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FRATURAS COMPLEXAS DO PILÃO TIBIAL.

Wagner Nogueira da Silva¹, Leonardo Gomes e Souza de Barros², Luciano Henrique Martins³,
Fernando Milton da Cunha4, Roberta Souza de Brito5.
Serviço de Ortopedia, Hospital da Baleia, Novo Horizonte, Brasil

RESUMO

Dezesseis fraturas do pilão tibial, tratadas no período entre julho de 1998 e outubro de 2002,

foram estudadas com o objetivo de determinar a taxa de consolidação, identificar as principais

complicações e estabelecer o resultado final segundo os critérios da AOFAS. As fraturas foram

classificadas segundo Ruedi & Allgower, AOASIF e Gustilo & Anderson. A média de idade foi

de 41,0 à 13,3 anos, com predomínio do sexo masculino, Não houve diferença quanto ao lado

e todas as fraturas foram alto impacto, com comprometimento articular. O mecanismo de lesão

prevalente foi queda de altura. Oito fraturas eram abertas e oito acompanharam - se de lesões

associadas. O tratamento constitui de fixação externa (oito casos), fixação híbrida (seis) e

fixação externa mais enxerto biocerâmica (dois). Todas as fraturas consolidaram. As

complicações observadas em seguimento médio de 43,0 à 12,6 meses foram: osteoartrose,

infecção, necrose de partes moles, retardo de consolidação e necrose óssea. A amplitude

média de movimento foi: dorsoflexão de 1,6° à 7,4°, flexão plantar de 29,0° à 9,3°, inversão de

14,8° à 6,6° e eversão de 7,3° à 4,5°.Desvio em varo ou valgo igual ou superior a 5° foi

observado em 38,5% das fraturas e 68,75% não tiveram discrepância de comprometimento. A

pontuação da AOFAS foi superior a 60 em 68,75% dos pacientes. Constitui-se que a

consolidação das fraturas do pilão não se relaciona com sua complexidade, que os achados de

osteoartrose parecem estar associados com a gravidade da fratura e que essas lesões

possuem altas taxas de complicação e pobre resultado funcional no médio prazo.

Unitermos - Fraturas; pilão tibial; tratamento cirúrgico.

Trabalho realizado sob a orientação do Núcleo de Ensino e Pesquisa do Hospital Maria Amélia

Lins (HMAL) da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG).

1 – Médico Ortopedista; Titular da Sociedade Brasileira de ortopedia e Traumatologia (SBOT).


2 – Médico Ortopedista; Membro da SBOT; Coordenador do Serviço de Fixadores Externos do

HMAL da FHEMIG; Chefe do Serviço de Ortopedia Prof. José Henrique Matta Machado.

3 – Médico Ortopedista; Ortopedista HMAL.

4 – Doutor em Ortopedia; Médico Ortopedista; Titular da SBOT; Coordenador do Núcleo de

Ensino e Pesquisa do HMAL.

5 – Acadêmica de Enfermagem 4º ano – Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS) -

Belo Horizonte – MG.

MATERIAL E MÉTODOS:

Trata – se de estudo retrospectivo observacional e transversal de amostra composta por 16

portadores de fraturas de pilão tibial, abertas ou fechadas, tratados entre julho de 1998 e

outubro de 2002. Os seguintes procedimentos cirúrgicos foram empregados: fixação externa

isolada, fixação híbrida (externa e interna) e fixação externa mais enxerto biocerâmica na tíbia

distal para preencher a falha óssea.

RESULTADO:

Tabela 1 – Distribuição de freqüência e percentagem dos pacientes portadores da fratura do

pilão tibial quanto ao mecanismo de lesão.

Mecanismo de lesão Freqüência Percentagem

Queda de altura 12 75,00

Acidente motociclístico 2 12,00

Atropelamento 1 6,25

Automobilístico 1 6,25

Total 16 100,00
Oito (50%) fraturas eram abertas, sendo três do tipo IIIA de Gustillo e Anderson2, duas do tipo
IIIB, duas do tipo IIIC e uma não foi classificada.

As 16 fraturas envolveram toda a superfície distal da tíbia. Houve predomínio das fraturas
cominutivas, sendo 14 (87,5%) classificadas segundo Ruedi & Allgower5 como tipo III e duas
(12,5%) como tipo II. De acordo com a classificação da AO-ASIF6, uma (6,25%) era do tipo C1,
11(68,75%) do tipo C2 e quatro (25,0%) do tipo C3.

CASO 1

CASO 2
DISCUSSÃO:

Na avaliação final, todas as fraturas estavam consolidadas. O tempo de consolidação variou

entre 7 e 12 semanas em dois (12,5%) casos, entre 13 e 18 semanas em um (6,25%) e levou

mais de 18 semanas no restante (81,25%).

O tempo de segmento variou entre dezenove e sessenta e quatro meses, com média de 43,0

+ 12, 6 meses.

A dorsiflexão do tornozelo variou entre 15º e 15º, com média de 1,6º +/- 7,4º. A flexão plantar

variou entre15º e 45º, com média de 29º +/- 9,3º. A inversão do retropé variou entre 0º e 30º,

com média de 14,8º +/- 6,6º. A eversão oscilou entre 0º e 15º, com média de 7,3º +/- 4,5º.

A maioria (68,75%) dos pacientes não apresentou discrepância de membros inferiores, quatro

(25,0%) tiveram encurtamento de 1 cm e um (6,25%) de 2 cm.

O índice de consolidação observado (100,00%) é superior ao relatado por Rommens et al11

(82,0%), McDald et al3 (84,0%), Pugh et al13 (88,0%), Kim et al14 (95,0%), Watson et al12
2
(97,0%) e Sands et al (99,0%).

A infecção é complicação freqüente na fratura de pilão tibial e a literatura apresenta registros

desde a ausência de infecção profunda até índices variando entre 5% e 21,4%. Os autores que

não relataram infecção profunda estudaram fraturas de menor complexidade.

A taxa de pacientes com dor moderada ou intensa (43,75%) é bem superior a observada por

McDonald et al,3 (7,6%). Aa justificativa para essa diferença deve ser atribuída a gravidade das

fraturas em cada um dos estudos (87,5% de fraturas cominutivas no presente estudo contra
30,7% no trabalho de McDonald et al,3). Tal diferença sugere que a cominuição da fratura está

relacionada com intensidade da dor após consolidação.

A comparação entre vários estudos é dificultada pela ausência de padronização de critérios

objetivos de avaliação final(1,2,11,12,14). O escore AOFAS (10), usado neste trabalho,

representa bem a qualidade de vida do paciente com seqüela de fratura da tíbia distal. A

intensidade da dor foi a principal modificadora do escore, como poderia ser previsto, já que o

quesito “dor” é o que tem maior pontuação nessa avaliação.

CONCLUSÃO

Os autores concluem que a consolidação das fraturas do pilão não tem relação com sua

complexidade, que os achados de osteoartrose podem estar relacionados com a gravidade da

fratura e que essas lesões possuem altas taxas de complicação e pobre resultado funcional em

médio prazo.

Considera-se importante para confirmação estatística dessas conclusões e realização de

estudo prospectivo multicêntrico com protocolo bem definido em relação à classificação e ao

tratamento, possibilitando maior número de fraturas cominutivas de cada tipo a fim de

estabelecer comparação entre os métodos de tratamento.

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