Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Faculdade de Direito
. Sequência
A definição de Estado adoptada parte de um tipo de Estado concreto: «o Estado nacional
soberano que, nascido na Europa, se espelhou recentemente por todo o mundo». Estado, é uma
espécie de sociedade política, não significa que não existam outras. Não se vê como podemos
prescindir do Estado, para efeito de análise e de tratamento de situações jurídico-positivas, não
sendo possível a existência de Direito constitucional sem Estado. Contudo, existem fenómenos
que hoje se verificam e põem em causa o Estado, na concepção que se entende desde à 300
anos:
- Multiplicação de lobbies:
Sectores da sociedade civil organizados, de forma mais ou menos explícita, que pelo
poder que têm e dispõem, tendem a influenciar as organizações públicas e até a
substituirem o poder (corporações, como as associações socio-profissionais ou os
sindicatos, que exercem um protagonismo excessivo na vida social).
- Privatização e globalização:
Grandes empresas, multi-nacionais, que nalguns casos são mais poderosas que os
próprios estados, e que tendem a impor a sua vontade às autoridades públicas (por
exemplo, as grandes fabricas de armamento nos EUA, que possuem verdadeiros lobbies
de pressão junto da comunidade política)
- Localismo e regionalismo:
Regiões autónomas e municípios tendem a desfragmentar o Estado, constituindo
intraves às políticas do poder «centralizado» (por exemplo, a liberdade dos municípios
no que diz respeito ao PDM, que impõe verdadeiras restrições na tentativa do Estado de
pautar uma disciplina pública única nesta matéria; ou a constante reinvidicação de mais
poderes para as regiões autonómas).
2
- Entre correntes atomistas ou nominalistas (o eEstado, mero conjunto de indíviduos,
nome sem realidade substancial) e organicistas ou realistas (o Estado, irredutível aos
indíviduos, susceptível de ser tomado como uma entidade específica ou com vontade
própria).
- Entre correntes contratualistas (o Estado como produto da vontade, como associação) e
institucionalistas (o Estado como instituição).
Várias correntes organicistas oscilam entre a consideração do Estado como unidade espiritual e
a equiparação a um organismo natural ou biológico. Primeira tendência – Gierke, o Direito e o
estado não são senão expressões do espírito de um povo. O Estado é um princípio vital, uma
totalidade, uma integração ou união de vontades. Segunda tendência – Spencer, liga-se ao
positivismo e ao cientismo, e procura alargar ao domínio político e do jurídico os esquemas dos
cientistas da natureza. O Estado é um ser vivo, sujeito a leis paralelas às dos restantes seres
vivos.
3
Hegel – o Estado é a realidade em acto da ideia moral objectiva, o espírito como
vontade substancial revelada, clara para si mesma, que se conhece e se pensa, e realiza o que
sabe e porque sabe.
Concepção marxista – o estado surge sem substancia própria perante a economia,
consequência da sociedade de classes e máquina de domínio de uma classe sobre outras. O
estado é um produto da sociedade, quando esta chega a um determnado grau de
desenvolvimento, sendo a confissão de que essa sociedade se enredou numa irrdutível
contradição consigo mesma e está dividida por antagonismos irreconciliáveis. Para esses
antagonismos, essas classes com interesses económicos colidentes, não se devorem e não
consumam a sociedade numa luta estéril, torna-se necessário um poder colocado aparentemente
acima da sociedade, chamado a amortecer o choque e a mantê-lo dentro dos limtes da «ordem»:
esse poder é o estado. O Estado é o resumo das contradições da sociedade e daí que o político
em geral se aproxime do estadual. O estado político exprime, nos limites da sua forma., todos os
combates, necessidades ou interesses sociais.
Jellinek – dupla perspectiva ou concepção – social e jurídica – do estado que propõe e
na integração dos três elementos – povo, território e poder político. O Porf. Jorge Miranda,
considera o conceito território sugestivo, mas ambíguo, na medida em que é condição de
existência do Estado, mas não da composição deste. O Prof. prefere destacar outro elemento, a
ordem jurídica (regula as relações comunidade/estado e comunidade/comunidade).
