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FACULDADE JOAQUIM NABUCO

ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA ESCOLAR

Maria Janaina Silva de Luna

A LITERATURA INFANTIL COMO AGENTE


IDENTIFICADOR E TERAPÊUTICO DE
TRANSTORNOS EMOCIONAIS CAUSADORES DO
FRACASSO ESCOLAR

Recife

2009

*
Maria Janaina Silva de Luna – Graduada em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco.
Professora de Inglês e Português da Escola Americana do Recife. Professora de Português do Ensino
Médio da escola Professor Jordão Emerenciano. Especialista em Psicopedagogia Escolar pela
Faculdade Joaquim Nabuco.

*Professora, Mestra Ana Paula C. Luna de Andrade, orientadora do trabalho.


2

Dedico aos meus pais, José Edson Luna e


Maria Adelaide (Adel).
3

A LITERATURA INFANTIL COMO AGENTE


IDENTIFICADOR E TERAPÊUTICO DE TRANSTORNOS
EMOCIONAIS CAUSADORES DO FRACASSO ESCOLAR.
Maria Janaina Silva de Luna*

Ana Paula C. Luna de Andrade**

RESUMO
Este texto aborda utilização das histórias infantis, que vão além do entretenimento ou
letramento. O estudo focaliza a utilização das histórias e seu valor terapêutico, quando usado
como instrumento de auxilio à identificação e exposição verbal do que há por trás da dificuldade
de aprender que algumas crianças possuem no ambiente escolar. A pesquisa discute como os
transtornos emocionais podem prejudicar o desenvolvimento acadêmico das crianças se não
forem identificados previamente. Este trabalho apresenta a compreensão empática (Carl
Rogers) como um elo significativo entre o professor e o aluno, a estruturação das histórias
infantis e práticas pedagógicas complementando o trabalho terapêutico.

PALAVRAS-CHAVE: Histórias infantis. Ato terapêutico. Fracasso escolar. Dificuldade


de aprendizagem. Transtornos emocionais. Contador de histórias.
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................07

2. TRANSTORNO EMOCIONAIS - DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM -


FRACASSO ESCOLAR...................................................................................08

3. ATO TERPÊUTICO X TERAPIA...................................................................11

4. CARACTERÍSTICAS DAS HISTÓRIAS


INFANTIS........................................12

4.1 Os Personagens........................................................................................13

4.2 O espaço e o tempo..................................................................................13

5. HISTÓRIA........................................................................................................14

5.1 Temática....................................................................................................17

5.2 Prática Pedagógica....................................................................................18

6. PROFESSOR INTERVENTOR E MEDIADOR................................................19


7. CONTADORES DE HISTÓRIAS.....................................................................21

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................23

9. REFERÊNCIAS...............................................................................................25

10. GLOSSÁRIO....................................................................................................26
5

1. INTRODUÇÃO
A aprendizagem é a construção do conhecimento, um processo natural e espontâneo que se
por alguma razão não acontece, uma lei da natureza está sendo contrariada.

O problema de aprendizagem é considerado como um sintoma que não apresenta um quadro


permanente. Várias são as causas das dificuldades escolares que podem levar a criança a fracassar na
escola. Podemos citar como exemplos os fatores orgânicos, cognitivos, o tipo de escola que a criança
frequenta, os níveis culturais e econômicos em que o grupo familiar da criança está inserido, a nova
organização das estruturas familiares de hoje em dia, mas especialmente os afetivos.

Os transtornos emocionais que, por sua vez geram graves dificuldades de aprendizagem, são
geralmente detectáveis na escola. Assim, é fácil deduzir a grande responsabilidade do professor
frente aos agentes que tanto podem contribuir para a gravidade da situação como para a solução dos
infinitos problemas, dificuldades e limitações, a que a criança está exposta principalmente quando
ingressa na escola. Frente a esta situação, não cabe ao professor a função de terapeuta, mas de
interventor e mediador. Uma das várias ferramentas que o professor dipõe seria as histórias infantis
utilizadas em sala de aula terapeuticamente com o objetivo de criar uma relação de ajuda, de
compreensão, apoio entre o aluno e o conflito que o aflige. Os vínculos que surgem desta relação têm
um poder curativo, pois é mais fácil superar as dores através de uma relação autêntica de respeito
mútuo do que sozinho.

