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FE D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

DEUS, CRISTO E CARIDADE Ano 126 • Nº 2.146 • Janeiro 2008

ISSN 1413 - 1749


R$ 5,00

9 771413 174008
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Expediente Sumário
4 Editorial
Revista Espírita – 150 anos
11 Entrevista: Roger Perez
O papel da Revista Espírita na difusão da Doutrina Espírita
Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: Augusto Elias da Silva 14 Presença de Chico Xavier
Em nome do Evangelho – Emmanuel
Revista de Espiritismo Cristão 21 Esflorando o Evangelho
Ano 126 / Janeiro, 2008 / N o 2.146
Esperança – Emmanuel
ISSN 1413-1749
Propriedade e orientação da 32 A FEB e o Esperanto
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA
Diretor: NESTOR JOÃO MASOTTI Zamenhof – Traços luminosos de um nobre caráter –
Diretor-substituto e Editor: ALTIVO FERREIRA
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO
Affonso Soares
CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO
NOLETO BEZERRA E LAURO DE OLIVEIRA SÃO THIAGO
37 Conselho Federativo Nacional –
Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional
Gerente: ILCIO BIANCHI
Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE 42 Seara Espírita
Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR
TORRES E CLAUDIO CARVALHO
Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA
CARVALHO 5 Característicos essenciais das Revelações –
REFORMADOR: Registro de publicação Juvanir Borges de Souza
o
n 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polí- 8 Sem adiamentos – Bezerra de Menezes
cia Federal do Ministério da Justiça),
CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503 10 Preservação dos princípios doutrinários –
Direção e Redação: Umberto Ferreira
Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 13 Conselho Federativo Nacional da FEB – Calendário
70830-030 • Brasília (DF)
Tel.: (61) 2101-6150 das Reuniões das Comissões Regionais de 2008
FAX: (61) 3322-0523
Departamento Editorial e Gráfico: 15 Os riscos do perfeccionismo – Carlos Abranches
Rua Souza Valente, 17 • 20941-040 16 Caracteres da perfeição – Allan Kardec
Rio de Janeiro (RJ) • Brasil
Tel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298 17 Revista Espírita – Laboratório de Allan Kardec
E-mail: redacao.reformador@febrasil.org.br
– 150 anos! (Capa) – Evandro Noleto Bezerra
Home page: http://www.febnet.org.br 22 Seminário “Pelos Caminhos da Evangelização”
E-mail: feb@febrasil.org.br
na FEB-Rio
PARA O BRASIL 23 Lições práticas de humildade para todas as idades
Assinatura anual R$ 39,00
– Clara Lila Gonzalez de Araújo
Número avulso R$ 5,00
PARA O EXTERIOR 26 A energia divina – Richard Simonetti
Assinatura anual US$ 35,00 28 Retorno à Pátria Espiritual – Honório Onofre de Abreu
Assinatura de Reformador: 29 Em dia com o Espiritismo – Consciência, consciente,
Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274
E-mail: autoconsciência e autoconhecimento –
assinaturas.reformador@febrasil.org.br
Marta Antunes Moura
34 Cristianismo Redivivo – História da Era Apostólica –
Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA Novas perguntas – Haroldo Dutra Dias
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Editorial
Revista Espírita
– 150 anos –
E
m maio de 1855, o Prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail fez seu primeiro
contato com o fenômeno mediúnico das mesas girantes, na casa da Sra.
Plainemaison.
Observando que o fenômeno era provocado por Espíritos de pessoas desencar-
nadas, constatou – já então na residência da família Baudin –, que esses seres não
tinham noção absoluta das coisas e emitiam apenas opiniões limitadas aos seus
conhecimentos. Compreendendo que no fenômeno observado poderia encontrar
respostas às suas dúvidas e soluções para muitos dos problemas da Humanidade, o
Prof. Rivail deu austeridade ao contato com os Espíritos. Com isto, somente
Espíritos sérios passaram a participar das reuniões, afastando os levianos.
Nos meses de abril e junho de 1856, o Prof. Rivail tomou conhecimento dos
graves compromissos por ele assumidos no sentido de descortinar para a Hu-
manidade os ensinos e as lições transmitidos pelos Espíritos superiores. Convicto
da tarefa assumida, aprofundou seus estudos e, utilizando o método do “Controle
universal dos ensinos dos Espíritos”,* separou o que era opinião pessoal dos Espí-
ritos comunicantes, dos princípios básicos da Doutrina. Em 18 de abril de 1857,
com o pseudônimo de Allan Kardec, lançou O Livro dos Espíritos, que contém os
ensinos dos Espíritos superiores.
Marcada a presença do Espiritismo no mundo, em janeiro de 1858 Kardec ini-
ciou a publicação da Revista Espírita – periódico mensal utilizado na difusão da
Doutrina e como laboratório para suas pesquisas e observações. Contatando com
pessoas de outras cidades e países, comunicava, nas páginas da Revista, o resultado
do trabalho por ele realizado, e informava sobre os acontecimentos ocorridos no
campo das comunicações mediúnicas, em outras partes do mundo, até março de
1869, quando desencarnou.
Ao comemorar os 150 anos de sua existência, caracterizada por um constante
trabalho de superação de inúmeros obstáculos, a Revista Espírita continua
difundindo o Espiritismo em seus princípios básicos, levando a mensagem esclare-
cedora e consoladora da Doutrina Espírita, em diversas línguas, com a amplitude e
a diretriz estabelecida por Allan Kardec, a todos os povos do mundo.

*KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. “Introdução”, cap. II, Ed. FEB.

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Característicos
essenciais
das Revelações
J U VA N I R B O R G E S DE SOUZA

Q
uando o homem primiti- já desaparecidas, precederam o a primeira, de natureza religiosa, que
vo surgiu na Terra, este homem na Terra. não admite contestações, considera-
mundo já existia há mi- Assim, as origens do mundo, -se verdadeira e definitiva; a segun-
lhões de anos, como um dos pla- sua natureza, finalidade e trans- da, que tem caráter científico, ba-
netas do sistema solar. formações foram objeto das tradi- seia-se em hipóteses ainda não com-
Os conhecimentos científicos ções e das crenças das populações provadas por pesquisas que tenham
não têm meios seguros para de- e povos, antes e depois dos perío- chegado a conclusões definitivas.
terminar, com precisão, a época dos históricos e anteriores às cogi- O que ocorre a respeito de de-
exata em que a vida humana pas- tações científicas. terminadas idéias é que a Huma-
sou a fazer parte deste mundo. As tradições mais antigas vêm nidade, de forma geral, ainda não
Hipóteses foram formuladas, dos povos orientais, especialmente percebeu sua verdadeira condi-
ora pelo criacionismo ligado a da Índia e da China, mas também ção, constituída por individualida-
crenças religiosas, ora pelo evolu- da Mesopotâmia e da Pérsia, do des espirituais atrasadas e imper-
cionismo espontâneo decorrente Egito, da Grécia e do povo judeu. feitas, que ainda estão longe de
das leis da Natureza, doutrina fi- Nos escritos sagrados desses po- conhecer inúmeras realidades do
losófica que sustenta a mutabili- vos há revelações simbólicas sobre mundo em que viveram e, com
dade das espécies, como afirmam a origem do mundo e do homem, mais razão, do Universo infinito e
o darwinismo e o lamarckismo. que ainda permanecem nos dias eterno criado por Deus.
O que se sabe, com segurança, é atuais como crenças arraigadas. O problema das ori-
que os vegetais e os animais, De todas essas antigas idéias, so- gens é uma das ques-
inclusive de espécies bre o problema das origens, per- tões, entre muitas ou-
maneceram concepções opostas: tras, que os habitantes

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deste mundo, de “expiações e pro- e formas de vivência, mas para do para “destruir a lei, mas para
vas”, ainda não têm condições de ajudá-las à melhor compreensão dar-lhe cumprimento”, acrescen-
resolver satisfatoriamente, pelo da vida e na busca de aspectos da tando, em outra oportunidade, es-
conhecimento dos fatos. verdade, sempre dentro dos limites sa síntese maravilhosa de sua mis-
Daí a formulação de hipóteses, e possibilidades das criaturas e sem são excepcional:
de caráter religioso ou científico, prejuízo do livre-arbítrio com que “Eu sou o Caminho, e a Verda-
que não resistem a análises apro- foram criados todos os Espíritos. de e a Vida”.
fundadas, baseadas na razão es- Por isso, as revelações superiores, 
clarecida e no confronto com rea- que estão presentes em todas as épo-
lidades já comprovadas. cas da história humana, não abran- A revelação vinda através de
O niilismo, o materialismo de gem toda a verdade, mas se ajustam Moisés não é definitiva, nem re-
múltiplas faces, a incredulidade à inteligência e às possibilidades presenta toda a verdade. Atendeu
sistematizada são decorrências, de entendimento dos seus benefi- a uma fase evolutiva de um povo
em muitos casos, do inconformis- ciários, auxiliando-os para que não que teve o mérito de mostrar à
mo de milhões de seres humanos se afastem, cada vez mais, das rea- Humanidade a existência de um
com as explicações tradicionais lidades e do entendimento da vida. Deus único, contrapondo-se à
das crenças religiosas e também As revelações são, assim, auxí- crença, generalizada e equivocada,
científicas, que não correspon- lios superiores aos que procuram em muitos deuses, que prevaleceu
dem às realidades e à verdade. evoluir, seguir à frente, mas que se por muitos milênios.
São erros e enganos, oriundos encontram em dificuldades decor- Jesus, entretanto, após a Reve-
da ignorância humana, sobre as- rentes das idéias, convencimentos lação Mosaica, reafirma a verdade
suntos que estão além da capacida- e crenças que adotaram, as quais da existência de um só Deus, o
de de entendimento dos habitantes não se ajustam à verdade e à vida. Criador de todo o Universo, mas
deste orbe, a gerar outros equívo- Desta forma, ao mesmo tempo retifica o entendimento e as inter-
cos de perniciosas conseqüências que esclarecem melhor as cons- pretações que as sucessivas gera-
para inúmeras outras criaturas. ciências, com novas percepções, ções judaicas deram a outros ensi-
Entretanto, se observarmos, não forçam determinados limites nos recebidos do Alto.
com o devido cuidado, os aconte- de seres incapazes de dar grandes O Mestre Incomparável deixou
cimentos e as idéias surgidos no saltos evolutivos. claro que suas lições e exemplos
curso de toda a história humana, Jesus, o Mestre Incomparável, não abrangiam toda a Verdade, de
chegamos à conclusão de que a sabia e sabe das dificuldades com vez que os homens não haviam
Providência Divina jamais deixou que se deparam os seres espiri- atingido ainda a plena capacidade
o homem indefinidamente entre- tuais da retaguarda para seguirem de entendimento de todas as reali-
gue aos próprios erros e enganos, à frente, de acordo com a divina dades, especialmente no que diz res-
sem nenhum auxílio. lei do progresso. peito à vida em outros planos espi-
Pelo contrário, jamais faltou às Por isso utilizou métodos indi- rituais, prometendo, por isso, pedir
coletividades, nações, ou civiliza- retos para transmitir seus ensinos, ao Pai o envio de outro Consolador,
ções a assistência superior, através servindo-se muitas vezes de figu- para ficar no mundo para sempre.
de enviados especiais do Governa- rações, símbolos e especialmente Ele cumpriu sua promessa, na
dor espiritual da Terra, incumbi- de exemplos, em muitas de suas época e na hora apropriadas, en-
dos de esclarecer e ajudar as coleti- lições inesquecíveis. viando a Doutrina Consoladora pa-
vidades em que renasceram, ou em Podemos, assim, melhor enten- ra ficar com a Humanidade e pre-
que atuaram, não para desviá-las der a advertência do Mestre, quan- parar-lhe uma nova era de enten-
completamente de suas convicções do afirmou não ter vindo ao mun- dimento e de progresso espiritual.

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Todos os fenômenos preparató- listas, como a absorção do Espírito do material, como o nosso, só po-
rios ocorridos a partir da primei- no todo universal, com o fim da sua deria iniciar-se no plano físico, já
ra metade do século XIX, nos Es- individualidade, o Consolador já que a realidade da matéria é a que
tados Unidos (Hydesville) e na Eu- está preparando uma Nova Era, pa- impressiona, em primeiro lugar,
ropa (mesas girantes), seguidos das ra a regeneração do mundo atual. os nossos sentidos físicos.
observações cuidadosas e seguras O reconhecimento dessas re- Somente com a ampliação das
do missionário Allan Kardec, foram giões espirituais, que abrigam toda percepções, para além do plano
acontecimentos destinados a trazer a população dos que denominamos material, iniciar-se-iam as investi-
aos homens uma Terceira Revela- mortos, demonstra que, na realida- gações da realidade espiritual.
ção, que complementa as anteriores. de, não existe a morte do ser eterno, Foi o que ocorreu.
Os livros básicos da Doutrina, o Espírito, mas somente a desagre- Por isso o plano espiritual ini-
escritos pelo Codificador, sob a gação da parte material – o corpo ciou a Nova Revelação com a fe-
orientação dos Espíritos superio- físico – de que se utiliza o ser imor- nomenologia espírita, chamando
res, à frente o Espírito de Verdade, tal em sucessivas reencarnações. a atenção para o desconhecido.
obras que posteriormente se des- Todas essas noções, de grande Quanto à tendência das ciên-
dobraram em milhares de outras, interesse para os habitantes de um cias e dos cientistas para o mate-
de autoria de diversas entidades es- mundo material como a Terra, rialismo, sua modificação é uma
pirituais e dos próprios homens, não são aceitas por grande parte questão de tempo.
expressam, ampliam e expandem de sua população, até mesmo pe- Sendo a Ciência o conhecimen-
a última Revelação, como previu los cientistas. to da realidade das coisas, a verda-
o Espírito de Verdade: Pouco a pouco, entretanto, to- de em todos os sentidos, é eviden-
dos aqueles que procuram, since- te que a realidade da vida espiritual
As grandes vozes do Céu res- ramente, a realidade, vão se con- apresentada pelo Espiritismo não
soam como sons de trombetas, e vencendo da verdade demonstra- pode ficar ignorada, indefinida-
os cânticos dos anjos se lhes asso- da pelos fatos, pelas manifesta- mente, pelos negativistas.
ciam. Nós vos convidamos, a vós ções dos próprios Espíritos e pelo Se a generalidade dos cultores
homens, para o divino concerto. conhecimento das leis eternas, das diversas ciências não aceitou a
[...] (“Prefácio” de O Evangelho justas e perfeitas do Criador, a Doutrina Espírita em seus pri-
segundo o Espiritismo, Ed. FEB.) causa primária de todas as coisas. mórdios, na atualidade a situação
alterou-se muito, embora

A Nova Revelação destina-se não totalmente.
especialmente a retificar entendi- O Espiritismo, como uma No- O bom senso nos
mentos distorcidos das anteriores, va Revelação, tem caráter científi- mostra que os cientis-
relembrar os ensinos do Cristo, tra- co, ao tratar do espírito como o tas, por coerência com
zer conhecimentos novos aos que outro elemento do Universo, ao seus conhecimentos
aspiram progredir sempre, e des- lado da matéria. Nesse caso, sem corretos, não pode-
vendar a existência de esferas ou dúvida, está contribuindo para rão negar a realidade
mundos espirituais, que estão em que a verdadeira Ciência não se dos fatos e das leis
contínuos relacionamentos com o omita ao negar a existência da que os regem.
nosso, habitados por seres espiri- parte imaterial do Universo.
tuais de diferentes condições mo- Compreendeu Allan Kardec o O homem nunca
rais e intelectuais. posicionamento materialista das esteve sozinho em
nenhuma época da
Ao retificar as idéias niilistas, ciências, ao explicar que a pesqui-
Humanidade
materialistas e os desvios espiritua- sa das leis naturais, em um mun-

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Sem adiamentos
Filhos da alma: Veio Jesus e gerou uma nova Espírita, sintetizando o pensa-
Que Jesus nos abençoe! era centrada no amor. mento de Cristo nas informações
Dezenove séculos depois, apre- da sua grandiosa filosofia cen-

A
queles dias, assinalados sentavam-se as criaturas em con- trada na experiência dos fatos,
pelo ódio e pela traição, dições quase equivalentes. É cer- apresenta a Era da Paz, propor-
pelo desbordar das pai- to que, nesse ínterim, houve um cionando a visão otimista do fu-
xões asselvajadas pelo crime e a grande desenvolvimento tecno- turo e oferecendo a alegria de
hediondez, eram as bases sobre as lógico e científico, e o progresso viver a serviço do Bem.
quais as forças conjugadas do Mal colocou fronteiras que se abriam Vivemos os momentos difíceis
iam erigir o seu quartel de des- para o futuro, mas as lutas eram da grande transição terrestre.
truição do Bem. tirânicas entre o materialismo e As dificuldades multiplicam-se
o espiritualismo. e a cizânia homizia-se nos cora-
Então veio Allan Kardec e, com ções, procurando gerar divisionis-
a caridade exaltando o amor do mos e partidos que entrem em
Mestre, proporcionou à Ciência conflagração com caráter destrui-
investigar em profundida- dor. O ódio, disfarçado na indu-
de o ser humano, identi- mentária da hipocrisia, assenho-
ficando-lhe a imorta- reia-se das vidas, enquanto a in-
lidade, a comunica- sensatez estimula os instintos não
bilidade, a reencar- superados, para que atirem a cria-
nação do Espírito, que é tura humana no charco das pai-
indestrutível. xões dissolventes onde pretendem
Cento e cinqüenta anos de- afogá-la. Mas é neste momento
pois, as paisagens terrestres en- grave que as luzes soberanas da
contram-se sombreadas por cri- verdade brilham no velador das
mes equivalentes aos referidos, consciências, conclamando-nos a
que não ficaram apenas no passa- todos, desencarnados e encarna-
do, e o monstro da guerra espreita dos, a porfiar no bem até o fim.
sorrateiro nos pontos cardeais do Não são fáceis as batalhas tra-
Planeta, aguardando o momento vadas no íntimo, mas Jesus não
para apresentar-se destruidor, co- nos prometeu facilidades. Refe-
mo se capaz fosse de eliminar o riu-se mesmo à espada que deve-
Bem, de destruir a Vida. ria separar o bem do mal, destruir
Neste momento, a Doutrina a iniqüidade para salvar o iníquo.

