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COMO ESTIMAR A VIDA ÚTIL DE ESTRUTURAS PROJETADAS

COM CRITÉRIOS QUE VISAM A DURABILIDADE

Turibio José da Silva


Universidade Federal de Uberlândia – Uberlândia - MG
tjsilva@ufu.br

RESUMO
O Projeto de Revisão da NBR 6118 aborda as diretrizes para durabilidade das estruturas de concreto e
introduz alguns conceitos sobre a vida útil indicando um valor esperado. A estrutura, mesmo bem
projetada, poderá apresentar não-conformidades decorrentes da fase de construção. Desta forma, a
estimativa da vida útil de uma estrutura somente poderá ser realizada posteriormente a sua execução
utilizando as informações reais. O objetivo principal deste trabalho é abordar algumas técnicas não
destrutivas de inspeção já difundidas, as quais, associadas a métodos de confiabilidade estrutural
permitirão estimar a vida útil da estrutura de concreto imediatamente após a execução.

palavras-chave: vida útil, durabilidade, inspeção, confiabilidade estrutural.

ABSTRACT
The draft of new NBR 6118 shows the guidelines for durability of concrete structures and introduces
some concepts about the service life indicating an expected value. The structure, even well projected, it
can present current no-conformities of the construction phase. Thus, the estimation of service life of a
structure can only be done using the real information after the construction. The main objective of this
paper is to approach some well-known non-destructive techniques of inspection in conjunction with
methods of structural reliability that will allow estimating the service life of concrete structure immediately
after the construction.

Key words: service life, durability, inspection, structural reliability.

1. INTRODUÇÃO
O Projeto de Revisão da NBR 6118 aborda em seu texto de discussão, de forma mais
direta e objetiva, as diretrizes para durabilidade das estruturas de concreto e introduz
alguns conceitos sobre a vida útil, citando as principais fases que a afetam e indicando
um valor esperado de 50 anos. Por tratar-se de uma norma para projeto, todo o
enfoque é dado para os cuidados em relação a estas fases.
Apesar do avanço representado pelas preconizações do texto normativo, é de
conhecimento geral que mesmo bem projetada, a estrutura poderá apresentar não-
conformidades decorrentes da fase de construção ou posterior. Os conceitos
relacionados com a vida útil foram definidos mas existem complicadores que são os
procedimentos, o equacionamento para avaliá-la e o nível de segurança aceitável.
Considera-se que não será necessário esperar os 50 anos de vida para concluir que a
estrutura foi projetada conforme a norma. Desta forma, a verificação da vida útil de uma
estrutura deve ser realizada logo após a sua execução utilizando as informações reais,
ou seja, o cobrimento real das armaduras, a qualidade do concreto de cobrimento, as
dimensões das seções dos elementos, etc. Embora tal proposição possa parecer de
difícil efetivação, verifica-se que isto é possível sem que o custo seja onerado. Outro
ponto positivo neste processo é que permitirá estimar, além da vida útil, a segurança
real da estrutura no momento que ela entra em operação constituindo assim um
instrumento de controle.
Na abordagem da interface do projeto com a construção, utilização e manutenção, a
norma preceitua sobre o recebimento dos dois materiais básicos da estrutura: o
concreto e o aço, indicando ações para o caso de não-conformidades. Entretanto a
vida útil ainda não consta como parâmetro de aceitação sobretudo pela inexistência de
uma forma para quantificá-la. Torna-se importante neste momento iniciar a discussão
de como utilizar os preceitos de durabilidade para que no futuro seja possível certificar
a vida útil de uma estrutura recém construída, ou seja, responder a seguinte questão:
a estrutura que acaba de ser concluída tem uma vida útil não menor que 50 anos?

