Você está na página 1de 17

DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

1. Teoria Geral do Direito Econômico

Podemos definir, conforme veremos adiante, o mercantilismo como o marco inicial para o
Estado Liberal, que se caracterizava pela primazia da liberdade individual nas relações jurídicas
(liberdade contratual – pacta sunt servanda), bem como na não intervenção do Estado na
economia, tendo seu auge no Século XIX.

Todavia, a disputa por mercados econômicos, bem como o exercício abusivo das liberdades e
direitos individuais levou a derrocada do modelo liberal econômico, tendo como marco
histórico a 1ª e a 2ª Guerras Mundiais, fato que levou o Estado a repensar seu papel diante da
Ordem Econômica interna e internacional, atuando, inclusive, no sentido de limitar e cercear
os direitos e liberdades individuais.

1.1 Conceito de Direito Econômico

Conceito de Direito Econômico: O ramo do Direito Público que disciplina a condução da vida
econômica da Nação, tendo como finalidade o estudo, o disciplinamento e a harmonização das
relações jurídicas entre os entes públicos e os agentes privados, detentores dos fatores de
produção, nos limites estabelecidos para a intervenção do Estado na ordem econômica
(Leonardo Vizeu Figueiredo).

O conjunto das técnicas jurídicas de que lança mão o Estado contemporâneo na realização de
sua política econômica (Fábio Konder Comparato).

Conceituação subjetiva: O ramo jurídico que disciplina a concentração ou coletivização dos


bens de produção e da organização da economia, intermediando e compondo o ajuste de
interesses entre os detentores do Poder Econômico Privado e os Entes Públicos (Leonardo Vizeu
Figueiredo).

Conceituação objetiva: O conjunto normativo que rege as medidas de política econômica


concebidas pelo Estado, para disciplinar o uso racional dos fatores de produção, com o fito de
regular a ordem econômica interna e externa (Leonardo Vizeu Figueiredo).

1.2 Objeto do Direito Econômico

Partindo-se da conceituação do Direito Econômico acima delineada, podemos identificar que o


mesmo é o sistema de norma ou a disciplina jurídica que objetiva:

a) a organização da economia, definindo juridicamente o sistema e o regime econômicos


a serem adotados pelo Estado;
b) a condução, ou controle superior, da economia pelo Estado, uma vez que estabelece
o regime das relações ou equilíbrio de poderes entre o Estado e os detentores dos
fatores de produção;
c) o disciplinamento dos centros de decisão econômica não estatais, enquadrando
macroeconomicamente a atividade e as relações inerentes à vida econômica.
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

Assim, o Direito Econômico objetiva o estudo do disciplinamento jurídico da organização e do


planejamento da ordem econômica, a ser efetuada por parte do Poder Público, norteando os
agentes econômicos do mercado.

1.3 Características do Direito Econômico

O Direito Econômico caracteriza-se, precipuamente, pela influência do Estado nas relações


socioeconômicas, atuando com prevalência sobre a autonomia de vontade das partes, para
regular a atividade econômica.

Pode-se destacar as seguintes características gerais do Direito Econômico:

a) Recenticidade: é um ramo novo do direito ainda em formação sujeito às constantes


influências e mudanças que ocorrem no dinâmico mercado econômico.
b) Singularidade: é um ramo jurídico próprio para o fato econômico característico de
cada pais, não havendo, comumente, um conjunto de regras universais e cosmopolitas
para norteá-lo, como ocorre com outros ramos do Direito, trais como o Civil e o Penal.
c) Mobilidade ou mutabilidade: suas normas são sujeitas a constantes mudanças de
ordem política e econômica, havendo tendência de curta vigência no que se refere a
seus diplomas legais. Daí decorre uma produção normativa abundante e constante,
havendo necessidade de não sujeitar seu disciplinamento apenas ao crivo do Poder
Legislativo, outorgando grande parcela de competência normativa ao Executivo, ante a
especificidade do tema e a celeridade de soluções que seus conflitos exigem.
d) Maleabilidade: a norma de direito econômico, durante seu período de vigência, deve
ser capaz de adaptar-se à constantes mudanças econômicas, de modo a não se fazer
necessário à edição de novo ato, a cada alteração de mercado. Assim, muitas de suas
regras são oriundas de atos administrativos.
e) Influência aos valores políticos: segue a corrente ideológico-partidária de quem se
encontra no poder. Observe-se que a intervenção do Estado na economia é pautada
de acordo com os princípios prescritos na Lei Fundamental.
f) Ecletismo: mescla valores e princípios do direito privado de maneira a viabilizar a
atividade econômica do agente privado, orientando-lhes dentro dos princípios
consagrados na Lei Fundamental.
g) Concretismo: o Direito Econômico é filho de seu tempo. Disciplina os fenômenos
sócio-econômicos concretos, visceralmente vinculado aos fatos históricos relevantes
ao Estado e aos indivíduos.