. Posição adoptada
O Estado é um caso histórico de existência política e esta, por seu turno, uma
manifestação do social, qualificada ou específica. O político assenta na intensificação, na
diversificação e na extensão da vida comum, na dimensão mais ampla ou no significado mais
forte que ela adquire para ir ao encontro de necessidades não susceptíveis de satisfação a nível
de sociedades primárias ou menores. Consiste em determinada forma de conceber o social em
termos de coklectivo, de propor fins pluriinstitucionais e fins gerais a se, de se dotar de meios
adequados a tais fins, de criar interdependências, numa solidadriedade organizada segundo uma
ideia da obra comunitária a empreender.
O político é o global, é tudo aquilo que assume relevância para toda uma sociedade ou
um conjunto de sociedades, em certo tempo e em certo lugar. É tb o que envolve, prende e
insere num mesmo âmbito uma multiplicidade de grupos e o que comporta contraposição,
ascendente e descendente, entre diferentes fins gerais e diversos quadros institucionais em que
esses fins podem ser concretizados. A essência do político encontra-se sobretudo na dialéctica
do grupo humano e do poder. O grupo empresta enquadramento ao poder, modela os homens
que o exercem, reconhece-lhes legitimidade. O poder político gera um processo próprio de agir
e afirmar em graus variáveis que, no Estado, chegam à autonomia. O político possui uma
estrutura dualista (na medida em que se analisa em comunidade e em poder, em distinção entre
membros da Civitas e os que detêm o governo) e implica um momento de unidade (comunidade
e poder não existem por si, implicam-se reciprocamente).
O Estado é a comunidade e poder juridicamente organizados, pois só o Direito permite
passar, na comunidade, da simples coexistência à coesão convivencial e, no poder, do facto à
instituição. Nenhum Estado pode deixar de existir sob o direito, fonte de segurança e de justiça
(conceito ambíguo) e não sob a força ou a violência (ressalve-se que o estado não se esgota no
direito).
4
No pesamento grego e romano – sociedade não tem autonomia fora da polis. A cidade
não era constituída por uma sociedade civil que devesse ser governada como coisa distinta do
Estado.
Idade Média – o político dispersa-se e está presente na sociedade e na sua teia de
instituições.
Absolutismo – o estado identifica-se com o poder, com a soberania, com o rei e a
sociedade., aparece à margem do político e sem projecção do poder.
Liberalismo – sociedade afirma-se, em termos negativos, agrangendo todo o que se
pretende que fique subtraído à acção do poder.
Estado social – intervém na sociedade para a transformar ou conformar.
Evolução do termo sociedade civil e do conceito da sociedade civil não deixa de ser curiosa.
Começou por equivaler a sociedade política, distinta da Igreja, do conjunto de fiéis enquanto
tais: societas civilis sive res publics. A partir de Hegel, recorta-se como conjunto de relações e
situações que se projectam entre o indíviduo e o estado.
5
postulam uma condição sem a qual o Estado não poderia subsistir. O território não valepor si,
vale como elemento definidor do povo e do poder político. Acaba por se mostrar algo
secundário, se bem que não despiciente, dizer que há dois aspectos no Estado (comunidade e
poder político) com determinada base territorial
A personalidade de cada Estado depende das regras jurídicas positivas. Todos os Estado com
acesso directo às relações internacionais possuem personalidade jurídca. A presença nestas
relações, a capacidade de particar actos jurídicos próprios relevantes internacionalmente e a
responsabilidade deles emergente postulam a subjectividade internacional dos Estados. No
ordenamento interno, enquanto ente unitário e perpétuo que ultrapssa a existência dos
indíviduos que o compôem, oferece susceptibilidade e, mesmo, tendência para se personificar.
Carta Constitucional:
- Nação – formam uma nação livre e independente (art. 1 e 2).
- Estado – Ministros de Estado (art. 74.º).
- Reino – Reino de Portugal, Algarves e seus domínios; agora como comunidade política.
6
Constituição de 1838: equilíbrio entre os três conceitos:
- Nação – Nação Portuguesa é a asssociação política de todos os Portugueses (art. 1.º).
- Estado – Ministros e Secretários de Estado (art.31.º).
