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Das Sociedades Anônimas no direito brasileiro

Maxwell Zavanella Rosa


Aluno do 2º ano do Curso de Direito da Unesp
(Franca-SP)

Sumário:

1. Introdução
2. Características gerais
3. Classificação e constituição
4. Valores mobilários e o capital social
5. Órgãos sociais e a administração da sociedade
6. Lucros, reservas e dividendos
7. O fim da Companhia ou sua reorganização
8. Conclusão

A história do comércio se confunde com a história da humanidade. Hoje


letras e números, imprescindíveis na prática comercial, nem ainda existiam
enquanto os homens já se organizavam para cambiar produtos de seus
interesses. Com o evoluir típico de nossa espécie, o comércio foi sendo
naturalmente aprimorado, assim como as sociedades. Novas necessidades foram
surgindo, como a organização dos homens dentro da sociedade por via de regras
que também se desenvolveram. Assim aos poucos o comércio, parte intrínseca
das sociedades se viu legislado pelo Direito e inseparável do homem. Antes da
formação do império Romano (que sabiamente usavam a moeda) alguns povos já
utilizavam títulos monetários rústicos. Estes foram sendo desenvolvidas e
vastamente utilizadas em posteriores civilizações. Na Baixa Idade Média já era
comum a utilização de bancos e títulos de créditos. As navegações permitiram que
os povos se comunicassem e as trocas de mercadorias, ao mesmo tempo que
incentivaram o desenvolvimento de tal prática se viram dinamizadas, gerando
riquezas e desenvolvimento em muitos lugares, gerando conflitos e tráfico em
outros e, posteriormente, desbravando continentes. As revoluções industriais
permitiram a fabricação de produtos em larga escala com a utilização de
máquinas, e organizaram os trabalhadores em linhas de produção, que os faziam
trabalhar de modo mais proveitoso e econômico. Os comércios e as indústrias se
organizaram, surgiram novos investimentos e fontes de captação de recursos.
Com esse desenvolver da economia mundial, também foram desenvolvidas várias
teorias filosóficas, políticas e sociológicas. Umas condenando alguns modelos,
outras dissertando sobre a importância e sua fundamental aplicação nas
sociedades. Como foi o que aconteceu no século XIX com as idéias de Karl Marx
que pregava um mundo dominado pelos proletários onde não se visaria ao lucro, e
sim ao bem-estar de todos, já que todos são iguais. A verdade é que em alguns
lugares do Mundo o Capitalismo prosperou e caiu, se perdeu em meio ao
liberalismo e ressurgiu no que foi chamado de Estado Social e atualmente está
ligado à uma nova tendência européia chamada de neoliberalismo. O socialismo,
que primeiro tomou a Rússia por meios revolucionários, representou praticamente
metade do planeta após a Segunda Guerra Mundial, mas não conseguiu se
sustentar falindo na década de oitenta do século XX.

O que nos chega hoje no início do terceiro milênio é um Mundo capitalista,


com algumas poucas exceções, das quais o Brasil não faz parte. O histórico
comercial brasileiro não é longo, visto que era uma colônia submetida aos
interesses de seus desbravadores portugueses que daqui levaram varias riquezas
como primeiramente o pau-brasil que deu nome a essa terra e, posteriormente, o
ouro e os diamantes, dizimaram indígenas, promoveram trabalho escravo nas
lavouras de cana, engenhos e minerações e muito pouco investiram em nossa
terra. Com a independência, o Brasil se viu um país agrícola com o ciclo do café,
movido ainda pela mão-de-obra escrava e logo em seguida imigrante. A liberdade
dos negros veio pouco antes da República que, por sua vez, deixou para o século
XX a industrialização de nosso país. Nesse momento a economia mundial se viu
revolucionada por novos modos de investimento e de arrecadação de lucros.
Tomaram força as Bolsas de Valores, permitindo novos modelos de sociedades.
No cenário mundial, e também no brasileiro, as sociedades por ações se
expandiram e adquiriram importância devido a sua capacidade de atrair
investimentos para a atividade que os sócios se propunham e devido à viabilidade
de trabalho nas mais variadas áreas. As sociedades por ações, que são duas: a
sociedade em comandita por ações e a sociedade anônima, são partes essenciais
da economia de qualquer país do Mundo e do funcionamento da economia
globalizada; sendo assim, não o poderia deixar de ser no Brasil

