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RODOVIAS&VIAS 1

2 RODOVIAS&VIAS
RODOVIAS&VIAS 3
editorial Ano 12 - Edição 53 - Maio/2011
Distribuição dirigida e a assinantes
Uma publicação da Rodovias Editora e Publicações Ltda.
CNPJ/MF.: 03.228.569/0001-05
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Impressão - Gráfica Capital
Tiragem - 30 mil exemplares
A tiragem desta edição de 30 mil exemplares
é comprovada pela BDO Auditores Independentes.
Diretoria-Geral
Dagoberto Rupp
dagoberto@rodoviasevias.com.br

EDITOR-CHEFE
Davi Etelvino (SC 02288 JP)
davi@rodoviasevias.com.br

RELAÇões de mercado financeiro


João Rodrigo Bilhan Jaqueline Karatchuk
rodrigo@rodoviasevias.com.br jaqueline@rodoviasevias.com.br
ADMINISTRATIVo

O TEMPO PASSA, O TEMPO VOA... Paula Santos


paula@rodoviasevias.com.br
Mônica Cardoso
monica@rodoviasevias.com.br
comercial (DEC)

E
Paulo Roberto Luz João Augusto Marassi
nquanto deputados enrolam para votar no paulo@rodoviasevias.com.br joao@rodoviasevias.com.br
João Claudio Rupp Rodrigo M. Nardon
Código Florestal, ou negociam a dispen- joaoclaudio@rodoviasevias.com.br nardon@rodoviasevias.com.br

sa do ministro da Casa Civil para esclarecer fatos Dagoberto Rupp


conselho editorial
João Claudio Rupp
obscuros em troca do cancelamento da distribui- dagoberto@rodoviasevias.com.br joaoclaudio@rodoviasevias.com.br
João Rodrigo Bilhan João Augusto Marassi
ção do kit anti homofobia nas escolas, a infraes- rodrigo@rodoviasevias.com.br joao@rodoviasevias.com.br
trutura de transportes do Brasil vai ficando em Carlos Marassi
marassi@rodoviasevias.com.br
Fábio Eduardo C. de Abreu
fabio@rodoviasevias.com.br
segundo plano. No início do mês uma pesquisa Paulo Roberto Luz
paulo@rodoviasevias.com.br
Edemar Gregorio

realizada com mais de 1500 pessoas para o Índice edemar@rodoviasevias.com.br


auditoria e controller
de Segurança Unisys, um estudo semestral, reve- Marilene Velasco Paula Mayara
mara@rodoviasevias.com.br
lou que 77% dos entrevistados se sentem inse- Fernanda Prodossimo Da Luz
mayara@rodoviasevias.com.br

guros utilizando transporte público. Assaltos em fernanda@rodoviasevias.com.br


revisão
Projeto gráfico e ilustrações

ônibus, pontos, terminais e estações ferroviárias Karina Dias Occaso


studio@verttice3d.com
karina@rodoviasevias.com.br
faz com que os passageiros se sintam vulneráveis.
Central de Jornalismo
Falta de iluminação e tempo longo de espera, Carlos Marassi Leonilson Carvalho Gomes
além de insegurança, traz desconforto. A conse- marassi@rodoviasevias.com.br
Fernando Beker Ronque
leonilson@rodoviasevias.com.br
Estanis Neto
quência é óbvia, quem pode sai de carro. Se re- fernando@rodoviasevias.com.br
Davi Etelvino
estanis@rodoviasevias.com.br
Marcelo Ferrari
pararmos nos veículos que rodam pelas grandes davi@rodoviasevias.com.br ferrari@rodoviasevias.com.br

cidades, observamos que boa parte é ocupada Leandro Dvorak


leandro@rodoviasevias.com.br
Oberti Pimentel
oberti@rodoviasevias.com.br
apenas pelo motorista, quando vezes por mais Paulo Negreiros
negreiros@rodoviasevias.com.br
Uirá Lopes Fernandes
uira@rodoviasevias.com.br
uma pessoa. Leonardo Pepi Santos Dagoberto Rupp Filho
leo@rodoviasevias.com.br dagoberto.filho@rodoviasevias.com.br
Nesta edição trazemos para você algumas atendimento e assinaturas
alternativas para o transporte público do Brasil. Mari Iaciuk Raquel Coutinho Kaseker
mari@rodoviasevias.com.br raquel@rodoviasevias.com.br
Pegamos carona em alguns dos principais trens Webdesign
Colaboradores
urbanos em operação e conhecemos a fundo a Carlos Guimarães Filho Fernando Beker Ronque
logística dessas máquinas. Ouvimos os principais Sabrina Coelho
logística
fernando@rodoviasevias.com.br

especialistas do país e descobrimos que as linhas Juliano Grosco


juliano@rodoviasevias.com.br
estão se expandindo. Apesar de esparsos os in- Juvino Grosco Ricardo Adriano da Silva
vestimentos em transporte público estão aconte- jgrosco@rodoviasevias.com.br
Marcelo C. de Almeida
ricardo@rodoviasevias.com.br
Tiago Casagrande Ramos
cendo. Para que a cultura de transporte do brasi- marcelo@rodoviasevias.com.br tiago@rodoviasevias.com.br
Alexsandro Hekavei Aélcio Luiz de Oliveira Filho
leiro mude é necessário que o transporte mude, alex@rodoviasevias.com.br aelcio.filho@rodoviasevias.com.br

para melhor. Clau Chastalo


Bem-Estar
Maria Telma da C. Lima
Nossa busca é para que haja investimentos clau@rodoviasevias.com.br
Ana Cristina Karpovicz
telma@rodoviasevias.com.br
Paulo Fausto Rupp
maciços, não só em trens, mas em rodovias, em cris@rodoviasevias.com.br paulofausto@rodoviasevias.com.br

portos, em aeroportos, em ciclovias. Para que as Maria C. K. de Oliveira


maria@rodoviasevias.com.br
Janete Ramos da Silva
janete@rodoviasevias.com.br
empresas nacionais possam construir mais e con-
tratar mais. Para que os governos arrecadem e
que o ciclo do desenvolvimento transforme nossa
nação. O tempo está passando.
Central de Jornalismo
Artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da Revista, sendo de total responsabilidade do autor.
ÍNDICE

POLÍTICA 18

RODOVIAS 20
ESTRADAS DE TERRA

TRILHOS 24

capa 36

MOBILIDADE 48
CICLOVIAS
exclusiva 9
AVIAÇÃO 56

RODOVIAS 60
TAMOIOS

ABCP 64

AGNELO QUEIROZ
HIDROVIAS 66
64

concessões 68
EM TEMPO 14
TURISMO 72
na medida 83 roraima

infopágina 86 AMAZONAS 80
PONTE RIO NEGRO

imagem do mês 88

artigo 90

6 RODOVIAS&VIAS
nesta edição:

36 para não perder esse trem

20 72

estradas de terra

48

MOBILIDADE TURISMO

RODOVIAS&VIAS 7
8 RODOVIAS&VIAS
exclusiva

Fotos: Agência Brasília /Roberto Barroso

AGNELO QUEIROZ
Governador dO DISTRITO FEDERAL

C rítico ferrenho de seu antecessor, o Governador do Distrito Federal aposta suas fichas
no apoio do governo Dilma para captar recursos que permitam dar visibilidade a sua
gestão. Nascido em Itapetinga, interior da Bahia, mudou-se para Brasília no início dos anos 80
para cursar residência médica em cirurgia geral. Levantando as bandeiras da saúde pública e
do esporte, foi eleito Deputado Distrital em 1990. Depois disso e de três mandatos na Câmara
Federal (1994, 1998 e 2002), tornou-se Ministro dos Esportes do governo Lula em 2006. Após
uma série de escândalos envolvendo nomes históricos da política brasiliense, da qual Agnelo
dos Santos Queiroz Filho passou longe, foi eleito em primeiro turno para o governo do DF com
66% dos votos. Agora luta para melhorar a imagem de Brasília perante os brasileiros e, ao mes-
mo tempo, dotá-la de infraestrutura digna de uma capital nacional.

RODOVIAS&VIAS 9
exclusiva

Rodovias&Vias: Na prática, existem di- estado de emergência na saúde. A máqui-


ferenças entre governar o Distrito Federal na pública estava sucateada. Estamos agora
e governar um estado da federação? em um grande esforço para colocar ordem
Agnelo Queiroz: Governar a capital da na casa. No transporte, um importante pas-
República é uma missão muito importante, so dado foi que o governo do Distrito Fede-
porque aqui temos a obrigação de sermos ral assumiu a responsabilidade do Sistema
exemplo para o Brasil. A nossa educação, saú- de Bilhetagem, que até então era coorde-
de e segurança pública devem ser referência nado pelos próprios empresários do setor, o
nacional. Brasília, como capital, é uma vitrine que é um absurdo.
do país. Aqui, abrigamos as sedes de todas
as representações diplomáticas. É preciso Qual é a situação da infraestrutura para
resgatar o orgulho do Brasil pela sua capital, transporte do Distrito Federal? Em que
pela obra de Juscelino, Lúcio Costa, Oscar precisa de mais investimento?
Niemeyer e todos os que fizeram essa cidade Na Câmara Legislativa, o Plano Diretor
nascer e se consoli- de Transporte Urba-
dar como Patrimônio no (PDTU) foi apro-
Histórico e Cultural vado por unanimi-
da Humanidade. Ou- dade no dia 19 de
tra diferença é que “encontramos, ao assumir o abril e sancionado
encontramos, ao as- no dia 4 de maio.
sumir o governo do
governo do Distrito Federal, uma Esse foi um grande
Distrito Federal, uma situação de terra arrasada.” passo inicial, fun-
situação de terra ar- damental para inte-
rasada. E sem falar no grar o transporte da
caos administrativo cidade, aumentan-
que herdamos, con- do a qualidade de
sequência de anos de um grupo político na ci- vida da população e de quem transita pela
dade, além da baixa autoestima da população cidade.
depois dos escândalos decorrentes da crise
política. Como deve funcionar a Linha Verde,
com o sistema de preferência aos passa-
Um de seus antecessores esteve envol- geiros de ônibus?
vido em escândalos enquanto exercia o O Plano Diretor de Transporte Urbano
mandato, tanto que até perdeu o direito (PDTU) apresenta estudos técnicos para
de governar. Isso deixou sequelas para a identificar os problemas e propor soluções
atual administração? para o transporte público, não só do Distrito
Infelizmente, sim. Iniciamos a nossa ges- Federal, mas também do entorno. Ao per-
tão com uma cidade, que é a capital do país, mitir uma visão geral do sistema de trans-
abandonada. Além disso, foi verificado que porte no DF, ele direciona a adoção de pro-
havia vários contratos com irregularidades cessos mais racionais de deslocamento e de
e muitos problemas em áreas prioritárias. uso de tecnologias alternativas. Depois de
A saúde estava em colapso, assim como o colocado em funcionamento, a população
transporte, a segurança e a educação. E to- poderá contar com transporte integrado e
mamos, em todas essas áreas, ações enérgi- eficiente, interligado por diferentes modais
cas. Em primeiro lugar, realizamos a Opera- de transporte que ligarão diferentes pon-
ção Casa Arrumada, um mutirão para poda tos do DF e entorno. O PDTU prevê ainda a
de mato, limpeza das vias, pintura das faixas implantação de um corredor exclusivo para
e recolhimento de lixo e entulho. Também transporte coletivo na W3, licitação para re-
decretamos, logo no primeiro dia do ano, gulamentar o sistema com frota adequada,

10 RODOVIAS&VIAS
exclusiva

“anunciamos a liberação de
R$ 2 milhões do Ministério dos
Transportes para o transporte
de passageiros pela linha férrea
que une o Distrito Federal a
Goiás. Vamos lutar de forma
determinada pelo ramal
ferroviário de Brasília até
Goiânia porque o bem-estar do
nosso povo passa necessariamente
pela integração e desenvolvimento
de toda a região. “

conclusão da Linha Verde, sistema de inte- da, também anunciamos para a população
gração tarifária e operacional e início das a liberação de R$ 2 milhões do Ministério
obras da Linha Amarela, uma via por onde dos Transportes para o transporte de pas-
passará o Veículo Leve sobre Pneus (VLP), sageiros pela linha férrea que une o Distri-
que oferecerá um acesso mais rápido do to Federal a Goiás. Essa é a primeira medida
Gama e Santa Maria ao Plano Piloto. para melhorar o transporte na nossa região.
Vamos lutar de forma determinada pelo ra-
Como o senhor avalia o sistema de mal ferroviário de Brasília até Goiânia por-
transporte de passageiros entre a capital e que entendemos que o bem-estar do nosso
as cidades satélites? povo passa necessariamente pela integra-
O transporte público é fundamental para ção e desenvolvimento de toda a região. A
a mobilidade e para a qualidade de vida da malha viária existente sai da rodoferroviária
população. Encaminhamos este mês para o e passa pela Estrutural, Setor de Indústria e
Tribunal de Contas do Distrito Federal o edi- Abastecimento (SIA), EPTG (Estrada Parque
tal de licitação de 900 ônibus comuns e 300 Taguatinga-Guará), Park Way, EPNB (Estrada
articulados. Além dessa importante medi- Parque Núcleo Bandeirante), Metropolitana,

RODOVIAS&VIAS 11
exclusiva

BR-040 e as cidades goianas de Valparaíso, do de 2014 e como legado para a capital fe-
Jardim Ingá e Cidade Ocidental, até chegar a deral, a meta do governo do Distrito Federal
Luziânia. é modificar todo o sistema de transporte
público do DF em dois anos. Serão criados
O VLT chega a tempo para a Copa do corredores exclusivos para ônibus e o Veícu-
Mundo? lo Leve Sobre Pneus (VLP). Brasília também
Sim. Com a aprovação do Plano Diretor terá o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), que
de Transporte Urbano e Mobilidade (PDTU) ligará o aeroporto à Avenida W3. Após en-
na Câmara Legislativa, o governo do Distri- tendimento da Justiça de que o contrato
to Federal terá acesso aos R$ 2,4 bilhões do firmado pelo governo anterior era ilegal, de-
Programa de Aceleração do Crescimento terminamos que a decisão não fosse contes-
(PAC) da Mobilidade. O atual plano prevê in- tada e que uma nova licitação para as obras
tervenções viárias para os próximos 10 anos seja feita de forma rápida, transparente e
e irá modernizar o transporte no DF, já que o técnica. Apesar disso, o VLT ficará pronto a
último datava de 1975. Para a Copa do Mun- tempo da Copa do Mundo de 2014.

“O GOVERNO CONTA COM


A AMPLIAÇÃO DO AEROPOR-
TO E ESTÁ CONFIANTE QUE ELE
ESTARÁ PREPARADO PARA
RECEBER A COPA DE 2014”.

12 RODOVIAS&VIAS
exclusiva

“determinamos que a decisão


não fosse contestada e que
uma nova licitação para as
obras seja feita de forma
rápida, transparente e técnica.
Apesar disso, o VLT ficará
pronto a tempo da Copa do
Mundo de 2014”.

