)


Nasceu: Taubaté/SP (1882)
Faleceu: São Paulo (1948)

Formado em Direito, em 1904, exerceu durante sete anos o cargo de Promotor do Ministério
Público. Em 1917, depois de alguns anos como fazendeiro no Vale do Paraíba, instala-se em São Paulo,
onde funda uma editora, que iria à falência sete anos depois. Muda-se então para o Rio de Janeiro e
ingressa na carreira diplomática, servindo como adido comercial (funcionário agregado a outro) nos
Estados Unidos. Ao regressar ao Brasil, empolgado com o progresso industrial ianque, funda a Cia.
Petróleo do Brasil e inicia uma entusiasmada luta pelo petróleo, o que acaba por lhe valer alguns meses de
prisão em 1941.

Obras:
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Conto: Urupês (1918); Cidades mortas (1919); Negrinha (1920); A onda verde (1921); Mundo da lua
(1923); O macaco que se fez homem (1923).
Romance: O choque das raças ou o presidente negro (1926).
Escreveu também crônicas e memórias de viagens, além de várias obras dedicadas à infância.

Augusto dos Anjos (Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos)


Nasceu: Engenho Pau d’Arco/PB (1884)
Faleceu: Leopoldina/MG (1914)

Sua educação foi ministrada pelo pai, bacharel e homem culto. Ia à Faculdade de Direito do Recife
apenas para prestar exames, porém bacharelou-se, em 1907, com distinção. Em 1910, já casado, muda-se
para o Rio de Janeiro, onde exerce o magistério. Em 1914, foi nomeado diretor do Grupo Escolar de
Leopoldina (MG), onde faleceu, vitimado por uma pneumonia dupla.

Obras:
Poesia: Eu (1912); Eu e Outras poesias (1920) – publicação póstuma.

Características da obra

A poesia de Augusto dos Anjos caracteriza-se pela crueza dos temas, que giram em torno da morte
e da doença, focalizando hospitais, necrotérios, hospícios, cadáveres e micróbios, pelo exotismo da
linguagem, carregada de vocábulos científicos, e por um agudo pessimismo diante da vida. Apesar de
influenciado pelo Parnasianismo e pelo Simbolismo, antecipa “descobertas” modernistas, tais como a
desvinculação da palavra poética do seu compromisso com o belo, a utilização de frases nominais e de
recursos impressionistas e expressionistas. À visão do mundo harmonioso das elites da espoca, da
literatura “sorriso da sociedade”, Augusto dos Anjos contrapôs um outro, de decomposição, angústia e
sofrimento, onde se percebe a inquietação filosófica do poeta sobre o enigma do Universo e da própria
vida.

Influências europeias no Modernismo brasileiro

A Europa do início do século foi palco de vários movimentos de vanguarda, isto é, movimentos
que pregavam uma ruptura radical com o tradicionalismo das artes e propunham novas formas de
expressão. No Expressionismo, no Cubismo, no Dadaísmo, no Surrealismo e, sobretudo, no Futurismo, os
primeiros modernistas brasileiros foram buscar os seus modelos iniciais.
Num depoimento sobre a Semana de Arte Moderna, marco histórico do Modernismo brasileiro,
Mário de Andrade, um dos participantes da “semana”, conta-nos como foi se definindo a consciência de
uma “arte nova” entre os brasileiros.

Texto:

A Semana marca uma data, isso é inegável. É uma data que envaidece recordar. Mas o certo é que a pré-consciência
primeiro, e em seguida a convicção de uma arte nova, de um espírito novo, desde pelo menos seis anos viera se definindo no...
sentimento de um grupinho de intelectuais, aqui. Do primeiro, foi um fenômeno estritamente sentimental, uma intuição
divinatória, um... estado de poesia. Com efeito: educados na plástica "histórica", sabendo quando muito da existência dos
primeiros impressionistas, ignorando Cézanne, o que nos levou a aderir incondicionalmente à exposição de Anita Malfatti, em
plena guerra européia, mostrando quadros expressionistas e cubistas? Parece absurdo, mas aqueles quadros foram para mim a
revelação. E delirávamos diante do Homem Amarelo, a Estudanta Russa, a Mulher dos Cabelos Verdes. E ao Homem Amarelo
eu dedicava um soneto parnasianíssimo... Éramos assim.
Pouco depois, Menotti del Picchia e Osvaldo de Andrade, descobriram Brecheret no seu exílio do Palácio das
Indústrias. E fazíamos verdadeiras "rêveries" simbolistizantes em frente da simbólica exasperada e das estilizações decorativas
do "gênio". Porque Brecheret era para nós no mínimo um gênio. Este era o mínimo com que podíamos nos contentar, tais os
entusiasmos a que ele nos sacudia. E Brecheret ia ser em breve o gatilho que faria Paulicéia Desvairada estourar.
Eu passara esse ano de 1920 sem fazer mais poesia. Tinha cadernos e cadernos de cousas parnasianas e algumas
simbolistas, mas tudo acabara por me desagradar. Na minha cultura desarvorada, já conhecia até Marinetti, mas repudiava a

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maioria dos princípios futuristas, como já escrevera no Jornal dos Debates, de Pinheiro da Cunha. Só então é que descobri
Verhaeren, desculpem, e foi o deslumbramento. Concebi fazer um livro de poesias modernas em verso livre, sobre a minha
cidade. Tentei, não veio nada que me interessasse. Tentei mais e nada. Os meses passavam numa angústia, numa insuficiência
feroz. Será que a poesia tinha se acabado em mim?... E eu me acordava insofrido.

ANDRADRE, Mário de. O movimento modernista.


www.iphi.org.br/.../Mário_de_Andrade_-_O_movimento_modernista.pdf

Exercícios:

1. A Semana de Arte Moderna foi realizada em 1922, porém, segundo Mário de Andrade, desde quando,
aproximadamente, viera se definindo o espírito novo?
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2. Segundo Mário de Andrade, que influências vanguardistas europeias podiam ser vistas nos quadros de
Anita Malfatti?
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3. Qual a importância dos quadros de Anita Malfatti para os primeiros modernistas brasileiros?
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4. Mário de Andrade refere-se ao clima que tomara conta de São Paulo quando Anita Malfatti expôs os
seus trabalhos. Que clima era esse?
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5. Por que o soneto parnasiano de Mário de Andrade contrastava com o trabalho de Anita Malfatti?
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6. Que outro artista foi descoberto pelos primeiros modernistas brasileiros e como é caracterizado no
texto de Mário de Andrade?
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7. Retire do texto uma passagem em que Mário de Andrade revela que Brecheret fugia aos padrões de arte
herdados dos clássicos.
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8. Qual a importância de Brecheret em relação à publicação do livro de poemas Paulicéia desvairada, de
Mário de Andrade, em 1922?
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9. Que poeta futurista teria influenciado a poesia de Mário de Andrade?
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10. Influenciado por Anita Malfatti, Vítor Brecheret e Émile Verhaeren, o que pretendia Mário de
Andrade?
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1. Contexto histórico

O início do século XX foi marcado por um extraordinário desenvolvimento científico e


tecnológico. O telégrafo, a eletricidade, o telefone, o cinema, o automóvel e o avião atestam o
desenvolvimento técnico da época. Por outro lado, o campo teórico é enriquecido pela Teoria da
9
Relatividade, de Einstein; pela Teoria dos Quanta, de Plank; pela Teoria Psicanalítica, de Freud; e pela
Línguistica Estrutural, de Saussure.
Vive-se a euforia da chamada “belle époque”, com a valorização do conforto e do “bem viver”.
Entretanto, desde o final do século XIX, os países europeus passam por constantes sobressaltos,
resultantes da instabilidade política. A perda da Alsácia-Lorena, pelos franceses, derrotados na guerra com
a Alemanha, em 1870; a rivalidade entre a Áustria e a Rússia, que disputavam seus interesses nos países
balcânicos; a competição econômica anglo-alemã e a política de conquistas territoriais desenvolvida pelos
países europeus, desejosos de novas colônias na Ásia e na África, aceleravam a corrida armamentista.
Em 1914, estoura a Primeira Guerra Mundial, de proporções até então desconhecidas pela
humanidade, que passa a descrer nos sistemas políticos, sociais e filosóficos e a questionar os valores de
seu tempo.

2. As vanguardas europeias

Os grandes movimentos de vanguarda europeus refletem a inquietação e o dinamismo daquele


período, como no Futurismo (1909), o Expressionismo (1910) e o Cubismo (1913), que preparam o
terreno para o aparecimento do Dadaísmo (1916) e do Surrealismo (1924). O Dadaísmo, que surge em
plena Grande Guerra, refletiria a desagregação e o niilismo (descrença absoluta); o Surrealismo, surgido
no pós-guerra, estaria motivado, segundo Gilberto Mendonça Teles, “pelo sentido geral de organização e
construção que subia dos escombros da grande guerra”.
Como se pôde verificar no texto de Mário de Andrade, que abriu este capítulo, as primeiras
influências dos modernistas brasileiros foram expressionistas, cubistas e, sobretudo, futuristas. Vejamos,
pois, o que caracteriza cada um desses movimentos, incluindo o Dadaísmo e o Surrealismo, que também
exerceram as suas influências no Brasil.

A- Futurismo

O movimento foi lançado pelo poeta italiano Marinetti, em 1909, data da publicação do primeiro
manifesto futurista, no jornal francês Le Figara ao qual se sucederam dezenas de outros.
No primeiro manifesto, Marinetti propunha a destruição do passado, a exaltação da vida moderna,
o culto da máquina e da velocidade, pregando uma arte voltada para o futuro, agressiva e violenta,
enaltecendo a guerra, o militarismo e o patriotismo, como se pode ver no trecho a seguir:
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo,
a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.
4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um
automóvel rugidor que corre sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.
5. Nós queremos entoar hinos ao homem que segura o volante.
6. É preciso que o poeta esbanje com ardor e grandeza, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7. Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A
poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do
homem.
8. Nós estamos no extremo dos séculos!... Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas
portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a eterna
velocidade onipresente.
9. Nós queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo - o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos
libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.

10
10. Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academia de toda natureza, e combater o moralismo, o
feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
11. Nós cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pelas revoluções nas capitais modernas;
cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas elétricas; as estações
esganadas, devoradoras de serpentes que fumam; as oficinas penduradas às nuvens pelos fios contorcidos de suas fumaças;
as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que cavalgam os rios, as locomotivas de largo peito, que pateiam sobre os
trilhos, como enormes cavalos de aço; e o voo rasante dos aviões, cuja hélice agita-se ao vento, como uma bandeira.

MARINETTI , Felippo-Tommaso. Manifesto do futurismo.


http://66.228.120.252/teorialiteraria/2740958

Em 1912, no Manifesto técnico da literatura futurista, também de sua autoria, Marinetti


preconizava, entre outras coisas, a destruição da sintaxe, com os substantivos dispostos ao acaso, a
eliminação da pontuação e a abolição do adjetivo, do advérbio e das conjunções.
Apesar de não ter deixado obras literárias significativas, o Futurismo causou polêmicas, valeu
como tomada de posição e deixou marcas duradouras, fazendo com que todos os “ismos” do século
ficassem a lhe dever algo.

B- Expressionismo

Contemporâneo do Futurismo e do Cubismo, o Expressionismo, movimento alemão, alcançou


grande repercussão no período compreendido entre 1910 e 1920. Segundo Gilberto Mendonça Teles, o
Expressionismo, “no seu sentido amplo, caracteriza a arte criada sob o impacto da expressão, mas na
expressão da vida interior, das imagens que vêm do fundo do ser e se manifestam pateticamente”. O
movimento, que teve mais força na pintura do que na literatura, legou a esta uma poesia cheia de
metáforas e uma sintaxe confusa, rompendo com o equilíbrio clássico, e aproximando-se dos valores
primitivos, localizados nos sonhos, nos mitos e fora da lógica. Insatisfeitos com a realidade objetiva, os
expressionistas buscavam encontrar na vida interior elementos de sua salvação e procuravam renovar o
pensamento político, religioso e filosófico.

Cinco mulheres de rua, de Ernst Ludwig Kirchner.


11
(Wallraf – Richartz Museum – Colônia)

C- Cubismo

Inicialmente ligado às artes plásticas, o Cubismo encontra no poeta francês Appollinaire sua
expressão literária mais importante. Tanto a pintura como a poesia cubista partiram de objetos da
realidade cotidiana, os quais decompunham em diferentes planos geométricos para sugerir sua estrutura
global, como se fossem vistos de diferentes ângulos. Caracterizam ainda a poesia cubista o subjetivismo,
o ilogismo (falta de lógica, absurdo), a simultaneidade, a estrutura frásica predominantemente nominal, a
preocupação com o tempo presente, a enumeração caótica, a valorização do humor etc.
Na pintura, destacam-se Picasso, Braque, Fernand Léger, Mondrian e Delaunay.

D- Dadaísmo

Em 1916, o romeno Tristan Tzara lança em Zurique um manifesto que reflete a atmosfera
pessimista da Primeira Guerra Mundial. Surge o Dadaísmo, ou movimento Dadá, cujo nome, escolhido ao
acaso num dicionário, para Tzara nada significava.
O movimento não tinha outra intenção, senão destruir todos os valores culturais de uma sociedade
que fazia a guerra; destruir todos os sistemas, instalando o absurdo, o ilógico e o incoerente. Buscava-se
assim uma antiarte, irracional e anárquica. Daí o autoritarismo psíquico, as livres associações, a invenção
de palavras, a exaltação da liberdade total de criação, o sarcasmo, a irreverência e a aproximação com o
mundo dos loucos e das crianças.
Vejamos a receita de Tzara para fazer um poeta dadaísta:
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam o artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.

Teles, Gilberto M. Op. Cit., p.132

Os dadaístas pregavam o fim do seu próprio movimento, que acabou por se extinguir em 1921. No
seu interior nasceu o Surrealismo, que veremos a seguir.

E- Surrealismo

Lançado em 1924 pelo poeta francês André Breton, o Surrealismo foi o último movimento de
vanguarda europeia dos anos 20. Ligado ao Expressionismo e ao Futurismo, valorizava o passado,
buscava a emancipação total do homem fora da lógica, da razão, da família, da pátria, da moral e da
religião, sem contudo deixar de ter um sentido de organização e reconstrução. Influenciados pela Teoria
Psicanalítica, de Freud, os surrealistas conferiam importância ao sonho e à exploração do inconsciente,
praticando o automatismo psíquico e a expressão liberta da censura e sem controle da razão. Sob
influência do marxismo, a poesia surrealista passa a ser instrumento de ação social e denúncia da
exploração do homem pelo homem, refletindo a revolução russa de 1917.
Entre os surrealistas, destacam-se: Salvador Dali, De Chirico e Hans Arp, na pintura; Antonin
Artaud, no teatro; Luis Buñuel, no cinema; Paul Éluard e André Breton, na literatura.

