Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 de Junho de 2010
1
Conteúdo
Conteúdo 2
1 Introdução 7
2 Segurança estrutural 9
2.1 Risco em engenharia civil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2 Probabilidade de rotura aceitável . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3 Fiabilidade estrutural 13
3.1 Revisões de probabilidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.2 Probabilidade condicionada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.3 Distribuições de probabilidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.4 Problema fundamental da fiabilidade estrutural . . . . . . . . . 20
6 Acção do vento 47
6.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
6.2 Métodos de análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
6.3 Acção do vento sobre estruturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
6.4 Velocidade do vento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
6.5 Acção do vento em edifı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
6.6 Exercı́cio 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
7 Acção da neve 73
7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
7.2 Quantificação da acção da neve . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
2
7.3 Modelação da acção da neve . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
7.4 Situação persistente vs. acidental . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
7.5 Exercı́cio 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
7.6 Exercı́cio 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
Bibliografia 121
3
Prefácio
5
Capı́tulo 1
Introdução
7
Capı́tulo 2
Segurança estrutural
9
Se uma casa mal construı́da causa
a morte de um filho do dono da
casa, então o filho do construtor
será condenado à morte
Risco = Pf × C (2.1)
em que Pf é a probabilidade de um evento ocorrer e C é o custo associado a
esse evento.
A probabilidade de rotura deve ser definida em termos do custo associado
a cada evento. Esta relação conduz a dois conceitos importantes. Por um lado,
devemos considerar probabilidades de falha mais baixas, ou seja, margens de
segurança maiores, para estruturas cuja falha esteja associada a maiores custos.
Por exemplo, uma barragem ou uma central nuclear deve ter uma probabilidade
de falha menor que uma edifı́cio de habitação que, por outro lado, deve ter uma
probabilidade de falha menor que um edifı́cio agrı́cola.
Por outro lado, temos que diferenciar o que designamos por falha. Assim,
o colapso de um edifı́cio tem que estar associado a uma probabilidade de falha
mais baixa que o aparecimento de fendas. Embora ambas as situações devam
ser evitadas, a primeira está associada a custos muito mais altos.
Rapidamente se conclui que a análise de segurança de uma estrutura é um
problema probabilı́stico, e que só poderá ser compreendido se tivermos em
conta as propriedades estatı́sticas dos vários parâmetros.
10
o custo e a segurança. Se considerarmos o custo medido pelo risco, como
apresentado na eq. (2.1), podemos dizer que a estrutura ideal é a de menor
custo total, como apresentado na Figura 2.2.
Custo Total
Custo
Custo Construção
Risco
Segurança
Para estruturas comuns, não faz sentido em realizar uma análise de risco,
sendo preferı́vel definir qual a probabilidade de falha aceitável para uma classe
de estruturas baseado em resultados como os apresentados na Figura 2.2.
A principal dificuldade desta metodologia prende-se com a definição de
custo de falha, já que é necessário contabilizar perdas de vidas humanas, custos
de reconstrução e custos sociais e polı́ticos.
Outra alternativa consiste em definir a probabilidade falha máxima aceitável
por comparação com outros riscos que se considera semelhantes. Na Tabela
2.1 apresenta-se a probabilidade de morte de uma pessoa exposta a diferentes
ambientes ao longo de um ano. Verifica-se que o valor de mortes devida a
falha estrutural é extremamente baixo, mesmo quando comparado com outros
eventos raros.
11
Tabela 2.1: Probabilidade de morte em diferentes actividades (adaptado de [2])
12
Capı́tulo 3
Fiabilidade estrutural
13
contı́nuo ou discreto. No primeiro caso o número de amostras possı́veis é
contı́nuo enquanto no segundo caso o número de amostras é finito ou contável.
Um evento é um sub-conjunto do espaço de amostragem e representa um
conjunto de amostras. Um evento único consiste numa única amostra enquanto
um evento composto consiste em mais do que uma amostra. Se Ω representar o
espaço de amostragem e se E representar um evento, então pode ainda definir-
se o complemento do evento E por E, que corresponde a todos os pontos de
amostragem em Ω que não estão contidos em E.
A probabilidade de ocorrência de um evento E pode ser definida como:
nE
p = limn→∞ (3.1)
n
em que nE é o número de vezes que se observa o evento E num total de n
observações. Define-se assim uma medida de probabilidade, P , que pode ser
atribuı́do a cada evento, definido-se probabilidade do evento E pelo sı́mbolo
P (E).
Em Engenharia Civil esta definição é pouco útil, já que não é possı́vel con-
struir um grande número de estruturas e verificar qual o número de colapsos.
Assim, a noção Bayesiana de probabilidades, que considera que a probabilidade
é o grau de certeza de que um determinado evento vai ocorrer, é substancial-
mente mais útil.
A noção Bayesiana de probabilidade é bastante mais subjectiva, depen-
dendo de quem faz a análise e em que condições. No entanto, é bastante
mais intuitiva, já que serve de base à tomada de decisões quotidiana. Em
geral, não necessitamos de definir numericamente a probabilidade de um carro
se aproximar demasiado depressa, quando atravessamos a rua, mas avaliamos
essa probabilidade de um modo intuitivo e qualitativo.
A teoria de Bayes é apenas uma quantificação dessa metodologia. Desse
modo, podemos definir a teoria da probabilidade com base em 3 axiomas:
0 ≤ P (E) ≤ 1 (3.2)
14
Caracterização de variáveis aleatórias
Uma variável aleatória pode ser definida através de uma função que relacione
os possı́veis valores de um parâmetro com a sua probabilidade de ocorrência
ou a probabilidade daqueles serem ultrapassados. Para variáveis contı́nuas,
geralmente utilizadas em segurança estrutural, é fundamental definir a função
de probabilidade cumulativa, (FX ), dada por:
FX (x) = P (X ≤ x) (3.5)
É também útil definir a função de densidade de probabilidade (fX ) dada
por:
∂FX (x)
fX (x) = (3.6)
∂x
Na Figura 3.1 é apresentado o exemplo de uma função densidade de prob-
abilidade e correspondente função probabilidade cumulativa.
0.015
1.0
Probabilidade Acumulada
0.8
0.010
Probabilidade
0.6
0.4
0.005
0.2
0.000 0.0
Z +∞
µ= x f (x) dx (3.7)
−∞
Z +∞
2 2
V ar = σ = (x − µ) f (x) dx (3.8)
−∞
σ
CoV = (3.10)
µ
15
Este indicador é adimensional, permitindo assim a comparação da variabil-
idade de grandezas de escalas muito diferentes (módulo de elasticidade versus
extensão máxima).
Quando um problema involve mais que uma variável aleatória, é fundamen-
tal avaliar a relação entre as várias variáveis. Em engenharia civil, diferentes
variáveis podem estar intimamente relacionadas, e esta relação pode ter im-
pactos significativos em termos de segurança estrutural. O modo mais simples
de relacionar duas variáveis aleatórias é o coeficiente de correlação, dado por:
E[(X − µX )(Y − µY )]
ρX,Y = (3.11)
σX σY
onde E[] representa o valor esperado e X e Y são duas variáveis aleatórias. A
correlação indica se a relação entre as duas variáveis tende a ser linear. Na
Figura 3.2 são apresentados exemplos de variáveis fortemente correlacionadas
e variáveis não correlacionadas. Se as variáveis forem perfeitamente correla-
cionadas, o coeficiente de correlação toma os valores 1 ou -1, conforme um
maior valor de uma das variáveis esteja associado a uma maior ou menos valor
da outra, respectivamente. Se as variáveis forem independentes, então são não
correlacionadas (ρ = 0).
Em geral, diferentes propriedades do mesmo material apresentam correlação
significativa, e esta deve ser considerada na análise de segurança.
ρ=0
2 1.0
ρ≃1
Variável Y
Variável Y
1 0.5
0 0.0
0.0 0.5 1.0 0.0 0.5 1.0
Variável X Variável X
P (A ∩ B)
P (A|B) = (3.12)
P (B)
ou, alternativamente:
16
P (A ∩ B) = P (A|B) × P (B) (3.13)
Como exemplo de aplicação do teorema de Bayes, considere-se o pilar de
uma ponte. Este pilar pode sofrer o impacto de um camião (P = 10%) ou de
um carro (P = 20%). No caso de um impacto por um camião, a probabilidade
de rotura é 50%, no caso do automóvel 20%. O objectivo é determinar qual a
probabilidade de ocorrer a rotura do pilar.
O problema pode ser analisado usando uma árvore de eventos. Assim,
temos três eventos iniciais: (i) impacto de camião, (ii) impacto de automóvel,
e (iii) não ocorre impacto. A probabilidade de cada um destes eventos é um
dos dados do problema. A probabilidade de falha, sabendo que cada um destes
eventos aconteceu é dada por:
Camião 0.5
1
Sem Impacto Sem Falha 0.7
17
probabilidades de falha na sequência de impacto de um camião pela probabil-
idade de falha:
• Normal
• Lognormal
• Poisson
Distribuição normal
A distribuição normal é extremamente comum em engenharia, já que qualquer
grandeza resultante da soma de várias variáveis aleatórias independentes tende
para uma distribuição normal.
A distribuição normal, ou Gaussiana, é simétrica, caracterizada por moda
igual à média, como apresentado na Figura 3.4, e tem função de densidade de
probabilidade:
(x − µ)2
1 −
f (x) = √ exp 2σ 2 (3.20)
σ 2π
onde µ e σ são a média e o desvio padrão.
Esta expressão é relativamente complexa e, frequentemente, considera-se a
distribuição normal padrão, Y , definida por:
X −µ
Y = (3.21)
σ
A função densidade de probabilidade da distribuição normal padrão é dada
por:
x2
1 −
f (x) = √ exp 2 (3.22)
2π
O valor desta função, assim como do seu integral (correspondente à função
de probabilidade cumulativa) é apresentado em Tabelas e na maioria das máquinas
de calcular cientı́ficas.
A distribuição normal é, em engenharia civil, utilizada para modelar as
propriedades de um grande conjunto de grandezas. Em particular, o peso
próprio de materiais, a módulo de elasticidade do aço e do betão, ou os er-
ros geométricos em elementos podem, em geral, ser modelados como variáveis
normais.
18
0.015
0.010
Probabilidade
0.005
0.000
Vari ável
X ∼ N (µ, σ) ⇒ Y = k · X ∼ N (k · µ; k · σ) (3.23)
Além disso a soma de duas variáveis com distribuição normal, é uma variável
com distribuição normal. Assim, para X1 e X2 estatisticamente independentes:
X1 ∼ N (µ1 , σ1 )
q
⇒ X1 + X2 ∼ N µ1 + µ2 ; σ12 + σ22 (3.24)
X2 ∼ N (µ2 , σ2 )
n
X
Y = a0 + ai · X i (3.25)
i=1
19
Distribuição lognormal
A distribuição lognormal é obtida por exponenciação da distribuição normal.
Assim, se X for uma variável aleatória normal, Y = eX tem distribuição log-
normal. Como a combinação linear de variáveis normais é normal, também o
produto e exponenciação de variáveis lognormais é lognormal.
Esta distribuição tem a vantagem de tomar apenas valores positivos. Verifica-
se que o produto de variáveis aleatórias independentes tende para uma dis-
tribuição lognormal.
0.4
Probabilidade
0.2
0.0
Variável aleatória
Distribuição de Poisson
A distribuição de Poisson é útil para modelar o número de vezes que dado
evento ocorre num perı́odo de tempo. É utilizada para definir o intervalo
de tempo entre sismos, ou outros eventos raros. A função de densidade de
probabilidade desta distribuição é dada por:
e−λ λk
P (N = k) = em que 1/λ é o perı́odo de retorno.
k!
20
0.45
0.4
0.35
0.3
Probabilidade
10
0.25
5
0.2
2
0.15 1
0.1
0.05
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Variável
Podemos dizer que a estrutura não falha enquanto a resistência R for maior
que o efeito das acções S.
Podemos definir uma função g, designada função estado limite, e uma
variável Z, denominada margem de segurança, dadas por:
Z <0 Ocorre falha
Z = g(R, S) = R − S → Z =0 Situação limite (3.27)
Z >0 Não ocorre falha
Pf = P (Z < 0) (3.28)
R ∼ N (µR , σR )
(3.29)
S ∼ N (µS , σS )
µZ = p
µR − µS
2 + σ2 (3.30)
σZ = σR S
21
! !