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Os desafios que se multipli- exaradas no Evangelho e atuali- oficina de dignificação pelo tra-
cam constituem a grande prova zadas pelo Espiritismo. balho, no grupo social...
através da qual nos recuperamos Jesus, meus filhos, encontra-se Em toda parte Jesus necessita
dos delitos graves contra nós conduzindo a nau terrestre e a de vós, para falar pela vossa bo-
mesmos, o nosso próximo, a so- levará ao porto seguro que lhe ca, caminhar pelos vossos pés e
ciedade, quando pervertemos a está destinado. agir através das vossas mãos.
mensagem de amor inspirados Disputemos a honra de fazer Exultai, se incompreendidos.
pelos interesses vis a que nos parte da sua tripulação, na con- Alegrai-vos, se acusados. Buscai
afeiçoávamos. dição de humildes colaborado- sorrir, se caluniados ou esqueci-
Agora é o grande instante da res. Que o sejamos, porém, fiéis dos dos aplausos terrestres.
decisão. Não há mais lugar para ao comando da Sua dúlcida voz. As vossas condecorações serão
titubeios, para postergarmos a Não revidar mal por mal, não as feridas cicatrizadas na alma que
realização do ideal. desperdiçar o tempo nas dis- constituirão o passaporte divino
Já compreendemos, juntos, cussões infrutíferas das vaida- para, depois da grave travessia,
que os denominados dois mun- des humanas, utilizar esse pa- entrardes no grande lar em paz.
dos são apenas um mundo em trimônio na edificação do reino Ide, pois, de retorno às vossas
duas vibrações diferentes. Estão de Deus em nós mesmos, são lides e amai.
perfeitamente integrados no ob- as antigas-novas diretrizes que nos Levai Jesus convosco e vivei-O.
jetivo de construir um outro conduzirão ao destino que bus- Ensinai a todos a doutrina de
mundo melhor e fazer feliz a camos. libertação e dela fazei a vossa
criatura humana. Estes são dias tumultuosos! bússola.
Demo-nos as mãos, unidos, pa- Se, de uma forma, viveis as Na ampulheta das horas o
ra que demonstremos que as nos- alegrias dos avanços do conheci- tempo continua inexoravelmen-
sas pequenas diferenças de opi- mento científico e tecnológico, te sem tempo para adiamentos.
nião são insuficientes para supe- desfrutais das comodidades que Vigiai orando e amai servindo.
rar a identificação dos nossos pro- proporcionam ao lado de cente- Que o Senhor de bênçãos nos
pósitos nos paradigmas doutriná- nas de milhões de Espíritos so- abençoe, filhos da alma, é a sú-
rios em que firmamos os ideais. fridos e anatematizados pela en- plica que faz o servidor humíli-
Demo-nos as mãos, para en- fermidade, pela fome, pela dor, mo e paternal de sempre,
frentarmos a onda de homicídios quase esquecidos, também são
legais nos disfarces do aborto, da os dias de acender a luz do amor Bezerra
eutanásia, do suicídio, da pena em vossos corações, para que o
de morte que sempre buscam a amor distenda as vossas mãos na (Mensagem psicofônica recebida pelo
legitimação, porque jamais serão direção deles, os filhos do calvá- médium Divaldo Pereira Franco ao final
morais. rio. Mas não apenas deles, como da Reunião do Conselho Federativo Na-
Empenhemo-nos por viver também dos filhos do calvário no cional da FEB, no dia 11 de novembro
conforme as diretrizes austeras próprio lar, na Casa Espírita, na de 2007, em Brasília, DF.)

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Preservação dos
princípios doutrinários
U M B E RTO F E R R E I R A

E
m seu livro História Ecle- foi legada aos homens para escla- Os desvios podem ocorrer pela
siástica, os primeiros qua- recê-los, promover a sua transfor- introdução de práticas estranhas à
tro séculos da Igreja Cristã, mação moral e trazer-lhes a espe- Doutrina, por priorizarem o fenô-
Eusébio de Cesaréia – que viveu rança por uma vida melhor. meno mediúnico, ou por iniciá-las
de 260 a 340 d.C. – relata que, O Espiritismo completa 150 e mantê-las sem o conhecimento
desde o seu início, o Cristianismo anos. É muito jovem ainda. Sur- seguro da teoria; ou ainda pela
correu o risco de sofrer distorções giu numa época bastante favorá- presunção de pessoas ou grupos
na sua prática, devido às heresias vel, com a Humanidade bem mais de terem competência para refor-
que foram surgindo. Algumas pro- desenvolvida. Os seus ensinamen- mar a base doutrinária, ou mes-
vocaram prolongadas polêmicas; tos não são apresentados sob for- mo de elaborar outra teoria. Em
outras, verdadeiras cisões em al- ma alegórica, são claros, podem ser todos esses casos, costuma haver a
guns núcleos cristãos. entendidos tanto pelas pessoas mais participação de Espíritos, adversá-
A partir do ano 325, quando cultas, quanto pelas menos letra- rios do Espiritismo, que agem
passou a ser a religião oficial do das. Além disso, há grande número orientando grupos crédulos, ou
Império Romano, o Cristianismo de livros de autoria dos Espíritos e insuflando idéias em desacordo
não conseguiu manter a sua pure- de escritores encarnados que expli- com os princípios espíritas e cris-
za original e acabou sofrendo sig- cava os seus princípios; assim, pra- tãos a pessoas dominadas pelo or-
nificativos desvios na interpreta- ticamente não ficam dúvidas. gulho, pela presunção.
ção dos ensinamentos e na prática. Enquanto a redação definitiva Para evitar que isso aconteça, é
A situação agravou-se a partir do dos evangelhos só foi feita mais de fundamental preservar-se os prin-
ano 553 – Concílio de Constanti- doze anos depois da volta de Jesus cípios doutrinários tanto na teo-
nopla II –, quando a tese da pre- à Pátria Espiritual – manuscrita, ria como na prática. Para se atin-
existência da alma, de Orígenes, foi em papiro –, os ensinamentos es- gir esse objetivo, são indispensá-
condenada. Isso significou a exclu- píritas já foram lançados em li- veis: estudo contínuo, para se ter
são do princípio da reencarnação. vros, escritos e revisados por Kar- orientação adequada e segurança
Na nova roupagem, o Cristia- dec, sob a supervisão dos Espíri- nas atividades, e humildade, para
nismo não conseguiu mais expli- tos superiores; por isso o Espiri- nunca se afastar desse caminho
car as desigualdes de oportunida- tismo corre risco bem menor de seguro.
des entre os seres humanos, a lei de ser alterado no conteúdo doutri- Assim, o Espiritismo – que res-
causa e efeito, a compatibilização nário, especialmente o que está taura o Cristianismo na sua pure-
entre a lei de justiça e a misericór- exposto nas obras básicas. O mes- za – não sofrerá alterações, nem
dia divina. Em conseqüência, per- mo não se pode dizer com relação desvios; será preservado em toda
deu a sua força como doutrina que à prática: nesta há certo risco. a sua integridade.

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Entrevista RO GER PEREZ

O papel da Revista
Espírita na difusão
da Doutrina Espírita
Roger Perez, presidente da Union Spirite Française et Francophone
(União Espírita Francesa e Francofônica), analisa a importância da
Revue Spirite* desde o seu lançamento por Allan Kardec até os
desdobramentos na atualidade
Reformador: Como avalia a im- queles que buscavam destruir-lhe 1858, sem haver dito nada a quem
portância da Revue Spirite no pe- a missão (comunicação recebida quer que fosse. [...] Publiquei-o cor-
ríodo de Kardec (1858-1869)? em 24 de janeiro de 1860). Ele ti- rendo eu, exclusivamente, todos os
Roger: Foi sob a iniciativa solitá- nha a certeza de que o Espiritismo riscos e não tive de que me arrepen-
ria de Allan Kardec que, a partir de seria chamado a desempenhar uma der, porquanto o resultado ultra-
1858, foi publicada a Revue Spirite. intensa tarefa para a evolução de passou a minha expectativa. [...]”.
É a revista espírita mais antiga e a nosso planeta, trazendo a verdade Tudo isso apesar do Auto-de-fé em
que mais contribuiu à divulgação sobre a missão de Jesus, extin- Barcelona, de 21 de outubro de
da Doutrina Espírita. A publicação guindo o ateísmo e o materialismo.
magistral da Revue Spirite, notada-
mente durante o primeiro período Reformador: Como foram os apoios
(1858-1869), deve ser considerada e dificuldades enfrentados por
por todos os espíritas como a pedra Kardec?
angular para se compreender seu Roger: É importante lembrar que
longo alcance moral. Período no desde o começo a idéia de publi-
qual Allan Kardec já estava cons- car a Revue Spirite recebeu do
ciente da força renovadora do Es- mundo espiritual absoluta apro-
piritismo e da necessidade de avan- vação. Neste sentido, Allan Kardec
çar seus trabalhos a despeito da- recebeu dos Espíritos magistral res-
posta: “Age com ou sem o seu
*N. da R.: Atualmente é intitulada La Revue concurso [Sr. Tiedeman]; não te
Spirite. O artigo “La” só foi preposto ao no- consumas por sua causa. Podes
me da Revue Spirite a partir de 1913. (WAN- prescindir dele”. Allan Kardec nos
TUIL, Zêus; THIESEN, Francisco. Allan
diz em Obras Póstumas: “Apressei-
Kardec: pesquisa biobibliográfica e ensaios
de interpretação. v. III. 4. ed. Rio de Janeiro: -me a redigir o primeiro número
FEB, 1998. “La Revue Spirite”, p. 47, nota 7.) e fi-lo circular a 1o de janeiro de

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1861, onde foram queimados O Que os homens se contentem de imponha de maneira que eles pos-
Livro dos Espíritos, O Livro dos Mé- ser assistidos e protegidos pelos bons sam seguir com facilidade o nobre
diuns, e coleções da Revue Spirite, Espíritos, mas que não procurem caminho traçado pelos nossos ilus-
ou seja, um total de 300 livros e se isentar da responsabilidade que tres antepassados que já retorna-
diversos volumes de outras obras lhes incumbe como encarnados. ram ao mundo dos Espíritos”.
espíritas. Este fato teve como reper-
cussão um resultado estrondoso, Reformador: E o apoio mais recente Reformador: Como conseguiu rea-
mas muito positivo, que deu uma do Conselho Espírita Internacional? ver a Revue Spirite após as detur-
impulsão fazendo progredir o Es- Roger: Lembrando nosso venera- pações que ela sofreu entre os anos
piritismo na Espanha e no mundo. do Léon Denis, os espíritas fran- 1970-1980?
(Revue Spirite, novembro de 1861.) ceses, como os espíritas do mundo, Roger: A USFF retomou seus legí-
Uma série de comunicações congregados no Conselho Espírita timos direitos em 1985, com a rea-
emanadas do mundo espiritual, re- Internacional, encontram-se dian- parição da Revue Spirite depois de
cebidas por Allan Kardec em 1867 te de um compromisso em que a doze anos de interrupção de sua pu-
(16 de agosto e 9 de setembro) e em marcha dos acontecimentos per- blicação. Louis Serré e eu condu-
1868 (23 de fevereiro e 1o de julho), manece proporcional aos seus co- zimos um duro combate sempre
podem ser assim resumidas. “Tem- nhecimentos das leis morais e da sustentado por comunicações ema-
-te, pois, pronto para tudo [...]. O consciência de suas responsabili- nadas de uma entidade espiritual
ano próximo começará em breve; dades. Eles devem antes de tudo ser que se identificava como “O irmão
é preciso, pois, que, pelos fins dignos, nos seus pensamentos e atos do trabalho”, a qual nos revelou cer-
deste, dês a última demão à pri- de todos os instantes, dos grandes tos pontos administrativos frágeis
meira parte da obra espírita [...]”. princípios que constituem a Dou- que agiram em nosso favor, desde o
Assim se constituiu o “Projeto de trina dos Espíritos, à qual é necessá- começo do processo legal, para rea-
1868”: sobre a necessidade de uma rio suscitar uma adesão voluntária. ver a Revue Spirite. Este Espírito
base sólida e de uma unidade dou- Hubert Forestier, que foi dire- nos pediu para nada revelar de sua
trinária positiva e organizada do Es- tor de publicação da Revista, dizia identidade. O único detalhe que
piritismo. Allan Kardec insistia que que a “Revue Spirite é filha do pen- posso relatar é que se trata de uma
a ausência de unidade poderia en- samento de Allan Kardec”. Hoje, personalidade que foi um grande
travar a propagação da Doutrina em cooperação estreita com o nome da Igreja Católica. Com a
Espírita. É interessante situar num Conselho Espírita Internacional, a sua permissão, eu gostaria de acres-
contexto histórico, e na sua atmos- Revue Spirite imprime a presença centar que sua conversão às idéias
fera social, o projeto de estrutura- espírita na França e no mundo, espíritas se realizou após a desen-
ção do Movimento Espírita pre- em vários idiomas; ela é impressa carnação, pelo que, ainda quando
conizado por Allan Kardec, bem no Brasil, que sempre estendeu a não o possamos sequer imaginar,
como seus propósitos sobre o ca- mão fraterna à USFF. conversões também se realizam no
ráter reformador e universal do No alvorecer do Espiritismo, co- Mundo Maior. Lembrando Sha-
Espiritismo. Ele sublinha judicio- mo doutrina codificada, Paul Bo- kespeare quando dizia: “A verdade
samente o caráter progressista do dier, ilustre espírita francês do sé- tem um coração tranqüilo”.
Espiritismo em assimilando todas culo retrasado, dizia: “Formulamos
as idéias reconhecidamente justas, o voto sincero para que a publica- Reformador: Quais foram os esforços
sabendo-se que cedo ou tarde o da Revue Spirite seja divulgada não da USFF para manter a Revue Spirite?
bem suplanta o mal e o verdadeiro somente na França, mas no mundo Roger: Apesar do grande devota-
prima sempre sobre o falso. Aí está terrestre, para que sob mil formas, mento de nossos irmãos do Cen-
a única luta em que ele se engajou. o invisível penetre os sensitivos e se tre de Doctrine et d’Initiation Spirite