- Reino – todo o cidadão pode conservar-se noreino (art. 12.º).
- No sentido de território, a Constitução reporta-se curiosamente a «Monarquia» (art. 6.º).
Constituição de 1933: mantém Estado e Nação, realça a sua contraposição e, ao mesmo tempo,
multiplica as referências a «Estado»:
- Portugal – A Nação Portuguesa constitui um Estado independente (art. 4.º); encara-se
como Estado e como comunidade .
- Estado – «Estado-poder» (arts. 2.º 5.º 7.º);
- Raça – como comunidade política (art. 11.º).
- País – como estado ou como estado-Poder (arts. 87.º e 114.º).
Constituição de 1976: prevalece o termo Estado:
- Estado – Estado-poder central (sistema institucional, o de entidade pública central e o
de regime) ou a entidade pública soberana (arts. 3.º, 6.º, 14.º); não equivale à absorção
da sociedade, aliás distinguem-se as duas e analisa-se a sociedade numa vasta gama de
grupos e realidades existenciais, com funções reconhecidas em domínios especificos (os
partidos – art. 10.º – classes de trabalhadores – art. 54.º – organizações profissionais –
art. 40.º – escolas particulares e cooperativas – arts. 43.º e 75.º –); corresponde por
vezes a configuração específica da organização constitucional, a regime, a regime
democrático (arts. 2.º 9.º); é pessoa colectiva de Direito Público interno (arts. 82.º e
199.º).
Comunidade política – múltiplas são as palavras para a descrever («Povo português»,
«Sociedade portuguesa», «País», «Comuidade nacional»); os preceitos masi expressivos são os
do art. 1.º e 5.º.
7
Capítulo II – O ESTADO COMO COMUNIDADE POLÍTICA
. O povo
Deve ser entendido, segundo o prof. Jorge Miranda, como uma «comunidade de pessoas», como
a «comunidade política e é constituído por aqueles «homens que o seu Direito reveste da
qualidade de cidadãos ou de súbditos e que permanecem unidos na obdiência às mesmas leis».
É, em conformidade, o « substrato humano do Estado». Tb o prof. Rebelo de Sousa define povo
como o conjnto de cidadãos ou nacionais de certo Estado.
Não há povo sem organização política. É a mesma a origem do povo e da organização política
(povo concebe-se como realidade jurídica, e a organização é a organização de certos homens).
O povo é sujeito e objecto de do poder. Sujeito do poder, na medida em que sujeito ao poder do
estado, como conjunto de homens livres, ele engloba pessoas dotadas de direitos subjectivos
umas diante das outras e perante o Estado. Objecto do poder, dado que é o destinatário das
normas que são criadas no âmbito do Estado, o qual deve ser «um Direito próprio, não um
Direito estranho».
Deve-se ainda distinguir entre povo (colectividade estadual) e colectividade pré-estadual, com
base num critério de indóle jurídica: a adstrição a um Direito, a uma organização que não
procede do exterior e que se torna a fonte objectiva da sua unidade. Assim, o pressuposto da
criação do estado é tanto a identidade de que o grupo se julga portador como o condicionalismo
político interior e exterior, que propicia (ou não) a energia motriz de um direito e de um poder
independente ou soberano. A colectividade será então o grupo humano que, em virtude da
instituição do poder político, se vem a transformar em povo (o Estado não cria o seu povo,
assim como não cria o seu poder. Estado povo e poder são noções que se entrecruzam ou
condicionam umas as outras, três realidades formadas no mesmo instantes em função do facto
constitutivo do Estado).
O reconhecer-se que o estado se pode encontrar na continuação de uma colectividade
preexistente e até que a sua criação se pode atribuir à obra de indivíduos que agem em nome
dela suscita, alguns equuívocos a desfazer. Nenhum lugar aqui existe para qualquer espécie de
dualismo. Comunidade política é apenas o povo, não esse grupo, mesmo que se trate duma
nação.
Daqui resulta, que se a nação condiciona indiscutivelmente o estado, não age senão através do
Estado (o que se diz da nação vale para qualquer outro tipo de colectividade). Não é sujeito de
direitos, não pode formar qualquer vontade específica.