Segundo Bettelheim (1980, p.23) “as histórias infantis, tratando de problemas universais,
falam ao ego e encorajam seu desenvolvimento, enquanto que ao mesmo tempo aliviam tensões pré-
conscientes e inconscientes”. Cada ser humano vive uma história de interações, encontros e
acontecimentos em que as doenças, mesmo surgindo mais no corpo ou na "mente", resultam dos
desequilíbrios existenciais e de soluções inadequadas de vida.

É importante criar um ambiente que permita a revelação do mundo interno e favoreça o


desenvolvimento do processo singular de cada um. Neste clima é possível que o ser mais oculto e
amedrontado se mostre, seja ouvido, transforme-se, que o processo formativo possa prosseguir
formando vida.

O objetivo deste trabalho é apresentar uma proposta de utilização das histórias infantis que vá
além do entretenimento ou letramento. Essa proposta se baseia na utilização das histórias e seu valor
6

terapêutico quando usado como instrumento de auxílio à identificação e exposição verbal do que há
por trás da dificuldade de aprender que algumas crianças apresentam no ambiente escolar.

2. TRANSTORNO EMOCIONAIS - DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM


- FRACASSO ESCOLAR.

Se a criança ou adolescente, que até há pouco tempo vinha mantendo um comportamento


melhor ajustado, com rendimento escolar aceitável e que, de repente, modifica seu comportamento e
rendimento escolar, algo pode estar acontecendo na esfera psíquica.

Durante muito tempo, as crianças com dificuldade de aprendizagem eram encaminhadas ao


médico, o qual fazia seu diagnóstico confirmando ou não sua normalidade. Em outros casos, as
crianças eram encaminhadas para classes ou escolas especiais que ofereciam um ensino diferenciado.
Não podemos ignorar que, mesmo hoje, diante de qualquer desvio de padrão de comportamento,
principalmente na escola, a primeira hipótese de explicação ainda seria um possível problema mental.

Segundo a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da Classificação


Internacional de Doenças - 10, elaborado pela Organização Mundial de Saúde: [...] “Transtorno” não
é um termo exato, porém é usado para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou
comportamentos clinicamente reconhecível associado, na maioria dos casos, a sofrimento e
interferência com funções pessoais. Quando o indivíduo dá um sinal de algo que não está bem,
mesmo que inconscientemente, não devemos chamar esse sinal de desvio, mas uma reação ao
ambiente. Podemos citar como transtornos emocionais que contribuem para o problema de
aprendizagem: um professor injusto, um colega dominador, um conflito entre irmãos, algo que
acontece na família e é mantido em segredo, a forma de circulação do amor na família, a morte de um
dos pais, ser deixado sozinho, entre outros.

Segundo a lei Pública Americana, P.L. 94-12, “Dificuldade de aprendizagem específica


significa uma perturbação em um ou mais processos psicológicos básicos envolvidos na
compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que pode manifestar-se por uma aptidão
imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar ou fazer cálculos matemáticos. [...].” É preciso
descobrir e entender o que acontece com a criança neste momento em que ela sente dificuldades em
aprender.

Um aluno só poderá ser diagnosticado com dificuldades de aprendizado quando der um sinal,
um aviso que algo precisa ser redimensionado. Segundo Fernández (1991) a dificuldade de aprender
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seria o resultado da anulação das capacidades e do bloqueamento das possibilidades de aprendizagem


de um indivíduo, inteligência aprisionada seria o termo utilizado para ilustrar essa condição. São
apontadas como dificuldades mais comuns: dislexia, discalculia, TDAH e dislalia.

