Você está na página 1de 7

Caso Clínico

Case Report

João Bento1 Adenocarcinoma do pulmão em doente com


Gabriela Fernandes2 esclerodermia: Um caso clínico
Maria Alice Barbosa3
Adriana Magalhães3
Ana Rosa Santos3 Lung adenocarcinoma associated with systemic
Venceslau Hespanhol4 sclerosis: A case report

Recebido para publicação/received for publication: 08.04.21


Aceite para publicação/accepted for publication: 08.09.12

Resumo Abstract
A esclerodermia é uma doença do tecido conjuntivo Systemic sclerosis (scleroderma) is a connective tissue
de etiologia desconhecida, que tem sido associada a disorder of unknown aetiology characterised by im-
um risco acrescido de malignidade. O cancro do pul- mune abnormalities, which has been related to an
mão é a neoplasia mais frequente, nestes doentes. increased risk of malignancy. Lung cancer is the most
Apresenta-se o caso clínico de uma mulher de 42 prevalent among these patients.
anos, não fumadora, com esclerodermia, que desen- We present a clinical case of a 42 years old non smoker
volveu agravamento progressivo do seu estado geral e female with systemic sclerosis. She presented progressi-
derrame pleural com características de exsudado, sem ve general health status worsening and an exudative
evidência de infecção ou malignidade. A TAC toráci- pleural effusion, with no evidence of infection or malig-
ca mostrou zonas de fibrose, a broncofibroscopia, os nancy. Chest high resolution computed tomography
lavados brônquico e broncoalveolar foram normais. revealed pulmonary fibrosis. Bronchoscopy, bronchial
Foi excluída neoplasia extrapulmonar. Na pleurosco- and bronchoalveolar lavage were normal. Extra-
pia, observaram-se formações nodulares, cujas bióp- -pulmonary malignancies were excluded. Pleural nodu-
sias revelaram tratar-se de adenocarcinoma pulmonar. larities were found on pleuroscopy and the biopsy was
Iniciou quimioterapia, desenvolvendo ao 48.º dia compatible with lung adenocarcinoma. Chemotherapy
neutropenia febril e sépsis, vindo a morrer 12 dias was then started, which complicated with febrile neu-
depois. tropenia, sepsis and patient death 12 days after.

1 Interno Complementar de Pneumologia


2 Assistente Hospitalar de Pneumologia
3 Assistente Hospitalar Graduado de Pneumologia

4 Chefe de Serviço de Pneumologia

Serviço de Pneumologia, Hospital de São João, EPE, Porto

R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 93
Vol XV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2009

Pneumologia 15-1 - Miolo - 4ª PROVA.indd 93 06-01-2009 15:20:02


Adenocarcinoma do pulmão em doente com esclerodermia: Um caso clínico
João Bento, Gabriela Fernandes, Maria Alice Barbosa, Adriana Magalhães, Ana Rosa Santos, Venceslau Hespanhol

Salientamos este caso pela relação, apesar de rara, en- The purpose of this case report is to bring attention
tre a esclerodermia e o cancro do pulmão e pela im- to the relationship, although rare, between systemic
portância de uma vigilância pulmonar cuidadosa, em sclerosis and lung cancer, stressing the importance of
indivíduos com esta doença reumatológica, pelo risco adequate pulmonary surveillance in these patients.
acrescido de neoplasia.
Rev Port Pneumol 2009; XV (1): 93-99
Rev Port Pneumol 2009; XV (1): 93-99
Key-words: Systemic sclerosis, cancer, lung, fibrosis.
Palavras-chave: Esclerodermia, cancro, pulmão, fi-
brose.