Falando em Copa do Mundo, que obras estão prontos. Isso significa que 15% de toda
têm a participação do governo do Distrito a obra está concluída. As obras do Estádio
Federal? Nacional de Brasília serão entregues em de-
Uma das vantagens da capital federal é zembro de 2012, a tempo de receber a Copa
que todas as obras que vão preparar a cidade das Confederações, em 2013, evento teste
para o Mundial são públicas, o que permite ao para a Copa do Mundo de 2014. O estádio
governo do Distrito Federal ter controle sobre terá capacidade para 70 mil pessoas, ade-
o cronograma. A reforma do Estádio Mané quado inclusive para a abertura da Copa do
Garrincha, que está em estágio avançado, se Mundo de 2014, à qual Brasília é candidata.
comparado aos estádios de outras cidades-se-
de, tem a participação do governo do Distrito O aeroporto de Brasília está entre os
Federal. mais saturados do Brasil. Privatizá-lo é a
melhor solução?
O obra no estádio está dentro do crono- Esta é uma decisão que não cabe ao go-
grama? verno do Distrito Federal. O governo conta
As obras do estádio estão dentro do cro- com a ampliação do aeroporto e está con-
nograma. Atualmente, 35% do volume de fiante que ele estará preparado para rece-
concretagem está concluído. Da parte de es- ber a Copa de 2014. Nós estamos acompa-
cavação, já estão finalizados 70%. Além dis- nhando e apoiando a Infraero e o Ministério
so, dos 288 pilares que serão instalados, 184 da Defesa nesse sentido.
estão sendo concretados; e dos 96 blocos, 87

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em tempo
Rodovias&Vias
em mãos
Entrevistado da Exclu-
siva de abril, o Governador
de Roraima, José Anchieta,
recebeu em mãos a edi-
ção que o trouxe na capa.
Mais uma entrevista que
Rodovias&Vias publicou
para enriquecer o debate
entre as diferentes necessi-
dades e realidades das regi-
ões brasileiras.

ABDER tem novo presidente


O engenheiro Carlos Pereira de Carvalho
e Silva, da Paraíba, é o novo Presidente
da Associação Brasileira de Diretores de
DERs. Em reunião de Assembleia Geral
Ordinária em Brasília, a ABDER elegeu o
Diretor Superintendente do DER na Paraíba
por aclamação, recebendo votação de
representantes dos 20 órgãos rodoviários
estaduais que compõem a associação.
Além do paraibano na presidência, a ABDER
terá como Diretores para os próximos dois
anos: Saulo Filinto de Pontes (BA), Teresa
Maria Casotti (ES), Fauzi Nacfur Júnior (DF) e
Amauri Medeiros Cavalcanti (PR).

Romário em Curitiba
O tetracampeão Romário, agora Deputado
Federal, esteve em Curitiba participando do
II Fórum Legislativo da Copa 2014. Junto com
outros parlamentares, conheceu a estrutura da
Arena da Baixada, do aeroporto Afonso Pena
e alertou para as exigências que a Fifa está
Foto: Rodovias&Vias/Alexsandro Hekavei

impondo às cidades que vão sediar jogos. Em


conversa com Rodovias&Vias, Romário disse
que as exigências são para abrilhantar o evento,
mas podem ser flexibilizadas. “Pelo jeito, a
Fifa manda e a gente faz. Temos vários outros
problemas em nosso país. Nós não vamos viver
só de Copa do Mundo”, alfinetou Romário.

14 RODOVIAS&VIAS
em TEMPO

Malásia pede apoio ao Brasil


O Diretor da Antaq Tiago Lima participou
da reunião entre os Ministros dos Transportes
da Malásia e do Brasil. Dato Seri Kong Cho Ha
veio pedir ao Ministro Alfredo Nascimento
para que o Brasil apoie a candidatura da
Malásia ao Conselho da Organização Marítima
Internacional (IMO). Tiago Lima, que é
representante brasileiro no IMO, aproveitou
a oportunidade para pedir pelo Brasil. “Essa
troca de experiências é fundamental para
que o Brasil continue crescendo nos acordos
comerciais marítimos”, afirma.

Taxi intermunicipal no MS
O Governador do Mato Grosso do Sul, André
Puccinelli, assinou decreto que regulamenta o
serviço de transporte rodoviário intermunicipal
de passageiros, via táxi, no Mato Grosso do Sul. O
decreto atende a uma demanda da categoria, que
exigia uma regulamentação legal para este tipo de
transporte. De acordo com Puccinelli, o transporte
do táxi é uma concessão municipal. “Quem faz a
regulação é o município. O táxi não pode andar fora
do perímetro urbano. Atendendo às exigências da
categoria, após reuniões, o governo começou a fazer
estudos para regularizar a questão do transporte
intermunicipal feito por táxis”, afirmou.

Ministro dos Portos em Paranaguá


Pela primeira vez, o Ministro dos Portos,
Leônidas Cristino, esteve no terminal de
Paranaguá, no Paraná. A visita ocorreu no
início de maio, e o Superintende dos Portos
do Paraná, Airton Vidal Maron, fez questão
de apresentar todas as instalações ao
Ministro após um sobrevoo de helicóptero
pelos portos de Antonina e Paranaguá. As
principais reivindicações que chegaram a
Foto: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi

Leônidas Cristino dizem respeito à logística


da soja, já que durante a safra são comuns as
filas quilométricas de caminhões carregados
com o produto na rodovia que dá acesso ao
porto, principal exportador de soja do país.

RODOVIAS&VIAS 15
em TEMPO

Xingó no PAC 2
O Governador de Sergipe, Marcelo Deda,

Foto: Rodovias&Vias/Leandro Dvorak


quer incluir as obras do Canal de Xingó no PAC
2 (Programa de Aceleração do Crescimento), do
governo federal. O tema esteve na pauta da audiência
entre o Ministro da Integração Nacional, Fernando
Bezerra, e o Governador, em Brasília. Orçado em
cerca de R$ 1 bilhão, o projeto é “fundamental para
o desenvolvimento do semiárido sergipano. É um
canal de multiuso que vai permitir a disponibilização
de água para consumo humano, para uso animal
e para projetos de irrigação, especialmente nos
assentamentos de reforma agrária existentes
na região”, explicou Déda ao Ministro. Como
consequência imediata do encontro, ambos definiram
que as equipes técnicas do Ministério e do governo
estadual deverão se reunir para examinar o estudo
de viabilidade técnica que foi apresentado pela
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

62.ª estação de metrô em São Paulo

Foto: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi


São Paulo ganhou mais uma estação de metrô. A
estação Pinheiros está localizada na rua Capri, 145,
próxima à Marginal Pinheiros e rua Gilberto Sabino.
É a quarta estação da Linha 4-Amarela a entrar em
operação comercial e a 62.a estação do sistema
metroviário da cidade. A estação Pinheiros não vai
alterar a extensão atual da rede metroviária, de
70,6 km, já que se localiza no trecho intermediário
entre as estações Butantã e Faria Lima. Hoje, a Linha
4-Amarela transporta cerca de 50 mil passageiros/dia,
de segunda a sexta-feira (incluindo feriados), das 4h40
às 15h, nas três estações em funcionamento: Paulista,
Faria Lima e Butantã.

Ministro apresenta queixa contra governador


O Ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, apresentou queixa-crime no Superior
Tribunal de Justiça contra o Governador do Ceará, Cid Gomes. Nascimento não gostou de ser
chamado de inepto, incompetente e desonesto, além de o Ministério dos Transportes ter sido
definido como “laia” e o DNIT como “antro de roubalheira”. A briga é uma prévia do que está
por vir nas eleições da capital Fortaleza, na qual cada um terá seu candidato.

16 RODOVIAS&VIAS
em TEMPO

Bertolini investe no transporte fluvial


Na região amazônica, os rios substituem

Foto: Divulgação
as rodovias. O transporte fluvial, que era
considerado lento e encarecia as mercadorias,
evoluiu, tornando-se mais seguro e ágil. Em
setembro de 1988, a transportadora Bertolini,
que era essencialmente rodoviária, iniciou
suas atividades na navegação da Amazônia.
Hoje, trabalha com diferentes tipos de balsas.
Transporta por água desde carga geral até
veículos e grãos (soja e milho). Os projetos
de empurrador ou balsa têm origem nas
necessidades da empresa, de onde resultam
as especificações de autonomia, potência de
motores, velocidade a ser atingida e consumo
de combustível, dependendo dos rios e da
carga que será transportada.

Deputado quer duplicação da BR-381 entre MG e ES


O líder do Partido da República, deputado
Lincoln Portela (PR-MG), esteve com o Ministro
dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), para
solicitar o início das obras de reforma e duplicação
da BR-381, no trecho que liga Belo Horizonte ao
Espírito Santo, e também para a revitalização
do Anel Rodoviário, via expressa que circunda
a capital mineira. Portela enfatizou a extrema
necessidade das obras por conta dos riscos
oferecidos aos usuários nestas estradas. A BR-381
é considerada uma das mais perigosas estradas
do Brasil, e o Anel Rodoviário é um dos locais com
maior índice de acidentes em BH.

Governo do Acre multará nas BRs


O governo do Acre acaba de ganhar autonomia
para fiscalizar e multar os veículos de cargas que
trafegam com excesso de peso nas rodovias federais
existentes no estado. A autonomia veio com o
convênio que o Diretor-Presidente do Deracre, Marcus
Alexandre, assinou com o Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes (DNIT), permitindo
que o órgão estadual passe a autuar os veículos que
prejudicam as rodovias com cargas mais pesadas do
que as autorizadas pela legislação. Além de multa, o
convênio permite que o Deracre retenha os veículos,
só permitindo que eles continuem trafegando depois
de transferir o excesso para outros veículos.

RODOVIAS&VIAS 17
POLÍTICA

Antaq terá
novo diretor
Ex-Ministro dos Portos Pedro Brito do Nascimento será Diretor
na Agência Nacional de Transportes Aquaviários.
Fotos: Rodovias&Vias /Paulo Negreiros

18 RODOVIAS&VIAS
antaq terá novo diretor

E conomista por formação, com mestrado em


Administração Financeira, Pedro Brito se tor-
nou, nos últimos anos, uma das personalidades
brasileiras que mais conhecem a realidade portu-
ária do país. Ao longo de quase quatro anos como
Ministro dos Portos, percorreu de norte a sul os ter-
minais do nosso litoral e também visitou os princi-
pais portos do mundo.
Indicado pela Presidente Dilma para uma das
três diretorias da Antaq, Brito passou fácil pela
sabatina no Senado no início de maio e chegou a
receber elogios de senadores da oposição por seu
conhecimento na área. Segundo Pedro Brito, cerca
de 95% das exportações brasileiras passam pelos
portos. “A burocracia nos portos brasileiros faz com
que uma mercadoria demore em média 5,4 dias
para ser liberada, quando nos demais países esse
prazo é de apenas um dia”, explicou.
Pedro Brito assumirá a vaga de Murillo de Moraes
Rego Corrêa Barbosa, que se aposentou. A Antaq foi
criada em 2001 e é vinculada ao Ministério dos Trans-
portes e à Secretaria Especial de Portos.

Pedro Brito passou pela sabatina no Senado.


Sede da Antaq em Brasília.
RODOVIAS&VIAS 19
Estradas de terra
As rodovias em leito natural são caminhos que cumprem diferentes papéis. Podem
ser boas para o turismo e por permitir deslocamentos entre comunidades em locais
inóspitos ou rurais, e ruins quando precisam servir de ligação entre corredores de
escoamento da produção e passageiros.
Fotos: Rodovias&Vias/Leonilson Gomes

20 RODOVIAS&VIAS
Trecho sem pavimentação da BR-163.

RODOVIAS&VIAS 21
rodovias

D e um jeito ou de outro, provavel-


mente sempre existirão; afinal,
nem sempre o asfalto faz falta. O trepi-
gir e sondar até mesmo os mais fami-
liarizados, convidando para uma para-
da comemorativa.
dar do veículo, a condução mais exigen- Elas formam caminhos que transpor-
te, o foco da atenção muitas vezes fixo tam mais do que carga. Transportam a fé
no solo e paisagens belas ao redor for- de viajantes que percorrem suas imper-
mam uma cena que insinua o descanso. feições a pé, servem comunidades rurais,
O mesmo palco pode transformar- abrigam esportistas de fim de semana,
-se em um ambiente menos agradável. integram atrações turísticas e áreas prote-
Com chuva, apresenta-se em trechos gidas e são a alegria dos proprietários de
infindáveis de lama escorregadia, ca- veículos 4x4, como jipes e caminhonetes.
paz de sujar até mesmo o mais escon- Seja simplesmente uma estrada de ter-
dido dos compartimentos do veículo. ra ou uma rodovia não pavimentada, elas
Na seca, uma nuvem de poeira pode têm inúmeras faces e funções em países
colaborar para o sumiço da visibilidade de grande área territorial como o Brasil.
e aliar-se ao calor intenso, lembrando Para algumas comunidades, a chegada do
um deserto. Ao fim da travessia, seja pavimento nem sempre parece boa no-
sob um clima bom ou ruim, a sensação tícia e, para outras, pode ser a garantia de
de vitória inevitavelmente parece sur- futuro melhor.

MALHA FEDERAL TOTAL: 76.495, 9 km

Federal pavimentada: 63.033,7 km

Federal não pavimentada: 13.462,2 km

Veículos de carga e passeio sofrem com a falta de pavimentação na BR-163.

22 RODOVIAS&VIAS
ESTRADAS DE TERRA

Por onde perdemos estão em andamento obras de pavi-


mentação em cerca de 3.700 km de ro-
Por terem menos infraestrutura de dovias com leito natural.
apoio, como posto de combustíveis e con- Segundo o Sistema Nacional de Via-
veniências, e terem seu entorno menos ção 2011, elaborado pelo DNIT, a malha
habitado, as rodovias não pavimentadas federal tem 13.462 km não pavimenta-
se tornam palcos propícios para crimes, es- dos e 63.033 km pavimentados.
pecialmente os ligados a tráfico de drogas.
Em zonas fronteiriças, a fiscalização é um
desafio à parte. A falta de asfalto também
representa entraves para o escoamento da
produção e o desenvolvimento, além de
dificultar o deslocamento de pessoas en-
tre as regiões.
Um exemplo clássico é a BR-230,
mais famosa como Transamazônica
(4.233 km), que tem mais de 1.500 km
não pavimentados. As partes mais vul-
neráveis ficam na região de floresta
(Pará, Amazonas).

Quando asfaltar
Para o Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT),
responsável pela administração da ma-
lha rodoviária federal, os principais in-
dicadores da necessidade de pavimen-
tação de uma rodovia não pavimen-
tada são o volume de tráfego e o tipo
de carga que ela recebe. Nos estados,
cada órgão rodoviário vinculado à ad-
ministração estadual tem seu próprio
manual, onde estão definidos os crité-
rios para pavimentação de uma rodo-
via. Da mesma forma, o Volume Diário
Médio (VDM) é o principal fator a ser
considerado.
O Coordenador-Geral de Planeja-
mento e Programas de Investimentos
da Diretoria de Planejamento e Pes-
quisa do DNIT, Adailton Cardozo Dias,
explica que alguns procedimentos são
obrigatórios: “Para qualquer obra de
construção no país, a legislação exige
a realização de estudos de viabilida-
de técnica, econômica e ambiental do
empreendimento, onde são avaliados
as soluções técnicas, os impactos so-
cioambientais e as ações de minimi-
zação ou compensação desses impac-
tos.” Segundo ele, por meio do PAC
(Plano de Aceleração do Crescimento)
Rebanho toma leito da Transamazônica..