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Christiques de Tours, defrontamos


com problemas técnicos e financei-
ros para a edição da Revue Spirite, Conselho Federativo
o que era para essa pequena equi-
pe um dever sagrado a cumprir. Nacional da FEB
Essa angústia permanente de não
saber se podíamos manter a edi- Calendário das Reuniões
ção da Revue Spirite foi acalmada das Comissões Regionais de 2008
a partir de um acontecimento ines-
perado, que nos foi informado Nordeste
através de comunicações mediú- 1. Comissão Regional Nordeste
1.1 Cidade-sede: Natal (RN).
nicas. Mas não sabíamos o que
1.2 Período: de 11 a 13 de abril.
seria nem quando ocorreria. Tal
1.3 Reunião dos Dirigentes: Assunto – “Gestão Federativa”.
acontecimento se deu em 1o de no-
vembro de 1990, quando da visita
Sul
a Tours de nossos estimados ir-
2. Comissão Regional Sul
mãos Nestor João Masotti e Paulo
2.1 Cidade-sede: Porto Alegre (RS).
Roberto Pereira da Costa. Assim, 2.2 Período: de 25 a 27 de abril.
a primeira ajuda para a ampliação 2.3 Reunião dos Dirigentes: Assunto – “Reflexões éticas sobre a in-
e a permanência de uma edição fluência das atividades de entidades não federadas e a qualidade
sólida da Revue Spirite nos veio da das produções espíritas”.
Federação Espírita Brasileira, bem
antes da criação do Conselho Es- Norte
pírita Internacional, em 1992. 3. Comissão Regional Norte
3.1 Cidade-sede: Manaus (AM).
Reformador: Desde 2000 há uma 3.2 Período: de 22 a 25 de maio.
parceria da USFF com o CEI para a 3.3 Reunião dos Dirigentes: Assunto – “O papel do dirigente como
edição da Revue Spirite. Como ava- multiplicador na Casa Espírita”.
lia sua expansão em outros idiomas?
Roger: A parceria existe sob uma Centro
forma tácita, baseada nos princí- 4. Comissão Regional Centro
pios de honra e de fraternidade, 4.1 Cidade-sede: Belo Horizonte (MG).
sob as asas protetoras do mundo 4.2 Período: de 20 a 22 de junho.
espiritual. Tal é o meu sentimen- 4.3 Reunião dos Dirigentes: Assunto – “Principais necessidades e difi-
culdades para a estruturação e implantação do ‘Plano de
to, profundo e inabalável. Como
Trabalho’ pelas Federativas”.
prova deste legado tem-se, hoje, a
extensão da Revista em vários
Áreas Específicas
idiomas. Há alguns anos, quando
Serão realizadas, concomitantemente com a Reunião dos Dirigentes,
da reaparição da Revue Spirite em e, com temas próprios escolhidos em 2007, as reuniões das Áreas Espe-
1985, quem poderia imaginar tal cíficas de Atendimento Espiritual no Centro Espírita, Atividade Me-
acontecimento, senão o mundo es- diúnica, Comunicação Social Espírita, Estudo Sistematizado da Dou-
piritual e os seres encarnados de trina Espírita, Infância e Juventude, Serviço de Assistência e Promoção
boa vontade, fundadores do Con- Social Espírita.
selho Espírita Internacional?

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Presença de Chico Xavier

Em nome do Evangelho
“Para que todos sejam um” – Jesus. (João, 17:22.)

R
eunindo-se aos discípulos, empreendeu Jesus a O laboratório é respeitável.
renovação do mundo. A academia é nobre.
Congregando-se com cegos e paralíticos, O templo é santo.
restituiu-lhes a visão e o movimento. A ciência convence.
Misturando-se com a turba extenuada, multipli- A filosofia estuda.
cou os pães para que lhe não faltasse alimento. A fé converte o homem ao Bem Infinito.
Ombreando-se com os pobres e os simples, ensi- Cérebro rico, sem diretrizes santificantes pode
nou-lhes as bem-aventuranças celestes. conduzir à discórdia.
Banqueteando-se com pecadores confessos, ensi- Verbo primoroso, sem fundamentos de sublima-
nou-lhes o retorno ao caminho de elevação. ção, não alivia, nem salva.
Partilhando a fraternidade do cenáculo, prepara Sentimento educado e iluminado, contudo, me-
companheiros na direção dos testemunhos de fé viva. lhora sempre.
Compelido a oferecer-se em espetáculo na cruz, Reunidos, assim, em grande conclave de fraterni-
junto à multidão, despede-se da massa, abençoando dade, que os irmãos do Brasil se compenetrem, cada
e amando, perdoando e servindo. vez mais, do espírito de serviço e renunciação, de so-

lidariedade e bondade pura que Jesus nos legou.
O mundo conturbado pede, efetivamente, ação
Compreendendo a responsabilidade da grande as- transformadora. Conscientes, porém, de que se faz
sembléia de colaboradores do espiritismo brasileiro, impraticável a redenção do Todo, sem o burilamen-
formulamos votos ardentes para que orientem no to das partes, unamo-nos no mesmo roteiro de
Evangelho quaisquer princípios de unificação, em amor, trabalho, auxílio, educação, solidariedade, va-
torno dos quais entrelaçam esperanças. lor e sacrifício que caracterizou a atitude do Cristo
Cremos que a experiência científica e a discussão em comunhão com os homens, servindo e espe-
filosófica representam preparação e adubo no campo rando o futuro, em seu exemplo de abnegação, para
doutrinário, porque a semente viva do progresso real, que todos sejamos um, em sintonia sublime com os
com o aperfeiçoamento do homem interior, perma- desígnios do Supremo Senhor.
nece nos alicerces divinos da Nova Revelação.
Cultivar o espiritismo, sem esforço espiritualizan- Pelo Espírito Emmanuel
te, é trocar notícias entre dois planos diferentes, sem
significado substancial na redenção humana. (Mensagem recebida em 14 de setembro de 1948, pelo médium
Lidar com assuntos do céu, sem vasos adequados Francisco Cândido Xavier, em Pedro Leopoldo, Minas, destinada
à recepção da essência celestial, é ameaçar a obra aos irmãos do Primeiro Congresso Nacional Espírita em São
salvacionista. Paulo.)
Aceitar a verdade, sem o desejo de irradiá-la, Fonte: Anais do I Congresso Brasileiro de Unificação, realizado
através do propósito individual de serviço aos seme- em São Paulo (SP), no período de 31 de outubro a 5 de novem-
lhantes, é vaguear sem rumo. bro de 1948, p. 39-41.

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Os riscos do
perfeccionismo
“Sede perfeitos [...].” – Jesus. (Mateus, 5:48.)

C A R LO S A B R A N C H E S

S
erá que Jesus determinou conforme apregoam os Espíritos- o resultado final do perfeccionis-
uma sentença impossível -autores de O Livro dos Espíritos. mo nunca é bom. É difícil encon-
para seus irmãos, ao pro- Quando a criatura não conse- trar alguém com esse perfil que se
por que fôssemos perfeitos, assim gue conviver em paz com os pró- sinta satisfeito com o resultado fi-
como é perfeito o Pai que está nos prios limites, corre o risco de se nal de algo que fez. Para ele, o fei-
Céus? perder em torno de problemas de to poderia sempre ter ficado me-
A compreensão profunda do fundo psicológico. Um deles é a lhor, e essa consciência não o dei-
que o Mestre quis dizer está dire- conduta obsessivo-compulsiva. xa ser integralmente feliz.
tamente relacionada ao que se en- O obsessivo é aquele que pensa

tende por perfeição. Se ela for assi- e repensa constantemente sobre
milada como algo sem mácula, um sua obsessão, seja ela qual for. O Para mexer na estrutura psí-
conjunto de atitudes absolutamen- compulsivo sai do campo do pen- quica do perfeccionista, é preciso
te corretas, talvez tenhamos de samento e entra no da prática. Ele
enfrentar muitas dificuldades para não somente faz, mas repete a A pessoa
perfeccionista
alcançar o que o Cristo nos pede. ação de forma constante, como,
torna-se
Falta ainda uma larga caminha- por exemplo, lavar as mãos obsessiva
da até o ser humano atingir esse vinte vezes ao dia.
nível de excelência. Por isso, seria Esse tipo de pessoa costu-
interessante se, ao invés de se falar ma acreditar que se não va-
em perfeição, tratássemos de to- ler alguma coisa, não vale
das as possibilidades de melhoria nada. Se não é perfeito, é um
progressiva a nosso alcance. fracasso. Dentre outras possí-
veis causas, isso pode também

ser o resultado de uma pro-
É preciso admitir as próprias gramação feita na infância,
imperfeições. Que somos ainda “fa- com base na convivência
zedores de erros”. Que a perfeição com pais muito exigen-
absoluta não existe, e sim o alcance tes, que planejaram os
de uma condição evolutiva em que filhos para serem per-
passamos a compreender com am- feitos e sem manchas.
plitude a perfectibilidade de Deus, O problema é que

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talentos e possibilidades de mu-


dança. Cada um dá o que pode,
com os recursos que tem à dispo-
sição no momento. O mais pode
vir por acréscimo, se for da von-
tade superior, desde que os em-
penhos da criatura favoreçam o
seu e o crescimento da comuni-
dade a que pertence.
Todo erro faz parte do pro-
cesso de aprendizagem. O único
fracasso integral é aquele com o
qual nada se aprende. Por isso, os
sábios costumam dizer que o ca-
Felicidade é o resultado de uma relação minho se faz ao caminhar, e que
sincera da pessoa com seus talentos ser feliz é resultado de um cresci-
mento gradual, seguro e progres-
mudar uma crença básica dele, a sivo, bem diferente da perfeição

de que seu valor é medido por seu instantânea, em que alguns acre-
desempenho e que os erros que Felicidade é o resultado de uma ditam, mas que nunca conse-
comete diminuem a admiração relação sincera da pessoa com seus guem atingir.
que os outros têm por ele.
No fundo, a autocobrança pela
eficácia absoluta é tão feroz que ele
se torna concorrente severo de si
Caracteres da perfeição
mesmo, e quando chega nesse es-
tágio, fica difícil que não mergulhe P ois que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta
proposição: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celes-
tial”, tomada ao pé da letra, pressuporia a possibilidade de atingir-
na incapacidade de ser tranqüilo e
de se desculpar pelos deslizes na- -se a perfeição absoluta. Se à criatura fosse dado ser tão perfeita
turais de pessoa imperfeita, que é. quanto o Criador, tornar-se-ia ela igual a este, o que é inadmissível.
Mas, os homens a quem Jesus falava não compreenderiam essa
Não há outra saída, senão a pes-
nuança, pelo que ele se limitou a lhes apresentar um modelo e a
soa tornar-se consciente dos efeitos
dizer-lhes que se esforçassem pelo alcançar.
perversos do cativeiro em que se en-
Aquelas palavras, portanto, devem entender-se no sentido da
volveu. Vulnerabilidade e experiên-
perfeição relativa, a de que a Humanidade é suscetível e que mais a
cias de aprendizado, em que errar aproxima da Divindade. Em que consiste essa perfeição? Jesus o diz:
é permitido, fazem parte de qual- “Em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que nos
quer conquista e amadurecimento. odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem”. Mostra ele desse
De acordo com a opinião de modo que a essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla
Emmanuel, “Deus permitiu que acepção, porque implica a prática de todas as outras virtudes.
as quedas d’água existissem para
que percebêssemos quanta força e Allan Kardec
renovação podemos extrair de Fonte: O evangelho segundo o espiritismo. 127. ed. Rio de Janeir0:
nossas próprias quedas”. (Compa- FEB, 2007. Cap. XVII, item 2.
nheiro. 23. ed. IDE, cap. 12.)

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Revista Espírita
Laboratório de Allan Kardec
*
– 150 anos! –
E VA N D R O N O L E TO B E Z E R R A

O
grande sucesso de O Livro É natural, portanto, que o completa ignorância dos postula-
dos Espíritos, lançado em êxito suscitado pela divulgação dos espíritas contra os quais se
Paris no dia 18 de abril de das idéias novas provocasse uma rebelavam. É que vislumbravam
1857, tirou do anonimato o mis- enxurrada de cartas dirigidas a uma nova ordem de coisas, capaz,
sionário encarregado pela Provi- Kardec, a maioria interrogando o quem sabe, de fazer desmoronar o
dência Divina de materializar en- Codificador sobre este ou aquele pedestal em que se entronizavam.
tre os homens a promessa de Jesus ponto de doutrina, embora algu- Como Jesus, o Espiritismo vinha
de ficar eternamente conosco. mas lhe relatassem os insólitos proclamar uma doutrina que so-
É possível que o próprio Allan fenômenos espíritas que despon- lapava pela base os abusos de que
Kardec se tivesse surpreendido tavam em toda parte, exigindo
com a extraordinária repercussão a sua explicação. E, como se
causada por aquele livrinho de ape- não bastasse, o fluxo crescente
nas 176 páginas, cujo texto, distri- de visitantes que acorriam à
buído em duas colunas e dividido sua casa, inclusive da nobreza
em 24 capítulos, continha 501 per- local e estrangeira, ansiando
guntas e respostas, acrescidas das por esclarecimentos mais subs-
notas com que o Codificador as en- tanciais.
riqueceu. As razões do sucesso? o A princípio reticentes, os
fato de que “[...] todas as grandes jornais parisienses começa-
questões de metafísica e de moral ram a veicular artigos furi-
ali estão elucidadas da maneira mais bundos, verdadeiras diatri-
satisfatória; todos os grandes pro- bes contra a doutrina nas-
blemas ali são resolvidos, mesmo cente, não poupando sequer
aqueles que os mais ilustres filóso- a honra e a vida privada do
fos não puderam resolver [...]”.1 Codificador, demonstran-
do, em sua maior parte,
*Com ligeiras modificações, este artigo foi
publicado originalmente na revista A Fronstispício da primeira
Reencarnação, órgão oficial da FERGs. edição da Revista Espírita
Ano LXXI, n. 428, 2o semestre de 2004.