12
Heitor e Andrômaca, de Giorgio de Chirico. (Col.Mattioli-Milão)
Exercícios:

1. Quais os movimentos da vanguarda europeia que influenciaram o Modernismo brasileiro?


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_____________________________________________________________________________________
2. O que refletiam os movimentos da vanguarda europeia?
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_____________________________________________________________________________________
3. A seguir apresentamos trechos de alguns manifestos da vanguarda europeia. Observe o seu conteúdo e
escreva o nome do movimento a que pertence cada um deles:

a) “1. É preciso destruir a sintaxe, dispondo os substantivos ao acaso, como nascem.


2. Deve-se usar o verbo no infinitivo, para que se adapte elasticamente ao substantivo e não o submeta
ao eu do escritor que observa ou imagina”.

b) “Eu redijo um manifesto e não quero nada, eu digo portanto certas coisas e sou por princípio contra os
manifestos, como sou também contra os princípios (decilitros para o valor moral de toda a frase – mais
comodidade; a aproximação foi inventada pelos impressionistas). *** Eu redijo este manifesto para
mostrar que é possível fazer as ações opostas simultaneamente, numa única fresca respiração; sou contra
a ação; pela contínua contradição, pela afirmação também, eu não sou nem para nem contra e não explico
porque odeio o bom-senso”.

c) “Escreveram depressa, sem um assunto preconcebido, bastante depressa para não conterem e não
serem tentados a reler. A primeira frase virá sozinha, tanto é verdade que a cada segundo é uma frase
estranha a nosso pensamento consciente que só pede para se exteriorizar”.

4. Quais são, pela ordem, os líderes dos movimentos futuristas, dadaísta e surrealista?
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Redação – entregar dia ________________________

Os vanguardistas do início do século detectaram inúmeras transformações pelas quais passava a sociedade
da época. Escreva um texto comentando as transformações que você pôde observar nos dias de hoje.

13
O Modernismo em Portugal

Uma visão esquemática do Modernismo português permite traçar o seguinte panorama:


a) 1º momento (1915-1927)
Em 1915, um grupo de jovens escritores e artistas plásticas lança o primeiro número da revista
Orpheu, que se constitui no marco inicial do Modernismo português. Tal como ocorreria no Brasil em
22, os jovens da Orpheu pretendiam agitar a vida intelectual do seu país, colocando Portugal no
compasso da Europa. Nesse sentido, o alcance da revista foi marcante, apesar de terem sido publicados
apenas dois números.
Da mesma forma que os brasileiros da primeira fase modernista, os integrantes do grupo “Orpheu”
receberam influências das vanguardas artísticas do resto da Europa.
Destacaram-se: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros.

b) 2º momento (1927-1940)
Em 1927 publica-se o primeiro volume da revista Presença, tendo à frente João Gaspar Simões,
José Régio e Branquinho da Fonseca.
Essa revista continua, de certa forma, o espírito que presidira a união dos orfistas. O elemento
diferenciador foi uma grande consciência crítica em relação ao resto da Europa, consciência que estivera
ausente dos integrantes do grupo anterior, com exceção de Fernando Pessoa.
Além dos fundadores da revista Presença destacam-se: Miguel Torga, Adolfo Casais Monteiro,
Irene Lisboa.

c) 3º momento (1940-1947)
Um romance surgido em 1940 marca o início da tendência neo-realista no Modernismo português.
Trata-se de Gaibéus, de Alves Redol.
Surge na época numa literatura de cunho social, em reação ao espírito metafísico e estetizante do
grupo da Presença. Buscando seus personagens entre os injustiçados pela sociedade, os neo-realistas
procuram criar uma literatura engajada.
A influência do regionalismo brasileiro e dos romances norte-americanos da época é marcante
entre os neo-realistas.
Nesta fase destacam-se: Virgílio Ferreira, Fernando Namora e Ferreira de Castro.

d) 4º momento (1947 em diante)


Pintores, poetas e críticos organizaram em 1947 o “Grupo Surrealista” em Lisboa. Opondo-se ao
Neo-Realismo, esse grupo procura produzir uma arte de caráter mais subjetivo, buscando atingir o
subconsciente, enfim, aquilo tudo que os surrealistas tinham transformado em motivo artístico.
Em 1949, após uma exposição surrealista, o grupo dispersou-se, deixando abertos novos caminhos
para a pesquisa estética.
Merecem destaque: José-Augusto França, Mário Cesariny de Vasconcelos e Fernando Lemos.
É necessário frisar ainda que alguns escritores não aderiram a nenhum desses movimentos.

Alguns autores portugueses

Fernando Antonio Nogueira Pessoa (Lisboa, 1888 – Lisboa, 1935)

É considerado o maior poeta de Portugal, ao lado de Camões.


Produziu uma poesia extremamente complexa, que parte da constatação da relatividade das coisas
e da procura do absoluto. A tentativa de reconstruir poeticamente o mundo em todos os aspectos, de
aglutinar verdades relativas na ânsia de chegar ao absoluto, leva o poeta a desdobrar-se em personalidades
distintas. Surgem, então, os heterônimos, cada um mostrando uma visão de mundo diferente do outro.

14
1. Alberto Caeiro é o primeiro desses heterônimos. Prega a simplicidade natural da vida, buscando as
coisas como são, numa negação metafísica.
2. Ricardo Reis, outro de seus heterônimos, apresenta uma visão de mundo centrada no espírito clássico,
do qual decorre o seu paganismo. Assim como Caeiro, prega o amor à natureza, à vida rústica.
3. Álvaro de Campos, o terceiro heterônimo, é o homem moderno, agressivo, habitante da cidade. Sua
preocupação está centrada na exaltação do progresso, mas carrega também a angústia do homem de sua
época. É o símbolo do século XX.
4. Fernando Pessoa “ele mesmo” apresenta como características fundamentais:
a) sentimentos e emoções intelectetuais;
b) paixão pelo mistério;
c) apego à solidão.

Exercícios:

1. Fernando Pessoa adotou vários nomes, heterônimos que abrangem, cada um, uma personalidade, com
um fim poético certo. Assim: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, são respectivamente:
a) o poeta desembaraçado e o homem simples; o poeta que se aproxima do humanismo clássico e o
homem filósofo e o poeta ultramoderno de técnica futurista e o homem identificado com o “seu” tempo.
b) o poeta lírico e polêmico e o homem complexo; o poeta romântico e o homem simples e o ensaísta
lírico e o homem identificado com o futuro.
c) o poeta simples e o homem complexo; o poeta romântico e o homem lírico e o poeta polêmico e o
homem modernista.

Redação
Fernando Pessoa é o autor dos versos abaixo: Escolha um deles como tema de sua dissertação:
a) “Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo”.
b) “... tenho em mim todos os sonhos do mundo”.

Trabalho manuscrito para entregar dia___________________


Procurem informações sobre os anos 1920, relacionadas a alguns dos assuntos a seguir, e escrevam
pequenas notícias sobre eles:
 Os imigrantes
 A Revolta do Forte de Copacabana (1922)
 Posse de Artur Bernardes na presidência da República (1922)
 A rebelião tenentista de 1924
 A Coluna Prestes (1925)
 Agricultura e industrialização
 O crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque e suas conseqüências na economia brasileira
 O movimento operário
 O voto feminino
 A educação
 O carnaval
 A música popular
 O cinema na época
 O teatro
 A publicidade
Observação: não pode ser cópia da internet; deve ser manuscrito, legível e com capricho; pesquisar em
livros didáticos e fazer um pequeno resumo dos tópicos; os assuntos devem seguir a ordem acima; colocar
a referência bibliográfica como o exemplo abaixo:
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 2ª ed. São Paulo, Ed. Cultrix, 1972.

15
NOTA: SE O TRABALHO NÃO ESTIVER DE ACORDO COM OS ITENS ACIMA, SERÁ
DESCONSIDERADO.

Primeira fase do Modernismo brasileiro

1. Contexto histórico

Ao estudarmos as manifestações literárias do período conhecido como Pré-Modernismo, vimos


que os primeiro anos da república foram marcados por revoltas, intervenções militares e inúmeras greves
operárias.
Nesse clima, os governos das oligarquias iam se sucedendo. Minas e São Paulo repartiam o poder,
desfavorecendo as camadas empobrecidas da classe média e as classes trabalhadoras urbanas e rurais.
À época da Semana de Arte Moderna, o quadro geral brasileiro era de crises sucessivas, que
acabaram por gerar a Revolução de 1930. O governo de Epitácio Pessoa (1919-1922) fora combatido pela
própria classe dominante, contrariada por sua negação em continuar subsidiando o café, preferindo
favorecer a indústria. Em 1922, por ser “a vez” de Minas, Artur Bernardes é indicado e eleito para presidir
a República, vivendo o país, a partir de então, em estado de sítio (assédio militar), sob regime policial. No
mesmo ano, oficiais e militares rebelaram-se contra o governo, dando origem ao episódio dos “18 do
Forte”, quando quatro tenentes e catorze soldados do Forte de Copacabana e um civil enfrentaram as
tropas governistas na praia de Copacabana, com a morte do civil, de dois tenentes e dos catorze soldados.
Em 1924, ocorre outro levante militar, continuidade do tenetismo. Cria-se a Coluna Prestes, que,
entre abril de 1925 e fevereiro de 1927, percorreu 24 000 quilômetros, travando combates com forças
governistas e jagunços contratados pelos “coronéis”. Em 1929, seus principais líderes exilaram-se na
Bolívia, e Luís Carlos Prestes declarou que a luta não tinha mais sentido, pois Artur Bernardes já não
governava.
Em 1930, uma revolução conduz Getúlio Vargas ao poder, substituindo Washington Luiz e dando
início a uma nova fase da história do Brasil.
Entre 1922 e 1930, temos a primeira fase do Modernismo brasileiro. É claro que essa divisão
obedece critérios apenas didáticos. Os escritores desse período continuariam a produzir depois de 1930, e
nos anos da primeira fase convivem tendências opostas, algumas já manifestadas anteriormente e que se
prolongam depois de 30. Com relação a essa divisão, observe o comentário de Mário de Andrade: “Mil
novecentos e trinta... Tudo estourava, políticas, famílias, casais de artistas, amizades profundas. O sentido
destrutivo e festeiro do movimento modernista já não tinha mais razão de ser, cumprido o seu destino
legítimo. Na rua, o povo amotinado gritava: - Getúlio! Getúlio!...”

2. A Semana de Arte Moderna

Antecedentes

O evento de 22 não surgiu de repente; foi resultado de todo um clima que já existia. Alguns
acontecimentos que antecederam a Semana merecem destaque:
1912 – Oswald de Andrade regressa da Europa e dá início à divulgação das vanguardas europeias,
especialmente das ideias futuristas de Marinetti.
1913 – Lasar Segall expõe seus quadros expressionistas.
1915 – Funda-se em Portugal, com a participação de Ronald de Carvalho, a revista Orpheu, iniciadora do
Modernismo português.
1917 – Anita Malfatti, que estudara pintura na Europa e nos Estados Unidos, expõe quadros
expressionistas e cubistas, provocando o feroz artigo de Monteiro Lobato, crítico de artes do jornal O
Estado de S. Paulo, publicado sob o título “A propósito da exposição Malfatti”, no qual investe contra as
novas tendências artísticas, demonstrando o seu equívoco, por não ter entendido o sentido renovador das
vanguardas europeias. O artigo de Lobato não só resultou na devolução de quadros já adquiridos como
provocou uma grande polêmica, que acabou por unir mais os jovens modernistas.
16
1919 – Vítor Brecheret volta ao Brasil e é descoberto por Menotti del Picchia e Oswald de Andrade, que
se entusiasma com suas esculturas impregnadas de modernidade.

A explosão de fevereiro

Nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, com a participação de Oswald de Andrade, Menotti del
Picchia, Mário de Andrade, Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho, Vítor Brecheret,
Anita Malfatti, Villa-Lobos, Di Cavalcanti e muitos outros, o Teatro Municipal de São Paulo torna-se o
centro de uma verdadeira “amostra” das ideias modernistas: são lidos manifestos e poemas, expõem-se
quadros e esculturas, e músicas são executadas, tudo diante de um público que reagiu com vaias e apupos.
Estava “oficialmente” inaugurado o período de destruição e combate dos primeiros modernistas, que
investiam, sobretudo, contra os sólidos valores parnasianos. Manuel Bandeira, que não havia
comparecido, teve o seu poema “Os sapos” lido por Ronald de Carvalho, o que exemplifica a intenção
dos modernistas em ridicularizar o conservadorismo parnasiano.

As correntes modernistas

Depois da união inicial em torno da Semana, os modernistas dividiram-se em grupos e


movimentos que refletiam orientações estéticas e ideológicas diversas:

1. Movimento Pau-Brasil
Lançado em 1924, com a publicação do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, faziam parte do
movimento Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Raul Bopp, Alcântara Machado e Tarsila do Amaral.
Tinha como objetivo a revalorização dos elementos primitivos da nossa cultura, através da crítica ao falso
nacionalismo e da valorização de obras que redescobrissem o Brasil, seus costumes, seus habitantes e
suas paisagens.
2. Movimento Verde-amarelo
Liderado por Plínio Salgado, Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia, e tendo uma postura
nacionalista, repudiava tudo que fosse importado e tentava mostrar um Brasil grandioso. Entretanto,
acabou por revelar uma visão reacionária, sobretudo através de Plínio Salgado, que viria a ser um dos
principais líderes do Integralismo, movimento político brasileiro de extrema-direita baseado nos modelos
fascistas.

3. Movimento Antropofágico
Radicalização das ideias do movimento Pau-Brasil, foi lançado em 1928, com a publicação do
Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade. Participaram do movimento, além de Oswald, Tarsila
do Amaral, Raul Bopp, Alcântara Machado e outros. Esse movimento opunha-se ao conservadorismo do
Movimento Verde-amarelo (ou Escola da Anta).
Várias foram as revistas de divulgação das ideias desses movimentos:
 Revista Klaxon (nome dado à buzina externa dos carros): publicada em 1922, teve nove números,
sendo a primeira revista de divulgação de trabalhos e ideias modernistas.
 Revista Terra Roxa e Outras Terras: publicada em 1926, com a participação de Mário de Andrade
e Oswald de Andrade.
 Revista de Antropofagia: publicada em 1928, foi o órgão de divulgação do Movimento
Antropofágico.
Além dessas, surge em 1925, em Belo Horizonte, A Revista, com editorial redigido por Carlos
Drummond de Andrade. No Rio de Janeiro, não ocorreram na época rupturas acentuadas, e a
revista Festa, publicada em 1927, antes de refletir uma visão modernista, expressava a
sobrevivência do espiritualismo simbolista. Dela participaram, entre outros, Tasso da Silveira,
Cecília Meireles e Jackson de Figueiredo, este último chefe da censura do governo de Artur
Bernardes, que governou o país sob estado de sítio.

4. Fases do Modernismo
17
Por razões didáticas, costuma-se dividir o Modernismo brasileiro em três fases:
Primeira fase (de 1922 a 1930) ou fase heróica: de combate e destruição, quando ocorre a
libertação lingüística e são afirmados os valores estéticos do movimento.
Segunda fase (de 1930 a 1945) ou fase construtiva: de estabilização das conquistas, de
preocupação social e de tendência introspectiva;
Terceira fase (de 1945 em diante) ou fase de reflexão: de ponderação sobre a linguagem sobre a
linguagem, com o retorno a alguns modelos estilísticos tradicionais, ao que se soma uma temática
universalista.
A partir de 1950, surgem novas tendências em poesia, com o Concretismo, o Neo-concretismo, a
Poesia-práxis e o Poema-processo.

