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31 de Julho a 02 de Agosto de 2008

ISO - 26000 RESPONSABILIDADE


SOCIAL COMO DIFERENCIAL
UNIVERSAL

Maria Chintia Elizabeth dos Santos Bastos (UFF)


chintia@bastos.net
Orlando Celso Longo (UFF)
longo@civil.uff.br

Resumo
O artigo enfoca a evolução dos trabalhos desenvolvidos pelos Grupos
Tarefas instituídos pela International Organization of Standadization
na construção da Norma ISO 26000 de Responsabilidade Social, dada
a importância do estabelecimento de um conceito mundialmente
aceitável e aplicável, que promova o fortalecimento das relações e
ações, oferecendo diretrizes e orientações a organizações de quaisquer
portes, naturezas e localização quanto a sua inclusão em seus próprios
sistemas de gestão.
Como contribuição, apresenta um panorama de reconhecimento da
matéria através de pesquisa aplicada em instituição de ensino de
cursos profissionalizantes do país.
A pesquisa classifica-se como: Aplicada, por tratar-se de material de
contribuição instrutiva. Qualitativa, por sua consistência analítica e
interpretativa quanto aos instrumentos literários específicos
disponíveis. Bibliográfica, por advir de material já publicado,
constituído por Documentos Legais, Normas, artigos, livros e notas.
Apresenta uma revisão literária de material existente relacionado à
Responsabilidade Social, concluindo com as considerações potenciais
observadas para os próximos trabalhos rumo a ISO26000.

Abstract
The article focuses the evolution of the works developed for the Groups
Tasks instituted for the International Organization of Standardization
in the construction of Norma ISO 26000 of Social Responsibility, given
the importance of the establishment of a world-wide acceptable and
applicable concept, that promotes and fortify relations and action,
offering lines of direction and orientation the organizations of
transports, natures and localization how much its inclusion in its
proper systems of management.
As contribution, it presents a view of recognition of the substance
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through research applied in institution of education of


professionalizing courses of the country.
The research is classified as: Applied, for being about material of
instructive contribution. Qualitative, for its analytical and interpret
consistency how much to the available specific literary instruments.
Bibliographical, for happening of published material already,
constituted of legal documents, norms, articles, books and notes.
It presents a literary revision of related existing material to the Social
responsibility, concludes with the potential considerations observed for
the next works route the ISO 26000.

Palavras-chaves: ISO 26000, Responsabilidade Social, ética e


transparência.

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1. INTRODUÇÃO

Estudiosos dos mais diversos segmentos políticos e ideológicos observam que nossos
dias assinalam o ressurgimento de um espírito ativo e participativo de cidadania a refletir-se
em âmbito mundial, imputando tanto à sociedade quanto às empresas a manutenção de uma
postura digna diante do cumprimento dos próprios deveres e obrigações, considerando o
descontentamento ante a vulnerabilidade de sobrevivência e sustentabilidade.
Ressalta Smith (1776) que:
“A riqueza das nações decretará a superioridade da indústria sobre a agricultura, do
lucro e da mais valia sobre a renda, da moeda sobre a troca, do egoísmo sobre a
caridade”.
“Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos o
nosso almoço, mas do interesse que têm no próprio lucro pessoal”.
“Deus implantou no homem certos instintos, entre os quais o de trocar. Os homens
são naturalmente assim. Se o governo se abstiver de intervir nos negócios, a “ordem
natural” atuará”.
Nesta citação sente-se claramente que dia-a-dia o considerado imprescindível ontem
pode não ocupar posição tão privilegiada no hoje e no amanhã. Torna-se de vital importância
que toda a essência do obtido não seja descartada ou menosprezada, pois pode encerrar
facilitadores à evolução. É de pleno conhecimento da humanidade que a maior dádiva nos foi
concedida: a vida! Cabe promovê-la conscienciosa e dignamente para poder usufruí-la com
qualidade.
Porém, como anda tal promoção?
– Notícias locais e externas das mais diversas áreas do planeta denotam o momento
preocupante que designa um imediato e consistente levante rumo à restauração de uma
sociedade fragilizada por tantos desafios, carente de competências até então fugazes,
enlevando o espírito de cumplicidade da humanidade.
Contudo, simples homens terão tal capacidade?
-Há muito, salienta a antropóloga Margaret Mead (1962) em sua sapiência:

