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PODER JUDICIÁRIO

Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão SÃO BENTO - MA

Comarca de São Bento

Autos Processuais: 484-44.2010.8.10.0120


Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL
Réu: MUNICÍPIO DE SÃO BENTO – MARANHÃO
AÇÃO CIVIL PÚBLICA

AUTO CIRCUNSTANCIADO DE VISTORIA

FINALIDADE

Averiguar as condições de instalação e higiene do Matadouro Público Municipal da cidade de


São Bento, em especial os efeitos das ações descritas na peça contestatória apresentada pelo
município requerido às fls. 64/65 dos autos.

PROCEDIMENTOS ADOTADOS

O Matadouro Público Municipal apresenta-se como um complexo de dois prédios ladeados,


um destinado ao abate de suínos e o segundo ao abate de bovinos.

Durante cinco dias, em companhia do também Oficial de Justiça desta Comarca, Sr. SEBASTIÃO
FARIAS, foram depreendidas 6 diligências, com entrevistas, vistoria in loco e registro
fotográfico das dependências dos abatedouros de suínos e bovinos situados na área posterior
da feira municipal desta cidade, nos limites do bairro Monte Sinai.

Nas entrevistas foram ouvidos funcionários dos abatedouros, moradores das cercanias e ainda
funcionários de frigoríficos desta cidade sobre as condições de abate dos animais.

As vistorias in loco foram executadas da seguinte forma:


• Dia 14/04/2011, 07:30h – visita ao abatedouro de suínos;
• Dia 15/04/2011, 06:00h – visita ao abatedouro de suínos e bovinos;
• Dia 16/04/2011, 15:30h – visita à área externa do matadouro;
• Dia 18/04/2011, 03:00h – visita ao abatedouro de bovinos.

Com o intuito de facilitar a compreensão deste trabalho, seu desenvolvimento parte da


confrontação dos tópicos apresentados pela inspeção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e destacados pelo Ministério Público Estadual às
fls. 03/04 dos autos, contrapondo a situação descrita à época com a encontrada na presente
vistoria.

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IRREGULARIDADES APONTADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL

1 DA ESTRUTURA INTERNA

"(...)A estrutura interna do matadouro não possui condições físicas e sanitárias suficientes para
o abate de animais de forma segura e higiênica;"

1.1.1 Do abatedouro de suínos

Foi verificado que o local de abate de suínos encontra-se instalado em construção com
paredes de alvenaria e madeira, coberta com telhas cerâmicas. Atualmente o local não oferece
mínimas condições para o abate e tampouco para o labor dos trabalhadores, pois apresenta
dentre outras falhas estruturais:

1.1.2 Iluminação
Lâmpadas incandescentes e em quantidade insuficiente não fornecem a luminosidade
adequada para a segurança dos trabalhadores, já que os abates têm início durante a
madrugada;

1.1.3 Telhado
O telhado encontra-se repleto de marimbondos e sujeira, além de que diversas telhas
quebradas fazem a água da chuva cair diretamente nos locais de limpeza da carne e
dos trabalhadores. Estes expostos a uma situação constante de choque térmico, já que
utilizam tachos de água fervente para a remoção dos pelos dos animais ao mesmo
tempo em que são encharcados pela água da chuva que escorre do telhado;

1.1.4 Área de corte da carne


Os suínos são retalhados em uma estrutura de cimento elevada do solo em cerca de
60cm, não apresentando qualquer tipo de impermeabilização - o que dificulta a
limpeza e certamente contribui para a proliferação de bactérias;

1.1.5 Madeiramento da estrutura


As madeiras utilizadas na construção das paredes externas e divisórias do prédio
apresentam vestígios de matéria orgânica animal, proveniente de restos que são
comumente ali dependurados para secagem;

1.1.6 Água
Não existe área para limpeza dos trabalhadores e instrumentos utilizados no abate,
sendo utilizada a mesma água para lavagem das carnes, armazenada em tanque de
cimento com revestimento de azulejos.