Mesmo tendo existido Códigos Comerciais desde o Império, o comércio em


nosso país, assim como praticamente no Mundo inteiro é assistido pelo Direito
sempre baseado nos costumes, na prática. Hoje o Direito Brasileiro regula o
Comércio através do Código Civil em vigor desde 2003. Há situações em que se
viu por necessário a implantação de legislação especial em assuntos de Direito
Comercial, como foi o caso da Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6404, de
15/12/1976). Entender melhor a sociedade anônima, dentro do Direito Brasileiro,
será o objetivo principal deste trabalho.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

Para muitos, parece estranho o uso do termo ‘anônima’ a este modelo


societário pelo fato do nome (mais a frente veremos que o termo correto é
“denominação”) da sociedade não ser oculto ou obscuro. Ao surgir, a sociedade
anônima já tem um modo de ser chamada publicamente. A Doutrina nos explica
que a sociedade é anônima porque assim o são seus sócios. Uma sociedade é o
conjunto dos sócios.

A sociedade anônima, também conhecida por “companhia”, é uma


sociedade de capital. Os títulos representativos da participação societária, que são
as ações, são livremente negociáveis. Não está na alçada de competência de
nenhum acionista impedir a entrada de quem adquire ações da empresa da qual
faz parte no quadro associativo. Com o falecimento de um acionista (hipótese esta
que será retomada ao tratarmos posteriormente das dissoluções) naturalmente
seus herdeiros terão acesso aos títulos da ação. Também não será cabível aos
sucessores do acionista morto pleitear a ação dos haveres deste.
Automaticamente este sucessor fará parte da sociedade anônima como acionista.
De acordo com o artigo 1º da Lei da Sociedades por Ações (LSA), para a
configuração de uma sociedade como anônima é imprescindível que seu capital
seja dividido em ações, que normalmente são representados por títulos
negociáveis, que podem ser objeto de compra, venda, doação, de penhor ou
caução, de usufruto, etc. Ainda de acordo com o primeiro artigo: “a
responsabilidade dos sócios o acionistas será limitada ao preço de emissão das
ações subscritas ou adquiridas”, o que quer dizer que ao pagar a por inteiro suas
ações, ao acionista não resta nenhum tipo de débito com a sociedade ou com os
credores. Vale ainda ser ressaltada a diferença técnica entre preço de emissão
(que é o preço pago por quem subscreve a ação, e acaba equivalendo à
contribuição do acionista para o capital social, bem como o limite de sua
responsabilidade subsidiária) e os termos “valor nominal”, “valor patrimonial”,
“valor de negociação” e “valor econômico”. São os fundadores que fixam o preço
de emissão na constituição da companhia. Caberá à assembléia geral ou ao
conselho de administração quando se tratar de emissão de novas ações.

Por critérios legais, a companhia será sempre empresária, mesmo que suas
atividades sejam inteiramente de natureza civil. Os atos constitutivos devem
sempre ser arquivados na Junta Comercial. Há também a necessidade que a
finalidade dessa sociedade seja voltada à obtenção do lucro. Portanto as
associações, que são instituições de natureza civil, de fins não lucrativos, estão
impossibilitadas de se registrarem sob a designação de sociedades anônimas. O
objeto social da companhia deve vir explicitado em seu respectivo artigo
estatutário de modo preciso.