Autores da primeira fase

Mário de Andrade (Mário Raul de Morais Andrade)


Nasceu: São Paulo (1893)
Faleceu: São Paulo (1945)

Intelectual de múltiplas facetas, Mário de Andrade, além de poeta, romancista e excelente contista,
foi crítico literário, professor de piano e de história da música e um estudioso apaixonado por folclore
brasileiro. Fundou o Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo e o Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, tendo sido ainda professor da Universidade do Distrito Federal (hoje
UFRJ), onde regeu a cadeira de Filosofia e História da Arte. Participante ativo do movimento modernista
brasileiro, e a mais importante figura da geração de 22, deixou-nos uma obra vasta e importante.

Obras:
Poesia: Há uma gota de sangue em cada poema (1917); Paulicéia desvairada (1922); Losango cáqui
(1926); Clã do jabuti (1927); Remate de males (1930); Lira paulistana (1946) – publicação póstuma.
Ficção: Amar, verbo intransitivo (1927); Macunaíma (1928); Os contos de Belazarte (1934); Contos
novos (1946) – publicação póstuma.
Ensaio: A escrava que não é Isaura (1925); Aspectos da literatura brasileira (1943); O empalhador de
passarinhos (1944).

Características da Obra

Poesia
O livro de estreia de Mário de Andrade, Há uma gota de sangue em cada poema (1917), apesar de
revelar um poeta sensível, motivado pela Primeira Guerra Mundial, é um livro adolescente, de pouco
valor estético, apresentando um artista ainda sob influência parnasiano-simbolista.
Em Paulicéia desvairada (1922), vamos encontrar o poeta adulto e renovador, no livro que viria a
ser, cronologicamente, o primeiro do Modernismo brasileiro. Nele, o poeta focaliza aspectos humanos,
sociais e políticos de São Paulo, em versos livres, de métrica informal, subvertendo os valores estéticos
até então vigentes. Palavras, sintagmas, flashes e fragmentos articulam-se numa tentativa de aprender a
alma urbana de São Paulo, ora celebrando-lhe a paisagem, ora criticando a burguesia paulistana, ora
tentando expressar uma visão totalizante da cidade.
No “Prefácio interessantíssimo”, que abre Paulicéia desvairada, o poeta demonstra suas
afinidades com a escrita automática, tão ao gosto dos surrealistas, procurando libertar as zonas ocultas do
inconsciente para depois aprimorar, através do intelecto, o que brotasse do primeiro instante.
Daí a fórmula de elaboração lírica do poeta: impulso inconsciente + escrita livre + técnica
posterior = poesia.
Em Losango cáqui (1926), o poeta segue a mesma fórmula de elaboração lírica, resultando um
livro que, segundo Mário, é composto de “sensações, ideias, alucinações, brincadeiras, liricamente
anotadas”, no qual manifesta um antimilitarismo e expressa um sentimentalismo mais interiorizado.

18
Em Clã do jabuti (1927) e Remate de males (1930), o poeta procura apreender a “alma nacional”,
aproveitando-se de temas folclóricos, numa lírica mais contida e equilibrada.
Em Lira paulistana (1946), Mário de Andrade volta-se novamente para aspectos de São Paulo,
aliando ao tema da cidade natal uma poesia de inquietações sócio-políticas e individuais.

Ficção
A obra ficcionista de Mário de Andrade pode ser dividida em duas vertentes: a primeira trata do
universo familiar da burguesia paulistana e da gente do povo – é o caso do romance Amar, verbo
intransitivo (1927) e da série de contos enfeixados em dois livros: Os contos de Belazarte (1934) e
Contos novos (1946) -; a segunda origina-se do aproveitamento de lendas indígenas, mitos, anedotas
populares e elementos do folclore nacional, com os quais compôs sua obra-prima, Macunaíma, livro a
que chamou de rapsódia (composição musical que utiliza melodias tradicionais ou populares),
considerando o fato de ter feito uma composição com fragmentos de assuntos variados e heterogêneos.

Oswald de Andrade (José Oswald de Sousa Andrade)


Nasceu: São Paulo (1890)
Faleceu: São Paulo (1954)

De família tradicional e abastada, Oswald de Andrade pôde, ainda jovem, em 1912, ir à Europa,
onde tomou conhecimento dos manifestos futuristas de Marinetti. Em 1917 conhece Mário de Andrade e
Di Cavalcanti, com os quais articula o movimento artístico e literário deflagrado oficialmente na Semana
de Arte Moderna. Formado em Direito, seus primeiros trabalhos foram publicados no seminário O
pirralho (crítica e humor), fundado por ele em 1911. Esquerdista militante, aderiu ao Partido Comunista
em 1931, afastando-se da política em 1945, ano em que obtém o título de Livre-docente em Literatura
brasileira na Universidade de São Paulo.

Obras:
Poesia: Pau-brasil (1925); Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade (1927)
Romance: Trilogia do exílio: I. Os condenados (1922), II. A estrela do absinto (1927), III. A escada
vermelha (1934); Memórias sentimentais de João Miramar (1924); Serafim Ponte Grande (1933); Marco
zero I: A revolução melancólica (1943); Marco zero II: Chão (1946).
Teatro: O homem e o cavalo (1943); O rei da vela (1937); A morta (1937); O rei Floquinhos (infantil)
(1953).

Características da obra

Poesia
Oswald de Andrade buscou uma poesia que expressasse o genuinamente brasileiro e percorresse,
desde os tempos coloniais, a vida rural e urbana do país, que procurou ver com o olhar ingênuo da criança
e o da pureza primitiva do índio. Reaproveitando textos dos primeiros viajantes (Caminha, Gândavo e
outros), escreveu poemas breves, em versos livres e brancos, com linguagem coloquial, humor e paródia,
recusando a estrutura discursiva do verso tradicional.

Prosa

Os romances que compõem a Trilogia do exílio e Marco zero não têm merecido observações
muito favoráveis na crítica. O mesmo não se pode dizer de Memórias sentimentais de João Miramar e
Serafim Ponte Grande.
Memórias sentimentais de João Miramar é considerado a primeira grande realização da prosa
modernista. Rompendo com esquemas tradicionais da narrativa, a obra é construída a partir de fragmentos
justapostos, de blocos que rompem com a sequência discursiva e de capítulos-relâmpagos, assemelhando-
se à justaposição das imagens cinematográficas, o que impossibilita uma leitura linear da história e deixa
a cargo do leitor a recomposição da narrativa. A paródia, a técnica cubista (aproximação de elementos
19
distanciados, como a pintura de um olho sobre uma perna, por exemplo), a frase sincopada, as elipses que
devem ser preenchidas pelo leitor, a linguagem infantil e poética, e outras inovações fazem das Memórias
uma obra revolucionária para a sua época. O recurso metonímico (emprego de palavra que consiste em
designar um objeto por palavra designativa doutro objeto que tem com o primeiro uma relação de causa e
efeito (trabalho, por obra), de continente e conteúdo (copo, por bebida), a parte pelo todo (asa, por
avião), etc.), dentro da técnica cubista, é levado ao extremo.

Composição cubista, de Ismael Nery (Petite Galerie – RJ)

Manuel Bandeira (Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho)


Nasceu: Recife/PE (1886)
Faleceu: Rio de Janeiro (1968)

Estudou no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, e iniciou o curso de Engenharia, em São Paulo,
abandonou-se por motivo de saúde. Em busca da cura para a tuberculose, viajou para a Suíça, onde
aproximou-se de poetas pós-simbolistas, entre eles Paul Éluard. Em 1917, retornou ao Brasil. Foi
professor de Literatura do Colégio Pedro II e da Faculdade Nacional de Filosofia (hoje, UFRJ). Em 1940,
foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

Obras:
Poesia: A cinza das horas (1917); Carnaval (1919); Ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930);
Estrela da manhã (1936); Lira dos cinquent’anos (1940); Belo belo (1948); Estrela da vida inteira
(1966).
Prosa: Crônicas da província do Brasil (1937); Guia de Ouro Preto (1938); Itinerário de Pasárgada
(1954); Andorinha, andorinha (1966).

Características da obra

Manuel Bandeira estreou em 1917, com A cinza das horas, publicando a seguir Carnaval (1919),
ambos ainda com resíduos parnasianos e simbolistas, mas já revelando um poeta de espírito renovador.
Com Ritmo dissoluto (1924), aproxima-se mais da estética modernista, graças ao predomínio do
verso livre e à procura da “dissolução” da cadência rítmica tradicional, além da incorporação do
corriqueiro e cotidiano.
O livro Libertinagem (1930) é definitivamente modernista. Caracterizam-no a renovação da
linguagem, a fuga do “belo” tradicional em poesia, a incorporação da linguagem coloquial e popular e a
temática do dia-a-dia, com poemas tirados de notícias de jornal, de frases corriqueiras, orientados, como
os demais, por um tom irônico e, às vezes, trágico. Esses elementos prosseguirão em Estrela da manhã
(1936) e estarão presentes nas obras seguintes.

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O caráter geral da sua poesia é marcado ainda pelo tom confidencial, pelo desejo insatisfeito, pela
amargura e por referências autobiográficas relacionadas com a sua doença, com os lugares onde morou
(sobretudo o bairro da Lapa, no Rio de Janeiro) e com a família. Profundo conhecedor da técnica de
composição poética, por vezes aproveita-se das formas clássicas ou faz incursões (entrada) às formas
mais radicais das vanguardas, sem contudo perder a marca de absoluta simplicidade, predominante em
sua obra.
Ainda que se note em várias passagens da sua obra a herança do Romantismo, Bandeira soube
evitar o sentimentalismo piegas (ridículo), edificando uma obra depurada (pura) e de grande valor
estético.

Cassiano Ricardo (Cassiano Ricardo Leite)


Nasceu: S.J. dos Campos/SP (1895)
Faleceu: Rio de Janeiro (1974)

Estudou Direito em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde diplomou-se em 1917. Retorna a São
Paulo, dedicando-se ao jornalismo, à administração pública e à política. Com Menotti del Picchia e Plínio
Salgado, funda o Movimento Verde-amarelo, participando da corrente nacionalista do Modernismo
brasileiro. Em 1937, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

Obras:
Poesia: Dentro da noite (1915); A frauta de Pã (1917); Vamos caçar papagaios (1926); Martim-Cererê
ou O Brasil dos meninos, poetas e dos heróis (1928); O sangue das horas (1943); Um dia depois do outro
(1947); Jeremias sem-chorar (1963); Os sobreviventes (1971).

Características da obra

Como outros modernistas da primeira fase, Cassiano Ricardo estreou sob influências parnasiano-
simbolistas, de que são exemplos os livros Dentro da noite (1915) e A frauta de Pã (1917). Contudo, sua
inquietação estética fez com que chegasse a experiências das vanguardas poéticas mais recentes.
Com Vamos caçar papagaios (1926) e Martim-Cererê (1928), o poeta entra em sua fase
nacionalista, “verde-amarelista”, em que predomina a brasilidade dos temas. Martim-Cererê, o livro mais
importante dessa fase, é uma recriação poética da descoberta e colonização do Brasil. Nele, o poeta
incorpora ao seu canto a fauna e a flora brasileiras, o índio, o bandeirante, o imigrante, a temática da
penetração territorial, a fundação das cidades, nossos heróis e o crescimento de São Paulo.
Em Sangue das horas (1943) e Um dia depois do outro (1947), encontramos o poeta voltado para
a reflexão sobre o destino humano e para os sentimentos de solidão, melancolia, frustração, angústia e
perplexidade diante da vida.
Com Jeremias sem-chorar (1964) e Os sobreviventes (1971), o poeta assimila as conquistas do
Concretismo, fugindo à sintaxe discursiva tradicional, utilizando-se dos espaços da página, criando
palavras e dando uma disposição gráfico-visual ao poema. O mundo eletrônico, cibernético, astronáutico
e bélico (próprio da guerra) é visto como uma ameaça à vida humana.

Alcântara Machado (Antônio Castilho de Alcântara Machado)


Nasceu: São Paulo (1901)
Faleceu: Rio de Janeiro (1935)

Formou-se em Direito, em São Paulo. Ainda estudante, inicia-se no jornalismo. Colaborou na


revista Terra Roxa e Outras Terras e, com Oswald de Andrade, fundou a Revista de Antropofagia.
Político militante, foi eleito, em 1935, deputado federal por São Paulo, mas não chegou a ser empossado.
Importante contista da primeira fase do Modernismo, Alcântara Machado retratou a vida e as
gentes de São Paulo, deixando-nos uma galeria de tipos singulares. O comerciante, o barbeiro, o torcedor
de futebol, a criança levada, são algumas das personagens que compõem essa galeria, em que predomina
a figura do imigrante italiano. Nos bairros populares da antiga São Paulo, suas personagens vivem as
21
cenas do cotidiano, a partida do futebol, as brigas de rua, as festas etc. Diminuindo a distância entre a
língua falada e a escrita, incorporou a linguagem popular, os italianismos e a sintaxe sem artificialismos,
o que resultou numa prosa leve e num estilo moderno, por vezes elíptico (omissão de palavra
subentendida) e telegráfico, feito de orações assindéticas e frases curtas.

Obras: Pathé Baby (1926); Brás, Bexiga e Barra Funda (1927); Laranja da China (1928); Mana Maria
(1936); Novelas paulistanas (1961) – reunião das três obras anteriores.

Raul Bopp
Nasceu: Tupanciretã/RS (1898)
Faleceu: Rio de Janeiro (1984)

Formado em Direito, ingressou na diplomacia, depois da Revolução de 30. Participou do


Movimento Verde-Amarelo, aderindo depois ao Movimento Antropofágico, cujas ideias estão presentes
em Cobra Norato, de 1931.
Escrito em linguagem popular, Cobra Norato descreve a natureza amazônica, sua gente, seus
costumes e lendas, seus animais e fenômenos naturais. O poeta, valendo-se de um recurso mágico (enfia-
se na pele da cobra Norato), sai pelo mundo em busca da filha da rainha Luzia.

Obra principal: Cobra Norato (1931).

Menotti del Picchia (Paulo Menotti del Picchia)


Nasceu: São Paulo (1892)
Falece: São Paulo (1988)

Bacharel em Direito, exerceu inúmeras atividades: foi agricultor, advogado, jornalista, editor,
industrial, banqueiro e deputado federal e estadual. Um dos líderes da Semana de Arte Moderna,
participou com Plínio Salgado e Cassiano Ricardo do movimento nacionalista. Foi membro da Academia
Brasileira de Letras.
Menotti del Picchia antecipou-se à corrente nacionalista de 22, ao publicar Juca Mulato, romance
que canta a terra e o homem brasileiro. Em oposição ao Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, Juca Mulato,
camponês simples e humilde, cujo universo restringe-se a sua fazenda, torna-se o herói de um drama
universal, o do amor que arrebata o indivíduo, enfraquecendo-lhe o raciocínio e exasperando-o
(agravando-o) à força de sofrimento. O amor, tornado em antagonista, leva Juca Mulato a travar uma luta
consigo mesmo, as plantas, os bichos, enfim o cenário em que vive.