Introdução tomas são, frequentemente, discretos e


A esclerodermia (esclerose sistémica) é uma insidiosos3. De um modo geral, são reco-
doença crónica do tecido conjuntivo, carac- nhecidas duas formas de esclerodermia. Na
terizada por fibrose difusa da pele e órgãos forma localizada ou síndroma de CREST
internos, que envolve, mais frequentemente (calcinose cutânea, fenómeno de Raynaud,
o pulmão, o rim e o coração. É uma doença dismotilidade esofágica, esclerodactilia e te-
pouco comum, cuja incidência é muito va- langiectasia), que corresponde a 80% dos
riável, entre 0,6 e 122 casos por milhão de casos, o espessamento cutâneo encontra-se
pessoas por ano1. A prevalência actual varia limitado às mãos e face, enquanto na forma
entre os 7 e os 489 casos por milhão de in- difusa as alterações cutâneas também envol-
divíduos.1 Em termos epidemiológicos, vem a parte proximal dos membros e o
observa-se uma grande diversidade geográ- tronco. O prognóstico é variável e, em vá-
fica, sendo os Estados Unidos e a Austrália rios estudos, está associado a um aumento
os países com mais elevada prevalência1. É da mortalidade e do risco de cancro2. O en-
cerca de duas a três vezes mais frequente no volvimento pulmonar, cardíaco e renal, são
sexo feminino, correspondendo, conforme as principais causas de morte nos doentes
as séries, entre 60 e 90% dos casos2. A etio- com a forma sistémica2, 3. Por outro lado, os
logia é desconhecida, porém têm sido im- doentes com síndroma de CREST rara-
plicados fenómenos de autoimunidade e de mente desenvolvem doença pulmonar in-
desregulação fibroblástica3. Caracteriza-se tersticial, doença cardíaca ou insuficiência
por anormalidades imunológicas e inflama- renal, apresentando, por isso, melhor prog-
tórias, acompanhadas de fibrose e de lesão nóstico.
O reconhecimento microvascular3. Os sintomas, geralmente, Cerca de 70% dos doentes com escleroder-
do envolvimento do aparecem entre a 3.ª e a 5.ª décadas de vida. mia têm envolvimento pulmonar3. As duas
interstício pulmonar No entanto, o reconhecimento do envolvi- principais manifestações são a fibrose pul-
por esclerodermia mento do interstício pulmonar por esclero- monar e a doença vascular pulmonar, que
pode ser tardio dermia pode ser tardio, uma vez que os sin- pode conduzir a hipertensão pulmonar. Ou-

94 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2009

Pneumologia 15-1 - Miolo - 4ª PROVA.indd 94 06-01-2009 15:20:02


Adenocarcinoma do pulmão em doente com esclerodermia: Um caso clínico
João Bento, Gabriela Fernandes, Maria Alice Barbosa, Adriana Magalhães, Ana Rosa Santos, Venceslau Hespanhol

tras manifestações pulmonares da esclero-


dermia, menos comuns, incluem doença
pleural, bronquiectasias, pneumotórax es-
pontâneo e cancro do pulmão. As alterações
imunológicas observadas em doentes com
esclerodermia, combinadas com a fibrose
pulmonar, podem predispor ao desenvolvi-
mento de cancro ou conferir um elo etioló-
gico comum4, 5, 6, 7.
A respeito da relação entre estas duas entida-
des, os autores apresentam um caso clínico.

Caso clínico
Mulher de 42 anos, não fumadora, com es-
clerodermia diagnosticada há 4 anos e fenó- Fig. 1 – Telerradiografia PA do tórax na admissão
meno de Raynaud há 9 anos.
Apresentava astenia, anorexia, emagreci- uma síndroma ventilatória restritiva mode-
mento e dispneia progressivas, com cerca de rada (Quadro II). O estudo do líquido pleu-
dois meses de evolução, tosse não produtiva ral revelou tratar-se de um exsudado com
e dor na região posterior do hemitórax es- ADA e glicose normais (Quadro III),
querdo, de características pleuríticas. Na te- observando-se, na contagem diferencial de
leradiografia de tórax (Fig. 1) detectou-se células, numerosos linfócitos e grupos de cé-
opacidade à esquerda, sugestiva de derrame lulas volumosas, com aumento da relação
pleural de grande volume. Analiticamente, núcleo-citoplasma, não se detectando célu-
não se observaram alterações (Quadro I). A las malignas. A pleura encontrava-se espes-
avaliação funcional respiratória evidenciou sada e a biópsia demonstrou a presença de