1.4 Autonomia do Direito Econômico

Um ramo de direito pode ser considerado autônomo, para fins didáticos, tão-somente, quando
possui normas e princípios próprios, dentro de seu respectivo ordenamento jurídico, uma vez
que o Direito, quanto ciência, é uno.

Com a Constituição de outubro de 1988, o Direito Econômico brasileiro passou a ter princípios
específicos delineados no art. 170, sendo que passou a ser competência concorrente da União,
Estados e Distrito Federal legislar especificamente sobre suas normas (art. 24, I, CRFB).

1.5 Princípios do Direito Econômico


DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

Os princípios gerais do Direito Econômico são fundados, norteados e permeados,


concomitantemente, tanto em valores de Direito Público quanto em valores de Direito
Privado, dado o ecletismo que caracteriza este ramo jurídico, dando aos referidos princípios
traços próprios e específicos que os distinguem de sua aplicação em outros ramos do Direito.

a) Princípio da Economicidade (arts. 3º, inciso II; 170, caput e 174, caput todos da
Constituição Federal): estabelece que o ente estatal, na busca da realização de seus
objetivos fixados em sua política econômica, deve alcançar suas metas com apenas os
gastos que se fizerem necessários, a fim de não onerar excessivamente o Erário e toda
a sociedade. Assim, o Estado, ao estabelecer suas decisões políticas, bem como para
orientar o mercado, deve primar pelas condutas que impliquem em menor custo
social, conjugando quantidade com qualidade.
b) Princípio da Eficiência (art. 37, caput e 170 e incisos da CF/88): a eficiência determina
que o Estado ao estabelecer suas políticas públicas, deve pautar sua conduta com o
fim de viabilizar e maximizar a produção de resultados da atividade econômica,
conjugando os interesses privados dos agentes econômicos com os interesses da
sociedade, permitindo a obtenção de efeitos que melhor atendam ao interesse
público, garantido, assim, o êxito de sua ordem econômica.
c) Princípio da Generalidade: confere às normas de Direito Econômico alto grau de
generalidade e abstração, ampliando seu campo de incidência ao máximo possível, a
fim de possibilitar sua aplicação em relação a grande multiplicidade de organismos
econômicos, a diversidade de regimes jurídicos de intervenção estatal, bem como às
constantes e dinâmicas mudanças que ocorrem no mercado. Ex.: Lei n. 8.884/94 (Lei
de Proteção à Concorrência).

1.6 Fontes do Direito Econômico

Ao se falar sobre fontes do direito, deve-se ter em mente a gênese da relação jurídica. Em
outras palavras, trata-se do conjunto de atos e institutos que dotam as relações
interindividuais de vinculação e proteção jurídica, no sentido de sujeitar, coercitivamente, a
vontade de um sujeito à de outrem.

No que se refere ao direito econômico, como toda a sociedade baseada no sistema jurídico da
civil Law, a fonte primária de obrigações é a lei. Isto é, o direito está precipuamente baseado
no conjunto normativo positivado em texto escrito, de observância obrigatória e imposição
cogente.

Todavia, há que se ter em mente que as relações disciplinadas pelo direito econômico podem
ter outras fontes jurídicas, além da lei, desde que estejam em conformidade com esta.

Assim, podemos ressaltar as seguintes fontes do direito econômico:


a) Constituição: em relação ao direito econômico, seu fundamento de validade
constitucional, bem como sua autonomia jurídica encontram-se Express nos arts. 24, I,
e 170 e seguintes, todos da Lei Maior;

b) Espécies Legislativas: no que se refere ao direito econômico, o mesmo possui diversas


fontes legislativas infraconstitucionais, tais como a Lei de Proteção à Concorrência (n.
8.884, de 1994), as Leis de Mercado de Capitais (n. 4.728, de 1965 e n. 6.385, de 1976),
a Lei do Sistema Financeiro Nacional (n. 4.595, de 1964), dentre tantas outras.;
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

c) Atos normativos administrativos: são todos os atos emanados do Executivo que tem
por fim regulamentar a aplicação de uma lei, espécie legislativa da qual retiram seu
fundamento de validade, sendo aqueles atos hierarquicamente inferiores a estes.
Assim, o ato normativo administrativo por e deve transcender a mera regulamentação
da lei, quanto for expressamente delegado pelo legislador infraconstitucional a
eficácia do conteúdo normativo da lei à edição de ato administrativo infralegal, o qual
irá explicitar os limites, alcance e efeitos da norma perante os administrados.

d) Contratos: os contratos se tratam de uma importante e constante fonte do direito


econômico, valendo observar que, dentro de nossa sociedade, traduzem-se em
importante instrumento de circulação de riquezas e consequente distribuição de
rendas. Deve observar o art. 2.035, parágrafo único do CC.

e) Usos e costumes: não possuem força normativa-juridica, no sentido de serem fonte de


direito, sendo, em verdade, fonte de integração deste, utilizados, somente para suprir
as lacunas e os vácuos legislativos.
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

2 Ordem Econômica

2.1 Sistemas econômicos

Por sistemas ou modelos econômicos entende-se a forma pela qual o Estado organiza suas
relações sociais de produção, na qual estrutura sua política, isto é, a forma adotada pelo
Estado no que se refere à propriedade dos fatores de produção e distribuição do produto do
trabalho.