RODOVIAS&VIAS 23
TRILHOS

Brasil na contramão
dos trilhos
A malha ferroviária brasileira, que já se aproximou dos 40 mil
km, ao invés de avançar, encolheu. Hoje restam apenas 29 mil km,
e parte deles está sem condições de uso. O movimento seguiu em
direção contrária à necessidade nacional.
Foto: Rodovias&Vias /Estanis Neto

24 RODOVIAS&VIAS
BRASIL NA CONTRAMÃO DOS TRILHOS

RODOVIAS&VIAS 25
TRILHOS

E
“ quivocadamente na matriz de
transporte brasileira, mesmo com
aportes de bilhões do BNDES nas con-
METRÔ
O Trem Metropolitano, ainda pouco
cessionárias, o modal ferroviário patina difundido no Brasil, está em apenas seis
nos 20%, um absurdo para um país de capitais – São Paulo, Rio de Janeiro, Bra-
dimensões continentais como o nosso”, sília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Re-
analisa o engenheiro especialista em cife –, transportando cerca 2,2 bilhões
transportes Paulo Sidnei Ferraz. de passageiros por ano. As duas maiores
Ideal para grandes volumes de car- metrópoles do país, São Paulo e Rio de
gas por longas distâncias (acima de 500 Janeiro, possuem, respectivamente, 70
km), o transporte sobre trilhos nasceu km e 48 km de linhas de metrô, enquan-
na Inglaterra no início do século XIX. to a Cidade do México tem uma exten-
Os trens se espalharam pelo mundo e são de 202 km, Paris tem 212 km, Nova
chegaram ao Brasil, que viveu a “Era das Iorque tem 368 km, e Londres, 408 km.
Ferrovias” entre 1870 e 1920, época em Apesar da sua extensão, o sistema de
que a malha ferroviária crescia cerca de metrô paulista recebe cerca de 3,7 mi-
6 mil km por década. lhões de passageiros por dia, o mais lo-
O desenvolvimento, porém, esta- tado do mundo.
cionou na década de 50, a partir do As dificuldades como escavações
governo de Juscelino Kubitschek. O profundas, desvios de tubulações an-
interesse político de trazer ao país a tigas e o alto custo impedem o avanço
indústria automobilística fez os inves- do sistema no país. “Levamos 100 anos
timentos mudarem de caminho. O foco acreditando que os ônibus resolveriam
passou a ser as rodovias, por onde os todos os problemas de mobilidade ur-
grandes caminhões de carga viriam a bana. Perdemos o bonde da história e
transitar. O transporte de passageiros agora somos penalizados com dificul-
sobre trilhos também evoluiu em todo dades de execução e custos elevados
o mundo. Os metrôs e trens de alta ve- para construção de novos metrôs ou
locidade, capazes de oferecer rapidez para expandir linhas atuais”, afirma Fer-
aliada à grande capacidade de passa- raz. Atualmente, as cidades brasileiras
geiros, tornaram-se importantes alter- buscam recursos do PAC (Programa de
nativas em diversos países. Mas, assim Aceleração do Crescimento) da Mobili-
como os de carga, não tiveram a mes- dade para fazer parte do grupo das que
ma evolução por aqui. podem oferecer o metrô a seu cidadão.
Foto: Rodovias&Vias /Estanis Neto

Trilhos fora de operação em Curitiba.

26 RODOVIAS&VIAS
BRASIL NA CONTRAMÃO DOS TRILHOS
Foto: Divulgação

Metrô de Londres.

A obra que visa contribuir para o aten-


VLT dimento de uma das principais reivindi-
O Veículo Leve sobre Trilho vem sur- cações da indústria – melhoria da infraes-
gindo como uma boa alternativa. Além trutura de transporte do país – também é
de mais barato que o metrô, transporta muito bem-vinda para atender às exigên-
muito mais passageiros que os ônibus e cias da Fifa e do Comitê Olímpico Interna-
pode ser até 93% menos poluente. Des- cional para a realização da Copa do Mundo
cendentes dos antigos bondes, esses ve- de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos
ículos mais modernos circulariam sobre de 2016, no Rio de Janeiro. Porém, o valor
antigas linhas que pertenciam à Rede altíssimo de uma obra como esta traz dis-
Ferroviária e que estavam abandonadas. cordância. Segundo especialistas, com os
Uma forma sustentável e barata, ca- recursos públicos destinados ao trem-bala,
paz de aliviar o trânsito pesado das cida- poderiam ser construídos 10 km de metrô
des. O sistema já vem sendo implantado em cada uma das nas nove regiões metro-
no Nordeste. Em pleno sertão do Cariri, politanas do Brasil, onde vivem 65% da po-
no sul do Ceará, 14 km ligam as cidades pulação.
de Crato e Juazeiro do Norte, com ca- Para Ferraz, a necessidade de inves-
pacidade para levar até 330 passageiros timentos no sistema de transporte ferro-
por viagem e expectativa de 5 mil usu- viário em geral justificaria bancar apenas
ários por dia. Os gastos na implantação parte da obra. “Os recursos públicos en-
deste projeto cercam os R$ 13 milhões. volvidos no TAV Rio-São Paulo deveriam
ser partilhados com outros sistemas sobre
trilhos, expandindo implantações de VLTs,
TAV Metrôs, Trens Regionais, Trens Turístico-
-Culturais e ampliando novas malhas para
O Trem de Alta Velocidade, mais co- o transporte de cargas.”
nhecido como trem-bala, pode se tornar Já para o engenheiro professor do De-
realidade nos próximos anos no Brasil. partamento de Transportes da Universi-
Um projeto ligando São Paulo, Campinas dade Federal do Paraná Jurimar Cavichio-
e Rio de Janeiro deve sair do papel após o lo, o trem-bala teria que ser visto como
Congresso ter aprovado, no mês de abril, a prioridade. “Já deveria estar pronto. Além
medida provisória que autoriza a União a do conforto, segurança e pontualidade,
emprestar até R$ 20 bilhões, por meio do só pelo número de vidas salvas o investi-
BNDES, ao consórcio vencedor da licitação. mento vale a pena. Sem falar que os gastos
Especula-se que o custo total, no entanto, com os acidentes nas estradas brasileiras,
gire em torno de R$ 50 bilhões (os cálculos por ano, pagariam a obra facilmente.” No
preliminares, feitos em 2007, previam ape- Japão, o sistema passou 40 anos sem ne-
nas R$ 11 bilhões). nhum registro de acidente.

RODOVIAS&VIAS 27
O DESPERDÍCIO DA VIDA
Velocidade acima da permitida na via, uma manobra brusca ou um instante de
desatenção bastam. As rodovias não permitem qualquer descuido e cobram caro
se ele acontece. O preço pode ser a vida de quem vacilou e até a de quem sempre
respeitou as leis de trânsito.
Foto: Rodovias&Vias / Leonilson Gomes

28 RODOVIAS&VIAS
Acidente na rotatória que dá acesso a Ribeirão Preto/SP.
RODOVIAS&VIAS 29
rodovias

N o Brasil morrem, apenas no


trânsito, por ano, milhares de
pessoas. O número passa os 55 mil. Só
CAUSAS
nas estradas federais, em 2010, foram
8.463, segundo registros da Polícia Ro- Ao contrário do que se imagina, a
doviária Federal. Para se ter uma idéia, qualidade das rodovias não é a princi-
o terremoto seguido por tsunami que pal causa. O asfalto esburacado, a falta
atingiu o Japão deixou 25.536 entre de acostamento ou os problemas de
mortos e desaparecidos. Menos da sinalização representam apenas uma
metade das vítimas fatais nas estradas parcela do problema. Os maiores res-
brasileiras no ano passado. ponsáveis pelos acidentes são os pró-
Em 2010, em oito estados brasileiros prios motoristas. De acordo com uma
(Goiás, São Paulo, Paraná, Santa Cata- pesquisa da Universidade Federal do
rina, Roraima, Tocantins, Piauí e Mato Rio de Janeiro (UFRJ), 66% deles acon-
Grosso), os acidentes de trânsito ma- tecem por falha humana – excesso de
taram mais do que os homicídios. Um velocidade, falta de atenção, sono, em-
dado estarrecedor, tendo em vista que briaguez, ultrapassagens proibidas, ou
a segurança pública é outro item muito seja, uma palavra que sempre está as-
abaixo do ideal no Brasil. sociada a acidentes: imprudência.
Foto: Rodovias&Vias / Leonardo Pepi

EM 2010, OS ACIDENTES DE TRÂNSITO CAUSARAM MAIS MORTES QUE


OS HOMICÍDIOS, EM PELO MENOS 8 ESTADOS .

TRISTE RANKING
1.º Santa Catarina 1 morte a cada 6 km
2.º Paraná 1 morte a cada 8,5 km
3.º Minas Gerais 1 morte a cada 13 km
4.º Bahia 1 morte a cada 14 km
Fonte: DNIT
30 RODOVIAS&VIAS
RODOVIAS&VIAS 31
rodovias

“A postura do motorista é ofensiva e Dias), e na BR-101, no Espírito Santo, por


não defensiva, como deveria ser. É uma exemplo, lê-se: “Atenção, trecho com alto
direção que não se preocupa em se prote- índice de acidentes.”
ger ou proteger a família. A preocupação Ainda contribuem para os acidentes
é apenas chegar antes”, explica a Diretora- a própria cultura de transporte brasileiro.
Geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Com a indústria automobilística privile-
inspetora Maria Alice Nascimento Souza. giada e o forte lóbi das transportadoras,
Em 2006, o Instituto de Pesquisa Eco- o reflexo se dá nas estradas onde há o
nômica Aplicada (Ipea), em conjunto contraste entre os veículos de passeios e
com o Departamento Nacional de Trân- o excesso de caminhões - muitas vezes fa-
sito (Denatran), publicou um complexo zendo hora extra.
estudo sobre o assunto, que trouxe reve-
lações surpreendentes. Uma delas mos- ACIDENTES
trava que as condições da pista influen- NÃO ACONTECEM
ciam nas estatísticas. Constatou-se que
em pistas boas os motoristas aumentam No livro Acidentes não acontecem, o
a velocidade e o número das ultrapassa- especialista em trânsito Rodolfo Rizzot-
gens em situações proibidas, o que faz to destaca por que eles não são eventos
crescer a quantidade de mortos devido casuais. “No dicionário, acidente é um
às colisões frontais. Outro dado que cha- acontecimento fortuito e imprevisto. No
mou a atenção foi o fato de os pontos entanto, analisando os chamados aciden-
críticos, onde ocorrem grande parte dos tes de trânsito, percebemos que existem
acidentes, serem conhecidos. Em alguns vários fatores que contribuem para que
lugares, existem até placas anunciando eles ocorram e que poderiam ser evita-
que eles podem acontecer. Ao longo da dos com medidas simples e mudança de
BR-381, em Minas Gerais (Rodovia Fernão comportamento da sociedade”, afirma.

“A postura do motorista é
ofensiva e não defensiva, como
deveria ser. É uma direção que
não se preocupa em se proteger ou
proteger a família.
Inspetora Maria Alice Nascimento Souza
Diretora-Geral da Polícia Rodoviária Federal
Foto: Rodovias&Vias / Leonardo Pepi

32 RODOVIAS&VIAS
O DESPERDÍCIO DA VIDA

RODOVIAS&VIAS 33
rodovias

Foto: Rodovias&Vias / Leonardo Pepi

Acidente na BR-222 no Ceará.

SOLUÇÃO acidentes caiu 32%. Uma redução des-


te nível em todo o país evitaria mais de
10 mil mortes por ano.
Os registros apontam para medidas No mês passado, O Departamento
drásticas de educação. E, de imediato, Nacional de Trânsito do Ministério das
a punição e exigência das leis. Segun- Cidades lançou a campanha nacional
do Marcelo Araújo, Presidente da Co- “Pare e Pense” com o objetivo de con-
missão de Direitos de Trânsito da OAB- tribuir para a reflexão sobre a necessi-
-PR, apenas a aplicação rigorosa da lei dade de reduzir o número de acidentes
já traria um grande efeito positivo. “A nas estradas. Mas, para que o objetivo
legislação brasileira é ótima. Sempre seja alcançado, o processo tem que
cabem algumas modificações, mas ela começar muito antes. “O ideal seria
ainda é muito atual. Uma fiscalização formar os bons motoristas desde cedo.
intensa e notória certamente faz mu- Ter dentro do currículo escolar a disci-
dar os números.” plina Cidadania, e nela se trabalharia
Um exemplo de que a punição fun- com as crianças a questão do trânsito
ciona é o resultado da Lei Seca no Rio cidadão, o respeito às normas e à vida”,
de Janeiro. Em dois anos, o número de afirma a Diretora-Geral da PRF.

34 RODOVIAS&VIAS
RODOVIAS&VIAS 35
Para não perder este trem
O advento dos trilhos permitiu transportar mercadorias e passageiros em larga
escala de forma segura e eficiente. Hoje, os investimentos no setor ganharam novo
impulso e os comboios podem novamente mostrar-se promissores nas estradas
de ferro, desta vez para colaborar com a mobilidade de um mundo cada vez mais
urbanizado, e em cidades e regiões com trânsito cada vez mais congestionado.