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Capa

viviam os fariseus, os escribas e os 1o de janeiro de 1858, sem ha- mais estrita conveniência. Nu-
sacerdotes de seu tempo. Assim, ver dito nada a quem quer que ma palavra: discutiremos, mas
importava silenciá-lo o quanto fosse. Não tinha um único as- não disputaremos. As inconve-
antes no seu nascedouro, antes sinante e nenhum fornecedor niências de linguagem nunca
que se propagasse e conquistasse a de fundos. Publiquei-o corren- foram boas razões aos olhos das
preferência da população, já can- do eu, exclusivamente, todos pessoas sensatas [...].4
sada das religiões dogmáticas. os riscos e não tive de que me
Naquela época, a Europa só arrepender, porquanto o resul- Do ponto de vista da apresen-
dispunha de um único jornal de- tado ultrapassou a minha ex- tação, a Revista Espírita “manteve
dicado à divulgação do Espiritis- pectativa. A partir daquela da- as características das publicações
mo, e mesmo assim em Genebra, ta, os números se sucederam científicas; circulava entre subs-
longe do burburinho de Paris e sem interrupção e [...] esse jor- critores e a venda pública, seme-
praticamente fora do alcance dos nal se tornou um poderoso lhante a seus colegas do século
leitores da Cidade Luz, contra- auxiliar meu [...].3 XIX, era facultativa dos livreiros e
riamente ao que ocorria nos Es- dos escritórios postais. Impressa
tados Unidos, favorecidos com Logo na “Introdução” do pri- em papel-jornal, contava com 32
dezessete jornais consagrados ao meiro fascículo da Revista Espíri- páginas, caderninhos de duas co-
Espiritualismo. ta, Allan Kardec estabeleceu clara- lunas em oitava; seu tamanho era
Foi quando Allan Kardec se deu mente as diretrizes que nortea- de 23,5x15cm, com peso estimado
“[...] conta da imperiosa necessi- riam sua atuação à frente daquele em trinta gramas. As páginas esta-
dade de criar uma folha que pe- periódico: vam compostas por quarenta li-
riodicamente pusesse os estudio- nhas impressas em corpo doze;
sos dos fenômenos espíritas a par [...] como nosso fim é chegar à sua apresentação era rústica, com
do que se passava no mundo e os verdade, acolheremos todas as capas de papel”.5
instruísse de modo ordenado so- observações que nos forem diri- No final de cada ano os fascí-
bre as mais variadas questões gidas e tentaremos, tanto quan- culos correspondentes eram reu-
doutrinárias [...] a despeito de lhe to no-lo permita o estado dos nidos, formando uma coleção de
faltar o tempo necessário para se- conhecimentos adquiridos, di- exemplares encadernados, com
melhante empreendimento, con- rimir as dúvidas e esclarecer os capa especial e índice alfabético.
siderando-se os seus afazeres pes- pontos ainda obscuros. Nossa É da responsabilidade direta de
soais, inclusive os voltados para a Revista será, assim, uma tribu- Allan Kardec a publicação de to-
própria subsistência”.2 na livre, em que a discussão ja- dos os fascículos, desde o pri-
A tarefa não era fácil e implica- mais se afastará das normas da meiro, que circulou em 1o de ja-
va gastos de certa gravidade. A neiro de 1858, até o que foi dado
princípio Kardec procurou al- a lume em abril de 1869, uma
guém que pudesse patrocinar a vez que já se achava
obra, colaborando financeira-
mente para que ela viesse à luz,
mas razões providenciais fizeram
com que não lograsse o êxito de-
sejado. Mesmo assim, diz ele:

Apressei-me a redigir o pri-


meiro número e fi-lo circular a

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composto quando da desencar- amadurecer, conceitos a serem tação, por ser “[...] terreno onde
nação do mestre, ocorrida no mês validados pelo critério infalível todos os cultos podem reunir-se,
anterior. Isto não significa que a da concordância e da universali- estandarte sob o qual podem to-
tenha redigido sozinho, pois “[...] dade do ensino dos Espíritos, an- dos colocar-se, quaisquer que se-
a Revista contou com a colabora- tes de serem incorporados ao pa- jam suas crenças, porquanto ja-
ção de centenas de participantes, trimônio da Doutrina Espírita. mais ele constituiu matéria das
encarnados e desencarnados, fran- Havia, pois, necessidade de um disputas religiosas, que sempre e
ceses e de outras nações, dentre laboratório experimental, onde tu- por toda a parte se originaram das
os quais cientistas, literatos, filó- do isto pudesse ser testado com questões dogmáticas [...]”.7
sofos, religiosos e homens do po- segurança, sem açodamento. Pelas próprias características
vo, cada qual ajudando a lançar, Ora, a Revista Espírita foi esse com que se apresentava – Jornal
na sua respectiva esfera de ação, laboratório inestimável, espécie de Estudos Psicológicos –, pelos
os alicerces sobre os quais se de tribuna livre, utilizada por assuntos abordados, riquíssimos
ergueria o portentoso edifício do Allan Kardec para sondar a reação em fatos da fenomenologia me-
Espiritismo”.6 dos homens e a impressão dos Es- diúnica, e pela possibilidade das
Quando lançou a Revista Espí- píritos acerca de determinados as- réplicas e tréplicas a que seus ar-
rita, em 1858, Allan Kardec ain- suntos, ainda hipotéticos ou mal- tigos davam margem, o estilo da
da tinha pela frente a publicação compreendidos, enquanto lhes Revista Espírita é, necessariamen-
de O que é o Espiritismo (1859), aguardava a confirmação. E tanto te, leve e agradável, vazado em lin-
O Livro dos Médiuns (1861), O isto é verdade que a maioria das guagem simples e acessível aos
Evangelho segundo o Espiritismo idéias desenvolvidas nas obras da não iniciados, apresentando as
(1864), O Céu e o Inferno (1865) e Codificação foram esboçadas pre- matérias de forma clara e objetiva,
A Gênese (1868). Ainda estariam viamente na Revista Espírita e, até sem tergiversações de qualquer
por ser publicados alguns opús- mesmo, transcritas literalmente, natureza. Enfim, aquele mesmo
culos: O Espiritismo na sua ex- sobretudo em O Céu e o Inferno e estilo que tanto apreciamos nas
pressão mais simples (1862), Via- em A Gênese. obras básicas da Codificação Es-
gem Espírita em 1862 (1862), Re- É importante que se tenha em pírita, capaz de agradar a todas
sumo da lei dos fenômenos espíritas mente que a Revista Espírita é as camadas da sociedade, desde a
(1864), Caracteres da Revelação uma obra subsidiária, comple- gente humilde, que trabalhava
Espírita (1868), sem falar da Ins- mentar da Doutrina Espírita e, nas oficinas suburbanas, até os
trução prática das manifestações como tal, deve ser lida com espíri- intelectuais mais exigentes da
espíritas (1858), livro de maior to crítico, especialmente no que aristocracia parisiense.
porte, substituído três anos mais concerne a certas teorias científi- A bem da verdade, a Revista
tarde por O Livro dos Médiuns, cas e a algumas opiniões isoladas, Espírita não tinha um padrão
muito mais abrangente e metó- de caráter filosófico. Sua moral é editorial claramente definido.
dico. Era todo um campo a pes- inatacável, pois, baseando-se na do Em outras palavras, suas seções
quisar, idéias a desenvolver e a Cristo, não suscita dupla interpre- eram muito variadas e por vezes
sofriam solução de continuida-
de. Entretanto, não é difícil per-
ceber certa uniformidade na
temática abordada nos diferentes
fascículos, notadamente os rela-
cionados com os ditados mediú-
nicos, as conversas familiares de

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além-túmulo, as dissertações es- lados inopinadamente por esses ce ser lida, meditada e amada,
píritas, as evocações particulares repórteres do mundo espiritual e como tudo que saiu da pena da-
e as notas bibliográficas, prati- estampados no Jornal de Estudos quele que renasceu na França
camente comuns a todos eles. As Psicológicos de Allan Kardec. “[...] aos 3 de outubro de 1804,
poesias mediúnicas também me- A Revista Espírita põe a nu a com a sagrada missão de abrir
receram generosa acolhida na intimidade do Codificador do Es- caminho ao Espiritismo, a gran-
Revista, não tanto pelo seu valor piritismo, no-lo revelando tal qual de voz do Consolador prometido
doutrinário, mas como prova de se mostrava em sua vida priva- ao mundo pela misericórdia de
que os médiuns, mesmo os me- da, real, verdadeira, autêntica, Jesus-Cristo”.9
nos instruídos, eram capazes de sem laivos de santidade e sem se
receber, de um jacto, produções afastar do comum dos mortais. Referências:
1
de grande fôlego, com perfeita ob- Pois jamais se disse ou se impôs WANTUIL, Zêus; THIESEN, Francisco.
servância das regras da versifica- como missionário, como predes- Allan Kardec: pesquisa biobibliográfica e
ção, as quais em nada desmere- tinado de uma Revelação que, sem ensaios de interpretação. v. II. 4. ed. Rio
ciam as ilustres personagens que ele, não chegaria aos deserdados de Janeiro: FEB, 1996. Cap. 1, item 7,
as assinaram. da Terra; sabia que os desígnios p. 81 e 83.
2
Como se tratava de um perió- divinos não se assentam na ca- KARDEC, Allan. Revista espírita: jornal
dico mensal, muitas vezes Allan beça de um homem; estava, en- de estudos psicológicos. Ano I (1858). 4.
Kardec transcrevia artigos e notí- fim, convicto de que a Doutrina ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. “Apresen-
cias de jornais, nacionais e estran- Espírita não era dele, mas dos tação da FEB”, p. 13.
3
geiros, sobre os mais variados as- Espíritos, essas grandes vozes dos ______. Obras póstumas. 40. ed. Rio de
suntos, desenvolvendo-os e corre- Céus que, nos tempos preditos, Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte, “A mi-
lacionando-os com os postulados vinham restabelecer todas as coi- nha primeira iniciação no Espiritismo”,
espíritas. Isto emprestava à Revis- sas, “[...] dissipar as trevas, con- p. 326.
4
ta um caráter de perene atualida- fundir os orgulhosos e glorificar ______. Revista espírita: jornal de estu-
de, identificando-a com os pro- os justos”.8 dos psicológicos. Ano I. Janeiro de 1858.
blemas e as preocupações da Paris No ano do sesquicentenário 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. “Intro-
do Segundo Império. Suicídio, do lançamento da Revista Espírita, dução”, p. 23-24.
5
epidemias, pena de morte, duelos, nada mais justo do que conhecer BARRERA, Florentino. Prontuário crítico
assassinatos, nada escapou à argú- a alma de Allan Kardec, gozar de das obras de Allan Kardec. Tradução de
cia do Codificador, que deles se sua intimidade, acompanhar pas- David Caparelli. São Paulo: Madras Edito-
aproveitava para edificar os leito- so a passo a marcha do Espiritis- ra, 2003. p. 147.
6
res, por meio de comentários ju- mo nascente, as dificuldades na KARDEC, Allan. Revista espírita: jornal
diciosos e oportunos. Quantos sua implantação, as lutas que teve de estudos psicológicos. Ano I (1858). 4.
Espíritos desencarnados foram de vencer a fim de fincar as bali- ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. “Apresen-
evocados a partir de referências zas de uma Nova Era para a rege- tação da FEB”, p. 15.
7
extraídas dos jornais, brindando neração da Humanidade. E essa ______. O evangelho segundo o espiri-
os leitores da Revista Espírita com epopéia sem par, essa trajetória tismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
o testemunho da sua própria admirável, escrita em caracteres “Introdução”, item I, p. 23.
8
experiência! Muitos detalhes de irrecusáveis, está toda inteira nas Idem, ibidem. “Prefácio”, p. 21.
9
toda ordem, até então inimaginá- páginas da Revista Espírita, nessa XAVIER, Francisco C. A caminho da luz.
veis sobre a vida de além-túmulo coletânea de doze volumes, pa- Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. Rio de
– ainda não dispúnhamos das trimônio inalienável dos espíri- Janeiro: FEB, 2007. Cap. XXII, item “Allan
obras de André Luiz – foram reve- tas do mundo inteiro, que mere- Kardec”, p. 194.

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reformador Janeiro 2008 - a.qxp 23/1/2008 14:29 Page 21

Esf lorando o Evangelho


Pelo Espírito Emmanuel

Esperança
“Porque tudo que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para
que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança.”
– PAULO. (ROMANOS, 15:4.)

A
esperança é a luz do cristão.
Nem todos conseguem, por enquanto, o vôo sublime da fé, mas a força
da esperança é tesouro comum.
Nem todos podem oferecer, quando querem, o pão do corpo e a lição espiritual,
mas ninguém na Terra está impedido de espalhar os benefícios da esperança.
A dor costuma agitar os que se encontram no “vale da sombra e da morte”, onde
o medo estabelece atritos e onde a aflição percebe o “ranger de dentes”, nas “trevas
exteriores”, mas existe a luz interior que é a esperança.
A negação humana declara falências, lavra atestados de impossibilidade, traça
inextricáveis labirintos, no entanto, a esperança vem de cima, à maneira do Sol que
ilumina do alto e alimenta as sementeiras novas, desperta propósitos diferentes,
cria modificações redentoras e descerra visões mais altas.
A noite espera o dia, a flor o fruto, o verme o porvir... O homem, ainda mesmo
que se mergulhe na descrença ou na dúvida, na lágrima ou na dilaceração, será
socorrido por Deus com a indicação do futuro.
Jesus, na condição de Mestre Divino, sabe que os aprendizes nem sempre pode-
rão acertar inteiramente, que os erros são próprios da escola evolutiva e, por isto
mesmo, a esperança é um dos cânticos sublimes do seu Evangelho de Amor.
Imensas têm sido, até hoje, as nossas quedas, mas a confiança do Cristo é sem-
pre maior. Não nos percamos em lamentações. Todo momento é instante de ouvir
Aquele que pronunciou o “Vinde a mim...”
Levantemo-nos e prossigamos, convictos de que o Senhor nos ofereceu a luz da
esperança, a fim de acendermos em nós mesmos a luz da santificação espiritual.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 75, p. 165-166.

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Seminário
“Pelos Caminhos da
Evangelização” na FEB-Rio
A Casa de Ismael, no Rio de Ja-
neiro, acolheu, em 20 de outubro,
cerca de 300 adeptos, que ali acor-
reram para o seminário a cargo de
Cecília Rocha, vice-presidente da
Federação Espírita Brasileira (FEB),
em torno do tema “Pelos Cami-
nhos da Evangelização”, compondo
ainda a Mesa dos trabalhos os con-
frades Aloísio Ghiggino e Darcy Ne-
ves Moreira, diretores respectiva-
mente da Área de Unificação e da
Aspecto parcial do público na Sede Seccional da Av. Passos
Área de Educação Espírita do Con-
selho Espírita do Estado do Rio de cília Rocha conduziu a todos, com grande número de evangelizadores
Janeiro (CEERJ). simplicidade e profundidade, pelos presentes, dando, por conseqüên-
Apoiada em sua longa e fecunda caminhos que levam a alma humana cia, ensejo a diversas questões que,
atividade no campo da evangeliza- a uma de suas mais belas conquistas: formuladas à expositora, resulta-
ção da infância e da juventude, Ce- a educação nos princípios do Evan- ram em sólidos esclarecimentos.
gelho à luz da Doutrina Espírita. Além dos objetivos específicos,
Assuntos como: Bases filosófi- definidos para o seminário, visou-se,
co-doutrinárias da Evangelização com o encontro, estimular a urgente
Espírita; Importância da reencar- tarefa de evangelização de crianças e
nação no processo educativo; Bases jovens como objeto primordial na
do programa de Evangelização Es- programação de atividades de todas
pírita; Currículo de Ensino; e Evan- as casas espíritas, tanto no Estado
gelização Espírita na preparação da do Rio de Janeiro como no País.
Sociedade do Mundo de Regenera- Foi, sem dúvida alguma, mais
ção, trouxeram, na palavra fluente um belo fruto da feliz parceria en-
e agradável de Cecília Rocha, lições tre a FEB e o CEERJ, que se vem
oportunas principalmente a um desenvolvendo ao longo do cor-
rente ano, quando se homenageia
Cecília Rocha fala
o Sesquicentenário da publicação
ao público
de O Livro dos Espíritos.
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Lições práticas
de humildade para
todas as idades
“Bem-aventurados os pobres de espírito, pois que deles é o reino dos céus.”
(Mateus, 5:3.)
CLARA LILA GONZALEZ DE ARAÚJO