Porém, mais importante do que listar as causas, seja de um transtorno ou dificuldade, é


priorizar a escuta. A criança neste momento não consegue expressar suas emoções, está bloqueada.
Tal bloqueio altera seu rendimento escolar. É preciso ajudar esta criança a verbalizar seus
sentimentos e os pensamentos que a preocupam, só assim libertará suas capacidades e recuperará sua
motivação.

Carl Rogers (pioneiro no desenvolvimento da Psicologia Humanista ou Terceira Força em Psicologia.


Um dos principais responsáveis pelo acesso e reconhecimento dos psicólogos ao universo clínico), entre suas
várias abordagens, destaca, dentro de sua tríade (congruência, compreensão empática e aceitação
positiva incondicional), o valor e a função da verbalização empática (que está ligada à compreensão
empática). Esta verbalização tem como objetivo fazer com que a outra pessoa se sinta compreendida,
além de ajudar a explorar suas preocupações de modo mais completo. Burleson (1985) classifica as
verbalizações em mais empáticas e menos empáticas. As verbalizações mais empáticas são aquelas
focadas nos sentimentos e pensamentos da pessoa – alvo, sem julgamento, buscando descrever,
explicar e validar seus sentimento e pensamentos. As menos empáticas focam o evento em si,
impõem seu próprio ponto de vista e desconsidera ou ignora os sentimentos e a perspectiva da outra
pessoa.

3. ATO TERPÊUTICO X TERAPIA

Para que não haja mal entendido sobre o objetivo do presente artigo, é preciso conhecer
algumas diferenças entre o ato terapêutico e a terapia. Mas antes desta exposição, a psicóloga
Priscila Vieira, por meio de uma analogia entre os conceitos, nos faz perceber claramente a
diferença entre eles. “Quando alguém se machuca, uma ferida aparece. O ato terapêutico vai
“curar” essa ferida superficialmente. O “mercúrio” utilizado aliviará a dor da pessoa naquele
momento. Ela verbalizará a dor que está sentindo, mas a pessoa que a assiste se limitará amenizar
sua dor neste momento. Já a terapia irá mais fundo. Precisaremos abrir o ferimento, checar o que
há por dentro, fazer uma limpeza externa e interna. Um processo doloroso de descobrimento da
causa da dor. Só então faremos um diagnóstico e planejaremos um tratamento adequado para que
aquela dor nunca mais incomode.”
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Ato Terapêutico

Pode ser conduzido por qualquer profissional que busque o bem estar daquele que se
encontra em conflito;

Os momentos terapêuticos são esporádicos, não seguem uma sequência lógica;

Não se faz uso de medicação;

O trabalho em equipe é permitido; o mediador pode trocar ideias sobre o envolvido com
outros colegas; a informação não é sigilosa.

Terapia

Só pode ser conduzida por um terapeuta;

Os encontros são chamados de sessões e são frequentes; tratamento;

À medida que o cliente se desenvolve, há uma possibilidade do uso de medicação.

O trabalho do terapeuta é completamente sigiloso; não é permitida a troca de informações,


mesmo com colegas de área envolvidos no caso.

4. CARACTERÍSTICAS DAS HISTÓRIAS INFANTIS

Ao se identificar com um personagem de ficção, o leitor entra em sintonia com valores, ideais e formas da
comunidade em que o personagem se situa. Ao mesmo tempo, o leitor responde, em contrapartida, com os seus valores e
os seus sentimentos, naquele momento, a todo conjunto de valores sociais representados pelo personagem, pela história,
pelo narrador da ficção. (Amarilha, 1997)

Como afirma Abramovich (1989, p.120-121):

"[...] os contos de fadas são vividos por meio da fantasia, do imaginário,


com intervenção de entidades fantásticas (bruxas, fadas, duendes,
animais falantes, plantas sábias...). Eles partem de um problema
vinculado à realidade (como estado de penúria, carência afetiva, conflito
entre mãe e filho), que desequilibra a tranqüilidade inicial e assim a
busca de soluções, no plano da fantasia".