A lta capacidade de transporte de


pessoas e mercadorias, baixos
níveis de poluição e impacto ambiental,
nação. Soa óbvio, mas em pleno ano
2011 vemos uma infinidade de cami-
nhões transportando carga nas rodovias,
eficiência no uso de recursos energéti- que ano após ano precisam ser pratica-
cos e segurança. Que outro modal de mente reconstruídas por suportar tantas
transporte reúne tantas qualidades de toneladas diárias sobre seu leito. E nas
uma só vez? É certo que o aéreo vence cidades, o aumento da frota de veículos
no quesito velocidade, mas à custa de individuais relaciona-se diretamente à
considerável consumo energético na queda da qualidade de vida nas próprias
queima de combustíveis derivados do cidades e nas rodovias.
petróleo, e os outros modais terrestres Como exemplo, a Associação Ferrovi-
podem lá ter suas qualidades específicas ária da Austrália e Nova Zelândia (Austra-
Fotos: Rodovias&Vias/Leonilson Gomes

de conforto, segurança ou capacidade, lasian Railway Association – ARA) mostra


mas poucos reúnem as características de que estes problemas não são exclusivi-
um trem na hora de garantir mobilida- dade brasileira. Em seu estudo intitulado
de de alta capacidade. A qualidade dos Moving People – Solutions for a Growing
transportes terrestres é fundamental Australia (Movendo pessoas – Soluções
para a prosperidade econômica de uma para uma Austrália em Crescimento), a

36 RODOVIAS&VIAS
ARA aponta que os custos com conges- as operadoras do que transportar cargas.
tionamentos do tráfego por lá ultrapas- Ainda assim, no Brasil, um Decreto Federal
sam os US$ 6 bilhões ao ano. (Decreto n.o 1.832, de 4 de março de 1996)
Segundo a entidade, a terceira maior diz que no compartilhamento da malha
fonte de emissões de gases de efeito es- ferroviária a preferência é do passageiro.
tufa é o transporte rodoviário, e as rodo- Na teoria está estabelecido, mas na
vias australianas são palco de acidentes prática não é tão simples priorizar. Na
responsáveis por 1.450 mortes e 30 mil maior cidade do país, São Paulo, a malha
feridos graves todos os anos. Ampliar o da Companhia Paulista de Trens Metro-
modal ferroviário passa por desafios, e politanos (CPTM) precisa ceder espaço
um dos principais é o compartilhamento para as composições de carga nos ho-
das malhas para o uso de transporte de rários de menor movimento, as quais
cargas e passageiros. têm de passar por trechos comuns às
Nos Estados Unidos, o debate desta linhas de passageiros para chegar até o
questão recebe destaque da Associação porto de Santos, o mais movimentado
das Ferrovias Americanas (Association of do Brasil. Se é preciso dar espaço para o
American Railroads – AAR). Em seu estu- escoamento da produção e o transporte
do Ferrovias de Passageiros e Cargas: En- fretado de cargas, fica difícil diminuir o
contrando o Equilíbrio Ideal, a AAR afir- tempo entre as viagens para que passa-
ma a necessidade de ampliação das duas geiros ganhem mais oferta e velocidade
modalidades como forma de favorecer a em seu deslocamento.
própria saúde econômica nacional. É possível que a raiz do problema
Para a Associação, a saúde econômi- resida em um curioso exemplo apon-
ca dos Estados Unidos e da competitivi- tado pelo Diretor de Planejamento da
dade global depende criticamente da CPTM, Silvestre Eduardo Rocha Ribei-
existência de um sistema ferroviário de ro, durante entrevista exclusiva para
transporte saudável. É por isso que a ex- Rodovias&Vias: “Para percorrer 150 km
pansão do ferroviário de passageiros em em um trem da CPTM, o usuário paga
corredores de propriedade de ferrovias cerca de R$ 3,00. Ele paga os mesmos
de carga vai exigir uma parceria entre as R$ 3,00 para rodar apenas a distância de
operadoras de carga e passageiros que uma quadra de ônibus. Alguém tem que
proteja as necessidades do negócio e as pagar esta diferença”, explica. Na frase
responsabilidades de ambas as partes. do engenheiro, está embutida a questão
A verdade é que transportar pessoas, do subsídio que o Estado provê aos usu-
em geral, acaba custando mais caro para ários. Alguém tem que pagar a conta.

“Para percorrer 150


km em um trem da CPTM, o
usuário paga cerca de R$
3,00. Ele paga os mesmos R$ 3,00
para rodar apenas a distância
de uma quadra de ônibus.
Alguém tem que pagar esta
diferença.”
Silvestre Eduardo Rocha Ribeiro
Diretor de Planejamento / CPTM

RODOVIAS&VIAS 37
capa

Companhias

Universo em expansão
As equipes de Rodovias&Vias mergulharam no ritmo frenético de grandes
metrópoles para conhecer melhor um sistema capaz de manter a mobilidade.
A engenharia sobre trilhos dos trens urbanos passa por uma transformação e
recebe recursos que mudarão a qualidade de seus serviços em tempo recorde, se
o planejamento for seguido e o setor público garantir a agilidade necessária aos
projetos. São Paulo e Rio de Janeiro têm papel fundamental nesta retomada.

São Paulo As cenas de estações novas e moder-


nas em regiões periféricas de São Paulo
Em São Paulo, pegamos uma “caro- trazem visões de um futuro melhor para
na” na cabine do simulador de um dos as regiões onde são implantadas – regi-
novos trens da Série 7000, recém-entre- ões que carecem de equipamentos pú-
gues e de fabricação da espanhola CAF blicos qualificados, como uma estação
(Construcciones y Auxiliar de Ferrocar- de trem metropolitano, por exemplo.
riles). Conhecer e conduzir, ainda que Vias permanentes (trilhos) e rede aé-
virtualmente, um Série 7000 de última rea (cabos de eletricidade) recebendo
geração adquirido pela CPTM foi igual- manutenções preventivas e nova sinaliza-
mente recompensador. ção, a reforma de trens de séries passadas

38 RODOVIAS&VIAS
PARA NÃO PERDER ESSE TREM

para atualização tecnológica e salas de passarelas construídas pela CPTM para


controle e monitoramento de última ge- garantir a “conversa” da malha, do siste-
ração reforçam impressões baseadas em ma, com a cidade. “Outras 18 passarelas
uma certeza: os investimentos estão em estão em obras, e ainda temos mais 11
movimento. “Hoje são mais de 100 con- projetos. É preciso garantir a mobilidade
tratos ativos e R$ 5 bilhões em recursos já das pessoas por elas, pois a cidade cresce
assinados, conta o Diretor-Presidente da ao redor do sistema, que é segregado, e
CPTM, Mário Bandeira. às vezes corta bairros ou regiões em que
Doze anos atrás, a CPTM transporta- as pessoas querem atravessar”, explica
va pouco mais de 240 milhões de pas- Sousa. Atualmente, os 260 km da malha
sageiros por ano, hoje chega aos 650 paulista estão “vedados”, ou seja, com a
milhões de pessoas transportadas em via permanente isolada, a fim de garantir
12 meses. Desde 1995, foram mais de segurança aos usuários e ao entorno.
US$ 1,6 bilhão de investimento, 11 novas Além disso, a companhia possui o
estações, cinco revitalizações, 105 novos que há de mais avançado em tecnolo-
trens e a redução do intervalo entre trens gia, e os investimentos em sinalização,
(de 20 minutos para até seis minutos em comunicação, tecnologia de informação,
algumas linhas). Hoje, os números refle- segurança, energia estão na ordem do
tem o crescimento da companhia, e da dia, como acrescenta o Diretor de Pla-
metrópole. nejamento da CPTM, Silvestre Eduardo
O Diretor de Engenharia e Obras da Rocha Ribeiro. “A satisfação do usuário é
CPTM, Eduardo Wagner de Sousa, pre- grande hoje. Ainda que existam críticas,
vê que até 2012 metade das estações e reconhecemos que nos horários de
estarão totalmente modernizadas, com pico a situação ainda não é a ideal, tem
capacidade para mais passageiros e me- que melhorar. Mas pesquisas mostram
lhor integração com ônibus, bicicletas e que o usuário percebe a transformação
o metrô. Adicionalmente, existem 123 do padrão do sistema para melhor.”

“Outras 18 passarelas
estão em obras, e ainda
temos mais 11 projetos. É
preciso garantir a mobilidade
das pessoas por elas, pois a
cidade cresce ao redor do
sistema, que é segregado, e às
vezes corta bairros ou regiões
em que as pessoas querem
atravessar”
Eduardo Wagner de Sousa
Diretor de Engenharia e Obras / CPTM

RODOVIAS&VIAS 39
capa

40 RODOVIAS&VIAS
PARA NÃO PERDER ESSE TREM

RODOVIAS&VIAS 41
capa

ENTREVISTA Mário Bandeira


O Presidente da CPTM, Mário Bandeira, com a tranquilidade que
a experiência de anos de trabalho no setor ferroviário propicia ao
seus conhecimentos, falou a Rodovias&Vias sobre o futuro dos
trens urbanos paulistas. São planos ambiciosos, possíveis e capazes
de melhorar a mobilidade de milhões de pessoas com conforto e
segurança, e ainda transformar a realidade dos transportes do estado
mais populoso do Brasil.
Fotos: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi

Rodovias&Vias: Qual é o panorama assim por diante. Isto, somado a outros


hoje em termos de projetos e investi- programas que temos, propiciará até
mentos? 2014 uma redução de 50% no intervalo
Mário Bandeira: Vemos o progra- entre os trens, que hoje é de seis minu-
ma de investimentos em segmentos. O tos e passaria para três minutos. É uma
primeiro é a modernização. Já se iniciou condição de conforto muito grande para
há muitos anos, vem em um processo nossos usuários. Outros dois programas
de evolução e continua. Adquirir novos em curso são os serviços expressos. O
trens, fazer a reconstrução e reforma das primeiro, Expresso Guarulhos, que de-
estações, para que elas possam atender pois de São Paulo é a segunda cidade em
as necessidades de demanda e de inte- densidade populacional e é uma cidade
gração. Afinal, a ferrovia é um sistema que não está atendida por um sistema
antigo, algumas estações são centená- de alta capacidade. A ideia é levar o trem
rias, outras têm 70, 80 anos, e hoje, com até o conjunto habitacional Jardim Ma-
o crescimento, há a necessidade de se galhães. O projeto é uma ligação do Brás
criar uma estrutura mais adequada. Não até lá, dividido em duas fases. Também
adianta só pensar em fazer a reconstru- enxergamos a possibilidade de concluir
ção da estação e comprar trens se você este projeto até o final de 2014, início de
não dotar a infraestrutura de condições 2015, evidentemente dependendo da
para permitir a redução de intervalos forma como for conduzido o processo
entre as composições. Para isso, é pre- licitatório. O outro serviço é o Expresso
ciso melhorar a via permanente, a rede ABC, dentro da Linha 10, ofertando ou-
aérea, adquirir energia – novas subes- tro serviço, ligando as estações de maior
tações, retificadoras, tensionadoras, demanda. Existe a possibilidade de este

42 RODOVIAS&VIAS
PARA NÃO PERDER ESSE TREM

projeto ser uma PPP (Parceria Público- E em relação a trechos de percursos


-Privada). O terceiro Expresso é a ligação maiores pelo estado?
de São Paulo a Jundiaí, em uma ligação Em trechos de longo percurso, te-
direta, usando a faixa de domínio do mos que conviver com a malha federal,
trecho sob a responsabilidade da CPTM. o que é natural em países como Estados
Estamos em fase de contratar o projeto Unidos e da Europa. Há problema quan-
executivo. É um projeto importante, pois do estamos em um sistema em rede e
hoje o volume de fretados que vêm a em regiões de maior densidade popu-
São Paulo daquela região é significativo, lacional, onde fica impossível conviver
e podemos imaginar alguns bolsões na com a carga. Nestas regiões, não se pode
região de Jundiaí, e assim deixaria de in- conviver no mesmo sistema, pois fatal-
jetar na cidade de São Paulo uma quanti- mente o tempo de intervalo será com-
dade significativa de ônibus e as pessoas prometido. Para se ter uma idéia, existem
chegariam a São Paulo já integradas à composições de carga de quase 1.000
rede. O último programa, que está em m, então imagine um trem de carga na
curso e que o Governador pediu uma via. Enquanto um trem nosso percorre
atenção especial, é a retomada dos trens em velocidade média de 50 km/h, um de
regionais. Estamos estudando o trem re- carga deste porte vai a 18 km/h. É preciso
gional de Sorocaba e o trem regional de transportar a carga de madrugada, fazer
Santos. O de Sorocaba, já contratamos centros de logística e distribuição fora das
o projeto funcional, e a partir dele tere- áreas de alta densidade populacional. Um
mos ideia de como ele será executado, trem de carga no sistema gera uma onda
se em PPP ou modelo misto. Saberemos negativa em todo o sistema de passagei-
o traçado, qual o modelo de engenharia ros. O passageiro vai reclamar se tiver de
e desapropriações por conta do traçado, esperar 20 minutos entre um trem e ou-
pois as curvas que tem hoje não possi- tro, e com razão.
bilitariam ter a velocidade que gostaría-
mos no trem. Então será preciso alterar a E a solução?
geometria de algumas curvas. E também A solução que vemos é o Ferroanel. Há
saberemos os recursos necessários. No apenas três meses, descarrilou um trem
caso de Santos, o processo de licitação de carga e ficamos com a via sem energia,
está para ser lançado até este mês de ju- pois um dos vagões bateu em um poste
nho, também acreditamos que em nove da via aérea. Por sorte, era uma região de
meses o projeto estará concluído. menor movimento, agora imagine se isso
acontecesse nas proximidades de esta-
ções como Brás ou Luz, onde passam mi-
lhares de pessoas todos os dias.
dados gerais

RODOVIAS&VIAS 43
capa

Rio de Janeiro vilhosa. Curioso que o algoz de sua es-


pécie (em algumas cidades, os bondes
foram eliminados pelo conflito com os
“É, parceiro, lá de cima, podes crer automóveis) observe com os faróis bai-
que a vista é bem melhor.” Foi com esta xos e completamente estático sua pas-
frase, em meio ao estagnado tráfego sagem triunfal, quem sabe com um quê
das 17 horas, que o taxista puxou o fio de desdém, sobre seu capô e nossas
da conversa, referindo-se ao pitoresco cabeças. Em resumo, os trilhos (mes-
“bondinho” que circula sobre os monu- mo que centenários, no caso) voltam
mentais Arcos da Lapa, na Cidade Mara- a ser contemplados, não apenas por

44 RODOVIAS&VIAS
PARA NÃO PERDER ESSE TREM

especialistas em transporte, como a no “churrasco dos diferenciados”, no


solução do futuro para o trânsito nos bairro Higienópolis, em São Paulo –
cada vez mais densamente povoados até mesmo a localização de terminais
conglomerados urbanos. Tanto que a e estações.
Companhia Brasileira de Trens Urba- Foi buscando entender estes, entre
nos (CBTU) promove e premia os me- outros aspectos da questão metroferro-
lhores trabalhos neste sentido, desde viária, que Rodovias&Vias foi à cidade
2005, no “Concurso de Monografia do Rio de Janeiro conversar com o Di-
CBTU: Cidade nos Trilhos”. A partir de retor de Planejamento, Expansão e Ma-
alguns temas que foram agraciados, rketing da CBTU, Raul De Bonis Almeida
fica evidente que o desafio, mais do Simões. Sete sistemas e mais de 200 km
que planejar, é criar e até mesmo re- de trilhos credenciam a Companhia Bra-
forçar não só a cultura do setor, mas sileira de Trens Urbanos a discutir mobi-
toda a cultura de transportes coletivos lidade com quaisquer de seus pares no
e de massa, que por inúmeros motivos país e na América Latina. No entanto,
são preteridos pelo transporte parti- mais que discutir, a CBTU sabe que é pre-
cular. Razões que vão desde a quali- ciso repensar conceitos e fazer valer sua
dade do serviço oferecido, passando massa crítica para encontrar as soluções
pelo preço das tarifas e – como vimos necessárias para as cidades.
Foto: Roberto Gomes

RODOVIAS&VIAS 45
capa

ENTREVISTA Raul De Bonis


De uma conversa acadêmica e quase filosófica com o Diretor
de Planejamento, Expansão e Marketing da CBTU, Raul De Bonis
Almeida Simões, o leitor poderá concluir que, como o próprio Diretor
resumiu: existe, sim, um conjunto de dificuldades, mas há também
um conjunto de oportunidades para o transporte urbano no Brasil.
Fotos: Rodovias&Vias/Estanis Neto

Rodovias&Vias: é possível mudar o modernizar um sistema, mas queremos


conceito de transporte ao qual estamos que haja desenvolvimento a partir daí,
acostumados? repensar a matriz, repensar o uso do
Raul De Bonis: Nós temos um con- equipamento, colocar isso tudo como
junto de atividades voltadas para a instrumento de um processo de desen-
questão cultural do transporte coletivo. volvimento num conjunto mais amplo
Não é fácil mudar, não é só uma questão e maleável. Vivemos uma fase de muita
cultural. É uma questão de interesses, alegria porque algumas teses antigas
que estão colocados de maneira antiga. estão se confirmando, como a produção
Enquanto existir segregação, enquanto de equipamento ferroviário no Brasil.
existir o descompromisso com a questão Não tem jeito, num país como o nosso
ambiental, a ideia de desenvolvimento nós precisamos valorizar a questão fer-
fica muito comprometida, prejudicada. roviária. Transporte de grande capacida-
Aqui na CBTU a gente tem desenvolvi- de, de boa qualidade, uma boa relação
do algumas atividades. São mais de 160 com o meio ambiente, capaz de oferecer
trabalhos de pesquisa desenvolvidos tempos de deslocamento muito melho-
para não só melhorar um terminal ou res que os outros.