A sociedade anônima deverá sempre ser designada por denominação,


conforme reza o caput artigo 3º da LSA. Essa denominação deve vir
acompanhada da expressão “sociedade anônima” – cabendo abreviação e
podendo vir em qualquer ordem – ou “companhia”, que também poderá vir na
forma abreviada porém nunca será admitida ao final; o uso de uma exclui o uso da
outra. O nome de algum acionista, fundador ou qualquer outra que por ventura
possa ser homenageado poderá figurar na denominação. Aqui se pretende deixar
claro não ser obrigatório essa prática, necessária em outros modos societários.
Uma sociedade não pode usar denominação idêntica a de outra. Se ocorrer,
poderá a parte prejudicada requerer o direito de modificação, seja por meios
administrativos, seja por meios judiciais, além de demandar as perdas e danos
resultantes. Em 1940, o decreto-lei n.2627, obrigava haver na denominação a
indicação dos fins sociais; devido a sua inviabilidade prática, essa prática não é
mais obrigatória.

CLASSIFICAÇÃO E CONSTITUIÇÃO

A classificação entre aberta ou fechada, reside na disponibilidade ou não


dos valores mobiliários de uma sociedade por ações, no mercado de negociação
da bolsa de valores, ou no mercado de balcão. Se a companhia admite que os
valores mobiliários de sua emissão sejam negociados será considerada aberta;
nos demais casos será fechada. Uma companhia ter seus valores mobiliários
admitidos na bolsa de valores ou no mercado de balcão representará maior
liquidez do investimento representado por tais títulos. Porém será necessária uma
permissão prévia do governo federal para que essa sociedade esteja apta a tal
prática. Caberá ao CVM (Comissão de Valores Mobiliários) a concessão desse
registro. É dever da CVM juntamente ao Banco Central, exercer a supervisão e o
controle do mercado de capitais, de acordo com diretrizes traçadas pelo CMN
(Conselho Monetário Nacional). A Bolsa de Valores é uma entidade privada,
formada pela associação de sociedades corretoras, ela conta com monopólio
territorial e exerce um serviço público. É o Banco Central que permite sua criação,
e seu funcionamento é monitorado pela CVM. Já o mercado de balcão representa
todo tipo de negociação de valores mobiliários fora da Bolsa. São comercializados
por sociedades corretoras e instituição financeira ou sociedades intermediárias
autorizadas. A emissão de novas ações e outras subscrições de valores
mobiliários só pode ser feita no mercado de balcão por se tratar de mercado
primário. A bolsa de valores só trabalha com o mercado secundário (venda e
aquisição de valores mobiliários).

Uma sociedade tem que atender a alguns requisitos para ser considerada
brasileira. De acordo com o Decreto-lei n. 2627, de 1940 (antiga legislação do
anonimato), em seu artigo 60, mantido pela LSA em seu artigo 300; uma
companhia é nacional se for constituída de acordo com a legislação brasileira e
tendo no Brasil a sua sede administrativa. Não será importante ser considerada a
nacionalidade do capital ou dos acionistas. A antiga lei do anonimato ainda rege
empresas constituídas de acordo com legislação estrangeira, ou com sede de
administração no exterior.

A constituição de uma sociedade anônima deve atender a algumas etapas.


A subscrição é uma dessas etapas, de acordo com Fábio Ulhoa Coelho, em sua
obra Curso de Direito Comercial, vol. 1, “ela se trata de um contrato plurilateral
complexo pelo qual uma pessoa se torna titular de uma ação emitida por uma
sociedade anônima”. Há algum tempo era necessário que o capital social fosse
subscrito por no mínimo sete acionistas para haver validade da constituição. Hoje
é exigido somente dois acionistas como o mínimo. Todas as ações que
representem o capital social devem estar subscritas, sendo a subscrição
irretratável..