Quadro I – Análises na admissão

Hb 11,8 g/dl
Leucócitos 10,6*109/l
Neutrof / Linf / Basof / Eosinof / Monoc 67,3% / 24,5% / 1,4% / 2% / 4,8%
Plaquetas 350*109/l
VS / PCR 69 / 45,3
Na+ / K+ / Cl- 138 / 4,4 / 97 mEq/l
Ca2+ / PO43- 4,7mEq/l / 29,8 mEq/l
Ureia / Creatinina 24 mg/dl / 0,8 mg/dl
DHL 244 U/l
Proteínas totais 72,7g/l
TGO / TGP 18 U/l / 9 U/l
γ-GT / FA 10 U/l / 75 U/l

R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 95
Vol XV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2009

Pneumologia 15-1 - Miolo - 4ª PROVA.indd 95 06-01-2009 15:20:02


Adenocarcinoma do pulmão em doente com esclerodermia: Um caso clínico
João Bento, Gabriela Fernandes, Maria Alice Barbosa, Adriana Magalhães, Ana Rosa Santos, Venceslau Hespanhol

Quadro II – Provas funcionais respiratórias celular total normal com neutrofilia e eosi-
nofilia relativas discretas, sendo negativos
FVC 1,58 L (55%)
FEV1 1,27 L (51%)
para malignidade.
FEV1 / FVC 80 A prova de Mantoux e o estudo microbioló-
TLC 4,44 L (51%) gico (lavados brônquico e broncoalveolar e
VR 1,48 L(46%) líquido pleural) foram negativos. Foi excluí-
DLCO 13,8 ml /mmHg /min (59%) da neoplasia extrapulmonar, através da reali-
DLCO/VA 6,49 ml/mmHg/min/L (105%) zação de endoscopia digestiva alta, ecografia
abdominal e pélvica, ecografia tiroideia, ma-
Quadro III – Líquido pleural
mografia e electroforese de proteínas.
Foi, então, submetida a pleuroscopia
DHL 400 U/l (Fig. 3), onde se observou pulmão encarce-
Proteínas totais 50,8 g/l rado, coberto por fibrina, líquido pleural
ADA 42 U/l sero-hemático e várias pequenas formações
Glicose 0,71 g/l
nodulares dispersas ao longo da pleura pa-
Células 3600
Neutrof / Eosinof / Linf 8% / 1% / 77%
rietal anterior, posterior e diafragmática,
Células mesoteliais 14% cuja histologia revelou adenocarcinoma PAS
e PAS-D positivos, calretinina negativa e
TTF1 positivo. Por persistência do derrame,
fibrose, com infiltrado inflamatório, sem si- iniciou quimioterapia (QT) com gencitabi-
nais de vasculite ou malignidade. na (1500 mg, D1 e D8) e carboplatino (500
A TAC torácica (Fig. 2) mostrou volumoso mg, D1) e efectuou pleurodese com talco
derrame pleural à esquerda, condicionando (5g em 50 cc de SF). Ao 18.º dia pós-QT,
atelectasia do pulmão adjacente e, bilateral- desenvolveu neutropenia febril, sépsis e dis-
mente, zonas com padrão de vidro despolido função multiorgânica, acabando por morrer
e zonas em “favo de mel”, traduzindo fibrose doze dias depois.
pulmonar, sem adenomegalias mediastínicas
ou hilares.
Na broncofibroscopia não se observaram al- Discussão
terações endoluminais e os lavados brônqui- Vários autores têm encontrado relação entre
co e broncoalveolar apresentavam contagem a patologia oncológica e as doenças reumá-