Inicialmente, o mundo adotou dois sistemas econômicos bem-distintos: capitalismo e


socialismo.

Atualmente, diante das atuais necessidades econômicas internas e da nova configuração da


economia mundial, presenciamos o surgimento de modelos econômicos que mesclam tanto as
características capitalistas, quanto socialistas.

Destarte, a classificação a seguir delineada se dá para fins meramente didáticos, uma vez que,
no mundo globalizado, as relações jurídico-econômicas podem assumir feições de cunho
capitalista, em que pese serem oriundas de um sistema socialista, como ocorre, atualmente,
na República Chinesa.

a) Capitalismo: sistema econômico no qual as relações de produção estão assentadas na


propriedade privada dos bens em geral, dos fatores de produção, na ampla liberdade
de iniciativa e de concorrência, bem como na livre-contratação de mão-de-obra.
Características:
i. Propriedade privada dos meios de produção;
ii. Trabalho assalariado como base de mão-de-obra; e
iii. Sistema de mercado baseado na livre-iniciativa e na liberdade de
concorrência.

b) Socialismo: é o sistema econômico baseado na autoridade estatal, que centraliza e


unifica a economia em torno do Poder Central. Características:
i. Direito de propriedade limitado e mitigado pela vontade estatal e
não raro, suprimido;
ii. Estatização e controle dos fatores de produção e recursos
econômicos por parte da classe trabalhadora;
iii. Gestão política que visa a redução das desigualdades sociais; e
iv. A remuneração do trabalho ocorre mediante a repartição do produto
econômico que se dá por decisão do governo central.

2.2 Conceito de Ordem Econômica

Por Ordem Econômica entende-se o tratamento jurídico disciplinado pela Constituição para a
condução da vida econômica da Nação, limitado e delineado pelas formas estabelecidas na
própria Lei Maior para legitimar a intervenção do Estado no domínio privado econômico
(Leonardo Vizeu).

A Ordem Econômica consiste na racionalização jurídica, da vida econômica, com o fim de se


garantir o desenvolvimento sustentável da Nação (José Afonso da Silva).
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

2.3 Formas de posicionamento econômico do Estado

Trata-se do estudo da forma de participação do Estado nas atividades de cunho econômico,


desenvolvida em seu respectivo território.

Observe-se que, de acordo com a doutrina adotada, o posicionamento estatal em face de sua
Ordem Econômica assume feições diversas, com reflexos no texto constitucional.

a) Estado Liberal

O modelo de Estado Liberal nasce da necessidade de proteção da esfera de domínio privado


dos indivíduos face ao avanço predatório que o modelo estatal absolutista exercia sobre o
cidadão comum.

Baseia-se na doutrina filosófica e política do liberalismo, que se assenta no respeito do Estado


ao pleno exercício dos direitos e garantias por parte de seus respectivos indivíduos.

Livre-iniciativa, direito de qualquer cidadão exercer atividade econômica livre de qualquer


restrição, condicionamento ou imposição do Estado.

Liberdade contratual, devendo o Poder Público garantir o cumprimento das cláusulas


pactuadas, a fim de se manter a estabilidade e a segurança nas relações jurídicas contratuais.

Liberdade de mercado, o sistema econômico fica sujeito à auto-organização.

b) Estado intervencionista econômico

O modelo de intervencionismo econômico é fruto da derrocada do liberalismo norte-


americano, que culminou com a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, e da adoção do New
Deal.

Prima-se, portanto, em políticas públicas de crescimento econômico e ampliação da geração


de trabalho produtivo, a saber, busca do pleno emprego, assegurando-se renda mínima.

O Estado atua com o objetivo de se garantir o exercício racional das liberdades individuais, de
forma a coibir o exercício abusivo e pernicioso do liberalismo. Consubstancia o princípio da
defesa do mercado ou defesa da concorrência.

Ex.: Lei Antitruste e o New Deal.

c) Estado Intervencionista social/ Estado de bem-estar social/ Welfare State

O modelo de intervencionismo social, mais conhecido como Welfare State ou Estado do bem
estar social ou Estado da Providência.

Tal modelo de intervencionismo baseia-se na seguridade social, em que o Poder Público atua
compartilhando os riscos individuais de vida (doença, invalidez, morte, dentre outros) entre
todos os membros e segmentos sociais, de maneira que, por meio de um cálculo atuarial, toda
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

a sociedade irá contribuir para o Estado e este irá promover a justa distribuição de renda entre
aqueles que, por qualquer razão, estejam privados de sua capacidade laborativa, seja de forma
temporária ou permanente.