O
capítulo VII, de O Evan- lores espirituais, mesmo que te- ro de exemplos, da mesma nature-
gelho segundo o Espiritis- nhamos, na presente encarnação, za, não pode deixar dúvida alguma
mo, fala-nos da necessi- poucas condições para isso? no espírito do leitor e lhe permite
dade de sermos simples de coração A par desse problema os Benfei- ter idéia clara e mais abrangente
e humildes de espírito, sendo pre- tores espirituais buscam esclarecer- de como interpretar, na prática, as
ferível o ignorante, possuidor des- -nos, servindo-se de argumentos es- orientações conceituais e teóricas
sas qualidades, ao sábio que mais pecialmente utilizados na interpre- de certos conhecimentos.3
crê em si do que em Deus.1 tação de situações, reais e imaginá- Da mesma forma, graças a esse
São orientações valiosas e que rias, a partir de exemplos ricos e va- artifício de linguagem, parecerá
buscam nos sensibilizar para algo riados, que permitem, facilmente, à absolutamente natural, aos auto-
fundamental: o de que não deve- criança, ao jovem e ao adulto, a assi- res espirituais, servirem-se de mo-
mos ter nenhuma pretensão à su- milação de conceitos, teóricos e prá- delos e metáforas que forneçam
perioridade ou à infalibilidade. A ticos, que tenham o mesmo sentido. exemplos valiosos e que ilustrem
propósito, explica Allan Kardec O filósofo Chaïm Perelman vivências, a partir da descrição de
que Jesus “toma uma criança co- (1912-1984) utiliza a retórica aris- casos interessantes, que estejam
mo tipo da simplicidade de cora- totélica para fundamentar certas relacionados entre si e que facili-
ção”,2 afirmando aos seus discípu- técnicas discursivas e propõe a Teo- tem nosso entendimento de como
los que “será maior no reino dos ria da Argumentação como arte de agir no exercício diário para aqui-
céus aquele que se humilhar e se persuadir as pessoas para que pos- sição de qualidades morais que
fizer pequeno como uma criança”.2 sam compreender o que está sen- demoramos em adquirir.
Difícil, porém, é a compreensão do transmitido. Identifica esta no- Sobre a prática da humildade,
desses preceitos de como nos tor- va retórica como a teoria geral do destacamos, especialmente, duas
nar pobres de espírito, para vencer- discurso persuasivo, que visa ga- histórias elaboradas de forma re-
mos o homem orgulhoso que ainda nhar a adesão, tanto intelectual tórica simples, de onde se conse-
somos. De que maneira aplicar, no como emotiva, de uma ou várias gue extrair excelentes efeitos mo-
cotidiano, esses ensinamentos que pessoas. Em seus estudos destaca rais das mensagens que salien-
nos possibilitam a conquista de va- que a utilização de um certo núme- tam sobre o papel essencial dessa

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virtude ou em nossas vidas. Apre- te da cidade onde residia, seu ca- símbolo de humildade, obediência
sentamo-las,resumidamente,a seguir. valo adoeceu e o médico apressou- e disciplina, e contribui para a rea-
A primeira delas é do Espírito -se em procurar outro animal que lização de tarefa tão nobre, como a
Irmão X e tem como título “O lhe permitisse socorrer a senhora. de levar o médico ao seu destino
burro manco”.4 A história, do esti- Dirigiu-se à procura de um pro- a fim de socorrer sua paciente. Ao
mado escritor espiritual, passa-se prietário de excelentes animais, a enaltecer o limitado animal, o au-
em um Centro Espírita. Em res- quem conhecia. Entretanto, o ami- tor destaca a importância do tra-
posta às indagações de alguns tra- go informou-o de que só possuía balho feito por ele, comparando-o
balhadores de atividades mediú- cavalos árabes, de imenso valor, e aos outros animais de montaria,
nicas, dada por um dos Mentores não podia concordar em colocá- considerados saudáveis, garbosos e
espirituais da Casa, Irmão Gusta- -los na estrada com a obrigação de caros, mas petulantes e enfatuados,
vo, é narrado o seguinte episódio: servir a cavaleiros. Recorre, então, sem nada fazerem de benéfico. Isso
Certo médico, do interior de São o médico, a outro amigo, que tam- demonstra que o orgulho não só
Paulo, da cidade de Ribeirão Preto, bém alegou possuir manga-largas oblitera certas inteligências como as
no início do século XX, necessitou de puro sangue e alto preço, e não impossibilita de praticar o bem.
fazer uma viagem para a cidade poderia prejudicá-los colocando-os A segunda história, em livro in-
vizinha, de São Joaquim da Barra, na estrada. O médico, já desanima- fantil, é contada pelo Espírito Neio
pois lá estava uma senhora, sua do, lembrou-se de um de seus pa- Lúcio (2007), e seu título, O Burro
paciente, prestes a dar à luz. “Nes- cientes, de nome Tonico Jenipapo, de Carga,5 tem relação com a pri-
se tempo [conta o narrador], as via- homem simples, que possuía pe- meira narrativa, assemelhando-se
gens de carro eram muito raras e quena propriedade, e foi procurá- os dois contos em diversos pontos.
o animal de sela -lo em sua humilde casa. Tonico Narra, o citado Espírito, que no
era o nosso me- não teve dúvida e trouxe do quin- tempo em que não havia automó-
lhor veículo”. Infe- tal um asno arrepiado e o apresen- veis, na cocheira de um palácio real
lizmente, ao tou ao Doutor: “[...] este burro é um burro de carga, de pêlo mal-
visitar outro manco e lerdo, mas, se ele serve...” tratado e com fundas cicatrizes no
paciente, Sem mais conversa, o animal foi lombo, de olhar tristonho e hu-
em um sí- arreado e, “agüentando espora e milde, sentia imensa amargura
tio distan- taca, tropeçando e manquitolan- pela forma como era tratado por
do”, o burro colocou o médico nas seus companheiros de moradia.
ruas de São Joaquim, para o de- Era humilhado pelos demais eqüi-
sempenho do seu dever, a que nos, que incessantemente o mal-
atendeu com absoluto êxito. tratavam com zombarias e chaco-
A história reflete a preocupa- tas. Ali havia cavalos admirados
ção de Irmão X em mostrar ao por toda gente, especialmente para
leitor a necessidade de recor- as corridas, e até um jumento es-
rermos às coisas mais simples, panhol que geralmente não reco-
geralmente não valorizadas, nhecia o burro como um parente
que muitas vezes permitem próximo, chamando-o de fraco e
encontrar as soluções mais efi- inútil. O infortunado asno recebia
cazes. A lição, transmitida pe- os sarcasmos resignadamente.
la narrativa, leva-nos a pensar Certo dia, o rei solicitou ao che-
sobre a nossa própria conduta: fe das cavalariças: “Preciso de um
o burrico, nesse caso, torna-se animal para uma tarefa de grande

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responsabilidade. Quero que


ele seja dócil e educado, que me-
reça minha absoluta confiança”.
O cavalariço, em resposta ao so-
berano, apressou-se em selecionar
um bom animal e ofereceu-lhe: o
cavalo de raça árabe; o potro de
linhagem inglesa; o cavalo húnga-
ro; e o jumento bem tratado. O rei
a todos rechaçou, avaliando-os co-
mo insubmissos, irrequietos, bra-
vios, manhosos, sem educação, e Capas dos livros
não serviriam para levar, em nome citados pela autora
dele, uma carga preciosa que seria
enviada em longa viagem. O burro mente mental; jamais atinge o Nossos Mentores espirituais,
de carga, então, foi trazido a pedi- sentimento, a zona do coração. por meio de simples narrativas, ex-
do do soberano, que mandou ajae- Diz o Espírito Vinícius (1979) pressam, de forma talentosa, para
zá-lo com as armas de sua Casa que: todas as idades, as delicadas lições
Real e confiou-lhe, carinhosamen- de amor que iluminam nossas
te, o filho, ainda criança, para ser O orgulho, sob seus aspectos mentes e nos abrem os caminhos
carregado pelo humilde animal. multiformes, é a grande pedra das virtudes, os quais só podem
Na opinião de Neio Lúcio “[...] de tropeço da Humanidade. ser perlustrados pelos verdadeira-
somente nos prestam serviços de [...] Daí a origem de todos os mente humildes.
utilidade real aqueles que já apren- atritos, dissídios e odiosidades
deram a suportar, servir e sofrer, que mantêm os homens em ati- Referências:
sem cogitar de si mesmos”.6 tude de mútuas hostilidades.7 1e2
KARDEC, Allan. O evangelho segundo
As duas histórias são parecidas, o espiritismo. 24. ed. de bolso. Rio de Ja-
em certos aspectos, e destacam, es- Jesus deu-nos os maiores e mais neiro: FEB, 2007. Cap. VII, itens 2 e 6.
3
pecialmente, os exemplos transmi- significativos exemplos de humilda- PERELMAN, Chaïm. O império retórico.
tidos pelos pobres animais, como de, ensinando-nos que não é pos- Porto (Portugal): Edições Asa, 1993. p. 5-
a nos orientar para a necessidade de sível evoluir sem possuir humilda- -11; 119-126.
4
adquirirmos humildade qual fru- de de espírito. Em uma de suas pas- XAVIER, Francisco C. Estante da vida.
to de uma perseverante conquista e sagens, registradas pelos evangelis- Pelo Espírito Irmão X. 6. ed. Rio de Janei-
de certo estado de elevação da alma: tas Mateus (21:1-11); Marcos (11:1- ro: FEB, 2006. Cap. 24, p. 112.
5
aqueles que agem humildemente -11) e Lucas (19:28-44), o manso ______. O burro de carga. Coleção: A
são despidos de orgulho e vaida- Nazareno entra em Jerusalém mon- Vida Fala. Pelo Espírito Neio Lúcio. Orga-
de, reconhecem que tudo devem a tado em um jumentinho, repre- nizado por Rute Vieira Ribeiro. Rio de Ja-
Deus e, nada possuindo de si mes- sentando a cena o enaltecimento neiro: FEB, 2007.
6
mos, carregam seus fardos em meio da santa humildade que abranda e ______. Alvorada cristã. Pelo Espírito
às injúrias e perseguições, confian- purifica os corações, desarma os po- Neio Lúcio. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB,
do, porém, na Providência Divina. derosos e fortalece os que suportam 2007. Cap. 10, p. 51.
7
Infelizmente, para muita gente, as inevitáveis provas e expiações a VINÍCIUS. Em torno do mestre. 4. ed. Rio
a moral cristã não passa da esfera serem vividas em suas experiên- de Janeiro: FEB, 1979. “Humildes de espí-
do entendimento, da região pura- cias reencarnatórias. rito”, p. 150.

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A energia
RICHARD SIMONETTI
divina
O
português João de Brito, ou Tudo cria, tudo transforma, tu- A vaidade é o Amor que se ilude.
São João de Brito (1647- do eleva. A avareza é o Amor que se
-1693), venerável vulto do Palpita em todas as criaturas. encarcera.
Cristianismo, seguiu os caminhos Alimenta todas as ações. O vício é o Amor que se
de Paulo de Tarso. Foi grande di- O ódio é o Amor que se envenena. embrutece.
vulgador da mensagem cristã na A paixão é o Amor que se in- A crueldade é o Amor que tiraniza.
Ásia. Converteu multidões com cendeia. O fanatismo é o Amor que
sua bondade e dedicação aos valo- petrifica.
res do Evangelho. A fraternidade é o Amor que se
Morreu decapitado na cidade expande.
de Urgur, na Índia, onde pregava A bondade é o Amor que se
o Evangelho. Quando lhe comu- desenvolve.
nicaram a execução, alegrou-se, O carinho é o Amor que se enflora.
porque iria morrer a serviço de A dedicação é o Amor que se
Jesus. Expirou tranqüilamente, estende.
rendendo graças a Deus pela hon- O trabalho digno é o Amor que
ra de testemunhar sua crença. se aprimora.
É consagrado como o patrono A experiência é o Amor que
dos pioneiros, aqueles que des- amadurece.
bravam horizontes, que enfren- A renúncia é o Amor que se
tam o desconhecido em favor do ilumina.
progresso humano. O sacrifício é o Amor que se
No livro Falando à Terra, por santifica.
Capa do livro Falando à Terra,
Espíritos diversos, psicografia de editado pela FEB O Amor é o clima do Universo.
Francisco Cândido Xavier, edição É a religião da vida, a base do
FEB, há uma mensagem dele, que O egoísmo é o Amor que se con- estímulo e a força da Criação.
transcrevo, uma surpreendente e centra em si mesmo. Ao seu influxo, as vidas se
notável dissertação a respeito do O ciúme é o Amor que se dilacera. agrupam, sublimando-se para a
Amor: A revolta é o Amor que se transvia. imortalidade.
O orgulho é o Amor que enlou- Nesse ou naquele recanto isola-
O Amor, sublime impulso de Deus, quece. do, quando se lhe retire a influên-
é a energia que move os mundos: A discórdia é o Amor que divide. cia, reina sempre o caos.

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Com ele, tudo se aclara. renúncia, nos seus exemplos, o que o agredia com impropérios,
Longe dele, a sombra se coagula Mestre foi todo Amor. pediu a Deus que a todos per-
e prevalece. Por Amor deixou as regiões doasse, porquanto não sabiam o
Em suma, o bem é o Amor que se celestes e mergulhou na matéria que estavam fazendo.
desdobra, em busca da Perfeição no densa. Por isso o Mentor espiritual
Infinito, segundo os Propósitos Di- Por Amor, podendo nascer em que assistia Kardec, na preparação
vinos; e o mal é, simplesmente, o palácio, preferiu uma estrebaria, a de O Livro dos Espíritos, proclama,
Amor fora da Lei. fim de estar mais perto dos sofre- na questão 625, que Jesus é a maior
dores de todos os matizes. figura da Humanidade.
Por Amor curou multidões de

Imaginemos o Amor como males do corpo e da alma.
sendo a eletricidade do Universo, Por Amor ensinou e reiterou, Em O Evangelho segundo o Es-
a mover os mundos e sustentar os incansavelmente, suas lições, mos- piritismo, capítulo VI, item 5, diz
seres. trando os caminhos para Deus. o Espírito de Verdade:
Podemos utilizá-la para o Bem Por Amor compadeceu-se dos
ou para o Mal, dependendo de pecadores de todos os matizes, Espíritas, amai-vos, este o pri-
como a transformamos, moldan- ensinando que ninguém tem o di- meiro ensinamento; instruí-vos, es-
do-a, de conformidade com nos- reito de atirar a primeira pedra, te o segundo.
sas tendências e impulsos. porque não há ninguém sem pe-
Se a represamos ou mal utiliza- cado na Terra. Espíritos superiores, como João
mos, comprometemos nossa estabi- Por Amor relevou as vacilações de Brito, já conquistaram o Amor
lidade e nos habilitamos a dolorosas dos próprios discípulos e não dei- em plenitude. A capacidade de ca-
experiências, como uma casa onde xou de ampará-los, mesmo de- nalizá-lo para o Bem lhes é inata.
um curto-circuito na instalação elé- pois de ser abandonado por eles. Nós outros, iniciantes no assunto,
trica provoca incêndio devastador. Por Amor, na cruz,
É de se ver se nossos males, nos- cercado pela multi-
sas angústias, não serão a mera dão inconseqüente
conseqüência do Amor transviado.
 O amor a Deus
acima de todas
Quando analisamos esse mara- as coisas e ao
vilhoso texto, entendemos por próximo como a
que Jesus proclamou (Mateus, nós mesmos
22:34-40) que a Lei e os Profetas,
tudo o que está no Velho Testa-
mento pode ser resumido em
duas atitudes fundamentais:

O Amor a Deus acima de todas


as coisas e ao próximo como a nós
mesmos.

No desdobramento de seu apos-


tolado, nos seus sacrifícios, na sua

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lidamos muito mal com ele e aca- Para sua surpresa, ao tomar co- mal utilizar a energia divina nos
bamos nos comprometendo. nhecimento dos estragos produzi- desvios do egoísmo.
Daí a necessidade de buscar dos, a senhora apenas o abraçou Canalizando-a no empenho
instrução. É com o conhecimen- com carinho, dizendo: do Bem, acenderemos luzes ao
to que iremos aprendendo a ca- – Ah! Meu filho, quanto mal nosso redor, a iluminar as pes-
nalizar a energia do Amor para lhe fizeram! soas e a nós mesmos, realizando-
as realizações mais nobres, sem A partir dali ele foi outra pes- -nos como filhos verdadeiros de
desvios. soa. Hoje é conceituado professor Deus.
O texto de João de Brito bri- que cuida de adolescentes rebel- Enquanto não o fizermos, esta-
lharia em qualquer manual de des, empregando o mesmo recur- remos descumprindo a vontade
bem viver. so que a senhora usou com ele – o de Deus e nos candidatando a in-
Destaque especial para a afir- abençoado Amor que se expande cursões pelos domínios do desati-
mativa: na fraternidade, capaz de com- no, do vício, da irresponsabilida-
preender e ajudar. de, nos desvios do mal, o Amor
A fraternidade é o Amor que se Há muito a aprender, habili- fora da lei, como diz sabiamente
expande. tando-nos a jamais represar ou João de Brito.