46 RODOVIAS&VIAS
PARA NÃO PERDER ESSE TREM

“Não tem jeito, num país como o


nosso nós precisamos valorizar a
questão ferroviária”.

Qual o prejuízo de um país que usa um contorno na baía. E assim foram se distri-
modelo inadequado de transporte? buindo os trilhos do transporte de passa-
O custo para a sociedade, para a cidade geiros na Região Metropolitana.
e para o país, que é enorme. No Brasil, temos
um modelo de transporte que se acomodou E a convivência entre os trens de carga
numa situação e se fez acompanhar de um e os de passageiros? Às vezes eles circu-
estímulo muito grande, a aquisição de car- lam nos mesmos trilhos, não é uma rela-
ros próprios. Milhares de pessoas ocupando ção conflituosa?
as ruas, congestionando. É realmente uma Bom, você tem vários fatores que con-
questão que exige uma atenção maior. Se o correm pra essa forma de percepção, inclu-
Brasil quer se colocar entre os países desen- sive interesses econômicos. Por exemplo,
volvidos, e não apenas entre os que cresce- nós temos hoje um problema que o Dr. Re-
ram economicamente, vai ter que trabalhar nato Figueiredo, da ANTT (Agência Nacional
muito isso, e trabalhar a cultura. de Transportes Terrestres), está tentando
ajudar a resolver na medida em que as ma-
Como os trens urbanos evoluíram no lhas que tiveram a operação privatizada são
Rio de janeiro? hoje núcleos de custo pra empresas que
O sistema do trem de subúrbio do Rio têm carga, então aqui mesmo, na Secreta-
foi transferido para o estado nos anos 90. ria de transportes do Rio, nós tínhamos essa
Depois, no final dos anos 90, a operação questão concretamente. O porto do Rio,
foi privatizada. O Rio de Janeiro dispõe de que é um núcleo importante da nossa ati-
uma extensa malha de trens. Dos 280 km vidade econômica, nós tínhamos muita di-
existentes, cerca de 200 são aproveitados. ficuldade na discussão, por exemplo, entre
Esse sistema praticamente modelou a ocu- o café do Sul e Minas e os minérios. Não era
pação do espaço da Região Metropolitana. nem conflito entre carga e passageiros, era
Os principais traços de desenvolvimento carga com carga mesmo. Até porque a in-
se deram ao longo desse corredor. Campo fraestrutura ferroviária para carga ainda não
Grande é um bairro de 250 mil habitantes e tinha conquistado uma capacidade maior.
está crescendo. O lado oeste da Região Me- Nós tivemos um grande avanço em termos
tropolitana cresce mais do que as outras de capacidade. Na verdade, tanto para trens
regiões por conta de espaços disponíveis. urbanos, de passageiros e de cargas, até
Um braço corta a Zona Oeste toda, outro pela perspectiva dos eventos esportivos,
braço corta a Baixada Fluminense. Atra- vivemos um momento que possui, sim, di-
vessa municípios populosos como Nova ficuldades, mas que detém oportunidades
Iguaçu, com 1 milhão de habitantes. Um muito interessantes.
terceiro braço corta Caxias, Magé e dá um

RODOVIAS&VIAS 47
Ciclistas
pedem passagem
Cidades do mundo todo têm incentivado o uso de bicicletas, com
ciclovias e espaços de locação. Pedaladas podem ser uma alternativa
ao trânsito caótico dos grandes centros.
Foto: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi

Ciclistas dividem espaço com caminhões na BR-116 em Curitiba.

P ouco a pouco, as bicicletas vão


ganhando espaço no cenário
urbano brasileiro. Uma realidade já
Os urbanistas brasileiros parecem
ter despertado para a importância das
bicicletas não apenas como um meio de
bastante comum em vários países da transporte em si, mas como um elemen-
Europa, que serve de inspiração ao to de interligação de modais. Se não for
Brasil. Tanto no Novo quanto no Velho possível fazer todo o trajeto pedalando,
Mundo, elas estão sendo vistas como as pessoas podem ir até o ponto de ôni-
uma alternativa saudável e ecologica- bus ou terminar a viagem de metrô –
mente viável ao caos do trânsito das desde que tenham lugares seguros para
grandes metrópoles. estacionar suas bicicletas.

48 RODOVIAS&VIAS
Projetos vias que cortam a cidade. O valor total do
programa é de cerca de R$ 2,5 bilhões e
Os projetos se multiplicam pelo país. prevê a recuperação de todos os trechos,
O próprio Ministério das Cidades mantém dando mais conforto e segurança aos
um projeto, batizado de “Bicicleta Brasil: usuários. Também está prevista a substi-
Avanços e Desafios”, que tem como objeti- tuição de todo o mobiliário urbano do en-
vo incentivar o uso da bicicleta como meio torno das vias, que inclui novos bicicletá-
de transporte em todo o país. rios e guarda-corpos, além da instalação
Individualmente, todas as cidades de sinalização horizontal e vertical.
também fazem a sua parte. Em abril, a Se- Em Belo Horizonte, as obras para im-
cretaria de Conservação e Serviços Públi- plantação de seis novas ciclovias come-
cos do Rio de Janeiro iniciou um projeto çaram há poucos dias. Elas fazem parte
de recuperação dos 144,3 km de ciclo- do programa Pedala BH, de incentivo
ao uso de bicicletas, coordenado pelo
BHTrans. Em um primeiro edital, publi-
cado em setembro passado, a BHTrans
contratou a empresa responsável pela
construção de 30 km de vias exclusivas
para bicicletas. Mas a previsão é de que,
até o fim de 2012, a cidade tenha mais
de 150 km de ciclovias.
Mais quilômetros de ciclovias tam-
bém estão nos planos da cidade de Cuia-
bá, capital do Mato Grosso. A proposta
apresentada no Plano de Mobilidade
Urbana da Região do Vale do Rio Cuiabá,
divulgado recentemente pelo governo
do estado, é de aumentar os atuais 19,7
km de vias exclusivas para bicicletas para
125,7 km (distribuídos em 19 vias).

São Paulo

A maior cidade do país, São Paulo, no


entanto, parece correr bem atrás no que
diz respeito à mobilidade sobre duas ro-
das. A capital paulista tem apenas 3,87
km de vias fixas exclusivas para bicicletas
– em boa parte, com a conservação mui-
to ruim. São Paulo tem, ainda, 30 km de
Ciclofaixa de lazer (15 km de ida e 15 km
de volta) – uma faixa da rua que é trans-
formada em ciclovia aos domingos e nos
feriados, ligando os parques Ibirapuera e
Villa Lobos.
Foto: Rodovias&Vias/Leonilson Gomes

O plano de metas da prefeitura, no


entanto, prevê a construção de 10 km de
ciclovias até 2012. Embora não haja um
censo oficial sobre o assunto, estima-se
que cerca de 370 mil pessoas usem bici-
cleta diariamente na capital paulista.
Avenida Paulista.

RODOVIAS&VIAS 49
MOBILIDADE urbana

foi feita com moradores das regiões


Revolução por onde passam as faixas exclusivas
das bikes para bicicletas e revela, ainda, um au-
Há pelo menos 40 km de ciclovias mento de 34% no número de ciclistas
nos caminhos percorridos por Londres, já no primeiro mês de uso das ciclo-
capital da Inglaterra, para se tornar a ci- vias.
dade mais verde do mundo até 2012. As
ciclofaixas foram inauguradas em me- Investimento
ados do ano passado e, pelo que mos-
tram estudos feitos na cidade, agradam
os londrinos e começam a dar resulta- A prefeitura de Londres aposta forte-
do no que diz respeito à diminuição do mente no uso de bicicletas como meio de
trânsito. Ciclovias, bicicletas para loca- transporte. Para isso, os investimentos do
ção, aulas e áreas específicas para esta- ano passado para cá já superam 116 mi-
cionamento das bikes fazem parte de lhões de libras (algo em torno de R$ 330
um projeto da cidade batizado de “Re- milhões), incluindo infraestrutura ciclística
volução das Bicicletas”, que tem como local, treinamento, promoção e educação.
objetivo transformar Londres na capital A cidade já tem 40 km de ciclo-
mundial dos ciclistas. vias e 94 pontos de parada de bici-
Uma pesquisa feita recentemente cletas – além de 2.372 vagas de es-
pelo Conselho de Transporte de Lon- tacionamento e 1.362 horas de aulas
dres mostra que o número de viagens de ciclismo realizadas. Mas os planos
feitas de bicicleta na capital aumentou ainda preveem algo bem mais auda-
70% desde junho passado, quando as cioso: a prefeitura quer aumentar em
ciclovias foram implementadas. Em 400% o número de ciclistas na cidade
algumas regiões, segundo o levanta- até 2025, em comparação aos dados
mento, o aumento foi de mais de 100% de 2010. Isso significa, portanto, mais
durante o horário de pico. A enquete de 1 milhão de viagens diárias.

EM LONDRES, DESDE JUNHO de 2010, o número de VIAGENS COM


BICICLETAS CRESCEu 70%, segundo o conselho de transporte da cidade.

50 RODOVIAS&VIAS
CICLISTAS PEDEM PASSAGEM
Foto: Rodovias&Vias/Leonilson Gomes

Capacete para compensar a insegurança devido à falta de espaço.

Estados Unidos a pedalarem. O movimento contrário é


grande. Há quem reclame que “a maioria
Uma das metrópoles com trânsito da população, que não pedala”, está sendo
mais complexo do mundo, Nova York prejudicada ao ser impedida de fazer con-
também tem apostado nas bicicletas versões em algumas áreas ou mesmo por
como alternativa ao caos promovido perderem espaços de estacionamento.
por carros e ônibus. O incentivo ao uso
desse meio de transporte é uma das Locação
metas do atual prefeito, Michael Bloom-
berg. Os números dão uma ideia do Algumas cidades já foram além das
tamanho da aposta: nos últimos qua- ciclovias e oferecem sistemas eficientes
tro anos, foram construídos 410 km de de locação de bicicletas. No Brasil, a cida-
ciclovias na Big Apple, segundo um le- de do Rio de Janeiro oferece um sistema
vantamento publicado no jornal The com 190 bicicletas em 19 pontos espalha-
New York Times. Não há dúvidas, por- dos em alguns bairros da cidade. Blume-
tanto, de que a bicicleta se tornou cru- nau, em Santa Catarina, e João Pessoa, na
cial no sistema de transporte da cidade. Paraíba, também já têm sistema parecido.
A mesma reportagem, contudo, Na capital paulista, um serviço similar
alerta que agora o grande problema está em fase de testes na Universidade
tem sido convencer os novaiorquinos de São Paulo (USP). Inicialmente, serão

RODOVIAS&VIAS 51
MOBILIDADE urbana

Foto: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi

No ano passado a prefeitura de Curitiba usou R$ 26 mil dos R$ 2 milhões previstos para ciclovias.

instaladas duas estações com quatro poucos dias, mais de 11 mil pessoas se
bicicletas. Neste primeiro momento, a cadastraram para usar uma das 5 mil bi-
ideia é que as bicicletas sejam utiliza- cicletas disponíveis na cidade, em vários
das para trajetos curtos, então o em- pontos.
préstimo é gratuito por 10 minutos. Em Montreal, a segunda maior cida-
Por enquanto, o aluguel está disponí- de do Canadá (quase 4 milhões de habi-
vel para professores, alunos e funcionários tantes), a prefeitura implantou, em maio
da USP. Para usar a bicicleta, é preciso se de 2009, o sistema Bixi. Atualmente,
cadastrar no terminal do Pedalausp usan- são mais de 5 mil bicicletas disponíveis
do a carteirinha da universidade – uma se- para locação em mais de 400 estações
nha é gerada, a qual libera a bicicleta. de autosserviço. No centro da cidade e
nos bairros próximos, encontra-se uma
estação a cada duas quadras – elas têm
No mundo espaço, em média, para 20 bicicletas.

Principalmente na Europa, o sistema


é bem mais popularizado e abrangente. Aluguel de carros
Paris, a capital francesa, se tornou um
exemplo de “cicloativismo”. Seu pro- Ao que parece, a capital francesa
grama de aluguel de bicicletas, o Vélib, quer continuar a criar tendência. Em
lançado em 2007, é modelo para outras outubro, ela deve começar a oferecer
cidades do mundo todo. Atualmente, aos seus habitantes e turistas 3 mil car-
estão disponíveis cerca de 20 bicicletas. ros “ecológicos”, também para locação.
E os planos aprovados pela Câmara Mu- O Autolib, como é chamado o serviço,
nicipal em junho passado mostram que contará com cerca de mil estações nas
a cidade quer ir além: até 2014, Paris vai quais poderão ser retirados e devolvi-
ampliar sua rede de ciclovias dos 440 dos os carros elétricos, com o pagamen-
km atuais para 700 km. to de uma assinatura e o tempo de uso.
Londres e Bruxelas são duas cidades A previsão é que haverá cerca de 700
que copiaram o modelo. A capital britâ- estações somente em Paris. Outras 40
nica adotou um sistema parecido com o cidades francesas também devem ado-
francês em meados do ano passado. Em tar o sistema.