Obra principal: Juca Mulato (1917).

Segunda fase do Modernismo brasileiro

1. Contexto histórico

Em 1930, têm início os quinze anos da ditadura de Getúlio Vargas. A primeira reação armada
contra o regime deu-se em 1932, com o Movimento Constitucionalista de São Paulo, derrotado em dois
meses pela superioridade das tropas federais. Entretanto, os revolucionários paulistas alcançaram um dos
seus objetivos: a convocação de uma Assembleia Constituinte, que elaborou a Constituição de 34. Essa
Constituição, de caráter liberal e nacionalista, teve vida curta. Getúlio, com um novo golpe, impôs novo
texto constitucional em 1937. Além disso, o governo enfrentaria a Intentona Comunista, como ficou
conhecido o movimento de revolta contra o governo, em 1935, liderado por Luís Carlos Prestes.
Os comunistas e os integralistas seriam, mais tarde, os grupos que dariam o pretexto a Vargas para
o golpe de Estado de 1937.
O Integralismo, movimento de conteúdo nazi-facista, liderado por Plínio Salgado, tem sido
apontado como o responsável indireto pelo golpe de 37. Os integralistas, que tinham como lema “Deus,
22
Pátria e Família”, elaboraram um falso plano de subversão comunista (o plano Cohen), e Getúlio,
utilizando-se desse documento, deu o golpe que instaurou o Estado Novo. Os líderes comunistas foram
presos, o Senado e a Câmara, fechados e o novo texto constitucional, imposto à nação.
Em 1939, Getúlio criou o Departamento de Imprensa e Propagando (DIP), órgão de censura aos
meios de comunicação.
Com o objetivo de obter apoio junto às massas, Getúlio toma uma série de medidas, configurando
um estilo político ao qual foi dado o nome de populismo. O país é dotado de uma legislação trabalhista e
previdenciária, decreta-se o salário mínimo e adotam-se providências para a criação de um partido
trabalhista.
Em 1944, é decretada a anistia para os presos políticos e são convocadas eleições para dezembro
de 1945. Porém, as suspeitas de um novo golpe getulista, naquele ano, provocam descontentamento dos
militares, que, num movimento liderado pelo general Góis Monteiro, depõem o ditador.

As transformações de período getulista

Entre as transformações ocorridas no período, destacam-se


 a expansão industrial do Brasil, causada primeiramente pela depressão de 29 e, no período de
1940-45, pelas dificuldades de comércio exterior provocadas pela Segunda Guerra Mundial;
 o desenvolvimento dos transportes rodoviário e aéreo;
 o crescimento das cidades e o surgimento do proletariado urbano, e os conseqüentes problemas de
habitação, criminalidade, saneamento etc.;
 a criação de universidades, a implantação do ensino técnico e o aumento da rede escolar,
sobretudo a de 1º grau, com cerca de quarenta mil escolar em 1939;
 o desenvolvimento da imprensa, o aumento do número de bibliotecas e a construção de prédios
públicos, o que contribui para a valorização da arquitetura no Brasil.

2. A literatura da segunda fase

Poesia

Os poetas que aparecem no início da década de 30 já semeavam num campo preparado pela
geração de 22. Esta rompera com o academicismo e renovara a linguagem e o estilo, incorporara o verso
livre, o prosaico e o cotidiano. A geração de 30, despreocupada com as questões imediatas de 22 (o
nacionalismo, o folclore, a destruição dos esquemas do passado etc.), voltava-se para as questões
universais do homem, o “desconcerto do mundo” e os problemas da sociedade capitalista. É o que se dá,
por exemplo, na poesia de Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e Jorge de Lima. Em Vinícius
de Morais e Cecília Meireles, a temática universalizante também estará presente, embora suplantada por
uma poesia personalista. Por outro lado, alguns dos mais importantes poetas de 30, entre Murilo Mendes,
Jorge de Lima e Cecília Meireles, incorporariam a religiosidade e o misticismo em seus poemas.
Finalmente, é preciso observar que a geração de 30 não processou uma mudança repentina e
tampouco limita-se àquele período. Os poetas de 22, agora mais amadurecidos, continuariam em plena
atividade, paralelamente aos de 30, e alguns destes também continuariam produzindo e se renovando até
os nossos dias.

Prosa

Nos anos 30, a ficção dá novo salto qualitativo com o aparecimento de escritores de grande
importância, que se distribuem basicamente em três vertentes: a prosa regionalista, a prosa urbana e a
prosa intimista.
a) Prosa regionalista
As raízes do regionalismo já se encontravam no século anterior, com O sertanejo, de José de
Alencar, e O cabeleira, de Franklin Távora.

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Na década de 20,desenvolveu-se no Brasil uma intensa campanha de revalorização das tradições
regionais, sobretudo através de Gilberto Freyre, sociólogo então recém-chegado dos Estados Unidos,
onde estivera a estudos. Em 1926, cria-se o Centro Regionalista e realiza-se o Primeiro Congresso
Brasileiro de Regionalismo. Gilberto Freyre afastara-se de certa forma dos modernistas de São Paulo,
influenciados por ideias importadas da França, pois sua formação sofrera influências anglo-americanas.
A preocupação com a revalorização do Nordeste deve-se em parte ao deslocamento do eixo
econômico e cultural para o Sul, quando a indústria açucareira começa a decair. Por outro lado, o
capitalismo impessoal de empresários sem vínculos com a região contribuía para a descaracterização
cultural do Nordeste, cuja economia tinha bases patriarcais e paternalistas.
Ainda que os regionalistas tenham assimilado as conquistas modernistas, como a aproximação da
linguagem literária à linguagem falada e o uso de neologismos, por exemplo, o movimento regionalista de
30 mostrou-se conservador, voltado, por assim dizer, para o passado. Mas o regionalismo de 30 soube
revelar os problemas sociais do Nordeste: o drama da seca e das retiradas, a submissão do homem ao
latifundiário, a ignorância e as mazelas políticas da região.
A bagaceira, de José Américo de Almeida, é a obra inaugural, e seu prefácio, intitulado “Antes
que me falem”, constitui um autêntico manifesto do regionalismo de então. A seguir, publicam-se, entre
outros, O Quinze (1930), de Raquel de Queirós, O país do carnaval (1931), de Jorge Amado, e Menino de
engenho (1932), de José Lins do Rego. Em 1938, Graciliano Ramos publica Vidas secas, a obra máxima
do romance nordestino.
b) Prosa urbana
José Geraldo Vieira, Érico Veríssimo e Marques Rebelo são os que mais se destacaram ao retratar
o ambiente e as personagens das grandes cidades de então.
c) Prosa intimista
Os conflitos humanos e as questões psicológicas aparecem nas obras de Lúcio Cardoso, Dionélio
Machado e Otávio de Faria. No final do período, surge um dos maiores nomes da literatura brasileira,
Clarice Lispector, que merece considerações à parte.

Exercícios:

1. Qual a herança deixada pelos modernistas da primeira fase?


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_____________________________________________________________________________________
2. Quais as tendências da poesia da segunda fase do Modernismo brasileiro?
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_____________________________________________________________________________________
3. Quais os principais poetas da segunda fase do Modernismo brasileiro?
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_____________________________________________________________________________________
4. Na prosa, qual a novidade apresentada pela geração de 30?
_____________________________________________________________________________________
5. Quais os principais autores de romances regionalistas surgidos na segunda fase do Modernismo?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
6. Além do regionalismo, quais as outras vertentes da prosa da segunda fase e quais os autores que nelas
se destacaram?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________

Autores da segunda fase (prosa)

Graciliano Ramos
Nasceu: Quebrangulo/AL (1892)
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Faleceu: Rio de Janeiro (1953)

Fez os primeiros estudos no interior de Alagoas e tentou o jornalismo no Rio de Janeiro.


Regressou a Palmeiras dos Índios (AL), cidade da qual foi prefeito em 1928, renunciando ao cargo dois
anos depois e passando a dirigir a Imprensa Oficial do Estado. Em 1933, foi nomeado Diretor da
Instrução Pública. Por suspeita de ligação com o comunismo, foi demitido e preso em 1936. Remetido ao
Rio de Janeiro, permaneceu encarcerado na Ilha Grande, onde escreveu Memórias do cárcere. Em 1945,
aderiu ao Partido Comunista Brasileiro.

Obras:
Romance: Caetés (1933); São Bernardo (1934); Angústia (1936); Vidas secas (1938).
Conto: Insônia (1947).
Memórias: Infância (1945); Memórias do cárcere (1953); Linhas tortas (1962); Viventes das Alagoas
(1962). As duas últimas obras foram publicadas postumamente.
Literatura infantil: Histórias de Alexandre (1944); Histórias incompletas (1946).

Características da obra

De maneira geral, seus romances caracterizam-se pelo inter-relacionamento entre as condições


sociais e a psicologia das personagens; ao que se soma uma linguagem precisa, “enxuta” de despojada, de
períodos curtos, mas de grande força expressiva.
Seu romance de estréia, Caetés (1933), gira em torno de um caso de adultério ocorrido numa
pequena cidade do interior nordestino e não está à altura das obras subsequentes.
São Bernardo (1934), uma de suas obras-primas, narra a ascensão de Paulo Honório, rico
proprietário da fazenda São Bernardo. Com o objetivo de ter um herdeiro, Paulo Honório casa-se com
Madalena, uma professora de ideias progressistas. O ciúme e a incompreensão de Paulo Honório levam-
na ao suicídio. Trata-se de um romance admirável, não só pela caracterização da personagem Paulo
Honório, mas também pelo tratamento dado à problemática da coisificação dos indivíduos.
Angústia (1936) é a história de uma só personagem, que vive a remoer a sua angústia por ter
cometido um crime passional.
Entre suas obras autobiográficas, destaca-se Memórias do cárcere (1953), depoimento sobre as
condições dramáticas de sua prisão durante o governo do ditador Getúlio Vargas.

José Lins do Rego (José Lins do Rego Cavalcanti)


Nasceu: Pilar/PB (1901)
Faleceu: Rio de Janeiro (1957)

De família ligada à produção açucareira, criou-se no engenho do avô, fato que iria influenciar a
sua obra. Formou-se em Direito, no Recife, e foi promotor em Minas Gerais. Exerceu, como funcionário
do Ministério da Fazenda, o cargo de fiscal de bancos, em Maceió, onde conviveu com Graciliano
Ramos, Raquel de Queirós e Jorge de Lima. Em 1935, fixou residência no Rio de Janeiro e, em 1953, foi
eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

Obras:
Romance: Menino de engenho (1932); Doidinho (1933); Bangüe (1934); O moleque Ricardo (1935);
Usina (1936); Pureza (1937); Pedra Bonita (1938); Riacho Doce (1939); Água-mãe (1941); Fogo morto
(1943); Eurídice (1947); Cangaceiros (1953).

Características da obra

Segundo o próprio autor, sua obra de ficção pode ser dividida em:
a) ciclo da cana-de-açúcar: Menino de engenho, Doidinho, Bangüe, Usina e Fogo morto;
b) ciclo do cangaço, do misticismo e da seca: Pedra Bonita e Cangaceiros;
25
c) obras independentes: O moleque Ricardo, Pureza e Riacho Doce (que de algum modo associam-se aos
ciclos anteriores).
As obras do chamado “ciclo da cana-de-açúcar” são as mais importantes, destacando-se Fogo
morto. Nelas, o autor procura retratar o início da decadência dos senhores de engenho, o advento da
usina-de-açúcar, com seus métodos modernos de produção, e a formação de uma nova estrutura
econômica e social na região açucareira do Nordeste.
As características marcantes desse ciclo são: o memorialismo, a visão de mundo sob a ótica do
senhor de engenho, a linguagem espontânea e certa consciência crítica em relação à miséria e ao
subdesenvolvimento do Nordeste.

Erico Veríssimo (Erico Lopes Veríssimo)


Nasceu: Cruz Alta/RS (1905)
Faleceu: Porto Alegre/RS (1975)

Concluiu o 1º grau (antigo ginásio) em Porto Alegre. De volta a sua cidade natal, empregou-se no
comércio, foi bancário e sócio de uma farmácia. Em 1930, transferiu-se para Porto Alegre, onde, depois
de trabalhar algum tempo como desenhista e de publicar alguns contos na imprensa local, empregou-se na
Editora Globo como secretário do Departamento Editorial. Viajou duas vezes aos Estados Unidos, onde
ministrou cursos de literatura brasileira.

Obras: Clarissa (1933); Caminhos cruzados (1935); Música ao longe (1935); Um lugar ao sol (1936);
Olhai os lírios do campo (1938); Saga (1940); O resto é silêncio (1942); O tempo e o vento: I – O
continente (1948), II – O retrato (1951), III – O arquipélago (1961); O senhor embaixador (1965); O
prisioneiro (1967); Incidente em Antares (1971).
Conto e novela: Fantoches (1932); Noite (1942).
Memórias: Solo de clarineta I (1973); Solo de clarineta II (1975).
Publicou ainda várias obras de ficção didática e literatura infantil, além de narrativas de viagens.

Características da obra

Costuma-se dividir a obra de Érico Veríssimo em três grupos:


1) Romance urbano: Clarissa, Caminhos cruzados, Um lugar ao sol, Olhai os lírios do campo, Saga e
O resto é silêncio. As obras dessa fase registram a vida da pequena burguesia porto-alegrense, com uma
visão otimista, às vezes lírica, às vezes crítica, e com uma linguagem tradicional, sem maiores inovações
estilísticas.
Dessa fase destaca-se Caminhos cruzados, considerado um marco na evolução do romance
brasileiro. Nele, Érico Veríssimo usa a técnica do contraponto, desenvolvida por Aldous Huxley (de quem
fora tradutor) e que consiste em mesclar pontos de vista diferentes (do escritor e das personagens) com a
representação fragmentária das situações vividas pelas personagens, sem que haja no texto um centro
catalisador.
2) Romance histórico: O tempo e o vento. A trilogia de Érico Veríssimo procura abranger duzentos anos
da história do Rio Grande do Sul, de 1745 a 1945. O primeiro volume (O continente) narra a conquista de
São Pedro pelos primeiros colonos e é considerado o ponto mais alto de toda a sua obra.
3) Romance político: O senhor embaixador, O prisioneiro e Incidente em Antares. Escritos durante o
período da ditadura militar em 1964, denunciam os males do autoritarismo e as violações dos direitos
humanos. Dessa série destaca-se Incidente em Antares.

Jorge Amado (Jorge Amado de Faria)


Nasceu: Ferradas, hoje Itabuna/BA (1912)
Faleceu: Salvador/BA (2001)

Fez os primeiros estudos em Ilhéus e Salvador, concluindo-os no Rio de Janeiro, onde se formou
em Direito. Militante de esquerda, exilou-se várias vezes, fugindo de perseguições políticas. Em 1945, é
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eleito deputado, em São Paulo, pelo Partido Comunista, perdendo o mandato quando o partido é posto na
ilegalidade. É dele o projeto da lei que assegurou a liberdade de culto religioso no Brasil. Obteve o
Prêmio Stalin de Literatura e a Legião de Honra da França. Foi membro da Academia Brasileira de
Letras. Suas obras alcançaram mais de trezentas edições em línguas estrangeiras, com milhões de
exemplares vendidos em todo o mundo.