Ao ouvir muitas histórias, a criança, além de dar o primeiro passo rumo a sua formação
psicológica, busca respostas aos seus questionamentos, descobrindo o mundo imenso de conflitos,
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impasses, soluções que todos vivemos e atravessamos. Sua identificação com tantos personagens,
com a maneira como estes resolvem seus conflitos, ajuda a esclarecer melhor suas próprias
dificuldades ou encontrar um caminho para a solução delas.
Nas histórias há muito mais liberdade. A criança pode retirar delas o que necessita e a história
se adapta ao estado de desenvolvimento da criança. Uma boa história contém valores concretos e
abstratos. A criança pode identificar-se com personagens do conto de fadas e distinguir a imaginação
da realidade, o que parece ser especialmente importante.

4.1 Os Personagens

Os personagens nas histórias infantis são tipos lineares e com limites bem definidos dentro do
enredo. São também representantes de valores históricos e suas qualidades físicas e morais ou
defeitos são nítidos. A maioria dos contos não possui nomes de personagens, e se o possuem, são
bastante genéricos, como João e Maria, o que facilita a projeção da criança. As personagens são
claramente descritas como sendo boas ou más e o seu comportamento não se altera de forma
imprevisível.

4.2 O espaço e o tempo

O espaço e o tempo em que se desenvolve a história nunca são detalhados com precisão. O
“Era um vez...” mostra ao leitor que aquela narrativa maravilhosa está muito distante dele, o que, de
certa forma, acaba servindo como uma convidativa porta de entrada para a fantasia.“Imaginando, ela
pode brincar com temas próprios de sua realidade psíquica, por vezes difícil, como o amor, a morte, o
medo, a rivalidade fraterna, a separação e o abandono”. (GUTFREIND, 2004 : 25).

O tempo e o espaço nas histórias têm um valor eterno devido ao seu caráter abstrato. Outro
aspecto importante é a sua orientação para o futuro: “Enquanto que a fantasia é irreal, os bons
sentimentos que nos oferece sobre nós próprios e o nosso futuro são reais e estes bons sentimentos
efetivos são aquilo de que precisamos para nos apoiar”, diz ainda Bettelheim.

O desencadeamento dos fatos dá-se de forma direta e, no fim, o bem sempre vence o mal,
mesmo que para isso se tenha que usar do artifício da magia, muitas vezes presente como mediadora
entre uma situação de equilíbrio com uma de desequilíbrio e vice-versa. Os vilões quase sempre
morrem ou são castigados exemplarmente, muitas vezes submetidos às mesmas maldades que
cometeram. Mais forte que um castigo é a convicção de que o crime não compensa e esta é a razão
pela qual, nas histórias de fadas, a pessoa má sempre perde.
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5. HISTÓRIA

Ouvindo histórias, as crianças manifestam emoções importantes, como a raiva, a tristeza, o


medo, a alegria, a insegurança, a tranquilidade. Vivenciar essas emoções auxilia as crianças a
esclarecer e a lidar com suas próprias angústias, frente a temas como a morte, a perda dos pais, o
preconceito. Por meio da escuta de histórias, as crianças descobrem outros lugares, outras épocas,
outros modos de ser e de agir e estabelecem outras formas de lidar com os próprios problemas.

Se começarmos por uma história que a criança se mostre interessada, teremos uma boa
oportunidade de discernir os problemas mais urgentes que a própria criança põe em foco. A próxima
coisa a fazer será escolher uma história que seja útil para se trabalhar os problemas da criança. Se o
problema principal for a relação com a mãe, escolheremos uma história em que o papel da mãe e os
símbolos a ela ligados sejam essenciais. Assim, a história será um ponto de partida para mudar
gradualmente a imagem negativa da mãe ou ressaltar seus pontos positivos.

A história escolhida para ser trabalhada em sala de aula deve conter elementos de angústia,
fantasia e defesa do aluno e o que professor quer atingir naquele momento específico. “A
preocupação da história não é com o mundo exterior, mas representa os processos interiores que
ocorrem num indivíduo, por meio da linguagem de símbolos que vão personificar e ilustrar os
conflitos internos”, afirma Hisada.