Z − µZ − µZ µZ
pf = P (Z < 0) = P < =Φ − (3.31)
σZ σZ σZ
n
X
µZ = a0 + ai × µxi (3.33)
i=1
v
u n
uX
σZ = t a2i × σx2i (3.34)
i=1
Exemplo
Consideremos uma viga metálica simplesmente apoiada de comprimento L =
8m, a que é aplicada uma carga vertical P a meio vão, como representado na
Figura 3.7. Considere que a força P tem distribuição Gaussina com média
15kN e desvio padrão 4 kN. Considere que o momento de flexão elástico (wel )
é caracterizado por uma distribuição normal de moda 3 × 10−4 m3 e variância
9 × 10−10 m6 . Considere que a tensão de cedência do aço (fy ) é 200MPa.
O momento máximo actuante na viga é dado por:
Pl
Ms = (3.35)
4
O momento resistente é dado por:
Mr = wel × fy (3.36)
Assim, a função estado limite pode ser dada por:
22
Pl
Z = Mr − Ms = wel × fy − (3.37)
4
Considerando que apenas as variáveis P e wel são variáveis aleatórias, a
função Z é uma combinação linear de variáveis aleatórias normais. Assim, a
média e o desvio padrão de Z são dados por:
n
X l
µZ = a0 + ai × µxi = 0 + fy × µwel − × µP (3.38)
i=1
4
v v !2
u n u
u X
2
u l
σZ = t ai × σxi = tfy2 × σw
2 2 + − × σP2 (3.39)
i=1
el
4
8
µZ = 200 × 103 × 3 × 10−4 − × 15 = 30kN · m (3.40)
v 4
u !2
u 8
σZ = t(200 × 103 )2 × (3.0 × 10−5 )2 + − × 42 = 7.48kN · m (3.41)
4
23
Capı́tulo 4
Avaliação semi-probabilı́stica da
segurança
4.1 Introdução
Quando se analisa uma estrutura é fundamental garantir que esta tenha uma
probabilidade de atingir o colapso extremamente baixa e que permaneça ad-
equada ao uso durante toda a sua vida útil. Estas duas condições devem ser
verificadas considerando as acções a que a estrutura pode estar sujeita durante
a sua vida.
Por exemplo, sabendo que é impossı́vel prever qual o maior sismo que ocor-
rerá em Portugal nos próximos 50 anos ou qual será o maior nevão na Guarda
no próximo ano, resulta que esta avaliação terá que ser, necessariamente, prob-
abilı́stica.
No Capı́tulo anterior, foram abalizados métodos probabilı́sticos para avaliar
a segurança de estruturas. No entanto, estes métodos são relativamente com-
plexos, e a sua utilização para estruturas correntes é desnecessária, sendo pre-
ferı́vel aplicar métodos simplificados.
Os regulamentos modernos preconizam métodos de verificação da segurança
baseado no método dos coeficientes parciais de segurança. Este é um método
usualmente designado por semi-probabilı́stico, no sentido em que, embora se
considere que os vários parâmetros que influenciam a segurança da estrutura
são probabilı́sticos, se mede a probabilidade de rotura de um modo indirecto.
Neste capı́tulo será descrito o método dos coeficientes parciais de segurança,
focando-se a análise na norma EN1990, também designada Eurocódigo 0.
4.2 Objectivos
O objectivo do engenheiro civil é dimensionar e projectar estruturas que, com
o adequado nı́vel de fiabilidade e de um modo económico:
25
• tenham uma capacidade resistente suficiente, por um perı́odo de tempo
adequado, quando sujeitas a um incêndio
• não sejam afectadas por eventos como explosões, erros humanos ou im-
pactos de um modo que seja desproporcionado à causa original (robustez).
4.3 Eurocódigos
Em 1975, a Comissão da Comunidade Europeia optou por um programa de
acção na área da construção, com objectivo de eliminar entraves técnicos ao
comércio e a harmonização das especificações técnicas. Com efeito, a existência
de diferentes regulamentações em diferentes paı́ses dificultava enormemente a
competição entre empresas de diferentes paı́ses, limitando um dos objectivos
da União Europeia.
Assim, foram elaboradas um conjunto de regras técnicas harmonizadas para
o projecto de obras de construção as quais, numa primeira fase, serviriam
como alternativa para as regras nacionais em vigor nos Estados-Membros e
que, posteriormente, as substituiriam.
O desenvolvimento destes regulamentos resultou numa primeira geração dos
Eurocódigos na década de 80. Em 1989 foi decidido converter os Eurocódigos
em documentos normativos EN.
O programa relativo aos Eurocódigos Estruturais inclui as seguintes normas,
cada uma das quais é, geralmente, constituı́da por diversas Partes, como se
apresenta na Tabela 4.1.
Embora o objectivo fosse o desenvolvimento de normas uniformes a nı́vel
Europeu, rapidamente ficou claro que era necessário deixar espaço para que
cada estado membro pudesse incluir pequenas alterações, de modo a definir as-
pectos locais (velocidade do vento, altura de neve, intensidade de sismos), mas
também a introduzir regras que respeitassem as tradições de dimensionamento
e construção em cada paı́s.
Estas alterações são introduzidas nos anexos nacionais, que são incluı́dos
em cada parte dos Eurocódigos. Sempre que haja diferenças entre o documento
geral e o anexo nacional, prevalece o anexo nacional de cada paı́s.
26
4.4 Estados limite
Como foi referido, uma estrutura deve ser suficientemente resistente de modo
a evitar o colapso. Como as consequências do colapso de uma estrutura são
extremamente graves, o engenheiro tem que garantir que a probabilidade deste
evento é extremamente baixa. Como tal, para esta verificação, denominada
verificação a estados limite últimos, devemos considerar valores das acções com
uma probabilidade de serem excedidos muito baixa.
Por outras palavras, considerando o custo do colapso de uma estrutura,
para a verificação de estados limite últimos, consideramos valores das acções
(neve, vento, peso de veı́culos, etc.) muito maiores que aqueles que esperamos
que venham a surgir na estrutura.
Por outro lado, devemos verificar que a estrutura é durável e permanece
adequada ao uso durante toda a sua vida. No entanto, se as condições de
utilização não se verificarem, as consequências são substancialmente menos
graves, donde a probabilidade de serem violados os estados limite de utilização
pode ser substancialmente mais alta que na situação anterior. Assim neste
caso, consideramos valores das acções mais baixos, tanto mais baixos quanto
menos grave for a violação das condições.
No caso de estados limite de utilização, temos que distinguir duas situações
distintas: estados limite irreversı́veis e estados limite reversı́veis.
Os primeiros, sendo irreversı́veis, não devem ser ultrapassados durante a
vida da estrutura, enquanto os estados limite reversı́veis não devem ser ul-
trapassados durante perı́odos de tempo longos. Assim, devem considerar-se
diferentes valores das acções dependendo da gravidade do estado limite e da
sua reversibilidade.
Mais ainda, o nı́vel de fiabilidade requerido para uma dada estrutura de-
pende:
• da causa e/ou modo possı́vel de colapso;
• dos possı́veis consequências da rotura, em termos de perda de vidas e
potenciais perdas económicas
• da aversão pública a colapsos
• dos custos associados à redução dos custos do colapso
Na realidade, estes conceitos estão intimamente ligados ao conceito de risco
descrito anteriormente. A probabilidade aceitável de rotura deve diminuir com
o aumento dos custos associados à rotura. Ora estes custos dependem das
consequências da rotura, mas também do modo de rotura. Com efeito, antes da
ocorrência de uma rotura dúctil são, em geral, observáveis sinais de dano, o que
permite evacuar a estrutura e reduzir os custos associados ao colapso. Por outro
lado, uma rotura frágil ocorre sem aviso, aumentando as suas consequências.
Por outro lado, devemos considerar os custos sociais e polı́ticos de um co-
lapso. A rotura de uma estrutura de maior importância social, como sejam
pontes, escolas, ou hospitais, têm um maior impacto na sociedade, o que im-
plica que estas estruturas possam ser dimensionadas de modo a que sejam mais
seguras.
Além das limitações associadas a estados limite últimos e de utilização, o
Eurocódigo considera que os danos causados por eventos extraordinários, como
27
sejam impactos, explosões e erros humanos, não devem ser desproporcionados.
Este conceito de proporcionalidade entre ocorrência está associado à robustez
estrutural. No entanto, embora esta seja uma propriedade desejável das estru-
turas, não existe, neste momento, consenso como pode ser medida a robustez
estrutural.
28
Em termos de origem, as acções podem ser classificadas como directas ou
indirectas. As acções directas estão associadas a forças directamente aplicadas
à estrutura, como sejam sobrecargas ou peso da neve. As acções indirectas estão
associadas a deformações ou acelerações impostas, provocas por variações de
temperatura ou humidade, assentamentos diferenciais, ou sismos.
Vida útil
Cada estrutura é dimensionada para durar, sem reparações de grande dimensão,
um determinado perı́odo de tempo. Este perı́odo depende do tipo de estrutura,
da sua importância e da sua utilização. O perı́odo a considerar influência
não só as questões relacionadas com a durabilidade, mas também as acções a
considerar e, em alguns casos, a resistência da estrutura.
Assim, a probabilidade de uma estrutura ser sujeita a um grande nevão
aumenta com a sua vida útil, donde vidas úteis mais longas estão associadas a
acções de maior intensidade. Por outro lado, fundamentalmente em estruturas
metálicas, verifica-se que a resistência de uma secção depende do número de
ciclos de carga aplicados, associado ao fenómeno da fadiga. Assim, para estru-
turas com uma vida útil mais longa é necessário considerar um maior número
de ciclos e, consequentemente, assumir que estes vão ter maior impacto na
resistência. Também nas estruturas em madeira, se verifica uma redução da
resistência com o aumento do perı́odo de aplicação das cargas.
Devemos ter em atenção que nem todos os elementos da estrutura têm,
necessariamente, a mesma vida útil. Por exemplo, embora as pontes sejam
dimensionadas para uma vida útil de 100 anos, quer as juntas quer os aparelhos
de apoio têm vidas úteis substancialmente mais pequenas.
Em geral, a vida útil das estruturas pode ser definida como se apresenta na
Tabela 4.2.
• persistente
29
• transitória
• acidental
• sı́smica
• fadiga (FAT).
30
quando um elemento é sujeito a tensões próximas da tensão resistente, ciclica-
mente. Por acumulação de dano, e ao fim de um grande número de ciclos, a
rotura pode ocorrer para tensões inferiores à tensão resistente inicial.
• aparência da estrutura
• durabilidade
Rd ≥ Sd (4.1)
31
Valores de dimensionamento
Os valores de dimensionamento são definidos como valores pessimistas de cada
parâmetro da estrutura, escolhidos de modo a garantir uma probabilidade de
falha suficientemente baixa.
0.12
0.10
0.08
Probabiidade
0.06
0.04 Tensão
Característica
0.02
0.00
10 20 30 40
Tensão resistente
Figura 4.1:
32
a resistência à encurvadura, e outras formas de colapso por instabilidade, os
valores considerados para o módulo de elasticidade devem ser os valores carac-
terı́sticos, minorados por coeficientes parciais de segurança, já que, neste caso
especı́fico, o módulo de elasticidade afecta muito claramente a resistência do
elemento.
Por último, é necessário, em alguns casos, incluir o efeito do volume, escala,
humidade e duração das cargas. Isto é feito através de uma parâmetro η, na
forma:
Xk
Xd = η (4.2)
γm
Com efeito, em materiais frágeis, como seja a madeira e o vidro, a falha
de um elemento ocorre em torno do maior defeito. Por exemplo, sabemos que
um vidro que tem uma fissura ou um risco tem uma resistência substancial-
mente menor, e a rotura se inicia nesse defeito. Quanto maior for o elemento,
maior a probabilidade de existir um defeito significativo e, como tal, menor é
a resistência.
A humidade e a duração das cargas afecta a resistência da madeira, como
pode ser comprovado carregando uma estante com livros. Ao longo do tempo
as deformações das prateleiras aumentam, eventualmente levando ao colapso.
Todos estes fenómenos sao incluı́dos no parâmetro η.
Propriedades geométricas
As propriedades geométricas variam, em geral, relativamente pouco. Como
resultado, estas podem ser consideradas como definidas pelo seu valor nominal,
como definido em projecto.
