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PLE – AMBIENTES PESSOAIS DE APRENDIZAGEM

MESTRADO PEDAGOGIA DO E-LEARNING

Paulo Simões
Mestrado Pedagogia do E-Learning
Modelos de Ensino a Distância

RESUMO

Este trabalho foi elaborado no âmbito da Unidade Curricular Modelos do Ensino a Distância

do Mestrado em Pedagogia do E-Learning da Universidade Aberta.

Neste artigo pretende-se explorar as diferentes perspectivas sobre o que se entende por PLE

– Personal Learning Environment ou aquilo que poderemos chamar em português de Ambiente

Pessoal de Aprendizagem.

Por um lado alguns autores observam o PLE do ponto de vista tecnológico, encarando-o

como uma ferramenta/software que agrega, organiza e publica conteúdos pessoais, por outro, há

quem perspective o PLE do ponto de vista pedagógico, informal, como uma organização pessoal de

várias ferramentas usadas na aprendizagem.

Vamos procurar perceber como é que a tão propalada mudança no paradigma da

aprendizagem e a utilização das ferramentas web 2.0, levaram ao aparecimento do conceito PLE

que muitas vezes que confunde com outras designações utilizadas, algumas vezes com o mesmo

sentido, outras como complemento, nomeadamente, VLE, PLN ou LMS. Iremos identificar as

diferenças entre cada um deles em relação ao PLE.

Para finalizar indicaremos algumas conclusões incluindo a perspectiva pessoal do autor do

texto.

Palavras chave: PLE, Personal Learning Environment

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PLE – Ambientes Pessoas de Aprendizagem - Personal Learning Environments

Para se compreender o conceito de PLE – Personal Learning Environment/Ambiente Pessoal

de Aprendizagem é necessário fazer referência a dois conceitos essenciais que constituem a

essência e, há volta dos quais, gira a necessidade da criação de um espaço de aprendizagem

controlado pelo utilizador: Aprendizagem ao longo da vida e Aprendizagem Informal. Foi em

grande parte devido à dificuldade do indivíduo se organizar na rede que surge a necessidade a

designação de PLE.

Longe de estar organizada, a Internet tornou-se complexa. Os utilizadores saltam de serviço

em serviço, criando e descartando novas identidades. Um utilizador típico da web pode ter várias

páginas pessoais - o blog pessoal, a sua página de fotos, a conta no Google Reader, documentos

partilhados, os vídeos no YouTube, a sua conta no Twitter, os seus perfis nas redes sociais, as suas

contas de email ou o seu “login” no LMS da universidade (Downes, 2009).

McCall afirma que devemos considerar os aprendentes não são como sujeitos da

aprendizagem, entidades a quem entregamos conteúdo, mas também como fontes da aprendizagem,

(como citado em Downes, 2009). Segundo Attwell (2007a) o PLE reconhece que a aprendizagem é

um acto contínuo e que procura encontrar ferramentas que a suportem. Reconhece o papel do

indivíduo na aprendizagem e toma como garantido que ela acontece em diferentes contextos e

situações.

Por outro lado, o PLE serve a aprendizagem informal, na medida em que possibilita o acesso à

tecnologia educativa a todos os que pretendam organizar o seu próprio espaço pessoal de

aprendizagem.

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The idea of the PLE purports to include and bring together all learning, including
informal learning, workplace learning, learning from the home, learning driven by
problem solving and learning motivated by personal interest as well as learning
through engagement in formal educational programmes. (Attwell, 2007b)

No entanto, um PLE não é só visto de forma conceptual. Outros autores defendem que os PLE

são sistemas que ajudam os aprendentes a tomar o controlo e gestão da sua própria aprendizagem

através da definição das suas metas próprias metas de aprendizagem, gerindo os conteúdos e os

processos e, finalmente, estabelecendo comunicação com outros processos de aprendizagem,

(Harmelen, 2007) tendo por suporte quer a sua área de trabalho no seu computador pessoal quer

mais do que um serviço da web.