52 RODOVIAS&VIAS
RODOVIAS&VIAS 53
54 RODOVIAS&VIAS
RODOVIAS&VIAS 55
AVIAÇÃO

À espera de
uma vitória
Desde 2005, o aeroporto de Vitória aguarda a conclusão das obras
de melhoria de suas instalações e capacidade. Um dos principais do
país e integrante da rede de aeroportos sob responsabilidade da
Infraero, viu seu movimento atingir 2,7 milhões de pessoas em 2010,
apesar de ter sido concebido para receber 570 mil passageiros ao ano.
Foto: Rodovias&Vias / Gustavo Louzada

56 RODOVIAS&VIAS
a espera de uma vitória

S e em seis anos não foi possível resolver a situação,


fica clara a preocupação diante das necessida-
des do futuro próximo: aeroportos preparados para os
grandes eventos de 2014 e 2016.
O próprio Governador do Espírito Santo, Renato
Casagrande, afirmou, durante entrevista exclusiva à
Rodovias&Vias (edição de fevereiro), que o aeroporto
de Vitória “é o pior aeroporto do Brasil”. Ainda que ou-
tros aeroportos possam competir com o capixaba pela
triste liderança, suas condições realmente deixam a de-
sejar no quesito “capacidade”.
Em 2010, registrou movimento de 2,7 milhões de
passageiros – e foi concebido para atender 570 mil pes-
soas por ano –, estando, portanto, quase cinco vezes
acima de sua capacidade. As obras de melhoria do aero-
porto Eurico Salles, o principal do Espírito Santo, come-
çaram em 2005, mas pararam em 2008, após problemas
com o Tribunal de Contas da União (TCU).
Desde então, a situação ficou estagnada. O gover-
no do estado se vê de mãos atadas, já que se trata de
uma ação (a melhoria da infraestrutura aeroportuária)
de competência federal. O Senador pelo Espírito Santo
Ricardo Ferraço (PMDB) sugeriu ao Governador Casa-
grande que conversasse em Brasília para poder assumir
as rédeas da obra. Segundo Ferraço, “não dá mais para
suportar a falta de capacidade da Infraero” para resolver
o problema.
Para piorar a situação, recentemente a Infraero as-
sinou um convênio com o Exército para a realização de
obras no Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo,
pouco tempo depois de o próprio Exército ter se nega-
do a assumir as obras em Vitória, o que, no entendimen-
to do Senador, deixou claro que o aeroporto capixaba
não é prioridade para a empresa aeroportuária federal.

Solução proposta
Para os representantes do Espírito Santo, a solução
seria o governo federal repassar os recursos já reserva-
dos para as obras do aeroporto e deixar que o estado se
encarregue. “Temos que resolver a situação. Já fiz um
apelo à Presidente Dilma para nos ajudar. Estive com o
Ministro Nelson Jobim, na Diretoria da Infraero, com o
Ministro Palocci e com o Vice-Presidente Michel Temer.
Faremos questão em colaborar”, disse o Governador Re-
nato Casagrande.
Por enquanto, nem após a criação da Secretaria de
Aviação Civil (SAC) com status de Ministério a solução
pareceu decolar. O Ministro da Secretaria de Aviação Ci-
vil, Wagner Bittencourt, afirmou, em evento no início de
maio, que “é necessário melhorar a governança nos ae-
roportos brasileiros”. Na mesma ocasião, o Ministro dis-
se que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômi-
co e Social (BNDES) divulgaria em breve um estudo so-
bre a situação aeroportuária, incluindo as modalidades
Pouco espaço para o desembarque tumultua o terminal.

RODOVIAS&VIAS 57
AVIAÇÃO

de concessão de três aeroportos – Guaru-

Foto: Divulgação
lhos, Campinas e Brasília –, o que deixou
de fora outros considerados importantes,
como o do Rio de Janeiro (Galeão) e o de
Vitória.
A criação da Secretaria de Aviação
Civil pode revigorar a estrutura adminis-
trativa do setor no país (veja quadro). So-
mente a Infraero possui 36.744 profissio-
nais, dos quais 13.480 são concursados e
mais de 23 mil são terceirizados, segundo
a própria empresa. A tendência é o cresci-
mento da participação privada na gestão
dos aeroportos nacionais, mas a discus-
são está apenas começando.
Enquanto os entendimentos técni-
cos e políticos não se concretizam, os
usuários do aeroporto capixaba seguem
esperando as melhorias que façam jus ao
nome da cidade que o abriga e ao senti-
mento que pode surgir da solução para
seus problemas: Vitória! Senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).

58 RODOVIAS&VIAS
RODOVIAS&VIAS 59
Tamoios em dobro
Um dos principais corredores de ligação entre interior e litoral de São Paulo está prestes a
receber investimentos que renovarão sua dinâmica. A Rodovia dos Tamoios, assim denominada
em homenagem à etnia indígena que habitava a região no passado, será duplicada pelo sistema
de Parceria Público-Privada (PPP), segundo anúncio do governo do estado.
Fotos: Rodovias&Vias / Leonilson Gomes

60 RODOVIAS&VIAS
RODOVIAS&VIAS 61
rodovias

I naugurada em 1957, a SP-099, mais


conhecida como Rodovia dos Ta-
moios, faz a ligação entre São José dos
opções de traçado, e está sendo conclu-
ído o modelo de PPP para apresentação
ao PED (Programa Estadual de Desesta-
Campos e Caraguatatuba, no litoral tização), etapa indispensável para reali-
paulista. Suas curvas, belas durante o zação da obra.
dia e perigosas durante a noite, ganha- A previsão é de que 70% dos recursos
rão reforços com a duplicação prevista para as obras sejam custeados pelo poder
para seus 82 km de extensão. público na PPP. Os investimentos totais es-
A duplicação anunciada pelo gover- timados giram em torno de R$ 4 bilhões. A
no do estado de São Paulo será execu- duplicação é estratégica para o movimen-
tada por uma Parceria Público-Privada to intenso de veículos em datas especiais,
(PPP) e, segundo a assessoria de comu- como feriados e fins de semana, e também
nicação oficial, o projeto de duplicação para o transporte de cargas até o porto de
está em pleno andamento. São cinco São Sebastião, no litoral norte paulista.

62 RODOVIAS&VIAS
TAMOIOS EM DOBRO

SP-099, que liga São José dos Campos ao litoral paulista.

Os principais desafios da obra estão com as rodovias Via Dutra (BR-116), Car-
na complexidade dos trabalhos – cons- valho Pinto (SP-70), Estrada das Pitas (SP-
trução de túneis, cuidados com áreas de 88) e Rio-Santos (SP-55/BR-101).
preservação, traçado nas áreas monta-
nhosas – e na aprovação ambiental ne-
cessária para liberação do empreendi- Obras
mento, que deve levar mais de três anos
para ser concluído. Segundo a Secretaria Estadual de Lo-
No início do ano, o Governador Ge- gística e Transportes de São Paulo, a SP-
raldo Alckmin deixou claro que o proje- 099 atualmente passa por obras de me-
to é “absolutamente prioritário”. Consi- lhoria na extensão do trecho entre o km
derada principal acesso ao litoral norte, 11,5 e o km 64,4.
a Tamoios tem um fluxo médio de 20 Estão sendo realizados serviços de
mil carros por dia e mais de 40 mil nos recapeamento, drenagem, sinalização
fins de semana de verão. e elementos de segurança. Além disso,
Com a duplicação, será necessário uma ponte já foi implantada no km 18 e
também executar obras de contornos e outra está sendo construída no km 28. As
acessos nos municípios por onde passa a obras estão previstas para serem concluí-
rodovia – São José dos Campos, Paraibu- das no próximo semestre, e o investimen-
na e Caraguatatuba – e em intersecções to é de cerca de R$ 46 milhões.

RODOVIAS&VIAS 63
VANTAGENS E BENEFÍCIOS DO WHITETOPPING NA
REABILITAÇÃO DE PAVIMENTOS
Autor
Marcos Dutra de Carvalho, Engenheiro Especialista Itaipava - Teresópolis/RJ (BR 495), construído
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) em 1928 e que se encontra em serviço até hoje, há
mais de 80 anos, conforme mostrado na Fig. 1.
WHITETOPPING: O QUE É? Construção
Os equipamentos de formas deslizantes de úl-
O Whitetopping é o recapeamento de pavi- tima geração, disponíveis no País, têm alto rendi-
mentos asfálticos com concreto de cimento por- mento e produtividade, possibilitando a produção
tland. A origem do termo refere-se à execução de diária de grandes extensões de pista, com largura
camada de cor cinza claro (pavimento de concre- total, caracterizando grande rapidez de execução.
to), com a função de base e revestimento, a ser Esse fato já foi comprovado em obras recentes aqui
colocada sobre um revestimento asfáltico exis- executadas e em execução.
tente, de cor escura (“cobertura branca”). Segurança e conforto de rolamento
Esta técnica, consagrada há anos nos Estados A aderência entre os pneumáticos e a superfície
Unidos, já teve emprego muito bem sucedido no do pavimento de concreto é favorecida pela existên-
Brasil, na BR-290 (trecho Porto Alegre-Osório) e cia das ranhuras artificiais, evitando hidroplanagem e
na rodovia SP-103/79, em São Paulo. Atualmen- proporcionando menor distância de freagem.
te, encontra-se em execução na Serra de São Vi- Ecologia e meio ambiente
cente (BR 163/364), próximo a Cuiabá/MT. A superfície clara do concreto contribui ainda
O concreto empregado no whitetopping é o tra- para a redução da temperatura ambiente, minimi-
dicionalmente usado em pavimentos rígidos, com zando os gastos com ar condicionado e reduzindo
resistência característica à tração na flexão (fctM,k), a poluição ambiental nas cidades. O pavimento de
medida aos 28 dias, da ordem de 4,5 MPa concreto é um aliado efetivo da proteção ambiental,
por motivos diversos:
VANTAGENS E BENEFÍCIOS DO WHITETOPPING - não aumenta a temperatura do ar; reduz a
As vantagens e os benefícios da adoção do white- temperatura ambiente cerca de 5ºC e a temperatura
topping na reabilitação de pavimentos asfálticos enqua- próxima à superfície de cerca de 14ºC;
dram-se em pelo menos seis categorias, que se interli- - é totalmente reciclável ao fim de sua vida útil;
gam, a saber: economia, técnica e desempenho, cons- - a estrutura do pavimento de concreto é menor
trução, segurança e conforto de rolamento, ecologia e que a correspondente em outra alternativa;
meio ambiente, e normatização, resumidas a seguir. - o cimento portland agrega valor a subprodutos
Economia industriais que não teriam uso prático senão de ser
A análise comparativa da viabilidade técnica e incorporado na fabricação do cimento;
econômica de projetos de pavimentos de concre- - o whitetopping permite significativa economia
to (rígidos) e asfálticos (flexíveis) tem comprovado de combustível e redução na emissão de gases gera-
que, a médio e longo prazo, os primeiros acarretam dores do efeito estufa pela frota circulante, conforme
sempre menor custo anual, considerada a sua gran- estudos da American Concrete Pavement Association
de durabilidade e a desnecessidade de gastar recur- (ACPA), dos EUA.
sos na sua manutenção. Normatização
Técnica e desempenho O emprego do whitetopping no nosso país é
É característica inerente de um pavimento técnica consagrada de reabilitação de pavimentos
de concreto a grande durabilidade, que se deve asfálticos, haja vista os excelentes resultados obti-
às propriedades estruturais do material: eleva- dos com as obras já executadas, sendo a sua cons-
da resistência mecânica e ao desgaste, e pra- trução regida por procedimentos normatizados,
ticamente impermeável. Exemplos no País, de conforme detalhado na norma DNIT 068/2004 – ES
pavimentos de concreto cujo comportamento – Pavimento Rígido – Execução de camada super-
excedeu até mesmo as previsões mais otimis- posta de concreto do tipo whitetopping por meio
tas, como o pavimento de concreto da Serra de mecânico – Especificação de Serviço.

64 RODOVIAS&VIAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vê-se que esta tecnologia é uma excelente
solução da engenharia para reabilitar a malha
rodoviária nacional.As Figs. 2 a 4 ilustram a exe-
cução do whitetopping na Serra de São Vicente/
MT (Rodovia BR 163/364), importante obra em
execução no Brasil.

Figura 1 - Serra de Itaipava - Teresópolis/RJ

Fig.2 –
Execução do
whitetopping
com
vibroacabadora
de formas
deslizantes.

Figura 2a - espalhamento e adensamento. Figura 2b - acabamento mecânico

Figura 3a - acabamento final com réguas metálicas Figura 3b - desempenadeiras metálicas de cabo
longo

Figura 4a - texturização manual Figura 4b - texturização manual

As Figs.
5 e 6 mos-
tram trechos
do white-
topping da
Serra de
São Vicente/
MT, já em
serviço há
cerca de um
ano.

Figura 5 Figura 6

RODOVIAS&VIAS 65
Do porto à marina
Administração do porto de Itajaí investe em área para lazer náutico.
Fotos: Rodovias&Vias / Leandro Dvorak

Saco da Fazenda, local onde será construída a marina.

66 RODOVIAS&VIAS
O porto de Itajaí, em Santa Catari-
na, concluiu estudos de viabili-
dade técnico-econômica para a cons-
uma necessidade no Brasil. “Estamos
em um momento de aumentar o nú-
mero de marinas no Brasil. Itajaí é um
trução de uma marina com espaço para município que tem grande parte do
850 barcos de lazer. território voltado para o mar e é funda-
A marina será administrada pela mental uma marina para alavancar sua
iniciativa privada, numa espécie de economia”, afirma ele.
concessão. Após a conclusão, a admi- Ainda segundo o estudioso, existe
nistração do porto delegará as opera- a necessidade de adaptação dos ór-
ções a uma empresa por um período gãos ambientais para este tipo de em-
predeterminado em contrato. O Com- preendimento, que é novo no estado.
plexo Náutico Ambiental do Saco da “Santa Catarina, ao contrário do estado
Fazenda, como foi batizado, terá 734 de São Paulo, não tem uma lei de mari-
vagas molhadas e 116 vagas secas, em nas, não tem uma regulamentação de
uma área de 132 mil m2, próxima ao ca- uso. O empreendimento envolve uma
nal de acesso do porto de Itajaí. O Saco questão socioeconômica, de como a
da Fazenda compõe área de mangue e sociedade vai lucrar com a marina. A
é bastante frequentado por pescadores outra questão, que é mais preocupan-
artesanais. Por outro lado, recebe saída te, é se os órgãos ambientais, tanto
de esgoto de diversos pontos da cidade municipal quanto estadual, têm condi-
e seu manejo sempre foi tema de dis- ções de monitorar de uma forma ade-
cussões ao longo dos anos. quada a performance da marina”, con-
clui Polette.
Necessidade O projeto está em fase de licencia-
mento ambiental e a expectativa dos
Segundo o especialista em Gestão administradores do porto é que o edi-
Costeira da Universidade do Vale do tal de licitação seja lançado nos próxi-
Itajaí Dr. Marcos Polette, as marinas são mos meses.
Ilustração: Divulgação

O projeto prevê vaga para 850 barcos.