Acções
As acções incluem todas as forças, pressões ou deslocamentos impostos que
possam ser aplicados à estrutura, quer por causas naturais, quer pelo homem.
Assim, são propriedades que são estocásticas, já que é impossı́vel prever a
máxima velocidade do vento, ou a máxima altura de neve sobre um edifı́cio
nos próximos 50 anos.
As acções são, à excepção das acções sı́smicas, definidas no Eurocódigo 1,
organizado nas seguintes partes:
33
• Parte 2: Acções de tráfego em pontes
• Parte 3: Acções induzidas por guindastes e máquinas
• Parte 4: Acções em silos e tanques
34
Acções acidentais As acções acidentais correspondem a fenómenos que não
se espera que a estrutura seja sujeita, como sejam impactos ou explosões. Como
resultado, estas acções são extremamente difı́ceis de quantificar. Em geral,
são definidos valores de dimensionamento com uma probabilidade de serem
excedidos de 10−4 .
Exemplo
Considere um tirante traccionado, como o representado na Figura 4.2. Con-
sidere que a tensão resistente tem uma distribuição normal com média 500MPa
e desvio padrão igual a 50MPa e a área da secção transversal tem um valor
nominal de 5cm2 . Considere que a força aplicada tem uma distribuição nor-
mal com média 80kN e desvio padrão 32kN. Assuma um coeficiente parcial de
segurança de 1.1 para a tensão resistente e 1.5 para a força.
Figura 4.2:
Rd ≥ Sd ⇔ A × σd ≥ Fd (4.5)
Considerando os valores dos coeficientes de segurança dados, temos:
σk
Rd ≥ Sd ⇔ A × ≥ Fk × 1.5 ⇔ 189.9kN ≥ 218.58kN (4.6)
1.1
Donde se conclui que a segurança não é verificada.
Como se pode concluir da equação 4.6, os dois lados da inequação são rela-
tivamente próximos, e portanto se a resistência ou a área do tirante fossem um
pouco maiores, já se verificaria a segurança. Apenas como exemplo, vejamos o
que acontece se compararmos os valores médios.
Rm ≥ Sm ⇔ A × σm ≥ Fm (4.7)
Substituindo pelos valores dados acima, temos:
Rm ≥ Sm ⇔ 250 ≥ 80 (4.8)
35
Ou seja, embora a resistência média seja 3 vezes superior à força actu-
ante média, a segurança não é verificada, já que a probabilidade de rotura é
demasiado elevada, como traduzido, indirectamente, na equação 4.6.
Esta relação é aproximadamente constante em todas as estruturas de engen-
haria civil, sendo maior quando a incerteza nas grandezas em jogo é maior (e.g.,
estruturas geotécnicas). Assim se compreende que o colapso de estruturas seja
tão raro, e quase sempre associado a erros graves, mais do que acções maiores
que o esperado.
Valor de combinação
O valor de combinação Ψ0 Qk é utilizado na combinação de acções e para a
verificação de estados limite de serviço irreversı́veis. O valor de Ψ0 é definido de
modo a que a probabilidade de ocorrer Q1, k+ψ0 Q2, k seja igual à probabilidade
de ocorrer Q1, k.
Qk Valor caracterı́stico
Ψ0 Qk Valor de combinação
Ψ1 Qk Valor frequente
Vida útil
Figura 4.3:
36
Valor frequente
O valor frequente é dado pelo produto Ψ1 Qk e é utilizado para a verificação
a situações acidentais e de estados limite reversı́veis. É definido de modo a
que só seja excedido durante uma pequena parte da vida da estrutura. Para
edifı́cios, considera-se que o valor Ψ1 Qk só é excedido em 1% da vida útil da
estrutura. No caso de pontes é o valor que, em média, é excedido uma vez por
semana, ou seja, o valor com um perı́odo de retorno de uma semana.
Valor quase-permanente
O valor quase-permanente Ψ2 Qk é utilizado na verificação a acções acidentais,
sismos, e estados limite de serviço reversiveis. Pode ainda ser utilizado na
quantificação de efeitos de longo prazo, como seja a fluência. Corresponde a
um valor que é excedido durante uma parte significativa da vida da estrutura.
No caso de edifı́cios corresponde ao valor que é excedido durante 50% da vida
da estrutura.
Os valores definidos no EC0 para os coeficientes de redução são apresentados
na Tabela 4.3. Note-se que estes são os valores sugeridos pelo EC0, podendo
ser alterados pelos respectivos anexos nacionais.
37
entanto, em paı́ses com climas muito mais frios (e.g., Suécia) o valor de Ψ2 é
diferente de zero para a neve, já que há neve durante mais de metade do ano.
• todas as outras acções que possam existir são consideradas com valores
reduzidos
38
caracterı́stico da acção de base e Qk,i o valor caracterı́stico de cada uma das
outras acções. Ψ0,i representa o coeficiente de redução associado ao valor de
combinação para a acção i.
Esta combinação deve ser repetida considerando cada acção variável rele-
vante como acção de base, permitindo assim simular as situações mais gravosas.
Assim, quando se considera a acção de base o vento, tentamos modelar o maior
vendaval expectável para a estrutura, quando a acção de base é a neve, mod-
elamos o maior nevão. Finalmente, no caso da sobrecarga, a sua consideração
como acção de base pode corresponder a situações de remodelações em áreas de
habitação (em que todo o mobiliário é colocado numa área limitada), situações
de concentração grande de pessoas (áreas de reunião) ou de veı́culos (pontes).
Os coeficientes de segurança a considerar dependem se a acção é favorável
(i.e., a sua existência aumenta a segurança da estrutura) ou desfavorável (i.e.,
a sua existência diminui a segurança da estrutura). Os valores definidos no
EC0 são apresentados na Tabela 4.4.
Note-se que o valor do coeficiente de segurança para acções variáveis fa-
voráveis é nulo. Na prática, isto quer dizer que apenas se devem considerar as
acções variáveis que conduzam a uma redução da segurança. Se isto não fosse
considerado, terı́amos estruturas que só eram seguras quando estivesse vento
ou nevasse.
Para estados limite de equilı́brio, a combinação de acções é feita com base na
mesma equação, mas com os coeficientes de segurança das acções permanentes
dados na Tabela 4.5.
Quando a verificação de equilı́brio também envolve a verificação da re-
sistência de elementos estruturais pode verificar-se o equilı́brio considerando
quer os coeficientes de segurança apresentados na Tabela 4.5 quer os descritos
na Tabela 4.4. Alternativamente, pode considerar-se a verificação de equilı́brio
considerando γGj,sup = 1, 35, γGj,inf = 1, 15, γQ,i = 1, 50 se desfavorável e 0 se
favorável, desde que considerar o coeficiente de segurança das acções perma-
nentes igual a 1 não leve a resultados mais desfavoráveis.
Para situações acidentais a combinação é substancialmente diferente, na
forma:
X
Sd = Gk + Asd + (Ψ1,1 ou Ψ2,1 )Qk,1 + Ψ2,i Qk,i (4.10)
i>1
39
em que Asd representa o valor de dimensionamento da acção acidental.
Para a situação de sismo, deve considerar-se:
X
Sd = Gk + Esd + Ψ2,i Qk,i (4.11)
i≥1
Combinação caracterı́stica
X X
Ed = Gk,j + P + Qk,1 + Ψ0,i Qk,i (4.12)
i>1
Combinação frequentes
X X
Ed = Gk,j + P + Ψ1,1 Qk,1 + Ψ2,i Qk,i (4.13)
i>1
40
Capı́tulo 5
5.1 Introdução
As acções permanentes e as sobrecargas são, para grande parte das estruturas,
as acções mais condicionantes. As acções permanentes incluem, não só o peso
próprio da estrutura, mas o peso de todos os equipamentos e materiais presentes
na estrutura com carácter permanente. A sobrecarga, por seu lado, modela o
peso de pessoas e bens que estão associados ao uso da estrutura, nomeadamente
mobiliário, equipamento não permanente, elementos não estruturais (paredes
divisórias e revestimentos) e veı́culos.
G=Ω×γ (5.1)
onde G representa o peso próprio, Ω representa o volume, e γ representa o peso
especı́fico.
Em geral, o peso próprio pode ser modelado como uma força uniformemente
distribuı́da ao longo de:
O peso próprio é, em geral, classificado como uma acção permanente fixa, o
que quer dizer que sabendo o seu valor num ponto, podemos determinar o seu
valor em todos os outros. Neste sentido, o peso próprio da estrutura pode ser
41
afectado do mesmo coeficiente de segurança ao longo da estrutura, não sendo
necessário considerar alternância de carregamentos.
Embora o peso próprio varie relativamente pouco, deve, contudo, ser con-
siderado uma como uma variável aleatória. Na realidade, quer o volume, Ω,
quer o peso especı́fico, γ, apresentam alguma variabilidade, como se apresenta
na Tabela 5.1.
Os dados apresentados mostram que o aço tende a apresentar pequena vari-
abilidade, que aumenta para o betão e para as alvenarias. A madeira apresenta
uma maior variabilidade, já que as suas propriedades variam de elemento para
elemento, mas também ao longo do tempo, como consequência das variações
de teor em humidade.
Estes valores devem, no entanto, ser considerados indicativos, já que para
alguns materiais, os desvios nas dimensões são independentes das dimensões
do elemento. Assim, o coeficiente de variação tende a descer com o aumento
das dimensões dos elementos
O peso dos elementos não estruturais podem ser calculados com base em
informação de fabricantes ou fornecedores. As Tabelas Técnicas possuem uma
compilação extensiva deste tipo de informação.
Note-se que o peso de elementos não estruturais deve ser considerada uma
acção livre, no sentido em que pode variar significativamente de ponto para
ponto. Assim, os coeficientes de segurança para esta acção devem ser diferentes,
caso a acção seja favorável ou desfavorável.
O peso de paredes divisórias deve ser modelado como uma força distribuı́da
ao longo do ser desenvolvimento em planta. No entanto, para as paredes interi-
ores é comum, em Portugal, modelar o seu peso como uma força uniformemente
distribuı́da em planta, igual a 0.3 ou 0.4 do peso de um metro linear de parede,
conforme se trate de área de escritórios ou habitação, respectivamente.
5.3 Sobrecarga
A sobrecarga é uma acção que modela o peso de pessoas e equipamentos asso-
ciados à utilização da estrutura, nomeadamente peso de ocupantes, mobiliário,
equipamento móvel, veı́culos e produtos armazenados. Estes valores são ex-
traordinariamente difı́ceis de prever, já que dependem da utilização do espaço,
variam fortemente de estrutura para estrutura, e a recolha de dados estatı́sticos
significativos é muito complexa. Com efeito, se numa ponte é possı́vel pesar
os veı́culos que a atravessam, num edifı́cio é impossı́vel pesar mobiliário e uti-
lizadores.
42
Assim, é necessário utilizar modelos simplificados, que o tempo tem demon-
strado serem adequados. Estas dificuldades resultam em valores para as as
sobrecargas que variam significativamente de paı́s para paı́s.
Em geral a sobrecarga pode ser definida como uma força uniformemente dis-
tribuı́da em planta, excepto em pontes, onde os modelos são significativamente
mais complexos.
Em termos de sobrecargas, os edifı́cios são divididos em classes, em função
da utilização prevista, como se apresenta na Tabela 5.2.
Para cada uma destas utilizações, o Eurocódigo sugere uma gama de val-
ores aceitáveis da sobrecarga. Em Portugal, na elaboração do Anexo Nacional,
tentou-se que os valores da sobrecarga fossem tão próximos dos valores utiliza-
dos no anterior Regulamento de Segurança e Acções quanto possı́vel. Assim,
os valores da sobrecarga definidos para cada utilização são os apresentados
na Tabela 5.3. Nesta tabela são apresentados dois valores da sobrecarga, um
correspondente a uma carga uniformemente distribuı́da (normalmente condi-
cionante) e uma carga concentrada, que é significativa para a verificação da
segurança de elementos de pequenas dimensões.
As sobrecargas são consideradas acções livres, donde podem estar ou não
presentes em qualquer ponto da estrutura. Assim, devemos considerar a so-
brecarga majorada onde for desfavorável, e não devemos considerar onde for
favorável, para determinado estado limite.
