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RESUMO
O Projeto de Revisão da NBR 6118 aborda as diretrizes para durabilidade das estruturas de concreto e
introduz alguns conceitos sobre a vida útil indicando um valor esperado. A estrutura, mesmo bem
projetada, poderá apresentar não-conformidades decorrentes da fase de construção. Desta forma, a
estimativa da vida útil de uma estrutura somente poderá ser realizada posteriormente a sua execução
utilizando as informações reais. O objetivo principal deste trabalho é abordar algumas técnicas não
destrutivas de inspeção já difundidas, as quais, associadas a métodos de confiabilidade estrutural
permitirão estimar a vida útil da estrutura de concreto imediatamente após a execução.
ABSTRACT
The draft of new NBR 6118 shows the guidelines for durability of concrete structures and introduces
some concepts about the service life indicating an expected value. The structure, even well projected, it
can present current no-conformities of the construction phase. Thus, the estimation of service life of a
structure can only be done using the real information after the construction. The main objective of this
paper is to approach some well-known non-destructive techniques of inspection in conjunction with
methods of structural reliability that will allow estimating the service life of concrete structure immediately
after the construction.
1. INTRODUÇÃO
O Projeto de Revisão da NBR 6118 aborda em seu texto de discussão, de forma mais
direta e objetiva, as diretrizes para durabilidade das estruturas de concreto e introduz
alguns conceitos sobre a vida útil, citando as principais fases que a afetam e indicando
um valor esperado de 50 anos. Por tratar-se de uma norma para projeto, todo o
enfoque é dado para os cuidados em relação a estas fases.
Apesar do avanço representado pelas preconizações do texto normativo, é de
conhecimento geral que mesmo bem projetada, a estrutura poderá apresentar não-
conformidades decorrentes da fase de construção ou posterior. Os conceitos
relacionados com a vida útil foram definidos mas existem complicadores que são os
procedimentos, o equacionamento para avaliá-la e o nível de segurança aceitável.
Considera-se que não será necessário esperar os 50 anos de vida para concluir que a
estrutura foi projetada conforme a norma. Desta forma, a verificação da vida útil de uma
estrutura deve ser realizada logo após a sua execução utilizando as informações reais,
ou seja, o cobrimento real das armaduras, a qualidade do concreto de cobrimento, as
dimensões das seções dos elementos, etc. Embora tal proposição possa parecer de
difícil efetivação, verifica-se que isto é possível sem que o custo seja onerado. Outro
ponto positivo neste processo é que permitirá estimar, além da vida útil, a segurança
real da estrutura no momento que ela entra em operação constituindo assim um
instrumento de controle.
Na abordagem da interface do projeto com a construção, utilização e manutenção, a
norma preceitua sobre o recebimento dos dois materiais básicos da estrutura: o
concreto e o aço, indicando ações para o caso de não-conformidades. Entretanto a
vida útil ainda não consta como parâmetro de aceitação sobretudo pela inexistência de
uma forma para quantificá-la. Torna-se importante neste momento iniciar a discussão
de como utilizar os preceitos de durabilidade para que no futuro seja possível certificar
a vida útil de uma estrutura recém construída, ou seja, responder a seguinte questão:
a estrutura que acaba de ser concluída tem uma vida útil não menor que 50 anos?
3. INSPEÇÃO
Várias técnicas não destrutivas de inspeção foram desenvolvidas, principalmente para
avaliação de estruturas deterioradas as quais poderão ser aplicadas na estrutura recém
construída. Os pontos desfavoráveis principais em um processo de inspeção em uma
estrutura recém construída são: conscientização dos construtores em investir neste tipo
ação e aceitação por parte do proprietário ou usuário da realização da inspeção. Para
os construtores, talvez a tarefa seja menos trabalhosa pois a sua responsabilidade
perdura durante a vida da edificação e quanto mais certificados ele tenha que
comprove a qualidade da obra executada, melhor será para o caso em que sofra ações
judiciais que algumas vezes são fruto de má utilização, falta de manutenção ou mesmo
de alterações realizadas sem o seu conhecimento e aprovação. A questão que pode
resultar trabalhosa é quanto aos proprietários. Esta com o tempo poderá desaparecer.
O entendimento atual do proprietário é que se existe uma inspeção na obra é porque
algo está errado e a desconfiança pode gerar conflitos entre as partes. Esta conduta
pode ser mudada ao longo do tempo com as devidas explicações dadas pelos
construtores e órgãos de fiscalização.