Há dois modelos de constituição previstos pela legislação especializada: a


constituição por subscrição pública, que busca, na pessoa de seus fundadores,
recursos para a constituição da sociedade junto a investidores; e a constituição
por subscrição particular, em que não há o apelo, por parte da companhia, ao
público investidor. A regulamentação da emissão pública de ações está no art. 19,
§ 3º, da Lei n.6385/76. A constituição deverá ser registrada na CVM. Esta por sua
vez usará critérios técnicos para analisar o pedido de registro. Após verificar a
viabilidade econômica e financeira do empreendimento, o projeto do estatuto e o
prospecto; a CVM terá capacidade jurídica para indeferir o registro alegando
inviabilidade ou temeridade da empresa, ou também inidoneidade dos fundadores.
Estes deverão contratar uma instituição financeira para intermediar junto à CVM a
colocação de ações no mercado. A segunda etapa da constituição sucessiva é a
subscrição das ações que representarão o capital da sociedade. À instituição
financeira caberá o trabalho de oferecer ao público investidor as ações.

Assim que todo o capital estiver subscrito , os fundadores convocarão a


assembléia de fundação, quando serão avaliados os bens oferecidos para a
integralização. Pode ocorrer nessa mesma assembléia a deliberação sobre a
constituição, e todos os acionistas de qualquer espécie ou forma, nessa
oportunidade, terão direito a voto. Logo em seguida, proclama-se a constituição e
elegem-se os administradores e fiscais.

A constituição por subscrição particular se dá de maneira mais simples. Já


na assembléia de fundação os subscritores poderão deliberá-la, cabendo aos
fundadores assinar o projeto do estatuto. Ou então poderá ser realizada por
escritura pública, sendo que todos subscritores deverão assinar a escritura
pública. Os requisitos de seu conteúdo estão predefinidos no artigo 88 da Lei das
Sociedades por Ações

Para ambas as modalidades de constituição há requisitos complementares


previstos em lei como o registro e publicação dos atos constitutivos, o que
permitirá à companhia a exploração de suas atividades comerciais regularmente.

VALORES MOBILIÁRIOS E CAPITAL SOCIAL

Os valores mobiliários são títulos de investimento lançados pela sociedade


anônima visando a arrecadação de recursos necessários. A ação é um exemplo,
porém devido a sua importância será observada com mais detalhes a frente, os
outros valores mobiliários são as debêntures, as partes beneficiárias, o bônus de
subscrição e a nota promissória.

De acordo com a LSA, podemos definir debêntures como títulos


negociáveis com valor nominal e estranhos ao capital social, que conferem a seus
titulares direito de crédito não eventual contra a companhia. Para a sociedade
anônima é interessante a emissão de debêntures no mercado, quando há a
necessidade de captação de novos recursos e a companhia não prefere as
opções de emitir novas ações ou pedir empréstimos a instituições financeiras. As
debêntures podem ser convertidas em ações; podem conter cláusula de correção
monetária podem conter a seu titular juros, fixos ou variáveis, participação no lucro
da companhia e reembolso. Excepcionalmente, podem ter o pagamento estipulado
em moeda estrangeira, ter garantia real ou flutuante, gozar de preferência, ser
amortizadas parcialmente e ter resgate antecipado. Porem há um limite em sua
emissão, que é o valor do capital social.

As partes beneficiárias (art. 46 ao art. 51 da LSA) são títulos negociáveis


sem valor nominal e estranhos ao capital social e com prazo de duração.
Conferem a seus titulares direito e crédito eventual, consistente na participação de
lucros a cada ano da companhia emissora. As partes beneficiárias podem ser
vendidas ou doadas pela companhia, podendo, também conter clausulas de
conversão em ações. Caberá ao estatuto fixar a participação (que não passará de
10% dos lucros) e o prazo de duração.

Os bônus de subscrição permitem a seu possuidor (que paga o preço de


emissão equivalente por esse título) subscrever ações da companhia emissora se
houver um futuro aumento de capital desta. Esse titulo é muito pouco usado no
Brasil.