2. VIDA ÚTIL DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

2.1. Conceitos e critérios


Existe uma proximidade entre os conceitos de vida útil e durabilidade que às vezes leva
à utilização equivocada dos termos. Pode-se considerar que a vida útil é a
quantificação da durabilidade que se supõe ser apenas uma qualidade da estrutura.
A NBR 6118, em seus comentários, preceitua que a vida útil pode também ser
entendida como o período de tempo durante o qual a estrutura é capaz de
desempenhar bem as funções para as quais foi projetada. Do mesmo texto, pode-se
supor três vidas úteis possíveis: de projeto, de serviço e total.
No conceito de vida útil fica clara a necessidade de fixar um valor mínimo aceitável
para a função de controle escolhida. Desafortunadamente, e tal como comentado em
SOMMERVILLE (1992) existe uma escassa quantidade de estudos dirigidos para a
escolha das variáveis de controle e a fixação dos valores mínimos aceitáveis. A
escolha do critério de aceitação deve ser estabelecida em função do tipo de estudo
realizado, podendo distinguir-se entre vida útil de projeto, vida útil de serviço e vida útil
total.
Segundo VESIKARI (1988) os requerimentos que limitam a vida útil podem ser
técnicos, funcionais ou econômicos. Os requerimentos técnicos são todos aqueles não
relacionados com o uso da estrutura. Os requerimentos funcionais referem-se à
capacidade de uma estrutura para cumprir com o conjunto principal de funções para a
qual foi projetada, tais como resistir às diversas ações. Os requerimentos econômicos
são relativos ao custo de manutenção necessário para que a estrutura siga em uso.
De acordo com a NBR 6118, por vida útil de projeto, entende-se o período de tempo
durante o qual se mantêm as características das estruturas de concreto sem exigir, em
relação às prescrições de manutenção de manutenção previstas, medidas extras de
manutenção e reparo, isto é, é após esse período que começa a efetiva deterioração
da estrutura, com o aparecimento de sinais visíveis como: produtos de corrosão da
armadura, desagregação do concreto, fissuras, etc.
Para a determinação da vida útil relacionada à deterioração por corrosão de armaduras
é possível fixar diversos critérios, segundo propostas de distintos pesquisadores, ainda
que, novamente, estes diferem pouco entre si (HELENE, 1993 e ANDRADE, 1996). Os
critérios mais empregados são a despassivação, a fissuração por produtos de
corrosão, certa perda de seção das armaduras, ou a perda de capacidade resistente.
Baseando-se no modelo de deterioração de TUUTTI (1982), HELENE (1993) distingue
entre vários possíveis conceitos de vida útil, função do critério adotado para o limite
aceitável. A NBR 6118 incorporou em seus comentários o modelo apresentado pelo
pesquisador.
2.2. Métodos para estimar a vida útil
A vida útil tem sido objeto de estudos nos últimos anos. Em grande parte as pesquisas
estão centradas em estruturas em deterioração mas a experiência acumulada é
importante para a aplicação em estruturas recém construídas. Um grande número de
pesquisadores deste tema, entre eles, VESIKARI (1988), TEPLÝ (1993) e RILEM
(1996) sugerem que a estimativa da vida útil não pode ser realizada de uma forma
puramente determinista.
A necessidade de considerar a vida útil de uma forma probabilística surgiu pelo fato de
que a maioria dos parâmetros envolvida nos processos é de natureza aleatória,
principalmente as condiciones ambientais, e por tanto há que caracterizar as variáveis.
Isto requer dispor de uma grande quantidade de dados, necessários para obter uma
representação estatística confiável das distintas variáveis.
Ademais dos fatores mencionados, SIEMES (1985) acrescenta o fato de que a vida útil
é uma quantidade estocástica e que as várias partes de uma estrutura tem diferentes
vidas úteis. Finalmente, afirma que ainda quando algumas informações para o estudo
da vida útil estejam disponíveis, todavia fica por determinar a incerteza de qual
probabilidade esta associada ao limite de vida.
Um dos primeiros e importantes trabalhos apresentados sobre a aplicação de métodos
probabilísticos na vida útil é de KRAKER em 1982. Nele foi realizada uma explanação
da filosofia da utilização da análise de confiabilidade de caráter geral e apresenta sua