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“Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos atentos e comprometidos pode


mudar o mundo. Na verdade, isso é o que sempre ocorreu.”
A contínua divulgação dos incontáveis fatores que comprometem a sobrevivência da
própria humanidade tem impulsionado um crescente número de representantes de
organizações de diversas áreas do planeta à união de esforços buscando a paralisação e
redução de tal comprometimento, uma vez que a realidade de muitas nações revela sua
incompetência isolada ao encontro das devidas soluções.
Considerações de pesquisadores e estudiosos denotam a instituição de imprescindíveis
diretrizes de aplicação comum aos segmentos da economia mundial, de modo a garantir com
eficácia a sustentabilidade do planeta e, por conseguinte a sobrevivência das gerações futuras,
cujas regras estabeleçam parceria entre os adeptos, quanto à contribuição a um
desenvolvimento econômico e social.
Segundo Kofi Annan (2004), secretário da ONU, análises estatísticas demonstram que
os desafios sociais obedecem à seguinte incidência decrescente:
1. Pobreza e Desigualdade;
2. Degradação do meio ambiente e Exploração não sustentada dos recursos naturais;
3. Conflitos;
4. Terrorismo e Proliferação de Armas de Destruição em massa;
5. Desconfiança entre pessoas de diferentes religiões.
Verifica-se que o desrespeito à igualdade de direitos constituída aos cidadãos, dentre
os quais se enquadra a matéria “oportunidades”, fomenta o potencial de pobreza, uma vez que
uma minoria torna-se privilegiada ante uma maioria sacrificada de forma tão avassaladora que,
nos dias atuais conduz ao vislumbre da vulnerabilidade de suas próprias heranças.
De forma similar, a anarquia gerada pela busca desenfreada e desordenada do
crescimento, promove a escassez dos recursos naturais, contribuindo continuamente a
degradação ambiental, não descartando a parcela de descaso de cada indivíduo quanto à má
utilização tanto dos frutos de seu desenvolvimento quanto dos oferecidos pela própria
natureza.
Quanto aos conflitos gerados, sejam pela ganância e supremacia de poder ou por
divergências conceituais, sociais, econômicas, educacionais, religiosas, culturais, ambientais,
etc. apresentam-se acentuados, despertos inclusive em áreas antes consideradas inatingíveis.

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Neste aspecto, observa-se que por insegurança ou cobiça, diversos países envolvem-
se em pesquisas e processos para produção de armas que garantam de alguma forma a
estabilidade e continuidade de sua espécie, sem ater-se ao fato de que a humanidade constitui
“uma espécie única”, que se vê ameaçada de extinção pela própria sombra e semelhança.
Tanta complexidade advinda do ser humano, ainda permite que diversidades regionais
estabeleçam agravante no contexto mundial, demandando que a simples adoção diferencial de
credos, instigue e culmine em desconfiança e desavença.
Como se observa, os desafios discriminados remetem ao descaso à cadeia de
princípios estabelecidos desde a antiguidade, cabendo à humanidade ainda não contaminada
por tais efeitos, uma ação imediata no resgate da própria essência, considerando o resguardo
individual das particularidades, bem como os direitos, deveres e obrigações de todos para com
a sociedade.
Ressalta Amoroso (2002) que, a linha mestra das ações sociais deve nascer de uma
visão profunda da relação “governo – empresa – homem – natureza”, estabelecendo um ciclo
natural ou cadeia de ligação que, como um Princípio deve ser cultivado.
Assim surge a Responsabilidade Social empresarial, como o produto de uma mudança
radical no modo de pensar e negociar, considerando a obrigatoriedade da inserção de padrões
éticos nos trabalhos a desenvolver, uma vez seus adeptos promoverem, absorverem e
utilizarem regras “comuns”, considerando-as fator fundamental tanto ao crescimento quanto à
sustentabilidade dos sistemas.

