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FINALIDADE
PROCEDIMENTOS ADOTADOS
Durante cinco dias, em companhia do também Oficial de Justiça desta Comarca, Sr. SEBASTIÃO
FARIAS, foram depreendidas 6 diligências, com entrevistas, vistoria in loco e registro
fotográfico das dependências dos abatedouros de suínos e bovinos situados na área posterior
da feira municipal desta cidade, nos limites do bairro Monte Sinai.
Nas entrevistas foram ouvidos funcionários dos abatedouros, moradores das cercanias e ainda
funcionários de frigoríficos desta cidade sobre as condições de abate dos animais.
1 DA ESTRUTURA INTERNA
"(...)A estrutura interna do matadouro não possui condições físicas e sanitárias suficientes para
o abate de animais de forma segura e higiênica;"
Foi verificado que o local de abate de suínos encontra-se instalado em construção com
paredes de alvenaria e madeira, coberta com telhas cerâmicas. Atualmente o local não oferece
mínimas condições para o abate e tampouco para o labor dos trabalhadores, pois apresenta
dentre outras falhas estruturais:
1.1.2 Iluminação
Lâmpadas incandescentes e em quantidade insuficiente não fornecem a luminosidade
adequada para a segurança dos trabalhadores, já que os abates têm início durante a
madrugada;
1.1.3 Telhado
O telhado encontra-se repleto de marimbondos e sujeira, além de que diversas telhas
quebradas fazem a água da chuva cair diretamente nos locais de limpeza da carne e
dos trabalhadores. Estes expostos a uma situação constante de choque térmico, já que
utilizam tachos de água fervente para a remoção dos pelos dos animais ao mesmo
tempo em que são encharcados pela água da chuva que escorre do telhado;
1.1.6 Água
Não existe área para limpeza dos trabalhadores e instrumentos utilizados no abate,
sendo utilizada a mesma água para lavagem das carnes, armazenada em tanque de
cimento com revestimento de azulejos.
1.1.7 Piso
O piso de cimento não tem revestimento ou impermeabilização, o sangue se infiltra
entre as diversas fissuras existentes impedindo uma limpeza eficiente;
1.1.8 Fundações
Os alicerces da construção foram edificados muito próximos ao nível do solo, o que em
dias de chuva favorece a entrada de água que escorre da rua e da área inundada logo
em frente ao prédio. Foi noticiado pelos trabalhadores que diversas tentativas de
desviar o curso da enxurrada não surtiram efeito em razão do piso baixo da edificação.
O local destinado ao abate de bovinos encontra-se em situação ainda mais precária, com a
ausência total de quaisquer mecanismos para garantir a higiene do prédio, destacando-se as
principais falhas estruturais:
1.2.1 Iluminação
Foram encontradas lâmpadas incandescentes e uma lâmpada fluorescente instaladas
no local, mas que não amenizam o aspecto lúgubre do lugar, sendo que a lâmpada
fluorescente não é eletrônica, o que causa constantes falhas no funcionamento;
1.2.2 Telhado
O telhado do prédio necessita de limpeza, pois se encontra impregnado de sujeira,
bem como tomado por ninhos de aves cujos dejetos inevitavelmente são depositados
no piso do prédio;
1.2.4 Água
Do mesmo modo que no abatedouro suíno, no prédio destinado aos bovinos a água é
utilizada para limpeza dos trabalhadores e instrumentos, mas ao contrário daquele é
acondicionada em tanques de cimento sem qualquer tipo de revestimento,
favorecendo o acumulo de impurezas e consequentemente possível contaminação por
fungos e bactérias;
1.2.5 Piso
O piso de cimento apresenta-se gravemente deteriorado com rachaduras em toda a
sua extensão, possibilitando o acumulo de sangue, que forma poças juntamente com a
água utilizada para lavagem da carne. Os animais são cortados diretamente nesse piso
e sujeitos a todo tipo de contaminação, e o ambiente exala forte cheiro de putrefação
devido aos resíduos acumulados no piso e paredes;
"(...)Os equipamentos de abate são rudimentares, carecendo de serem substituídos por outros
mais modernos e higiênicos;"
3 EFLUENTES SANITÁRIOS
“(...) Os efluentes sanitários provenientes do abate dos animais são lançados a céu-aberto, sem
qualquer tipo de tratamento, provocando proliferação de vetores nocivos à saúde humana,
tendo em vista que o mesmo encontra-se em área urbana da cidade;”
Nenhuma medida visível foi adotada para solucionar ou amenizar as condições em que são
descartados os resíduos provenientes do abate nos dois prédios, permanecendo o lançamento
a céu-aberto na área inundável que circunda o matadouro.
