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Publicado originalmente em Dados – Revista de Ciências Sociais, 34 (3): 415-41.

Rio de Janeiro: IUPERJ,


1991.
Traduzido para o espanhol e republicado em Sociológica, ano 20, n.º 57: 275-306 (número especial “Acción Colectiva y
Sociabilidad Política”). Cidade do México: Departamento de Sociologia da Universidad Autónoma Metropolitana em
Azcapotzalco, janeiro-abril de 2005.

O CONCEITO DE CLASSES SOCIAIS


E A LÓGICA DA AÇÃO COLETIVA1

Bruno P. W. Reis*

O artigo sustenta que a formulação olsoniana da lógica da ação coletiva, ao


demonstrar a indeterminação da conduta política dos membros de uma mesma
classe social, lança um grave desafio sobre a teoria marxista das classes
sociais, pois impede qualquer afirmação conclusiva sobre a inevitabilidade da
revolução proletária. Em seguida examinam-se as contribuições ao assunto
feitas por autores como G. A. Cohen, John Roemer, Jon Elster e Adam
Przeworski, buscando captar em que medida cada um se inclina por uma
concepção “objetivista” (ênfase na classe “em si”) ou “subjetivista” (ênfase na
classe “para si”) do conceito de classe social. Ao final, o artigo conclui
reconhecendo o caráter incontornável da indeterminação da conduta política
dos membros de uma classe e rechaçando as tentativas – especialmente a de
Przeworski – de se contornar o problema através de redefinições do conceito de
classe social que redundam na redução do nexo causal entre classe e conflito a
uma circularidade tautológica. Preserva-se, não obstante, a relevância do
conceito de classes sociais na análise sociológica – em termos muito próximos,
senão idênticos, às formulações de Max Weber sobre o tema – como base
freqüente, embora não necessária, da ação comunal.

1 Este trabalho é fruto de minha participação nas atividades do Laboratório de Estudos Marxistas
Contemporâneos, do Iuperj, sob a coordenação do Prof. Luiz J. Werneck Vianna. Além do Prof. Werneck
Vianna, também os Profs. Fábio Wanderley Reis, da UFMG, Maria Regina Soares de Lima, do Iuperj, e
Argelina Cheibub Figueiredo, da Unicamp, tiveram acesso a uma versão anterior do trabalho, e a eles
agradeço as críticas e comentários feitos naquela ocasião, dos quais muito se beneficia o trabalho em sua
versão atual. Gostaria de registrar, também, minha gratidão ao Prof. William Ricardo de Sá, do
Departamento de Ciências Econômicas da UFMG e editor da revista Nova Economia, cujo incentivo
melhorou o trabalho a ponto de tornar possível a sua publicação. Naturalmente, nenhuma das pessoas
citadas é responsável pelos defeitos que porventura eu não tenha sido capaz de evitar.
* Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – IUPERJ,
professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Ferais – UFMG (Belo
Horizonte, Brasil).
2

1. Introdução

Eternamente recorrente é a querela em torno das abordagens “micro” e “macro”


nas ciências sociais. Definido o nível “micro” como o estudo das decisões individuais,
potencialmente racionais, dos diversos agentes sociais, e o nível “macro” como a
contextualização conjuntural e estrutural dessas decisões, a ciência social
contemporânea tem feito oscilar sua ênfase ora para um, ora para o outro lado da
balança, numa sucessão interminável de “ismos” metodológicos (individualismo ou
situacionalismo metodológico, estruturalismo, funcionalismo etc.). A busca de um
predomínio cabal de uma abordagem sobre a outra está, contudo, aparentemente fadada
ao fracasso. De um lado, a racionalidade de uma ação não se pode afirmar ou negar a não
ser por referência ao contexto no qual ela se realiza; de outro, esta contextualização
estrutural será imprestável a menos que seja compatível com uma agregação
infinitesimal de intencionalidades.
Central nas ciências sociais, o tema das classes sociais é o campo onde tais
questões têm ressonância mais imediata, pois ali trata-se precisamente de lidar
simultaneamente com a clássica distinção sociológica entre “agência” e “estrutura”, ou
seja, o alcance e limites da ação humana individual, de um lado, e seus constrangimentos
estruturais decorrentes da posição de classe dos diversos indivíduos, de outro.
Naturalmente, a abordagem do conceito de classe social tem sido objeto de hesitação
semelhante àquela que se observa no debate metodológico geral, e também aqui a busca
do predomínio absoluto de uma das dimensões (“micro” ou “macro”) do problema
parece conduzir a formulações insatisfatórias do conceito.
O presente trabalho pretende lidar com a perturbação da concepção marxista
tradicional de classe social que decorre da contribuição de Mancur Olson Jr. ao estudo da
lógica da ação coletiva. Através do estudo da contribuição do chamado “marxismo
analítico” ao tema, contraposta à abordagem oferecida por E. P. Thompson, pretende-se
defender o ponto de vista expresso acima, acerca da dependência recíproca dos planos
“micro” e “macro” na teoria social.

2. Olson e a “lógica da ação coletiva”

Obra de impacto crucial na discussão em torno de classes na ciência social


contemporânea, The Logic of Collective Action, de Mancur Olson Jr., publicada em 1965,
pode ser considerada a referência fundamental da atual abordagem “micro” do tema. Ali,
Olson realiza um feito básico, que é separar analiticamente o interesse individual do
3

membro de uma classe ou grupo do interesse desta classe tomada coletivamente: ele
demonstra que não necessariamente é do interesse do membro de uma classe agir
conforme os interesses de sua classe. Se partirmos da suposição de que um indivíduo
persegue racionalmente seus interesses, daí não poderemos inferir que ele irá se engajar
numa ação coletiva que vise a atender seus interesses (desde que o grupo seja
suficientemente grande para que a abstenção do indivíduo em questão não impeça a
provisão do bem público). Isto porque, tratando-se de bens públicos, não se poderá
vedar a ninguém o acesso aos benefícios proporcionados pela ação coletiva em questão, e
qualquer indivíduo estará em condições de usufruir destes benefícios sem enfrentar o
ônus – e eventualmente os riscos – de se engajar na ação; a possibilidade de “pegar
carona” na ação dos outros pode acabar levando à inação generalizada. Desta
possibilidade Olson deriva o conceito de “grupo latente”, que é aquele grupo
objetivamente definido em função de um interesse comum que lhe é imputado, mas que
não consegue superar o problema da carona e se constituir num ator coletivo
organizado.2
Usando o jargão da teoria dos jogos, é como se cada indivíduo se defrontasse com
uma situação conhecida como “dilema do prisioneiro” (no caso da teoria de Olson, trata-
se de um jogo entre n atores modelado na forma de um jogo entre dois atores: “eu” e “os
outros”). O dilema do prisioneiro é um “jogo” no qual cada ator, diante de uma situação
em que tem de optar entre cooperar (“C”) ou não cooperar (“D”) com os demais, ordena
suas preferências da seguinte forma (diferentes ordenações destas preferências – que
podem ser expressas em utilidades ordinais ou cardinais – definem os diversos jogos
possíveis): a sua situação preferida é aquela em que os outros cooperam mas ele não (a
“carona”: DC); em segundo lugar, cada ator coloca a situação de cooperação universal
(CC); em terceiro, a não-cooperação universal (DD); e como a pior alternativa, a hipótese
de adotar sozinho a estratégia cooperativa enquanto os outros se abstêm de fazê-lo (CD).
(Sinteticamente, a ordem de preferências dos atores em um dilema do prisioneiro pode
ser assim expressa: DC>CC>DD>CD.) A solução do jogo do dilema do prisioneiro é o
egoísmo universal (DD), pois esta é a única posição de equilíbrio entre os quatro
desfechos possíveis, posto que é a única situação em que nenhum ator individualmente
se sentirá estimulado a mudar sua estratégia (pois nela ninguém pode melhorar sua
posição mudando unilateralmente sua estratégia para a cooperação). A estratégia não-

2 Olson, The Logic of Collective Action, pp. 48-52. Além do próprio livro de Olson, uma competente
sistematização recente do tema encontra-se em Russell Hardin, Collective Action. Uma apresentação
rápida (mas não tanto quanto a esboçada aqui) pode ser encontrada em meu trabalho “Reflexões sobre a
Epistemologia de Popper e o Individualismo Metodológico”, esp. pp. 18-27.
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cooperativa é dominante, no sentido de que é a “minha” melhor, independentemente do


que os outros façam.
O interesse do dilema do prisioneiro reside no fato de que, dada uma ordem de
preferências como a descrita acima, o resultado agregado da ação racional e auto-
interessada de atores que agem independentemente entre si está longe de ser o resultado
preferido por todos, não configurando nem mesmo um ótimo de Pareto (uma vez que, se
todos cooperarem, todos melhorarão sua posição sem piorar a posição de ninguém; não
obstante, a cooperação universal não configura a solução do jogo, pois é uma situação
instável – já que nela todos poderão melhorar sua posição individualmente ao parar de
cooperar).3 É um problema central na teoria social e política pelo menos desde Hobbes,
cujo argumento básico consiste justamente na percepção de que os homens em estado de
natureza encontram-se diante de um dilema do prisioneiro no que concerne à
instauração da ordem, donde resulta sua defesa do poder absoluto do “Leviatã” estatal
que forçaria os homens ao estado de “cooperação universal” acima referido.4
No livro de Olson, a paralisia geral naturalmente decorrente de seu argumento
acerca da lógica da ação coletiva somente poderá ser evitada através do oferecimento de
“incentivos seletivos” destinados exclusivamente àqueles que se engajarem (exemplos
comuns de incentivos seletivos são a assistência médica prestada pelos sindicatos aos
trabalhadores sindicalizados, a coação dos recalcitrantes e a condecoração dos heróis em