1.1.7 Piso
O piso de cimento não tem revestimento ou impermeabilização, o sangue se infiltra
entre as diversas fissuras existentes impedindo uma limpeza eficiente;

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1.1.8 Fundações
Os alicerces da construção foram edificados muito próximos ao nível do solo, o que em
dias de chuva favorece a entrada de água que escorre da rua e da área inundada logo
em frente ao prédio. Foi noticiado pelos trabalhadores que diversas tentativas de
desviar o curso da enxurrada não surtiram efeito em razão do piso baixo da edificação.

1.2 Do abatedouro de bovinos

O local destinado ao abate de bovinos encontra-se em situação ainda mais precária, com a
ausência total de quaisquer mecanismos para garantir a higiene do prédio, destacando-se as
principais falhas estruturais:

1.2.1 Iluminação
Foram encontradas lâmpadas incandescentes e uma lâmpada fluorescente instaladas
no local, mas que não amenizam o aspecto lúgubre do lugar, sendo que a lâmpada
fluorescente não é eletrônica, o que causa constantes falhas no funcionamento;

1.2.2 Telhado
O telhado do prédio necessita de limpeza, pois se encontra impregnado de sujeira,
bem como tomado por ninhos de aves cujos dejetos inevitavelmente são depositados
no piso do prédio;

1.2.3 Área de corte da carne


Não existe local apropriado para o corte, os animais são mortos, têm retirado o couro
e são cortados diretamente no chão de cimento;

1.2.4 Água
Do mesmo modo que no abatedouro suíno, no prédio destinado aos bovinos a água é
utilizada para limpeza dos trabalhadores e instrumentos, mas ao contrário daquele é
acondicionada em tanques de cimento sem qualquer tipo de revestimento,
favorecendo o acumulo de impurezas e consequentemente possível contaminação por
fungos e bactérias;

1.2.5 Piso
O piso de cimento apresenta-se gravemente deteriorado com rachaduras em toda a
sua extensão, possibilitando o acumulo de sangue, que forma poças juntamente com a
água utilizada para lavagem da carne. Os animais são cortados diretamente nesse piso
e sujeitos a todo tipo de contaminação, e o ambiente exala forte cheiro de putrefação
devido aos resíduos acumulados no piso e paredes;

1.2.6 Área de matança


O local de matança e sangria dos animais encontra-se no mesmo prédio, sem qualquer
divisória da área destinada para o corte. Após sofrer o golpe fatal em sua jugular o
animal é simplesmente arrastado por cerca de 3 metros para ter sua carne cortada.

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2 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PARA O ABATE

"(...)Os equipamentos de abate são rudimentares, carecendo de serem substituídos por outros
mais modernos e higiênicos;"

Em ambos os prédios foram encontrados apenas instrumentos manuais para abate e


separação da carne, como facões, facas e machados e nenhum cuidado com a assepsia destes
foi observado. No abatedouro bovino foi encontrada uma balança bastante deteriorada e com
a base de pesagem em madeira.

3 EFLUENTES SANITÁRIOS

“(...) Os efluentes sanitários provenientes do abate dos animais são lançados a céu-aberto, sem
qualquer tipo de tratamento, provocando proliferação de vetores nocivos à saúde humana,
tendo em vista que o mesmo encontra-se em área urbana da cidade;”

As condições descritas na inicial não sofreram alterações.

Nenhuma medida visível foi adotada para solucionar ou amenizar as condições em que são
descartados os resíduos provenientes do abate nos dois prédios, permanecendo o lançamento
a céu-aberto na área inundável que circunda o matadouro.

4 ODORES PROVENIENTES DA ATIVIDADE DE ABATE

“(...)Há presença de odores fortes e característicos das atividades de abate, que se propagam
em direção das moradias adjacentes;”

Em razão da existência de resíduos nas dependências e arredores do matadouro, os odores


descritos no relatório do IBAMA ainda se fazem presentes. Existem relatos de moradores do
bairro Monte Sinai de que o mau cheiro em certos dias chega a alcançar toda a parte inicial
daquele bairro.