O valor da sobrecarga tende a diminuir, em edifı́cios, com o aumento da
área ocupada. Com efeito, não é expectável que uma sala com o dobro da
área tenha o dobro dos ocupantes. Esta variação é considerada no Eurocódigo
definindo um coeficiente de redução associado à carga, na forma:
A 5
αA = + Ψ0 ≤ 1 (5.2)
A0 7
onde A0 é uma área de referência, igual a 10m2 , e A é a área de influência do el-
emento em análise. Esta redução apenas deve ser considerada para pavimentos
com uma utilização das classes A a D.
Por outro lado, quando temos edifı́cios altos, não é expectável que todos
os pisos estejam carregados com a máxima sobrecarga simultaneamente. As-
sim, para elementos verticais (pilares e paredes resistente) em que descarregam
vários pisos, o Eurocódigo considera um factor de redução com o número de
pisos dado por:
n−2
αn = 2 + Ψ0 (5.3)
n
em que n é o número de pisos. Esta redução corresponde a considerar que dois
dos pisos estão sujeitos à sobrecarga regulamentar, enquanto todos os outros
estão sujeitos ao valor de combinação desta acção. Também esta redução só
pode ser aplicada a pisos com utilização das classes A a D.
Ambas as reduções só podem ser utilizadas quando a acção de base é a
sobrecarga, e não podem ser aplicadas simultaneamente.
43
Tabela 5.2: Categorias de utilização
Categoria Utilização Exemplos
A Actividades Salas em edifı́cios de habitação; quartos e
domésticas e enfermarias de hospitais; quartos de hotéis,
residenciais cozinhas e lavabos.
B Escritórios
C1: Zonas com mesas, etc.; por exemplo,
em escolas, cafés, restaurantes, salões de
jantar, salas de leitura, recepções.
C2: Zonas com assentos fixos; por exem-
plo, em igrejas, teatros ou cinemas, salas
de conferências, salas de aulas, salas de re-
união, salas de espera.
C Locais de reunião C3: Zonas sem obstáculos para a movi-
(com excepção mentação de pessoas; por exemplo, em
das utilizações museus, salas de exposição, etc. e em aces-
correspondentes às sos de edifı́cios públicos e administrativos,
categorias A, B e hotéis, hospitais, e em átrios de entrada de
D) estações de comboio.
C4: Zonas em que são possı́veis activi-
dades fı́sicas; por exemplo, salões de dança,
ginásios, palcos.
C5: Zonas de possı́vel acolhimento de mul-
tidões; por exemplo, edifı́cios para even-
tos públicos, tais como salas de concer-
tos, salas para actividades desportivas in-
cluindo bancadas, terraços e zonas de
acesso; plataformas ferroviárias.
D Actividades comer- D1: Zonas de lojas em geral.
ciais
D2: Zonas de grandes armazéns.
E1 Locais susceptı́veis
de acumulação
de mercadorias,
incluindo zonas de
acesso Zonas de
armazenamento,
incluindo livros e
outros documentos
E2 Actividades indus-
triais
F Locais de cir- Garagens; zonas de estacionamento; zonas
culação e de de estacionamento em altura
estacionamento
para veı́culos
ligeiros
G Locais de cir- Vias de acesso; zonas de carga e descarga;
culação e de zonas acessı́veis a veı́culos de bombeiros
estacionamento
para veı́culos
médios (
44
Tabela 5.3: Valores da sobrecarga de acordo com o Anexo Nacional
45
Capı́tulo 6
Acção do vento
6.1 Introdução
Nesta nota serão descritas as metodologias fundamentais para a definição da
acção do vento em estruturas, com particular ênfase na norma EN 1991-1-4
(EC1-4). Esta norma apresenta linhas de orientação para a determinação das
acções naturais do vento para o projecto estrutural de edifı́cios e de obras de
engenharia civil. Tal inclui a totalidade ou partes da estrutura ou elementos lig-
ados à estrutura, como, por exemplo, componentes, elementos de revestimento
e respectivas ligações, assim como guardas de segurança e barreiras anti-ruı́do.
Esta parte do EC1 aplica-se a:
47
• aero-elástica - movimento da estrutura interage com vento
v2 p
+ h + = Constante (6.1)
2 ρ
onde v é a velocidade do vento, h a altura em relação a um referencial qualquer,
ρ a massa especı́fica, e p a pressão.
Portanto se imaginarmos uma parede infinita, e considerando um ponto
muito afastado da parede e outro muito próximo, temos:
v12 p1 v2 p2
+h+ = 2 +h+ (6.2)
2 ρ 2 ρ
Assumindo que a velocidade junto à parede é nula (ver Figura 6.1), e que
a pressão num ponto distante da parede é nula (na realidade é igual à pressão
atmosférica, e igual para os dois pontos), temos:
v12 p2 1
= ⇒ p2 = v12 ρ (6.3)
2 ρ 2
Assim, se soubermos qual a velocidade do vento, podemos calcular a pressão
na parede definida acima.
48
V = v1 v12 p2
V=0 2 = ρ
p = 12 v 2 ρ
Figura 6.1:
Figura 6.2:
• região
• época do ano
• altura ao solo
49
aberto (vb,0 ). Sendo esta uma caracterı́stica metereológica, depende da região
a analisar, e é definida em mapas como o apresentado na Figura 6.3.
Figure 1. Overlook of the European wind map for basic wind velocities v
Figura 6.3: Velocidade média do vento
vb,0 = vb (6.5)
No caso de estruturas em que dada situação de projecto ocorre apenas entre
Maio e Agosto, o coeficiente cseason pode ser reduzido até 0.9.
A velocidade do vento aumenta com a altura ao solo, dependendo ainda dos
obstáculos no terreno. Sabemos que junto ao mar temos, em geral, uma veloci-
dade do vento maior que a escassas centenas de metros, numa zona abrigada
por edifı́cios. Esta variação pode ser considerada através de:
50
em que cr (z) é um coeficiente que define a influência da rugosidade do terreno
e da altura de referência, ze e c0 (z) é coeficiente de orografia (em geral, toma
um valor igual a 1).
O coeficiente de rugosidade cr (z), pode ser dado por:
(
kr · ln zz0 para zmin ≤ z ≤ zmax
cr (z) = (6.7)
cr (zmin ) para z ≤ zmin
onde z0 é o comprimento de rugosidade, kr é factor de terreno dependente do
comprimento de rugosidade z0 , e zmax é a altura máxima de estruturas às quais
este regulamento é aplicável (zmax = 200m) . O factor de terreno é dado por:
0.07
z0
kr = 0.19 · (6.8)
z0,II
onde z0,II é o comprimento de rugosidade correspondente ao terreno II (z0,II =
0, 05m) e zmin é a altura mı́nima a considerar para cada tipo de terreno.
Na Figura 6.4 é apresentada a variação da velocidade do vento em altura,
para os diferentes tipos de terreno considerados.
A classificação do terreno em termos de rugosidade pode ser feita com base
nas descrições apresentadas na Tabela 6.1. Nesta tabela é também apresentado
o valor do comprimento de rugosidade z0 e da altura mı́nima, zmin , a considerar.
No entanto, o Anexo Nacional do Eurocódigo substitui esta Tabela pela
Tabela 6.2.
Pressão do vento
Considerando a expressão deduzida em (6.3), a pressão do vento numa parede
infinita, será dada por:
1 2
qm (z) = · ρ · vm (z)
2
25
20
15 Terreno 0
Altura
Terreno I
10
Terreno II
5 Terreno III
Terreno IV
0
0 0.5 1 1.5
Velocidade do vento
51
Tabela 6.1: Rugosidade do terreno
Categoria de terreno z0 zmin
0 Zona marı́tima ou costeira exposta ao mar aberto 0,003 1
I Lagos ou zona plana e horizontal com vegetação desprezável e sem 0,01 1
obstáculos
II Zona de vegetação rasteira como erva e obstáculos isolados (árvores, 0,05 2
edifı́cios) com separações de, pelo menos, 20 alturas de obstáculos
III Zona regularmente coberta de vegetação ou de edifı́cios ou com 0,3 5
obstáculos isolados com separações de, no máximo, 20 alturas de
obstáculos (como aldeias, terreno suburbano, floresta permanente)
IV Zona na qual pelo menos 15% da superfı́cie está coberta de edifı́cios 1,0 10
cuja altura média é superior a 15 m
A rugosidade deve ser definida considerando um ângulo de ±15 em torno da direcção do vento
considerada. Em geral, podemos considerar que a zona a considerar é a mesma para todas as
direcções.
52
No entanto, devemos considerar que este valor foi obtido a partir da veloci-
dade média ao longo de 10 minutos. Na realidade, é fundamental calcular a
pressão de pico, no instante em que esta toma o seu valor máximo.
Na Figura 6.2 é apresentado o diagrama de velocidades num dado instante.
Como se pode observar, a velocidade do vento varia substancialmente do valor
médio. Assim deve considerar-se o valor da velocidade do vento associado à
envolvente representada.
O valor da pressão pode ser corrigido para se obter a velocidade de pico em
função da altura z, usando:
2
qp (z) = [1 + 7 · Iv (z)] · 12 · ρ · vm (z) (6.9)
Com a intensidade da turbulência, Iv (z), dada por
kI
para zmin ≤ z ≤ zmax
Iv (z) = c (z) · ln(z/z0 )
o
Iv (zmin ) para z < zmin
em que kI é o factor de turbulência com valor recomendado 1,0 e co é o factor de
orografia, definido anteriormente como 1,0. Assim, a expressão (6.9) resume-se,
para z ≥ zmin , a:
7 2
qp (z) = 1 + · 12 · ρ · vm (z) (6.10)
ln(z/z0 )
Para z < zmin a expressão a utilizar será:
7 2
qp (z) = 1 + · 12 · ρ · vm (zmin ) (6.11)
ln(zmin /z0 )
• coeficientes de força
• coeficientes de pressão
• Placas de sinalização
• Cilindros circulares
• Esferas
53
• Bandeiras
Coeficientes de pressão
Alternativamente, a força total pode ser calculada somando as pressões apli-
cadas aos vários elementos da estrutura. Em termos de pressões, há a distinguir
três parcelas:
• pressões exteriores
• pressões interiores
• atrito
- forças interiores:
X
Fw,i = wi · Aref (6.14)
superf icie
- forças de atrito:
Ff r = cf r · qp (ze ) · Af r (6.15)
Os coeficientes de pressão e de força relacionam a pressão num ponto de
uma estrutura especı́fica com o valor de pressão sob condições idênticas, mas
considerando uma parede infinita. Os coeficientes de pressão são definidos
54
Figura 6.5: Convenção de sinais para a pressão do vento
55
Fachadas
Coeficientes de pressão exterior
Figura 6.6:
Zona A B C D E
h/d cpe,10 cpe,1 cpe,10 cpe,1 cpe,10 cpe,1 cpe,10 cpe,1 cpe,10 cpe,1
5 -1,2 -1,4 -0,8 -1,1 -0,5 +0,8 +1,0 -0,7
1 -1,2 -1,4 -0,8 -1,1 -0,5 +0,8 +1,0 -0,5
< 0, 25 -1,2 -1,4 -0,8 -1,1 -0,5 +0,7 +1,0 -0,3
56
como a pressão do vento varia de ponto para ponto, quanto maior for a área
afectada, menor a probabilidade de estar toda sujeita a um valor elevado de
pressão. Assim, o EC1 define que para valores da área inferiores a 1m2 se
deve considerar cpe,1 , enquanto para valores superiores a 10m2 se deve consid-
erar cpe,10 . Como se apresenta na Figura 6.7, para valores intermédios deve
interpolar logaritmicamente, usando:
Coberturas planas
Em termos de coberturas planas, devem ser definidas 4 zonas de diferentes
pressões, como se representa na Figura 6.9. No caso de coberturas deve considerar-
se se existem parapeitos ou a arestas arredondadas, já que estas reduzem a
pressão do vento na cobertura, como se pode verificar na Tabela 6.4.
Os valores do coeficiente de pressão a considerar são apresentados na Tabela
6.4.
A falta de correlação das pressões do vento entre o lado de barlavento e o
lado de sotavento pode ser considerada como segue. Para edifı́cios com h/d ≥ 5,
a força resultante é multiplicada por 1. Para edifı́cios com h/d ≤ 1, a força
resultante é multiplicada por 0,85. Para valores intermédios de h/d, pode
efectuar-se uma interpolação linear.