3 Na verdade, a solução de equilíbrio (DD) do dilema do prisioneiro é a única situação – das quatro possíveis
– que não preenche os requisitos do ótimo de Pareto. Para uma discussão acerca desta característica
peculiar ao dilema do prisioneiro, ver George Tsebelis, Nested Games, pp. 65-8. Outros dois exemplos de
jogos “clássicos” são: (1) o chicken (em relação ao dilema do prisioneiro, o jogo chicken inverte a ordem de
preferência dos dois piores resultados: assim, para cada ator, DC>CC>CD>DD), com duas soluções de
equilíbrio possíveis (DC e CD); e (2) o assurance (inverte a ordem dos dois melhores resultados de um
dilema do prisioneiro: assim, CC>DC>DD>CD), que possui dois equilíbrios (CC e DD), mas apenas um
deles plausível (CC). Outros jogos existem, definidos por outras ordenações das preferências dos atores
(alguns dos quais sem nenhuma solução de equilíbrio), mas os três aqui apresentados são os mais
freqüentemente utilizados – especialmente o dilema do prisioneiro, particularmente importante devido às
suas implicações teóricas centrais ao problema da ação coletiva. (Alguns autores buscam uma solução
cooperativa para o dilema do prisioneiro através da introdução da hipótese da repetição infinita do jogo,
que torna as estratégias dos atores dependentes entre si, uma vez que a possibilidade de retaliação à não-
cooperação induziria os atores a um comportamento cooperativo. O trabalho fundamental nesta direção é
Robert Axelrod, The Evolution of Cooperation.) Uma boa introdução aos fundamentos da teoria dos jogos
é Frank Zagare, Game Theory. Um “manual” mais aprofundado e especificamente voltado para a ciência
política é Peter Ordeshook, Game Theory and Political Theory. Dos autores “clássicos” da bibliografia
dedicada à teoria dos jogos (cf. por exemplo as referências bibliográficas dos livros de Zagare e Ordeshook
supracitados), a única obra já traduzida e publicada no Brasil é Anatol Rapoport, Lutas, Jogos e Debates.
4 Embora a associação do argumento de Hobbes no Leviatã com o dilema do prisioneiro já não seja
novidade, um recente trabalho longamente dedicado ao tema é Jean Hampton, Hobbes and the Social
Contract Tradition. Uma rápida apresentação da clássica controvérsia acerca de Hobbes mantida por
Howard Warrender (The Political Philosophy of Hobbes), John Plamenatz (“Mr. Warrender’s Hobbes”) e
A. E. Taylor (“The Ethical Doctrine of Hobbes”), analisada à luz da contribuição de Olson, pode ser
encontrada em Fábio Wanderley Reis, “Solidariedade, Interesses e Desenvolvimento Político”, pp. 190-3.
5

uma ação qualquer etc.).5 Brian Barry, contudo, chama atenção para a dimensão
tautológica deste argumento, que permite ao modelo de Olson – assim como acontece
com outras teorias “econômicas” – explicar qualquer fenômeno por sua mera
redescrição. Assim, se uma organização qualquer se mantém, sempre se poderá afirmar
que ela ofereceu incentivos seletivos, pois quaisquer que sejam os motivos particulares
que as pessoas tenham para apoiá-la, estes motivos poderão ser chamados de incentivos
seletivos.6
A larga abrangência do conceito de “incentivos seletivos” pode tornar a teoria de
Olson tautológica e portanto imprestável para apoiar predições empíricas específicas
(como diz Barry, ela não pode dizer que uma coisa vai acontecer e não outra), bem como
para explicar fatos históricos concretos. Não obstante, este mesmo caráter tautológico
afirma a possibilidade de universalização da descrição analítica que a teoria de Olson faz
da lógica da ação coletiva. Ele é bem-sucedido em sua tentativa de demonstrar que a
adesão de um indivíduo a uma ação coletiva tem de se apoiar em motivos outros que não
sejam o próprio interesse do indivíduo no bem público que a ação coletiva em questão se
propõe conseguir. Com a afirmação desta tese aparentemente simples, Olson conseguiu
lançar luz sobre inúmeros problemas teóricos, sendo pelo menos dois fundamentais e
imediatamente visíveis. Em primeiro lugar, forçou os pluralistas norte-americanos a
matizarem suas análises, que tomavam descuidadamente os grupos de pressão como
atores principais de sua abordagem teórica: depois de Olson, os grupos podem continuar
sendo atores relevantes, mas não se pode mais basear um argumento em hipóteses sobre
comportamento de grupos sem antes estender a análise até os indivíduos integrantes
destes grupos.7 Um segundo desdobramento importante do modelo de Olson é o fato de
iluminar de forma reveladora a clássica distinção marxiana entre “classe em si” e “classe
para si”, conforme veremos na próxima seção.

3. Duas abordagens do conceito marxiano de classe

A definição dos conceitos de “classe em si” e “classe para si” foi deixada em
termos um tanto ambíguos pelo próprio Karl Marx.8 Com base em dois tipos de

5 Olson, The Logic of Collective Action, pp. 51 e 133.


6 Barry, Los Sociólogos, los Economistas y la Democracia, p. 43.
7 Um recente desenvolvimento da lógica de Olson, agora com a atenção voltada mais detidamente para o
estudo dos grupos de pressão, encontra-se em Mancur Olson, The Rise and Decline of Nations.
8 Segundo Jon Elster, a propósito, a expressão “classe em si” jamais foi sequer empregada por Marx, tendo
sido a ele atribuída como o oposto natural de “classe para si”, efetivamente usada por Marx em A Miséria
6

abordagem atualmente em voga do conceito de classe social, podem-se delinear duas


interpretações acerca da importância relativa dos termos “classe em si” e “classe para si”.
Uma abordagem, que chamaremos de “objetivista” (ou “estrutural”, como prefere G.A.
Cohen),9 define as classes sociais com base em alguma referência “objetiva” à realidade
social: uma pessoa pertence a uma determinada classe social de acordo com sua relação
de propriedade com os meios de produção, ou pelo fato de vender ou comprar força de
trabalho, ou por emprestar ou tomar emprestado capital etc. A outra abordagem, que
chamaremos “subjetivista”, encontra sua formulação mais famosa no âmbito do
marxismo na obra de E. P. Thompson, e define classe social por meio da consciência
pessoal dos integrantes da classe.10 No que diz respeito à dicotomia marxiana classe em
si/para si, a abordagem objetivista conferirá clara ênfase à caracterização da classe “em
si”, ao desqualificar a consciência individual dos atores enquanto critério definidor de
uma classe social; paralelamente, a abordagem subjetivista identificará o conceito de
classe social com a noção marxiana de “classe para si”, ao jogar para segundo plano a
posição objetiva dos atores nas relações de produção, uma vez constatado o fato de que
não há correspondência imediata entre esta posição e a consciência (bem como a
conduta) dos atores. A contribuição de Olson torna-se valiosa para o tema na medida em
que lida precisamente com o nexo entre consciência e ação, e a lógica que preside a
passagem de uma à outra, assim como as condições requeridas para que um grupo