O Estado preocupa-se com a coletividade e com os interesses transindividuais, ficando


mitigado os interesses pessoais de cunho individualista.

Provê uma série de direitos sociais aos cidadãos de modo a mitigar os efeitos naturalmente
excludentes da economia capitalista sobre as classes sociais mais desfavorecidas.

ATENÇÃO!
Diferencia-se, contudo, do modelo de intervencionismo econômico, uma vez que no plano
jurídico, consubstancia-se no princípio da solidariedade. Neste modelo o Estado assume
responsabilidades sociais crescentes, em caráter de prestações positivas, como a previdência,
habitação, saúde, educação, assistência social e saneamento, ampliando, cada vez mais, seu
leque de atuação como prestador de serviços públicos essenciais. Outrossim, o Estado atua
como empreendedor substituto em áreas e setores considerados estratégicos para o
desenvolvimento da Nação, uma vez que assume o papel de ser o grande ente garantidor do
desenvolvimento social.

d) Estado Intervencionista socialista

É a forma intervencionista máxima do Estado, uma vez que este adota uma política econômica
planificadora, baseada na valorização do coletivo sobre o individual. O Poder Público passa a
ser o centro exclusivo para as deliberações referentes à economia.

Os bens de produção são apropriados coletivamente pela sociedade por meio do Estado, de
modo que este passa a ser o único produtor, vendedor e empregador.

Atenção!
No plano econômico baseia-se na teoria da planificação proposta por Lênin, defendida por
Trotsky, operacionalizada e mantida por Stalin. No plano jurídico, consubstancia-se no
princípio da supremacia do interesse público, mitigando os anseios e expectativas individuais
em face da vontade coletiva da sociedade. Preocupa-se, basicamente, com o bem comum e as
necessidades da coletividade, em detrimento do liberalismo individual. Foi concebido com base
nas idéias de filósofos que apontaram os efeitos excludentes e exploratórios do liberalismo
econômico e a necessidade de se efetivar políticas de justa distribuição de rendas, a saber,
Friedrich Hegel e Karl Marx.

e) Estado regulador

Em virtude do insucesso dos modelos intervencionistas, tanto social, quanto socialista, bem
como do econômico, houve necessidade de o Estado repensar nas formas pelas quais interfere
no processo de geração de riquezas, bem como na realização de políticas públicas de inclusão
e de repartição de renda.

Para tanto, abandona a planificação econômica socialista e a crescente assunção de


responsabilidades coletivas do modelo social, sem, todavia, voltar ao liberalismo econômico
puro idealizado por Adam Smith.
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

Caracteriza-se numa nova concepção para a presença do Estado na economia, como ente
garantidor e regulador da atividade econômica, que volta a se basear na livre-iniciativa e na
liberdade de mercado, bem como na desestatização das atividades econômicas e redução
sistemática dos encargos sociais, com o fito de se garantir equilíbrio nas contas públicas, sem
todavia, desviar o Poder Público da contextualização social, garantindo-se ainda, que este
possa focar esforços nos serviços públicos essenciais.

Fundamenta-se na atuação somente nas áreas onde a iniciativa privada não consiga atingir as
metas sociais para satisfazer o interesse coletivo.

ATENÇÃO!
No plano jurídico, fundamenta-se no princípio da subsidiariedade, no qual o Poder Público
somente irá concentrar seus esforços nas áreas em que a iniciativa privada, por si, não consiga
alcançar o interesse coletivo. Assim, a iniciativa de exploração das atividades econômicas
retorna à iniciativa privada, que irá realizá-la dentro de um conjunto de planejamento estatal
previamente normatizado para tanto, co o fito de conduzir o mercado à realização e
consecução de metas socialmente desejáveis, que irão garantir o desenvolvimento sócio-
econômico da Nação.

2.4 Formas de intervenção do Estado na Ordem Econômica

Cuida-se do estudo das maneiras pelas quais o Estado interfere no processo de geração de
riquezas de sua Nação. Há diversas propostas de classificação.

O autor Hely Lopes Meirelles, classifica a intervenção do Poder Público a intervenção pode se
dar de duas formas:

 no domínio econômico, a qual incide na atividade lucrativa da empresa e recai sobre


produto do trabalho humano, conferindo-lhe um aspecto dinâmico, sendo objeto
específico de estudo no direito econômico.
 na propriedade privada, apresentada sob forma estática, pois recai sobre os bens
localizados no território do Estado, sendo matéria do Direito Administrativo.