8
O específico da nação encontra-se no domínio do espírito, da cultura, da subjectividade, ela é
uma alma, um princípio espiritual (Renan). Uma comunidade histórica de cultura. Uma nação
funda-se numa história comum, em atitudes e estilos. A consciência nacional revela-se a
consciência dum povo que se sente próprio portador de valores humanos universais, de um povo
que traz em si e nos seus flancos a própria humanidade (Radbruch).
O poder recai sobre todos e alei a todos se dirige bem pode aduzir-se que a regra fundamental
que lhe preside vem a ser a unidade, a qual postula, universidade e igualdade de direitos e
deveres.
Burdeau – para o indivíduo a sujeição é sempre concreta, mas a sua cidadania pode ser abstracta
ou efectiva ou efectiva. Cidadão abstracto é o que é somente cidadão de um estado livre;
cidadão real aquele cuja vontade pessoal, cujas determinações particulares, têm a possibilidade
de pesar nas opções que valerão como decisões do Estado.
O sentido do sufrágio universal não é que todos, incluindo as crianças e os dementes, tenham
direito de voto, mas antes que haja correspondência entre capacidade civil e eleitoral
. A cidadania ou nacionalidade
Sendo o povo a comunidade dos cidadãos ou súbditos, é fundamental determinar quais são as
pessoas que devem ser qualificadas dessa forma. Os Estados gozam nesta matéria, em
conformidade com o Dt internacional, de uma competência exclusiva na definição das regras de
aquisição e de perda da cidadanioa, não obstante a necessidade de atenderem à existência de
uma ligação efectiva entre o indivíduo e o Estado que a atribui.
9
Cidadãos são os membros do Estado, da Civitas, os destinatários da ordem jurídica estadual, os
sujeitos do poder. Existem outras comunidades políticas, para além do Estado, em face das
quais se estabelecem qualidades ou vínculos similares aos da cidadania (assim a condição dos
súbditos feudais). Por outro lado, em Estados complexos (federações uniões reais), ocorre um
desdobramento da cidadania em moldes variáveis embora, seja sempre a cidadania do Estado
central a determinar a cidadania correspondente a qualquer das entidades competentes.
. A cidadania europeia
Já no Tratado de Roma (1957), se declarava um princípio de não discriminação entre os
cidadãos dos Estados membros e se consagrava a liberdade de circulação dos trabalhadores. À
medida em que se avança no processo de integração europeia e que se verifica a concomitante
10
interferência dos órgãos comunitários, no próprio estatuto jurídico dos particulares, foi
afirmando a consciência da específica consideração desses direitos.
O Tratado de Maastricht (1992), dito da União europeia, iria ao encontro destas aspirações
precavendo: «o reforço da defesa dos direitos e dos interesses dos nacionais dos seus Estados-
membros, mediante a instituição da cidadania da União …».
Em todo o caso não pode confundir-se a cidadania, enquanto cidadãos membros do Estado, da
Civitas, os destinatários da ordem jurídica estadual, os sujeitos do poder. Deste modo não há
cidadania europeia equivalente à cidadania estatal, pois o Tratado de Maastricht não a define à
margem dos Estados (são estes que continuam a fixar quem é seu cidadão).
Capítulo III - O PODER POLÍTICO
1 – Poder e soberania
11
- Os titulares dos órgãos e agentes detentores das faculdades de poder político provêm da
comunidade, têm de ser designados dentre os seus membros.
- O poder constituinte como poder de auto-organização originária é um poder da
comunidade, e não dos governantes instituídos por essa organização.
Uma coisa é a titularidade do poder no estado, descrito como comunidade, organização e pessoa
colectiva e exercido por órgãos no desempenho de serviços ou funções em seu benefício. Outra
coisa, a titularidade do poder no povo, conjunto de cidadãos dotados de direitos e participação
activa na vida política.
. Poder político e soberania
O poder político no estado moderno de matriz europeia não se apresenta isolado, ou dotado de
uma expansibilidade ilimitada, assume um sentido relacional (cada Estado relaciona-se com
outros). Envolve capacidade simultaneamente activa e passiva diante de outros poderes.