da Filosofia (Elster, Making Sense of Marx, p. 346. Ver também Bottomore, Dicionário do Pensamento
Marxista, verbete “classe”, p. 62, para a citação pertinente de A Miséria da Filosofia.). Aliás, é necessário
dizer que, apesar de sua importância capital na teoria marxista, o conceito de classe nunca foi formulado
de maneira sistemática nem por Marx, nem por Engels, fato que talvez explique em parte algumas
ambigüidades observadas no uso que ambos fizeram dele – como, por exemplo, afirmar em A Ideologia
Alemã que a própria emergência da classe é um produto da burguesia e, no Manifesto Comunista, que a
história de todas as sociedades até hoje existentes é a história da luta de classes, aí se incluindo a luta entre
patrícios e plebeus em Roma. (Cf. Bottomore, Dicionário do Pensamento Marxista, verbete “classe”, p. 61.
Ver também A Ideologia Alemã, p. 119, e o “Manifesto do Partido Comunista”, p. 22. A própria Ideologia
Alemã, por sinal, “está repleta de referências a classes em sociedades pré-capitalistas”, conforme constata
Elster, Making Sense of Marx, p. 334, tradução minha.) Talvez se possa mesmo afirmar que a associação
explícita e exclusiva do conceito de classe com a esfera econômica seja antes uma contribuição de Max
Weber, que definiu classes sociais – diferentemente dos “grupos de status” ou “estamentos” – de maneira
exclusivamente econômica, segundo o comportamento comum de grupos de pessoas em relação ao
mercado (cf. Weber, “Classe, Estamento, Partido”, esp. p. 212: “Podemos falar de uma ‘classe’ quando: 1)
certo número de pessoas tem em comum um componente causal específico em suas oportunidades de
vida, e na medida em que 2) esse componente é representado exclusivamente pelos interesses econômicos
da posse de bens e oportunidades de renda, e 3) é representado sob as condições de mercado de produtos
ou mercado de trabalho.”).
9 Cohen, Karl Marx’s Theory of History, p. 73.
10 “A classe acontece quando alguns homens, como resultado de experiências comuns (herdadas ou
partilhadas), sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos
interesses diferem dos seus (e geralmente se opõem a estes).” (E.P. Thompson, A Formação da Classe
Operária Inglesa, vol. I, p. 10. Uma pequena correção na tradução original foi necessária.)
7

objetivamente definido, porém “latente”, contorne o problema da carona e torne-se


capaz de agir concertadamente de maneira eficaz.
Visto o problema sob este ângulo, a separação analítica que Olson estabelece
entre consciência e ação nos mostra com clareza a limitação crucial a que está sujeita a
abordagem subjetivista: ao identificar o conceito marxiano de classe social com a
consciência de classe, a leitura subjetivista procura contornar a dissociação que se
observa entre posição (objetiva) nas relações de produção e consciência de classe. Só que
Olson demonstra existir uma ruptura também entre a consciência de classe e a ação
orientada para o interesse de classe, sendo perfeitamente possível que um ator
consciente, lúcido e racional com relação à sua posição de classe e à defesa de seus
interesses prefira ser um “carona” e se beneficiar de eventuais iniciativas de terceiros a
ter de arcar com o ônus do engajamento em ações coletivas. O esforço da abordagem
subjetivista em sua tentativa de conectar a noção de classe com a ação informada pelo
interesse de classe revela-se inócuo, portanto. Pois não se pode avançar ainda mais e
abandonar também a atenção à consciência de classe – identificando-se diretamente o
conceito de classe social com a ação coletiva organizada – sem que com isto se esvazie
completamente a especificidade do conceito de classe social em relação a qualquer grupo
organizado, tais como sindicatos, partidos, associações comunitárias, igrejas etc.,
perdendo-se de vista as cruciais implicações inerentes à condição de classe no que diz
respeito às chances vitais de cada indivíduo numa determinada sociedade.11
Não menos claro, porém, é o problema que a incorporação da obra de Olson traz
para a abordagem objetivista da teoria marxiana das classes sociais. Pois a mera
possibilidade da opção racional pela “carona” conforme demonstrada por Olson – e a
conseqüente indeterminação do nexo entre interesse coletivo e ação individual que daí
decorre – parece bastar para que a interpretação objetivista tenha de abraçar uma teoria
das classes sociais que dificilmente poderá continuar a se dizer marxista: ela poderá
oferecer uma definição mais ou menos aceitável de um conceito “objetivo” de classe, com
base na qual se poderá construir uma tipologia aproximadamente satisfatória das classes
porventura existentes em um modo de produção qualquer, mas não poderá fazer
qualquer inferência confiável acerca do comportamento político historicamente esperado
destas classes. E foi exatamente em certas inferências acerca do comportamento

11 Vimos acima (nota 7) que esta associação das chances vitais das pessoas com a sua condição de classe já
estava presente em Weber (“Classe, Estamento, Partido”, p. 212): a primeira das três características
definidoras da noção weberiana de “classe” diz respeito às “oportunidades de vida” das pessoas.
implicações relevantes do nexo entre a situação de classe e as chances vitais das pessoas são exploradas em
Fábio Wanderley Reis, “Solidariedade, Interesses e Desenvolvimento Político”, esp. pp. 210-2.
8

esperado das classes sociais no capitalismo que Marx apoiou parte substancial de sua
obra, especialmente no que diz respeito à profecia do advento da revolução proletária.
Naturalmente, está implícita nesta conclusão a suposição de que Marx não estava
consciente do dilema da ação coletiva tal como formulado por Olson. Esta, contudo, está
longe de ser uma suposição indisputada, merecendo consideração mais atenta. Para
Raymond Boudon, por exemplo, Marx não fazia uma associação entre consciência e ação
tão automática quanto a que foi aqui delineada. Escreve ele:
“a distinção entre classe em si e classe para si, as infinitas hesitações de Marx sobre a
noção de consciência de classe, as análises sobre a organização política das classes
mostram que ele estava pelo menos implicitamente consciente do paradoxo de Olson.”12
Creio, contudo, que embora seja altamente provável que Marx se sentisse inseguro
quanto à capacidade de ação política concertada do proletariado, especialmente no que
diz respeito a ações estratégicas com retornos de longo prazo (caso da ação
revolucionária), nada do que Boudon alega nos permite concluir que Marx deixasse de
identificar a consciência de classe como um momento fundamental da luta de classes, e
muito menos nos permite a inferência de que ele, como Olson, admitisse a hipótese de
que classes sociais “conscientes” pudessem permanecer indefinidamente como “grupos
latentes”, incapazes de atuar coletivamente. Pelo contrário, é justamente a recusa
implícita desta possibilidade que fundamenta a tese marxiana da inevitabilidade da
revolução proletária. Jon Elster corrobora no essencial o ponto de vista aqui defendido,
pois, segundo ele, embora por um lado Marx parecesse consciente da possibilidade da
existência de “caronas” entre os capitalistas (tendo falado de regulamentações legais
tanto do trabalho quanto de mecanismos do mercado como formas de proteger os
capitalistas de si próprios), tendia de fato, por outro lado, a identificar consciência de
classe com capacidade de ação concertada pelo menos no que respeita ao proletariado,
não tendo enfrentado frontalmente o fato de que para deslanchar uma greve, uma
revolução, ou mesmo para formar um sindicato, também os operários (mesmo os
“conscientes”) têm de se defrontar com um dilema do prisioneiro.13
Chegamos, deste modo, a uma aparente incompatibilidade fundamental entre a
incorporação da contribuição de Olson e uma teoria das classes sociais em moldes
marxistas. Ao longo da última década, porém, vem ganhando merecido destaque na
produção sociológica internacional um grupo de estudiosos que se propõe precisamente
lidar com temas tradicionalmente marxistas utilizando o instrumental teórico da
“escolha racional” – o mesmo utilizado por Olson. A produção deste grupo de autores

12 Boudon, Efeitos Perversos e Ordem Social, p. 42.


13 Elster, Marx Hoje, p. 148.
9

vem se tornando conhecida pelo nome de “marxismo analítico”, e, naturalmente, um dos


desafios mais espinhosos que se lhes apresenta consiste em tentar superar a aparente
incompatibilidade enunciada acima. A forma como o marxismo analítico vem se
desincumbindo desta tarefa constitui o tema da próxima seção.

4. O “marxismo analítico” e as classes sociais

Apesar de a teoria dos jogos vir apresentando um acelerado desenvolvimento


desde a década de 1950, e de Olson ter publicado seu The Logic of Collective Action em
1965, foi somente a partir dos anos oitenta que a teoria dos jogos e o aparato teórico do
que vem se convencionando chamar de individualismo metodológico começou a ser
utilizado de maneira sistemática no tratamento de temas tipicamente marxistas.