Bettelheim diz que a maior contribuição das histórias é no campo das emoções, pois
desenvolvem a capacidade de fantasia infantil, fornecem escapes ao falar, dos medos, ansiedades,
ódios, sentimentos de inferioridade, aliviando as pressões exercidas por estes problemas, auxiliando
na recuperação e consolo.

Lidar com a fantasia nas histórias é um recurso fundamental no processo do desenvolvimento


humano, porque favorece a comunicação via imagens simbólicas com as dimensões mais profundas
da Psiquê. Por meio das histórias adentramos magicamente a penumbra misteriosa do nosso
inconsciente, condição básica para se conhecer o significado profundo de nossa vida.

O Rinoceronte Descontente de Susanne Lieder-Kolbe

A vida de um rinoceronte, também, não é sempre fácil. Eu soube de um que era muito infeliz.
Querem saber por quê?
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Bem, o rinoceronte não se acertava com seu longo chifre sobre o nariz. Em todo lugar
atrapalhava. Ele ficava preso em árvores e, sem querer, batia em outros animais. Ou derrapava numa
brincadeira, caía num buraco e ficava preso.

O rinoceronte estava aborrecido! Às vezes desejava não ser mais um rinoceronte. Certo dia,
um macaquinho escutou isso. “Você pensa que só você tem dificuldades?” perguntou ele ao
rinoceronte, que estava coçando as costas numa árvore. “Veja meu rabo comprido! Não pense que
isso é sempre uma vantagem! Muitas vezes já deu um nó nele numa subida? Geralmente, quando eu
estava com muita pressa. São coisas que acontecem. Mas será que é preciso ficar tão descontente por
isso?!

O rinoceronte escutava em silêncio. Um pequeno besouro passou por perto e disse: “Ei,
cuidado, aí!”

Assustado, o rinoceronte deu um passo para trás. “Desculpe, eu não tinha visto você.”

“É o que geralmente acontece comigo”, resmungou o besouro. “Infelizmente sou tão pequeno.”

Então deu uma risada marota. “Em compensação posso fazer cócegas no teu pé sem você me
ver.”

“É verdade.” O macaco riu alegremente. “Todos nós podemos fazer alguma coisa que os outros
não podem. – Você é grande e forte”, disse para o rinoceronte. “E você pode correr depressa.” O
rinoceronte acenou com a cabeça que sim. “Que tolo que eu era! Estou feliz em ser um rinoceronte.”
Ele deu uma volta, bateu com seus chifres contra uma árvore e todos deram muita risada.

5.1Temática

O homem é um ser social. Para viver a realidade construída e objetivada socialmente, o


indivíduo deve ser socializado, isto é, ele deve aprender a viver em um universo imposto pela
sociedade. Todos os alunos são diferentes, em suas capacidades, motivações interesses, ritmos
evolutivos, estilo de aprendizagem, características físicas e situações ambientais. Mas nem sempre é
fácil para a criança perceber essas diferenças. Elas estão interessadas nas semelhanças e às vezes

O rinoceronte estava aborrecido! Às vezes desejava não ser mais um rinoceronte.

5.2 Prática Pedagógica


Nome da prática: Como eu sou?
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Por meio dessa prática, o aluno terá a oportunidade de se ver e perceber os colegas em volta. O
professor poderá explorar as diferenças e semelhanças físicas que cada aluno possui.
Material: Papel “jornal”; lápis de cores, hidrocores, gizes de cera; lápis e borracha
Aplicação:
1. O educador distribuirá um pedaço do papel do tamanho do aluno.
2. O aluno terá que desenhá-lo no papel. Mas isso só será possível com a ajuda de um colega ou
até mesmo do professor.
3. O aluno deita sobre o papel e escolhe a posição do desenho: de braços abertos, fechados, um
braço levantado, etc.
4. Quando o desenho da forma do aluno estiver pronto, ele já pode desenhar os detalhes:
cabelos, olhos, boca, roupa, entre outros.
5. Terminada a pintura do desenho, o professor abre um círculo e pede para que cada um se
apresente. Neste momento o professor pode guiar os alunos a um debate sobre as diferenças e
semelhanças de cada um. Pode também falar sobre o texto do rinoceronte.
6. Após esse debate, o professor cola os desenhos pela sala.