Fig. 2 – TAC torácica (cortes)

96 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2009

Pneumologia 15-1 - Miolo - 4ª PROVA.indd 96 06-01-2009 15:20:02


Adenocarcinoma do pulmão em doente com esclerodermia: Um caso clínico
João Bento, Gabriela Fernandes, Maria Alice Barbosa, Adriana Magalhães, Ana Rosa Santos, Venceslau Hespanhol

Fig. 3 – Pleuroscopia (imagens)

ticas, particularmente a artrite reumatóide, aumento de 1,5 vezes do risco relativo de


a síndroma de Sjögren, o lúpus eritematoso cancro, comparativamente com a população A primeira
sistémico e a esclerodermia. A primeira as- geral. Formas específicas de cancro apresen- associação entre
sociação entre cancro e esclerodermia foi taram maior risco relativo, nomeadamente cancro e
relatada por Zatuchni em 19534, 8. Desde de 4,9 vezes para o pulmão e 4,2 vezes para esclerodermia foi
então, várias publicações têm apoiado esta a pele. relatada por Zatuchni
associação, sendo o pulmão, a mama e a Em 1998, Hesselstrand et al 2 analisaram a em 1953
pele os órgãos mais frequentemente impli- taxa de sobrevida, a mortalidade e a ocor-
cados4, 5, 6, 9. Um número crescente de estu- rência de neoplasias malignas em 249 doen-
dos indica um risco particularmente au- tes com esclerodermia, seguidos por um pe-
mentado de cancro do pulmão em doentes ríodo de 13 anos. Verificou-se um risco de
com esclerodermia, predisposição que se ve- mortalidade 4,6 vezes superior ao da popu-
rifica mesmo em indivíduos não fumado- lação geral. Cerca de 49% das mortes foram
res4, 5, 6, 9. atribuídas a complicações pulmonares, como
Num estudo retrospectivo10 efectuado em fibrose, hipertensão pulmonar, pneumonia
248 doentes com esclerodermia, 18 (7,3%) ou malignidade. Por outro lado, 14,3% dos
desenvolveram cancro, sendo mais frequen- doentes com esclerodermia morreram por
tes os cancros do pulmão (38,9%) e mama cancro, dos quais 58,3% tinham neoplasia
(27,8%). O cancro do pulmão, em particu- primária do pulmão. O tratamento com ci-
lar, associou-se sempre à fibrose pulmonar, clofosfamida oral não aumentou o risco de
que precedeu o seu desenvolvimento, em morte por cancro.
média, 9 anos. Em 2003, Hill et al 5 efectuaram um estudo
Um estudo de follow-up11 de 233 doentes de coorte em doentes com esclerodermia,
com esclerodermia, entre 1955 e 1984, re- identificados a partir do South Australian
velou um risco relativo aumentado de can- Scleroderma Registry, que foram correlacio-
cro em geral (2,4 vezes) e, em particular, de nados com o South Australian Cancer Regis-
cancro do pulmão (7,8 vezes). try. Nos 441 doentes analisados, foram
Uma análise retrospectiva12 de 917 doentes identificados 90 casos de cancro. Observou-
com esclerose sistémica documentou um -se um aumento de 2 vezes o risco relativo

R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 97
Vol XV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2009

Pneumologia 15-1 - Miolo - 4ª PROVA.indd 97 06-01-2009 15:20:03


Adenocarcinoma do pulmão em doente com esclerodermia: Um caso clínico
João Bento, Gabriela Fernandes, Maria Alice Barbosa, Adriana Magalhães, Ana Rosa Santos, Venceslau Hespanhol

de malignidade em geral, sendo o aumento rodermia. Estas alterações podem diminuir