2. OBJETIVO

Refletindo o sentimento exposto, alguns países lançaram-se à elaboração de diretrizes


aplicáveis aos próprios sistemas de gestão, consideradas suas características e dificuldades,
podendo estender a utilização a outras regiões sem observar abrangência a nível mundial, tais
como as Normas: AA 1000 e SA 8000 de origem americana, BS 8900 de origem inglesa, SD
21000 de origem francesa, NBR 16001 de origem brasileira, demandando a busca de
resultados fundamentalmente eficazes.
Deste modo, a International Standardization of Organization (ISO), organização
normalizadora mundialmente reconhecida, constituída por membros de renome e influência
no mercado empresarial internacional, em reunião realizada em 2001 por seu Comitê de

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Política de Consumidores (ISO/COPOLCO) resolve preconizar um estudo sobre a real


necessidade da construção de uma diretriz de aplicação geral voltada ao auxílio na extinção
e/ou redução desses desafios, uma vez constatada a dificuldade do Estado, isoladamente,
enfrentar as situações e apresentar soluções. Em 2004, o Comitê máximo da ISO emite
relatório recomendando seu desenvolvimento desde que salvaguardadas as declarações da
ONU e OIT, bem como iniciativas existentes, além do respeito à participação e
particularidades de todos os envolvidos.

3. METODOLOGIA

De acordo com o objetivo, a pesquisa classifica-se como: Aplicada, por observar


matéria da atualidade, cujas particularidades envolvem contribuição quanto à divulgação e
troca de conhecimentos, bem como conscientização e engajamento participativo da sociedade,
culminando numa expectativa favorável à formulação de respostas às grandes questões e
desafios específicos da sociedade. Qualitativa, por sua consistência analítica e interpretativa
quanto aos instrumentos legais, às normas existentes e vigentes, aos dados e informações
disponíveis na literatura específica, bem como técnica de pesquisa elaborada pela própria
autora, buscando representar, mesmo que parcialmente, junto a público freqüentador de
cursos técnicos especiais, o nível de conhecimento e opinião sobre o tema abordado.
Exploratória, por considerar as teorias quanto à integração ao contexto da pesquisa.
Bibliográfica, por sua elaboração, praticamente, advir de material já publicado, constituído
por instrumentos legais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, as Convenções e
Recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Convenção da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos da Criança, as Normas de
Responsabilidade Social da Social Accountability International (SAI) a SA 8000; da
AccountAbility (AA) a AA1000; da Association Française de Normalisation (AFNOR) a
SD21000; da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) a NBR 16001; da British
Standards (BSI) a BS8900; bem como guias, códigos de conduta e ética empresariais,
pesquisas e artigos científicos publicados em revistas, periódicos e disponibilizados através da
internet, livros; além de participações em eventos tais como cursos, congressos e seminários
relacionados ao tema abordado, buscando a delimitação da abrangência do assunto.

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Considera-se a aplicação do método dedutivo implementado na interpretação dos


dados e informações disponibilizados segundo material bibliográfico referenciado e
selecionado previamente pela autora, dispensando-lhes integração e interação contextual.
O reconhecimento das questões críticas, bem como sua importância no contexto,
alastrou-se durante o processo de pesquisa, considerando-se a identificação contínua dos
aspectos relevantes advindos da leitura da literatura das fontes disponíveis, permitindo uma
análise dos dados e informações promotoras do embasamento de uma apreciação
esclarecedora e conclusiva sobre as questões abordadas.