“(...)Há presença de odores fortes e característicos das atividades de abate, que se propagam
em direção das moradias adjacentes;”
5 HIGIENIZAÇÃO DA ÁGUA
“(...)Não existe padrão normal de higienização da água utilizada para o abate dos animais,
estando a mesma provavelmente contaminada pela falta de manutenção dos tanques de
armazenamento;”
Na área de suínos o tanque é lavado e sua água é trocada a cada três dias, de acordo com o
responsável pela limpeza do local, mas em razão da natureza do material empregado em sua
construção não é possível assegurar a eficiência de tal medida. Com efeito, o revestimento de
azulejos, apesar de facilitar a limpeza, não garante a perfeita higienização, principalmente em
seus rejuntes.
No prédio destinado aos bovinos a situação é agravada em razão dos tanques não
apresentarem qualquer tipo de revestimento, sendo visível a impregnação de limo e o
escurecimento de suas paredes.
“(...) O sistema de drenagem para o escoamento dos efluentes produzidos pela ação do abate é
composto de uma caneleta aberta que da vazão aos efluentes que é lançado diretamente no
campo inundável em redor do matadouro;”
Também não houve alteração nas condições em que é feita a drenagem dos efluentes do
abate, permanecendo o lançamento dos dejetos diretamente nos campos inundáveis por
detrás da área do matadouro e infiltrando-se durante as chuvas nos currais da área destinada
aos bovinos.
Permanece a presença de lixo sólido nas proximidades do matadouro, mas ao contrário do que
diz o relatório do IBAMA, esse lixo não é proveniente apenas do mercado de peixes. Foi
encontrada grande quantidade de lixo doméstico, depositado por moradores das casas
vizinhas e até mesmo de áreas mais afastadas da cidade que para ali acorrem a fim de efetuar
o descarte de seu lixo residencial.
Trabalhadores do matadouro declararam terem sido molestados por alguns desses moradores
quando pediram que não depositassem seu lixo no local, os quais em tom de ameaça
refutaram todos os pedidos para que se abstivessem de tal prática.
Não foi informada nenhuma atitude do poder público municipal no sentido de coibir essas
ações promovidas por particulares.
Foi constatada a presença de restos de animais, além de chifres, fêmures e outras partes de
carcaça na área do campo, na lagoa de detritos entre a Feira Municipal e os prédios do
Matadouro Público e na rua que dá acesso ao bairro Monte Sinai.
Esses restos deveriam ser recolhidos pela limpeza pública, mas esta é realizada em períodos
irregulares a cada dois ou três dias, o que favorece a ação de animais que arrastam as partes
descartadas pelas cercanias do matadouro.
Foi declarado pelos trabalhadores que um senhor conhecido pela alcunha de “ORELHA” seria
anteriormente responsável pela limpeza externa, e que agrupava de forma mais eficiente as
sobras do abate para a coleta de lixo, mas que este teria sido afastado de suas atividades a
pedido do Sr. “AMBROSIO”, responsável pela manutenção da Feira Municipal e Matadouro
Público e até a presente data não foi alocado substituto para suas funções.
Ainda persiste a situação apontada pelo IBAMA, e verifica-se que os prédios destinados para
abate têm a estrutura com grandes aberturas para ventilação, o que favorece a entrada de
roedores em suas dependências.
Foram avistados diversos urubus pousados nos telhados, nos currais e ainda remexendo o lixo
das proximidades, juntamente com outros animais como cães, suínos e galinhas.
Foram registradas 65 imagens nos quatro dias de vistoria, sendo 37 referentes ao abatedouro
bovino e 28 ao suíno, gravadas em disco para juntada aos autos, das quais destacamos as
exibidas a seguir com a pertinente legenda e observações:
ABATEDOURO DE SUÍNOS
Nota-se o resultado da infiltração nos telhados pela grande quantidade de água espalhada no
piso do prédio e ainda a presença de água de enxurrada que por vezes invade o local.