Obras:
Romance: O país do carnaval (1931); Cacau (1933); Suor (1934); Jubiabá (1935); Mar morto (1936);
Capitães da areia (1937); Terras do sem-fim (1942); São Jorge do Ilhéus (1944); Seara vermelha (1946);
Os subterrâneos da liberdade (1952); Gabriela, cravo e canela (1958); Dona Flor e seus dois maridos
(1967); Tenda dos milagres (1970); Teresa Batista cansada de guerra (1973); Tieta do agreste (1977);
Farda, fardão e camisola de dormir (1979).
Novela: Os velhos marinheiros (1961); Os pastores da noite (1964).
Biografia: ABC de Castro Alves (1941); Vida de Luís Carlos Prestes, o cavaleiro da esperança (1945).
Teatro: O amor de Castro Alves, reeditado como O amor do soldado (1947).

Características da obra

Costuma-se dividir a obra de Jorge Amado em duas fases. A primeira iniciada com o romance O
país do carnaval (1931), caracteriza-se pelo forte conteúdo político e pela denúncia das injustiças sociais,
o que muitas vezes dá um caráter panfletário e tendencioso às obras aí incluídas. O esquematismo
psicológico das obras dessa primeira fase leva a uma divisão do mundo em heróis (marginais,
vagabundos, operários, prostitutas, meninos abandonados, marinheiros etc.) e vilões (a burguesia urbana e
os proprietários rurais).
Terras do sem-fim (1942) é uma exceção entre os romances da primeira fase, constituindo uma das
obras-primas do autor.
A segunda fase inicia-se com a publicação de Gabriela, cravo e canela (1958). Fugindo ao
panfletarismo e ao esquematismo psicológico, Jorge Amado constrói seus romances com elementos
folclóricos e populares; os costumes afro-brasileiros, a comida típica, o candomblé, os terreiros, a
capoeira etc. O mundo dos marginalizados torna-se então um mundo feliz, pois seus heróis levam uma
vida sem preconceitos, sem regras severas de conduta social, o que lhes permite um elevado grau de
liberdade existencial.
A partir de então, como se houvesse descoberto uma fórmula, Jorge Amado insiste nos mesmos
esquemas, repetindo, com pequenas variações, a mesma “receita”.

Leia:

A morte e a morte de Quincas Berro D’Água

Não que seja fato memorável ou excitante história, mas vale a pena contar o caso pois foi a partir desse distante dia
que a alcunha de “berro d’água” incorporou-se definitiva ao nome de Quincas. Entrara ele na venda de Lopez, simpático
espanhol, na parte externa do Mercado. Freguês habitual, conquistara o direito de servir-se sem auxílio do empregado.
Sobre o balcão viu uma garrafa, transbordando de límpida cachaça, transparente, perfeita. Encheu um copo, cuspiu para
limpar a boca, virou-o de uma vez. E um berro inumano cortou a placidez da manhã no Mercado, abalando o próprio
Elevador Lacerda em seus profundos alicerces, O grito de um animal ferido de morte, de um homem traído e desgraçado
— Águuuuua!
Imundo, asqueroso espanhol de má fama! Corria gente de todos os lados, alguém estava sendo com certeza
assassinado, os fregueses da venda riam às gargalhadas. O “berro d’água” de Quincas logo se espalhou como anedota, do
Mercado ao Pelourinho, do Largo de Sete Portas ao Dique, da Calçada a Itapoã. Quincas Berro D’água ficou ele sendo
desde então, e Quitéria do Olho Arregalado, nos momentos de maior ternura, dizia-lhe “Berrito” por entre os dentes
mordedores.
Também naquelas casas pobres das mulheres mais baratas, onde vagabundos e malandros, pequenos contrabandistas
e marinheiros desembarcados encontravam um lar, família, e o amor nas horas perdidas da noite, após o mercado triste do
sexo, quando as fatigadas mulheres ansiavam por um pouco de ternura, a notícia da morte de Quincas Berro D’água foi a
desolação e fez correr as lágrimas mais tristes. As mulheres choravam como se houvessem perdido parente próximo e
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sentiam-se de súbito desamparadas em sua miséria. Algumas somaram suas economias e resolveram comprar as mais
belas flores da Bahia para o morto. Quanto a Quitéria do Ôlho Arregalado, cercada pela lacrimosa dedicação das
companheiras de casa, seus gritos cruzavam a Ladeira de São Miguel, morriam no Largo do Pelourinho, eram de cortar o
coração. Só encontrou consolo na bebida, exaltando, entre goles e soluços, a memória daquele inesquecível amante, o mais
terno e louco, o mais alegre e sábio.
Idem. A morte e a morte de Quincas Berro D’Água. In: Os velhos marinheiros.
São Paulo, Martins, 1961.
Exercícios:
1. De que recurso se vale o narrador para transmitir o grande desapontamento de Quincas Berro D’Água?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
2. Como você caracteriza a personagem Quincas Berro D’Água?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
3. Com que tipo de pessoas convivia Quincas Berro D’Água?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
4. Que qualidades Quitéria do Olho Arregalado encontrava no amante?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
5. Que fatos comprovam a popularidade de Quincas Berro D’Água?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
6. Que característica da obra de Jorge Amado pode ser encontrada no texto?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________

Filme “Quincas Berro D’Água”

Autores da segunda fase (poesia)

Carlos Drummond de Andrade


Nasceu: Itabira/MG (1902)
Faleceu: Rio de Janeiro (1987)

Realizou os primeiros estudos em Itabira, Belo Horizonte e Nova Friburgo, formando-se em


Farmácia, em 1925. Sem interesse pela profissão de farmacêutico, lecionou Geografia e Português,
dedicando-se também ao jornalismo, atividade que encerrou em 1985. Em 1928, ingressou no
funcionalismo público, tendo exercido, entre outros cargos, a chefia de gabinete do ministro da Educação
Gustavo Capanema. Apesar de inúmeros convites, nunca se candidatou a uma vaga na Academia
Brasileira de Letras. Morreu no Rio de Janeiro, onde residia desde 1933. Grande parte da crítica considera
Drummond o poeta brasileiro mais importante do século XX.

Obras:
Poesia: Alguma poesia (1930); Brejo das almas (1934); Sentimento do mundo (1940); Poesias (1942); A
rosa do povo (1945); Viola de bolso (1952); Fazendeiro do ar e poesia até agora (1953); Viola de bolso
novamente encordoada (1955); Poemas (1959); A vida passada a limpo (1959); Lição de coisas (1962);
Versiprosa (1967); Boitempo (1968); Menino antigo (1973); As impurezas do branco (1973); Discurso de
primavera e algumas sombras (1978); A paixão medida (1980); Corpo (1984).
Prosa: Confissões de Minas (1944); Contos de aprendiz (1951); Passeios na ilha (1952); Fala,
amendoeira (1957); A bolsa e a vida (1962); Cadeira de balanço (1966); Caminhos de João Brandão

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(1970); O poder ultrajovem (1972); De notícias & não-notícias faz-se a crônica (1974); 70 historinhas
(1978); Boca de luar (1984).

Características da obra

Drummond é, sem dúvida, o maior poeta brasileiro contemporâneo. Sua estreia deu-se em 1930,
com Alguma Poesia. De maneira geral, os poetas desse livro procuram retratar a vida à sua volta. O poeta,
livre de conceitos literários anteriores, procura “trabalhar a realidade com mãos puras”; fala-nos de cenas
do cotidiano, de paisagens, de lembranças, fotografando a realidade, retratando a “vida besta”.
Por outro lado, o poeta manifesta o seu pessimismo e a sua personalidade reservada, tímida,
desconfiada, de um poeta que nasceu “para ser gauche na vida”; outras vezes, deixa transparecer uma fina
ironia e humor, utilizando-se também do poema-piada, herança dos modernistas da primeira fase.
Em Brejo das almas (1934), o poeta evolui, abandonando o descritivismo, e acentua o humor de
seus versos. Drummond interioriza-se, manifestando um sentimento de decepção e amargura, de falta de
sentido da existência ou de solução para o destino. Além disso, acentua a temática amorosa, num lirismo
contido e por vezes irônico.
Sentimento do mundo (1940) representa uma mudança na trajetória do poeta. Diante dos horrores
da guerra, da consciência de um mundo injusto e brutal, nasce o desejo de solidarizar-se, e o poeta abre
mais espaço para o “outro” em sua poesia. É o momento de voltar-se para “o tempo presente, os homens
presentes, a vida presente”, compreender os homens e construir um mundo melhor.
Em 1942, publica Poesias, título geral de doze novos poemas, inclusive o antológico “José”, que
antecipam tematicamente A rosa do povo (1945). Ambas as obras têm em comum o fato de condenarem a
vida de nossos dias, mecânica e estúpida, sem humanidade.
A rosa do povo, livro que se destaca na obra do poeta, tem como temas principais o medo, a
angústia, a náusea, a guerra, a solidão dos homens e a escravidão ocasionada pelo progresso.
A partir de então, Drummond acentua a temática do passado e do presente, a meditação poética
sobre as razões da existência, a problemática da condição humana e o mistério do destino do homem; ao
que se somam sua reflexões sobre o fazer poético e a incorporação das experiências dos concretistas,
atualizando constantemente sua maneira de expressar-se poeticamente. Mais recentemente, o sensualismo
e o erotismo encontraram um espaço maior em sua poesia, como em Amar, amores (1975).
Procurando nos fatos mais corriqueiros a matéria de sua prosa, escrita com ironia e humor,
Drummond revelou-se também um mestre da crônica.

Murilo Mendes (Murilo Monteiro Mendes)


Nasceu: Juiz de Fora/MG (1901)
Faleceu: Lisboa (1975)

Fez os primeiros estudos na sua cidade natal, mudando-se para o Rio de Janeiro em 1920.
Lecionou, desde 1957, estudos brasileiros em Roma. Em 1972, recebeu o Prêmio Internacional de Poesia
Etna-Taormina.
Obras:
Poesia: Poemas (1930); História do Brasil (1932); Tempo e eternidade (1935) – em colaboração com
Jorge de Lima; A poesia em pânico (1938); O visionário (1941); As metamorfoses (1944); Mundo enigma
(1945); Poesia liberdade (1947); Contemplação de Ouro Preto (1954); Poesias (1959); Siciliana (1959);
Tempo espanhol (1959); Poliedro (1962); Convergência (1970).
Prosa: Na idade do serrote (1968); Transistor (1980) – antologia.

Características da obra

Partindo das primeiras experiências modernistas. Murilo Mendes, sempre preocupado em renovar
permanentemente a sua expressão poética, chegou em seus últimos trabalhos a uma total liberdade de
criação e experimentação.

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Seu livro de estréia, Poemas (1930), contém uma crítica irônica à sociedade técnica e mecanizada.
Nele, encontramos a figura da mulher simbolizando a “seiva da vida”. Essa visão crítica será retomada
em O visionário (publicado em 1941, mas com poemas escritos entre 1930 e 1933), no qual se acentua a
tentativa de expressão surrealista, já manifestada no primeiro livro, exprimindo um sentimento de
angústia diante de um mundo absurdo e conturbado.
História do Brasil (1932) contém poemas satíricos que criticam fatos e personagens da nossa
história, com um humor bem ao gosto da literatura da primeira fase modernista.
Com Tempo e eternidade (1935), escrito em colaboração com Jorge de Lima, inicia-se uma
vertente significativa da poesia de Murilo Mendes: a religiosidade. Para José Guilherme Merquior,
trata-se de “uma religiosidade verticalmente empenhada na crítica da desumanização da vida o mundo
contemporâneo”, crítica que também está presente no livro A poesia em pânico (1938).
As metamorfoses (1944), Mundo enigma (1945) e Poesia liberdade (1947) documentam uma visão
trágica do mundo: as injustiças, as tiranias, as guerras. O poeta crê, contudo, que a Poesia pode nos salvar,
e almeja o amor e a paz entre os homens.
Em Contemplação de Ouro Preto (1954), o poeta descreve velhas cidades mineiras, suas tradições
e paisagens, mantendo um tom religioso e místico.
Convergência (1970), conforme apontou Maria Lúcia Aragão, apresenta uma “definitiva
superação da linearidade discursiva. As ideias se apresentam condensadas em constantes jogos
semânticos, em inovadoras criações de vocábulos, através da exploração exaustiva das possibilidades
fônicas das sílabas, prefixos e sufixos, dos recursos sonoros, os mais variados. (...) Murilo traduz em
palavras os novos tempos e integra-se às novas tendências da arte literária”.

Jorge de Lima (Jorge Matheos de Lima)


Nasceu: União/AL (1895)
Faleceu: Rio de Janeiro (1953)

Formado em Medicina, foi deputado estadual em Alagoas e professor universitário. Em 1930,


mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi presidente da Câmara de Vereadores do antigo Distrito Federal.

Obras:
Poesia: XIV alexandrinos (1914); O mundo do menino impossível (1925); Poemas (1927); Novos poemas
(1929); Poemas escolhidos (1932); Tempo e eternidade (1935) – em colaboração com Murilo Mendes;
Quatro poemas negros (1937); A túnica inconsútil (1938); Poemas negros (1947); Livro de sonetos
(1949); Anunciação e encontro de Mira-Celi (1950); Invenção de Orfeu (1952).
Romance: O anjo (1934); Calunga (1935).

Características da obra

Em estudo, Gilberto Mendonça Teles divide a obra de Jorge de Lima em três fases:

1. Fase de formação
Abrange o início de sua atividade poética até 1932. Dessa fase são os livros: XIV alexandrinos
(1914), Poemas (1927), Novos poemas (1929), Poemas escolhidos (1932) e Poemas negros, que, embora
publicado em 1947, tem marcas estilísticas da primeira fase.
Num primeiro momento dessa fase, o poeta, ainda sob influência parnasiana, privilegia o soneto e
esmera-se num vocabulário bem ao gosto parnasiano.
A partir de Poemas (1927), Jorge de Lima adere ao Modernismo, com textos marcados por cenas da
infância, pelo sentimento nacionalista, por referências ao Nordeste e pela forte influência de elementos do
folclore negro.

2. Fase de transformação
Pertencem a essa fase os livros: Tempo e eternidade (1935), A túnica inconsútil (1938),
Associação e encontro de Mira-Celi (1943) e Livro de sonetos (1949). Nessa fase, o poeta apresenta-se
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bastante envolvido com problemas religiosos e metafísicos, engajando-se plenamente no tema do
catolicismo e aprimorando o verso livre e a expressão metafórica. A essa fase pertence o poema “A ave”.