Diríamos o Amor que conta-


gia, que sensibiliza, que transfor-
ma, que converte. Retorno à Pátria Espiritual
Uma das experiências huma-
nas mais belas e comoventes que
tive a felicidade de ver, na tele-
visão, estava vinculada a uma
Honório Onofre de Abreu
mensagem institucional sobre a Desencarnou em Belo Horizonte (MG), no dia 13 de novembro de
fraternidade. 2007, o confrade Honório Onofre de Abreu, dedicado trabalhador do
Trata-se da história de um ado- Movimento Espírita mineiro. De caráter nobre e modesto, sua vida
lescente rebelde que passou por foi pautada em divulgar e vivenciar o Evangelho de Jesus, segundo o
várias instituições correcionais, entendimento espírita. Ocupava o cargo de presidente da União
sempre dando muito trabalho. Espírita Mineira (UEM), em segundo mandato, onde realizou profí-
Uma senhora dispôs-se a aco- cuas atividades, e o de presidente do Conselho do Hospital Espírita
lhê-lo em seu lar, oferecendo-lhe a André Luiz, quando ocorreu a sua desencarnação. Dirigiu o Grupo
oportunidade de uma vida nova, Espírita Emmanuel, que completou cinqüenta anos de existência em
decente e digna.
outubro passado, no qual implantou o Estudo Interpretativo do
Ele logo aprontou. Abriu todas
Evangelho à Luz da Doutrina Espírita – o trabalho de sua vida –, que
as torneiras da casa quando ela se
analisa a mensagem cristã, versículo a versículo. Este trabalho resul-
ausentou, provocando pequena
inundação. tou na publicação do livro Luz Imperecível, sob sua coordenação, um
Extravasava, irracionalmente, foco irradiador de claridades evangélicas interpretadas sob o enfoque
as perturbações que o desorien- do Espiritismo. Colaborou na elaboração da apostila Ensinos e Pará-
tavam, sem sequer cogitar de bolas de Jesus, do Curso Aprofundado da Doutrina Espírita, da
que seria remetido de volta a Federação Espírita Brasileira (FEB).
uma daquelas instituições que Ao nobre confrade Honório, em seu retorno à Pátria Espiritual,
odiava. rogamos as bênçãos de Jesus.

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Em dia com o Espiritismo


Consciência, consciente,
autoconsciência e
autoconhecimento
M A RTA A N T U N E S M O U R A

T
ais palavras, comuns nos meio de padrões de conduta e por mesma, de uma relação intrín-
livros de auto-ajuda, são juízos de valor. A palavra consciên- seca ao homem, “interior” ou
freqüentemente citadas em cia não é sinônima de consciente, “espiritual”, pela qual ele pode
palestras e publicações espíritas, cujo sentido é outro: estado men- conhecer-se de modo imediato e
nos dias atuais. A ampla liberali- tal ou consciente, parte ou divisão privilegiado e por isso julgar-se
dade de uso nem sempre se re- do psiquismo que determina a de forma segura e infalível. Tra-
veste dos cuidados que o correto atenção e a percepção imediatas, ta-se, portanto, de uma noção
entendimento de cada expressão em contraposição com o subcons- em que o aspecto moral – a pos-
exige, produzindo-se, em conse- ciente e o inconsciente. sibilidade de autojulgar-se – tem
qüência, equívocos de interpreta- Para o senso comum, consciên- conexões estreitas com o aspec-
ção dos postulados espíritas, quan- cia é o recurso íntimo presente no to teórico, a possibilidade de co-
do ocorrem associações errôneas. ser humano que lhe permite co- nhecer-se de modo direto e in-
Para se ter uma idéia da dificul- nhecer o mundo e as pessoas. A falível. [...] Portanto, o termo
dade de relacionar tais conceitos Filosofia, entretanto, apresenta Consciência [...] significa não
aos ensinos espíritas, registramos conceituação diversa: só qualidade de estar ciente de
que o verbete consciência, por seus próprios conteúdos psíqui-
exemplo, apresenta quinze inter- O uso filosófico desse termo cos (percepções externas ou atos
pretações diferentes no Dicioná- tem pouco ou nada a ver com o autônomos do Espírito), mas a
rio Houaiss.1 significado comum [...]. O sig- atitude de “retorno para si mes-
A Medicina ensina que cons- nificado que esse termo tem na mo”, da indagação voltada para
ciência2,3 é o sentido íntimo ou a filosofia moderna e contempo- a esfera de interioridade.4
percepção crítica de si mesmo rânea, embora pressuponha ge-
quanto ao que é certo, errado, ou nericamente essa acepção co- Léon Denis considera cons-
razoável. Dessa forma, o indiví- mum, é muito complexo: é o de ciência não só como “[...] a facul-
duo conduz a sua existência por uma relação da alma consigo dade de perceber, mas também o

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sentimento que temos de viver, A autoconsciência “[...] tem sig- A autoconsciência desvela re-
agir, pensar, querer [...]”.5 Escla- nificado e história diferentes de cursos inesgotáveis que perma-
rece, igualmente, que o desen- consciência. Na realidade não sig- necem adormecidos, aguardan-
volvimento da consciência é gra- nifica ‘consciência de si’, no senti- do o momento hábil para mani-
dual, segundo esta seqüência: do de cognição [...] que o homem festar-se. É semelhante ao agra-
sensações, sentimentos, capaci- tenha dos seus atos ou de suas dável calor que faz desabrochar
dade intelectual, moralidade. 5 manifestações, percepções, etc., a vida, amadurecer os frutos e
Emmanuel entende que cons- tampouco significando retorno à alegrar os corações após inver-
ciência é fagulha divina, única realidade interior [...]; é a cons- nia demorada e destrutiva.8
capaz de desenvolver a autocons- ciência que tem de si um Princí-
ciência e o autoconhecimento: pio infinito [Espírito imortal], O desenvolvimento da auto-
condição de toda a realidade”.7 Es- consciência desencadeia o autoco-
Na história de todos os povos, tudiosos do assunto informam nhecimento, situação que promo-
observa-se a tendência religiosa que pela conquista da autocons- ve a saúde e a liberdade do Espí-
da Humanidade; é que em toda ciência o indivíduo desenvolve o rito, segundo esclarecimentos de
personalidade existe uma fagu- autocontrole e aprende a enxergar Platão, Spinoza e Edgar Moran,
lha divina – a consciência, que as pessoas e os acontecimentos no valendo-se da sentença adotada por
estereotipa em cada Espírito a contexto do real, não do imagina- Sócrates: conhece-te a ti mesmo.
grandeza e a sublimidade de sua do. Explicam, igualmente, que pela Contudo, o indivíduo só inicia,
origem; no embrião, a princípio autoconsciência aprende-se a iden- efetivamente, o processo de auto-
rude nas suas menores manifes- tificar uma informação (fato ou conhecimento quando adquire
tações, a consciência se vai des- idéia); entender seu real significa- plena convicção de que é um Es-
pindo dos véus de imperfeição e do e utilizá-la de acordo com as pírito eterno, criado por Deus,
bruteza que a rodeiam, debaixo ordenações da ética e da moral. preexistente e sobrevivente à mor-
da influência de muitas vidas do Segundo Joanna de Ângelis há te do corpo físico. Sendo assim, os
seu ciclo evolutivo, em diferen- critérios para a aquisição e o aper- materialistas têm dificuldade para
tes círculos de existência, até que feiçoamento da autoconsciência: entender e desenvolver a auto-
atinja a plenitude do aperfei- consciência e o autoconhecimen-
çoamento psíquico e o conheci- À medida que o ser amadurece to, uma vez que ignoram, desco-
mento integral do seu próprio psicologicamente, podendo dis- nhecem ou repelem a idéia da
“eu”, que, então, se unirá ao cen- cernir o que deve e pode fazer existência e sobrevivência do Es-
tro criador do Universo, no qual em relação ao que pode, mas pírito. As suas experiências de au-
se encontram todas as causas não deve ou deve, porém não toconhecimento são de superfície,
reunidas e de onde irradiará o pode realizar, surge a autocons- principalmente se fundamentadas
seu poema eterno de sabedoria ciência que o predispõe ao cres- em métodos terapêuticos que des-
e amor. cimento interior livre de confli- consideram a imortalidade do ser
É a consciência, centelha de luz tos e tribulações. e a realidade espiritual.
divina, que faz nascer em cada .................................................... Há uma profusão de textos espí-
individualidade a idéia da ver- Esse processo demanda tempo e ritas atualmente, sobretudo na in-
dade, relativamente aos proble- experiência, mediante os quais ternet, mas também publicados em
mas espirituais, fazendo-lhe são avaliadas as propostas do periódicos e livros, que, a despeito
sentir a realidade positiva da conhecimento e as necessidades de serem impregnados por uma
vida imortal, atributo de todos do sentimento. aura de inovação, ajuntam, na ver-
os seres da criação.6 .................................................... dade, conceitos oriundos de diversas

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6
fontes do saber humano, como regar, vida afora, a carga da incom- XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel.
numa “colcha de retalhos”: da Me- preensão. Emmanuel aconselha co- Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de
dicina (inclusive da psiquiatria e mo agir em tal situação: Janeiro: FEB, 2006. Cap. 15, p. 86.
7
da psicanálise), da Psicologia, da ABBAGNANO, Nicola. Op. cit. p. 95.
8
Física (física quântica), da Filosofia [...] E se as pessoas perseverarem FRANCO, Divaldo Pereira. Autoconsciên-
e da Religião. O resultado desta na incompreensão, cuide cada cia. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Men-
“salada” de idéias e conceitos, que trabalhador da sua tarefa, porque sagem psicografada em 14 de maio de
mais confunde do que esclarece, Jesus afirmou que o trigo cresce- 2001, em Düsseldorf, Alemanha. Publica-
provoca uma série de desordens e ria ao lado do joio, em sua seara da no Jornal Mundo Espírita de agosto de
desvios doutrinário-espíritas. santa, mas Ele, o Cultivador da 2001. Disponível no site: http://www.espi-
Causa perplexidade essa tentati- Verdade Divina, saberia escolher rito.org.br/portal/artigos/mundo-espiri-
va de colocar em vala comum pre- o bom grão na época da ceifa.10 ta/autoconsciencia.html
9
ceitos reducionistas, de natureza XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Wal-
materialista, no mesmo nível das do. Estude e viva. Pelos Espíritos Emma-
orientações espíritas, de sentido dia- Referências: nuel e André Luiz. 12. ed. Rio de Janeiro:
1
metralmente oposto, que explicam HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro Sal- FEB, 2006. “Consciência e conveniên-
claramente por que estamos aqui, les; FRANCO, Francisco Manoel de Mello. cia”, p. 31.
10
de onde viemos e qual será a nossa Dicionário Houaiss da língua portuguesa. XAVIER, Francisco Cândido. O consolador.
destinação. Assim, é oportuno re- Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 806. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. Rio de Ja-
2
cordar este conselho de André Luiz: DAVIS, F. A. Dicionário médico enciclopé- neiro: FEB, 2007. Questão 366, p. 206.
dico taber. Tradução Fernando Gomes do
[...] É preciso saber se estamos Nascimento. 17. ed. São Paulo: Andrei,
pensando, sentindo, falando e 2000. p. 391.
3
agindo para que o nosso regozi- DICIONÁRIO MÉDICO BLAKISTON. Tradu-
jo de agora seja também rego- ção de Benjamin Mayerovitch [et. al.] 2.
zijo depois.9 ed. São Paulo: 1987. p. 258.
4
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filoso-
É preciso prudência e muita re- fia. Coordenação de Alfredo Bosi. Tradu-
flexão para associar idéias de outras ção de Ivone Castilho Benedetti. 4.
áreas do saber às orientações espíri- ed. São Paulo: Martins Fontes,
tas, sem que ocorram mutilações na 2000. p. 185-186.
5
mensagem espírita, codificada por DENIS, Léon. O problema do
Allan Kardec. Neste aspecto, é dever ser, do destino e da dor. 30. ed.
e responsabilidade do espírita man- Rio de Janeiro: FEB, 2006.
ter a pureza doutrinária do Espiri- Terceira parte, “As potências
tismo, ainda que tenhamos de car- da alma”, item XXI, p. 323.

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A FEB e o Esperanto

Zamenhof –
Traços luminosos de um
nobre caráter *
A F F O N S O S OA R E S

E
mbora se declarasse um judeu livre-pensador, (homaranismo), com que objetivava a convivência
Lázaro Luís Zamenhof, o criador do esperanto, fraterna, pacífica, entre grupos de línguas, raças e
sempre conduziu sua vida pairando por sobre religiões diferentes.
quaisquer limitações sectárias. Este, aliás, era apenas Em sua criação mais popular – o esperanto –,
um dos traços de sua personalidade supe- Zamenhof soprou uma alma que o distin-
rior, plenamente identificada com aquele gue de qualquer outra língua: que ela
homem de bem descrito por Allan se torne em veículo para que en-
Kardec no capítulo XVII, item tre os povos se estabeleçam a
3, de O Evangelho segundo o Es- justiça e a fraternidade.
piritismo. E sua outra obra – o homa-
Os frutos de sua vida e obra ranismo –, ele a impregnou
bem evidenciam a excelência da com a pura essência da Lei
árvore de onde provinham. Maior, definindo-lhe como
Tudo o que saía daquela alma único princípio de caráter
era saturado das elevadas qua- religioso o direito de cada um
lidades de seu caráter. conceber Deus como lhe dita
Ainda na infância, impres- a consciência ao lado do dever
sionado com os conflitos de nature- de se fazer ao próximo apenas o
za racial, religiosa e lingüística em sua que se deseja para si.
cidade natal, a pequena Bialystok, Tão nobres idéias não ficavam
sonhava Zamenhof solucioná-los encerradas em mera pregação,
de alguma forma, aí residindo oral ou escrita. Eram sincera-
a origem do que mais tarde se mente vividas por Zamenhof,
concretizaria sob a forma de uma a começar pela própria família,
Língua Internacional Neutra (es- Lázaro Luís Zamenhof como o prova, entre tantas ou-
peranto) e de um código de moral, igualmente neutro tras suas virtudes, a devoção com que praticava o
amor filial.
*Adaptação, resumida, de palestra proferida em 8 de dezembro de Seu pai, Marco Zamenhof, que sofria pela morte
2006, na Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio de Janeiro. da esposa e a convocação de dois filhos para a

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guerra russo-japonesa, consolava-se num trabalho


sobre provérbios em diversas línguas, de que che-
garam a ser publicados os três primeiros cadernos.
Um dia, Marco recebe da firma Möller & Borel
uma encomenda de algumas centenas de exempla-
res da obra, o que muito o alegrou, amenizando
seu sofrimento moral. Marco, porém, nunca sabe-
ria em vida que a encomenda se deveu à iniciativa
do filho amoroso, pois foi Zamenhof quem
escreveu a Möller & Borel, pedindo-lhes solicitar
os livros, tudo pagando antecipadamente... O se-
gredo só foi revelado em 1919, dois anos após sua
morte, por Félix Zamenhof, em um esboço biográ-
fico sobre o irmão.
Zamenhof se impressionava fortemente com o
sofrimento do próximo, deixando-se envolver na
mais intensa piedade. Certa vez, atendendo à súpli-
ca desesperada de um pai, cuja filha se aproximava
de cruel agonia, conseguiu salvá-la após horas se-
guidas de incansável intervenção. Vendo, porém, a
miséria reinante naquele lar, ele não somente dis-
pensou o pai do pagamento de qualquer quantia Marco Zamenhof: teve obra publicada graças a
encomenda do filho, Lázaro Zamenhof
por seus serviços, como também deixou seus pou-
cos recursos para a compra de medicamentos. Tal Muito, muito mais se poderia dizer sobre o ge-
prática de legítima piedade e caridade, aliás, se re- nial iniciador do esperanto, a cujo respeito o Espí-
petiu muitíssimas vezes na vida do grande missio- rito Francisco Valmiro Lorenz, na mensagem “O Es-
nário. Dentre tantos episódios dessa grandeza, re- peranto como revelação”, ditada a Francisco Cân-
gistramos apenas mais um, revelador da superiori- dido Xavier em 19/1/59, Reformador de abril/1959,
dade moral do criador do esperanto: compondo, p. 13(81)-15(83), assim se expressou, definindo-lhe
com outros colegas, uma junta para socorro a uma a grandeza espiritual:
anciã, recusou-se terminantemente, ao contrário
dos outros médicos, a receber qualquer honorário, [...] um dos grandes missionários da Luz, consagra-
simplesmente porque não foi possível evitar o de- do à concórdia [...].
senlace da cliente. [...] gênio da confraternização humana [...].
Um dos momentos culminantes de sua vida, toda [...] grande mensageiro da fraternidade.
dedicada ao bem da Humanidade, foi o perdão since-
ro concedido a um co-idealista francês em quem de- A escassez de espaço, todavia, nos obriga a sin-
positava ilimitada, incondicional confiança, mas que tetizar os traços luminosos de seu caráter supe-
o traiu da forma mais vil. Para essa pobre criatura, rior: fé inabalável em Deus, fé no futuro, fé na
que dantes havia tido grande e positiva influência no alma humana, caridade, humildade sincera, com-
Movimento Esperantista, Zamenhof manteve seus bra- paixão, bondade, afabilidade, tolerância, huma-
ços sincera e permanentemente abertos até o fim de nidade, indulgência, perdão, entre tantos outros
sua vida, assegurando-lhe todas as possibilidades de atributos, próprios de Espíritos efetivamente
reconsideração e retorno às fileiras do esperantismo. superiores.