57
Figura 6.8: Definição da altura de referência em edifı́cios
58
]
Figura 6.9: Coeficientes de pressão em coberturas de edifı́cios
Tabela 6.4:
Tipo de cobertura Zona
F G H I
cpe,10 cpe,1 cpe,10 cpe,1 cpe,10 cpe,1 cpe,10 cpe,1
Beirados com aresta viva -1,8 -2,5 -1,2 -2,0 -0,7 -1,2 ±0.2
Com parapeitos hp/h=0,025 -1,6 -2,2 -1,1 -1,8 -0,7 -1,2 ±0.2
hp/h=0,05 -1,4 -2,0 -0,9 -1,6 -0,7 -1,2 ±0.2
hp/h=0,10 -1,2 -1,8 -0,8 -1,4 -0,7 -1,2 ±0.2
Beirados ondulados r/h = 0,05 -1,0 -1,5 -1,2 -1,8 -0,4 ±0.2
r/h = 0,10 -0,7 -1,2 -0,8 -1,4 -0,3 ±0.2
r/h = 0,20 -0,5 -0,8 -0,5 -0,8 -0,3 ±0.2
59
No caso de edifı́cios sem uma face dominante, o coeficiente de pressão in-
terna cpi deve ser determinado a partir da Figura 6.10 e é em função da relação
entre a altura e a profundidade do edifı́cio, h/d, e do ı́ndice de aberturas µ para
cada direcção do vento, que deve ser determinada a partir da expressão (6.19).
P
area de aberturas em que cpe ≤ 0
µ= P (6.19)
area de todas as aberturas
No caso em que não for possı́vel, ou em que não se justifique, o cálculo de
coeficientes de pressão interior para um caso particular, cpi deve ser considerado
como o mais oneroso de +0,2 e -0,3.
60
6.6 Exercı́cio 1
Considere o seguinte edifı́cio cujas dimensões se indicam na Figura 6.11, local-
izado em zona rural, onde Vb,0 = 26m/s.
12 m
30 m
wind
direction 15 m
Figure 8.Figura
Simple6.11: Geometria
rectangular do edifı́cio
building with flat roof
Resolução
z0 = 0, 05m
Zona rural ⇒ T erreno tipo II ⇒ (6.20)
zmin = 2m
1 1, 25
qb = × ρ × vb2 = × 262 = 422, 5N/m2 = 0, 42kN/m2 (6.23)
2 2
Factor de rugosidade : EC1-4 (4.3.2)
(
Kr × ln zz0 , zmin ≤ z ≤ zmax
Cr (z) = (6.24)
Cr (zmin ), z ≤ zmin
Como z = 12m,
61
0,07 0,07
z0 0, 05
Kr = 0, 19 × = 0, 19 × = 0, 19 (6.25)
z0,II 0, 05
Logo,
12
Cr (z) = 0, 19 × ln = 1, 04 (6.26)
0, 05
Portanto,
2 7
qp (z) = 0, 42 × (1, 04) × 1 + = 1, 034kN/m2 (6.27)
12
ln 0,05
h 12
= = 0, 8 (6.29)
d 15
Neste caso devem ser utilizados os valores de cpe,10 , uma vez que se está
a analisar a resultante das pressões nas fachadas. Caso se estivesse a anal-
isar um elemento pequeno, utilizar-se-iam os valores de cpe,1 . Para situações
EC1-4 (7.2.1) intermédias pode usar-se uma interpolação logaritmica .
Os coeficientes de pressão a usar nas fachadas são apresentados na Tabela
6.5.
Tabela 6.5:
Zona Fachada A B D E
cpe -1,2 -0,8 0,773 -0,45
e = 24m
Portanto, para a cobertura os coeficientes de pressão os apresentados na
Tabela 6.6.
Tabela 6.6:
Zona Cobertura F G H I
cpe -1,8 -1,2 -0,7 ±0, 2
62
%
63
Figura 6.13: Zonas para coberturas planas
64
Uma vez determinados os coeficientes de pressão, que relacionam a pressão
num ponto de uma estrutura especı́fica com o valor de pressão sob condições
idênticas, mas considerando uma parede infinita, pode calcular-se o valor da
pressão exercida pelo vento nas fachadas e cobertura.
ii)Cobertura
65
Figura 6.15: Pressão exterior do vento na cobertura - Corte A-A [kN/m2 ]
66
1. No caso em que não for possı́vel, ou em que não se justifique, o cálculo
de coeficientes de pressão interior para um caso particular, cpi deve ser
considerado como o mais gravoso de +0,2 e -0,3.
2. Se existir uma face dominante, isto é:
• se a área de aberturas numa das faces é pelo menos o dobro da área
de aberturas e passagens das restantes faces do edifı́cio, então:
cpi = 0, 75 × cpe
• no caso da área de aberturas numa das faces ser pelo menos 3 vezes
a área das aberturas das restantes faces então:
cpi = 0, 90 × cpe
3. Se não existir face dominante, o valor de cpi pode ser calculado em função
da parcela da fachada sujeita a pressões negativas:
P EC1-4: 7.2.9
area de aberturas onde cpe ≤ 0
µ= P (6.33)
area total de aberturas
2 × 15 × 12 + 30 × 12 + (15 − 3) × 30
µ= = 0, 71 ⇒ cpi = −0, 15 (6.36)
2 × 15 × 12 + 2 × 30 × 12 + 15 × 30
Para determinar as pressões no interior segue-se um procedimento
semelhante ao exterior, ou seja:
wi = qp (z) × cpi
4) Pressão total em cada zona
4.1) Para cpe (zona I) = −0, 2
X
Fw,e = cs cd × we × Aref (6.37)
67
X
Fw,i = wi × Aref (6.38)
Mas cs cd considera-se, neste caso, igual a 1, uma vez que a altura do Edifı́cio
é inferior a 15m.
Desta forma,
Assim sendo,
Para a cobertura,
68
Figura 6.18: Pressão nas fachadas [kN/m2 ]
69
Figura 6.20: Pressão na cobertura - Corte B-B [kN/m2 ]
70
Resultante da acção do vento nas fachadas
Para a situação resolvida em 4.1), ao nı́vel das fachadas, a acção do vento
tem uma resultante com a direcção e sentido do vento, ou seja:
h
Sabendo que d < 1, a resultante deve ser multiplicada por 0,85, sendo o
seu valor:
71
Capı́tulo 7
Acção da neve
7.1 Introdução
Neste nota serão analisadas as metodologias fundamentais para a definição
da acção do neve em estruturas, com particular ênfase na norma EN 1991-1-3
(EC1-4). Ao contrário de outros paı́ses Europeus, em Portugal, grandes nevões
são raros, sendo mesmo muito raros em grande parte do território nacional.
Assim, esta acção raramente é condicionante em grande parte do Paı́s. No
entanto, em algumas áreas, nomeadamente o Norte interior e em altitude, a
acção da neve pode ser importante no dimensionamento de coberturas.
• localização geográfica
• geometria da cobertura
73
Figura 7.1: Zonamento do território para a acção da neve
Além desta divisão, há a considerar que a quantidade de neve aumenta com
a altitude. Assim, o valor caracterı́stico da neve ao nı́vel do solo, sk , é dado
por:
!2
H
sk = Cz 1 + (7.1)
500
Zona Cz
A 0.3
B 0.2
C 0.1
74
s = µi Ce CT sk (7.2)
onde µi é o coeficiente de forma, dependente da geometria do telhado, Ce é o
coeficiente de exposição, e CT é o coeficiente térmico.
O coeficiente térmico é unitário, excepto quando a temperatura da cober-
tura é significativamente superior à temperatura ambiente. Esta situação
ocorre em coberturas aquecidas ou em coberturas envidraçadas em edifı́cios
em que o interior é aquecido em permanência. Nenhuma destas duas situações
é comum em Portugal.
O coeficiente de exposição depende da protecção ao vento resultante da
envolvente ao edifı́cio, nomeadamente outros edifı́cios ou o terreno circundante.
Este coeficiente toma os valores apresentados na Tabela 7.2.
O coeficiente de forma, µi , depende da geometria da cobertura como se
apresenta na secção seguinte.
Coeficiente de forma
De acordo com o EC1, a acção da neve deve ser, para a situação persistente,
considerada para dois estados possı́veis: não deslocada e deslocada.
A primeira corresponde à acção da neve sem o efeito do vento assumindo-se
que a quantidade de neve é distribuı́da de forma idêntica nas coberturas. Na
segunda situação assume-se que o vento fez deslocar a neve para uma posição
eventualmente mais gravosa.
Para coberturas correntes, o efeito da neve é quantificado com base em dois
valores, µ1 e µ2 , dados na Figura 7.2 em função do ângulo da vertente.
Em coberturas de uma vertente apenas é necessário considerar a situação
de neve não deslocada, como se apresenta na Figura 7.3.
Para coberturas com duas vertentes, devemos considerar três situações, cor-
respondentes a neve não deslocada, e a deslocamentos de neve que conduzem
a redução do peso da neve em cada uma das vertentes. Embora a situação de
neve deslocada corresponda, para estas coberturas, a um peso total da neve
menor, a assimetria do carregamento pode ser mais gravoso para alguns tipos
Topografia Ce
a
Exposta ao vento 0,8
Normalb 1,0
Abrigadac 1,2
a
Topografia exposta ao vento: zonas planas, sem obstáculos e expostas
de todos os lados, sem ou com pouco abrigo conferido pelo terreno, por
construções mais altas ou por árvores.
b
Topografia normal: zonas nas quais não há uma remoção significa-
tiva da neve na construção, pelo vento devido à natureza do terreno, à
existência de outras construções ou de árvores.
c
Topografia abrigada: zonas nas quais a construção em causa é consid-
eravelmente mais baixa do que o terreno circundante ou está rodeada
por árvores altas e/ou por outras construções mais altas.
75
2.0
1.6
µ2
µ 1.0
0.8
µ1
µ1
µ1(a 1) 0,5µ1(a 2)
a1 a2
76
µ1(a1) µ1(a2) µ1(a1) µ1(a2)
Caso (i)
µ1(a1) µ1(a2)
a1 a2 a1 a2
s = µi sk (7.5)
em que µi é o coeficiente de forma correspondente à situação de deslocamento
excepcional, descrito no Anexo B do EC 1-4, e substancialmente diferente do
descrito para a situação persistente.
Na Figura 7.6 é apresentado o peso de neve a considerar para um desloca-
mento extraordinário da neve em coberturas múltiplas de duas águas. Note-se
que nesta situação se considera que apenas existe neve em duas vertentes cen-
trais. O valor máximo do peso da neve é dado por:
2h/sk
µ1 = min 2b3 /(ls1 + ls2 ) (7.6)
5
77
ls1 = b1 ls2 = b2 (7.7)
em que b1 e b2 devem ser medidos do lado da estrutura mais desfavorável.
µ1
s1 s2
1 2
s = µi Ce CT Cesl sk (7.8)
em que Cesl vale 2.5, e todos os outros valores são iguais aos considerados para
a situação persistente.
78
7.5 Exercı́cio 1
Considere o seguinte edifı́cio, localizado no distrito da Guarda, no concelho
de Aguiar da Beira, em zona rural e a uma altitude de 400m. Determine os
carregamentos de dimensionamento para a combinação de acções persistente e
acidental como resultado da acção da neve ao nı́vel da cobertura.
Resolução
O edifı́cio situa-se no concelho de Aguiar da Beira, distrito da Guarda. Situa-
se, portanto, na zona A e num dos concelhos onde é necessário considerar uma
queda excepcional de neve.
Assim sendo, o valor do peso da neve para situações persistentes, deve
ser combinado com outras acções usando, para os estados limite Últimos, a
expressão:
X
Sd = γG .Gk + γQ,i .Qk,i + γQ,j .ψ0,j .Qk,j (7.9)
79
S = µi .Ce .Ct .Cesl .Sk (7.11)
onde Cesl = 2, 5.
Em resumo, atendendo ao quadro A1 do EC1-3 e ao tipo de cobertura em
estudo (não pontifica no Anexo B), é apenas necessário considerar 2 situações:
1) Situação persistente:
2) Situação acidental
Observação
Apesar do valor do peso da neve ser maior na situação acidental, depois de
combinadas as acções não é evidente que a combinação acidental seja a mais
gravosa. Aliás, geralmente, é a combinação persistente a condicionante, uma
vez que nesta as acções vêm afectadas de coeficientes de segurança, e que os
valores reduzidos das outras acções são mais altos.
Ce = 0, 8 (zona rural)
80
Figura 7.9: Casos 2 e 3
Nota: Não esquecer que se considera que a carga actua verticalmente e que se
refere à projecção horizontal da área da cobertura.
