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Generalidades

Actualmente sabe-se que aprox. 10% da populaçao europeia apresenta uma glândula
tiróide aumentada de volume, denominada bócio. Na populaçao mais idosa, esta quota
atinge até 40-50%. Um tratamento iniciado a tempo pode alterar essa situaçao. Assim,
muitas das cirurgias realizadas anualmente seriam desnecessárias. A quota de novos
pacientes com funçao tiroideia excessiva diagnosticada na Europa atinge algo em
volta de 100.000 por ano.

Constituiçao e funçao da glândula tiróide

A glândula tiróide localiza-se a frente da traqueia. Ela possui a forma de uma borboleta
e seu peso chega até 18 gramas em mulheres e 25 gramas em homens.

A glândula tiróide é endócrina, ou seja, as suas secreçoes sao internas e a partir daí
elas sao transferidas a corrente sanguínea. Estas secreçoes denominam-se
hormonas. As hormonas da glândula tiróide sao indispensáveis ao organismo humano.
O iodo é um elemento essencial que faz parte da estrutura das hormonas tiroideias e é
absorvido a partir da água e da alimentaçao. A partir de iodo e de aminoácidos, a
glândula tiróide sintetiza a triiodotironina e a tetraiodotironina, conhecidas
respectivamente pelas formas abreviadas T3 e T4. Estas hormonas sao secretadas no
corpo de acordo com a necessidade.

As hormonas promovem o desenvolvimento e o crescimento do organismo humano,


aceleram os processos metabólicos e a transformaçao de energia, e desempenham
um papel fundamental no desenvolvimento do sistema nervoso central e das funçoes
cognitivas. Em outras palavras: a perda das funçoes hormonais inibe os processos
vitais físicos e psíquicos enquanto que o seu aumento os acelera.

Carencia de iodo

Nos países europeus, a populaçao ingere praticamente 1/3 da dose recomendada de


iodo, que é de 150 - 200 microgramas. Nos períodos pelos quais o corpo passa por
grandes alteraçoes hormonais, tais como durante a puberdade, a gravidez e a
menopausa, a quantidade de iodo necessária é ainda maior. Devido ao ciclo
menstrual, os distúrbios da tiróide afectam 3 vezes mais as mulheres do que os
homens.

É fácil aumentar a quantidade de iodo a ser ingerida

Utilize sempre sal iodado na preparaçao da comida. Uma vez que a maior parte dos
produtos alimentícios produzidos pela indústria nao contém sal iodado, a adiçao deste
na cozimento diário nao é suficiente para satisfazer a dose necessária. Para além
disso, a adiçao exagerada de sal a comida significa um aumento dos riscos de
pressao arterial elevada e os problemas circulatórios a ela associados.

A fonte mais importante para aumentar a quantidade de iodo ingerida é o peixe


marinho (perca vermelha, salmao, cavala, bacalhau), nao os peixes de água doce, tais
como p. ex. as trutas. Se ingerir uma porçao de peixe marinho 2 vezes por semana,
nao precisa mais de se preocupar com a carencia de iodo. Deverá consumir de
preferencia peixe fresco ou congelado, pois os produtos alimentares transformados
praticamente nao contem mais nenhum iodo. O fritar destrói menos o iodo do que a
cozedura.

Subdivisao do grau de severidade da carencia de iodo de acordo com a eliminaçao de


iodo na urina (OMS)

Grau I Eliminaçao de 50-150 g iodo/g creatinina


Grau II Eliminaçao de 25-50 g iodo/g creatinina
Grau III Eliminaçao abaixo de 25 g iodo/g creatinina

Na Europa, observam-se as carencias de iodo de grau I ou II.

Escrófula devida a carencia de iodo (bócio)

O bócio por carencia de iodo, como implícito na definiçao, deve-se a carencia de


ingestao de iodo. Se nao houver uma quantidade de iodo suficiente, as hormonas
tiroideias nao podem ser sintetizadas. Como consequencia, cai o nível dessas
hormonas no sangue. Este baixo nível é interpretado pelo cérebro como carencia e ele
ordena entao a glândula tiróide que produza mais hormonas. Para atender a essa
solicitaçao, a glândula tiróide aumenta o seu tamanho para poder aproveitar os traços
de iodo ainda existentes no corpo. Portanto, a partir de pouco iodo obtém-se muito
tecido, ou seja, a glândula tiróide tenta compensar uma prolongada carencia de iodo
através do seu crescimento.