aplicação para alguns casos em particular. Os dados iniciais requeridos por estes
métodos são relativos a influencia do meio, às propriedades da estrutura (material e
geometria), aos estados limites e aos critérios de segurança.
Segundo CLIFTON (1990), os métodos que combinam a teoria de confiabilidade e a
análise estocástica com o emprego de modelos matemáticos de deterioração talvez
sejam os que no futuro proporcionem os melhores resultados. Esta tendência já pode
ser comprovada nas publicações mais recentes.
Cabe ressaltar que se projeta com critérios de durabilidade visando uma determinada
vida útil mas para estimá-la é necessário realizar uma avaliação na estrutura. Seguindo
esta linha, é importante matizar as principais diferenças entre o projeto e a avaliação de
estruturas, posto que os critérios adotados são distintos em cada caso. Segundo
SOMMERVILLE (1993), os principais aspectos que diferenciam a avaliação do projeto
são:
as propriedades dos materiais, que na avaliação podem ser medidas no projeto são
assumidas;
as cargas permanentes podem ser medidas ou determinadas com boa precisão;
as sobrecargas podem ter uma estimativa mais realista;
os métodos de cálculo podem ser mais sofisticados e rigorosos para levar em conta,
de forma mais realista, a interação entre todos os elementos estruturais e sua
capacidade de redistribuir esforços ou de derivar para mecanismos resistentes
alternativos; e
a incerteza é reduzida permitindo menores fatores de segurança.
Os procedimentos adotados no projeto para o cálculo de estruturas de concreto
armado ou protendido são bastante conhecidos e difundidos. São realizados de forma
determinista tomando-se ações e resistência modificadas por coeficientes de
segurança de forma que as solicitações não ultrapassem a resistência (Rd Sd). Este
método é definido como método de nível 1 em termos de confiabilidade estrutural.
Exceto pelos coeficientes de segurança, os procedimentos poderão ser adotados em
uma avaliação realizada mediante o uso de métodos probabilísticos definido como de
nível 2. O ponto importante neste tipo de análise é que as variáveis de geometria,
mecânicas, ambientais, ações e outras que participam do processo, devem ser tratadas
como variáveis aleatórias, ou seja, devem ter uma função de distribuição conhecida e
os seus parâmetros de definição determinados a partir de dados obtidos na estrutura.
De forma indireta, este tipo de tratamento estatístico já é empregado na determinação
dos valores de cálculo de resistências e solicitações utilizados nos métodos de cálculo
usuais, onde o valor da probabilidade empregado é de 5×10-2.
A função de estado limite que permite definir a probabilidade de falha nos métodos do
nível 2 pode ser expressa por: Pf = P( R - S 0). Uma vez definidas estatisticamente
as variáveis que influenciam na variável resistência e na solicitação, a probabilidade
pode ser obtida por vários processos (MELCHERS, 1987). Dentre eles pode-se citar a
simulação de Monte Carlo e o FORM (First Order Reliability Moment). A aplicação dos
métodos probabilísticos tornou-se possível com o aumento da capacidade dos
computadores que permite a realização de uma grande quantidade de simulações em
um tempo reduzido. Para o caso de estruturas em deterioração por corrosão de
armaduras, em DA SILVA (1998) é apresentado um método para determinação da vida
útil de lajes nervuradas onde é utilizado o método FORM na determinação do índice de
confiabilidade (â), através do qual pode-se determinar a probabilidade P = Ö(-â).
De forma bastante simplista, no estagio atual do cálculo de estruturas, bastaria adaptar
as rotinas dos programas de cálculo para que fossem determinados vários valores de
resistência para conjuntos de valores das variáveis, definindo-se assim a variável
resistência. Da mesma forma, pode-se determinar uma serie de combinações das
ações e para cada uma determinar a solicitação que se deseja analisar. Ao final haverá
vários valores de solicitação. Através de teste de significância tipo Kolmogorov-Smirnov
pode-se definir qual função de distribuição de freqüência conhecida melhor se ajusta a
cada um dos conjuntos de valores de resistência e solicitação e calcular os parâmetros
de definição necessários para o método.