Tendo em conta a diversidade de opiniões, reflexo em grande medida da novidade conceito

(LTC - Learning Technologies Center, 2008), também as definições de PLE variam nessa

proporção. Algumas sugerem que os princípios dos PLEs podem ser apresentados através de um

software, enquanto outras sugerem que um PLE deve ser entendido enquanto conceito e não como

uma ferramenta específica.

Sendo um PLE composto por todas as diferentes ferramentas que usamos diariamente para

aprender (Attwell, 2007a), a pedagogia que lhe está subjacente possibilita traduzir o PLE num

portal aberto por onde os aprendentes podem explorar e criar, tendo em conta os seus interesses

pessoais, interagindo com quem quiserem, nomeadamente amigos ou com a comunidade de

aprendizagem. Anteriormente, Lubensky (2006) já se tinha referido ao PLE como uma

possibilidade que o individuo possui para aceder, agregar, configurar e manipular artefactos digitais

durante as suas experiências de aprendizagem.

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Por outro lado, do ponto de vista de institucional, por exemplo, aplicado a uma universidade,

um PLE designa uma abordagem das tecnologias de comunicação e informação, com influências da

Web2.0, aplicada ao ensino que permite aos aprendentes, controlar a sua área de aprendizagem pela

personalização dos objectos de aprendizagem que são disponibilizados em repositórios centrais de

informação (Casanova, 2009).

Sendo um termo recente, PLE tem sido, por um lado, confundido com termos já existentes há

algum tempo, como por exemplo, LMS (Learning Management Systems), vulgo Sistemas de

Gestão da Aprendizagem, como é o caso do MOODLE e, por outro, associado a novos termos que

vão surgindo para tentar descrever conceitos muito parecidos.

Se em relação aos LMS é possível estabelecer diferenças evidentes dado que são sistemas que

disponibilizam quer ferramentas de comunicação (essencialmente fóruns de discussão e salas de

chat) quer conteúdos (Santos, 2009), baseados num porta de entrada institucional e que obrigam o

aprendente a aceder por uma única entrada a um curso online, já um PLE é um ambiente cujo foco é

dado ao controlo que os aprendentes têm sobre o que aprendem (Leslie, 2008).

Reconhecendo que se utiliza determinada terminologia em diferentes e ambíguas formas, o

termo VLE (Virtual Learning Environment) é normalmente usado para referir os vários tipos de

interacções online que têm lugar entre aprendentes e tutores (Clifford, 2009). Mas é no entanto

Attwell (2008) que nos dá uma explicação bastante prática da relação entre PLE, PLN (Personal

Learning Environment), VLE e e-Portfolios:

What distinguishes PLEs from VLEs, e-Portfolios, or from classroom and lecture based
learning for that matter, is that it brings together informal and formal learning. It recognizes
the primacy of the learner on driving and developing their learning. And - in terms of tools - it
provides them the means to organize their own learning.

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I don’t really mind what we call them. What is critical is that a PLE / PLN helps us in
organizing our learning and helps us make the connections with those with whom we want to
collaborate and share, whoever, wherever they are. (Attwell, 2008)

Como já foi referido a discussão sobre os PLEs é recente. Ainda muito caminho está por

explorar, mas já é possível assinalar alguns aspectos consensuais e que nos ajudarão a construir uma

visão comum do conceito.

É possível enunciar, segundo Attwell e Costa (2008), uma lista de possíveis funções de um

PLE, por exemplo: aceder/procurar informação e conhecimento; agregar combinando informação e

conhecimento; manipular, rearranjar e reformatar artefactos tecnológicos; analisar informação para

desenvolver conhecimento; reflectir, questionar, desafiar, procurar clarificar, formar e defender

opiniões; apresentar ideias, aprender e conhecer de diferentes maneiras e para objectivos

diversificados; ligar em rede criando um ambiente colaborativo de aprendizagem.