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Cristianismo Redivivo
História da Era Apostólica
Novas perguntas
“A diversidade de imagens de Jesus levanta a suspeita de que os retratos de
Jesus sejam na verdade auto-retratos de seus autores.” 1

HAROLD O DUTRA DIAS

O
reinado de Guilherme II representavam as mais antigas e de uma suposta “precisão histó-
(1859-1941) assistiu, na confiáveis fontes para a recons- rica”; o elemento projetivo das
Alemanha, ao floresci- trução do quadro biográfico do biografias sobre Jesus, uma vez
mento do liberalismo teológico e Cristo. que os biógrafos retratavam a
da pesquisa “clássica” sobre a his- O colapso do liberalismo teo- personalidade do Mestre ao sa-
tória do Cristianismo, cuja carac- lógico, porém, veio mais cedo do bor das suas preferências e con-
terística marcante foi a explora- que se imaginava, em virtude de veniências pessoais.
ção histórico-crítica das fontes li- três fatores: a constatação do ca- O ocaso da Teologia Liberal
terárias, visando a reconstrução ráter fragmentário dos evange- contribuiu para o surgimento da
da personalidade e da vida de Je- lhos, que impediria qualquer es- chamada “Teologia Dialética”,
sus, ao menos na concepção dos forço de extrair um “desenvolvi- herdeira da filosofia existencia-
seus expositores mais destacados. mento” da personalidade de Je- lista de Heidegger, segundo a qual
Inaugurava-se a Terceira Fase da sus a partir da seqüência narra- “o ser humano conquista sua ‘au-
pesquisa histórica do Cristianis- tiva do evangelho de Marcos; o tenticidade’ apenas na decisão, a
mo sob a influência de desmedido caráter tendencioso das fontes qual não pode ser assegurada
otimismo. F. Baur defendia a pri- antigas, visto que o evangelista mediante argumentos objetivá-
mazia dos sinóticos sobre o Evan- privilegiava determinada men- veis (como o conhecimento his-
gelho de João. H. Holzmann pro- sagem, ainda que em detrimento tórico). Para um existencialis-
punha a teoria das duas fontes, mo cristão a decisão é a respos-
segundo a qual Marcos e “Q”2 menciona a existência das “Logias” de ta ao chamado de Deus no que-
Levi. Todavia, cumpre salientar que não rigma3 da cruz e da ressurrei-
1 há comprovação histórica da existência ção de Cristo, que o ser humano
THEISEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus
do referido documento. O trabalho dos
histórico. São Paulo: Loyola, 2002. p. 31.
estudiosos tem sido selecionar ditos de
2
Termo alemão que significa “fonte”. Jesus, nos evangelhos de Mateus e Lucas,
3
Schleiermacher foi o primeiro a propor a ausentes no evangelho de Marcos, pro- No grego, essa palavra (querigma) sig-
existência de uma coletânea de declarações pondo que essa seleção aponte para a nifica “a coisa pregada”, a pregação dos
de Jesus como uma das fontes dos evan- suposta fonte “Q”. Em resumo, estamos primeiros cristãos, ou melhor, o conjunto
gelhos. Alguns críticos acreditam que Pa- diante de uma hipótese que deve ser ana- de crenças básicas por eles defendidas e
pias faz referência a esse documento quando lisada com cautela. divulgadas.

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compreende por meio de um mor- segundo o qual, para se recons- tico). Por isso ela deu preferência
rer e viver existencial em Cristo”.4 truir um mínimo de tradição a fontes ortodoxas e canônicas.6
O trabalho de R. Bultmann autêntica sobre Jesus, torna-se
(1884-1976), o mais destacado necessário excluir tudo que possa Assim, o esforço para minimizar
exegeta da Teologia Dialética, re- ser derivado tanto do Judaísmo os contornos judaicos da mensa-
flete o ceticismo histórico que to- quanto da pregação apostólica, na gem cristã constitui o aspecto pro-
mou conta dos pesquisadores, busca da voz “original” do Cristo. blemático dessa abordagem, já que
após o colapso da pesquisa tradi- Na opinião dos estudiosos do favoreceu o anti-semitismo, desfi-
cional. Na sua concepção, o Cris- tema: gurando o pano de fundo histórico
tianismo começa apenas com a dos evangelhos para torná-lo mais
Páscoa, razão pela qual conclui que [...] com o fim da escola bultma- palatável aos existencialistas.
o ensino de Jesus não é relevante niana ficaram cada vez mais evi- A Quinta Fase da pesquisa, tam-
para uma Teologia Cristã. Nessa dentes as arbitrariedades da “no- bém conhecida como terceira bus-
abordagem, o Jesus histórico não va pergunta” pelo Jesus históri-
é objeto nem fundamento da pre- co. Ela era basicamente determi- 6
THEISEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus
gação neotestamentária, que se nada pelo interesse teológico de histórico. São Paulo: Loyola, 2002. p. 28.
baseia exclusivamente no “Cristo” fundamentar a identidade cris-
percebido e divulgado após o Pen- tã ao distingui-la do judaísmo e
tecostes (Cristo Querigmático).5 de garanti-la ao separá-la de he-
A Quarta Fase da pesquisa, de- resias cristãs primitivas (como
senvolvida no círculo dos discípu- a gnose e o entusiasmo carismá-
los de Bultmann, propõe uma
“nova pergunta” pelo Jesus histó-
rico, buscando o elo entre a pre-
gação pós-pascal dos apóstolos e a
pregação do próprio Jesus. En-
quanto a “antiga pergunta” (Teo-
logia Liberal) contrapunha Jesus à
pregação da Igreja, a “nova per-
gunta” procura harmonizar esses
dois elementos.
No lugar da reconstrução críti-
co-literária das fontes, a metodo-
logia da Teologia Dialética se con-
centra na comparação entre a his-
tória das religiões e a história da
tradição evangélica. Nesse contex-
to, assume papel relevante o inti-
tulado “critério da diferença”,

4
THEISEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus
histórico. São Paulo: Loyola, 2002. p. 31.
5
O Cristo retratado na pregação dos após-
tolos e dos primeiros cristãos do Século I.

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ca (Third Quest), que se desenvol- como a imaginação religiosa do muitas retificações são feitas, de
veu, sobretudo, nos países de fala Cristianismo primitivo. Pois tan- forma sutil. Exige-se do leitor exa-
inglesa, procura superar essas to aqui como lá atua uma gran- me cuidadoso, sob pena de serem
idiossincrasias. Nela, o interesse de força imaginativa, acesa pela divulgadas informações espiritual-
histórico-social substitui o interes- mesma figura histórica. Em am- mente incorretas, apenas porque
se teológico, ao passo que a inser- bos os casos, ela opera de forma determinado pesquisador encar-
ção de Jesus no Judaísmo substi- aberta: símbolos religiosos, ima- nado as defenda em suas obras.
tuiu o interesse de separá-lo das gens e mitos permitem sempre Nesse sentido, é valiosa a adver-
suas bases históricas e sociais. Há, nova interpretação, hipóteses tência de Emmanuel:
também, maior abertura a fontes históricas permitem sempre no-
não-canônicas (em parte heréti- va correção. Neste processo, nem [...] Hipóteses incontáveis foram
cas), tais como os apócrifos. a construção religiosa, nem a re- aventadas, mas os sábios mate-
Em suma, munidos dos novos construção histórica da história rialistas, no estudo das idéias re-
instrumentos da pesquisa hodier- de Jesus procede com arbitra- ligiosas, não puderam sentir que
na, tais como história antiga, críti- riedade, mas com base em con- a intuição está acima da razão
ca literária, crítica textual, filologia, vicções axiomáticas. A imagina- e, ainda uma vez, falharam, em
papirologia, arqueologia, geogra- ção religiosa do cristianismo pri- sua maioria, na exposição dos
fia, religião comparada, os atuais mitivo é conduzida pela sólida princípios e na apresentação das
pesquisadores tentam reconstruir crença de que por meio de Jesus grandes figuras do Cristianismo.
o ambiente sociocultural de Jesus, é possível fazer contato com [...] É que, portas a dentro do
de modo a experimentar o efeito Deus, a realidade última. A ima- coração, só a essência deve pre-
que as palavras do Mestre produ- ginação histórica é determinada valecer para as almas e, em se
ziram nos ouvintes da sua época. pelas convicções básicas da cons- tratando das conquistas subli-
Nesse esforço, procura-se evi- ciência histórica: todas as fontes madas da fé, a intuição tem de
tar juízos preconcebidos, premis- se originam de seres humanos marchar à frente da razão, prelu-
sas rígidas, preconceitos étnicos, falíveis e devem, portanto, ser diando generosos e definitivos
deixando que a mensagem se esta- submetidas à crítica histórica.7 conhecimentos.8
beleça ainda que contrariamente
às expectativas dos crentes atuais. O espírita-cristão, abençoado Vê-se que a proposta da Espiri-
No entanto, ao montar o quebra- pela revelação dos Espíritos supe- tualidade superior reside na con-
-cabeça da história do Cristianis- riores, especialmente na produção jugação da Razão e da Fé, razão pe-
mo Primitivo com as escassas peças mediúnica de Francisco Cândido la qual, antes de iniciarmos nosso
disponíveis, nem sempre é possí- Xavier, conta com um elemento estudo da “História Apostólica”, à
vel ao pesquisador humano dis- precioso, muitas vezes negligen- luz da obra Paulo e Estêvão, decidi-
pensar certa dose de imaginação. ciado. Os romances do Benfeitor mos fazer um histórico da pesquisa
Na avaliação de Gerd Theisen: Emmanuel constituem detalhado acadêmica, a fim de evitar, ou pelo
processo de reconstrução dos três menos conhecer, as extravagâncias
[...] todas as descrições de Jesus primeiros séculos do Cristianismo. e equívocos de seus expositores.
contêm um elemento constru- Nesses romances, alguns dados
tivo que vai além dos dados con- da pesquisa histórica puramente
8
tidos nas fontes. A imaginação humana são confirmados, todavia, XAVIER, Francisco Cândido. A caminho
da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed.
histórica cria com suas hipóteses
Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XIV, item
uma “aura de ficcionalidade” em 7
THEISEN, Gerd; MERZ, Annette. O Jesus “A redação dos textos definitivos”,
torno da figura de Jesus, assim histórico. São Paulo: Loyola, 2002. p. 31. p. 124-125.

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Conselho Federativo Nacional

Reunião Ordinária do
Conselho Federativo Nacional
A Reunião do Conselho Federativo Nacional da FEB, realizada em Brasília,
de 9 a 11 de novembro de 2007, obedeceu à seguinte pauta:

1. Instalação, prece e de Elsa Rossi, membro da direto- Espíritas (CME) – José Plínio
palavra do presidente ria da União Britânica das Socie- Monteiro e Eloy Carvalho Villela –,
do CFN dades Espíritas (British Union of Instituto de Cultura Espírita do
Spiritists Societies); e, como con- Brasil (ICEB) – Maria Amélia
O presidente da FEB e do CFN, vidados, dos representantes das Braghirolli Serrano e Ronaldo
Nestor João Masotti, abriu a Reu- Entidades Especializadas de Âm- Dias Serrano.
nião com uma prece e expressou bito Nacional, que se reuniram Em sua manifestação, o presi-
a satisfação de iniciar mais uma na véspera: Associação Brasileira dente do CFN comentou o mo-
Reunião do Conselho Federativo de Divulgadores do Espiritismo mento especial do ano de 2007,
Nacional, contando com a pre- (Abrade) – Marcelo Firmino com as comemorações do Sesqui-
sença dos representantes das 26 Dias e Saara Nousiainen –, Asso- centenário de O Livro dos Espíri-
Entidades Federativas dos Estados ciação Médico-Espírita do Brasil tos, incluindo as ações com vistas
e a do Distrito Federal; dos visi- (AME-Brasil) – Marlene Rossi Se- à implementação do “Plano de
tantes Milciades Lezcano Torres, verino Nobre –, Associação Bra- Trabalho para o Movimento Es-
Jorge Segoyia e Luis Julian Sego- sileira dos Magistrados Espíritas pírita Brasileiro (2007-2012)”, e os
via Jhannsen, integrantes do Mo- (Abrame) – Zalmino Zimmer- esforços para a difusão da Dou-
vimento Espírita do Paraguai, e mann –, Cruzada dos Militares trina Espírita.

O presidente da FEB,
Nestor Masotti, fala ao CFN

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2. Expediente
Foram aprovadas por
unanimidade as Atas das
Reuniões realizadas nos pe-
ríodos de 10 a 12 de no-
vembro de 2006 (publicada
na Edição Especial de Re-
formador de maio de 2007),
e no dia 12 de abril de 2007
(publicada na Edição Es-
pecial de Reformador de Representantes da Região Sul e visitantes em dinâmica
de grupo sobre o tema Comissões Regionais
julho de 2007).
Regionais do CFN, escolhendo-se Em seguida, os coordenadores
3. Ordem do Dia secretários e relatores. Em cada de Áreas das Comissões Regionais
grupo houve análise sucinta do apresentaram algumas informa-
3.1 Apresentação do relatório trabalho, que vem sendo realiza- ções relevantes em seus âmbitos
das atividades das Entida- do, de implementação dos textos de atuação: Atendimento Espiri-
des Federativas Estaduais aprovados pelo CFN: Orientação tual no Centro Espírita, por Maria
Todas as Entidades Federativas ao Centro Espírita e “Plano de Tra- Euny Herrera Masotti; Atividade
entregaram relatórios escritos so- balho para o Movimento Espírita Mediúnica, por Marta Antunes de
bre as ações realizadas ao longo Brasileiro (2007-2012)”. Oliveira Moura; Estudo Sistema-
deste ano e algumas expuseram Foram definidos os temas para tizado da Doutrina Espírita, apre-
pôsteres. Na Reunião, alguns re- as Reuniões dos Dirigentes: Norte sentadas em outro momento, por
presentantes deram destaque a – “O papel do dirigente como Cecília Rocha; Infância e Juven-
eventos significativos, como os de multiplicador na Casa Espírita”; tude, pela assessora Miriam Lúcia
Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Fe- Nordeste – “Gestão Federativa”; Herrera Masotti Dusi; Serviço
deral, Maranhão, Mato Grosso do Centro – “Principais necessidades de Assistência e Promoção Social
Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, e dificuldades para a estruturação Espírita, por José Carlos da Silva
Paraná, Pernambuco, Rio de Ja- e implantação do Plano de Traba- Silveira.
neiro e São Paulo. lho pelas Federativas”; Sul – “Re- Ao finalizar o item sobre Ati-
flexões éticas sobre a influência vidades Federativas, o secretário-
3.2 Atividades Federativas das atividades de entidades não -geral do CFN, Antonio Cesar
Este item da Pauta foi desen- federadas e a qualidade das pro- Perri de Carvalho, teceu conside-
volvido em forma de dinâmica de duções espíritas”. rações gerais acerca dos resulta-
grupo, sob a coordenação da Se- Os grupos apresentaram pro- dos da dinâmica de grupo, o pla-
cretaria Geral do CFN. Os repre- postas para o desenvolvimento nejamento das Comissões Regio-
sentantes das Entidades Federati- das Reuniões das Comissões Re- nais para 2008 e os próximos pas-
vas foram divididos em quatro gionais do CFN em 2008 e, em ple- sos para implementação do “Pla-
grupos, de conformidade com as nário, ficou definido que a meto- no de Trabalho para o Movi-
Comissões Regionais do CFN dologia das mesmas será efetivada mento Espírita Brasileiro (2007-
(Norte, Nordeste, Centro e Sul). de acordo com as sugestões recebi- -2012)”, reiterando que a Secreta-
Os grupos foram coordenados das, mantendo-se as diferenciações ria Geral está à disposição para
pelos secretários das Comissões e características de cada Região. eventuais apoios.