4.1. Elster, Cohen, marxismo e funcionalismo


Em 1982, Jon Elster publicou na revista Theory and Society (vol. 11, nº 4) seu
artigo “Marxismo, Funcionalismo e Teoria dos Jogos”, que é o mais “programático” dos
trabalhos do marxismo analítico. Nesse artigo, Elster rejeita a validade da explicação
funcionalista em ciências sociais e critica diversos autores marxistas por utilizarem-se
largamente do recurso a esse gênero de explicações.14 Sua rejeição ao funcionalismo
apóia-se no fato de que sobre uma explicação funcionalista recai o ônus da demonstração
da existência de um feedback causal do efeito (que explica) para a causa (que vai ser
explicada), o que quase nunca é feito, sendo o feedback apenas tacitamente admitido. O
funcionalismo, portanto, presume que a mera existência de efeitos benéficos de uma
instituição ou padrão de comportamento é suficiente para sua explicação, mesmo no
caso em que os atores não estão conscientes destes efeitos, incorrendo, assim, no erro
que Elster chama de “teleologia objetiva”, isto é, a afirmação da existência de “processos
guiados por uma finalidade sem um sujeito intencional”.15 Numa segunda parte do artigo,
Elster faz uma exposição sumária das principais características da teoria dos jogos e

14 Explicação funcionalista pode ser entendida grosso modo como aquela em que as conseqüências explicam
suas causas. Cf. Elster, “Marxismo, Funcionalismo e Teoria dos Jogos”, esp. pp. 165-7. Para um exame
mais detido do assunto, ver Carl Hempel, “A Lógica da Análise Funcional”, bem como Arthur
Stinchcombe, Constructing Social Theories, cap. 3, esp. pp. 80-101, G. A. Cohen, Karl Marx’s Theory of
History, caps. IX e X, pp. 249-96, e Elster, Explaining Technical Change, esp. cap. 2, pp. 49-68 (agradeço
à Profª Argelina C. Figueiredo pela indicação do livro de Elster).
15 Elster distingue a teleologia objetiva (“postular um propósito sem seu ator”) “tanto da teleologia subjetiva
(atos intencionais com um sujeito intencional) quanto da teleonomia (comportamento adaptativo
modelado pela seleção natural)”, procedimentos por ele considerados válidos. (Cf. Elster, “Marxismo,
Funcionalismo e Teoria dos Jogos”, pp. 166-7. Os trechos citados estão na p. 166.)
10

defende sua utilização pelos autores marxistas em substituição à compreensão


funcionalista do capitalismo comumente adotada por eles até então.
O mais interessante contraponto metodológico de Elster no interior do marxismo
analítico é sem dúvida G. A. Cohen, cuja resposta ao artigo de Elster saiu publicada no
mesmo número de Theory and Society que publicou “Marxismo, Funcionalismo e Teoria
dos Jogos”.16 Cohen concorda com Elster em que o marxismo se tem caracterizado
tradicionalmente pelo uso de explicações nas quais as conseqüências explicam as causas.
Contudo, embora conceda ainda o fato de que as explicações funcionalistas têm sido
utilizadas com freqüência de maneira arbitrária e inconsistente (sem preocupação nem
com a demonstração do feedback causal, nem com a provisão de microfundamentos),
Cohen defende a importância do recurso a explicações funcionalistas em ciências sociais,
tomados os devidos cuidados. No que concerne especificamente ao marxismo, Cohen
afirma que não há como se possa pretender que o materialismo histórico faça algum
sentido senão através do recurso a explicações funcionalistas.17 Diferentemente de Elster,
que vê qualidades na teoria dos jogos e tenta então aplicá-la ao marxismo, Cohen afirma
que não faz a defesa do funcionalismo por ver nele qualidades a priori, mas porque
procura fazer uma defesa do materialismo histórico, e não vê outra forma de fazê-lo
senão através da defesa do tipo de explicação que lhe é inerente.18 Para Cohen, descartar
o funcionalismo implica descartar o marxismo: ele chega mesmo a afirmar que “dizer,
como alguns marxistas o fazem, que ‘a luta de classes é o motor da história’ significa
abandonar o materialismo histórico”.19
É desconcertante a argumentação de Cohen. Como será possível conciliar – a
ponto de caberem ambos sob o mesmo rótulo do “marxismo analítico” – a ênfase
declarada de Cohen em “processos que não são ações” como sendo centrais ao
materialismo histórico, de um lado, com a ostensiva defesa do individualismo
metodológico abraçada por Elster, do outro? Cohen declara, entretanto, que se a ligação
destes “processos” com as ações dos indivíduos não puder ser – ao menos em princípio –
estabelecida, esta impossibilidade será “mortal para o materialismo histórico”, pois
Cohen reconhece que “as ações são causas próximas proeminentes de efeitos sociais”.20
Assim, John Roemer pôde testemunhar que a diferença entre Elster e Cohen acerca da

16 Trata-se de Cohen, “Resposta ao Artigo ‘Marxismo, Funcionalismo e Teoria dos Jogos`, de Jon Elster”.
17 Para uma exposição sintética dos principais argumentos de Elster e Cohen acerca do funcionalismo, ver
meu trabalho “Reflexões sobre a Epistemologia de Popper e o Individualismo Metodológico”, pp. 35-9.
18 Cohen, “Resposta ao Artigo...”, p. 187.
19 Idem, p. 188.
20 Idem, p. 189.
11

validade das explicações funcionalistas em ciências sociais não põe em disputa a


admissão de que todo processo histórico se baseia, em última análise, em ações racionais
individuais; o que Cohen rejeita, sim, é a afirmação de Elster de que só se pode
considerar um evento como explicado depois de compreendidos os micromecanismos a
ele subjacentes.21 A grande diversidade das teorias que podem derivar desta base comum
constitui um dos aspectos mais interessantes daquilo que John Roemer chamou de
“marxismo analiticamente sofisticado” (cujos principais expoentes são, além de Jon
Elster e G. A. Cohen, o próprio John Roemer e Adam Przeworski), fortemente
comprometido com a necessidade da teorização em alto nível de abstração, de modo a –
com base na filosofia analítica contemporânea e em recursos metodológicos usualmente
relacionados à ciência social “burguesa” – buscar a fundamentação teórica formal dos
principais postulados marxistas, tantas vezes tomados dogmaticamente como axiomas.22

4.2. Cohen, Roemer e Elster:


o “objetivismo” no marxismo analítico
Voltando agora ao tema das classes sociais, uma tarefa que naturalmente se
coloca ao marxismo analítico consiste em – à luz da formulação de Olson e das
importantes contribuições que o crescente desenvolvimento da teoria dos jogos propicia
ao tema – reexaminar as razões pelas quais as classes emergem como atores coletivos
importantes (se é que emergem), as condições de possibilidade de sua atuação coletiva e,
naquilo que concerne especificamente ao proletariado, a plausibilidade da atuação
revolucionária que Marx lhe reservou. Em suma, cabe ao marxismo analítico a tarefa de
lidar com a aparente incompatibilidade detectada acima (seção 3) entre a teoria da ação
coletiva tal como formulada por Olson e uma teoria das classes sociais em moldes
marxistas.
À primeira vista, seria de se esperar que o individualismo metodológico
abertamente professado pela maioria dos marxistas analíticos os aproximasse de uma
abordagem subjetivista à la Thompson. No entanto, a índole formal-dedutivista dos
trabalhos dos marxistas analíticos inclinou-os – apesar da existência de importantes
diferenças entre eles, e da notável exceção parcial em que se constitui o trabalho de
Adam Przeworski – na direção de uma abordagem que se poderia dizer objetivista do
conceito de classe. Não há contudo hostilidade contra o trabalho de Thompson, ao qual
Elster se refere como “um estudo histórico impressionante da consciência de classe”.23 O

21 Roemer, “Introduction”, em J. Roemer (ed.), Analytical Marxism, p. 8.


22 Idem, pp. 3-8, esp. pp. 3-4.
23 Elster, Marx Hoje, p. 158.
12

que parece haver, em vez disso, é uma espécie de delimitação de competências entre a
contribuição eminentemente historiográfica de Thompson ao estudo do problema da
formação da consciência de classe, de um lado, e a questão de se forjar uma definição
teórica do conceito de classe, do outro. No que diz respeito ao último ponto, os marxistas
analíticos parecem rechaçar frontalmente as formulações de Thompson, pois os
procedimentos metodológicos dos primeiros – com ênfase na abstração teórica e na
argumentação formal – divergem radicalmente da atenção “empirista” de Thompson aos
fatos e à história.
Uma boa indicação desta atitude pode ser encontrada no livro de Cohen, Karl
Marx’s Theory of History: A Defence. Ali, Cohen dá-se ao trabalho de deter-se sobre a
definição (subjetivista) que Thompson oferece do conceito de classe social, em defesa da
procura de uma definição de tipo objetivista (que Cohen chama, talvez mais
adequadamente, de “definição estrutural”).24 Após definir o proletário como “o produtor
subordinado que deve vender sua força de trabalho para obter seus meios de vida”,
Cohen reconhece que esta definição ainda contém defeitos, mas afirma tratar-se do tipo
correto de definição de classe social, que “define a classe com referência à posição de
seus membros na estrutura econômica, seus direitos e deveres efetivos dentro dela”.25 E
prossegue Cohen:
“A classe de uma pessoa é estabelecida exclusivamente por seu lugar objetivo na rede das
relações de propriedade, embora possa ser difícil identificar tais lugares com nitidez. Sua
consciência, cultura e opiniões políticas não entram na definição de sua posição de
classe. De fato, estas exclusões são necessárias para se preservar o caráter substantivo da
tese marxiana de que a posição de classe condiciona fortemente a consciência, a cultura e
a opinião política.”26
Voltando-se então para Thompson e sua recomendação contra definições “estruturais”
do proletariado, Cohen defende seu próprio ponto de vista, não sem antes elogiar o
“magnífico” trabalho historiográfico de Thompson. Afirma que o erro de Thompson
consiste numa inferência indevida feita a partir de uma premissa verdadeira, e sustenta
que é esta premissa – e não o equivocado conceito de classe indevidamente dela inferido
– que dá forma ao trabalho de Thompson como historiador.27 A premissa verdadeira é
afirmar que as relações de produção não determinam mecanicamente a consciência de
classe; a conclusão injustificada que Thompson daí extrai é que classe não pode ser
definida por referência exclusiva às relações de produção. Cohen argumenta que