Anteriormente, Attwell já tinha referido que um PLE pode estimular o desenvolvimento de

novas formas de pedagogia, mas que no entanto, isoladamente não representa uma nova forma de

ensinar e aprender, podendo, no entanto, melhorar as práticas existentes. Os PLE, por si só não

conseguem transformar os sistemas de educação e as respectivas práticas. (Attwell, 2007a)

Por outro lado o sucesso dos PLEs dependem, segundo Lubensky (2006), da:

1. Facilidade com os quais podem ser implementados e usados pelos aprendentes;

2. Interoperabilidade;

3. Confiança que os aprendentes e os administradores institucionais tenham com eles.

Quando integrados numa instituição de ensino/formação, como no caso do National Research

Council, dos EUA, os PLE’são decompostos em quatro grande áreas: agregar, quer dizer, recolher

conteúdos de vários individuos e de outros de serviços de partilha de conteúdos; misturar, ou seja,


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organizar conteúdos de diversas fontes em diferentes direcções; reconverter, ou editar, localizar ou

de alguma forma modoficar ou criar novos conteúdos; e re-enviar ou enviar os conteúdos para os

subscritores ou para outrso serviços da web, via RSS, sindicação, email, Twitter ou outros serviços

(Downes, 2009). As instituições usam-nos para potenciar formação formal e informal, por exemplo,

através do uso de blogs, da plataforma Elgg ou de ligações com LMS’s como o Moodle. (Attwell,

2007a). Em Portugal é de destacar o Projecto Sapo Campus da Universidade de Aveiro que contém

serviços de base disponibilizados pela instituição e uma plataforma integrada, que serve os

indivíduos da comunidade (Santos, 2009) que se prevê que esteja em funcionamento no próximo

ano lectivo de 2009/2010.

Em jeito de conclusão podemos afirmar que quer se tome um PLE como um software ou

como mera organização pessoal do espaço de aprendizagem, parece consensual que todo o género

de aprendizagem, formal, informal ou ao longo da vida, carece de alguma forma lógica organizativa

pessoal que de alguma forma estará consubstanciada num PLE. Se a aprendizagem formal se tem

constituído como importante veículo de aprendizagem, parece que finalmente se começa a valorizar

outras fontes. A aprendizagem informal é valorizada e o PLE consegue juntar conteúdos formais e

informais, a partir de casa ou do trabalho (Attwell & Costa, 2008).

Pessoalmente, tendo em conta o explicitado neste trabalho, concordo com Attwell (2007a), ao

referir que um PLE não é uma aplicação, mas antes uma nova aproximação ao uso da novas

tecnologias na aprendizagem. O argumento para a sua utilização não é técnico mas sim filosófico,

ético e pedagógico. Um PLE proporciona ao aprendente um espaço pessoal sob seu controlo que

possibilita o desenvolvimento e partilha das suas opiniões.

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Referências

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http://unescochair.blogs.uoc.edu/05102007/web-20-personal-learning-environments-and-the-
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Attwell, G., & Costa, C. (2008). Integrating personal learning and working environments. Acedido
em 4 de Julho de 2009, de Pontydysgu - Bridge to learning:
http://www.pontydysgu.org/2008/11/integrating-personal-learning-and-working-
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Casanova, D. (2009). Conceptualização de um Personal Academic Environment (PAE). Challenges
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do Minho.
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http://www.jisc.ac.uk/whatwedo/programmes/buildmlehefe/lifelonglearning/mlebriefingpack/
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Harmelen, M. v. (2006). Personal Learning Environments. Sixth International Conference on
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http://ltc.umanitoba.ca/wiki/index.php?title=Ple
Lubensky, R. (18 de Dezembro de 2006). The present and future of Personal Learning
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Challenges 2009 - VI Conferência Internacional de TIC na Educação (pp. 34-48). Braga:
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