6. PROFESSOR INTERVENTOR E MEDIADOR

Algumas crianças consideram a escola como um refúgio dos problemas familiares, pois, tanto o
ambiente escolar quanto os professores, continuam constantes em sua vida durante esse período de
grande reviravolta existencial. Mesmo assim, nem sempre esses alunos aceitarão conversar a respeito
das dificuldades que enfrentam em casa. Serão as alterações em seu desempenho e comportamento
que denunciarão a existência de problemas emocionais. Mas essas alterações podem ser consideradas
mais estressantes em certos momentos da vida da criança, como por exemplo, as mudanças, as
novidades, as exigências adaptativas, uma nova escola ou, simplesmente, a adaptação à adolescência.

A escola é um universo de circunstâncias pessoais e existenciais que requerem do educador


(dirigente ou equipe escolar), ao menos uma boa dose de bom senso, quando não, uma abordagem
direta com alunos que acabam demandando uma atuação muito além do posicionamento
pedagógico e metodológico da prática escolar.
Dentro da sala de aula, os alunos podem trazer situações psíquicas significativas como,
alguns problemas de sua própria constituição emocional (ou personalidade) e apresentar as
consequências emocionais de suas vivências sociais e familiares, nas quais os professores podem
atuar beneficamente.
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São os professores, muitas vezes, os primeiros a observar os sintomas iniciais de um


problema na infância e adolescência. Essa facilidade deve-se, entre outras razões, ao fato de
poderem ter uma crítica mais desapaixonada do problema, sem o envolvimento afetivo que os pais
têm para com seus filhos. Além disso, com uma preparação adequada, os educadores são as pessoas
mais adequadas a orientar os pais sobre um possível transtorno dessa natureza que pode prejudicar a
vida e o desenvolvimento das crianças. O conhecimento e sensibilidade dos professores podem se
constituir em um bálsamo para corações e mentes conturbados.
Os professores não podem considerar que todas as crianças devem sentir e reagir da mesma
maneira aos estímulos e às situações. Eles precisam estar bem atentos a sua forma de abordagem,
considerar que algumas crianças podem apresentar traços de introversão diante do desafio de expor
algo que as incomodam. Se certos cuidados não forem tomados, os professores podem piorar muito
o sentimento de inferioridade, a ponto da criança não mais querer freqüentar aquela classe ou, em
casos mais graves, não querer mais ir à escola.
Por isso, é muito importante que haja empatia entre o professor e o aluno. Carl Rogers, em
seus estudos, utiliza o termo “compreensão empática” que é a "capacidade de se imergir no mundo
subjetivo do outro e de participar na sua experiência, na extensão em que a comunicação verbal ou
não verbal o permite. É a capacidade de se colocar verdadeiramente no lugar do outro, de ver o
mundo como ele o vê".
Estudos recentes sugerem que a empatia engloba três componentes: cognitivos, afetivos e
comportamentais. O componente cognitivo caracteriza-se por uma capacidade de compreender, de
forma acurada, a perspectiva e os sentimentos dos outros, permitindo àquele que percebe, ir além do
significado aparente imediato das palavras e ações de outras pessoas. O afetivo caracteriza-se por
sentimentos de compaixão e simpatia pela outra pessoa, além de preocupação com o seu bem-estar,
não implicando necessariamente experimentar os mesmos sentimentos do outro.
O componente comportamental da empatia consiste em transmitir um reconhecimento explícito
e uma elaboração dos sentimentos e da perspectiva da outra pessoa, de tal maneira que ela se sinta
compreendida e que isso lhe ajude a obter um maior entendimento acerca de seu estado interno
(Barrett-Lennard, 1997; Egan, 1994; Falcone, 1999, 2003). Assim podemos dizer que a compreensão
empática é um processo dinâmico que significa a capacidade de penetrar no universo perceptivo do
outro, sem julgamento, tomando consciência dos seus sentimentos, sem, no entanto, deixar de
respeitar o seu ritmo de descoberta de si próprio (Rogers, 1985:64) e a pessoa sente-se não apenas
aceita, mas também compreendida enquanto pessoa na sua globalidade.
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7. CONTADORES DE HISTÓRIAS
“O contador é um artista que traz na alma a emoção que contagia a todos com suas
histórias.”
O ato de contar histórias acompanhou o homem em sua evolução através dos tempos.