24 Cohen, Karl Marx’s Theory of History, esp. pp. 73-7.


25 Idem, p. 73 (traduções minhas).
26 Idem, ibidem (tradução minha).
27 Idem, ibidem.
13

podemos aceitar a premissa e rejeitar a conclusão de Thompson, pois afirmar que as


classes são definidas em função das relações de produção não implica afirmar que as
relações de produção determinam a consciência de classe. Assim, a negação da
determinação “objetiva” (ou estrutural) da consciência de classe não tem nenhuma
relação lógica com uma eventual opção pela determinação “objetiva” (ou estrutural) da
posição de classe.28
Perry Anderson, em seu Arguments Within English Marxism, endossa a crítica
de Cohen e acusa Thompson de fazer uma generalização abusiva dos resultados de sua
pesquisa a respeito do proletariado inglês do século XIX.29 Afinal, pode-se afirmar que os
escravos de Atenas ou os senhores feudais da Alta Idade Média possuíam “consciência de
classe”, ou que agissem concertadamente como membros de uma classe? Se não, será
que deveríamos deixar de caracterizá-los como classes sociais? De fato, como observa
Anderson, Thompson afirma que a formação da classe e da consciência de classe são
estágios avançados do processo histórico real, mas isto o levaria ao paradoxo de admitir
a existência de luta de classes onde não existem classes – a menos que ele estivesse
disposto a abrir mão do conceito de luta de classes para caracterizar os conflitos sociais
anteriores ao século XIX.30
Também em John Roemer prepondera uma abordagem objetivista do conceito de
classe, agora no bojo de uma teoria sobre a exploração. Para Roemer, as classes emergem
da instituição de um mercado de trabalho (ou de um mercado de crédito, seu equivalente
funcional), onde – dependendo de sua dotação inicial de recursos financeiros ou
produtivos – os diversos atores, buscando otimizar seu resultado, venderão ou
comprarão força de trabalho (ou, no caso do mercado de crédito, tomarão emprestado
ou emprestarão capital). Assim, a partir do momento em que os produtores individuais
passam a ter de decidir quanto trabalho irão comprar, vender ou operar por conta
própria (ou quanto capital irão emprestar, tomar emprestado ou mobilizar por conta
própria), emerge a divisão da sociedade em classes sociais, definidas endogenamente
pela relação otimizadora específica de cada um com a compra e a venda de força de
trabalho (ou com o mercado de crédito). Através do seu “princípio de correspondência
entre classe e exploração”, Roemer afirma que todos aqueles que vendem sua força de
trabalho (ou tomam capital emprestado) são explorados, ao passo que todos aqueles que
compram força de trabalho (ou emprestam capital) são exploradores, sendo a exploração

28 Idem, pp. 74-5.


29 Anderson, Arguments Within English Marxism, p. 40.
30 Idem, pp. 41-2.
14

definida pela comparação com a média do tempo de trabalho socialmente necessário que
uma distribuição rigorosamente igualitária do tempo de trabalho requereria de cada
produtor: quem trabalha mais que essa média é explorado; quem trabalha menos, é
explorador.31
Embora em Roemer a posição de classe esteja associada a estratégias
individualmente escolhidas em um mercado competitivo, sua abordagem pode ser dita
objetivista, uma vez que, em seu modelo, a posição de classe de um produtor está
endogenamente relacionada com sua riqueza inicial, e dela deriva necessariamente.32
Jon Elster apóia sua compreensão do conceito de classe basicamente sobre as
contribuições de Cohen e Roemer.33 É impossível, por exemplo, deixar de identificar o
modelo de Roemer por detrás deste trecho de Elster:
“Um trabalhador é alguém que vende sua força de trabalho porque tem que fazê-lo, ou
porque, em termos mais gerais, esse é o melhor meio de aplicar seus dotes produtivos. O
conceito de classe, para ser útil numa teoria da luta de classes, deve agrupar apenas
aqueles que estão unidos pela necessidade e por um destino comum. Daí que, em
economias de mercado com propriedade privada dos meios de produção, uma classe
consiste de indivíduos que têm que adotar o mesmo comportamento de mercado se
quiserem fazer o melhor uso do que possuem. Propriedade dos meios de produção entra
nessa definição de modo indireto, como aquilo que determina qual o comportamento
ótimo diante do mercado. Comportamento gerado pela dotação se torna o critério de
classe.”34
Dito sinteticamente, “uma classe é um grupo de pessoas que, em virtude do que
possuem, são compelidas a exercer as mesmas atividades se querem fazer o melhor uso
de suas dotações”.35
Elster nos lembra, todavia, que uma definição não é uma teoria, e que o interesse
da teoria marxiana das classes sociais não reside em uma eventual definição que Marx
nos tenha oferecido da noção de classe social, mas nas inferências que ele faz a partir de
sua concepção. E – conforme havíamos visto acima (seção 3) – é neste ponto que se
colocam os problemas, não só para as formulações que o próprio Marx nos legou, como
também para a maioria das contribuições recentes dos marxistas analíticos. Segundo

31 Roemer, “New Directions on the Marxian Theory of Exploitation and Class”, pp. 87-9. A teoria de Roemer
encontra sua elaboração completa em Roemer, A General Theory of Exploitation and Class. É
interessante observar que em Roemer a exploração não decorre do processo de trabalho, mas da
concentração relativa da propriedade dos meios de produção. (Cf. Roemer, “New Directions...”, pp. 93-5.)
32 Roemer depois enriquece sua teoria da exploração ao introduzir a acumulação em seu modelo. Seu
enfoque do conceito de classe, entretanto, permanece fundamentalmente o mesmo. (Cf. idem, pp. 95-7 e
seguintes.)
33 Uma exposição sumária das opiniões de Elster sobre o tema pode ser encontrada em Elster, Marx Hoje,
cap. 7, pp. 140-59. Para um tratamento mais completo e detalhado, porém, é imprescindível recorrer a
Elster, Making Sense of Marx, cap. 6, pp. 318-97.
34 Elster, Marx Hoje, pp. 144-5.
35 Elster, “Three Challenges to Class”, p. 147 (tradução minha).
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Elster, a teoria marxiana das classes tinha a pretensão de oferecer a explicação básica dos
conflitos sociais: Marx acreditava que classes objetivamente definidas tendem a se
cristalizar em atores coletivos, e que eventuais atores coletivos sem correspondência em
classes tendem a perder importância. Haveria, assim, uma presunção de que o “mapa”
dos atores coletivos relevantes em uma sociedade poderia ser explicado por referência às
classes sociais objetivamente definidas.
A consideração da existência de grupos religiosos, étnicos, ou de outros grupos
coletivamente atuantes coloca dois óbvios problemas à teoria formulada nesses termos:
(1) a persistência de atores coletivos que não são classes, e (2) o fracasso de algumas
classes em organizarem-se como atores coletivos.36 A Antiguidade Clássica nos oferece
um bom campo de teste da resistência da teoria marxiana fora do contexto capitalista.37
Ao longo de toda a história da civilização greco-romana, o conflito social central
travou-se entre patrícios e plebeus, que todavia não são propriamente classes
(economicamente definidas), mas antes o que Max Weber chamou de “grupos de status”,
ou “estamentos”.38 O próprio Marx – num prefácio de 1869 à segunda edição de O 18
Brumário de Luís Bonaparte39 – refere-se aos escravos de Roma (indubitavelmente uma
classe, segundo os critérios que a definem por referência às relações de produção)40 como
o “pedestal passivo” sobre o qual se desenrolaria a luta de classes entre os homens livres,