No que tange a atuação no domínio econômico vale destacar a classificação do Ministro Eros
Roberto Grau sobre as formas de intervir do Estado:
a) absorção: ocorre quando o Estado atua em regime de monopólio, avocando
para si a iniciativa de exploração de determinada atividade econômica;
b) participação: ocorre quando o Estado atua paralelamente aos particulares,
empreendendo em atividades econômicas ou, ainda, prestando serviço
público economicamente explorável, concomitantemente com a iniciativa
privada;
c) direção: ocorre quando o Estado atua na economia por meio de instrumentos
normativos de pressão, seja através de edição de leis ou de atos normativos;
d) indução: ocorre quando o Estado incentiva, por meio de benesses crediticias, a
prática de determinados setores econômicos, seja através de benefícios
fiscais, abertura de linhas de crédito para fins de incentivo de determinadas
atividades, por meio de instituições financeiras privadas ou oficiais de
fomento.
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

2.5 Ordem Econômica na Constituição de 1988

Ordem econômica entende-se as disposições constitucionais estabelecidas para disciplinar o


processo de interferencia do Estado na condução da vida econômica da Nação.

A interferência pode se dar de duas forma: direta (quando avoca para si a exploração da
atividade econômica) e indireta (atua monitorando a exploração das atividades geradoras de
riquezas pelos particulares, intervindo quando se fizer necessário para normatizar, regular e
corrigir as falhas de seu mercado interno, em prol do bem comum e do interesse coletivo.

A nossa Constituição elegeu como preceitos fundamentais da Ordem Econômica os seguintes


valores:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:

Valorização do trabalho humano

O Poder Público deve garantir que o trabalhador possa sobreviver dignamente, tão-somente
com o produto da remuneração de seu labor, garantindo-lhe, para tanto, uma gama de
Direitos Sociais.

Trata-se de se primar pela proteção ao fator de produção mão-de-obra. Garantir que o salário
seja capar de proporcionar acesso as necessidades mínimas da vida digna.

Para o direito econômico, pessoa digna é aquela que conquistou sua independência
econômica.

Livre-iniciativa

O Estado não deve restringir o exercício da atividade econômica. Exceção: proteção ao


consumidor e de toda a sociedade.

O Estado pode e deve disciplinar, impondo os requisitos mínimos necessários para o exercício
da atividade laborativa com o objetivo de que seja exercida apenas por profissionais capazes e
habilitados.

O Estado atuará somente nos nichos que se fizer necessários para garantir o interesse público,
nos demais o mercado se auto-regulará.

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade
econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança
nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.

Art. 177. Constituem monopólio da União:

Existência digna

Deve o Estado direcionar, ao menos em tese, a atividade econômica para a erradicação da


pobreza, acabando com as desigualdades e injustiças sociais.
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

Efetivação da justa distribuição de renda.

Justiça social

Baseia-se na justiça distributiva, no qual há repartição de bens e encargos entre todos os


membros da sociedade, promovida pelo Poder Público, garantindo-se uma igualdade
proporcional entre os mais e os menos favorecidos, em contraposição com a justiça
comutativa.

Trata-se, portanto, do compartilhamento social de todos os riscos e riquezas da Nação, a fim


de que o desenvolvimento socioeconômico de um seja equitativamente distribuído a todos os
membros da sociedade.

2.6 Princípios da Ordem Econômica

Assim reza o artigo 170 da Constituição de 1988:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis
brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade


econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei.

a) Soberania Nacional

A soberania nacional tem hoje um conceito relativo, vez que com a economia cada vez mais
globalizada a soberania nacional é definida de uma forma global, pois as mudanças da
economia globalizada determinam também dentro do nosso país comportamentos que por
vezes podem se interpretados como um desrespeito a nossa soberania. Se o Brasil negocia
com a China, por exemplo, vende e compra produtos daquele país, há de se observar o
respeito dos valores desse ou daquele país, por um e por outro. Se o comércio implica em
entrelaçamentos dos mais diversos, às vezes poderá implicar em uma interpretação de um
fato que revele, para alguns, em desrespeito da soberania.

Assim, por exemplo, quando tomamos um empréstimo em um banco, ele nos pede para que
façamos um cadastro onde nós revelamos, voluntariamente, várias informações sigilosas sobre
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

nossa vida econômica, inclusive abrindo mão do sigilo fiscal oferecendo cópia da declaração do
Imposto de Renda - IR. Com a relação do Brasil e o Fundo Monetário Internacional – FMI não é
diferente. Ele quer saber qual o superávit primário, estabelecer metas, com o objetivo de ter
recursos financeiros suficientes para o pagamento do respectivo empréstimo. Para alguns está
atingida a soberania nacional.

A soberania nacional tem conceito relativo e significa dizer que é a livre determinação de um
povo para designar os seus caminhos, nas mais diversas áreas, inclusive na econômica, como
por exemplo, designando pagar ou não as suas dívidas externas, como fez a Argentina, e aí
arcar com as conseqüências de um ou outro ato. Não somos obrigados a recorrermos ao FMI,
mas assinados os contratos é de fundamental importância o cumprimento das suas cláusulas.