3. Fase de confirmação
Nessa fase, o poeta consolida-se, afirma-se e recupera-se, como que confirmando todas suas
qualidades. Dessa fase é o poema épico-lírico Invenção de Orfeu (1952), um dos mais belos livros de
nossa literatura. Trabalhando conscientemente sobre o modelo épico de Camões, Jorge Lima, preocupado
com a metalinguagem, apropria-se dos clássicos, numa técnica de colagem em que aparece, além de
Camões, Dante, Milton e Virgílio. Além disso, o poeta atualiza elementos de nossa cultura - mitos luso-
brasileiros fundem-se com suas leituras e seu conhecimento histórico - e procura interpretar
simbolicamente a relação do homem com o universo.

Vinícius de Moraes (Marcus Vinícius de Melo Morais)


Nasceu: Rio de Janeiro (1913)
Faleceu: Rio de Janeiro (1980)

Bacharelou-se em Letras no Colégio Santo Inácio (RJ), em 1929, e formou-se em Direito, em


1933. Dez anos depois, ingressou na carreira diplomática, tendo servido em diversos países. Dedicou-se
ao cinema e à música, destacando-se no movimento de renovação da música popular brasileira que se
convencionou chamar Bossa Nova.

Obras:
Poesia: O caminho para a distância (1933); Forma e exegese (1935); Ariana, a mulher (1936); Novos
poemas (1938); Cinco elegias (1943); Poemas, sonetos e baladas (1946); Pátria minha (1949); Livro de
sonetos (1957); Novos poemas II (1957).
Crônicas: Para viver um grande amor (1962); Para uma menina com uma flor (1966).
Teatro: Orfeu da Conceição (1960) – em versos; Procura-se uma rosa (1961) – de colaboração com
Pedro Bloch e Gláucio Gil; Cordélia e o peregrino (1965) – em versos.
Obra completa: Publicada em vida do autor e organizada com a sua assistência, reagrupa com
outros títulos as suas obras e incorpora textos esparsos e o conjunto de suas canções.

Características da obra

A obra de Vinícius pode ser dividida em duas fases:


1. Fase místico-religiosa
Compreende os livros: O caminho para a distância (1933), Forma e exegese (1935), Ariana, a
mulher (1936), Novos poemas (1938) e Cinco elegias (1943); este último, um livro de transição.
Em Caminho para a distância, o poeta manifesta sua preocupação religiosa e sua angústia diante
do mundo, revelando também o seu conflito entre o sensualismo e o sentimento religioso. O amor é tido
como um elemento negativo que, ligando-o ao mundo terreno, impede a libertação do espírito. O livro
guarda um tom adolescente e as imagens não têm o vigor que alcançariam mais tarde. Trata-se de uma
obra imatura.
A partir de Forma e exegese, os versos ganham liberdade expressiva e tornam-se mais extensos. O
poeta volta-se para o cotidiano, sem contudo abandonar o desejo de transcendência. A mulher torna-se
figura central de sua poesia – mas ainda envolta por um forte misticismo, que contribui para a sua
caracterização como um ser divinizado -, e o poeta procura harmonizar sensualismo e erotismo com os
apelos espirituais.
O tom declamatório e os versos longos, que nos lembram versículos bíblicos, mantêm o poeta
ainda distante das conquistas expressivas mais modernas.
Essa primeira fase, segundo próprio Vinícius, termina com Ariana, a mulher. Cinco elegias seria o
livro de transição.

2. Fase de encontro com o mundo material e cotidiano


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Já em Cinco elegias o poeta incorpora elementos do cotidiano, mantendo ainda o tom religioso, e
aproxima-se um pouco mais das conquistas dos modernistas de 22.
A partir de Poemas, sonetos e baladas, dá-se a superação da angústia e da melancolia; o poeta
integra-se à realidade, e sua poesia adquire um ritmo mais tranquilo e uma expressão mais coloquial,
enxuta, simples e direta. Nessa fase, sua temática ganha novas características universalizantes e sociais, o
que se exemplifica no poema “O operário em construção”.
Poeta lírico por excelência, em sua segunda fase Vinícius alia temas modernos à mais apurada
forma clássica de composição, o soneto, deixando-nos obras-primas.

Cecília Meireles
Nasceu: Rio de Janeiro (1901)
Faleceu: Rio de Janeiro (1964)

Diplomou-se como professora pela Escola Normal (Instituto de Educação-RJ) em 1917. Além de
se dedicar ao magistério primário, colaborou nos principais jornais cariocas e deu cursos de Literatura
Brasileira nos Estados Unidos e no México. Premiada duas vezes pela Academia Brasileira de Letras,
soma-se também à sua biografia o título de doutora honoris causa, da Universidade de Delhi (Índia).

Obras:
Poesia: Espectros (1919); Nunca mais...e Poema dos poemas (1923); Baladas para El-rei (1925); Viagem
(1939); Vaga música (1942); Mar absoluto (1945); Retrato natural (1949); Amar em Leonoreta (1951);
Doze noturnos da Holanda e O aeronauta (1952); Romanceiro da Inconfidência (1953); Pequeno
oratório de Santa Clara (1955); Pistóia, cemitério militar brasileiro (1955); Canções (1956); Romance
de Santa Cecília (1957); Metal rosicler (1960); Poemas escritos na Índia (1961); Solombra (1963); Ou
isto ou aquilo (1965); Crônica trovada (1965). As duas últimas obras foram publicadas postumamente.
Publicou também crônicas, textos para o teatro, prosa poética e ficção.

Características da obra

Cecília Meireles estreia em 1919, em Espectros, livro de influências parnasianas; lança a seguir
Nunca mais... e Poemas dos poemas (1923) e Baladas para El-rei (1925), ambos de temática
predominantemente mística e que refletem a sua ligação com o grupo espiritualista da revista Festa. Esses
três primeiros livros seriam, mais tarde, postos de lado pela poetisa, que não os incluiu na edição de sua
Obra poética, coletânea de 1958.
Cremos, portanto, que Cecília Meireles preferiu tomar como ponto de partida de sua trajetória
poética o livro Viagem (1939), pelo qual recebeu o prêmio da Academia Brasileira de Letras.
Viagem, livro que demonstra uma maior maturidade poética, apesar de manter-se dentro dos
padrões tradicionais, ultrapassa o primeiro momento do Modernismo brasileiro (anedótico e nacionalista).
Ao gosto pela tradição, soma-se uma visão filosófica e universalizante. As indagações sobre a brevidade
da vida, o sentido da existência, a solidão e a incompreensão humana, presentes em Viagem,
permaneceriam em quase toda a sua obra, perpassada por um sentimento de pessimismo e desencanto.
Cecília Meireles, por ter seguido um caminho muito pessoal, não pode ser enquadrada em um
movimento ou uma estética determinados. Seus versos, geralmente curtos, de conteúdo lírico tradicional e
bastante pessoais, têm raízes simbolistas e caracterizam-se pela musicalidade, descritividade e imagens
sensoriais.
Um dos pontos altos de sua obra poética é o Romanceiro da Inconfidência (1953), que lhe custou
pesquisas históricas e no qual, empregando o melhor de sua técnica, revela o seu amor à pátria e a sua
admiração pelos mártires da Inconfidência Mineira.

Terceira fase do Modernismo brasileiro

1. Contexto histórico

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No Brasil, o período que se estende de 1945 a 1985 é marcado por uma série de fatos que
causaram profundas transformações a alguns traumas na sociedade brasileira.
Esse período pode ser assim dividido:
 Da queda de Getúlio ao anos JK (1945-1956)
Em 1945, Getúlio Vargas é deposto, depois de quinze anos de governo ditatorial. No ano seguinte,
o general Eurico Gaspar Dutra assume a presidência, eleito pelo voto direto. Promulga-se uma nova
Constituição, e o país retorna aos princípios democráticos.
Embora deposto, Getúlio mantém o seu prestígio popular e vence as eleições de 1950. A forte
oposição aos seu governo, liderada por Carlos Lacerda, e a exigência de sua renúncia, feita pelos
militares, levam-no ao suicídio, na madrugada de 24 de agosto de 1954. João Café Filho assume o
poder.
 Os anos JK (1956-1960)
Juscelino Kubitschek de Oliveira, depois de assumir o poder, em janeiro de 1956, dá início ao seu
projeto de realizar “cinquenta anos em cinco”: constrói hidrelétricas e estradas; incentiva a instalação
de fábricas de automóveis, aviões e navios e constrói Brasília, para onde mudaria a capital do país em
1960.
O clima democrático, renovador e moderno do seu governo favorece as artes: surgem a Bossa
Nova e o Cinema Novo, o teatro para por profundas transformações, com o trabalho desenvolvido
pelo Teatro de Arena e pelo Teatro Brasileiro de Comédia. Paralelamente, a literatura renova-se,
sobretudo com Clarice Lispector e Guimarães Rosa. É também o grande momento da crônica, com
Fernando Sabino, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Carlos Drummond de Andrade. O Brasil
vive momentos de alegria: Éder Jofre torna-se campeão de boxe, Maria Ester Bueno destaca-se no
tênis internacional e o Brasil ganha a Copa do Mundo de 58.
Em 31 de janeiro de 1961, Juscelino passa a faixa presidencial para Jânio Quadros.
 Jânio, Jango e a ditadura (1961-1964)
Jânio Quadros assume o poder em janeiro de 1961 e renuncia sete meses depois, em 25 de agosto.
Depois de muitas negociações entre políticos e militares, João Goulart (ou Jango, como era
conhecido) assume o governo, sob o sistema parlamentarista, o qual limitava enormemente os seus
poderes, pois a chefia do Executivo ficava a cargo do primeiro-ministro e do Conselho de Ministros,
restando ao presidente apenas a função de chefe de Estado.
Com o fim do regime parlamentarista, em 1963, João Goulart resolve tomar medidas de caráter
econômico e social, entre elas a regulamentação da remessa de lucros para o exterior, o projeto de
reforma agrária, a nacionalização das refinarias de petróleo e a encampação (o governo toma posse
após acorde de indenização) de algumas empresas multinacionais que operavam no Brasil. Um golpe
militar, em 1º de abril de 1964, financiado pelos Estados Unidos e por grupos de empresários e
latifundiários brasileiros, depõe o presidente. Uma junta militar assume o poder e impõe ao Congresso
Nacional o nome do general Humberto de Alencar Castelo Branco para a presidência da República.
 Os anos de autoritarismo (1964-1984)
Nos vinte anos que se sucederam ao golpe de 64, o Brasil foi governado por militares: Castelo
Branco (64-67); Costa e Silva (67-69); Garrastazu Médici (69-74); Ernesto Geisel (74-79) e João
Baptista Figueiredo (79-84).
Trata-se de um dos períodos mais negros da nossa história, em que houve a supressão das
liberdades democráticas, a cassação de mandatos políticos, a censura à imprensa e aos meios de
comunicação, o “desaparecimento” ou assassinato de opositores ao regime e um Congresso
controlado e algumas vezes fechado ao contrariar as ordens do governo. Além disso,
institucionalizaram-se a corrupção e as chamadas “mordomias” dos políticos e altos funcionários
públicos. No plano econômico, a dívida externa do Brasil, que em 1964 era de 3 bilhões de dólares,
ultrapassou, no final de 1984, a casa dos 100 bilhões. A inflação de 1964, que era de 74% ao ano (o
que contribuiu para desestabilizar o governo de João Goulart), atingiu cerca de 200% em 1984. A
insatisfação do povo e dos empresários e a crescente crise econômica levaram a sucessiva concessões
políticas, terminando com a entrega do poder aos civis.
 A Nova República (1985-...)

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Em 1985, um Colégio Eleitoral elege para presidir a República o advogado Tancredo de Almeida
Neves. Tancredo falece antes de tomar posse, e em seu lugar assume o vice-presidente, José Sarney.
Inicialmente impopular e sem apoio político expressivo, José Sarney só consegue popularidade a
partir de 1986, ao implantar o Plano Cruzado, que congelou os preços e salários e introduziu o
cruzado como nova moeda. Entretanto, sua popularidade não durou mais do que um ano, graças ao
fracasso da política econômica do seu governo.

2. A produção literária da terceira fase

Prosa

Em linhas gerais, verifica-se na prosa posterior a 45:


 A negação do compromisso com a narrativa referencial, ligada a acontecimentos e à
representação realista da realidade.
 O espaço exterior passa para segundo plano; a narrativa centra-se no espaço mental das
personagens, realçando-lhes as características psicológicas em detrimento das características
físicas.
 Altera-se a linguagem romanesca tradicional. O texto deixa de ser a narrativa de uma
aventura para tornar-se a aventura de uma narrativa. A continuidade temporal é abalada,
desfazendo-se a ordem cronológica e, muitas vezes, fundindo-se presente, passado e futuro. A
experimentação lingüística e temático-formal é levada a extremos. O gênero narrativo deixa-se
contaminar mais por outros gêneros, sendo comum a fusão narração-dissertação.
 A prosa urbana enfoca o conflito do indivíduo frente à sociedade, e a prosa regionalista renova
a sua temática e forma de expressão.
 O afastamento cada vez maior da verossimilhança faz com que apareça o realismo fantástico,
no qual se acentua a distância entre a realidade objetiva e a expressão artística, através de uma
linguagem altamente simbólica, situando a narrativa entre o estranho e o maravilhoso. Pela
utilização de uma linguagem excessivamente metafórica, o autor procura muitas vezes analisar
a nossa realidade social.
Entre os romancistas surgidos em 45, destacam-se João Guimarães Rosa e Clarice Lispector.

Poesia

A partir de 1945, a poesia brasileira adquire preocupações esteticistas, com a chamada “geração de
45”, como se autodenominaram os poetas que se agruparam em torno da revista Orfeu e foram editados
na coleção Cancioneiro de Orfeu, sob a direção de Fernando Ferreira de Loanda, no Rio de Janeiro.
A “geração de 45” procurou restaurar a disciplina expressiva, o estudo da poética e a investigação
verbal. Daí a retomada de formas poéticas tradicionais, sobretudo o soneto. Apesar de terem retornado
também à métrica, não a consideraram obrigatória, sendo utilizado também o verso livre, agora mais
trabalhado ritmicamente e sob certo rigor e preocupação artesanal.
Entre os poetas da “geração de 45”, destacam-se João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Alphonsus de
Guimaraens Filho, Geir Campos, Afonso Félix de Souza e Thiago de Melo.
Paralelamente, esses poetas foram acompanhados pelos que vinham da geração anterior, como Carlos
Drummond de Andrade, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Cecília Meireles, Cassiano Ricardo e outros.
A partir de 1950, surgem novas tendências, como o Concretismo, a Poesia-práxis e o Poema/processo.
Na década de 70, surge a chamada “poesia marginal”, que só a partir da década de 80 começa a ser objeto
de apreciações críticas, muito pouco favoráveis.