5 HIGIENIZAÇÃO DA ÁGUA

“(...)Não existe padrão normal de higienização da água utilizada para o abate dos animais,
estando a mesma provavelmente contaminada pela falta de manutenção dos tanques de
armazenamento;”

Na área de suínos o tanque é lavado e sua água é trocada a cada três dias, de acordo com o
responsável pela limpeza do local, mas em razão da natureza do material empregado em sua
construção não é possível assegurar a eficiência de tal medida. Com efeito, o revestimento de
azulejos, apesar de facilitar a limpeza, não garante a perfeita higienização, principalmente em
seus rejuntes.

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No prédio destinado aos bovinos a situação é agravada em razão dos tanques não
apresentarem qualquer tipo de revestimento, sendo visível a impregnação de limo e o
escurecimento de suas paredes.

6 SISTEMA DE DRENAGEM DOS EFLUENTES

“(...) O sistema de drenagem para o escoamento dos efluentes produzidos pela ação do abate é
composto de uma caneleta aberta que da vazão aos efluentes que é lançado diretamente no
campo inundável em redor do matadouro;”

Também não houve alteração nas condições em que é feita a drenagem dos efluentes do
abate, permanecendo o lançamento dos dejetos diretamente nos campos inundáveis por
detrás da área do matadouro e infiltrando-se durante as chuvas nos currais da área destinada
aos bovinos.

7 PRESENÇA DE LIXO SÓLIDO NAS PROXIMIDADES

“(...) Há presença de lixo sólido nas proximidades do matadouro, provenientes do mercado de


peixes que está no limite do matadouro;”

Permanece a presença de lixo sólido nas proximidades do matadouro, mas ao contrário do que
diz o relatório do IBAMA, esse lixo não é proveniente apenas do mercado de peixes. Foi
encontrada grande quantidade de lixo doméstico, depositado por moradores das casas
vizinhas e até mesmo de áreas mais afastadas da cidade que para ali acorrem a fim de efetuar
o descarte de seu lixo residencial.

Trabalhadores do matadouro declararam terem sido molestados por alguns desses moradores
quando pediram que não depositassem seu lixo no local, os quais em tom de ameaça
refutaram todos os pedidos para que se abstivessem de tal prática.

Não foi informada nenhuma atitude do poder público municipal no sentido de coibir essas
ações promovidas por particulares.

8 RESTOS DE ANIMAIS ABATIDOS

“(...) Há presença de restos de animais (chifres) jogados nas proximidades do campo e


matadouro;”

Foi constatada a presença de restos de animais, além de chifres, fêmures e outras partes de
carcaça na área do campo, na lagoa de detritos entre a Feira Municipal e os prédios do
Matadouro Público e na rua que dá acesso ao bairro Monte Sinai.

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Esses restos deveriam ser recolhidos pela limpeza pública, mas esta é realizada em períodos
irregulares a cada dois ou três dias, o que favorece a ação de animais que arrastam as partes
descartadas pelas cercanias do matadouro.

Foi declarado pelos trabalhadores que um senhor conhecido pela alcunha de “ORELHA” seria
anteriormente responsável pela limpeza externa, e que agrupava de forma mais eficiente as
sobras do abate para a coleta de lixo, mas que este teria sido afastado de suas atividades a
pedido do Sr. “AMBROSIO”, responsável pela manutenção da Feira Municipal e Matadouro
Público e até a presente data não foi alocado substituto para suas funções.

9 PRESENÇA DE ANIMAIS NAS PROXIMIDADES

“(...) Há presença constante de roedores, aves (urubus e suínos em volta do matadouro,


atraídos pelos odores fortes de restos de animais presentes na área externa”

Ainda persiste a situação apontada pelo IBAMA, e verifica-se que os prédios destinados para
abate têm a estrutura com grandes aberturas para ventilação, o que favorece a entrada de
roedores em suas dependências.

Foram avistados diversos urubus pousados nos telhados, nos currais e ainda remexendo o lixo
das proximidades, juntamente com outros animais como cães, suínos e galinhas.

Durante a vistoria realizada no dia 16/04/2011, enquanto permanecíamos no prédio para


abate de suínos por conta de uma forte chuva foram avistados cães invadindo o segundo
prédio e de lá saindo com pedaços de carcaça, arrastando-os para longe, aproveitando-se dos
momentos de desatenção dos trabalhadores absortos em suas tarefas. Em razão da distância
não foi possível o registro fotográfico das cenas.