Jean Bodin – a este poder dá-se o nome de soberania. Embora o conceito correspondente não
possua hoje compreensão idêntica à que tinha há 400 anos. Identificação entre os dois conceitos
para o Prof. Jorge Miranda.
A constituição actual alude tanto a soberania (arts. 1.º, 2.º, 3.º), como a poder político (art.
108.º). e a soberania tanto se manifesta na ordem internacional (art. 1.º) quanto na ordem interna
(art. 225.º, n.º3).
12
Os Estados federados não têm soberania externa. Possuem contudo soberania à face do Direito
do Estado federal.
A soberania como originariedade do poder do estado deve ser entendida em termos jurídicos.
Do que se trata é tão-somente de recortar a posição do estado frente às demais entidades ou
pessoas colectivas públicas de direito interno. Esta característica ou differentia specifica do
estado é, a dominante na doutrina.
Jellinek – a nota essencial do estado é a existência de um poder que não se deriva de nenhum
outro, que procede dele próprio e de harmonia com o seu próprio direito. Onde haja uma
comunidade com tal poder originário e meios coercitivos de domínio sobre os seus membros e o
seu território, no âmbito da sua ordem jurídica, aí existe um estado. Soberania significa
capacidade de auto-organização e auto-vinculação.
Kelsen – a soberania é uma qualidade de direito, da vontade do estado considerada como ordem
jurídica na sua esfera específica de validade. Um estado é soberano quando a ordem nele
personificada é uma ordem suprema insusceptível de ulterior fundamentação, quando é uma
ordem jurídica total, não parcial.
Problema diferente consiste em saber qual a manifestação específica ou mais qualificada da
soberania ou em saber qual o verdadeiro titular da soberania ou o órgão hegemónico do
aparelho do poder. As teses clássicas são as legislativas (encontram a essência da soberania na
emissão da lei) e as executivas (no momento da execução ou da coerção). Há tb quem ligue a
soberania ao poder de emitir moeda ao de punir ou ao de recrutar tropas, ou ainda ao de decretar
o Estado de excepção (Carl Schimtt).
13
B) Desconcentração ⇒ não se depara uma pluralidade de pessoas colectivas, e tão-somente
uma pluralidade de órgãos sem prejuízo da unicidade de imputação jurídica, existem vários
órgãos do Estado por que se dividem funções e competências.
Quer numa quer noutra trata-se sempre do estado e de diversas formas de organização do poder
político. O conceito homólogo no plano da sociedade é o de pluralismo de grupos.
. Descentralização e subsidiariedade
Princípio da subsidiariedade ⇒ o Estado só deve assumir as atribuições ou as incumbências que
outras entidades existentes no seu âmbito e mais próximas das pessoas e dos seus problemas
concretos não possam assumir e exercer melhor ou mais eficazmente.
O nexo entre ambos os termos não se mostra, tão unívoco quanto pareceria:
- Na descentralização parte-se do estado para pessoas colectivas por ele criadas; na
subsidiariedade o movimento é o inverso (arranca da sociedade em última instância).
- A subsidiariedade dir-se-ia mais adequada a um Estado federal do que a um estado
unitário.
- A subsidiariedade não é suficiente garantia de descentralização, tudo depende do juízo
que, se faça acerca das necessidades colectivas e acerca dos modos e dos meios de as
satisfazer.
A Constituição de 1976 não terá ignorado, desde o início, a ideia de subsidiariedade, sempre
conferiu relevência a múltiplos grupos, associações e organizações, na resolução dos problemas
nacionais.
14
das autarquias locais. Seriam de natureza diversa das insulares (estas com faculdades
legislativas e governativas).
- O fenómeno da regionalização não poderia deixar de abranger, embora sob formas
adequadas, o Continente por um princípio de unidade do país, por um princípio de
participação democrática por uma preocupação de distribuição de poderes.
- Em vários países europeus estavam sendo ensaiados esquemas de organização regional
contrapostos às fórmulas do passado.
- Planeamento regional, que para que não se tornasse mais um instrumento de burocracia,
antes uma instância de democratização do Estado e da sociedade, importaria que os
correspondentes órgãos assentassem na participação dos cidadãos.