36 Idem, pp. 147-8.


37 Cf. Elster, Making Sense of Marx, pp. 331-5. Nestas páginas Elster mostra que “conflitos sociais em
sociedades pré-capitalistas colocam um sério problema para a teoria marxista das classes” (p. 335,
tradução minha), especialmente se compreendemos “classes” como economicamente definidas. O próprio
Marx foi muitas vezes “inconsistente no que disse sobre classes nessas sociedades” (idem, ibidem), como se
pode observar, por exemplo, nas inconsistências entre a Ideologia Alemã e o Manifesto Comunista
mencionadas acima (nota 7).
38 Para a distinção weberiana entre “classe” e “estamento”, ver Weber, “Classe, Estamento, Partido”, pp. 211-
26. Sua formulação mais sintética encontra-se na seguinte passagem: “Em contraste com a ‘situação de
classe` determinada apenas por motivos econômicos, desejamos designar como ‘situação de status` todo
componente típico do destino dos homens, determinado por uma estimativa específica, positiva ou
negativa, da honra.” (Idem, p. 218.) Uma outra dimensão do problema tem a ver com o reconhecimento da
existência de hábitos compartilhados por membros de uma mesma classe (a chamada “cultura de classe”),
dimensão esta que não se confunde com a noção de estamento, uma vez que a cultura de classe não
necessariamente supõe a percepção (ou “consciência”) de pertencer a um grupo por parte dos membros da
classe, ao contrário do que ocorre no caso dos grupos de status. Uma utilização interessante do tema da
“cultura de classe” – embora a expressão não seja ali empregada – encontra-se em Joseph Schumpeter,
“Social Classes in an Ethnically Homogeneous Environment”, pp. 107-8. Conectada a este tema existe uma
vasta literatura que procura estudar os componentes sócio-psicológicos das classes sociais (por contraste
com os meros “estratos” que se podem distinguir de maneira mais ou menos artificial) e de sua maior ou
menor propensão à ação coletiva e/ou ao conflito.
39 Marx, “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, p. 326.
40 Weber, contudo, classifica os escravos como um estamento, em virtude de eles não terem a “oportunidade
de usar, em proveito próprio, bens e serviços no mercado”. (Weber, “Classe, Estamento, Partido”, p. 214.)
16

ricos e pobres, num caso histórico de classe que nunca se constituiu como ator coletivo.41
Segundo Elster, porém, esta inexistência da ação coletiva de classe entre os escravos não
constitui um desafio real à teoria marxiana das classes, uma vez que a sua mera
possibilidade foi um fator importante na determinação das relações sociais. O mesmo
não se pode dizer, contudo, da afirmação weberiana de que há sociedades
(“estamentais”) em que o conflito central não é protagonizado por classes sociais, mas
por grupos de status: esta possibilidade, segundo Elster, não é compatível com o papel
preponderante que Marx destinava às classes na dinâmica dos conflitos sociais.42 Assim,
para Elster, no que se refere aos dois “desafios” acima lançados à teoria marxiana das
classes sociais tal como aqui esboçada, apenas o primeiro – a persistência histórica
continuada de atores coletivos que não são classes economicamente definidas – constitui
para ela uma real dificuldade; já o fracasso observado de algumas classes em
organizarem-se como atores coletivos (o segundo desafio acima apresentado) não
constitui um problema para a teoria marxiana, desde que se possa argumentar em favor
da existência de uma “luta de classes latente” que influenciasse as relações sociais.43
Um outro problema que Elster levanta para a teoria marxiana das classes sociais
reside no ponto suscitado por Ralf Dahrendorf, segundo o qual diferenciais de poder
presentes em relações de dominação e subordinação devem constituir uma dimensão
relevante na definição das classes, se queremos que a teoria das classes sociais tenha um
papel importante na explicação dos conflitos sociais.44 Relacionada a isto desponta a
afirmação de Elster acerca das relações imediatas entre classes, que envolveriam um
processo hierarquizado de “mão dupla”, com a transferência do excedente de baixo para
cima, de um lado, e a transferência de ordens de cima para baixo, do outro. Esta
transferência do excedente, contudo, não necessariamente coincide com a relação de
exploração, e Elster cita como exemplo o fato de que o arrendatário capitalista transfere

41 Elster, “Three Challenges to Class”, pp. 151-2. Segundo M. I. Finley (Economia e Sociedade na Grécia
Antiga, p. 126), as revoltas de escravos registradas na Antiguidade sempre foram guiadas pelo intuito de
alguns de escaparem à condição de escravos; nunca visaram à extinção da escravidão, ou mesmo à
melhoria das condições de vida dos escravos. A liberdade pela qual lutavam incluía o direito de possuir
outros indivíduos como escravos. Elster – adotando uma posição talvez um tanto extremada – recusa-se a
qualificar tais revoltas como lutas de classes no sentido marxista (Elster, “Three Challenges to Class”, p.
152). Não vamos entrar, porém, na discussão deste ponto, uma vez que – conforme se verá logo adiante –
ele é irrelevante para a argumentação de Elster.
42 Elster, idem, p. 153.
43 Idem, pp. 152-3.
44 Elster, Marx Hoje, pp. 145-6 e 158. A contribuição, hoje clássica, de Dahrendorf ao assunto é seu livro
Class and Class Conflict in Industrial Society, de 1957. Erik Olin Wright procura contemplar esta mesma
dimensão do problema ao introduzir as “dotações organizacionais” dos atores (“organization assets”)
como uma das variáveis definidoras de suas posições de classe (cf. Wright, “What is Middle about the
Middle Class?”, esp. pp. 126-39). Sua concepção é mais amplamente desenvolvida em seu livro, Classes.
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excedente para o proprietário de terras, mas não é explorado por este. “São ambos
exploradores, vivendo do trabalho dos trabalhadores que exploram.”45 Este tipo de
relação de exploração indireta, que não envolve confrontação face a face, é comum no
capitalismo. Segundo Elster, daí decorre mais um problema para a teoria marxiana das
classes, posto que o conflito de classes é tipicamente gerado por confrontações face a
face, embora muitas vezes relações mais remotas sejam mais relevantes. Esta “miopia”
freqüente da luta de classes torna pouco provável que dela derive diretamente a grande
mudança social esperada por Marx.46
A conclusão de Elster aponta para a absoluta relevância das classes sociais como
fonte de conflito (pelo menos, como uma fonte entre outras)47 e como um terreno
inescapável da barganha para a formação de alianças que definirão as estruturas de
poder em uma sociedade. Contudo, embora afirme a absoluta relevância das classes
sociais, Elster recusa-se a admitir o postulado marxiano da centralidade da estrutura de
classe na explicação do conflito social entre grupos organizados em todas as sociedades,48
corroborando o ponto de vista aqui expresso anteriormente acerca da indeterminação
fundamental do comportamento político das classes sociais.

4.3. Przeworski: uma tentativa de “solução de compromisso”


Com base no que foi exposto até aqui, seríamos levados a concluir que o
marxismo analítico inclina-se decididamente na direção de uma abordagem objetivista
do tema das classes sociais. Como vimos, porém, Elster reconhece que a definição
tradicionalmente atribuída a Marx (a definição “estrutural” de Cohen), baseada nas
relações de produção, enfrenta diversas dificuldades, tendo de se submeter a uma série
de ajustes ad hoc à medida que nos aproximamos de casos empíricos específicos.
Todavia, a despeito de todos estes ajustes de “sintonia fina”, o conceito de classe

45 Elster, Marx Hoje, p. 147. A teoria de Roemer – na qual Elster se baseia – exclui a possibilidade de um só
ator ser ao mesmo tempo explorado e explorador, pois não mais define a exploração em função do
processo de trabalho, mas sim como uma decorrência lógica das diferentes dotações “iniciais” de recursos
produtivos (meios de produção) dos diversos atores: como já foi visto acima, são explorados aqueles que
para otimizar são forçados a trabalhar mais que a média do tempo de trabalho socialmente necessário (ou
seja, vender sua força de trabalho ou tomar capital emprestado); aqueles que otimizam trabalhando
menos que essa média (ou seja, aqueles que compram força de trabalho ou emprestam capital) são
exploradores. É possível ainda que alguém otimize seu resultado abstendo-se de comprar ou vender força
de trabalho, não sendo neste caso nem explorado e nem explorador; não é possível, contudo, que alguém
seja ao mesmo tempo explorado e explorador. (Cf. Roemer, “New Directions...”, esp. pp. 81-102. Para a
demonstração formal das posições de classe possíveis no modelo, cf. Roemer, A General Theory..., pp. 69-
77.)
46 Ver a respeito Elster, Marx Hoje, pp. 146-7 e Elster, Making Sense of Marx, pp. 340-1.
47 Elster, “Three Challenges to Class”, p. 160.
48 Idem, pp. 160-1.
18

resultante permanece incapaz de responder ao problema básico enunciado ao final da


seção 3, acima: persiste a indeterminação intrínseca do comportamento político das
classes sociais, e a conseqüente incompatibilidade fundamental entre Olson e Marx.
Assim sendo, talvez um maior equilíbrio entre o formalismo “objetivista” do marxismo
analítico e uma abordagem “subjetivista” à la Thompson se fizesse desejável, e até agora
o maior esforço nesta direção foi realizado por Adam Przeworski.49
À primeira vista, a concepção de Przeworski não se diferencia muito da definição
objetivista que Elster sintetizou com base em Cohen e Roemer, embora traga alterações
que flexibilizam de forma peculiar o uso do conceito de classe. Vejamos sua expressão
inicial:
“(...) devemos raciocinar segundo a concepção (...) de que as condições econômicas,
políticas e ideológicas estruturam conjuntamente a esfera das lutas que têm como
resultado a organização, desorganização e reorganização de classes. Assim sendo, as
classes devem ser consideradas como efeitos de lutas estruturadas por condições
objetivas que são simultaneamente de ordem econômica, política e ideológica.”50
Pode-se notar que Przeworski mantém a posição de que “condições objetivas”
estruturam lutas que darão origem às classes, porém marca algumas diferenças
importantes em relação aos demais autores aqui estudados: (1) em primeiro lugar,
abandona a concepção weberiana de classe (definida apenas economicamente) ao
afirmar que estas condições objetivas são “simultaneamente de ordem econômica,
política e ideológica”, diluindo a distinção entre classe e estamento e dando maior
abrangência ao conceito de classe; (2) em segundo lugar, sua referência à “organização,
desorganização e reorganização” das classes traz para dentro da própria definição do
conceito a constatação das permanentes transformações a que está sujeito o recorte dos
atores coletivos relevantes em uma sociedade;51 (3) finalmente, a concepção de
Przeworski define as classes pelas lutas efetivamente ocorridas dentro da estrutura
objetiva dada, e não mais pelo comportamento hipotético a que os agentes seriam
levados se otimizassem.52 Este último é o ponto mais importante da contribuição de