Então, este é um princípio constitucional-econômico e está presente no artigo 170, inciso I da


Constituição Federal de 1988:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;

Mais do que princípio constitucional-econômico, ele é princípio fundamental da República


Federativa do Brasil e está no artigo primeiro da atual Constituição:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
I - a soberania;

Finalmente, vislumbrando manter a soberania e a independência da economia nacional face


ao capital estrangeiro, a Constituição Federal de 1988 dedicou o artigo, o qual está transcrito a
seguir:

Art. 172. A lei disciplinará, com base no interesse nacional, os investimentos de


capital estrangeiro, incentivará os reinvestimentos e regulará a remessa de lucros.

b) A propriedade privada

A propriedade privada é fundamento constitucional de funcionamento do nosso País. Optamos


por um sistema capitalista e se assim escolhemos, a propriedade privada e não a coletiva é
definidora de um traço econômico do sistema que adotamos. A propriedade pertencendo a
uma pessoa ou a um grupo de pessoas e não coletivamente ao Estado é princípio da ordem
econômica. Veja o artigo:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:
(...) omissis;
II - propriedade privada;

Deve ser enfatizado que no nosso sistema não se proíbe a propriedade pública ou do Estado,
mas a preferência é da propriedade privada. Por exemplo: quando a União desapropria deve
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

ter o objetivo de distribuir as terras para atender uma determinação de assentamento e


desenvolvimento do plano nacional de reforma agrária, devendo manter estoque de terras
somente para os fins de, por exemplo, exploração de pesquisas agropecuárias, sendo proibida
a especulação imobiliária. Para maior elucidação veja o artigo da Constituição:

Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a


política agrícola e com o plano nacional de reforma agrária.

Embora presente aqui, a propriedade privada é tópico de outros títulos constitucionais, a


exemplo no artigo 5º, cujo texto segue:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...);
XXII - é garantido o direito de propriedade;

Um questionamento é presente quanto ao texto constitucional referindo-se à propriedade e


não a propriedade privada. A resposta é clara e basta lembrar que este capítulo é o que trata
dos direitos e deveres individuais e coletivos, então a propriedade aqui tratada é a privada,
individual ou coletiva, e não a do Estado, com, por exemplo, as elencadas nos artigos 20 e 26
da Constituição Federal de 1988.

A propriedade privada é prioridade da sociedade brasileira, mas não sobrepõe ao interesse


público. Quando o interesse público estiver presente a propriedade privada poderá ser
expropriada, na modalidade de desapropriação, isto é, mediante justa indenização. O único
caso de confisco, ou melhor, de perda da propriedade sem justa indenização é o caso do
artigo 243 da Constituição Federal de 1988, que se refere às propriedades territoriais rurais
utilizadas para plantação de plantas psicotrópicas ilegais.

A propriedade foi ao longo dos séculos, e ainda é, objeto de discussão entre os seres humanos,
no ocidente e no oriente. A propriedade utilizada para o simples adorno, como no caso do
ouro, ou para a produção de sustento, como é o caso da terra, é sempre motivo de guerras,
até os monges tibetanos brigam por ela. Alguns matam em nome de Deus para preservá-la.
Outros, declaradamente, para colecioná-la.

Maria Helena Diniz, no seu Dicionário Jurídico, trata o tema como propriedade individual.
Assim para ela, os termos propriedade individual e propriedade privada se equivalem. E traz o
seguinte a respeito:

PROPRIEDADE INDIVIDUAL. Direito civil. É a pertencente a determinada pessoa, em


relação a um bem, podendo usá-lo, gozá-lo, fruí-lo e dele dispor. É a propriedade
privada ou particular de uma pessoa.

A propriedade está definida no Código Civil Brasileiro, a Lei nº. 10.406 de 10 de janeiro de
2002:

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito
de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade
com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e


das águas.
§ 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou
utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
§ 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por
necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em
caso de perigo público iminente.
§ 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado
consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos,
de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e
econômico relevante.
§ 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao
proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em
nome dos possuidores.

Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo


correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o
proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou
profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las.
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos
minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros
bens referidos por leis especiais. Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito
de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que
não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto em lei
especial.
Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário.
Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao
seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem.

c) A função social da propriedade

A função social da propriedade é um dos mais conhecidos e também o mais incompreendido


dos princípios, pelo fato de que quando se fala em social o pensamento número um é que é
para atender a classe menos favorecida, economicamente falando. Não é. Pensar em uma
função social da propriedade é pensar em que benefício traz para toda a sociedade aquela
propriedade ou seu uso.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:
(...) omissis;
III - função social da propriedade;

