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pt/noticia/16-01-2011/novas-regras-para-a-
economia-global-21031105.htm
Apresento aqui sete coerentes princípios da governação económica global com que talvez eles
concordassem (apresento-os com maior pormenor no meu novo livro, The Globalization
Paradox).
2. "É provável que, num futuro próximo, a governação democrática seja organizada no seio
das comunidades políticas nacionais". O Estado-nação existe, embora não nos melhores
moldes, e continua a ser, no essencial, a única coisa que existe. A governação global é uma
tarefa de loucos. É altamente improvável que os governos nacionais cedam controlo
significativo a instituições transnacionais, e harmonizar normas não beneficiaria sociedades
com diferentes gostos e necessidades. A União Europeia será talvez a única excepção deste
axioma, embora a actual crise em que se encontra tenda a comprovar esse ponto de vista.
As sociedades mais bem sucedidas do futuro darão espaço para experimentação, permitindo
assim uma maior evolução das instituições. Uma economia global que reconheça a
necessidade e o valor da diversidade institucional estimula essa experimentação e essa
evolução em vez de a sufocar.
4. "Os países têm o direito de protegerem as suas próprias regulamentações e instituições".
Os princípios anteriores podem parecer inócuos. Mas possuem fortes implicações que entram
em conflito com a crença geral dos defensores da globalização. Uma dessas implicações é o
direito que cada país tem de salvaguardar as suas opções institucionais. O reconhecimento da
diversidade institucional não teria significado se os países não tivessem instrumentos
disponíveis para moldar e manter - numa só palavra, "proteger" - as suas próprias
instituições.
Aceitar-se-ia, portanto, que os países pudessem manter as regras nacionais - políticas fiscais,
regulamentações financeiras, padrões de mão-de-obra ou regras de protecção do consumidor
- e pudessem fazê-lo erguendo, se necessário, barreiras nas fronteiras, "quando as
transacções comerciais ameaçam visivelmente as práticas nacionais gozando de amplo apoio
popular". Se os adeptos da globalização tiverem razão, os apelos à protecção falharão por
falta de provas ou de apoio. Se estiverem errados, haverá uma válvula de segurança para
assegurar que valores em conflito - as vantagens de economias abertas contra as vantagens
de manter as regulamentações nacionais - sejam devidamente discutidos em debates
públicos.
5. "Os países não têm o direito de impor a outros países as suas instituições". Impor
restrições no comércio transfronteiriço ou na área financeira para manter os valores e as
regulamentações nacionais não deve confundir-se com o utilizá-las para impor esses valores
e regulamentações a outros países. As normas da globalização não devem obrigar os
americanos ou os europeus a consumir mercadorias produzidas de formas que a maioria dos
cidadãos desses países consideram inaceitáveis. Mas também não podem permitir que os EUA
ou a UE usem sanções comerciais ou outras formas de pressão para alterar as leis do
mercado de trabalho, as políticas ambientais ou as regulamentações financeiras de outros
países. Os países têm o direito à diferença. Não à convergência imposta.
6. "Os acordos económicos internacionais deverão definir regras para gerir a interacção entre
as instituições nacionais". Fazer depender dos estados-nação o desempenho das funções de
governação essenciais da economia mundial não implica o abandono das normas
internacionais. O regime de Bretton Woods tinha regras claras, embora limitadas em âmbito e
profundidade. Uma liberdade total completamente descentralizada não beneficiaria ninguém.
O que é preciso é regras de circulação para a economia global que ajudem veículos de
diversas dimensões, formas e velocidades a navegar em torno uns dos outros, em vez de
impor um veículo igual para toda uma velocidade de circulação uniforme. Temos de lutar para
atingir uma globalização máxima que seja consistente com a existência de espaço para a
diversidade nos acordos institucionais nacionais.
7. "Países não democráticos não podem contar com os mesmos direitos e privilégios que as
democracias na ordem económica internacional". O que torna interessantes e legítimos os
princípios anteriores é que assentam em deliberação democrática - quando esta se verifica
realmente, dentro dos Estados. Quando os Estados não são democráticos esta estrutura cai.
Deixamos de poder presumir que os acordos institucionais reflectem as preferências dos
cidadãos. Por isso, os países não democráticos têm de jogar com regras diferentes e menos
permissivas.
Estes são os princípios que os arquitectos da próxima ordem económica global têm de
aceitar. Mais importante ainda, terão de assimilar o paradoxo supremo que cada um destes
princípios destaca: a globalização funciona melhor quando não é levada demasiado longe.