3. INSPEÇÃO
Várias técnicas não destrutivas de inspeção foram desenvolvidas, principalmente para
avaliação de estruturas deterioradas as quais poderão ser aplicadas na estrutura recém
construída. Os pontos desfavoráveis principais em um processo de inspeção em uma
estrutura recém construída são: conscientização dos construtores em investir neste tipo
ação e aceitação por parte do proprietário ou usuário da realização da inspeção. Para
os construtores, talvez a tarefa seja menos trabalhosa pois a sua responsabilidade
perdura durante a vida da edificação e quanto mais certificados ele tenha que
comprove a qualidade da obra executada, melhor será para o caso em que sofra ações
judiciais que algumas vezes são fruto de má utilização, falta de manutenção ou mesmo
de alterações realizadas sem o seu conhecimento e aprovação. A questão que pode
resultar trabalhosa é quanto aos proprietários. Esta com o tempo poderá desaparecer.
O entendimento atual do proprietário é que se existe uma inspeção na obra é porque
algo está errado e a desconfiança pode gerar conflitos entre as partes. Esta conduta
pode ser mudada ao longo do tempo com as devidas explicações dadas pelos
construtores e órgãos de fiscalização.
Uma vez ultrapassadas as barreiras citadas anteriormente, resta definir quais os
ensaios necessários para que se obtenha os dados requeridos para comprovação que
os critérios de durabilidade foram aplicados e a vida útil esperada atende ao previsto.
Para tal pode-se iniciar adaptando os ensaios de controle de materiais já largamente
utilizados e que são fundamentais no cálculo ou avaliação de estruturas.

3.1. Dados sobre o aço e o concreto


Nos ensaios de recebimento do aço, são obtidas várias informações que normalmente
não são utilizadas no cálculo pois a finalidade é somente comprovar se as
especificações foram atendidas. A inovação neste caso é processar e armazenar
também estes dados tais como o diâmetro médio, a resistência média ao escoamento à
tração, o módulo de elasticidade e o desvio padrão de todas estas variáveis, conforme
exemplificado na Tabela 1. Também seria importante que a industria enviasse estes
dados aos revendedores e eles fossem disponibilizados aos construtores.

Tabela 1: Resultados da resistência ao escoamento das armaduras (CA 50 A -MPa)


Diâmetro Número de Desvio Coeficiente Função de Nível de
Média
(mm) amostras padrão de variação densidade significância
6,3 45 556,4 40,862 0,07 log-normal 0,006
8,0 106 542,3 30,516 0,06 log-normal 0,656
10,0 190 566,0 40,726 0,07 log-normal 0,059
12,5 266 573,5 41,515 0,07 log-normal 0,864
16,0 220 572,2 43,241 0,08 log-normal 0,350
20,0 115 568,0 52,798 0,09 log-normal 0,570