Por exemplo: quanto à propriedade sobre imóvel rural deve se observar a “exploração que
favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores”, dispositivo presente no artigo
186, IV, da Constituição Federal de 1988. Veja que o dispositivo não se refere apenas aos
trabalhadores, a parte mais frágil da relação, mas refere-se também aos proprietários. Então, a
função social é atender a todos e aí atender a sociedade. No exemplo, atender a função social
é observar vários quesitos, inclusive conservar e preservar o meio ambiente. Aqui a
intersecção de dois princípios, os dois, função social da propriedade e a preservação do meio
ambiente. A função objetivada é a social, a preservação da sociedade. Veja o artigo:
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Mas não é só na propriedade sobre o imóvel rural. A Constituição atenta em vários artigos
para a utilização da propriedade com uma visão social, ou seja, com um ângulo que
proporcione bem-estar a coletividade. Assim, a propriedade imobiliária urbana também é
tratada pela Constituição Federal de 1988. Veja o artigo:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público


municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com
mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e
de expansão urbana.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

d) Livre concorrência

Trata da proteção conferida pelo Estado ao devido processo competitivo em sua Ordem
Econômica, a fim de garantir que toda e qualquer pessoa, que esteja em condição de participar
do ciclo econômico (produção, circulação, consumo) de determinado nicho de nossa
economia, nele possa livremente, entrar, permanecer e sair, sem qualquer interferência
estranha oriunda de interesses de terceiros (Lei n. 8.884, de 1994).

Livre concorrência não deve ser confundida com livre iniciativa, esse um princípio é um
princípio constitucional e presente no art. 1° da nossa atual constituição e aquele, embora
esteja incluso também no texto constitucional, está no Título VII – Da ordem econômica e
financeira, no Capítulo I – Dos princípios gerais da atividade econômica, isto é, enquanto a livre
iniciativa é de abrangência geral, a livre concorrência é de abrangência especial, isto é, seu
alcance é restrito a atividade econômica. Veja o artigo:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre


iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:

(...) omissis
IV - livre concorrência;

ANOTAÇÃO
A livre concorrência é princípio de funcionamento de um capitalismo utópico, onde
observamos todos os agentes atuando na economia sem intervenção do Estado, coisa que
não é a realidade brasileira atual. A atuação desimpedida de cada agente da economia é o
que podemos chamar de livre concorrência. Enquanto princípio, ele pretende criar uma
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

situação de concorrência de forma que os preços sejam formados pelo mercado e não ao
sabor dos fornecedores.

O exemplo dos combustíveis, nos postos, e somente nos postos de gasolina, é o que podemos
observar em livre concorrência. Enquanto alguns praticam um preço menor outros praticam
outros preços maiores. A concorrência estabelecida entre eles implica em uma concorrência
que é feita de maneira livre, sem interferência governamental, ou pelo menos é o que dispõe a
teoria jurídica a respeito do assunto, pois a atuação do Ministério Público é também uma
intervenção estatal que deve ser avaliada até que ponto é boa. Por exemplo, em 09 de maio
de 2005, estava em vigor um ajuste de conduta estabelecido, em Goiânia, entre Sindiposto –
Sindicato dos Postos de Gasolina do Estado de Goiás, o Estado de Goiás e o Ministério Público
do Estado de Goiás, onde foi fixado o preço da gasolina para o período, em R$2,37 (dois reais e
trinta e sete centavos); mas o que se observou naqueles dias foi que os preços chegavam a até
R$1,99 (um real e noventa e nove centavos). Certamente a participação do Estado na
economia é por vezes desastrosa, quando não produz exatamente um resultado oposto ao
pretendido.

e) Defesa do consumidor

Versa sobre a proteção conferida pelo Estado à base do ciclo econômico, que se inicia com a
produção ou oferecimento de determinado bem ou serviço, desenvolve-se com a sua
circulação ou seu oferecimento, e perfaz-se quando são adquiridos pelo consumidor final,
sendo o consumo a base que sustenta o respectivo ciclo, sem o qual tende a ruir. Outrossim,
uma vez que o consumidor é a parte que, durante a relação jurídica econômica de aquisição
final do bem ou serviço, tem menor conhecimento sobre o mesmo, decorrente de notória
desinformação sobre como se opera as etapas de produção e circulação, mister se faz
outorgar-lhe privilégios legais e processuais, reconhecendo sua posição de hipossuficiência em
relação ao produtor e ao vendedor (Lei n. 8.078 de 1990).

f) Defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferencia conforme o


impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e
prestação

Tutela o condicionamento racional e equilibrado de utilização e fruição dos fatores de


produção e das riquezas naturais, de modo a evitar o seu esgotamento, garantindo sua
continua e permanente exploração por parte da presente geração, bem como por parte de
gerações vindouras. Igualmente, busca promover a proteção do meio ambiente em face dos
fatores de produção eminentemente poluidores, que causam a degradação da fauna e flora.
Observe-se que a atual política de meio ambiente visa a aumentar demasiadamente o custo da
poluição nos fatores de produção, de modo a inviabilizar as atividades econômicas decorrentes
de fatores de produção eminentemente poluentes.