mais significativo para o cancro do pulmão a capacidade de manter uma função de vigi-
(5,9 vezes). lância imunológica normal7.
A esclerodermia tem sido referida como um Hill et al 5 verificaram uma diferença, esta-
factor preditivo independente de cancro, tisticamente significativa, entre o tipo de
não se encontrando, nestes doentes, diferen- esclerodermia e o risco de cancro. Os doen-
ças significativas no que respeita ao sexo e tes com forma difusa têm maior risco relati-
hábitos tabágicos10, 12. Já em 1988, Winkel- vo de cancro em relação à população geral
mann13 apresentou uma série de 14 doentes (2,73 vezes) do que os que apresentam
com cancro do pulmão e esclerodermia, dos doença localizada (1,85 vezes)5. Noutro es-
quais 9 não referiam história tabágica. tudo12, o risco de cancro na doença localiza-
A associação entre a esclerodermia e o can- da foi idêntico ao da população em geral.
cro do pulmão é apenas inferencial e larga- Esta diferença foi atribuída, em parte, à gra-
mente baseada em dados epidemiológicos, vidade das lesões orgânicas e das alterações
tendo sido propostas várias hipóteses para imunológicas.
explicar a maior incidência de cancro nestes Pensa-se que os doentes com esclerodermia
doentes. Assim, tem sido sugerido que o apresentem alguns danos genéticos, desig-
cancro do pulmão, na esclerodermia, surge nadamente fragilidade cromossómica e de-
num pulmão previamente lesado ou fibróti- lecções, que predisponham tanto ao apare-
co, ocorrendo numa fase mais avançada da cimento de esclerodermia como de
doença, geralmente ao fim de uma década neoplasias7. O aumento da incidência de
O curso da fibrose ou mais. No entanto, o curso da fibrose pul- cancro entre familiares de primeiro grau de
pulmonar associada monar associada à esclerodermia pode variar doentes com esclerodermia favorece esta hi-
à esclerodermia consideravelmente3. Em alguns doentes, a pótese2.
pode variar função pulmonar pode permanecer estável A terapêutica imunossupressora utilizada no
consideravelmente durante anos, mesmo em estádios avança- tratamento desta doença é outro factor de
dos, enquanto outros podem desenvolver risco considerado para a malignidade. No
fibrose pulmonar rapidamente progressiva e entanto, num estudo efectuado por Hessels-
fatal. Por outro lado, a relação entre a fibro- trand et al, o uso de ciclofosfamida não se
se e o desenvolvimento do cancro não está associou ao aumento de neoplasias malignas
completamente explicada e o mecanismo fatais2.
subjacente a esta predisposição é desconhe- Salientamos, neste caso clínico, a relação en-
cido. Uma possibilidade é a cicatriz fibrótica tre a esclerodermia e o cancro do pulmão.
provocar obstrução linfática, resultando na De referir a presença de fibrose pulmonar
acumulação local de material potencialmen- como provável factor de risco oncológico
te carcinogénico7. A disfunção das células em doentes com esclerodermia. Foi feita a
mediadoras da inflamação é outra hipótese exclusão de outras eventuais neoplasias des-
considerada: têm sido detectadas diferenças critas em associação com a esclerodermia,
nos fenótipos dos linfócitos T e alteração da designadamente mama, digestiva, tiróide e
actividade dos macrófagos no líquido de la- útero. O aparecimento de cancro na ausên-
vado broncoalveolar de doentes com escle- cia de factores de risco, nomeadamente ta-

98 R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a
Vol XV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2009

Pneumologia 15-1 - Miolo - 4ª PROVA.indd 98 06-01-2009 15:20:05


Adenocarcinoma do pulmão em doente com esclerodermia: Um caso clínico
João Bento, Gabriela Fernandes, Maria Alice Barbosa, Adriana Magalhães, Ana Rosa Santos, Venceslau Hespanhol

bagismo, é igualmente referida na esclero- 2. Hesselstrand R, Scheja A, Akesson A. Mortality and