No caso do concreto as mudanças são maiores. Além do tradicional ensaio de


resistência à compressão em corpos de prova, que podem fornecer os valores médios
e o desvio padrão, deve-se arquivar dados sobre o cimento, agregados e realizar
ensaios complementares. Na avaliação é necessário obter dados do concreto já
aplicado, ou seja, que reflita todo o processo de dosagem, lançamento, adensamento e
cura.
Para iniciar este novo procedimento, pode-se realizar ensaios esclerométricos nos
corpos de prova e das peças concretadas. Os resultados da esclerometria realizada
nos corpos de prova devem ser comparados com os resultados dos ensaios de ruptura,
obtendo-se assim um fator de ajuste entre os valores da resistência à compressão dos
dois tipos de ensaios nos mesmos espécimes. O fator de ajuste poderá ser empregado
nos resultados da esclerometria da estrutura. Ao final são obtidos os valores da
resistência média à compressão e o desvio padrão do concreto da estrutura, isto é,
bem mais próximo daquele que está realmente trabalhando.
Com o tempo e com o avanço da tecnologia, outros métodos podem ser aplicados para
determinação da resistência à compressão do concreto. Um destes métodos é a ultra -
sonografia. Ela já é empregada na inspeção de estruturas que apresentam problemas
de deterioração e pode ser difundida e tornar-se mais uma técnica para avaliação de
estruturas novas.
O aço pode ser considerado um material que não sobre alterações significantes ao
longo do tempo, portanto as suas propriedades podem ser consideradas constantes. O
mesmo não acontece com o concreto. Ao longo da vida da estrutura o concreto pode
sofrer ataques de agentes agressivos que o afetarão negativamente ou permitirá a
diminuição de sua proteção ao aço.
A corrosão das armaduras é um dos principais mecanismos de deterioração das
estruturas de concreto armado ou protendido. Dentre os preceitos para a durabilidade
referidos pela norma, duas variáveis são importantes e devem ser avaliadas: a
espessura e a qualidade do cobrimento de concreto. As variáveis relativas ao meio
ambiente também são importantes mas têm o seu controle realizado à parte, assim
como, outros mecanismos de deterioração podem ser facilmente controlados durante a
fase de construção.
O cobrimento, definido no projeto em relação à agressividade do ambiente, pode ser
verificado com o auxilio de equipamentos de detecção de profundidade das barras. Por
serem de simples operação, as medições podem ser realizadas em vários pontos,
possibilitando a análise do cobrimento ao longo do elemento. Ao final deste
procedimento pode-se obter a caracterização estatística desta variável, assim como a
comprovação de que os valores especificados em projeto foram cumpridos. Na Tabela
2 é apresentado um exemplo da forma de informações necessárias ao método
probabilístico.

Tabela 2: Resultados relativos ao cobrimento das armaduras (mm)


Número de Valor Coeficiente Função de Nível de
Média
amostras nominal de variação densidade significância
10 5 5,58 0,13 log-normal 0,91
96 10 11,24 0,17 log-normal 0,02
90 15 14,31 0,14 normal 0,10
26 20 19,00 0,10 normal 0,84

A qualidade do concreto do cobrimento é de vital importância na vida útil da estrutura


sob o aspecto da corrosão das armaduras. Uma forma de análise do concreto é a
permeabilidade à água pois permitirá avaliar de forma indireta, o adensamento e a
cura. Existem alguns aparelhos que permitem determinar a permeabilidade in situ
necessitando apenas de efetuar pequenos furos na estrutura. Eles se baseiam na
determinação do fluxo de penetração de água através da superfície devido à pressão
exercida. Este procedimento realizado em alguns pontos da estrutura permitirá avaliar
a uniformidade do concreto de cobrimento.

3.2. Dados da geometria dos elementos


Um dos grandes problemas encontrados na avaliação de estruturas de edifícios é como
obter dados sobre as dimensões dos elementos considerando que em sua quase
totalidade, eles estão revestidos ou sem acesso. Estes dados podem ser facilmente
obtidos posteriormente a execução da estrutura de forma bastante simples e
econômica. Com o auxilio de trena e um paquímetro, dois funcionários ou mesmo
estagiários podem efetuar medições em quase todos os elementos estruturais em um
curto tempo. As informações obtidas serão de grande valia, não somente para a
comprovação inicial, mas para toda a vida da edificação. Em um processo de avaliação
da vida útil de forma probabilística, as variáveis de geometria, uma vez caracterizadas,
podem ser utilizadas em todos os períodos.
Outras informações igualmente importantes para a análise da estrutura são relativas às
dimensões do revestimento e pavimentação já que constituem a carga que atuará na
estrutura. Dentro dos mecanismos de controle de qualidade das construções, estas
informações podem ser facilmente obtidas e arquivadas.

