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UNIVERSIDADE FEEVALE

DESIGN DE MODA E TECNOLOGIA


PESQUISA DE MODA
PROFESSORA MARINA SEIBERT CEZAR

Bruna Pereira Gonçalves


Priscila Tatsch

PESQUISA DE MODA

Novo Hamburgo
2010
PESQUISA DE MODA

Bruna Pereira Gonçalves


Priscila Tatsch

RESUMO

Este artigo pretende analisar a importância da pesquisa de moda como


alicerce para as criações dos designers, tendo em vista que é através da pesquisa
que surgem as novas tendências. Faz-se também uma análise da influência das
novelas na maneira de vestir do povo brasileiro. Busca também entender melhor
como funcionam as tendências de moda e como elas se disseminam. Para atingir os
objetivos pretendidos aborda-se o trabalho e a postura necessária para o
pesquisador de moda e os métodos de pesquisa utilizados.

Palavras-chave: Moda. Tendências da moda. Pesquisa de moda.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo analisar as tendências de moda,


passando por um estudo sobre os métodos de pesquisa utilizados pelos
pesquisadores de moda, sua postura e seu trabalho diante da necessidade de
apresentar um norteamento aos designers em relação às tendências da estação.
Para o desenvolvimento do estudo utilizou-se a pesquisa bibliográfica
procurando fazer uma análise do pensamento de vários autores sobre o tema a fim
de chegar a uma compreensão do fenômeno pesquisado com embasamento teórico
e também prático, pois o trabalho também analisou o fenômeno das novelas como
geradoras de tendências.
Tal estudo se mostra importante porque facilitará o entendimento de como
surgem as novas tendências de moda e sua absorção pelo público.
2. SOBRE A PESQUISA E A MODA

Antes de qualquer outra análise devemos ter em mente que moda é


baseada na busca pelo “novo”, e essa busca reinicia a cada estação, podemos
confirmar essa idéia no pensamento a seguir:
“Praticamente todos os teóricos da moda enfatizam “o novo” – com uma
sucessão constante de objetos “novos” substituindo aqueles que foram “novos”, mas
que se tornaram “velhos” – como uma característica básica da moda” (SVENDSEN,
2010, p. 27).
E também neste outro trecho do mesmo livro, Svendsen (2010, p. 34):

A natureza da moda é ser transitória. Há uma insistência central na


inovação radical, uma busca constante da originalidade. A moda só é moda
na medida que é capaz de avançar. Ela se move em ciclos, um ciclo sendo
o espaço de tempo desde o momento em que uma moda é introduzida até
aquele em que é substituída por uma nova, e seu princípio é tornar o ciclo –
o espaço de tempo – o mais curto possível, de modo a criar o número
máximo de modas sucessivas.

Sendo a moda esse fenômeno em constante mudança, os designers


precisam de fontes para criar a cada estação algo novo e que vá de encontro aos
desejos do consumidor, felizmente cada vez mais essas fontes de inspiração estão
sendo definidas através de pesquisas que contribuem para minimizar riscos e indicar
os melhores caminhos, entretanto como a moda está em constante mudança, nada
é verdade absoluta e por isso as pesquisas devem ser constantes.
Entretanto não é possível deixar de citar o pensamento de: Deslandres
(1998, p. 299, tradução nossa), que segue outra concepção de moda, porém,
mesmo com a liberdade apontada pela autora, o pesquisador não perde sua
importância:

Apesar dos reduzidos grupos contrários aos imperativos de uma indústria


que impulsiona aos consumidores a trocar o mais vertiginosamente possível
de roupa, e estimula portanto as variações da roupa, parece que temos
chegado a um ponto de estabilidade. A noção de moda imperativamente
característica de uma estação tem desaparecido, porque hoje tudo está
permitido e todos os comprimentos, larguras e formas convivem ao mesmo
tempo (...).
3. O PESQUISADOR

É de extrema importância para quem deseja pesquisar moda, não


pesquisar somente moda, pesquisar a sociedade de forma ampla, os fatos da
atualidade, a situação política e econômica mundial, buscar em outras fontes, e não
apenas as revistas de moda, pois estas estão tentando vender idéias prontas, como
diz Svendsen (2010, p. 186):

Além disso, as revistas de moda são projetadas de tal maneira que muitas
vezes é bastante difícil distinguir entre material editorial, contribuições
artísticas e publicidade. A quantidade de anúncios cresceu enormemente e
agora ocupa cerca de três vezes mais páginas que o material editorial numa
edição da Vogue, mas é apresentada de tal maneira que pode ser difícil
descobrir que se trata realmente de publicidade.

Um pesquisador de moda deve também ser um observador e um


decodificador das informações que obtém através de suas pesquisas, ele deve
saber direcionar suas conclusões a área para qual está pesquisando, tornando sua
pesquisa útil para o designer, pois de nada adiantam informações vazias e “soltas”.