REGISTRO FOTOGRÁFICO DA VISTORIA

Foram registradas 65 imagens nos quatro dias de vistoria, sendo 37 referentes ao abatedouro
bovino e 28 ao suíno, gravadas em disco para juntada aos autos, das quais destacamos as
exibidas a seguir com a pertinente legenda e observações:

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ABATEDOURO DE SUÍNOS

Figura 1 Entrada do abatedouro de suínos

Verifica-se a estrutura de madeira com meia-parede em alvenaria. O madeiramento encontra-


se deteriorado e sujo. Pode-se observar ao fundo a lagoa de detritos tomada por urubus e
mais adiante o prédio de abate dos bovinos.

Figura 2 Estrutura de cimento para corte dos suínos

Foi observada a ausência de revestimento ou impermeabilização, favorecendo a proliferação


de bactérias.

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Figura 3 Tanque de armazenamento de água (abatedouro de suínos)

O armazenamento de água da área de suínos é feito em tanque de cimento com revestimento


de azulejos.

Figura 4 Área de cozimento das vísceras e banha

Nota-se o resultado da infiltração nos telhados pela grande quantidade de água espalhada no
piso do prédio e ainda a presença de água de enxurrada que por vezes invade o local.

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Figura 5 Diversas telhas quebradas no abatedouro de suínos

Enormes áreas quebradas no telhado fazem com que a água da chuva escorra diretamente
sobre os funcionários que trabalham na pelagem dos suínos.

Figura 6 Trabalhador sob a área danificada do telhado

A foto acima exibe a caldeira para pelagem dos suínos localizada logo abaixo de uma das áreas
danificadas do telhado, expondo o trabalhador ao contato da água fervente da caldeira e à
água da chuva durante a madrugada.

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Figura 7 Fervura de vísceras e banha suína

A fervura das vísceras é realizada em toneis escurecidos pela fuligem e a banha utiliza latas nas
mesmas condições. Não foram encontrados utensílios inoxidáveis, as vísceras são mexidas ao
fogo com o auxílio de pedaços de galhos de árvores.

Figura 8 Área onde são mantidos os animais para abate

A área onde permanecem os animais situa-se no mesmo prédio destinado ao corte, percebe-se
na imagem a presença de fezes e urina no piso. Este local é separado por estrutura de madeira
vazada, similar à utilizada na área externa. Tal estrutura não impede a entrada de pequenos
roedores.

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Figura 9 Pedaços de tecido animal pendurados na estrutura de madeira

Sebo e outras partes dos suínos abatidos são pendurados para secagem na estrutura externa
da construção, favorecendo a atração de roedores para as instalações.

Figura 10 Lixo doméstico acumulado às portas do abatedouro de suínos

Acumula-se grande quantidade de lixo doméstico nas proximidades do abatedouro. Os


trabalhadores do local relataram ameaças recebidas de moradores quando tentaram adverti-
los para que não depositassem lixo no local. Apesar de efetuar a limpeza periódica, não foi
informada nenhuma ação do poder público municipal para tentar coibir a prática de se
dispensar lixo residencial na área dos abatedouros.

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Figura 11 Ganchos utilizados para dependurar a carne

Os suínos são dependurados em ganchos de ferro, de forma um tanto improvisada, ao lado de


caixas plásticas utilizadas para transporte em carros de mão.

Figura 12 Lagoa de detritos

Lago de detritos separa os dois prédios, verifica-se a presença de caixas de papelão e diversos
urubus no local.

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ABATEDOURO DE BOVINOS

Figura 13 Abatedouro de bovinos

A imagem acima mostra a porta de entrada dos animais (A) e a entrada de funcionários (B). O
prédio também apresenta infiltrações no telhado, iluminação insuficiente e um piso já
bastante deteriorado. Funcionários declararam que o piso foi reformado nos últimos dois
anos, mas pelo que foi visto não foi suficiente para adequá-lo às normas mínimas de higiene.