Teatro

A encenação de Vestido de noiva, peça de Nelson Rodriges dirigida por Ziembinski, em 1943, é um
marco da renovação do teatro brasileiro. Outro passo dado é com a fundação, em 1948, do Teatro
Brasileiro de Comédia, que tinha como diretores Ziembinski e Ruggero Jacobbi. A fundação do Teatro de
34
Arena, em 1953, faz com que apareçam importantes nomes na dramaturgia nacional, como
Gianfrancesco Guarnieri (Eles não usam black-tie), Oduvaldo Viana Filho (Chapetuba futebol clube) e
Augusto Boal (Revolução na América do Sul).
Na década de 60, surgem o grupo Opinião, liderado por Denoy de Oliveira, Ferreira Gullar e
Oduvaldo Viana Filho, e o Teatro Oficina, liderado por José Celso Martinezd'água Correa.
Além dos autores citados, destacam-se Jorge Andrade (A moratória), Adriano Suassuna (Auto da
Compadecida), Plínio Marcos (Navalha na carne), Dias Gomes (O bem amado) e Chico Buarque de
Holanda (Gota d’água, em parceria com Paulo Pontes).

Crônica

A crônica foi um dos gêneros que mais renovou a partir do final da década de 40, registrando a fala do
povo e sua psicologia e retratando o cotidiano, com humor, ironia e lirismo, numa perspectiva crítica e
reveladora. Destacam-se: Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino, Carlos Drummond de
Andrade, Carlos Eduardo Novaes, Luís Fernando Veríssimo, Affonso Romano de Sant’Anna e Lourenço
Diaféria, entre outros.

Autores da terceira fase (prosa)

Guimarães Rosa (João Guimarães Rosa)


Nasceu: Cotisburgo/MG (1908)
Faleceu: Rio de Janeiro (1967)

Formou-se em Medicina e exerceu a profissão até 1934, quando ingressa na carreira diplomática,
servindo na Alemanha, Colômbia e França. Em 1963, foi eleito membro da Academia Brasileira de
Letras, adiando a posse até 1967. Morreu neste ano três dias depois da solenidade de posse, vítima de um
colapso cardíaco.

Obras:
Conto: Sagarana (1946); Primeiras estórias (1962); Tutaméia: terceiras estórias (1967); Estas estórias
(1969) - publicação póstuma.
Novela: Corpo de baile (1956) - publicado posteriormente em três volumes: Manuelzão e Minguilim; No
urubuquaquá, no Pinhém; Noites do sertão.
Romance: Grande Sertão: veredas (1956).
Diversos: Com vaqueiro Mariano (1952); Ave, palavra (1970) - publicação póstuma; O ministério dos
MMM (em colaboração).

Característica da obra

Embora de caráter regionalista, a obra de Guimarães Rosa supera o regionalismo tradicional, que ora
idealizava o sertanejo, ora se comprazia com aspectos meramente pitorescos, com o realismo documental
ou com a transcrição da linguagem popular e coloquial.
Essa superação deve-se à riqueza de sua linguagem e ao caráter universal das questões morais e
metafísicas presentes em sua obra.
Criando um estilo absolutamente novo na ficção brasileira, Guimarães Rosa estiliza o linguajar
sertanejo, recria e inventa palavras, mescla arcaísmos com vocábulos eruditos, populares e modernos,
combina de maneira original as palavras, prefixos e sufixos, constrói uma sintaxe peculiar e explora as
possibilidades sonoras da linguagem, através de aliterações, onomatopéias, hiatos, ecos, homofonias etc.
No cerne dessa linguagem nova, na qual prosa e poesia confundem-se, estão as indagações universais
do homem: o sentido da vida e da morte, a existência ou não de Deus e do diabo, o significado do amor,
do ódio, da ambição etc.
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Clarice Lispector
Nasceu: Tchetchelnik/Ucrânia (1926)
Faleceu: Rio de Janeiro (1977)

Clarice Lispector tinha apenas dois meses de idade quando seus pais chegaram ao Brasil. Criou-se no
Recife, mudando-se para o Rio de Janeiro aos doze anos. Formou-se em Direito e pôde conhecer vários
países da Europa, acompanhando o marido, que era diplomata. Aos dezessete anos de idade, escreveu seu
primeiro livro, o romance Perto do coração selvagem.

Obras:
Romance: Perto do coração selvagem (1944); O lustre (1946); A cidade sitiada (1949); A maçã no
escuro (1961); A paixão segundo G.H. (1964); Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres (1969); Água
viva (1973); A hora da estrela (1977).
Conto: Alguns contos (1952); Laços de família (1960); A legião estrangeira (1964); Felicidade
clandestina (1971); Imitação da rosa (1973); A via-crucis do corpo (1974); A bela e a fera (1979)
publicação póstuma.
Crônica: Visão do esplendor (1975); Para não esquecer (1978) - publicação póstuma.
Literatura infantil: O mistério do coelho pensante (1967); A mulher que matou os peixes (1969); A vida
íntima de Laura (1974); Quase verdade (1978) - publicação póstuma.

Característica da obra

Na obra de Clarice Lispector, a caracterização das personagens e as ações são elementos secundários.
Importa-lhe captar a vivência interior das personagens e da complexidade de seus aspectos psicológicos.
Daí resultam uma narrativa introspectiva e o monólogo interior, em que muitas vezes percebe-se o
envolvimento do narrador, ficando difícil estabelecer fronteiras entre narrador e personagens. Essa
centralização na consciência contribui para a digressão, a fragmentação dos episódios e o
desencadeamento do “fluxo de consciência”, isto é, a expressão direta dos estados mentais, nos quais
parece manifestar-se diretamente o inconsciente, do que resulta certa perda de seqüência lógica.
Na trilha filosófica do existencialismo, Clarice enfatiza a angústia do homem diante sua liberdade
para escolher o curso que deseja dar à sua vida. Essa escolha é necessária, já que sua existência não está
predeterminada, e a maneira de cada indivíduo ser e estar no mundo e entendê-lo resulta de sua própria
opção. Assim, ele tem a liberdade de optar por uma vida autêntica e questionadora, mas isso
provavelmente o levará a enxergar um mundo absurdo em que nada faz sentido e, conseqüentemente, a
afundar-se num abismo de perplexidades. Por outro lado, pode refugiar-se da banalidade do cotidiano e
nos interesses imediatos, limitados e efêmeros, os quais certamente nunca o deixarão plenamente
satisfeito.
As narrativas de Clarice Lispector quase sempre focalizam um monumento de revelação, um
momento especial em que a personagem defronta-se subitamente com verdade. Esse momento especial é
o que James Joyce chamou de epifania (que, no vocabulário religioso, refere-se à manifestação divina). A
epifania é uma manifestação espiritual súbita, provocada por uma experiência que, a princípio, mostra-se
simples e rotineira, mas acaba por mostrar a força de uma inusitada revelação. Os objetos mais simples,
os gestos mais banais e as situações mais cotidianas provocam uma iluminação repentina na consciência
da personagem.

João Cabral de Melo Neto


Nasceu: Recife/PE (1920)
Faleceu: Rio de Janeiro (1999)

Passou a infância em Pernambuco e estudou com os Irmãos Maristas, em Recife, mas não fez nenhum
curso superior. Em 1942, mudou-se para o Rio de Janeiro. Foi nomeado por concurso, Assistente de
seleção do DASP, em 1943, e diplomata, em 1945. Em 1947, foi servir em Barcelona, depois em
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Londres, Servilha, Marcelha, Madri, Genebra, Berna e Assunção. Promovido a embaixador, em 1976,
sua primeira representação foi no Senegal. Atualmente ainda é membro do corpo diplomático. Em 1968,
foi eleito por unanimidade pela Academia Brasileira de Letras.

Obras:
Poesia: Pedra no sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia da composição (1947); O cão sem
plumas (1950); O rio (1954); Morte e vida severina (1956); Paisagens com figuras (1956); Uma faca só
lâmina (1956); Terceira feira (1961), reunindo Quaderna, Dois parlamentos e serial; A educação pela
pedra (1966); Museu de tudo (1975); Poesia crítica (1982) - antologia; Auto do frade (1984).

Característica da obra

“Saio de meu poema / como quem lava as mãos”. Esses versos que iniciam o poema “Psicologia da
composição”, revelam que para João Cabral de Melo Neto a poesia deixa de ser fruto de um momento de
inspiração e passa a ser o resultado de um esforço cerebral, um trabalho de artesão da palavra. O ato de
“lavar as mãos” ao terminar um poema identifica-se com o fim do artesanato do escultor, do modelador. E
é à semelhança deles que João Cabral engendra a sua poesia, fazendo-a com suor, preocupando-se com a
organização do texto, a concisão e a precisão da linguagem, e buscando a palavra objetiva, exata, para a
concretização de uma composição poética que mantém sob contenção a musicalidade fácil e repudia o
exagero metafórico.
Seu primeiro livro, Pedra do sono (1942), reúne vinte poemas curtos, escritos aos vinte anos, nos
quais predominam imagens surrealistas.
Com O engenheiro (1945) começam a se revelar os traços essenciais de sua poesia: o racionalismo e a
construção artesanal do poema. Desse livro é o poema “A lição de poesia”.
Com Psicologia da composição (1947), João Cabral dá o passo definitivo em direção à objetividade
poética que marca toda a sua obra a partir de então. O livro contém, em sua maioria, poemas sobre o fazer
poético, nos quais leva mais adiante a sua objetividade, rejeitando a poesia como fruto de inspiração.
A ênfase no social dá-se com os livros O cão sem plumas (1950), O rio (1954) e Morte e vida
severina (1956).
O cão sem plumas tem como tema o rio Capibaribe, com sua poluição e a população miserável que
habita suas margens; o mesmo Capibaribe descrito em O rio.
Morte e vida Severina (cujo subtítulo é Auto de Natal pernambucano), sua obra mais conhecida, relata
a trajetória de Severino, retirante nordestino que se encaminha para o Recife, encontrando apenas a seca,
a subnutrição e a morte por onde passa.
Paisagens com figuras (1956), focalizando regiões da Espanha e de Pernambuco, Uma faca só lâmina
(1956), com reflexões sobre o ato de escrever, Quaderna (1961), de temática amorosa, e Serial (1961), de
temática social, precedem a sua obra mais recente, Auto do frade (1984), cuja personagem principal é Frei
Caneca.

Poesia e prosa contemporâneas

Contexto histórico

Nas últimas décadas, a cultura brasileira vivenciou um período de acentuado desenvolvimento


tecnológico e industrial; entretanto, neste período ocorreram diversas crises no campo político e social.
Os anos 60 (época do governo democrático-populista de J.K.) foram repletos de uma verdadeira euforia
política e econômica, com amplos reflexos culturais: Bossa Nova, Cinema Novo, teatro de Arena, as
Vanguardas, e a Televisão.
A crise desencadeada pela renúncia do presidente Jânio Quadros e o golpe militar que derrubou
João Goulart colocaram fim nessa euforia, estabelecendo um clima de censura e medo no país
(promulgação do AI-5; fechamento do Congresso; jornais censurados, revistas, filmes, músicas;
perseguição e exílio de intelectuais, artistas e políticos). A cultura usou disfarces ou recuou.
A conquista do tricampeonato mundial de futebol em 1970, foi capitalizada pelo regime militar e uma
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onda de nacionalismo ufanista espalhou-se por todo o país, alienando as mentes e adormecendo a
consciência da maioria da população por um bom período de tempo: "Brasil - ame-o ou deixe-o", a
cultura marginalizou-se.
Em 1979, um dos primeiros atos do presidente Figueiredo foi sancionar a lei da anistia, permitindo
a volta dos exilados. Esse ato presidencial fez o otimismo e esperança renascerem naqueles que
discordavam da política praticada pelos militares daquele período. Na década de 80 inicia-se uma
mobilização popular pela volta das eleições diretas, que só veio a concretizar-se em 89, com a posse de
Fernando Collor de Mello, cassado em 1991. Em 1995, eleição e posse do presidente Henrique Cardoso.

Manifestações Artísticas

As manifestações literárias desse período desenvolvem-se a partir de duas linhas-mestras:


a) De um lado, a permanência de alguns autores já consagrados como João Cabral e Carlos Drummond de
Andrade acompanhada do surgimento de novos artistas como Lygia F. Telles e Dalton Trevisan, ligados
as linhas tradicionais da literatura brasileira: regionalismo, intimismo, urbanismo, introspecção
psicológica.
b) De outro lado, a ruptura com valores tradicionais que se dispersam através de propostas alternativas ou
experimentais, buscando novos caminhos ou exprimindo de maneiras pouco convencionais as tensões de
um país sufocado pelas forçasda repressão. Nessa vertente nascem o concretismo, a poesia Práxis, os
romancese contos fantásticos, alegóricos.
O professor Domício Proença Filho (cit. in. Faraco e Moura, Língua e Literatura, vol. 3 Ed.
Ática), defende a idéia de que "nas três últimas décadas, a cultura brasileira tem vivido sob o signo da
multiplicidade seja na área política, social ou artística". Para ele, a cultura pós-moderna apresenta as
seguintes características: eliminação entre fronteiras entre a arte erudita e a popular; presença marcante da
intertextualidade ( diálogo com obras já existentes e presumivelmente conhecidas) mistura de estilos
(ecletismo que contenta gostos diversificados) preocupação com o presente, sem projeção ou perspectivas
para o futuro. Na dramaturgia, especificamente, surgiu um espectador mais ativo que passou a fazer parte
de uma interação entre atores e platéia.

Música e cinema sofrendo concorrência e pressão por parte da "moda" imposta pelos países mais
desenvolvidos.

A rapidez de sucessão dos modismos, tendo por objetivo o consumo desenfreado; o lucro, passou
a reinar na sociedade brasileira.

Tratando-se especificamente da Literatura, o Professor Proença aponta asseguintes características


dessa arte, neste período:
a) Ludismo na criação da obra, desembocando freqüentemente na paródia ou pastiche. Ex: as sucessivas
imitações do famoso poema de Gonçalves Dias, "Canção do Exílio" ("Minha terra tem palmeiras onde
canta o sabiá...").
b) Intertextualidade, característica da qual os textos de Drummond como "A um bruxo com amor"
(retomando M. de Assis); "Todo Mundo e Ninguém" (retomando o auto da Lusitânia, de Gil Vicente) são
belos exemplos.
c) Fragmentação textual: "associação de fragmentos de textos colocados em seqüência, sem qualquer
relacionamento explícito entre a significação de ambos", como em uma montagem cinematográfica.

POESIA
Nesta há duas constantes:
a) Uma reflexão cada vez mais acurada e crítica sobre a realidade e a busca de novas formas de
expressão; mantêm nomes consagrados como João Cabral, Mário Quintana, Drummond no painel da
literatura.
b) Afirmação de grupos que usavam técnicas inovadoras como: sonoridade das palavras, recursos
gráficos, aproveitamento visual da página em branco, recortes, montagens e colagens.
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As principais vanguardas poéticas prendem-se aos grupos: Concretismo, Poema-Processo, Poesia-
Social, Tropicalismo; Poesia-Social e Poesia-Marginal.

