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A destruição de um passado

A politica bicentenária que visava “fazer desaparecerem” os aborígenes passou por um


terceiro período, iniciado quando estes últimos tentaram exumar a história de sua opressão.

Malcolm Fraser lembrou:

“Uma das coisas mais difíceis de compreender, para os australianos não indígenas e
particularmente para a velha geração, é que a história que nos transmitiram sobre os
primeiros tempos da colonização, por mais que nos tenha sido ensinada, não era
particularmente exata. [...] Por isso, para aqueles que ocupam uma posição influente, é
exatamente importante advertir os australianos sobre o que aconteceu e sobre o que deveria
agora resultar disso [...] Precisamos de uma grande determinação nacional para abordar as
injustiças passadas, e, simbolicamente, o elemento mais importante nessa matéria talvez seja
o de abordar as injustiças relativas à geração roubada.”

“[...] se uma parte da nação expressava seu profundo pesar e lamentava profundamente as
injustiças do passado, então a outra parte aceitava suas desculpas e perdoava.”

O exemplo de My Place, a autobiografia de Sally Morgan, que conta a história de uma mulher
que “descobre” sua família aborígene, cujo passado lhe fora inteiramente escondido, coloca
em questão alguns membros atuais de grandes famílias de proprietários de terras da Austrália
Ocidental, lembrando fatos que eles teriam preferido esquecer.

No Canadá, na África do Sul e na Nova Zelândia havia-se reconhecido que a colonização levara
ao fracasso da destruição dos povos colonizados, tanto dos indivíduos quanto das culturas, e o
Estado havia expressado pesar, oferecido indenizações e solicitado as medidas necessárias a
um processo de pacificação.

A história parcial que se ensinou, e na qual os condutores de opinião incitaram a crer, contribui
tristemente para prolongar a política do silêncio sobre o passado oculto, política essa que já
dispunha do apoio da população.

Pat Dodson, líder aborígene certo memento citou: “admitir o genocídio era criticar
implicitamente os valores cívicos essenciais do povo australiano, pois esse reconhecimento
revelaria uma sociedade cuja estrutura governamental se diferenciava daquela do apartheid
na África do Sul e dos regimes racistas e fascistas.”

Mabo decidiu a favor do direito nativo à terra, considerando-o sempre em vigor após a
introdução da colonização, e Wilk estendeu essa resolução não somente as terras inalienadas
da Coroa, mas também ás terras arrendadas.

O decreto sobre o direito nativo agora fazia parte da legislação.

Em 1972, os aborígenes instalaram uma embaixada simbólica, montando uma tenda diante do
parlamento de Camberra para exigir seus direitos à terra, indenização e o reconhecimento da
soberania indígena.
Em 1979, o Congresso Nacional dos Aborígenes decidiu redigir Makaratta (um tratado) e, em
1987, após várias reuniões no Eva Valley, em Nova Gales do Sul, estava composto um primeiro
esboço. O primeiro-ministro trabalhista, Bob Hawke, aceitou oficialmente essa declaração, dita
Barunga, que retirava as exigências de 1972, e integro-a à Declaração dos Direitos do Homem
e da Soberania, que era então uma novidade.

“A reconciliação envolve coisas muito mais profundas [...] o sangue e a carne das vidas que
devemos levar juntos, e não os detalhes de que deveríamos beneficiar-nos todos, enquanto
cidadãos efetivos [...]. Se pudermos levar em conta as verdades do nosso passado, nosso
futuro enquanto nação é sem esperança [...]. Nós não teremos almas”

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