Enormes áreas quebradas no telhado fazem com que a água da chuva escorra diretamente
sobre os funcionários que trabalham na pelagem dos suínos.
A foto acima exibe a caldeira para pelagem dos suínos localizada logo abaixo de uma das áreas
danificadas do telhado, expondo o trabalhador ao contato da água fervente da caldeira e à
água da chuva durante a madrugada.
A fervura das vísceras é realizada em toneis escurecidos pela fuligem e a banha utiliza latas nas
mesmas condições. Não foram encontrados utensílios inoxidáveis, as vísceras são mexidas ao
fogo com o auxílio de pedaços de galhos de árvores.
A área onde permanecem os animais situa-se no mesmo prédio destinado ao corte, percebe-se
na imagem a presença de fezes e urina no piso. Este local é separado por estrutura de madeira
vazada, similar à utilizada na área externa. Tal estrutura não impede a entrada de pequenos
roedores.
Sebo e outras partes dos suínos abatidos são pendurados para secagem na estrutura externa
da construção, favorecendo a atração de roedores para as instalações.
Lago de detritos separa os dois prédios, verifica-se a presença de caixas de papelão e diversos
urubus no local.
ABATEDOURO DE BOVINOS
A imagem acima mostra a porta de entrada dos animais (A) e a entrada de funcionários (B). O
prédio também apresenta infiltrações no telhado, iluminação insuficiente e um piso já
bastante deteriorado. Funcionários declararam que o piso foi reformado nos últimos dois
anos, mas pelo que foi visto não foi suficiente para adequá-lo às normas mínimas de higiene.
Como dito anteriormente, e pode ser observado nas imagens a seguir, a iluminação do local é
precária. Na imagem acima é possível ver restos (couro, sangue) espalhados no chão onde foi
cortado o gado, ao fundo a porta de entrada do animal e escondido nas sombras encontra-se o
cercado onde o animal é finalmente morto.
Observa-se que os animais não são lavados antes de adentrarem no abatedouro, carregando
em seu corpo a lama e os dejetos do próprio estabelecimento que escorrem em canaleta
localizada atrás dos currais.
A
C
A figura 18 mostra a canaleta (D) que passa por trás do prédio do abatedouro de bovinos (A),
curral de animais para abate (B) e um segundo curral (C). A canaleta despeja os dejetos
diretamente nos campos inundáveis das imediações.
Verificamos as precárias condições de higiene durante o corte, com destaque para o sangue no
piso acumulado de abates anteriores, uma potencial fonte de contaminação.
O telhado do prédios é uma outra fonte de impurezas, com o acúmulo de sujeira em seu
madeiramento e telhas. Verificou-se ainda a existência de ninho de pássaros na parte interna
do prédio, possibilitando a contaminação da carne por fezes de aves.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi noticiado durante as visitas que os dois prédios são lavados diariamente, mas pelas
características dos materiais utilizados na construção a limpeza não pode ser considerada
eficiente, em vista da facilidade de absorção de impurezas inerentes à madeira e ao cimento.
A limpeza do material descartado é irregular, nas entrevistas foi declarado que a coleta pública
se dava com o espaço de dois a três dias.
A presença de animais nos arredores é um fator de risco, já que não existem barreiras para
impedir seu acesso aos estabelecimentos. Conforme pode ser verificado em relação aos cães
que permaneciam à espreita de um descuido dos trabalhadores para adentrar o abatedouro
de bovinos e de lá subtraírem pedaços de carcaça, prática que pareceu ser contumaz face o
comportamento dos animais avistados.
As condições de trabalho são inadequadas, com os funcionários exercendo suas funções sem
qualquer equipamento de proteção, como luvas ou botas, e em contato direto com os animais
desde o curral até o abate propriamente dito, favorecendo sua própria contaminação e a dos
consumidores.
CONCLUSÃO
Nada mais havendo, encerro o presente para conclusão ao MM. Juiz de Direito.
SEBASTIÃO FARIAS
Oficial de Justiça
Mat.: 8581