49 Cf. Przeworski, Capitalismo e Social-Democracia, cap. 2 (“A Organização do Proletariado em Classe: O


Processo de Formação de Classes”), pp. 67-119, esp. o pós-escrito ao cap. 2 (“Individualismo Metodológico
e o Conceito de Classe”), pp. 113-9.
50 Idem, p. 67.
51 A propósito da dificuldade em ajustarem-se à realidade de que padecem as teorias sobre classes,
Przeworski escreve: “O problema [da relação entre classes objetivamente definidas e classes consideradas
como agentes históricos] persiste porque tais classificações, quer sejam concebidas em sedes de partidos
ou em academias, são constantemente postas à prova pela vida real ou, mais precisamente, pela prática
política.” (Idem, p. 85.)
52 ”As classes não são determinadas unicamente por quaisquer posições objetivas porque constituem
efeitos de lutas, e essas lutas não são determinadas exclusivamente pelas relações de produção. A
formulação tradicional não nos permite raciocinar teoricamente sobre as lutas de classes, uma vez que as
reduz a um epifenômeno ou as considera isentas de determinação objetiva. As lutas de classes não têm o
19

Przeworski e seu traço mais saliente. Em Przeworski, classe e ação estão identificadas a
priori, e os “grupos latentes” de Olson não são mais classes, pelo menos enquanto não
influenciarem, ainda que inconscientemente, o “mapa” das relações sociais (como o
fizeram os escravos de Roma, conforme vimos com Elster). “A própria teoria de classes”,
escreve Przeworski, “deve ser considerada intrínseca a projetos políticos específicos.”53
Para Przeworski, um dos motivos centrais pelo qual a análise de classes não se
pode apoiar nas pessoas que ocupam lugares no sistema de produção é que o
desenvolvimento capitalista gera necessariamente uma apreciável massa de “força de
trabalho socialmente disponível” que não encontra emprego produtivo, mas que pode
encontrar diversas formas de organização, determinadas não pela acumulação, mas pela
luta de classes. A forma de organização desta massa irá fatalmente se refletir na
organização do operariado, o que leva Przeworski à conclusão de que “são possíveis
diversas organizações de classes alternativas em qualquer momento da história.”54 A
definição do proletariado com base exclusiva na separação dos meios de produção fora
possível no século XIX, quando ela correspondia à noção intuitiva de operário manual,
empregado na indústria. Já em meados do século XX, porém, o conceito abarcava
“secretárias e administradores de empresa, enfermeiras e advogados de grandes
companhias, professores e policiais, operadores de computador e diretores-executivos”,
criando “uma sensação de inadequação, já perceptível em Kautsky”.55 O rápido
crescimento do setor de serviços fez com que os operários manuais, industriários,
subitamente se tornassem minoria absoluta, não somente em relação à sociedade como
um todo, mas também dentro do próprio “proletariado”.
Em suma, a concepção de Przeworski toma as relações sociais dadas –
econômicas, políticas e ideológicas – como definidoras de uma “estrutura de escolhas
dadas em um determinado momento da história”.56 Assim, as classes sociais não
emanam diretamente das relações sociais, mas constituem efeitos das práticas que os
atores historicamente escolheram. Estas escolhas, contudo, não são arbitrárias, mas

caráter de epifenômenos e nem são livres de determinação. São estruturadas pela totalidade das relações
econômicas, políticas e ideológicas, e produzem um efeito autônomo sobre o processo de formação de
classes.” (Idem, p. 86.) A flagrante circularidade desta formulação (classes como efeitos de lutas de
classes...) é o preço – alto demais, conforme veremos adiante (seção 5) – que Przeworski paga em sua
tentativa de contornar a indeterminação da conduta política das classes sociais derivada do modelo de
Olson.
53 Idem, p. 87.
54 Idem, pp. 67-8. O trecho citado está na p. 68.
55 Idem, p. 76.
56 Idem, p. 93.
20

estruturadas pelas opções deixadas abertas pelas relações sociais, que são tomadas por
cada indivíduo como dadas. No sentido inverso, estas mesmas relações sociais
estruturadoras das escolhas sofrerão a influência do efeito agregado destas escolhas,
sendo por elas modificadas e gerando novas estruturas de escolhas, diferentes das
anteriores.57 Disto decorre a interpretação que Przeworski oferece para a afirmação da
luta de classes como “motor da história”: para ele, tal afirmação tem o valor de um
“postulado metodológico”, pois “todos os conflitos que ocorrem em qualquer momento
da história podem ser compreendidos em termos históricos se e somente se forem vistos
como sendo efeitos da formação de classes e por sua vez produzindo efeitos sobre essa
formação”.58

5. Conclusão: o marxismo analítico condenado ao weberianismo?

A teoria de Przeworski – pode-se ver claramente – consiste num grande esforço


de interfecundação recíproca entre as dimensões “micro” e “macro” da teoria sociológica.
O que Przeworski procura é evitar tanto a arbitrariedade contida na inaceitável
generalização teórica de um caso histórico isolado em que se baseia a interpretação de
Thompson, quanto o formalismo – aparentemente estéril – da busca de uma definição
puramente objetiva das classes sociais. Contudo, o resultado de seu esforço redunda
antes num exemplo do que não se deve fazer quando se trata de tentar compatibilizar as
dimensões “micro” e “macro” da análise sociológica. É o que vou tentar mostrar nesta
conclusão.
A diferença básica entre Przeworski e Roemer se deve ao fato de que o resultado
do jogo de Roemer é determinado pela distribuição inicial, uma vez que ele supõe a
adoção, pelos atores, de um comportamento otimizador. Ali os atores, dadas as suas
dotações iniciais, dispõem de uma estratégia racional otimizadora que determina
inexoravelmente a sua condição de explorado ou explorador. Przeworski acusa o modelo
de Roemer de fazer com que, por exemplo, num sistema de produção capitalista, aquele
que – em virtude de uma dotação inicial relativamente pequena – é forçado a vender sua
força de trabalho para otimizar seu bem-estar final esteja irremediavelmente condenado
ao proletariado e à exploração capitalista de seu trabalho por terceiros, a menos que
consiga abandonar as relações de produção capitalistas e fazer a opção revolucionária

57 Idem, pp. 93-8.


58 Idem, p. 100.
21

rumo ao socialismo.59 Przeworski pretende elaborar um sistema mais indeterminado,


com uma concepção menos linear da história que aquela que ele atribui a Roemer. Sua
concepção preserva a indeterminação da história ao mesmo tempo que procura
contornar a possibilidade – que se depreende em Olson – de uma classe permanecer
indefinidamente na condição de “grupo latente”, incapaz de agir coletivamente. Só que o
faz a um preço muito alto, pois a identificação a priori entre classe e ação levada a cabo
por Przeworski torna oco o conceito de classe social, despindo-o de todo o seu significado
sociológico específico ao torná-lo indistinguível de qualquer grupo organizado. O
conceito de classe social traz consigo relevantes implicações sociológicas próprias
independentemente da capacidade de ação coletiva que uma classe porventura venha a
ter, sendo inútil – ou mesmo nocivo – qualquer esforço de associá-lo intrinsecamente à
idéia de um “grupo que age”. (Para ficar com apenas um exemplo de tais implicações,
pode-se mencionar a questão da determinação parcial das “chances vitais” de cada
indivíduo, anteriormente referida, decorrente dos constrangimentos estruturais que sua
situação de classe lhe impõe, como nos lembra Weber: este leque de “oportunidades de
vida” é determinado – em seus traços fundamentais – de forma independente da
capacidade de ação coletiva da classe.)
Observemos agora um pouco mais de perto a elaboração de Przeworski. Temos
inicialmente uma descrição circular bastante esquemática da dinâmica da interação e da
evolução social, tal como ele apresenta: cada indivíduo toma como dadas determinadas
relações sociais que estruturam escolhas individuais que, agregadas, influenciarão e
modificarão aquelas relações sociais iniciais e assim por diante indefinidamente. Até aí,
nenhum reparo a fazer: a construção é tão esquemática que se torna óbvia e trivial. O
ponto relevante consiste em determinar o que é que define as classes sociais: se as
escolhas individuais efetivamente feitas (como quer Przeworski), ou se o leque das
opções deixadas abertas a cada indivíduo. A resposta não pode admitir dúvidas: se se
quer preservar a especificidade do conceito de classe social frente a qualquer forma de
organização ou associação empiricamente observável, de modo a preservar sua
relevância sociológica no que diz respeito às diferentes chances vitais com que se
deparam as pessoas, então só se pode escolher a segunda alternativa e definir as classes
sociais com base nas diferentes opções a que cada uma tem acesso – tal como fizeram
Cohen, Roemer e Elster, além de Weber e mesmo Marx.