3
α = arctg( ) ≈ 16, 7 ◦ ⇒ µ1 = 0, 8 (7.16)
10
v) Determinação do valor do peso da neve:
S = 0, 8 × 0, 8 × 1 × 0, 492 = 0, 31kN/m2
(7.17)
S = (0, 8 × 0, 5) × 0, 8 × 1 × 0, 492 = 0, 16kN/m2
Obtém-se assim os carregamentos apresentados na Figura 7.10. O carrega-
mento associado ao peso próprio da estrutura está apresentado na Figura 7.11.
Figura 7.10: Peso neve [kN/m2 ] - Situação Persistente: neve não deslocada
(topo); neve deslocada (baixo)
81
Figura 7.11: Peso próprio [kN/m2 ]
82
Figura 7.13: Peso neve [kN/m2 ] - Situação acidental devido a queda excep-
cional de neve
83
2) Situação acidental
Cesl = 2, 5
S = 0, 31 × 2, 5 = 0, 775kN/m2
(7.20)
S = 0, 16 × 2, 5 = 0, 4kN/m2
S = 3, 0 + 0, 775 = 3, 775kN/m2
(7.21)
S = 3, 0 + 0, 4 = 3, 4kN/m2
Tal como referido, verifica-se que a situação Acidental não é a mais gravosa.
7.6 Exercı́cio 2
Considere o edifı́cio industrial representado, com coberturas mútiplas, situado
no distrito da Guarda, concelho de Aguiar da Beira, em zona rural, a uma
altitude de 450 m.
Defina as cargas actuantes na estrutura devido à acção da neve e indique
como procederia para determinar o momento solicitante de dimensionamento.
84
Figura 7.15: Estrutura
Resolução
Neste caso, há duas situações a considerar. Na situação persistente, segue-
se um procedimento semelhante ao do exercı́cio anterior. Enquanto que na
situação acidental, devido à tipologia da cobertura, além do valor excepcional
de queda de neve, é necessário considerar um deslocamento excepcional de neve
de acordo com o estipulado no Anexo B do EC1-3.
Para determinar o momento de dimensionamento devido à acção da neve,
utilizam-se as expressões de combinações de acções correspondentes aos ELU
para situações persistentes, e as combinações correspondentes a situações aci-
dentais para os casos em que se consideram condições excepcionais da acção
da neve.
1) Situação persistente
i) Determinação do valor da neve ao nı́vel do solo
" 2 #
H
Sk = Cz . 1 + (7.22)
500
n o
Sabendo que H = 450m e que Cz = 0, 3(A); 0, 2(B); 0, 1(C) (pelo zona-
mento definido no anexo nacional), temos:
" 2 #
450
Sk = 0, 3 × 1 + = 0, 543kN/m2 (7.23)
500
Ce = 0, 8 (zona rural)
α1 = 40 ◦ ⇒ µ1 (α1 ) = 0, 8 × (60−40)
30 ≈ 0, 53
α2 = 30 ◦ ⇒ µ1 (α2 ) = 0, 8 (7.24)
α = α1 +α = 35 ◦ ⇒ µ2 (α) = 1, 6
2
2
85
µ1(a1) µ1(a2) µ1(a1) µ1(a2)
Caso (i)
µ1(a1) µ1(a2)
a1 a2 a1 a2
86
v) Determinação do valor do peso da neve:
Cesl = 2, 5
Logo
S = µi × 0, 8 × 1 × 2, 5 × 0, 543
Assim, os valores notáveis da carga da neve na cobertura são:
0, 23 × 2, 5 = 0, 575kN/m2
Logo:
87
1
ls 1 ls 2
b1 b2
b3
2 × h/Sk
µ1 = min 2 × b3 /(ls1 + ls2 ) (7.27)
5
ls1 = b1 , ls2 = b2
Portanto,
2 × h/Sk = 2 × 3/0, 543 = 11, 05
µ1 = min 2 × b3 /(ls1 + ls2 ) = 2 × (2 × 5, 15 + 3, 57)/(5, 15 + 3, 57) = 3, 2
5
(7.28)
Assim,
⇒ µ1 = 3, 2
Logo,
88
Figura 7.20: Peso da neve associado a um deslocamento excepcional [kN/m2 ]
89
Capı́tulo 8
Sismos e dimensionamento
sı́smico de estruturas de acordo
com o Eurocódigo 8
8.1 Introdução
91
que a documentação nacional do Eurocódigo 8 define que o perı́odo de retorno
da acção de dimensionamento é de 475 anos para estruturas correntes. Se a
estrutura fosse dimensionada para permanecer em resposta elástica, durante
a ocorrência de um sismo intenso (perı́odo de retorno elevado), os esforços
elásticos provocados seriam de tal forma elevados que tornaria o custo de con-
strução da estrutura incomportável.
Com base nesta ideia primordial, as diversas filosofias de dimensionamento
sı́smico de estruturas assentam na ideia de que durante a ocorrência de um
sismo intenso as estruturas podem estar sujeitas a respostas fora do regime
elástico dos materiais sendo comum utilizar-se apenas uma fracção das forças
elásticas, que por vezes é 4 a 6 vezes inferiores. Desta forma, para o dimen-
sionamento, as estruturas terão que resistir a esforços menores que os esforços
elásticos, mas visto que o sismo é uma movimento de base, os deslocamentos es-
pectáveis serão superiores aos que corresponderiam ao limite elástico dos mate-
riais. Assim, o deslocamento máximo corresponderá certamente a deformações
inelásticas dos materiais e para cargas cı́clicas traduz-se por uma capacidade de
dissipação de energia por histerése dos materiais. A consequência directa deste
tipo de racionalização é que para sismos mais frequentes (perı́odo de retorno
mais baixo) admite-se que a estrutura possa entrar em regime não linear, ao
contrário do que acontece, por exemplo, para a acção do vento. Outra con-
sequência de se admitir um comportamento não linear das estruturas é que
a probabilidade anual de se atingir o nı́vel de forças próximo do que está as-
sociado ao sismo de dimensionamento pode atingir 1 a 3%. Note-se que este
valor é significativamente mais alto do que se associa à probabilidades anuais
de excedência das cargas gravı́ticas que ronda 0.01%. Para as acções sı́smicas, a
estrutura terá então que ter um comportamento dúctil que é conseguido através
de regras prescriptivas de regularidade. Pelas razões anunciadas, salienta-se que
a não existência de uma filosofia de dimensionamento racional e clara poderá
originar consequências gravosas associadas a probabilidades relativamente altas
de se atingir o comportamento não-linear da estrutura.
Com o sentido de se definir alguns princı́pios e critérios de dimensionamento
e verificação de segurança de estruturas, a Comunidade Europeia tem estado
a promover o desenvolvimento de um conjunto de Eurocódigos que têm como
objectivo harmonizar e estandardizar processos de dimensionamento de estru-
turas para facilitar a livre distribuição dos produtos e serviços ligados ao pro-
jecto e construção de estruturas dentro da Comunidade Europeia. Conforme
foi discutido no capı́tulo referente à Fiabilidade Estrutural em mais detalhe,
os Eurocódigos procuram que a fiabilidade de uma estrutura seja garantida
utilizando métodos semi-probabilı́sticos, que utilizam coeficientes parciais de
segurança para as acções e para a resistência dos materiais, que incluem efeitos
de incertezas e imperfeições associados aos modelos de análise de estruturas e à
fase de construção. Para fazer face ao dimensionamento de estruturas em zonas
de sismicidade não desprezável a Comunidade Europeia e os seus estados mem-
bros têm estado a desenvolver o Eurocódigo 8 (EC8 - EN1998). As cláusulas do
EC8 podem classificar-se em dois tipos, nomeadamente Princı́pios, que são obri-
gatórios, e Regras de Aplicação, que são procedimentos que são aceites como
base para demonstrar que os Princı́pios são verificados. No sentido de facilitar
a aplicação dos eurocódigos em cada Estado membro da Comunidade Europeia,
os Estados membros definem Anexos Nacionais onde certos parâmetros de di-
mensionamento são definidos. O Anexo Nacional do EC8 para o território
92
nacional (Continente e Ilhas) define, entre outros parâmetros, o zonamento
sı́smico e os valores que permitem definir o espectro de resposta de dimension-
amento.
Neste capı́tulo apresenta-se em mais detalhe os conceitos necessários para
execução de projectos sı́smicos de edifı́cios, focando-se por isso na Parte 1 do
EC8 (EC8-1) e abordando-se algumas questões associadas ao dimensionamento
de fundações superficiais de acordo com a Parte 5 do EC8 (EC8-5). O EC8-1
apresenta as regras gerais para a concepção sismo-resistente de edifı́cios e ac-
tualiza a acção sı́smica que deve ser considerada em projecto relativamente à
que consta no regulamento nacional em vigor, o Regulamento de Segurança e
Acções (RSA, 1983). A caracterização da acção sı́smica e a sua representação
em termos de espectros de amplitude são assuntos discutidos na secção 2 deste
capı́tulo. Na secção 3 apresentam-se os conceitos de dinâmica de estruturas
sujeitas a movimentos de base. Os princı́pios e as regras de aplicação do di-
mensionamento sı́smico de estruturas e suas fundações de acordo com o EC8,
são apresentados na secção 4.
A maioria dos sismos tem origem no interior da Terra em falhas que rompem
com alı́vio das tensões que se vão acumulando ao longo de décadas e séculos.
A este fenómeno de alı́vio de tensões está associado o movimento da terra e
à libertação de energia que se transforma em energia de ondas sı́smicas que
se propagam a partir da rotura da falha, correspondendo a uma deformação
diferencial entre dois lados de uma falha, conforme se pode ver na figura 8.1.
Estas ondas sı́smicas propagam-se a grandes velocidades e provocam vibrações
do solo com deslocamentos rápidos, sendo capaz de induzir acelerações (forças
de inércia) ou deslocamentos diferenciais importantes quando comparadas com
a resistência a esforços e às deformações das estruturas. As vibrações dos solos
que se verificam num dado local dependem fundamentalmente da magnitude do
sismo, do tipo de rotura a que a falha foi sujeita, da distância do local em estudo
ao plano da falha, bem como a estratigrafia (tipo de solos e sua distribuição
em profundidade) e topografia envolvente do local. De forma muito sucinta,
a amplitude de vibração do solo é tanto maior quanto maior a magnitude e
menor a distância ao plano da falha. Quanto ao efeito do tipo de solos (site
effects), quanto mais brando for o solo na proximidade das fundações, maiores
são as vibrações associadas a perı́odos mais longos. Este efeito de sı́tio, ou de
local, é mais importante quando a estrutura se encontra localizada numa zona
de vales aluvionares onde as ondas sı́smicas tendem a demorar mais tempo a
atenuarem-se. Na figura 8.1 ilustra-se este efeito onde devido à presença de
um vale de solos mais brandos há um aumento da amplitude e uma alteração
do conteúdo das frequências das vibrações. Na proximidade da falha, podem
existir outros fenómenos como é o exemplo da directividade das vibrações que
aumentam a amplitude das vibrações para perı́odos curtos.
A caracterização das acções sı́smicas para um dado local para que seja
possı́vel a sua quantificação é um processo complexo, que passa pelo conheci-
mento da sismicidade histórica e de possı́veis efeitos locais, conforme discutido
de seguida.
93
Figura 8.1: Sistema de um grau de liberdade
94
provocou grandes estragos em Lisboa, e finalmente o sismo de 1 de Novembro
de 1755 que provocou estragos muito importantes no Algarve e em Lisboa e
que foi seguido de um grande tsunami e cujo efeito se fez sentir em maior grau
no Algarve e em Lisboa. O sismo mais recente que teve origem nesta zona
interplacas foi o sismo de 28 de Fevereiro de 1969 que, apesar de fortemente
sentido, causou apenas ligeiros danos materiais, tendo como consequência a
evolução que se verificou na rede sismográfica nacional nas últimas décadas.