3.3. Dados sobre as cargas acidentais


Na maioria dos edifícios sejam residenciais ou comerciais, as cargas acidentais ou
sobrecargas são ocasionadas por pessoas e móveis. As normas de todos os países
preconizam valores a serem adotados no projeto. Estes valores, em sua maioria, foram
obtidos em base à experiência e tratados estatisticamente, portanto já contemplam um
valor de probabilidade de ocorrência.
Na avaliação e na vida útil das estruturas, os valores a serem empregados devem
representar a carga real, considerando também o período de retorno, que no caso da
vida útil é de 50 anos. Para melhor elucidar esta questão, em COROTIS (1977) são
apresentados resultados de vários pesquisadores onde, para edifícios residenciais,
obteve-se um valor médio de 0,673 kN/m2 e desvio padrão de 0,193 kN/m2 com a
função normal de probabilidade sendo a de melhor ajuste. Em DA SILVA (1998), são
apresentados outros resultados, sendo alguns especificados por ambiente.

3.4. Falhas na execução


Os pontos tratados anteriormente abordaram os elementos estruturais de forma
genérica e portanto as variações na geometria ou nas propriedades dos materiais
encontram-se contempladas na forma de amostragem. Entretanto existem pontos da
estrutura que devido às falhas de execução podem comprometer a durabilidade da
estrutura como um todo. Para detectar estas imperfeições é necessário realizar uma
inspeção visual logo após a retirada das formas. No lançamento do concreto é comum
haver segregação na base dos pilares e isto pode acontecer em outros pontos
conforme se pode notar na Figura 1.

Figura 1: Defeitos em pilares provenientes de falhas na execução


Outra falha que acontece é fruto do adensamento inadequado ou mesmo a falta de
estanqueidade das formas resultando em um empobrecimento localizado em vigas. A
retirada das formas realizada de forma incorreta produz destacamentos do concreto da
peça. As duas situações, mostradas na Figura 2, podem acontecer em uma mesma
seção transversal, prejudicando ainda mais a durabilidade.

Figura 2: Problemas decorrentes da retirada incorreta das formas, adensamento


inadequado e excentricidade entre dois tramos do pilar

No cálculo estrutural é considerada uma excentricidade acidental devido à incerteza da


posição da carga de projeto. Apesar de previsto, a ocorrência da excentricidade é
indesejável mas pode ocorrer, conforme vista na Figura 2. Na avaliação a
excentricidade a ser considerada não é a de projeto e sim a real.
Mesmo após o término da execução da estrutura, outras ações negativas podem
comprometer a durabilidade da estrutura. Na Figura 3 pode-se observar o corte de
parte da seção de um enchimento no topo do pilar que produziu o destacamento do
cobrimento da viga e do pilar.
O que se deve ressaltar dos pontos levantados, assim como de outros que possam ser
detectados, é em relação aos procedimentos que devem ser adotados. As falhas
devem ser consideradas como deterioração prematura da estrutura e devem ser
tratadas com as mesmas técnicas empregadas na recuperação de estruturas. A
intervenção deve ser realizada logo após a retirada das formas e se possível, antes da
retirada do escoramento dos demais elementos, garantindo-se assim que, quando a
estrutura comece a ser solicitada, o reparo trabalhará nas mesmas condições do
restante da seção, ou seja, mesmas deformações.
Figura 3: Intervenções durante a fase de acabamento que podem danificar a estrutura

Devem ser condenadas as soluções tampões que visam somente corrigir


esteticamente as falhas. Os pontos defeituosos serão em breve período de vida,
aqueles que indicam pontos de corrosão das armaduras ou destacamentos da
argamassa juntamente com a pasta colocada.