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3.3 Atividades Editoriais informações relativas à progra- dor; lançamento da nova edição de
O vice-presidente da FEB, Ilcio mação das atividades comemora- Orientação ao Centro Espírita e da
Bianchi, prestou informações so- tivas do Sesquicentenário e às aprovação do “Plano de Trabalho
bre as atividades do Departamen- Campanhas Família, Vida e Paz. para o Movimento Espírita Bra-
to Editorial, incluindo a edição de O Sesquicentenário de O Livro sileiro (2007-2012)”; e participa-
livros e da revista Reformador. Re- dos Espíritos foi assinalado, em ção em Sessão Solene na Câmara
feriu-se às novas reedições pro- todos os Estados, com atividades dos Deputados.
gramadas, dentro do processo de comemorativas através de pales- As Entidades Federativas de-
atualização de composição, e do tras, seminários, semanas espíri- ram continuidade ao desenvolvi-
lançamento de Edição Especial tas e congressos estaduais. Vários mento das Campanhas Família,
Comemorativa da Revista Espírita Estados contaram com eventos Vida e Paz, neste ano, tendo ha-
(1858-1869). Vários representan- em ambientes públicos e sessões vido, porém, priorização para as
tes de Entidades Federativas se solenes em Assembléias Legislati- ações relacionadas com o Movi-
manifestaram com perguntas e vas e Câmaras de Vereadores, e, mento “Em Defesa da Vida –
sugestões acerca da distribuição também, com publicações de jor- Brasil Sem Aborto”. Em vários
e comercialização de livros. nais especiais e de livros. Estados foram instalados Comitês
A vice-presidente Cecília Ro- O secretário-geral do CFN, integrados pela sociedade civil e
cha deu informações sobre a edi- como coordenador da Comissão inter-religiosos, com intensa par-
ção e difusão de Programas de designada para programar as ati- ticipação da Entidade Federativa
Estudos Doutrinários (Apostilas). vidades do Sesquicentenário, in- Estadual, sendo promovidos atos
formou que foi cumprida a pro- públicos. O encarte de Reforma-
3.4 Sesquicentenário de gramação geral aprovada pelo dor “A Vida e o Aborto na Visão
O Livro dos Espíritos CFN: a edição do selo personali- Espírita” (edição de agosto de
zado e do carimbo obliterativo 2007) foi amplamente distribuído
3.5 Campanhas Família, Vida pelos Correios; o 2o Congresso pelas referidas Federativas e tam-
e Paz Espírita Brasileiro, realizado em bém em alguns jornais leigos.
As manifestações relativas aos Brasília, em 13 abril de 2007; Edi- O presidente e o secretário-
dois itens foram feitas conjunta- ção Especial comemorativa de O -geral do CFN informaram sobre
mente. Quase todos os represen- Livro dos Espíritos e de Suplemen- a atuação da FEB no ato público
tantes se inscreveram para prestar tos e Edição Especial de Reforma- realizado na Praça da Sé, em São

Aspecto do Plenário

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Paulo, em março; na Marcha Na- está doando ao CEI os direitos ternacional, na execução de suas
cional da Cidadania Em Defesa da de La Revue Spirite, e o 6o Con- realizações, bem como a Unifica-
Vida – Brasil Sem Aborto, reali- gresso Espírita Mundial será rea- ção do Movimento Espírita, den-
zada na Esplanada dos Minis- lizado na Espanha, em outubro tro dos princípios de liberdade,
térios, em Brasília, no dia 15 de de 2010. fraternidade, solidariedade e res-
agosto; e a respeito das publica- ponsabilidade que a Doutrina
ções da FEB sobre a questão do 3.7 Proposta da Federação Espírita preconiza;
aborto. O secretário-geral referiu- Espírita do Paraná Considerando o seu trabalho
-se à formação dos comitês esta- O CFN analisou a proposta educacional e de promoção social,
duais do citado Movimento, e, apresentada pela Federação Espí- através da Mansão do Caminho,
para colaborar com este objeti- rita do Paraná (FEP) e outra for- desde 1947, que já atendeu a mi-
vo, apresentou o Sr. Jaime Fer- mulada pela FEB. Aprovou esta lhares de cidadãos brasileiros;
reira Lopes, integrante do Mo- última com as emendas propostas Considerando sua extensa e
vimento Nacional Em Defesa da por uma comissão formada, no elucidativa produção psicográfi-
Vida. momento, pelo CFN. Ao final, foi ca que já ultrapassa duas cente-
aprovada a seguinte redação: nas de obras, todas com direitos
3.6 Movimento Espírita autorais cedidos a instituições de
Internacional “Declaração de Reconheci- benemerência, com traduções
O presidente Nestor João Ma- mento para 14 idiomas;
sotti, como secretário-geral do Considerando o trabalho que Considerando, ainda, o reco-
Conselho Espírita Internacional, vem sendo realizado por Divaldo nhecimento de sua atuação no
prestou algumas informações e Pereira Franco em 60 anos de mundo, que lhe valeu o título de
passou a palavra para Antonio atividades voltadas à difusão da Embaixador para construção
Cesar Perri de Carvalho, inte- Doutrina Espírita, completadas de uma cultura de Paz, pela
grante da Comissão Executiva do neste ano, tendo por referência UNESCO,
CEI. Este relacionou as princi- permanente os ensinos contidos O Conselho Federativo Nacio-
pais ações do CEI durante o ano nas obras básicas de Allan Kar- nal da Federação Espírita Brasi-
de 2007, como visitas, cursos, se- dec que constituem a Codifica- leira, reunindo nesta data todas as
minários, apoios e participação ção Espírita; Entidades Federativas Estaduais
em congressos, comemorações do Considerando que, nesse pe- que o constituem, resolve mani-
Sequicentenário, edições de li- ríodo, através do seu trabalho de festar o Reconhecimento e a Soli-
vros e da Revista Espírita em ou- constante visitação a múltiplas lo- dariedade de todo o Movimento
tros idiomas, e o primeiro ano de calidades de nosso mundo, o esti- Espírita brasileiro aqui represen-
funcionamento da TVCEI; fez mado confrade promoveu a cria- tado, ao nobre trabalho que conti-
referência ao 5o Congresso Es- ção de inúmeros núcleos de estu- nua a ser desenvolvido pelo esti-
pírita Mundial e à 12a Reunião do e difusão do Espiritismo no mado companheiro de ideal Di-
do CEI, realizados em Cartagena Brasil e no Exterior; valdo Pereira Franco”.
(Colômbia), em outubro do ano Considerando que seu traba-
passado. Destacaram-se, dos re- lho vem proporcionando o for- 3.8 Assuntos gerais
latos feitos na referida Reunião, talecimento da união dos espíri- Sesquicentenários da Revis-
as seguintes informações: o Pa- tas e de entidades espíritas, tais ta Espírita e da Sociedade
namá passou a ser o 33o país como o Conselho Federativo Na- Parisiense de Estudos Espí-
integrado ao CEI, a União Espíri- cional da Federação Espírita Bra- ritas, e 3o Congresso Espíri-
ta Francesa e Francofônica (UEFF) sileira e o Conselho Espírita In- ta Brasileiro

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O CFN aprovou duas propos- País e formou comissão para apre- 4. Encerramento
tas apresentadas pela FEB: sentação dos resultados na Reunião
a) Recomendação de que as do CFN de 2008. A comissão é Os momentos finais da Reunião
Entidades Federativas Estaduais coordenada por José Raimundo de contaram com a presença de José
promovam ao longo do ano de Lima (Paraíba) e integrada por Raul Teixeira e de Divaldo Pereira
2008 comemorações alusivas aos Creuza Santos Lage (Bahia), César Franco. Este último, psicofonica-
Sesquicentenários da Revista Es- de Jesus Moutinho (Distrito Fede- mente, recebeu mensagem de Be-
pírita e da Sociedade Parisiense ral), Maria Lúcia Resende Dias zerra de Menezes, intitulada “Sem
de Estudos Espíritas. E também Faria (Espírito Santo), Saulo Gou- adiamentos” (publicada nesta edi-
que, ao ensejo das comemora- veia Carvalho (Mato Grosso), Aloí- ção, p. 8 e 9). O presidente consi-
ções dos 150 anos de fundação sio Ghiggino (Rio de Janeiro), San- derou a mensagem como uma pre-
da Sociedade Parisiense de Estu- dra Maria Borba Pereira (Rio Gran- ce de encerramento, agradeceu a
dos Espíritas, e considerando de do Norte) e Gladis Pedersen de presença e a colaboração de todos
que esta foi a primeira Casa Es- Oliveira (Rio Grande do Sul). e deu por concluída a Reunião.
pírita do mundo, seja estimulada
a divulgação e a implementação Informações Gerais Participação especial
do Orientação ao Centro Espírita. O presidente apresentou infor-
b) A realização do 3o Congres- mações acerca da decisão da Pro- No período de Reunião do
so Espírita Brasileiro, no mês de curadoria Federal no Estado da CFN ocorreram atuações espe-
abril de 2010, em Brasília; e o iní- Bahia sobre o “Programa de Ajus- ciais: na noite do sábado (dia 10),
cio de estudos com este objetivo, a tamento de Conduta” e o “Termo palestra de José Raul Teixeira, nas
serem apresentados ao CFN, em de Compromisso de Conduta” dependências do Salão de Confe-
sua Reunião de novembro de 2008. que as Editoras que publicam as rências da FEB (Cenáculo), e de
obras de Allan Kardec deverão Divaldo Pereira Franco, no final
Estudos sobre a Arte Espírita atender; a manifestação da FEB, da tarde de sábado (dia 10), diri-
A partir de proposta da Fede- de acordo com a legislação vigen- gindo-se ao CFN e na tarde de do-
ração Espírita Paraibana, após dis- te, quanto à preservação das tra- mingo (dia 11), proferindo confe-
cussões, o CFN concluiu que de- duções de Guillon Ribeiro; e a rência no Teatro Pedro Calmon
vem ser iniciados estudos sobre as criação do Instituto Chico Xavier, do Quartel General do Exército,
ações na Área da Arte Espírita no em Uberaba (MG). em Brasília.

3.9 Próxima reunião


A Reunião do CFN de 2008 se-
rá realizada nos dias 7, 8 e 9 de
novembro.

Palestra de José Raul Palestra de Divaldo


Teixeira nas Pereira Franco proferida
dependências do no Teatro Pedro Calmon
Salão de Conferências do Quartel General do
da FEB (Cenáculo) Exército em Brasília

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Seara Espírita

Roraima: Capacitação para Evangelizadores Sociedade Espírita Emílio Mallet, em Natal. A 7a


A Federação Espírita de Roraima promoveu no dia Jornada Espírita Emílio Mallet contou com o apoio da
24 de novembro de 2007 a Capacitação para Evan- Federação Espírita do Rio Grande do Norte (FERN).
gelizadores, que contou com a presença de estudan- Informações: (84) 8815-7374 e (84) 9404-1210.
tes da Doutrina Espírita e igualmente dos evangeli-
zadores. O evento ocorreu no Centro Espírita Paulo Cinqüentenário do ICEB
de Tarso. Informações: www.fer-roraima.org No dia 6 de dezembro de 2007, o Instituto de Cultu-
ra Espírita do Brasil (ICEB) realizou, na Sede Sec-
Maranhão: Comemoração de Aniversário cional da FEB no Rio de Janeiro (Av. Passos, 30, Cen-
da Federação tro), a comemoração de seus 50 anos de fundação.
A Federação Espírita do Maranhão (FEM) comemo- O conferencista José Raul Teixeira fez palestra de
rou 57 anos de fundação com evento realizado nos tema livre em homenagem aos precursores, pio-
dias 30 de novembro a 2 de dezembro de 2007, neiros e fundadores do ICEB e aos 100 anos do
incluindo palestra pública e seminário sobre o escritor e conferencista espírita Deolindo Amorim.
“Plano de Trabalho para o Movimento Espírita Informações: institutoculturaespiritadobr@gmail.com
Brasileiro (2007-2012)”, ambos desenvolvidos por
Marcos Leite e Roberto Fuina Versiani, integrantes São Paulo: Reunião em Bauru
da equipe da Secretaria Geral do CFN. A USE Intermunicipal Bauru (SP) promoveu, nos dias
8 e 9 de dezembro de 2007, o Encontro Estadual de
Rio de Janeiro: Teatro Espírita Dirigentes Espíritas. Em sessão solene de encerramen-
Em dezembro de 2007, o Conselho Espírita do Esta- to das comemorações dos 150 anos de Espiritismo,
do do Rio de Janeiro (CEERJ) apresentou ao público o diretor da Federação Espírita Brasileira (FEB), Evan-
espírita as peças Mais Vivo do Que Nunca e Eurípedes dro Noleto Bezerra, proferiu palestra no dia 8, sobre
Barsanulfo – Uma Vida de Doação. A peça Mais Vivo o tema “Os desafios na Codificação Kardequiana”.
do Que Nunca traz reflexões acerca da problemática
dos Espíritos, que inclui a dificuldade na ascensão Esperanto: Anuário virtual
aos planos superiores da Espiritualidade e a igno- Desde que foi lançada a versão virtual do Anuário da
rância quanto às Leis que regem o Universo, como a Associação Universal de Esperanto, a publicação vem
de Amor e a de Causa e Efeito. A última aborda fatos ganhando popularidade. Cerca de 25% dos esperan-
marcantes da vida de Eurípedes, dedicada ao Bem e tistas de todo o Planeta buscam-no pelo computa-
à propagação do conhecimento e do Espiritismo dor. Para ter acesso ao chamado Jarlibro, o internau-
nascente. A peça é escrita e dirigida por Ronaldo ta tem de ser sócio da entidade máxima do esperan-
Óliver, cantor e diretor de teatro no Rio de Janeiro. tismo internacional. O Brasil aparece em quarto lu-
Informações: www.ceerj.org.br gar na lista de países que mais acessam o Anuário.
Informações: www.uea.org
Rio Grande do Norte: Jornada Espírita
Um final de semana todo dedicado à discussão da paz Casas Espíritas centenárias
sob a ótica espírita, tendo como tema central: “A Solicitamos às instituições espíritas que já tenham
minha paz vos deixo, a minha paz vos dou”. Este foi completado 100 anos, o envio dessa informação.
o objetivo da 7a Jornada Espírita Emílio Mallet, que com dados sobre suas atividades, para divulgação em
aconteceu de 16 a 19 de novembro de 2007, na Reformador.

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O Estudo Sistematizado da Doutrina
Espírita – Programa Fundamental –
Tomo II aborda assuntos referentes à
terceira e à quarta partes de O Livro
dos Espíritos, que tratam respectivamente
das Leis Morais e das Esperanças e
Consolações. São vinte e sete roteiros,
distribuídos em nove módulos, que
oferecem aos estudantes e pesquisadores
da Doutrina Espírita a oportunidade de
refletir a respeito da conduta moral
ante os imperativos da nossa
evolução espiritual.

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