59 Cf. idem, cap. 7 (“Exploração, Conflito de Classes e o Socialismo: O Materialismo Ético de John Roemer”),
pp. 261-78.
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Quanto ao problema da indeterminação da conduta política das classes sociais


assim definidas, cabe aceitá-lo com todas as suas implicações, e não insistir em
contorná-lo por meio de reelaborações – estas sim, estéreis – do conceito de classe
social. Pois estas reelaborações não “resolvem” o problema, antes evitam-no através da
negação do próprio conceito de classe social. Esta ânsia em associar as classes sociais
com determinados padrões esperados de comportamento político é evidente em
Przeworski (como em Thompson), mas não deixa de influenciar também – ainda que
apenas marginalmente – a obra de Elster.
Elster refere-se ao tema da indeterminação da atuação das classes sociais como
um “desafio” ao conceito de classe social, e distingue a sua “definição” de classe social da
“teoria” marxiana das classes sociais,60 como se lamentasse – nostálgico? – ver-se hoje
impedido de fazer as afirmações fortes (e, hoje sabemos, improcedentes) que Marx
extraiu de sua teoria das classes sociais. O que se conclui, aqui, é que esta indeterminação
não constitui propriamente um desafio ao conceito de classe social, mas sim ao uso que
Marx fez dele. Isto porque, como vimos, o conceito de classe social preserva sua
relevância e especificidade sociológica mesmo sem estar vinculado à capacidade de ação
coletiva organizada – fato que o próprio Elster reconhece.61 Do outro lado, no que tange à
sua distinção entre “definição” e “teoria”, Elster parece querer da “teoria” mais do que ela
pode dar. Embora se possa concordar que uma definição não necessariamente configura,
por si só, uma teoria, deve-se admitir que Elster não se restringe a fornecer uma
definição do conceito de classe social, pois a definição de Elster começa a dar ensejo a
teorizações em torno de classes sociais a partir do instante mesmo em que se deixa de
lado a idéia genérica de classe e se começa a falar de classes específicas em contextos
históricos (ou “modos de produção”) específicos, segundo os parâmetros gerais
fornecidos pela definição. E várias inferências continuam a poder ser feitas acerca do
comportamento dos membros das diversas classes sociais, só que exclusivamente acerca
de seu comportamento “econômico” (no mercado de trabalho ou de crédito), pois este é
o traço definidor das classes sociais, aquele que determina de modo fundamental as
chances vitais de cada indivíduo em uma determinada forma de sociedade. O que a
incorporação do modelo de Olson nos impede de fazer são inferências históricas
concretas acerca da conduta política dos membros das classes sociais, mas não acerca de

60 Elster, “Three Challenges to Class”, esp. p. 147.


61 O conceito weberiano de classe social, por exemplo, não é de forma alguma “desafiado” pela inexistência
de um vínculo necessário entre classe e ação coletiva. Indo ainda mais longe, e para dizer as coisas de
forma clara, afirmo que a inexistência desta vinculação a priori entre classe e ação coletiva é condição
necessária da relevância sociológica do conceito de classe social.
23

sua conduta econômica.62 E se por acaso se constata que a mera polarização da sociedade
entre proletários e capitalistas faz tábula rasa de importantes diferenciações internas
entre os membros de uma mesma classe, deve-se refinar o conceito para tentar
incorporar as sutilezas necessárias. Outras configurações das classes sociais que se
revelem iluminadoras da realidade podem nos levar mesmo a abandonar o conceito de
“capitalismo” como definidor de nossa atual realidade histórica e trocá-lo por outro
qualquer (socialismo?). Alternativamente, pode ocorrer que, numa sociedade
crescentemente igualitária, as classes sociais economicamente definidas deixem não só
de balizar os conflitos sociais centrais da sociedade como também percam relevância na
determinação das principais oportunidades de vida (ou chances vitais) das várias
pessoas: neste caso, o conceito de classe social perderia paulatinamente sua relevância e
centralidade sociológica em favor de algum outro conceito qualquer, definidor de outra
clivagem porventura mais relevante. O que definitivamente o analista não deve fazer é
recusar-se à teorização, colando os olhos à empiria e limitando-se a narrar os
acontecimentos à medida que estes se desenrolam, chamando de classes sociais
quaisquer grupos organizados em função dos quais se definam os conflitos sociais
básicos. Um procedimento como este não poderia ter pretensão ao rótulo de “ciência”
social, uma vez que, ao definir a partir dos conflitos sociais um conceito (“classes
sociais”) que se pretende relevante para o estudo destes mesmos conflitos sociais,
transforma numa definição aquilo que inicialmente se postulava como um nexo causal,
despindo o conceito de classe social de qualquer interesse ou importância, pelo menos no
que diz respeito à explicação dos conflitos sociais, pois qualquer relação entre classes
sociais e conflitos sociais encontra-se reduzida a uma oca tautologia.
Quanto ao alegado determinismo histórico do modelo de Roemer, não passa do
reflexo aparente de um esforço teórico a-histórico de “dar nome aos bois”. Ele pretende
formular uma teoria geral das classes sociais vinculada a estratégias específicas no
âmbito do mercado – de trabalho ou de crédito – que atores racionais (isto é,
otimizadores) seriam compelidos a adotar (daí a impressão de determinismo). Roemer
chama sua teoria de “geral” porque espera que se aplique, é certo, a qualquer modo de
produção, tal como classicamente definidos na obra de Marx. Só que isto não implica

62 E aqui cumpre reconhecer que chegamos a uma noção de classes sociais extraordinariamente próxima da
concepção weberiana, que identifica “situação de classe” com “situação de mercado” (base possível e
freqüente, mas não necessária, da “ação comunal”), determinada pela “forma pela qual a propriedade
material é distribuída entre as várias pessoas”. Creio ser quase desnecessário a esta altura registrar a
semelhança entre a concepção de Weber e a de Roemer: nem ao mercado de crédito como eventual
definidor da situação de classe Weber deixa de se referir. (Cf. Weber, “Classe, Estamento, Partido”, pp.
212-4.)
24

admitir nela qualquer teoria “histórica” da passagem de um modo de produção a outro.63


Roemer simplesmente trabalha com diversos “tipos ideais” de modos de produção e
procura elaborar uma definição de classe social que possa ser aplicada a qualquer um
deles de forma proveitosa, uma vez que se mantém sempre a correspondência entre a
posição de classe e o status de explorador ou explorado de cada indivíduo.
Assim, é nas obras de Cohen, Roemer e Elster – e não na de Przeworski – que
encontramos um esforço proveitoso de compatibilização entre as dimensões “micro” e
“macro” da análise sociológica, pelo menos no que diz respeito ao tema das classes
sociais. Eles submetem uma definição “macro” das classes sociais ao crivo da
intencionalidade individual de atores racionais e saem dali com o que é possível sair: (1)
algumas inferências acerca de seu comportamento (“econômico”) no mercado, e (2)
algumas considerações acerca das relações de poder em que se encontram inseridas as
diversas classes sociais; fatores estes que, conjuntamente, influenciam de modo
fundamental as chances vitais das diversas pessoas. O que não mais conseguem extrair
do conceito são as fundamentais inferências marxianas acerca do comportamento
político das diversas classes sociais, especialmente no que diz respeito à ação coletiva
organizada e, conseqüentemente, à revolução.
O esforço de compatibilização entre os níveis “macro” e “micro” da análise
sociológica não precisa, portanto, redundar em circularidades insolúveis, nem tampouco
na reformulação precipitada de todo e qualquer conceito “macro” cujas implicações
habituais se vejam desafiadas por eventuais descobertas ao nível “micro” –
especialmente quando tais reformulações podem nos levar a evitar a questão através da
mera troca dos nomes dos conceitos com os quais operamos, impossibilitando-nos de
extrair do “desafio” as lições pertinentes.

Belo Horizonte, fevereiro/maio de 1991.

63 No âmbito da bibliografia relacionada ao marxismo analítico, uma contribuição interessante nesta direção
– realizada por um historiador – é Robert Brenner, “The Social Basis of Economic Development”, que
procura lidar com os microfundamentos do processo de passagem do feudalismo ao capitalismo.
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