4. AS FONTES DE PESQUISA

Existem inúmeras fontes de pesquisa, desde as mais superficiais, que


trazem a informação “pronta”, como as revistas de moda, os desfiles e a internet, até
fontes mais amplas como as ruas, viagens e os bureaux.
No trecho a seguir Joelma Leão (2005, p. 63 apud WAJNMAN; ALMEIDA)
exemplifica o trabalho dos bureaux:

Os olhos daqueles que trabalham nos “Bureaux de Style” são como uma
máquina fotográfica. Poderosos por captar instantes – exclusivos – da vida.
Esses instantes podem ser um gesto inusitado, uma atitude transgressora,
um comportamento social que esteja sendo comum, igual entre alguns
grupos de pessoas; um acessório em evidência, uma cor, um elemento que
se sobressai de todo seu cenário. Algo novo, ainda não medido, nem
mencionado. Ainda virgem, sem violações ou intervenções.
5. TENDÊNCIAS DA MODA

Sendo a moda a busca constante pelo novo, é necessário que a cada


estação se tenha uma definição, ou pelo menos um norteamento do que é o novo,
essas idéias são transmitidas através das tendências, que resultam da pesquisa
sobre as necessidades e os desejos dos consumidores. Quando uma tendência é
aceita e começa a ser reproduzida ela deixa de ser algo novo e então partimos para
outra tendência.
Sobre as criações dos estilistas e o surgimento das tendências, Rui Spohr
expressa na obra que trata de sua biografia:

Então quando as pessoas reclamam que a moda “dita” o que elas vão usar,
pense de novo. Não é bem assim. Porque as necessidades de cada época,
de cada cultura, de cada grupo social, de cada faixa etária necessariamente
influem nas criações dos estilistas. A função do estilista está em descobrir,
antes do consumidor, quais as suas necessidades para a próxima estação
(VIÉGAS – FARIA, 1997. p. 282).

A teoria inicial sobre o surgimento de tendências pode ser traduzida


como teoria da gota ou teoria do gotejamento, onde uma tendência surge nas
classes mais altas e logo é copiada pelas classes inferiores, entretanto essa fórmula
não é a única, como por ser compreendido através do seguinte trecho de Svendsen
(2010, p. 51):

Portanto, quando examinamos a história da moda com mais atenção, a


“teoria do gotejamento” se revela só parcialmente correta. Numa medida
mais ampla, o movimento durante os últimos 40 anos se deu na direção
oposta e talvez a expressão mais impressionante disso tenha ocorrido nos
anos 1990, com estilos como o “heroin chic”, uma extensão do slogan de
Yves Sanit-Laurent: “Abaixo o Ritz – viva a rua!” É igualmente um fato que
os que ocupam uma posição relativamente segura nos escalões superiores
da sociedade têm se mostrado, em geral, menos preocupados em seguir as
últimas modas que aqueles com uma posição menos bem-estabelecida
nesses estratos. Os recém-chegados têm aparentemente mais necessidade
de se distinguir que os já estabelecidos. Desse ponto de vista, o fator
“gotejamento” não se aplica ao estrato realmente superior – não é aqui que
os maiores inovadores foram encontrados. Podemos confirmar apenas que
ocorreu considerável inovação também nas classes mais baixas, inclusive
na forma de alterações por vezes importantes de modas nas classes mais
altas.

Em outra passagem da obra podemos destacar novamente a


contrariedade à teoria do gotejamento, exemplificada por Svendsen (2010, p. 47).
Com o terno encontramos um item de vestuário em moda que faz o exato
oposto de “passar de cima para baixo”. Foi um traje da classe média que a
classe alta passou a usar. Emergiram modas urbanas que suplantaram as
modas aristocráticas.

6. ACEITAÇÃO DAS TENDÊNCIAS

No grande universo da moda a apresentação de novas tendências


através de criações de estilistas e lançamentos midiáticos, leva até o público
consumidor grande número de informações e imagens que despertam o desejo de
adotar as idéias e consumir os produtos de moda.
Na atualidade, grande parte da população está voltada para a imagem
que lhe é apresentada e passa a adotar os estilos que lhe são outorgados pelos
criadores de moda sem levar em conta sua própria personalidade e seu próprio
estilo.
Esta visão de comportamento está evidenciada no texto de Svendsen “A
indústria da moda tomou para si a missão de nos poupar do árduo trabalho de nos
criarmos a nós mesmos como uma obra de arte, permitindo-nos em vez disso
comprar um pacote pronto de um ateliê” (2010, p. 163-164).
..