Classificaçao do tamanho do bócio de acordo com o diagnóstico por palpaçao e


conforme as recomendaçoes da OMS

Grau I Bócio palpável


Grau Ia Invisível ao erguer a cabeça para trás
Grau Ib Visível ao erguer a cabeça para trás
Grau II Bócio visível com a cabeça em posiçao normal
Grau III Bócio muito grande, visível já a uma certa distância

O período de crescimento de um bócio depende do grau de carencia de iodo e em que


proporçao tal carencia obriga a glândula tiróide a crescer. O momento em que se
atinge ou nao uma carencia de iodo varia de acordo com o indivíduo. A capacidade de
aproveitamento do iodo pelas células varia para cada pessoa. Um bócio pode persistir
durante vários anos antes de causar distúrbios funcionais. Se nao for tratado, tais
distúrbios quase sempre aparecem p. ex. na forma de hiperfunçao da glândula tiróide.
Hiperfunçao da glândula tiróide (Hipertireoidismo)

Se houver síntese excessiva de hormonas na glândula tiróide, haverá excesso de


hormonas tiroideias no corpo e o consequente aparecimento da doença característica
desse aumento da funçao tiroideia (hipertireoidismo).

Esses sao os sintomas que podem aparecer no caso de hipertireoidismo:

Perda de peso
Aumento do apetite
Aumento da frequencia cardíaca
Nervosismo, inquietaçao
Aumento da frequencia de evacuaçao
Intolerância ao calor, pele húmida
Queda de cabelo
Cansaço
Fraqueza muscular
Distúrbios do ciclo menstrual

Sistema cardiovascular:
Pulsaçao mais rápida e as vezes irregular, pressao arterial um pouco mais alta que a
normal.

Pele:
A pele é quente, aveludada e há excessiva sudaçao. Os ambientes frios sao preferidos
e as pessoas acometidas com a doença costumam vestir roupas leves. As unhas
quebram-se com facilidade e observa-se uma perda intensa de cabelo ao pentear-se.
O fio de cabelo é macio e nao "se assenta".

Tracto digestivo:
Propensao a diarreia ou evacuaçao frequente. As fezes anteriormente bem moldadas
apresentam-se agora moles.

Musculatura e sistema ósseo: 


Há possibilidade de osteoporose moderada, fraqueza muscular, dores musculares e
sensaçao de tensao.

Sangue: 
Anemia branda.

Sistema hormonal e metabolismo:


Distúrbios menstruais, diminuiçao da libido e da potencia. O tratamento insuficiente da
carencia de iodo durante a gravidez constitui risco de aborto, nascimento prematuro ou
malformaçoes do feto.

Sistema nervoso:
Ocorrencia de nervosismo. A pessoa nao consegue se conter. Inquietaçao,
movimentos desmotivados e alteraçoes do sono sao frequentes. A excitabilidade pode
escalar-se a graves estados psicóticos.

Bócio: 
Com frequencia, há aumento de volume da glândula tiróide ou este aumento aparece
concomitantemente a hiperfunçao. Uma glândula visivelmente aumentada nem
sempre está associada ao hipertireoidismo.

Olhos:
No caso de Morbus Basedow, uma doença auto-imunitária da glândula tiróide, pode
haver lacrimaçao, sensaçao de presença de corpo estranho nos olhos, fotofobia, rubor
e globos oculares protuberantes.

A hiperfunçao da glândula tiróide é consequencia p. ex. do facto de que determinadas


áreas da glândula tiróide tornam-se independentes, separam-se do tecido original e
tornam-se autónomas. A hiperfunçao pode também ser causada por um Morbus
Basedow. Juntas, estas doenças perfazem 95% dos casos de hipertireoidismo.

Causas da hiperfunçao da glândula tiróide

Doença auto-imunitária da glândula tiróide (Morbus Basedow)


Autonomia
Inflamaçao
Hipertireoidismo secundário
Produçao de hormonas tiroideias fora da glândula tiróide: p. ex. em carcinomas
advindos de metástases
Hipertireoidismo causado por factores externos: p. ex. medicamentos

Autonomia
O conceito de autonomia entende-se como a independencia de determinadas funçoes
diante das influencias reguladoras da sua actividade. No caso da glândula tiróide, as
suas células nao respondem a essa regulaçao e passam a produzir hormonas
tiroideias de maneira descontrolada. Tais células formam "nódulos" que, devido a
actividade metabólica excessiva, trabalham a todo o vapor. A autonomia pode
manifestar-se como nódulos únicos (autonomia unifocal ou adenoma autónomo), na
forma de vários nódulos (autonomia multifocal) ou como agrupamentos celulares
espalhados (autonomia disseminada). A autonomia desenvolve-se
predominantemente em bócios mais velhos, mas também pode manifestar-se em
glândulas tiróides de tamanho normal. Portanto, nao se exclui a possibilidade de
hiperfunçao por autonomia em indivíduos que nao apresentam bócio.