Muito recentemente, em Dezembro de 2009, foi registado um sismo com uma
intensidade de V na escala de Mercalli e 6,1 graus na escala de Richter e foi
particularmente sentido na região sul do Paı́s tendo sido considerado como
o mais forte nos últimos 40 anos na proximidade do Continente. Para além
dos sismos gerados na zona interplacas, há ainda registos de sismos gerados
95
na placa Euro-Asiática provocados pelo movimento de falhas locais, designa-
dos por sismos intraplacas. Os sismos históricos deste tipo que merecem ser
destacados concentram-se em duas zonas principais, o vale inferior do Tejo e
a região de Algarve. Pela análise dos registos na figura 8.2 é bem visı́vel a
concentração de epicentros na região sul de Portugal (tanto em terra como no
mar) e na região do Vale do Tejo, em particular junto à cidade de Lisboa e zona
de Santarém. Pode observar-se a ocorrência de sismos importantes em 1017,
1344, 1512, 1531, 1597, 1748, 1757, 1899 e 1909. É evidente que a sobreposição
de alguns destes sismos resulta da falta de informação sobre a correcta local-
ização epicentral. Contudo, de acordo com o conhecimento actual, é possı́vel
afirmar que estes sismos ou foram originados no interior da própria região do
Vale inferior do Tejo, ou foram originados no mar, aproximadamente ao largo
de Lisboa. Apenas para alguns destes sismos chegaram aos nossos dias relatos
suficientemente fiáveis. Da lista dos vários sismos listados aqui para os sismos
intraplacas, os mais destrutivos e devidamente cadastrados são o de 1531 e o
de 1909. O primeiro é o sismo de 26 de Janeiro de 1531, que destruiu muitas
aldeias no vale de Santarém. O sismo de 1909 é considerado como o sismo mais
destruidor do século passado tendo destruı́do quase por completo a vila de
Benavente e tendo sido responsável por causar grandes danos noutras aldeias
próximas de Benavente e na parte ocidental da cidade de Lisboa.
A sismicidade instrumental no paı́s existe desde o inı́cio do século XX.
A sismicidade instrumental é definida com base nos registos sı́smicos obtidos
pelas redes sismográficas e acelerométricas que permitem uma caracterização
da acção dos sismos com um maior detalhe. Estes instrumentos, geralmente
conhecidos como sismógrafos ou acelerómetros, registam a passagem das ondas
sı́smicas nos locais onde são instalados. Em Portugal, o Instituto de Meteorolo-
gia (IM) é a instituição que gere a rede sismográfica do paı́s, tendo a seu cargo
53 estações sismográficas, das quais 26 se encontram em Portugal Continental
e as restantes nas Ilhas. Os dados provenientes destas estações são processados
e arquivados pelo IM, sendo disponibilizados através da publicação de um bo-
letim mensal e de um anuário com o resumo da informação macrossı́smica. Tal
com a sismicidade histórica, a sismicidade recente mais significativa concentra-
se essencialmente na região sul.
Com base nos dados existentes da sismicidade histórica, sismicidade in-
strumental e evidências geológicas (conhecimento e caracterização de falhas e
consideração de efeitos des sı́tio) é possı́vel definirem-se leis de atenuação que
fornecem uma medida da intensidade de uma acção sı́smica em função da mag-
nitude, da distância do plano da falha ao local em estudo, da influência das
camadas superficiais dos solos (nos últimos 30 metros) e do tipo de falhas. Es-
tas leis são probabilı́sticas na sua natureza e fornecem tipicamente um valor
médio e desvio padrão do parâmetro que caracteriza a intensidade duma acção
sı́smica associada a dado um perı́odo de retorno. O parâmetro que é mais
utilizado para caracterizar a acção sı́smica é a aceleração máxima do solo em
rocha. Este é o valor adoptado pelo EC8 para se definirem as acções sı́smicas
de dimensionamento.
96
sismo num dado local. O segundo parâmetro é a magnitude que é uma grandeza
determinada instrumentalmente e que está relacionada com a quantidade de
energia libertada pelo sismo. Embora a magnitude seja o parâmetro mais
comentado pelos média para reportar a dimensão de um sismo, é a intensidade
sı́smica que é um valor mais adequado para quantificar os efeitos dos sismos nas
estruturas de Engenharia Civil, por ser uma medida indirecta da a magnitude
do sismo, da distância da estrutura ao local da estrutura e dos efeitos de sı́tio.
Para um dado local, a intensidade é referida em numeração romana de
acordo com uma escala de intensidades. A escala de intensidades mais comuns
é a escala de Mercalli modificada que se apresenta na tabela 8.1.
Para sismos moderados, a magnitude é baseada em medições precisas da
amplitude das ondas sı́smicas nos sismogramas, para distâncias conhecidas en-
tre o foco e a estrutura em estudo, enquanto para sismos fortes a medida de
magnitude mais apropriada é ao parâmetro de magnitude do momento sı́smico
dado por:
2
Mw = log10 M0 − 6 (8.1)
3
onde M0 = µAs e µ é o módulo de rigidez de corte das rochas adjacentes à
falha, A é a área ao longo do qual se deu a falha e s é o deslocamento sobre o
plano da falha.
97
Tabela 8.1: Escala de Mercalli Modificada (MMI) - Versão simplificada
Escala Intensidade Descrição
Grau I IMPERCEPTÍVEL Apenas registado pelos aparelhos de precisão,
ou sismógrafos.
Grau II MUITO FRACO Sentido por um muito reduzido número de
pessoas em repouso, em especial pelas que
habitam em andares elevados.
Grau III FRACO Sentido por um pequeno número de habi-
tantes. Bem sentido nos andares elevados.
Grau IV MÉDIO Sentido dentro das habitações, podendo des-
pertar do sono um pequeno número de pes-
soas. Nota-se a vibração de portas e janelas e
das loucas dentro dos armários.
Grau V POUCO FORTE Praticamente sentido por toda a população,
fazendo acordar muita gente. Há queda de
alguns objectos menos estáveis e param os
pêndulos dos relógios. Abrem-se pequenas
fendas nos estuques das paredes.
Grau VI FORTE Provoca inı́cio de pânico nas populações.
Produzem-se leves danos nas habitações,
caindo algumas chaminés. O mobiliário menos
pesado é deslocado.
Grau VII MUITO FORTE Caiem muitas chaminés. Há estragos lim-
itados em edifı́cios de boa construção, mas
importantes e generalizados nas construções
mais frágeis. Facilmente perceptı́vel pelos con-
dutores de veı́culos automóveis em trânsito.
Desencadeia pânico geral nas populações.
Grau VIII RUINOSO Danos acentuados em construções sólidas. Os
edifı́cios de muito boa construção sofrem al-
guns danos. Caiem campanários e chaminés
de fábricas.
Grau IX DESASTROSO Desmoronamento de alguns edifı́cios. Há
danos consideráveis em construções muito
sólidas.
Grau X MUITO DESASTROSO Abrem-se fendas no solo. Há cortes nas canal-
izações, torção nas vias de caminho de ferro e
empolamentos e fissuração nas estradas.
Grau XI CATASTRÓFICO Destruição da quase totalidade dos edifı́cios,
mesmo os mais sólidos. Caiem pontes, diques
e barragens. Destruição das redes de canal-
ização e das vias de comunicação. Formam-se
grandes fendas no terreno, acompanhadas de
desligamento. Há grandes escorregamentos de
terrenos.
Grau XII CATACLISMO Destruição total. Modificação da topografia.
(Este grau nunca foi presenciado no perı́odo
histórico.)
98
8.3 Introdução à dinâmica de estruturas sujeitas a
movimentos do solo
Efeitos do movimento do solo nas estruturas
Quando o movimento do solo se verifica ao nı́vel das fundações de uma estru-
tura, a estrutura estará sujeita a movimentos impostos na base e responderá de
forma diferente em função da sua massa e rigidez. O equilı́brio que rege o movi-
mento ao longo do tempo da estrutura e da fundação é um equilı́brio dinâmico.
Considere o sistema estrutural representado na figura 8.3(a) e considere que
o carro aı́ representado se encontra a vibrar. Este sistema corresponde a um
oscilador de um único grau de liberdade (movimento de vibração numa única
direcção). Devido ao movimento de vibração do sistema aparecem um conjunto
de forças que permitem que o corpo se encontre em equilı́brio dinâmico, forças
essas representadas na figura 8.3(a).
Figura 8.3: Sistema de um grau de liberdade: (a) Equilı́brio com base num
referencial global fixo; (b) Equilı́brio com base num referencial do solo
99
C. As forças de restituição, conforme o nome indica, são as forças que fazem
com que a estrutura tenda a voltar à posição inicial. Se a estrutura responde
de forma elástica, as forças de restituição dizem-se de restituição elástica, e são
proporcionais à rigidez do sistema, K, e ao deslocamento por este sofrido x. O
equilı́brio dinâmico descrito desta forma pode ser expresso por:
M ẍ = −C ẋ − Kx (8.3)
FI = −FD − FR (8.4)
FI + FD + FR = M ẍ + C ẋ + Kx = Fext (8.5)
Para a acção sı́smica as forças exteriores são iguais a zero. Se o movimento
ao nı́vel da fundação de uma estrutura devido a um sismo for definido com base
num deslocamento do solo, xg , podemos escrever as equações de movimento
em função de deslocamentos relativos x − xg e de velocidades relativas ẋ −
x˙g , enquanto a massa continua a sofrer acelerações ẍ. Assim a equação de
movimento pode ser escrita como:
M ü + C u̇ + Ku = −M ẍg (8.7)
Esta última equação é a forma geral em que se define o problema de
equilı́brio dinâmico de estruturas sujeitas a movimentos do solo. A equação 8.7
é semelhante à equação 8.5 em que agora a equação é definida em termos do
movimento relativo e a força exterior é igual ao produto da massa pela acel-
eração do solo num dado instante t.
De interesse para este documento há ainda que referir que todas as estru-
turas reais que têm mais que um grau de liberdade de movimento, respondem
também de forma dinâmica quando ocorre um movimento do solo. O equilı́brio
de forças dinâmicas para uma estrutura que tenha múltiplos grau de liberdade
pode ser escrito através da seguinte equação algébrica:
FI + FD + FR = Fext (8.8)
onde FI é o vector das forças de inércia a actuar sobre as massas associadas
aos graus de liberdade dinâmicos da estrutura, FD é o vector das forças de
amortecimento, viscoso ou de dissipação de energia, FR é o vector das forças
de restituição (forças internas suportadas pela estrutura) e Fext é o vector das
forças exteriores aplicadas. A dimensão destes vectores corresponde ao número
100
de graus de liberdade dinâmica da estrutura e todos os vectores são definidos
em função do tempo t.
A equação 8.8, com base em algumas hipóteses simplificativas, pode ser
escrita como um conjunto de equações de um grau de liberdade todas indepen-
dentes entre si, com a mesma forma apresentada na equação 8.7. A equação 8.7
corresponde a uma equação diferencial de segundo grau e para que a sua solução
seja possı́vel há que definir-se condições inicias para o movimento, para além
das condições de fronteira no espaço. Neste documento não serão abordados os
vários métodos existentes para a resolução deste tipo de equações, deixando-se
esta discussão para outros textos.
Neste documento apresenta-se a forma de caracterização da acção dos sis-
mos e dos seus efeitos nas estruturas com base num método de solução desta
equação diferencial que assenta na análise modal de estruturas e na utilização
do conceito de espectro de resposta para a análise estática de sistemas com
múltiplos graus de liberdade. Este último assunto bem como a definição e
caracterização da acção sı́smica são descritos na secção seguinte.
Espectros de resposta
Considere uma estrutura elástica linear representada na figura 8.4, com uma
massa unitária, M = 1.0, uma rigidez K, e um dado coeficiente de amortec-
C
imento ξ = 2√M K
. Esta estrutura também corresponde a sum sistema vi-
bratório com apenas um grau de liberdade com comportamento idêntico ao
sistema representado na figura 8.3. Assim sendo, a equação de equilı́brio que
rege o movimento é a equação 8.7 e o perı́odo fundamental desta estrutura é
dado por:
r
M
T = 2π
K
.