As notas promissórias são alternativas para captação de recursos a curto


prazo (de 30 a 180 dias). Não são previstas pela LSA, entretanto foram
regulamentados pela Instrução n. 134, de 1990 disciplinada pela CVM.
As ações são valores mobiliários que representam o capital social e
conferem a seus titulares direitos e deveres. As ações são ordinárias,
preferenciais ou de fruição. As ações ordinárias são obrigatórias e conferem a
seus titulares os direitos de acionista comum. as ações preferenciais conferem a
seus titulares vantagens especiais como a prioridade na distribuição de
dividendos, elas podem conferir direito a voto a seus titulares. As ações de fruição
são emitidas em substituição a ações integralmente amortizadas.

Pela LSA as ações eram classificadas em nominativas, endossáveis, ao


portador ou escriturais. Em 1990, a Lei 8021 extinguiu as formas ao portador e
endossáveis; ambas eram desprovidas de certificado. A ação é nominativa quando
o nome de seu titular figura no respectivo certificado. A ação endossável é um tipo
de nominal porem contém a particularidade de ser transferível por endosso em
preto ou em branco. Os certificados são instrumentos materiais que representam
as ações. Só podem ser emitidos após o arquivamento dos atos constitutivos na
Junta Comercial e sua publicação. Há casos em que é necessária uma
autorização governamental para que se autorize o funcionamento da companhia.
Nesses casos a emissão das ações deverá esperar tal permissão.

O capital social de uma empresa geralmente é integralizado em dinheiro,


contudo é possível que haja integralização com bens (o que demanda um
procedimento de avaliação especial regrada pelo art. 8º da LSA) ou créditos. As
formas mais comuns de expansão de capital da sociedade anônima são: a
emissão de ações, a emissão de valores mobiliários e a capitalização de recursos
e reservas. O aumento desse capital pode ser previamente autorizado pelo
estatuto dentro de certo limite, que é conhecido como capital autorizado.

Quando há superdimensionamento (excesso de capital social) e irrealidade


do capital social pode-se falar em redução do capital social da companhia (LSA,
art. 173).
ÓRGÃOS SOCIAIS E A ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE

Os principais órgãos da sociedade anônima são: a assembléia geral (LSA,


capítulo XI), o conselho de administração (LSA capitulo XII, seção I), a diretoria
(LSA capitulo XII, seção II) e o conselho fiscal (capítulo XIII).

A assembléia geral é o poder supremo da companhia, da qual emanam as


diretrizes. Suas atribuições estão expressas no art. 122 da LSA. A assembléia
geral ordinária é realizada quatro meses após o término do exercício social
(atividade empresarial, no lapso de um ano predefinido no estatuto). Suas
competências estão dispostas no art. 132 da LSA. A assembléia geral
extraordinária é facultativa e sem época para ser realizada. A deliberação de
assuntos de interesses da empresa demandará um quorum diferente para cada
situação. A ação contra decisão tomada em uma assembléia prescreve em dois
anos.

A existência do conselho de administração é facultativa (assim como será


facultativo o conselho fiscal), a não ser nas companhias abertas, nas de capital
autorizado e nas de economia mista. Trata-se de colegiado de caráter deliberativo.
Tal conselho deverá ter o mínimo de três integrantes que trabalharão num
mandato inferior a três anos. Os membros, necessariamente serão acionistas e
serão eleitos (e possivelmente reeleitos) ou destituídos do cargo pela assembléia
geral.

A diretoria não é um órgão de existência facultativa. É de caráter executivo


e compete-lhe a representação legal da companhia. O número de membro deverá
ser de no mínimo dois, com mandato de no máximo três anos. Os diretores não
precisam ser acionistas e serão escolhidos pelo conselho administrativo (e pela
assembléia geral, se este não houver). Os diretores são destituíveis pelo órgão
que os escolher. O estatuto especificará o diretor responsável pela representação
legal da companhia. Caso não haja tal especificação, qualquer diretor será apta a
representar legalmente a sociedade anônima. Seus membros são reelegíveis.

O conselho fiscal é de existência obrigatória, porém seu funcionamento é


facultativo. Tem suas funções especificadas na LSA em seu artigo 163. É
destinado à fiscalização dos outros órgãos.

