Memória Gastronômica

A gastronomia abrange tudo relacionado a alimentos e bebidas, desde sua

preparação até o consumo. Mas até que ponto se estende essa abrangência? Será que
a gastronomia pode ser restrita ou classificada?

Para muitos, a gastronomia é apenas o envolvimento na parte alimentícia,

porém, com um olhar mais aplicado ao assunto, observamos que a gastronomia é
muito mais que as definições que encontramos no dia a dia.

Se voltarmos à nossa infância, veremos que a gastronomia nos aparenta

diferente, sempre com referências saudosas e até lembranças sensoriais, capazes de
dar água na boca: o arroz com feijão da mãe, o bolo de fubá da vizinha, o doce de
mamão da vovó. Na gastronomia estão embutidas as características regionais, sazonais
e de natureza humana, pois cada um imprime no preparo dos alimentos e bebidas sua
individualidade, formada a partir da sua história.

A gastronomia se constrói e altera a cada dia, desde um nível mais simples até
o que chamamos de “alta gastronomia”, onde se aprimoram os sabores e a natureza
dos alimentos, onde as combinações são mais que meras junções de ingredientes, são
uniões de culturas; especiarias da Índia, legumes da Europa, frutas da Ásia, grãos da
África, todos esses elementos colaboram para a formação de finas e saborosas
descobertas, que não se resumem ao conteúdo da panela.

Imagine um mundo inteiro dentro da cozinha, ao alcance das mãos. Queijo da

Itália e um vinho francês para acompanhar, pimentas mexicanas para um sabor
especial, pães árabes e salsichões alemães. Produtos comuns e elaborados, baratos e
caros, populares e sofisticados são um prato cheio para denominar a gastronomia
como altamente democrática, não cabendo limitação para suas criações e extensão.

O que torna a gastronomia encantadora é seu potencial agregador e sua

capacidade de mexer com a memória. Para mim tanto faz se é o ovo caipira com gema
mole, o caviar ou foie gras que você prefere, o que importa mesmo é que a sensação
de prazer que se eterniza a cada garfada desejada.