Morbus Basedow
Quando a autonomia nao é a causa da hiperfunçao, a possibilidade de um Morbus
Basedow deve ser considerada. Neste caso, trata-se de uma doença auto-imunitária:
há produçao de diversas proteínas de defesa (anticorpos) contra as células da
glândula tiróide do próprio corpo. Isto significa que o sistema imunitário, normalmente
o protector contra as doenças causadas por factores externos ou internos, é o elo
principal da cadeia que leva a doença. A glândula tiróide "pensa" que os anticorpos
sao suas hormonas estimuladoras (TSH) e inicia a produçao de hormonas tiroideias.
Dessa maneira, ocorre uma hiperfunçao. Em 60% dos casos de Morbus Basedow
observam-se globos oculares salientes. Os anticorpos avançam até ao fundo do globo
ocular pelos vasos linfáticos e aqui também ocorre o processo auto-imunitário. Em
raros casos, uma terceira área é afectada: as partes frontais da perna. As causas que
levam a doença auto-imunitária ainda sao desconhecidas, mas sabe-se que tanto
factores genéticos como psíquicos e hormonais parecem desempenhar um papel
importante.

As alteraçoes mais frequentes do estado de saúde associadas ao Morbus Basedow


sao de natureza psíquica.

Tratamento da hiperfunçao da glândula tiróide

Terapia medicamentosa
Como doença auto-imunitária, o Morbus Basedow tende a curar-se sozinho. Para o
tratamento até a regressao do processo mórbido convém aplicar-se uma terapia
medicamentosa. Para o Morbus Basedow prefere-se a terapia tireostática a longo
prazo. O facto de há quanto tempo a doença persiste é decisivo para a selecçao da
terapia ideal. Os pacientes com hipertireoidismo diagnosticado recentemente sao
tratados com medicamentos. Se após 1-2 anos ainda houver indícios de que o
hipertireoidismo persistiria se nao fosse tratado, dever-se-á aventar a hipótese de
intervençao cirúrgica. Os medicamentos tireostáticos inibem a síntese de hormonas
pela glândula tiróide por impedirem a absorçao de iodo pela glândula.

A autonomia da glândula tiróide nao regride após o tratamento com tireostáticos,


sendo a terapia com tais medicamentos aplicada como preparaçao para uma outra
terapia definitiva (cirurgia ou tratamento com iodo radioactivo).

Os inibidores da glândula tiróide reprimem a síntese das hormonas tiroideias, mas nao
influem sobre aquelas hormonas já produzidas e "armazenadas". Por esse motivo,
observa-se um efeito retardado. Durante um determinado período que varia de uma a
tres semanas persistem os sintomas relacionados a inquietaçao. As vezes, para além
da medicaçao para a glândula tiróide, prescrevem-se também calmantes. A dose
inicial varia conforme o paciente e o princípio activo inibidor da síntese de hormonas
da glândula tiróide. Se depois de aprox. 4 semanas os sintomas desaparecerem, a
dose poderá ser regulada ao mínimo a fim de nao debilitar totalmente a glândula
tiróide.

Gravidez e aleitamento
Um hipertireoidismo em mulheres grávidas pode implicar numa taxa maior de aborto e
de malformaçoes fetais. A produçao de hormonas pelo feto começa a partir da 10-14a
semana da gravidez. A dose de um medicamento tireostático deve ser mantida a mais
baixa possível. Nos últimos tres meses da gravidez o hipertireoidismo frequentemente
retrocede-se espontaneamente.

No caso de bócio devido a carencia de iodo, uma terapia com iodo durante o
aleitamento só traz benefícios. Os inibidores da síntese de hormonas tiroideias
também passam através do leite para o recém-nascido. No período de aleitamento, o
tireostático propiltiouracil é o medicamento de escolha, pois a sua concentraçao no
leite corresponde no máximo a um décimo daquela detectada no soro sanguíneo da
mae.

Mesmo assim, recomenda-se o trabalho cooperativo entre ginecologistas,


especialistas em glândula tiróide e pediatras.
Efeitos da terapia
Se o tratamento da hiperfunçao da glândula tiróide teve exito, a produçao de
hormonas diminui, o metabolismo normaliza-se e o corpo ganha peso novamente. As
vezes inclusive acima do normal, pois os hábitos alimentares ainda sao aqueles que
se baseavam num estado de metabolismo aumentado.

Deve-se considerar ainda que uma fraqueza muscular já estabelecida precisa de um


certo tempo para ser revertida. Nao poderá sair aos pulos imediatamente após o
tratamento.