“Narrar é criar histórias, construir enredos, contar o que ouviu falar. O som e o ritmo das
palavras, a proximidade do corpo, a da voz de quem conta a história, provoca um grande fascínio nas
pessoas; não importam as condições socioculturais de que fazem parte, elas têm prazer em ouvir e
também em contar histórias”, afirma Nelma Azevedo, especialista em Literatura Infato-Juvenil.

O que mais importa no ato de contar histórias é saber despertar emoções. São momentos de
divertimento, de troca de experiências, de ensinamentos morais, de mostrar normas e lições de vida
sempre de forma lúdica e prazerosa.

Os primeiros contadores de histórias no Brasil foram os índios. Para eles era de suma
importância transmitir, não só às crianças, mas aos moços, todos os conhecimentos tribais e tradições
guerreiras. Mas a função de contar histórias não se limitava apenas aos pajés e anciãos da tribo.
Havia também as mães que gostavam de lembrar as lendas, mitos e fábulas da tribo.

Depois vieram as negras velhas e amas de leite que com suas vozes mansas, entonações doces,
faziam os filhos dos colonizadores adormecerem com suas histórias simples, mas cheias de heróis.

E, por último, os europeus que chegaram por meio das avós coloniais que contavam histórias
de madrastas, príncipes, gigantes e outros. Os contos eram narrados nas reuniões familiares e
acompanhavam os viajantes nos caminhos e travessias.

A especialista Nelma Azevedo chama atenção para o fato de que há contadores especiais que
participaram da nossa vida e que nos transportaram à terra do faz de conta, os nossos pais, avós e por
que não nossos professores com suas histórias cheias de amor e tão importantes para o nosso
crescimento social e cognitivo?

É importante que o professor esteja atento ao processo comunicativo que há por trás da
contação de histórias. Pois é através desse processo que surge a cumplicidade entre o narrador e o
ouvinte, capaz de recuperar o oral nas linhas escritas e reconhecer o valor da oralidade no processo
interativo, aproximando assim as pessoas envolvidas (professor e alunos) e tornando seu
relacionamento mais humano.
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Celso Sisto, em seu livro Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias, sintetiza em treze
atribuições necessárias para um bom contador de histórias. São elas: emoção, texto, adequação,
Corpo, voz, olhar, naturalidade, clima, ritmo, memória, pausa e silêncios, elemento estético e
credibilidade

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um desenvolvimento incomum nem sempre é sinal de uma patologia, mas pode refletir
dificuldades pessoais circunstanciais. Quando a criança começa a apresentar dificuldades escolares, é
necessário pesquisar a causa real do problema. Ela precisa de compreensão, orientação e instrução
adequadas para superar dificuldades.

As histórias infantis não nos falam de uma solução feliz que se atingiu sem qualquer esforço.
As mais variadas histórias falam de um certo problema que só se resolve quando o herói ou a heroína
se submetem a provas e a sofrimentos. Isto significa que a criança não ultrapassará a sua crise até
estar pronta para evoluir por meio de um combate e até que seja capaz de reconhecer, de forma
ampla, o seu problema, e tenha assim atingido a maturidade.