g) Redução das desigualdades regionais e sociais

Consiste no compartilhamento equânime, em todas as regiões do país, do desenvolvimento


social advindo da exploração de atividade econômica. Fundamenta-se no princípio geral de
direito da solidariedade que consubstancia todo o intervencionismo social. Isso porque, em
que pese o Brasil ser um país de grandes paradoxos sócio-regionais, a Constituição da
República traz como um de seus objetivos fundamentais (art. 3º) a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária, a necessidade de se promover o desenvolvimento nacional, a
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

erradicação da pobreza e da marginalização, bem como a redução das desigualdades sociais e


regionais.

h) Busca do pleno emprego

Cuida da maximização de resultados no que tange ao uso do fator de produção humano, isto é,
da mão de obra, dentro dos parâmetros estabelecidos pelas normas jurídicas legisladas do
Estado. Observe-se que, dessa forma, busca-se, por corolário, garantir a maximização de
resultados no exercício das atribuições sociais do Poder Público. Isso porque, quanto mais
pessoas estiverem laborando em atividades geradoras de rendas, maior será o volume de
arrecadação do Poder Público, via receitas derivadas, sendo menores os gastos com o setor de
seguridade social, uma vez que menos cidadãos vão ter que se valer do assistencialismo social,
por não necessitarem de auxílio externo para seu sustento e de sua família. Assim, pode o
Estado concentrar seus gastos em atividades promotoras de desenvolvimento tecnológico,
pesquisa científica, cultura, dentre outras. Todavia, a contrario sensu, quanto menor o número
de indivíduos que estiverem exercendo atividades produtivas e geradoras de renda, menor
será o volume de arrecadação do Poder Público, e maior o volume de gastos com a seguridade
social para atender a demanda dos necessitados e hipossuficientes que não conseguem, por si,
adquirir o conjunto mínimo de bens para subsistência digna, fato que, tão-somente, contribui
para o aumento do déficit público.

i) Tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis


brasileiras e que tenham sua sede e administração no Pais

É a proteção conferida à parcela dos agentes privados que participam do ciclo econômico de
produção e circulação, sem, todavia, deter parcela substancial de mercado, tampouco poderio
econômico. Observe-se que, sem um conjunto específico de normas que garantam a mesma
proteção em termos concorrenciais, dificilmente poderiam competir com os agentes
econômicos detentores de poder de mercado, fato que conduziria ao encerramento forçado
de suas atividades. Assim, protege-se o pequeno e médio produtor, outorgando-lhe
tratamento legal diferenciado em face do grande, incentivando-se, ainda a nacionalização
daquelas, para se constituírem sob nossas leis, estabelecendo sede em nosso país.

2.7 Princípios implícitos da Ordem Econômica

A. Subsidiaridade

O Poder Público atua subsidiariamente à iniciativa privada na ordem econômica, dentro de um


sistema constitucional em que o principal papel reservado ao Estado é de agente regulador,
nos termos do art. 174 da CF.

A intervenção somente se dará nos casos expressamente previstos pelo legislador constituinte,
sendo proibida a exploração de atividade econômica fora das exceções constitucionais (art.
173, caput da CF).

B. Liberdade Econômica

Constitui gênero que compreende duas espécies: liberdade de empresa, segundo a qual há
livre escolha da atividade a desempenhar, bem como dos meios para o fiel desempenho, e a
liberdade de concorrência, baseada na livre disputa de mercados (art. 170 e incisos).
DIREITO ECONÔMICO Flávio Filgueiras Nunes

É limitada e mitigada, sendo regulada pelo interesse público, através dos requisitos legais de
observância obrigatória a todos aqueles que desejam participar de um mercado especifico.

C. Igualdade Econômica

Instituto garantidor da liberdade de concorrência. Admite algumas exceções como no caso das
micro e pequenas empresas (art. 179 CF).

A igualdade entre o Poder Público e o particular é apenas formal.

D. Desenvolvimento econômico

Objetiva reduzir as desigualdades regionais e sociais, visando uma igualdade real. Ex.: Políticas
Públicas de ação afirmativa.

E. Democracia econômica

As políticas públicas devem ampliar a oferta de oportunidades de iniciativa e de emprego, com


chances iguais para todos os que se encontrem na mesma situação fática e jurídica.

Garante a participação ativa de todos os segmentos sociais da Nação na propositura de suas


políticas públicas de planejamento econômico (Poder Público, Agentes Econômicos e
Consumidores).

F. Boa-fé econômica

Visa a transparência e publicidade nas relações de trocas comerciais dentro do ciclo


econômico de cada mercado em todas as etapas de circulação de riquezas.

Instituto jurídico garantidor da simetria informativa necessária para se evitar falha de


mercado.

Você também pode gostar