7. AS NOVELAS, GERADORAS DE TENDÊNCIAS

Sabemos que no Brasil, as novelas exercem grande influência sobre a


moda, pois além de retratarem o cotidiano e a vida de pessoas “comuns”, isto é feito
de forma esteticizada, ou seja, o cotidiano é mostrado de forma bonita e agradável
aos olhos de quem assiste, as roupas e acessórios são escolhidas cuidadosamente
para caracterizar a personalidade da personagem, mas também chamar a atenção
de quem assiste e fazer com que essa pessoa se identifique com a estética da
personagem.
Muitas peças chamam a atenção do público e de tão bem colocadas
acabam se tornando ícones e são copiados por pessoas de todo Brasil.
Esse olhar sobre o figurino pode ser observado no seguinte trecho.
Extraído da obra de Entre tramas, rendas e fuxicos/ Memória Globo (2007, p. 13):

Há quem diga que os figurinistas são como a madrinha da Cinderela: têm o


condão de transformar trapos em vestes suntuosas. Mais do que isso, eles
constroem personagens. Heróis e vilões da teledramaturgia ganham vida
graças às suas admiráveis criações, vistas e muitas vezes copiadas por
milhares de telespectadores espalhados por esse imenso Brasil. Mas que
segredos se ocultam sob a arte de fazer figurinos para a ficção? Um vestido
de voile, uma casaca de papelão, um colarinho dos anos 1970, um
penteado do século XIX ou uma simples camiseta furada podem dizer muito
sobre um personagem, além de funcionarem como um espelho de modos
de vida, da cultura e da estética de uma época.(...)

Na mesma obra, (2007, p. 335) destaca-se a afirmação “o poder de


alavancar estilos faz da TV a personal stylist de um grande número de
telespectadores, que se deixam levar pela pequena indústria da moda de novela”.
Por outro lado, não se pode olvidar que a mídia, como um todo, utiliza-se
de tendências de moda para cativar seus expectadores e aumentar os índices de
audiência como colocado por Lipovetsky (2001, p. 231):

A comunicação midiática ordena-se sob a lei da sedução e do divertimento,


é reestruturada implacavelmente pelo processo de moda porque aí reinam a
lei das sondagens, a corrida às contagens de audiência. Num universo
comunicacional pluralista submetido aos recursos publicitários, é a forma da
moda que organiza a produção e a difusão dos programas, que regula a
forma, a natureza, os horários das transmissões. Na medida que a mídia
caminha segundo as sondagens, o processo de sedução reina soberano,
podendo até vangloriar-se do mérito “científico” e democrático.A república
das sondagens não faz senão acentuar a soberania da moda na mídia – em
outras palavras, a lei do sucesso imediato junto ao maior público. (...)

Reafirmando tais colocações pode-se citar o trecho da obra já citada


Entre tramas, rendas e fuxicos/ Memória Globo (2007, p. 330):

Várias criações saltaram da TV para os salões de beleza, as lojas e mesmo


as bancas de camelôs. Tudo passou a ser copiado em uma espécie de
customização popular, alimentada por confecções espalhadas por todo o
Brasil. [...] O modismo dos figurinos é uma via de mão dupla. Da mesma
forma que as pessoas se inspiram na televisão, usando o veículo como uma
janela para o mundo (o real e o imaginário), o avesso também acontece: a
TV bebe na fonte da rua, indo buscar na realidade do dia-a-dia – e nas
tendências da moda – a inspiração para o visual de seus personagens.
Ocorrem assim, um intercâmbio e uma recodificação de intenções, valores e
idéias. (...)
5. CONCLUSÃO

Os estudos realizados permitiram concluir que a cada estação, quando se


dá o lançamento de novas tendências pelos designers, foi necessário que,
anteriormente os pesquisadores de moda realizassem um trabalho de pesquisa para
possibilitar o surgimento das criações, sendo que tais profissionais utilizam-se de
variados métodos de pesquisa.
Também ficou evidenciado que as tendências lançadas em cada período
primeiramente são aceitas pelos “formadores de opinião”, seguindo-se da elite e
logo após, são introduzidas em meios de comunicação, e assim chegam ao grande
público consumidor e se massificam, iniciando assim, um novo ciclo.
Entretanto essa não é a única maneira pela qual surge uma tendência,
muitas vezes o caminho oposto é realizado, pois a tendência pode surgir nas ruas, e
ser seguida pela elite até resultar nas versões exclusivas em lojas de luxo. E logo
em seguida inicia outro ciclo e assim, sucessivamente.

6. REFERÊNCIAS

DESLANDRES, Yvonne. El traje, imagen del hombre. Barcelona: Tusquets


Editores, 1998.

ENTRE tramas, rendas e fuxicos / Memória Globo. São Paulo: Globo, 2007.

LEÃO, Joelma. Os “Bureaux de Style” e sua ótica sobre a produção de moda.


In: WAJNMAN, Solange; ALMEIDA, Adilson José de. Moda, Comunicação e
Cultura: um olhar acadêmico. 2. ed. São Paulo: Arte & Ciência, 2005.

LIPOVETSKI. Gilles. O Império do Efêmero: a moda e seu destino nas


sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

SVENDSEN, Lars. Moda: uma filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

VIÉGAS-FARIA, Beatriz. Memórias Alinhavadas. Porto Alegre: Artes e Ofícios,


1997.

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