4. ÍNDICE DE CONFIABILIDADE
As normas existentes em diversos países estão calibradas para um determinado valor
de probabilidade de falha, incluso quando os métodos recomendados para a
verificação de segurança não utilizam explicitamente a probabilidade de falha. Ainda
assim, adotar a probabilidade de falha como critério do limite aceitável é, talvez, o
melhor procedimento. Nesta linha, ALLEN (1993) apresentou um método empregado
no Canadá para a avaliação de estruturas existentes. De forma geral, segundo o
pesquisador, o método está baseado no índice de confiabilidade de projeto (â), que
naquele país é de 3,5 para as pontes e para os edifícios. Este valor é equivalente à
probabilidade de falha (Pf) de 2,32×10-4. Para a avaliação, este valor é ajustado à
situação existente mediante a redução determinada pelo comportamento do sistema
estrutural, a categoria do risco e do comportamento passado.
DITLEVSEN (1989) apresenta os valores recomendados pela norma da Dinamarca
onde â é de 4,2 (Pf de 1,33×10 -5 ), para a classe de segurança normal com período de
retorno de 1 ano. Para o período de retorno superior, este valor diminui. No Eurocódigo
1, em referencia a lajes, o valor de â para o estado limite último é de 3,83 (Pf de
6,4×10-5 ) e 1,5 (Pf de 6,68×10-2) para o estado limite de utilização, ambos para um
período de retorno de 50 anos.
Baseando-se nos valores do índice de confiabilidade recomendados pelo Eurocódigo 1,
em RILEM (1996) se propõe o emprego de valores de â ligeiramente menores para o
caso da vida útil. Para o estado limite último, que se considera associado com o
colapso ou outras formas de falha mecânica da estrutura, o valor de â sug erido é de
3,1 (Pf de 9,68×10-4). Este valor deve ser adotado para os casos em que a falha não
produz fortes conseqüências; em caso contrário, o valor deve ser 3,83 como no
Eurocódigo 1. Para o estado limite de utilização, o valor de â proposto pelos autores
também são os do Eurocódigo 1. Este valor pode ser elevado a 2,5 (Pf de 6,21×10-3)
em situações nas quais seja necessário o aviso prévio da falha e que os custos de
recuperação sejam altos.
A norma brasileira utiliza coeficientes para obtenção da segurança aceitável. Para tal
ela adota um método de cálculo semiprobabilístico que proporciona à estrutura valores
de probabilidade de falha próximos a 10-6, que equivale a um índice de confiabilidade
de 4,75. Para edifícios fora das zonas de risco de sismos, nos Estados Unidos da
América, o índice de confiabilidade é de 3,0 (Pf de 1,35×10-3).
Como sugestão para inicio dos procedimentos de estimativa da vida útil, pode-se
adotar uma probabilidade de falha de 10-3, que equivale a um índice de confiabilidade
de 3,09.

5. CONCLUSÃO
Foram apresentadas algumas questões concernentes à durabilidade e à vida útil das
estruturas de concreto armado ou protendido. Na abordagem procurou-se apresentar
somente alguns pontos com o intuito de dar inicio em um processo que resulte, no
futuro, na possibilidade de se estimar a vida útil de uma estrutura recém construída.
A adoção de métodos probabilísticos tanto para a avaliação como para estimar a vida
útil não é uma tarefa simples. A partir da abordagem da NBR 6118 sobre o tema da
vida útil, deve-se avançar na correlação durabilidade-vida útil como forma de melhoria
da qualidade das construções.
Para que o tema não perpetue apenas no texto, é necessária uma ação por parte dos
órgãos financiadores de construções, dos órgãos fiscalizadores, das associações de
engenheiros e dos construtores, no sentido de implementar procedimentos de controle
e de avaliação seguindo a filosofia apresentada neste trabalho.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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