O professor interventor e mediador, ao utilizar uma história infantil, deve estar atento às
necessidades das crianças que estão sob sua responsabilidade. Ele precisa permitir que cada um fale
de seus sentimentos de forma espontânea, respeitando sempre a individulidade, o desejo e o direito de
cada um de falar ou não sobre o que sente. A criança precisa se sentir realmente acolhida, aprovada e
enconrajada, para que a intervenção funcione.

CHILDREN'S LITERATURE AS A SIGN OF THERAPEUTIC AND EMOTIONAL DISORDERS


CAUSING SCHOOL FAILURE.
ABSTRACT
This paper discusses the use of children's stories that go beyond entertainment or literacy. The study
focuses on the use of stories and their therapeutic value when used as a tool to aid the identification
and verbal exposition of what is behind the trouble to learn that some children have in school. The
research discusses how emotional disorders can affect the academic development of children if not
previously identified. This paper presents the empathic understanding (Carl Rogers) as a significant
link between teacher and student, the structuring of children's stories and teaching practices
complementing the therapeutic work.
KEY WORDS: Children's stories. Therapeutic act. School failure. Learning disabilities. Emotional
disorders. Teacher.
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REFERÊNCIAS
1. AMARILHA, Marly. Estão mortas as Fadas? Literatura infantil e prática pedagógica. 7ª edição
RJ. Vozes. 1997.

2. ASSUNÇÃO, Elisabete da. COELHO, Maria Teresa. Problemas de aprendizagem. São Paulo,
SP. Ed. Ática. 2002.

3. AZEVEDO, Nelma M. S. de. A importância do contador de Histórias. Cadernos FAFIRE.


Vol. 1, n. 1(agost/dez.). 2001. Recife – PE

4. BETTELHEIM, Bruno. Na terra das fadas. Análise dos personagens femininos. RJ. Paz e
Terra. 1997.

5. COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas. Símbolos - Mitos – Arquétipos. 1ª edição. SP.
Paulinas. 2008.

6. FALCONE, Eliane Mary de Oliveira, GIL Débora Barbosa, FERREIRA Maria Cristina. Um
estudo comparativo da freqüência de verbalização empática entre psicoterapeutas de
diferentes abordagens teóricas.

7. FILLIOZAT, Isabelle. Entendendo o coração das crianças. Compreenda sua linguagem e seus
risos e choros. Como lidar com as emoções dos seus filhos. RJ. Campus, 2000.

8. FONSECA, Vitor. Escola. Quem és tu? Porto Alegre. Artes Médicas. 1993

9. GRIMM, Jakob. Contos de Grimm. Tradução do alemão: Tatiana Belinky. SP. Paulus. 1989.

10. HISADA, Sueli. A utilização de histórias no processo psicoterápico. 2ª edição. SP. Reiventer.
2007.

11. NUTTI, Juliana Zantut. Distúrbios, transtornos, dificuldade e problemas de aprendizagem.


Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=339. Acesso em:
18.11.09.

12. PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. 17ª edição. SP. Ática. 2008.

13. SABINI –CÓRIA, Maria Aparecida. Psicologia do desenvolvimento. 2ª edição SP. Ática. 2007.

14. SISTO, Celso. Textos e Pretextos sobre a arte de contar histórias. 2ª edição. Curitiba.
Positivo. 2005.
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15. TRADUÇÃO: Rehfeldt, H. Klaus. As mais Belas Histórias de Boa - Noite. Ed. EKO.
Blumenau, SC. 1997.

16. Transtornos Emocionais na Escola. Disponível em:


<//www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=127>. Acesso em 12.11.09

GLOSSÁRIO

1. Discalculia: dificuldade para a realização de operações matemáticas usualmente ligadas a uma


disfunção neurológica, lesão cerebral, deficiência de estruturação espaço-temporal.
2. Dislexia: dificuldade de aprendizagem de leitura, devido a uma imaturidade nos processos
auditivos, visuais e tatilcinestésicos responsáveis pela apropriação da linguagem escrita.
3. TDAH: é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e
freqüentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de
desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit
de Atenção).
4. Dislalia: é a omissão, substituição, distorção ou acréscimo de sons na palavra falada.

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