- Não obstante se querer desenvolver a autonomia municipal, entendia-se que a maior
parte dos conselhos só dificilmente poderiam exercer sozinhos todas as suas atribuições
(preservação do ambiente, urbanismo).
As atribuições das regiões haviam de consistir na participação na elaboração e na execução dos
planos regionais, na coordenação e apoio à acção dos municípios.
Visto o povo se ter pronunciado negativamente (referendo de 1999), as regiões continuaram a
existir nas pertinentes normas constitucionais.
Contudo, verifica-se hoje o aparecimento de fenómenos como as áreas metropolitanas e as
comunidades urbanas, que são no essêncial associações de municípios, e que na opinião do Prof.
Jorge Miranda acabarão por se traduzir na criação de regiões administrativas.
15
- Descentralização institucional - decorre de funções ou instituições a que se atribui
relevância a e se dá satisfação ao objectivo de «evitar a burocratização, aproximar os
serviços das populações» (art. 267.º, n.º 1).
As regiões autonómas e as autarquias locais são as únicas pessoas colectivas de direito público,
como tal declaradas na CRP. São as únicas que têm com o Estado o domínio público e que
recebem poder normativo da CRP (afora o Estado e Universidade públicas).
As autarquias locais são entidades colectivas da administração autónoma apenas submetidas a
tutela da legalidade e não a tutela de mérito. A lei ordinária poderá estabelecer regimes
semelhantes, para pessoas colectivas públicas. As automonias locais e a autonomia político-
administrativa das regiões insulares são limites materiais de revisão constitucional.
Poder local inserido no âmbito do poder político (no texto de1976), pretende-se impregná~lo de
um relevo mais sólido do que aqueles que tinham tido em qualquer momento do passado as
autarquias lociais (já no séc. XIX, falava-se em «poder municipal» a acrescentar aos três
poderes de Montesquieu – executivo legislativo e judicial).
São formulados conjuntamente para o Estado, as regiões autónomas e poder local o princípio
dos actos jurídico-públicos com a CRP (art. 3.º n.º3).
16
Capítulo IV – FORMAS DE ESTADO
O ESTADO UNITÁRIO
Forma de Estado – modo de o estado dispor do seu poder em face de outros poderes de igual
natureza (em termos de coordenação e subordinação) e quanto ao povo e ao território.
Apesar da grande divergência doutrinal deve ser tida em consideração a distinção entre Estado
unitário e Estado complexo, com base na existência de um ou mais poderes políticos no mesmo
Estado (sendo que só um deles é soberano).
Contudo, o conceito de formas de Estado só se torna verdadeiramente operacional no interior de
um mesmo tipo histórico de Estado. Só interessa distinguir Estado unitário e Estado federal no
âmbito do Estado moderno de tipo europeu.
Por outro lado, a escolha de uma determinada forma de estado é o resultado da conjugação de
factores de natureza técnica, política, histórica ou geográfica.
17
Deve distinguir-se descentralização política ou político administrativa de:
- Desconcentração – que consiste em existirem diferentes órgãos do Estado por que se
dividem funções e competências, a diferente nível hierárquico ou não, e de âmbito
central ou local.
- Descentralização administrativa – que designa o fenomeno de atribuição de poderes ou
funções de natureza administrativa a entidades infraestaduais, tendentes à satisfação
quotidiana de necessidade colectivas.
- Regionalização – que se traduz em desconcentração regional e, sobretudo, na criação de
autarquias supramunicipais para fins de coordenação de actividades, de utilização de
serviços em comum, de planeamento, de participação, de fomento cultural e económico.
- Autonomia política – que é um conceito empírico destinado a descrever uma situado
entre a não autonomia territorial e o estatuto de Estado independentemente ou entre a
não autonomia territorial e a integração em Estado independente, em igualdade com
quaisquer outras comunidades que deste façam parte.
O ESTADO COMPLEXO
No Estado complexo deve ser feita a distinção entre união real e federação. Na primeira, existe
uma estrutura de fusão de poderes políticos das entidades componentes, enquanto na segunda
existe uma estrutura de poderes políticos sobrepostos.