RODOVIAS&VIAS 67
CONCESSÕES

Trégua para as
estradas
Um entendimento entre o governo do estado do Paraná e as
concessionárias de rodovias paranaenses parece estar a caminho. As
140 ações judiciais existentes envolvendo os dois coadjuvantes da
batalha foram suspensas por 180 dias para um diálogo que promete
favorecer o maior interessado: o usuário.
Foto: Divulgação

68 RODOVIAS&VIAS
TRÉGUA PARA AS ESTRADAS

A s soluções parecem promissoras,


ainda que não sejam facilmente
alcançáveis; afinal, ambos têm, de cer-
investimentos previstos nos contratos
e a retomada de projetos para novas
obras. José Richa Filho disse que sem re-
ta forma, a razão. O governo estadual dução de custos de transporte fica cada
alega a necessidade da retomada dos vez mais difícil trazer novas indústrias
investimentos, das obras de melhorias para o estado. “O pedágio, para dar um
e da redução dos pedágios. As conces- exemplo, faz parte das planilhas de cus-
sionárias, por outro lado, pedem inde- tos das empresas”, disse o Secretário.
nizações por reajustes não concedidos As concessionárias se mostram dis-
desde o início dos contratos. postas a sentar à mesa, e a expectativa
A origem dos problemas está no das partes é encontrar o equilíbrio den-
passado de insegurança jurídico-eco- tro dos próximos seis meses. Em declara-
nômica dos anos 90, quando os contra- ção à imprensa sobre o caso, o Governa-
tos foram redigidos (1998). O Secretário dor do estado, Beto Richa (PSDB), disse
de Infraestrutura e Logística do Paraná, que existe a possibilidade de prorrogar
José Richa Filho, lembra que os atuais o prazo dos contratos, que vencem em
contratos foram firmados quando o 2022, e enfatizou que para os usuários
país “ainda não tinha expertise para re- o que importa é o preço justo dos pedá-
alizar contratos a longo prazo. Além dis- gios e a qualidade das rodovias.
so, naquele momento havia riscos en- Para auxiliar a busca por soluções da
volvidos com o custo da moeda e não complexa situação, a Secretaria de Infra-
havia segurança jurídica para as conces- estrutura e Logística não descarta, ainda,
sionárias. Tudo isso pressionou o valor a possibilidade da criação de agência
dos contratos. Mas agora a situação é reguladora para encarar as negociações
outra e as duas partes estão dispostas a com representação técnica. Seja qual for
sentar à mesa”. o melhor caminho, o importante é que a
O governo do Paraná busca o en- trégua entre os personagens envolvidos
tendimento para três metas: a redução gere os resultados ao mais importante
dos preços dos pedágios, a garantia dos ator em cena nas rodovias: o usuário.

“Agora a situação é outra e


as duas partes estão dispostas
a sentar à mesa.”

José Richa Filho


Secretário de Infraestrutura e Logística do Paraná

RODOVIAS&VIAS 69
70 RODOVIAS&VIAS
RODOVIAS&VIAS 71
TURISMO

A sorte acompanha
Roraima
O estado mais ao norte do Brasil guarda surpresas a cada passo. Visitar Roraima
é marcar um encontro com paisagens geográficas lindas e curiosas. A proximidade
com a Venezuela e a Guiana influencia os roraimenses, que refletem isso em seus
costumes.
Fotos: Rodovias&Vias/Oberti Pimentel

Por do sol no Norte do país é um convite à reflexão.


72 RODOVIAS&VIAS
a sorte acompanha RORAIMA

U ma foto esmaecida em tons de


aquarela sobre a cama recep-
ciona os olhos cansados de mais de
pudemos ouvir pelas palavras ditas por
Gustavo Abreu, jornalista baiano e rorai-
mense convicto, o termo mais correto a
12 horas de voos e conexões sobre o ser empregado para definir a diversida-
continental país que temos a ousadia de – como no famoso título do livro Os
de chamar de nosso. A impressão de Sertões, de Euclides da Cunha, que faz
sermos quase estrangeiros em um ter- referência aos vários tipos regiões com
ritório comum, detectada no sotaque tais características –, seria o plural do
tímido do homem que dirigia a picape substantivo: “Amazônias”.
que buscou a equipe da Rodovias&Vias Plural, na verdade, é a única invenção
no Aeroporto Internacional Atlas Brasil da linguística humana capaz de conceitu-
Cantanhede, em uma madrugada sere- ar corretamente o raciocínio que impera
na de Boa Vista, é reforçada quando os por estas bandas, pois é nela que mora a
pés descalços tocam a ardósia surpre- “alma do negócio”, literalmente. E é essa
endentemente morna do piso do ho- a razão pela qual acreditamos que a estu-
tel. A tal foto, quase uma pintura, uma penda porcentagem de território natural
reprodução aumentada feita à base de já mencionada pouco ou nada se alterará
grânulos de prata, muito antes dos me- ao longo dos anos, pois a ideia é de fato
gapixels quadricularem tudo, represen- um traço cultural das pessoas com as quais
ta o Monte Roraima. falamos em Roraima. Este caldo, compos-
Aplicamos a palavra “estrangeiro” to por gente que vem de todo o Brasil,
pela curiosidade natural que cerca a to- atraída pelas inúmeras oportunidades,
dos os que se perguntam sobre os afa- resulta em um tipo de interação própria,
zeres que trouxeram este pessoal que que inclui elementos das tribos indígenas
“veio de tão longe para cá”. É neste mo- locais, como os Waimiri Atroari, donos de
mento que fica também evidenciada a padrões estéticos e artísticos singulares.
hospitalidade dos roraimenses, e que Tais contribuições estendem-se também
não esconde uma certa ansiedade. Es- à culinária. Apesar de relativamente pe-
tão ansiosos por compartilhar a mesma quena para uma capital, Boa Vista conta
generosidade da terra que os circunda com opções gastronômicas que refletem
– a floresta deles possui biomas muito a diversificação com que foi constituída.
distintos, que cobrem 62% do territó- Do tacacá (espécie de sopa com camarões
rio do estado e são intocados pelo ho- e jambú, uma erva da região) aos sushis ja-
mem. Seus biomas incluem, ainda, o poneses (inclusive de peixes amazônicos),
clássico panorama de floresta fechada do churrasco tipicamente sulista à famosa
que povoa o imaginário de milhões de paçoca (neste caso, de carne seca desfiada
pessoas no Brasil e no mundo quando a e banana), é possível encontrar sempre sa-
palavra Amazônia é mencionada. Como bores capazes de agradar a todos.

A RR-203 leva à região serrana do Tepequém.


RODOVIAS&VIAS 73
TURISMO

as belezas do quando para evitar as praias lotadas, o


som alto dos vizinhos e os engarrafamen-
tepequém tos na saída dos “feriadões”. A sensação
de satisfação começa já pela estrada que
Um espaço obrigatório a ser visitado leva até lá (em excelente estado de con-
é o Tepequém. Trata-se de uma região servação, bem sinalizada e pavimantada),
serrana, de clima mais ameno, que pare- que proporciona, além de prazer para
ce uma versão amazônica dos refúgios quem gosta de dirigir, cenários encanta-
de campo que procuramos de vez em dores e curiosos, como a “cara do índio”,

Na serra do Tepequém, localiza-se a Estância Ecológica do Sesc,


uma área destinada ao turismo ecológico, com cabanas e infra-
estrutura para acomodações de turistas. Fica à margem da RR-203.

74 RODOVIAS&VIAS
a sorte acompanha RORAIMA

entre formações rochosas e pitorescas. No meio da selva,


A RR-203 premia os que terminam de
percorrê-la com revigorantes banhos de no baixo Rio Branco
cachoeira. Transparente. Aliás, esse é um
adjetivo um tanto turvo para descrever a O pequeno turboélice repentina-
limpidez das águas de lá, cuja refrescância mente faz uma curva fechada à esquerda.
ameniza o relativo esforço para acessá- Subitamente, as copas das árvores apro-
-las. Os caminhos não chegam a ser trilhas ximam-se da fuselagem e, sem maiores
de montanhismo, mas complicam a res- cerimônias, os pneus cantam no asfalto
piração dos mais sedentários. Pensando de uma pista que à primeira vista parece
em democratizar o acesso a estas belezas curta. O piloto abre sua porta, caminha
(não apenas para jornalistas fora de for- calmamente até a porta traseira e a abre
ma, mas para todas as pessoas) é que os para que os passageiros desçam. Um ca-
moradores e empresários da região estão minho cimentado, pintado de verde e
em adiantadas conversas com o governo com grama bem aparada leva ao hall do
estadual para implementar as melhorias 4.º melhor lodge (uma espécie de hotel)
necessárias dentro de um planejamento de pesca esportiva do mundo, o Água
ambientalmente responsável. Boa Amazon Lodge. É um dos proprietá-

Cachoeira do Paiva / Tepequém.

RODOVIAS&VIAS 75
TURISMO

rios, o simpático e bonachão Jean, quem é tamanha que não são permitidos mais
recebe a nossa pequena comitiva. Com do que cinco ou seis pescadores simulta-
ares de “show man”, ele dá as boas-vin- neamente em determinados braços do
das, descreve as dependências, apresenta rio. Também é observada com atenção
as instalações e comenta sobre as mara- a época da piracema, momento em que
vilhas da cozinha – peixes não estão no várias espécies se reproduzem: “Nós te-
cardápio, pois trata-se de um empreen- mos aqui um hotel de selva no Baixo Rio
dimento com fortíssimo cunho preserva- Branco, eleito pela revista Forbes como
cionista. Sequer os exemplares que fazem o quarto melhor pesqueiro esportivo do
a alegria dos pescadores lá hospedados mundo, nós temos as regiões de serra be-
são machucados na atividade: é proibido líssimas, cacheiras, um estado preserva-
usar anzóis com “fisga” (aquela rebarba do, uma natureza totalmente virgem para
que invariavelmente machuca a boca do mostrar para o mundo.”, avalia o governa-
peixe quando se vai tirá-la). Prevalece a dor José de Anchieta.
técnica do fly fishing, que usa iscas artifi- Mas nem tudo são “flores”, pois nos
ciais que reproduzem pequenos insetos deram conta de que, infelizmente, há
e imitam as iguarias preferidas de tucuna- pescadores de outras regiões que sobem
rés, aruanãs e pirarucus. Assim, segundo o rio e praticam uma pesca predatória e
nos conta Jean, “temos o nosso protago- extremamente prejudicial. Quando da
nista, o peixe esportivo e principal motivo nossa estada, tivemos acesso a um plano
de quem nos procura, garantindo a diver- do governo do estado que visa fiscalizar
são de muitos e muitos hóspedes ao lon- esta área. Perto de tornar-se realidade,
go de bastante tempo. Devolvê-lo ao rio, por intermédio da FEMACT (Fundação Es-
além de mostrar respeito, é uma forma tadual do Meio Ambiente, Ciência e Tec-
de não interferir nas populações”. Sobre nologia), a previsão é de que, além de um
o perfil de quem normalmente se hospe- posto de fiscalização flutuante, o órgão
da no lodge, ele comenta, casualmente: receba ainda equipamentos e embarca-
“O Bush pai já veio brigar com tucuna- ções para suas abordagens, que, diga-se
ré aqui”, diz com um sorriso divertido. A de passagem, são arriscadas, pois comu-
preocupação em preservar as espécies mente estes pescadores estão armados.

Governador José Anchieta é o principal entusiasta de Roraima.

76 RODOVIAS&VIAS
a sorte acompanha RORAIMA

o água boa amazon é o 4.º maior lodge de pesca esportiva do


mundo, onde também é desenvolvido um trabalho intenso contra a
pesca predatória.

bv-8, onde é possível


vidamente subsidiada pelo Presidente
estar em dois lugares Hugo Cháves), que chega às bombas do
ao mesmo tempo cidadãos venezuelanos a cinco centavos
de real o galão. Nos postos específicos
O marco da fronteira brasileira e ve- para brasileiros, paga-se 20 vezes este
nezuelana vale a visita pela experiência preço. Um ágio que eleva o preço por litro
“internacional”. Detalhe interessante na a R$ 1,00. Peculiaridades mercadológicas
estrada que leva a Santa Helena de Uai- e de commodities à parte, a paisagem na-
rén, primeira cidade após a fronteira: há tural por lá já é bem diferente em relação
um trecho de declive que parece desafiar à da porção brasileira do território. Um
a gravidade. Ao “soltar” o carro, deixando- pouco mais densa, assemelha-se a uma
-o no “neutro”, ele para e volta a subir. Na mistura de cerrado e coxilhas, com gra-
verdade, trata-se de uma ilusão de ótica, míneas baixas. Tirando os carrancudos e
pois o corpo não tem noção exata da in- desconfiados soldados venezuelanos, a
clinação até que se desça do veículo. sensação é de estar em um filme dos anos
A algumas poucas horas de estrada 70 (a maioria dos carros circulando por lá
de Boa Vista, Santa Helena não possui são aquelas “banheiras” americanas des-
nenhum grande atrativo além de um free sa época). Em tempo: a fronteira fecha-se
shop, onde os preços de importados são às 22h, mas, sob qualquer ponto de vista,
incrivelmente baratos (o Real vale bem é muito melhor voltar a Roraima e, que o
mais que o Bolívar – quando estávamos diga, à sua bem estruturada capital. Aliás,
lá, a taxa era de 1 para quase 5) e é ainda voltar a Roraima parece ser uma boa pe-
mais incrivelmente barata a gasolina (de- dida sempre que se está distante de lá.

RODOVIAS&VIAS 77
TURISMO

Monte Roraima: Monte Roraima pelo então Presiden-


te José Sarney, em 1989, sua adminis-
Tríplice fronteira tração passou a ser responsabilidade
natural do ICMBio (Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade).
A mais de 2.500 m de altura, no Famoso pelo turismo de aventura, o
mais representativo dos tepuis (nome monte que cedeu seu nome ao estado
dado às formações rochosas às quais o representa uma experiência única, his-
Monte Roraima se integra), está locali- toricamente, politicamente, geologica-
zado um pequeno marco de concreto mente ou ecologicamente falando.
com uma forma semelhante a um pris- Ainda na, digamos, “área de abran-
ma, o BV-0. Do local, é possível visuali- gência” do famoso Roraima, está uma
zar o vértice que une o sul da Venezue- outra formação rochosa, o Monte Cabu-
la e o oeste da Guiana, ao extremo nor- raí, que reescreveu os livros de Geogra-
te do Brasil. Extremo é um bom adjeti- fia ao passar a ser considerado o ponto
vo para definir a sensação de liberdade mais extremo ao norte do país (antes da
e poder transmitida pela imponência correção do erro, era o Oiapoque que
do maciço, que em seu aplainado topo ostentava o título). A cerca de 80 km dis-
de cerca de 90 km de extensão guar- tante do Roraima, ambos estão incrus-
da segredos e abriga espécies que so- tados no município de Uiramutã, que
mente ali são encontradas. Tanto que, ano após ano está consolidando seu
após a criação do Parque Nacional do imenso potencial turístico.

Monte Roraima: 2.739 metros de altitude e 90 km de extensão.