Descanso e cuidados pessoais


Uma glândula tiróide com funçao alterada também se combate com descanso e
cuidados pessoais. Dormir o suficiente e caminhar fazem bem ao/a paciente. A família
deve contribuir com muita paciencia e compreensao, pois apesar da aparencia exterior
normal, uma tempestade está a bramir dentro do/da paciente. Para além disso, deverá
evitar banhos de sol e a prática de desportos e, lógico, nao fumar.

Evitaçao de iodo
Os géneros alimentícios que contem iodo devem ser evitados aquando de uma
hiperfunçao da glândula tiróide. Os peixes marinhos nao devem fazer parte da ementa.
Entretanto, como a carencia de iodo deve ter sido causada por uma má alimentaçao,
isso provavelmente nao será um problema.

Terapia com iodo radioactivo


A terapia com iodo radioactivo é aplicada inúmeras vezes no mundo inteiro já há mais
de 50 anos. O iodo radioactivo é preferencialmente absorvido pelas células produtoras
de hormonas cujo metabolismo se encontra acelerado. No caso do Morbus Basedow,
todas as células sao afectadas, enquanto que na autonomia somente as partes
doentes sao atingidas. Dessa maneira, consegue-se desactivar clara, totalmente e
sem complicaçoes somente o tecido doente da glândula tiróide e assim acabar com o
hipertireoidismo. A irradiaçao restringe-se ao local onde o iodo radioactivo se
concentra. A dose é estabelecida individualmente e calculada a partir da premissa "tao
pouco quanto possível, tanto quanto for necessário". O tecido nas proximidades nao é
irradiado e portanto nao é afectado. Por motivos de protecçao sanitária de pessoas
contra radiaçao, a terapia é feita sob condiçoes estacionárias. Apesar de o iodo
radioactivo cumprir o seu papel perfeitamente, ele precisa de tempo suficiente para
isso. A sua acçao só é notada depois de 4 semanas. A partir daí dever-se-á cuidar
para que nao se estabeleça uma hipofunçao da glândula tiróide.

Intervençao cirúrgica
As operaçoes de glândula tiróide ocupam o terceiro lugar na lista de intervençoes
cirúrgicas mais frequentes, abaixo das cirurgias de apendice e hérnia inguinal.
Realiza-se a operaçao em casos de bócios grandes que p. ex. apertam a traqueia ou
em casos de existencia de alteraçoes nodulares. Alguns nódulos nao absorvem mais
nenhum iodo e, portanto, a radioterapia nao trará nenhum benefício nestes casos. A
operaçao só é realizada após a normalizaçao do metabolismo por tratamento com
medicamentos. Dessa maneira, o paciente livra-se mais rapidamente do
hipertireoidismo. Poderá haver uma hipofunçao devido a remoçao cirúrgica ou a um
pequeno resto da glândula tiróide nao removido, que deverá ser tratada com
comprimidos contendo as hormonas apropriadas. Entretanto, vale o seguinte: é melhor
uma pessoa saudável com uma tiróide com funçao diminuída do que um paciente
debilitado psiquicamente e com hiperfunçao da tiróide.
Hipofunçao da glândula tiróide (hipotireoidismo)

Ao contrário da hiperfunçao, na hipofunçao dispoe-se de muito pouca hormona


tiroideia no corpo. As causas podem ser hereditárias, advindas de inflamaçoes ou de
carencias de iodo extremas.

A hipofunçao da glândula tiróide (hipotireoidismo) desenvolve-se lentamente.


Considerando-se que todas as células do corpo precisam das hormonas da glândula
tiróide, a falta delas irá também influir em todo o organismo. Mais de 2/3 dos pacientes
queixam-se de reduçao do desempenho diário, fraqueza, letargia, cansaço, sensaçao
de frio, prisao de ventre e reduçao da memória. O metabolismo total diminuído aliado a
falta de actividade física com o mesmo consumo de géneros alimentícios leva a
obesidade. Outros diagnósticos incluem a acumulaçao de água que, nas pálpebras,
causa um inchaço. Os dedos tornam-se inchados, a pele seca e pálida e, as vezes,
manchada.

Tratamento do hipotireoidismo

Uma vez que o hipotireoidismo é causado pela falta das hormonas produzidas pela
glândula tiróide, a sua terapia consiste na administraçao dessas hormonas, tais como
p. ex. a tiroxina (T4). A hormona sintetizada industrialmente é identica aquela
produzida pelo corpo e, portanto, desde que a dose adequada seja tomada, nao se
observa nenhum efeito secundário.

FONTE: http://www.admeda.de/portugal/produtos/tiroide.html

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