A LSA definiu, em seus artigos 145 a 160, como administradores tanto os


membros do conselho administrativo, quanto os diretores. Tais funcionários da
companhia deverão atentar ao dever de diligência (administrar com prudência
atendendo os objetivos da companhia e a função social da empresa); ao dever de
lealdade (não usar, para si ou para outrem, informações conseguidas através de
seu cargo) e o dever de informar (divulgar decisões que possam influir na decisão
dos investidores de mercado mobiliário). O administrador poderá responder por
culpa ou dolo por ato ilícito ou por prejuízo que causar. A própria companhia
poderá por vias judiciais pedir a responsabilização do administrador por prejuízo
causado. Esse tipo de ação prescreve em três anos. Os administradores poderão
responder civilmente e penalmente, além de administrativamente na CVM.

As demonstrações financeiras que os acionistas, ao fim do exercício legal,


em assembléia geral ordinária deverão analisar são as seguintes: balanço
patrimonial; demonstração dos lucros acumulados; demonstração do resultado do
exercício; demonstração da origem e aplicação dos recursos. As demonstrações
financeiras devem ser assinadas por todos os administradores e por um
contabilista. As de companhia aberta devem ser objeto de auditoria por auditor
registrado na CVM.

LUCROS, RESERVAS E DIVIDENDOS


Do resultado do exercício deverão ser deduzidos, primeiramente os
prejuízos acumulados, e a provisão para o imposto de renda. De restante devem
ser deduzidas as participações estatutárias de empregados, administradores e
partes beneficiárias, nessa ordem. Uma parte do lucro ficará necessariamente
retida na companhia através do que é chamado de reserva legal. O restante dessa
dedução será chamado de lucro líquido e será destinado a ficar nas mãos da
própria sociedade ou se tornará título de dividendos, sendo assim distribuído entre
os acionistas. Deve-se observar que essa cota não se trata do dividendo
obrigatório (sempre dividida entre os acionistas). Caberá a diretoria sugestionar o
melhor destino para o lucro restante do exercício. Será da assembléia geral a
competência de analisar a proposta da diretoria e decidir entre constituição de
reserva de lucro, distribuição de dividendos ou aumentar o Capital social através
de capitalização.

Há cinco tipos de reserva de lucros. Do lucro líquido, 5% serão destinados à


formação da “reserva legal” (desde que não ultrapasse 20% do capital social). É
uma aplicação obrigatória. A assembléia geral poderá destinar parte do lucro
líquido à formação de reservas prevendo futura queda de rendimento, esse tipo de
reserva será chamada de “reserva de contingência”. A “retenção de lucros”
também partirá da assembléia geral, esta reserva deverá ser prevista no
orçamento. A “reserva de lucros a realizar” será destinada a evitar a distribuição
de recursos que deverão fazer parte do próximo exercício por parte dos acionistas.
Por fim, se os acionistas, por cautela ou por necessidade específica da companhia
poderão lançar mão de reservas “estatutárias”

Para impedir que os acionistas majoritários investissem o capital da


sociedade sem repassar aos acionistas minoritários, a LSA inovou obrigando em
seu texto legal que seja distribuído entre todos os acionistas uma parcela do lucro
líquido, a ser definida pelo estatuto. A isso dá-se o nome de “dividendos
obrigatórios”. Tal divisão só não ocorrerá em sociedade anônimas de capital
fechado, por deliberação da assembléia geral por unanimidade. Nas de capital
aberto somente em casos em que a situação financeira não for compatível com o
pagamento.

O FIM DA COMPANHIA OU SUA REORGANIZAÇÃO

O procedimento para uma sociedade anônima se extinguir passa pela


dissolução, liquidação. Ou então através da incorporação,fusão e cisão, que
analisaremos em seguida.