78 RODOVIAS&VIAS
RODOVIAS&VIAS 79
AMAZONAS

um diamante no
Rio Negro
Descendo pelo rio Negro, pouco antes do encontro das águas com
o Solimões, o fluxo de embarcações é intenso. O translado de pessoas
e veículos entre uma margem e outra do rio pode levar até uma hora.
São em média 50 minutos para ir de Manaus à outra margem do rio, e
fazer a ligação com Iranduba, município vizinho. Além de tornar esta
travessia mais veloz, a ponte Manaus-Iranduba terá papel importante
Foto: Rodovias&Vias / Oberti Pimentel

na ligação rodoviária da Região Metropolitana para as cidades vizinhas


de Novo Airão e Manacapuru.

80 RODOVIAS&VIAS
SOBRE O RIO NEGRO

extensão total: 3.595 m


Números de vãos : 73
Extensão do trecho estaiado : 2 x 200 m
Altura do vão central : 55 m (calado aéreo)
Altura do mastro central : 106 m a partir do nível do tabuleiro

RODOVIAS&VIAS 81
AMAZONAS

A demora na travessia pelas águas


do rio Negro entre a capital ama-
zonense Manaus, e a cidade vizinha de
doce) fica no rio Orinoco, na Venezuela, e
tem apenas 5 m a mais que a do rio Ne-
gro.
Iranduba está com os dias contados. A obra foi um grande foco de empre-
A conclusão da gigantesca ponte, que gos no Amazonas, foram mais de 3.400
começou a ser construída no início de postos de trabalho criados diretamente
2008 e teve seu cronograma atrasado, e quase 10 mil indiretos. O projeto utili-
agora é certa. É o que garante o Secre- za a tecnologia de estais, já aplicada em
tário de Estado da Região Metropolitana outras pontes no Brasil e no mundo,
de Manaus, René Levy Aguiar. como explica o Secretário René Levy. “A
“A mudança na tecnologia das fun- grande diferença desta ponte para as
dações – de estacas pré-moldadas para demais é o ambiente em que se encon-
estacas escavadas – foi o principal fator tra. Ela se destaca por estar em uma bela
de alteração do prazo para a conclusão paisagem, além dos números que mar-
da obra, além de aspectos climáticos, cam as dimensões da obra”, acrescenta.
como fortes ventos e descargas atmos- São dois vãos livres do mastro central
féricas”, explicou o Secretário com ex- que tem mais de 170 m de altura a par-
clusividade para Rodovias&Vias, sobre tir do nível da água (cota 30) e dois vãos
o novo prazo estabelecido para a con- livres de 55 m por 200 m de largura, que
clusão do empreendimento. configuram o formato de diamante. Ela
Segundo René Levy Aguiar, o valor permite a navegação de qualquer tipo
total do empreendimento pode ultra- de embarcação ao longo do ano todo e
passar R$ 1 bilhão, se consideradas as pode ser vista a grandes distâncias.
obras das vias de acesso dos dois lados
do rio, os sistemas de proteção dos pi-
lares, de iluminação e de sinalização
náutica, todos complementares ao em- Iluminação
preendimento. As empresas Camargo
Corrêa e Construbase fizeram parte do Em maio ficou definido como a pon-
consórcio que tocou a empreitada, e te será iluminada. O consórcio das em-
atualmente apenas a primeira é res- presas Citeluz S/A, Engeform Ltda. e FM
ponsável pela obra. Do lado de Manaus, Rodrigues Ltda. vai executar os serviços
aproximadamente 300 imóveis foram por R$ 14,2 milhões. O projeto prevê a
desapropriados entre a Avenida Brasil e o implantação do sistema de iluminação
Estaleiro Rio Negro. Os 3,6 km de exten- viária da margem direita (Iranduba) e do
são da ponte fazem dela a maior sobre viário da ponte, além da iluminação cê-
água doce no Brasil e segunda no mun- nica do vão central. Para esta etapa, es-
do. A maior ponte do mundo (sobre água tão previstos 150 dias.

Secretário René Aguiar: “A grande diferença da ponte para as demais é o ambiente em que se encontra”.

82 RODOVIAS&VIAS
NA MEDIDA

metrô em florianópolis
Um metrô de superfície passará
pela Ponte Hercílio Luz, transportando
passageiros entre a ilha e o continente. É
o que o governo do estado espera com o
estudo de viabilidade técnica, econômica
e ambiental contratado durante as
comemorações do aniversário de 85 anos
da Hercílio Luz, cartão-postal da capital
catarinense. A emblemática ponte pênsil,
interditada desde 1991, é, depois da Golden
Gate, em São Francisco na Califórnia (EUA),
o modelo mais famoso de ponte pênsil
do mundo. Entre os principais pontos
abordados pelo estudo de viabilidade, está o
melhor modelo de veículo a ser utilizado, se
VLT (veículo leve sobre trilhos), VLP (veículo
leve sobre pneus) ou BRT (ônibus articulado), além das intervenções necessárias na cidade para
receber tal tipo de transporte. Já a ponte estará apta a receber qualquer um deles até 2014, que é
quando serão concluídas as obras de reabilitação pelas quais ela vem passando desde 2006.

Mais recurso para as vicinais


O Deputado Federal Edson Giroto (PR-MS), junto com
parlamentares companheiros de partido, decidiu incluir
recursos federais no Orçamento Geral da União para
atender as estradas vicinais dos estados e municípios. O
objetivo é reduzir o ônus dos prefeitos e governadores na
manutenção de rodovias utilizadas para escoar a produção
agrícola até as BRs. O partido quer sensibilizar o Ministério
do Planejamento para a importância de incluir no Plano
Purianual (PPA) esta possibilidade. Depois disso, passar para
Foto: Alexssandro Loyola

a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e, por último, a Lei


Orçamentária Anual (LOA). Giroto explicou que atualmente
estas vias só podem receber recursos de rubricas específicas,
citando o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária) ou projetos de agricultura familiar.
Deputado Giroto

RODOVIAS&VIAS 83
NA MEDIDA

Superávit
Tomara que o inverno de junho não esfrie as
exportações brasileiras. Na primeira semana de
maio, foram exportados US$ 5,29 bilhões, com
média diária de US$ 1,058 bilhão. O resultado
é 25,5% superior à média de US$ 843 milhões

Fotos: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi


registrada em maio de 2010. Neste comparativo,
aumentaram as vendas nas três categorias de
produtos. Nos semimanufaturados (44,9%), os
destaques ficaram por conta do ferro, aço e ouro,
óleo de soja em bruto, couros e peles e celulose.
Neste período, as importações somaram US$ 4,321.

Linha Executivo no
aeroporto de Brasília
O governo do Distrito Federal deu
início, no final de abril, à operação
da Linha Executivo Aeroporto.
Os passageiros contarão com
viagens em ônibus confortáveis
e diferenciados, equipados com
ar-condicionado, suspensão a ar,
DIivulgação

transmissão automática, vidros


fumê, TV, acesso à internet (conexão
Wi-Fi gratuita), bagageiro, acessibilidade a portadores de necessidades especiais ou com
mobilidade reduzida, através de rampa de acesso e local exclusivo para cadeirantes. “O início
das operações com os ônibus executivos é parte das ações do governo do Distrito Federal
voltadas para a melhoria do sistema de transporte público e como preparativo para adequar
a cidade de Brasília, sede de jogos da Copa do Mundo de 2014”, explicou o Secretário de
Transportes, José Walter Vazquez Filho. Os ônibus pertencem à Sociedade de Transportes
Coletivos de Brasília Ltda. (TCB). “O serviço será oferecido diariamente, inclusive aos sábados,
domingos e feriados”, enfatizou o Presidente da TCB, Carlos Alberto Koch Ribeiro.

Bahia na Itália
O Governador Jaques Wagner foi à Itália vender o peixe
baiano. Apresentou o seminário “Um olhar sobre o estado
da Bahia” em Milão, para um número de participantes maior
do que o previsto pelo consulado do Brasil na cidade e pela
Embaixada da Itália no Brasil. Mais de 100 empresários
acompanharam a palestra e se mostraram entusiasmados
com as possibilidades de negócios e investimentos na
Bahia nos segmentos de petróleo, gás e petroquímica,
setor automotivo, mineração, energias renováveis e
agroindústria. Durante a missão, Wagner conheceu a
fábrica da Margraf, empresa com mais de um século de
existência, especializada na extração e beneficiamento de
mármores e granitos, localizada em Chiampo.

84 RODOVIAS&VIAS
NA MEDIDA

Ônibus-túnel
A empresa chinesa Shenzhen Huashi criou o ônibus rápido tridimensional. Ele tem vagões e
estações e ainda passa por cima do trânsito. Segundo a engenheira Karen Li, o “ônibus” só precisa
de uma ampliação na faixa de rodagem de 60 cm e a construção das estações, o que representaria
apenas 10% do custo de construção por
quilômetro de um metrô. Isso para ocupar
duas faixas de rolagem em uma rua comum.
Como é todo movido a eletricidade, também é
mais barato de manter que um ônibus comum.
Fotos: Divulgação

“Ele pode custar até 30% menos”, afirma Li.


Outra vantagem do novo veículo é a rapidez na
implantação da infraestrutura.

FORA DA MEDIDA
Fogo na ANTAQ
A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) suspendeu temporariamente o
atendimento nas áreas de navegação marítima e de apoio, em consequência do incêndio
que atingiu as instalações do órgão no Rio de Janeiro, no último dia 22. Até que o trabalho
seja reativado, armadores e agentes marítimos poderão obter informações diretamente na
sede da Antaq, em Brasília. O fogo teve origem em uma sala comercial no décimo andar
do prédio onde funciona a Agência, no centro da Capital, e subiu para os demais andares.
O incidente deve afetar, ainda que provisoriamente, a rotina de atividades relacionadas à
navegação de longo curso e de cabotagem e ao apoio marítimo e portuário.

Santa Catarina tem as estradas mais violentas do Brasil.

Um estudo realizado pelo Departamento


Nacional de Infraestrutura de Transportes
(Dnit) revelou que Santa Catarina é o estado
que tem proporcionalmente as estradas
federais mais violentas. De acordo com o
levantamento, acontece, em média, uma
morte para cada 6 km de rodovia. O Paraná
é o segundo colocado, com um óbito a cada
8,7 km, seguido por Minas Gerais (uma morte
a cada 13 km) e Bahia (uma morte a cada
14 km). A imprudência é apontada como
principal causadora das mortes. Somente no
ano passado, foram 562 em Santa Catarina.

BR-101.

RODOVIAS&VIAS 85
infopágina

86 RODOVIAS&VIAS
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88
Foto: Rodovias&Vias/Leonardo Pepi

RODOVIAS&VIAS
FotoLegenda
iMAGEM DO MÊS
São 600 toneladas rodando a uma velocidade média de 5 km/h
por pouco mais de 100 km. O reator, que saiu do porto de Paranaguá,
tem como destino final a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar),
da Petrobras, em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba. No
início do mês (dia 4), foi concluída a primeira parte da viagem, do km 0
ao km 11 da BR-277, trecho concedido à Ecovia. A segunda etapa será
maior, de aproximadamente 60 km, até a interseção da BR-277 com
o Contorno Leste. A partir daí, a carga circulará em direção à
refinaria por trecho administrado por outra concessionária, a
Autopista Planalto Sul, do grupo OHL.

RODOVIAS&VIAS 89
ARTIGO
MÃO DE OBRA:
O AGORA OU NUNCA
DA QUALIFICAÇÃO
melhoria da qualidade da educação no país. Não
Márcio Cancellara raro, empresas que decidem investir em pro-
Vice - Presidente da gramas próprios de capacitação esbarram no
Associação Brasileira de
Engenharia Industrial baixo nível educacional dos trabalhadores. Com
deficiências em habilidades básicas, como com-
preensão de texto e matemática, parte deles
permanece aquém das exigências de mercado,
mesmo após intensivos treinamentos.
O problema não é novo para as empresas, que
sempre o perceberam sob a forma de baixa eficiên-

A educação básica é a matéria-prima para a for-


mação dos profissionais que farão o desen-
volvimento do país nos próximos anos.
cia. Nos setores industriais, principalmente, a pro-
dutividade do operário brasileiro se mantém abai-
xo dos pares europeus, coreanos e norte-america-
O Brasil terá que empreender um esforço con- nos. A comparação entre a média de escolaridade
centrado e de longo prazo para superar a crise da no Brasil e nas nações mais industrializadas (agru-
mão de obra qualificada. A falta de recursos huma- padas na Organização para Cooperação e Desen-
nos já atinge praticamente todos os setores econô- volvimento Econômico – OCDE) ajuda a explicar a
micos e categorias profissionais e constitui, ao lado defasagem: enquanto por aqui ela não passa dos
da situação precária da infraestrutura, um dos princi- sete anos de estudos, nos demais países fica entre
pais gargalos para o crescimento econômico e social 12 e 14 anos. Superar atrasos como esse é condição
do país. tanto para promover a qualificação como para im-
No ano de 2011, deve ser gerado 1,7 milhão pulsionar a competitividade.
de postos de trabalho O setor de enge-
no Brasil, de acordo nharia, um dos primei-
com o Instituto de Pes- O Brasil tem apenas seis engenheiros ros a vivenciar o pro-
quisa Econômica Apli-
cada (Ipea). Mas ainda
para cada mil pessoas economicamente blema da carência de
profissionais, também
segundo o Instituto, ativas, enquanto nos Estados Unidos e no terá que passar por
parte das vagas não Japão o índice é de 25 engenheiros por mil mudanças de rumo. O
será preenchida em trabalhadores. Brasil tem apenas seis
razão da absoluta falta engenheiros para cada
de profissionais qualificados para ocupá-las. No mil pessoas economicamente ativas, enquanto
estado do Maranhão, por exemplo, que vive um nos Estados Unidos e no Japão o índice é de 25 en-
período de intensa atividade econômica, marca- genheiros por mil trabalhadores. Além do maior
do pela instalação de uma Refinaria Premium da incentivo para que jovens optem pela carreira, é
Petrobras, além de investimentos em fábricas, importante atualizar os currículos das instituições
termoelétricas e portos, quase 2 mil postos de- públicas e privadas em relação às demandas atu-
vem permanecer vagos. ais do mercado. Uma aliança entre o setor priva-
No início deste mês, o governo anunciou que do e governos poderia facilitar essa transição e
vai gerar 8 milhões de oportunidades de qualifica- preparar os profissionais que estarão no mercado
ção até 2014, por meio do recém-lançado Programa dentro de alguns anos.
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego É fato que todos os países que deram grandes
(Pronatec). Embora ainda não se saiba em detalhes saltos de desenvolvimento investiram em educa-
como o programa vai funcionar – nem como vai li- ção e qualificação. O Brasil, com todas as perspec-
dar com o desafio de contratar de forma imediata tivas positivas que tem no horizonte com a explo-
educadores suficientes para treinar todo esse con- ração do pré-sal e a realização dos megaeventos
tingente –, trata-se de uma iniciativa bem-vinda, esportivos, está diante da oportunidade histórica
dada a urgência em reverter o quadro de déficit de de fazer o mesmo. Não é apenas a oferta de mão de
pessoas qualificadas. Na perspectiva de longo pra- obra que está em jogo no momento, mas a nossa
zo, entretanto, os esforços devem se voltar para a própria capacidade de continuar crescendo.

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