. União real
Associação ou união de Estados, que dá lugar à criação de um novo Estado, no qual alguns dos
órgãos dos Estados associados passam a ser comuns. É baseada na fusão ou na colocação em
comum de alguns dos órgãos dos Estados que a constituem de tal modo que fica a haver ao lado
dos órgãos particulares de cada Estado, um ou mais órgãos comuns (pelo menos, o Chefe de
Estado é comum) com os respectivos serviços de apoio e execução. Exempos: Portugal e Brasil
1815 a 1822. a Suécia e a Noruega 1815 a 1905.
Deve-se distinguir da União pessoal, que é a situação em que o Chefe de Estado é comum a dois
Estados embora somente a título pessoal e não orgânico. O que é comum é o titular do órgão e
não o próprio órgão. Exemplo: potugal e Espanha 1580 a 1640.
. As federações
Na federação, estamos em presença de uma associação ou união de Estados, que dá lugar à
criação de um novo Estado, e em que surgem novos órgãos do poder político sobrepostos aos
órgãos dos Estados federados.
É baseado na dualidade:
- estrutura de sobreposição, a qual recobre os poderes políticos locais (i. e., os estados
federados), de modo a que cada cidadão fique simultaneamente sujeito a duas
Constituições – a federal e a dos Estado federado a que pertence (destinatário de actos
dos dois).
- Estrutura de participação, em que o poder político central surge como resultante da
agregação dos poderes políticos locais, independentemente do modo de formação:
donde a terminologia clássica de «Estado de Estados».
Daqui resulta os segintes princípios directivos:
• Dualidade de soberanias.
• Participação dos Estados federados na formação e modificação da Constituição
federal.
• Garantia dos direitos dos Estados federados.
• Intervenção institucionalizada dos Estados federados na formação da vontade
política e legislativa federal.
• Igualdade jurídica dos Estados federados.
• Limitação das atribuições federais
18
Em termos de relação das várias ordens jurídicas federadas e federal, existe uma supremacia,
qualificada pelo professor como de supra coordenação, e que se traduzem:
• Os princípios básicos do regime, tal como constam da Constituição federal, impõem-se
às Constituições dos Estados federados.
• São órgãos federais, designadamente jurisdicionais, que decidem da validade das
normas federais e estaduais (inclusive, das normas das Constituições estaduais) e de
eventuais conflitos de competências
• O Estado federal pode adoptar medidas coercitivas para impor o seu Direito aos órgãos
dos Estados federados.
Dever ser no entanto sublinhado que o poder constituinte federal tem como limite absoluto o
respeito do conteúdo essencial das soberanias locais e à federação incumbe garantir o exercício
efectivo da autoridade dos Estados federados.
No que respeita à repartição de matérias entre o Estado federal e os Estados federados deve-se
distinguir entre:
A federação tem na sua origem uma constituição federal, resultante do exercício de um poder
constituinte autónomo que contém o fundamento de validade e de eficácia do ordenamento
jurídico federativo.
O poder constituinte federal tem como limite absoluto o respeitodo conteúdo essencial das
soberanias locais e à federação incumbe garantir o exercício efectivo da autoridade dos Estados
federados.
19
• Poderes atinentes à prossecução dos interesses específicos regionais, designadamente
poderes legislativos 227 n.º1 a) c) b) regulamentares 227 n.º 1 d) e) executivos 227 n.º 1
g) h) m).
• Poderes de participação em actos de órgãos do Estado central que afectem
especificamente as regiões 227 n.º1 e) f) p) r).
Participar na integração europeia – 227 n.º1 t)
• Poderes de garantia 281 n.º2 g)
• Assembleia representativa e governo perante ela responsável como órgãos de poder
próprio 231.
• Articulação dos órgãos de soberania e dos órgãos de autonomia.
Elegem deputados à AR
No CE tomam assento os Presidentes dos governos regionais
• Integração da produção legislativa regional no sistema legislativo nacional (112 278)
bem como nas finanças e no sistema financeiro regional (106 n.º3 e)).
Art 228 explicita quais são as matérias de interesse regional, embora não seja uma claúsula
taxativa é apenas exemplificativa. Não pode ofender as leis gerais da república, excepto com
autorização da AR.
Art 288 – são limtes de revisão constitucional.
20