causes of death in a Swedish séries of systemic sclerosis A esclerodermia está
dermia.
patients. Ann Rheum Dis 1998; 57:682-6. associada a um
3. Witt Christian, Borges Adrian C, John Mathias, aumento do risco
Fietze Ingo, Baumann Gert, Krause Andreas. Pulmo- de cancro, sendo
Conclusão nary involvement in diffuse cutaneous systemic sclero-
o pulmonar o mais
A esclerodermia está associada a um aumen- sis: broncheoalveolar fluid granulocytosis predicts pro-
to do risco de cancro, sendo o pulmonar o greesion of fibrosing alveolitis. Ann Rheum Dis 1999;
frequente
mais frequente. Esta associação é válida 58: 635-40.
mesmo para indivíduos não fumadores. O 4. Pearson J E, Silman A J. Risk of cancer in patients
with scleroderma. Ann Rheum Dis 2003; 62:697-9.
diagnóstico de cancro do pulmão é geral-
5. Hill CL, Nguyen A-M, Roder D, Roberts-Thomson
mente efectuado 5 a 9 anos após o de escle- P. Risk of cancer in patients with scleroderma: a popula-
rodermia. Há já vários estudos publicados tion based cohort study. Ann Rheum Dis 2003; 62:728-
que referem um aumento da incidência de -31.
neoplasia do pulmão, em doentes com es- 6. Kanaji N, Fujita J, Bandoh S, Fukumoto T, Ishikawa
clerodermia, complicada de fibrose extensa M, Haba R, Ishii T, Kubo A, Ishida T. Small cell lung
do pulmão alegadamente considerada como cancer associated with systemic sclerosis. Internal Medi-
cine 2005; 44:315-8.
uma doença pré-neoplásica. Para justificar
7. Bouros D, Hatzakis K, Labrakis H, Zeibecoglou K.
esta predisposição, há dados de várias fontes Association of malignancy with diseases causing intersti-
que sugerem a possibilidade da coexistência tial pulmonary changes. Chest 2002; 121:1278-89.
de uma resposta imunológica alterada, asso- 8. Zatuchni J, Campbell WN, Zarafonetis CJD. Pulmo-
ciada a alterações fibróticas no pulmão e a nary fibrosis and terminal bronchiolar (“alveolar-cell”.
danos genéticos que possam contribuir para carcinoma in scleroderma. Cancer 1953; 6:1147-58.
o desenvolvimento de neoplasias. 9. Bernatsky S, Ramsey-Goldman R, Clarke A. Malig-
nancy and autoimmunity. Curr Opin Rheumatol 2006;
Salientamos, a respeito deste caso clínico, a
18(2):129-34.
importância da vigilância pulmonar cuida- 10. Abu-Shakra M, Guillemin F, Lee P. Cancer in sys-
dosa em doentes com esclerodermia, quer temic sclerosis. Arthritis Rheum 1993; 36:460-4.
pelo impacto funcional resultante da fibrose 11. Rosenthal AK, McLaughlin JK, Linet MS, Persson I.
quer pelo risco acrescido de neoplasia. Scleroderma and malignancy: an epidemiological study.
Ann Rheum Dis 1993; 52:531-3.
12. Rosenthal A K, McLaughlin J K, Gridley G, Nyrén
O. Incidence of cancer among patients with systemic
Bibliografia
sclerosis. Cancer 1995; 76:910-4.
1. Chifflot H, Fautrel B, Sordet C, Chatelus E, Sibilia J.
13. Winkelmann RK, Flach DB, Unni KK. Lung cancer
Incidence and prevalence of systemic sclerosis: a system-
and scleroderma. Arch Dermatol Res 1988; 280 (Sup-
atic literature review. Semin Arthritis Rheum 2008;
pl): S15-18.
37(4): 223-35.

R e v i s t a P o r t u g u e s a d e P n e u m o l o g i a 99
Vol XV N.º 1 Janeiro/Fevereiro 2009

Pneumologia 15-1 - Miolo - 4ª PROVA.indd 99 06-01-2009 15:20:06

Você também pode gostar