Concretismo

O concretismo foi idealizado e realizado pelos irmãos Haroldo e Augusto de Campos e por Décio
Pignatari . Em 1952 esse movimento começou a ser divulgado através da revista "Noigrandes" ("antídoto
contra o tédio" em linguagem provençal), mas seu lançamento oficial aconteceu em 1956, com a
exposição Nacional da Arte Concreta em São Paulo. Suas propostas aparecem no Plano- Piloto da Poesia
Concreta; assinado por seus inventores:
Poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas, dando por encerrado
o ciclo histórico do verso ( unidade rítmico- formal), a poesia concreta começa por tomar conhecimento
do espaço gráfico como agente estrutural, espaço qualificado estrutura espácio- temporal, em vez de
desenvolvimento meramente temporístico ¬linear, daí a importância da idéia do ideograma, desde o seu
sentido geral de sintaxe espacial ou visual, até o seus sentido específico (fenollosa/pound) de método de
compor baseado na justa posição direta -analógica não lógico¬discursiva - de elementos. (...). Poesia
concreta: uma responsabilidade integral perante a linguagem, realismo total, contra uma poesia de
expressão, subjetiva e hedonística. Criar problemas exatos e resolvê-los em termos de linguagem sensível
um arte geral da palavra. o poema- produto: objeto útil (grifos nossos).
Vários poemas desse período não apresentam versos; "jogam" com a forma e o fundo, aproveitando o
espaço gráfico em sua totalidade, "brincam" com o significado e o significante do signo lingüístico,
rejeitam a idéia de lirismo e tratam de forma inusitada o tema. O poema é como um quadro, sem ligações
com o universo subjetivo; esse "objeto" concreto é passível de manipulação e permite múltiplas leituras
(de cima para baixo; da direita para a esquerda, em diagonal, etc.). Como pode-se perceber, retomam
procedimentos que remontam às vanguardas do início do século, tais como Cubismo e Futurismo. Seus
recursos são os mais variados: experiências sonoras ( aliterações, paronomásias;; caracteres tipográficas
variadas (formas e tamanhos); diagramação; criação de neologismos... O poeta é um artesão da
civilização urbana, sintonizado com o seu tempo.
Poesia - Práxis
Em 1962, Mário Chamie lidera em grupo dissidente, contra o radicalismo dos "mais concretos" e instaura
a poesia-práxis. Em sua obra Lavra-lavra faz uma espécie de manifesto:
"as palavras não são corpos inertes, imobilizados a partir de quem as profere e as usa... As palavras são
corpos- vivos. Não vítimas passivas do contexto.
O autor práxis não escreve sobre temas, ele parte de "áreas"(seja uma fato externo ou emoção),
procurando conhecer todos os significados e contradições possíveis e atuantes dessas áreas, através de
elementos sensíveis que conferem a elas realidade e existência".
A poesia-práxis preocupou-se com a palavra- energia, que gera outras palavras - uma valorização do ato
de compor. É o que se vê no poema Agiotagem, de Mário Chamie:
Agiotagem
um dois três
o juro: o prazo
o pôr/ o cento/ o mês/ o ágio porcentagio.
dez cem mil
o lucro: o dízimo
o ágio/ a moral/ a monta em péssimo empréstimo.
muito nada tudo a quebra: a sobra a monta/ o pé/ o cento/ a quota haja nota agiota.
Fragmento do Poema "LAVRADOR" (Mário Chamie)
LAVRA: Onde tendes pá, pé e o pó sermão da cria: tal terreiro
DOR: Onde tenho a pó, o pé e a pá quinhão da via: tal meu meio de plantar sem água e sombra.
LAVRA: Onde está o pó, tendes cãimbra;
Poema-código (ou semiótico) e Poema / Processo.
Em 1964, Décio Pignatari e Luiz Ângelo Pinto, lançaram a idéia do poema- código ou semiótico,
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predominantemente visual, incorporando outras linguagens (jornal, propaganda), montando um texto à
maneira dadaísta.
Uma outra variante do Concretismo foi uma radicalização ainda maior - o poema - processo -, criação de
Wladimir Dias Pino e Alvares de Sá, utilizando sobretudo signos visuais e dispensando o uso da palavra.
A poética da resistência: A poesia -social
Seu principal mentor é o maranhense Ferreira Gullar, que, em 1964, rompe com a poesia concreta e
retoma o verso discursivo e temas de interesse social (guerra- fria, corrida atômica, neocapitalismo,
terceiro mundismo), buscando maior comunicação com o leitor e servir como testemunha de uma época.
Após o golpe militar e a AI-5, empreende uma verdadeira "poesia de resistência". ao lado de outros
escritores, artistas e compositores (J.J. Veiga, Thiago de Mello, Affonso Romano de Sant'Ana, Antônio
Callado, Gianfrancesco Guarnieri, Chico Buarque, Oduvaldo Viana Filho...).
Tropicalismo
O movimento musical popular chamado Tropicalismo originou-se, ainda na década de 60, nos festivais de
M. P. B. realizados pela TV Record, que projetaram no cenário nacional, os jovens Caetano Veloso,
Gilberto Gil, o grupo Os Mutantes e Tom Zé, apoiados em textos de Torquato Neto e Capinam e nos
arranjos do maestro Rogério Duprat.
Com humor, irreverência, atitudes rebeldes e anarquistas os tropicalistas procuravam combater o
nacionalismo ingênuo que dominava o cenário brasileiro, retomando o ideário e as propostas do
Movimento Antropofágico de Oswald de Andrade. Dessa forma, propunham a devoração e de deglutição
de todo e qualquer tipo de cultura, desde as guitarras elétricas dos Beatles até a Bossa Nova de João
Gilberto e o "nordestinismo" de Luiz Gonzaga.
Características dos textos:
ironia e paródia, humor e fragmentação da realidade; enunciação de flashes cinematográficos
aparentemente desconexos, ruptura com os padrões tradicionais da linguagem ( pontuação sintaxe etc.).
Suas influências foram fundamentais na música, mas repercutiram também na literatura e no teatro.
Com o AI-5, seus representantes foram perseguidos e exilados.
A partir daí, a linguagem artística ou se cala ou se metaforiza ou apela para meios não convencionais de
divulgação.
A Poesia Marginal
Segundo a professora Samira Youssef Campedelli (M Literatura, História e Texto, 3, Saraiva) "a poesia
desenvolvida sob a mira da polícia e da política nos anos 70 foi uma manifestação de denuncia e de
protesto, uma explosão de literatura geradora de poemas espontâneos, mal-acabados, irônicos, coloquiais,
que falam do mundo imediato do próprio poeta, zombam da cultura, escarnecem a própria literatura. A
profusão de grupos e movimentos poéticos, jogando para o ar padrões estéticos estabelecidos, mostra um
poeta cujo perfil pode ser mais ou menos assim delineado ele é jovem, seu campo é a banalidade
cotidiana, aparentemente não tem nem grandes paixões nem grandes imagens, faz questão de ser
marginal". Experimentalismo, moralidade, ideologia e irreverência são algumas de suas características.
A divulgação dessa obra foge do "circuito tradicional": são textos fechados em muros; jornais, revistas e
folhetos mimeografados ou impressos em gráficas de fundo de quintal e vendidas em mesas de
restaurantes, portas de cinemas, teatros e centros culturais; happening e shows musicais; até uma "chuva
de poesia" foi realizada no centro de São Paulo, da cobertura do edifício Itália, em 1980.
Ainda de acordo com a Professora Samira (opuscit, p.354) "Recupera-se alguns laços com a produção do
primeiro Modernismo (1922) - poemas -minuto, poemas ¬piada; experimentaram-se técnicas como a
colagem e a desmontagem dadaístas; praticaram-se formas consagradas, como o sonetos ou o haicai; tudo
foi possível dentro do território livre da poesia marginal, como bem atestam os poemas de Paulo
Leminsky, à moda grafite, com sabor de haicai:
NÃO DISCUTO COM O DESTINO O QUE PINTAR EU ASSINO
Representantes desse grupos: Wally Salomão, Cacaso,Capinam, Alice Ruiz, Charles, Chacal, Torquato
Neto e Gilberto Gil (Marginalia e "Geléia Geral")
o céu não cai do céu
O céu não cai do céu, poema de Régis Bonvicino
Não é rara também a paródia, assim como a metalinguagem.
Enquanto os concretistas atribuem grande importância à construção do poema, os marginais preocupam-
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se sobretudo com a expressão, ora de fatos triviais, ora de seus sentimentos. Por isso, boa parte dessa
poesia marca-se por um tom de conversa íntima, de confissão pessoal.

Outras Tendências
Alguns poetas não se filiam a nenhuma dessas tendências, ou constituindo obra pessoal ou seguindo
novos caminhos, ainda muito novos e incertos para serem "catalogados"; ou retomando a linha criativa de
poetas já consagrados, como Drummond, Murilo Mendes e João Cabral.
São eles: Adélia Prado,Manuel de Barros,José Paulo Paes,Cora Coralina; entre outros.

Prosa
Assim como na Poesia, na Prosa o período pós -moderno caracteriza-se por uma pluralidade de
tendências e estilos.
A partir dos anos 70, vão -se quebrando limites entre os gêneros literários : romance e conto, conto e
crônica, crônica e notícia; desdobram-se e acabam incorporando técnicas e linguagens, antes fora de seus
domínios. Dessa forma, aparecem romances com ares de reportagens; contos parecidos com poemas em
prosa ou com crônicas, autobiografias com lances romanescos narrativos que adquirem contornos de cena
teatral; textos que se constroem por justaposição de cenas, reflexões, documentos ...
O Romance
O romance ora segue as linhas tradicionais, aprofundando-se e enriquecendo-as com novos temas; ora
inova, criando novas nuances de prosa.
Há diversos tipos de romance
Romance regionalista:
Seguindo um caminho tradicional, iniciado desde o Romantismo, uma safra de bons escritores continua a
retratar o homem no ambiente das zonas rurais, com seus problemas geográficos e sociais.
Ex:
Mário Palmério (Vila dos Confins, Chapadão do Bugre),José Cândido de Carvalho (O Coronel e o
Lobisomem), Bernardo Élis (O tronco),Herberto Sales (Além dos Maribus), Antônio Callado (Quarup);
entre outros.
Romance Intimista:
Na mesma linha de sondagem interior, de indagação dos problemas humanos, iniciada por Clarice
Lispector, vários autores exploram o interior de personagens angustiadas, desnudando seus traumas,
problemas psicológicos, religiosos, morais e metafísicos:
Ex:
Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra, As Meninas),Autran Dourado (Ópera dos Mortos, O Risco no
Bordado),Osman Lins (O Fiel e a Pedra), Lya Luft (Reunião de Família ), Aníbal Machado (João
Ternura), Fernando Sabino (O Encontro Marcado), Josué Montello (Os degraus do Paraíso), Chico
Buarque (Estorvo); entre outros.
Romance urbano - social
Documenta os grandes centros urbanos com seus problemas específicos : a burguesia e o proletariado em
constante luta pela ascensão social, luta de classes, violência urbana, solidão, angústia e marginalização.
Ex:
José Condé (Um Ramo para Luísa),Carlos Heitor Cony (O ventre), Antônio Olavo Pereira (Marcoré),
Marcos Rey, Luís Vilela, Ricardo Ramos, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.
Romance político. A censura calou, durante um tempo, as vozes dos meios de comunicação de massa
fazendo com que o romance passasse a suprir essa lacuna, registrando o dia-a-dia da história, fazendo
surgir novas modalidades de prosa:
a) paródia histórica. Ex: Márcio de Sousa (Galvez, o Imperador do Acre), Ariano Suassuna (A Pedra do
Reino), João Ubaldo Ribeiro (Sargento Getúlio).
b) o romance reportagem, com emprego de linguagem jornalística e enredos com relatos de torturas,
como veículo de denúncia e protesto contra a opressão.
Ex: Ignácio de Loyola Brandão (Zero, não Verás País Nenhum), Antônio Callado (Quarup, Reflexos do
baile), Roberto Drummond (Sangue de Coca- Cola) e Rubem Fonseca (O Caso Morel).

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c) o romance policial, com aspectos urbanos e políticos aparece na ficção de Marcelo Rubens Paiva (Bala
na Agulha) e de Rubem Fonseca; este último, considerado o melhor nesse gênero, escreveu "A Grande
Arte", "Bufo & Spallanzani" ,"Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos"dentre outros.
d) o romance histórico, que consegue fundir narrativa policial, fatos políticos e abordagem histórica tem
grandes representantes como a obra "Agosto" de Rubem Fonseca, que retrata os acontecimento políticos
que levaram Getúlio Vargas ao suicídio; "Boca do Inferno" de Ana Miranda que retrata a Bahia do século
XVII e os envolvimentos políticos e amorosos de Gregório de Matos; Fernando Morais seguindo esta
linha escreve "Olga", a história da esposa de Luís Carlos Prestes, entregue aos alemães nazistas pelo
governo de Getúlio.
No Realismo Fantástico e no Surrealismo alguns escritores constroem metáforas que representam a
situação do Brasil utilizando situações absurdas e assustadoras.
Ex:
Murilo Rubião é o pioneiro (O Pirotécnico Zacarias, O Ex-Mágico); J. J. Veiga (Sombras de Reis
Barbudos, A Hora dos Ruminantes); Moacir Scliar (A Balada do Falso Messias, Carnaval dos Animais);
Érico Veríssimo (Incidente em Antares).
Romance Memorialista e / ou autobiográfico
Essa tendência surge na ficção brasileira na década de 80, misturando autobiografia, relatos de viagens
memoriais e reflexões de intelectuais que viveram no exílio ou foram testemunhas das atrocidades
cometidas pelo regime militar.
Ex: Pedro Nava (Baú de Ossos),Érico Veríssimo (Solo de Clarineta I e II), Fernado Gabeira(O que é isso
Companheiro? e O Crepúsculo do Macho), Marcelo Rubens Paiva (Feliz Ano Velho).
Romances experimentais e metalingüísticos
Desenvolvem novas técnicas de narrativa e trabalho linguístico que apresentam estrutura fragmentária.
Ex:
Osman Lins (Avalovara), Ignácio de Loyola Brandão (Zero), Ivan Ângelo (A Festa),Antônio Callado
(Reflexos do Baile).
O Conto e a Crônica.
A partir dos anos 70, houve uma verdadeira explosão editorial do conto e da crônica, por serem narrativas
curtas, condensadas e atenderem à necessidade de rapidez do mundo moderno. Novas dimensões foram
introduzidas no conto tradicional : subversão da seqüência narrativa, interiorizarão do relato, colagem de
flashes e imagens, fusão entre poesia e prosa, evocação de estados emocionais.
A crônica, texto ligeiro, de interpretação imediata, com flagrantes do cotidiano, também passou a agradar
o leitor tornando-se popular.
Autores que se destacam nesses dois gêneros:
Contos:
Lygia F. Telles,Osmar Lins, Murilo Rubião,Autran Dourado, Homero Homem, Moacyr Scliar, Oto Lara
Resende,Dalton Trevisan,J. J. Veiga,Nélida Pinon, Rubem Fonseca, João Antônio,Domingos Pelegrim
Jr,Ricardo Ramos, Marina Colasanti,Luís Vilela,Marcelo Rubens Paiva, Ivan Ângelo e Hilda Hilst.
Crônica:
Rubem Braga,Vinícius de Moraes, Paulo Mendes Campos, Raquel de Queiroz,Carlos Drummond de
Andrade, Fernando Sabino, Álvaro Moreira,Sérgio Porto (Stanislau Ponte Preta), Lourenço Diaféria, Luís
Fernando Veríssimo e João Ubaldo Ribeiro.

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