Na dissolução, embora conservando a personalidade jurídica, pára suas


atividades normais visando a seu desaparecimento A dissolução na sociedade
anônima ocorre nos casos de término da duração, com previsão do estatuto, por
deliberação da assembléia geral e pela extinção da autorização para funcionar.
Pode também haver dissolução por vias judiciais quando qualquer acionista
propuser ação anulando a constituição. Também em casa e falência. Há
dissolução também por parte de autoridades administrativas competentes
legisladas por legislação especial.

A liquidação vem depois da dissolução. É uma serie de atos que ultima os


negócios sociais, realiza os ativos, paga os passivos partilha o remanescente
entre os sócios. Assim que se encerra a liquidação, a companhia deixa de ser
pessoa jurídica, a isso dá-se o nome de “extinção”. Só acontece extinção direta
quando não resta nada a liquidar, hipótese difícil de se ver realizada.

As sociedades podem se reorganizar através de quatro modalidades.


Caberá aos sócios adotar o modelo que mais se adequa à atividade praticada.

A transformação é a mudança do tipo societário. Não acarreta dissolução e


liquidação. É importante observar que a transformação não extingue a
personalidade jurídica nem cria outra. A não ser quando o ato constitutivo admite
transformação o procedimento exige unanimidade de todos os acionistas, inclusive
dos detentores de ações preferenciais sem direito a voto.

A incorporação é o processo através do qual uma companhia absorve


outras, enquanto na fusão, há a união de duas ou mais sociedades dando origem
a uma nova. A cisão consiste na transferência de parte do patrimônio social de
uma sociedade para outra ou mais sociedades. Como dito anteriormente, nos três
últimos casos há o fim da personalidade jurídica de pelo menos uma das
sociedades. Elas são condicionadas a aprovação do CADE (Conselho
Administrativo Defesa Econômica) sempre que a empresa tiver participação
relevante no mercado. As empresas que emitem debêntures também estarão
condicionadas a aprovação dos debenturistas reunidos em assembléia, a menos
que se garanta o resgate dos valores mobiliários nos seis meses seguintes à
operação.

CONCLUSÃO

A Sociedade anônima tornou-se peça fundamental na economia


globalizada. Através do trabalho exposto procurou-se demonstrar a sua viabilidade
para receber grandes investimentos e sua grande capacidade de produzir e gerar
o lucro. Sua organização garante ao praticante da atividade empresaria a tomada
certa de decisões através das várias estratificações previstas pela LSA. Seus
títulos, livremente negociáveis, permitem que qualquer um (dentro dos requisitos
necessários) adquirente configure em seu quadro societário.

As ações e suas negociações são partes intrínsecas da economia mundial,


tendo um histórico adverso, desde serem consideradas uma fonte de dinheiro
rápido através de investimento a curto prazo, após a primeira Guerra Mundial, até
serem responsáveis por grandes crises econômicas de nossa história. A crise de
1929, após a quebra da bolsa de Nova Iorque, foi fundamental para maior
maturidade do setor, pois a falência decorrida por um investimento desenfreado
em um mercado tão abstrato, mostrou ao Mundo que as ações podem ser e são
ótimas modalidades de investimentos, mas não a febre de outrora. Porém
novamente o Mundo se veria em volta da crise por causa de investimentos em
mercado de ações, durante o segundo mandato do republicano Reagan nos
Estados Unidos. Todo o desenvolvimento do mercado de Bolsa de Valores
adquirido, que nos chega no início do Terceiro Milênio, depois de tantas crises e
choques, dá-se de maneira muito mais controlada, principalmente para fins
trabalhistas e tributários.

BIBLIOGRAFIA:

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 1. 6. ed. Ver. e atual. – São
Paulo: Saraiva, 2002.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2. 7.ed. ver. e atual. – São
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BULGARELLI, Waldirio. Manual das Sociedades Anônimas. 10. ed. – São Paulo: Atlas,
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REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, volume 2. 20. ed. – São Paulo: Saraiva,
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CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de sociedades anônimas, volume 1 – São


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ASCARELLI, Tullio. Problemas das sociedades anônimas e direito comparado –


Campinas: Bookseller, 1999.

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