Figura 14 Imagem interna mostrando a porta de entrada dos animais

Como dito anteriormente, e pode ser observado nas imagens a seguir, a iluminação do local é
precária. Na imagem acima é possível ver restos (couro, sangue) espalhados no chão onde foi
cortado o gado, ao fundo a porta de entrada do animal e escondido nas sombras encontra-se o
cercado onde o animal é finalmente morto.

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Figura 15 Visão interna, animal sendo puxado para ser abatido

Figura 16 Visão externa, animal sendo puxado para o abate

Observa-se que os animais não são lavados antes de adentrarem no abatedouro, carregando
em seu corpo a lama e os dejetos do próprio estabelecimento que escorrem em canaleta
localizada atrás dos currais.

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Figura 17 Dois animais abatidos.

A
C

Figura 18 Visão posterior do abatedouro bovino

A figura 18 mostra a canaleta (D) que passa por trás do prédio do abatedouro de bovinos (A),
curral de animais para abate (B) e um segundo curral (C). A canaleta despeja os dejetos
diretamente nos campos inundáveis das imediações.

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Figura 19 Trabalhadores descalços e sem luvas fazendo o corte da carne

Verificamos as precárias condições de higiene durante o corte, com destaque para o sangue no
piso acumulado de abates anteriores, uma potencial fonte de contaminação.

Os trabalhadores exercem seu labor sem a proteção de botas ou luvas, manuseando


diretamente o couro ainda impregnado de impurezas do curral e a carne a ser cortada para
distribuição aos frigoríficos locais.

Figura 20 Carne pendurada aguardando transporte

As paredes de todo o estabelecimento encontram-se sujas de sangue e outras impurezas. As


carnes são dependuradas em ganchos de ferro.

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Figura 21 No destaque, ninho de pássaro

O telhado do prédios é uma outra fonte de impurezas, com o acúmulo de sujeira em seu
madeiramento e telhas. Verificou-se ainda a existência de ninho de pássaros na parte interna
do prédio, possibilitando a contaminação da carne por fezes de aves.

Figura 22 Urubus, galinhas e cães revirando a lagoa de detritos

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Figura 23 Tanque para armazenagem da água, abatedouro bovino

Figura 24 Restos do abate de bovinos depositados no piso do abatedouro

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi noticiado durante as visitas que os dois prédios são lavados diariamente, mas pelas
características dos materiais utilizados na construção a limpeza não pode ser considerada
eficiente, em vista da facilidade de absorção de impurezas inerentes à madeira e ao cimento.

A limpeza do material descartado é irregular, nas entrevistas foi declarado que a coleta pública
se dava com o espaço de dois a três dias.

Lixo doméstico e resíduos sólidos se acumulam em uma área permanentemente alagada,


atraindo roedores e aves, dentre outros animais.

A presença de animais nos arredores é um fator de risco, já que não existem barreiras para
impedir seu acesso aos estabelecimentos. Conforme pode ser verificado em relação aos cães
que permaneciam à espreita de um descuido dos trabalhadores para adentrar o abatedouro
de bovinos e de lá subtraírem pedaços de carcaça, prática que pareceu ser contumaz face o
comportamento dos animais avistados.

As condições de trabalho são inadequadas, com os funcionários exercendo suas funções sem
qualquer equipamento de proteção, como luvas ou botas, e em contato direto com os animais
desde o curral até o abate propriamente dito, favorecendo sua própria contaminação e a dos
consumidores.

CONCLUSÃO

Após a minuciosa e demorada vistoria, em que pese os esforços da administração pública


municipal para manter condições mínimas de funcionamento com a lavagem diária dos
estabelecimentos destinados ao abate dos animais, chegamos às seguintes conclusões:

I) As condições descritas pelo Ministério Público na inicial permanecem inalteradas;


II) As instalações não observam o exigido pelo Art. 33 do Decreto no 30.691/52;
III) Os trabalhadores são expostos a condições degradantes de trabalho;
IV) Existe alarmante perigo de contaminação para a comunidade.

Nada mais havendo, encerro o presente para conclusão ao MM. Juiz de Direito.

São Bento/MA, 18 de abril de 2011.

MANOEL DA TRINDADE LUSO JUNIOR


Oficial de Justiça
Mat.: 120246

SEBASTIÃO FARIAS
Oficial de Justiça
Mat.: 8581

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