Uma vez ultrapassadas as barreiras citadas anteriormente, resta definir quais os
ensaios necessários para que se obtenha os dados requeridos para comprovação que
os critérios de durabilidade foram aplicados e a vida útil esperada atende ao previsto.
Para tal pode-se iniciar adaptando os ensaios de controle de materiais já largamente
utilizados e que são fundamentais no cálculo ou avaliação de estruturas.
4. ÍNDICE DE CONFIABILIDADE
As normas existentes em diversos países estão calibradas para um determinado valor
de probabilidade de falha, incluso quando os métodos recomendados para a
verificação de segurança não utilizam explicitamente a probabilidade de falha. Ainda
assim, adotar a probabilidade de falha como critério do limite aceitável é, talvez, o
melhor procedimento. Nesta linha, ALLEN (1993) apresentou um método empregado
no Canadá para a avaliação de estruturas existentes. De forma geral, segundo o
pesquisador, o método está baseado no índice de confiabilidade de projeto (â), que
naquele país é de 3,5 para as pontes e para os edifícios. Este valor é equivalente à
probabilidade de falha (Pf) de 2,32×10-4. Para a avaliação, este valor é ajustado à
situação existente mediante a redução determinada pelo comportamento do sistema
estrutural, a categoria do risco e do comportamento passado.
DITLEVSEN (1989) apresenta os valores recomendados pela norma da Dinamarca
onde â é de 4,2 (Pf de 1,33×10 -5 ), para a classe de segurança normal com período de
retorno de 1 ano. Para o período de retorno superior, este valor diminui. No Eurocódigo
1, em referencia a lajes, o valor de â para o estado limite último é de 3,83 (Pf de
6,4×10-5 ) e 1,5 (Pf de 6,68×10-2) para o estado limite de utilização, ambos para um
período de retorno de 50 anos.
Baseando-se nos valores do índice de confiabilidade recomendados pelo Eurocódigo 1,
em RILEM (1996) se propõe o emprego de valores de â ligeiramente menores para o
caso da vida útil. Para o estado limite último, que se considera associado com o
colapso ou outras formas de falha mecânica da estrutura, o valor de â sug erido é de
3,1 (Pf de 9,68×10-4). Este valor deve ser adotado para os casos em que a falha não
produz fortes conseqüências; em caso contrário, o valor deve ser 3,83 como no
Eurocódigo 1. Para o estado limite de utilização, o valor de â proposto pelos autores
também são os do Eurocódigo 1. Este valor pode ser elevado a 2,5 (Pf de 6,21×10-3)
em situações nas quais seja necessário o aviso prévio da falha e que os custos de
recuperação sejam altos.
A norma brasileira utiliza coeficientes para obtenção da segurança aceitável. Para tal
ela adota um método de cálculo semiprobabilístico que proporciona à estrutura valores
de probabilidade de falha próximos a 10-6, que equivale a um índice de confiabilidade
de 4,75. Para edifícios fora das zonas de risco de sismos, nos Estados Unidos da
América, o índice de confiabilidade é de 3,0 (Pf de 1,35×10-3).
Como sugestão para inicio dos procedimentos de estimativa da vida útil, pode-se
adotar uma probabilidade de falha de 10-3, que equivale a um índice de confiabilidade
de 3,09.
5. CONCLUSÃO
Foram apresentadas algumas questões concernentes à durabilidade e à vida útil das
estruturas de concreto armado ou protendido. Na abordagem procurou-se apresentar
somente alguns pontos com o intuito de dar inicio em um processo que resulte, no
futuro, na possibilidade de se estimar a vida útil de uma estrutura recém construída.
A adoção de métodos probabilísticos tanto para a avaliação como para estimar a vida
útil não é uma tarefa simples. A partir da abordagem da NBR 6118 sobre o tema da
vida útil, deve-se avançar na correlação durabilidade-vida útil como forma de melhoria
da qualidade das construções.
Para que o tema não perpetue apenas no texto, é necessária uma ação por parte dos
órgãos financiadores de construções, dos órgãos fiscalizadores, das associações de
engenheiros e dos construtores, no sentido de implementar procedimentos de controle
e de avaliação seguindo a filosofia apresentada neste trabalho.
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