101
exemplo, uma aceleração de base üg , conforme ilustrado na figura 8.4. Esta
aceleração de base pode corresponder a um acelerograma de um sismo, con-
forme ilustrado no topo esquerdo da figura 8.5. A resposta ao nı́vel da massa
unitária pode ser obtida a partir da resolução da equação de movimento 8.7,
sendo a resposta para essa estrutura definida em termos do deslocamento, u(t),
velocidade, u̇(t) ou aceleração ao longo do tempo ü(t). Para um dado perı́odo
fundamental da estrutura pode seleccionar-se a amplitude máxima da resposta
da estrutura (deslocamento, velocidade ou aceleração), para um dado coefi-
ciente de amortecimento, ξ. Considerando agora a resposta em termos de
acelerações, a amplitude máxima para o perı́odo considerado correponde a um
ponto que pode ser representado num gráfico (por exemplo, o ponto A na
figura 8.5). Se o mesmo movimento sı́smico for aplicado a várias estruturas de
perı́odo diferente, que se obtêm variando a rigidez da estrutura, pode obter-se
a resposta máxima para outros pontos, por exemplo o ponto B ou o ponto
C na figura 8.5. Se se considerar um espectro de perı́odos diferentes podem
ser determinadas as amplitudes máxima de reposta para esses perı́odos. Ao
gráfico que se obtém se se traçar a resposta máxima obtida desta forma para
diferentes perı́odos, designa-se por espectro de resposta de um acelerograma.
102
os valores máximos da resposta quer em termos dos parâmetros associados
ao movimentos (deslocamentos, velocidades e acelerações) quer em termos de
efeitos provocados pelo movimento, por exemplo, esforços de corte ou momen-
tos máximos. Assim, por exemplo, a força de corte máxima que surge na base
(corte basal) do sistema de um grau de liberdade representado na figura 8.4 é
dado por:
Fb = Sa (T ) M (8.9)
onde Sa (T ) é a aceleração obtida do espectro de resposta elástico para uma
estrutura com um dado perı́odo T .
103
linear. Podem ser definidos diferentes coeficientes de comportamento depen-
dendo da grandeza que se está a analisar, sendo que o coeficiente de comporta-
mento mais comum é o coeficiente de comportamento em força que é definido
como o quociente entre a força elástica e a força última e é dado por
Fe
q= (8.10)
Fu
De forma idêntica pode definir-se um coeficiente de comportamento em deslo-
camentos como
ue
qd = (8.11)
uu
O valor que se utiliza para o coeficiente de comportamento pode ser definido
em função de diversos parâmetros como o tipo de de estrutura e até da sobr-
eresistência em relação à cedência, Ω0 , ou em termos da capacidade de dis-
sipação de energia do sistema estrutural. A sobreresistência Ω0 corresponde ao
acréscimo de resistência que a estrutura tem após entrar em cedência e é dado
por:
Fu
Ω0 = (8.12)
Fy
No EC8 este parâmetro da sobreresistência é apresentado na forma
αu
Ω0 = (8.13)
α1
onde os quocientes considerados no EC8 são apresentados na figura 8.7.
O coeficiente de ductilidade para os deslocamentos é dado pelo quociente
entre o deslocamento último e o deslocamento de cedência
uu
µ= (8.14)
uy
104
Figura 8.6: Comportamento não linear de um sistema de um grau de liberdade
Princı́pios gerais
O Eurocódigo 8 define um conjunto de critérios e recomendações cujo objectivo
de principal é a concepção de estruturas por forma a que na eventualidade da
ocorrência de sismos se possam:
105
Figura 8.7: Factores de sobreresistência para estruturas tipo: (a) pórtico com
um piso e um vão; (b) pórtico com vários pisos e um vão; (c) pórtico com vários
pisos e vários vãos; (d) pêndulo invertido ou parede isolada; (e) pórtico-parede;
(f) paredes acopoladas
106
de quantificação.
Os dois requisitos de desempenho estrutural correspondem a perı́odos de
retorno diferentes e dessa forma a acção sı́smica deve ser considerada com dois
nı́veis de intensidade diferentes. Os valores da probabilidade de excedência,
que foram definidos anteriormente, correspondem a valores para estruturas
correntes. A conversão da acção sı́smica de projecto (TR = 475 anos) para a
acção sı́smica correspondente à exigência de limitação de danos (TR = 95 anos)
pode, simplificadamente, ser feita afectando a primeira por um coeficiente de
redução, ν, que varia de 0.4 a 0.55, reflectindo a sismicidade to território na-
cional. A diferenciação da fiabilidade obtém-se classificando as estruturas em
diferentes classes de importância, sendo que a cada classe de importância é
atribuı́do um coeficiente de importância. Assim, quanto maior for o coeficiente
de importância, menor a probabilidade de excedência da acção sı́smica de pro-
jecto.
Terrenos de fundação
A NP EN 1998-1 considera 5 + 2 tipos de terreno de fundação, que podem
ser classificados de acordo com a velocidade média das ondas de corte, vs,30 ,
listados na tabela 8.2. Caso não exista uma caracterização da vs,30 podem
ainda ser usados os valores de NSP T ou valores de cu , tipicamente inferidos a
partir de ensaios CPT. A velocidade média das ondas de corte, vs,30 , deverá
ser calculada de acordo com a seguinte expressão:
30
vs,30 = P hi (8.15)
i vi
107
Tabela 8.2: Classificação dos tipos de terreno de acordo com EC8
Tipo de Descrição do perfil Parâmetros
terreno estratigráfico
vs,30 (m/s) NSP T cu (kPa)
A Rocha ou outra formação > 800
geológica de tipo rochoso, que
inclua, no máximo, 5 m de
material mais fraco à superfı́cie
B Depósitos de areia muito com- 360 − 800 > 50 > 250
pacta, de seixo (cascalho) ou de
argila muito rija, com uma es-
pessura de, pelo menos, várias
dezenas de metros, caracteriza-
dos por um aumento gradual das
propriedades mecânicas com a
profundidade
C Depósitos profundos de areia 180 − 360 15 − 50 70 − 250
compacta ou medianamente
compacta, de seixo (cascalho) ou
de argila rija com uma espessura
entre várias dezenas e muitas
centenas de metros
D Depósitos de solos incoerentes de < 180 < 15 < 70
compacidade baixa a média, ou
de solos predominantemente co-
erentes de consistência mole a
dura
E Perfil de solo com um estrato alu-
vionar superficial com valores de
vs do tipo C ou D e uma es-
pessura entre cerca de 5 m e 20
m, situado sobre um estrato mais
rı́gido com vs > 800 m/s
S1 Depósitos constituı́dos ou con- < 100
tendo um estrato com pelo
menos 10 m de espessura de argi-
las ou siltes moles com um ele-
vado ı́ndice de plasticidade (PI
> 40) e um elevado teor em água
S2 Depósitos de solos com poten-
cial de liquefacção, de argilas
sensı́veis ou qualquer outro perfil
de terreno não incluı́do nos tipos
A a E ou S1
108
• as associadas a falhas que separam as placas tectónicas Euro-Asiática da
Africana;
109
Figura 8.8: Zonamento sı́smico
ag = γI agR (8.16)
110
pelas seguintes expressões:
111
ou seja, é uma aproximação da razão entre as forças sı́smicas a que a estru-
tura ficaria sujeita se a sua resposta fosse completamente elástica, com 5 %
de amortecimento viscoso, e as forças sı́smicas que poderão ser adoptadas no
projecto, com um modelo de análise elástica convencional, que continuem a
assegurar uma resposta satisfatória da estrutura.
Os vários parâmetros necessários para definir o espectro de resposta de
dimensionamento são apresentados nas tabelas 8.4 e 8.5
112
de importância, resume-se aqui o que está descrito no EC8 por se considerar
que é importante incluir alguns comentários adicionais.
Modelação estrutural
A rigidez dos elementos estruturais (de betão armado, mistos e de alvenaria)
deverá ser determinada considerando os efeitos da fendilhação que tendem
113
Tabela 8.8: Valores do coeficiente de importância de acordo com o Anexo
Nacional EC8-1
Classe de Acção sı́smica Acção sı́smica
Importância Tipo 1 Tipo 2
Continente Açores
I 0,65 0,75 0,85
II 1,00 1,00 1,00
III 1,45 1,25 1,15
IV 1,95 1,50 1,35
Método das forças laterais O método das forças laterais pode ser aplicado
a estruturas cujas respostas podem ser aproximadas pelos modos de
vibração fundamentais nas duas direcções principais. Os respectivos
perı́odos T1 devem ser inferiores ao mı́nimo de 2 segundos ou 4TC :
T1 ≤ min(2s, 4 TC ) (8.25)
Força de corte basal A força de corte basal pode ser determinada em qual-
quer das direcções, no plano horizontal, através da seguinte expressão:
Fb = Sd (T1 ) m λ (8.26)
114
P P
Gk + ψE Qk
m= (8.27)
g
onde ψE = φψ2 e g é a aceleração gravı́tica.
Os valores a considerar para o coeficiente φ encontram-se no quadro
seguinte:
T1 = Ct H 3/4 (8.28)
115
considerados através da multiplicação dos efeitos da acção nos elementos
isolados por um factor d, dado por:
x
δ = 1 + 0.6 (8.31)
Le
onde, x representa a distância do elemento em consideração ao centro de
massa, medida na perpendicular à direcção da acção sı́smica considerada;
Le representa a distância entre os dois elementos resistentes mais afasta-
dos, medida na perpendicular à direcção da acção sı́smica considerada.
116
definida no EC7 parece-nos que ainda existe algum trabalho de integração e
articulação dos dois documentos.
Para a verificação de fundações superficiais, o EC8-5 apresenta expressões
para verificação de segurança do deslizamento e para verificação de segurança
à rotura por insuficiência de capacidade resistente ao carregamento. Mais uma
vez, salienta-se que não é explicitamente considerada uma forma para veri-
ficação de segurança ao estado limite de assentamentos excessivos.
Na Parte 1 do EC8 é definido que os esforços nos elementos da fundação
devem ser determinados com base no cálculo pela capacidade real, tendo em
conta eventuais sobreresistências, não sendo necessário que esses efeitos ex-
cedam os correspondentes à resposta elástica da estrutura (q = 1,0). Assim,
o EC8 obrigada a que sejam calculados os esforços que se obtêm usando os
coeficientes de sobreresistência apropriados Ω tal que seja verificada a equação:
117
Os critérios de verificação de segurança para os carregamentos verticais são
definidos na secção 5 que por sua vez remete para o Anexo F do EC8-5. De
acordo com a secção 5 e este Anexo F, para a verificação de segurança a car-
regamentos verticais, para além das verificações que constam do EC7, apenas
é necessário verificar a equação seguinte, não sendo clara a compatibilização
entre as abordagens de cálculo definidas no EC7.
onde
γRd NEd
N =
Nmax
γRd VEd
V =
Nmax
γRd MEd
M =
BNmax
Na equação ?? N , V e M são parâmetros adimensionais para a carga ver-
tical, a carga horizontal e o momento flector a actuar na base da fundação,
respectivamente, aquando da ocorrência um sismo, Nmax é o valor da capaci-
dade resistente a um carregamento vertical sem excentricidade, B é a largura da
fundação, F é um parâmetro adimensional correspondente à força de inércia
do solo, e γRd são os coeficientes de parciais de segurança definidos para os
solos, que se apresentam na tabela ??. O forma de cálculo de NEd não é es-
pecificado nesta parte do EC8 e assume-se que o valor de dimensionamento é
consistente com o valor das cargas verticais que se obtém da superestrutura
(parte da estrutura acima das fundações, seja para um edifı́cio ou uma ponte).
Conforme se verá no exemplo seguinte, esta é a única verificação adicional por
consideração da acção sı́smica.
Para solos puramente coerentes:
c
Nmax = (2 + π) B (8.36)
γM
em que c é a resistência ao corte dum solo coerente não drenado, cu , ou a
resistência de corte cı́clico não drenada, τcy,u , para solos incoerentes e γM é o
coeficiente de segurança dos materiais definidos na tabela 8.10.
A força adimensional F é dada por:
ρag SB
F = (8.37)
c
onde ρ é a massa volúmica do solo, ag é o valor da aceleração máxima em rocha
(ag = γI agR ), e S é o parâmetro definido para o solo, sendo ainda necessário
verificar que 0 ≤ N ≤ 1 e kV ≤ 1k.
Para solos puramente incoerentes a capacidade resistente máxima é dada
por
1 av
Nmax = ρg 1 ± B 2 Nγ (8.38)
2 g
118
onde g é a aceleração gravı́tica, av é a aceleração vertical do solo que pode
ser considerado igual a 0.5ag S, e Nγ é o coeficiente de capacidade resistente
vertical.
O factor adimensional, F é dado por:
ag
F = (8.39)
gtanφ′d
Para a maior parte dos casos F pode ser considerado igual a 0 para solos
coerentes. Para solos incoerentes F pode ser desprezado se ag S ≤ 0.98m/s2.
119
Bibliografia
121