4. DESENVOLVIMENTO

A notória impotência do Estado no encontro de soluções que reduzam e eliminem a


distância cada vez mais evidente entre as classes sociais, denota a necessidade de
amadurecimento de dirigentes empresariais e indivíduos, em estabelecerem uma atuação
participativa e consistente sobre as variantes sociais, promovendo a difusão da situação de
forma a sensibilizar e conscientizar a população do planeta quanto à imprescindível ascensão
da Responsabilidade Social.
Como iniciativa, cabe ressaltar que desde 1977, em atitude demonstrativa de
transparência comportamental, empresas de países desenvolvidos têm utilizado como
instrumento de medição operacional o próprio balanço social, promovendo a apreciação e
julgamento dos resultados, e incentivando à reflexão quanto a fatos sociais vinculados. Assim,
o balanço social avançou aceleradamente conquistando espaço também nos países em
desenvolvimento que buscam a redução de perdas e a melhoria contínua de processos para
equilíbrio e reconhecimento, constituindo-se ferramenta de auxílio no estabelecimento:
- de fundamentos essenciais a tomadas de decisão dos dirigentes frente aos programas e ações
de responsabilidade social;
- de uma compreensão clara e qualitativa a ser assumida pelos gestores com relação aos
anseios dos empregados;
- da transparência de comportamento e coerência entre ações e pensamentos, segundo as
diretrizes adotadas nas relações com fornecedores e investidores;
- dos fatores de influência na qualidade do produto adquirido pelos consumidores;

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- de uma análise e adoção de informações que incentivem a parceria e continuidade dos


projetos sociais sem constituir ônus ao crescimento, respeitando e fortalecendo sua relação
com o Estado.
Constata-se, então, que muitos têm sido os esforços dispensados no desenvolvimento
de ferramentas confiáveis que funcionem como facilitadores aos sistemas de gestão até então
conhecidos, evidenciando dificuldades reais e permitindo aos gestores uma atuação direta
tanto corretiva quanto preventiva.
Em contrapartida, empresas de vários segmentos da economia comportam-se como
legítimos agentes sociais no processo de desenvolvimento, elaborando e implementando
projetos sócio-culturais, através da realização de atividades que estreitem e fortifiquem suas
relações com as comunidades, funcionários, fornecedores, investidores e consumidores,
colaborando na redução das desigualdades sociais, além de promover uma imagem positiva
no mercado competitivo.
Contudo, movimentos e esforços isolados em universo tão extenso podem se tornar
apenas pontuais.
Vislumbrando o desperdício das nobres empreitadas, a ISO, pela confiabilidade e
solidez conquistada através das contribuições significativas a nível mundial, em 2001 recebeu
solicitação de várias organizações a fim de avaliar a real necessidade da elaboração de uma
norma direcionada à Responsabilidade social. Desta forma, a referida organização convida o
Comitê de Política de Consumidor (COPOLCO) para proceder tal investigação, tendo
recebido como resposta à proposta a submissão do assunto a uma avaliação imediata e
específica, detalhada e consistente a ser desenvolvida pelo Comitê máximo da ISO
(ISO/TMB). Assim, os estudos desenvolveram-se de setembro de 2002 a abril de 2004,
culminando em relatório incentivador da construção de uma terceira geração de normas ISO,
estabelecendo diretrizes e orientações promotoras do bem estar dos diversos públicos alvos
das organizações, a cidadania, o desenvolvimento sustentável e a transparência das atividades:
a futura norma ISO 26000.
Cabe salientar que, para obtenção de sucesso, o movimento considera como pilares
básicos o respeito à legislação internacional vigente bem como demais documentos legais
associados, normas publicadas e elaboradas, além da permissão da participação das partes
interessadas.

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Em junho de 2004 realizou-se Conferência Internacional da ISO, tendo comparecido


360 (trezentos e sessenta) pessoas de 66 (sessenta e seis) países, dentre os quais 33 (trinta e
três) desenvolvidos e outros 33 (trinta e três) em desenvolvimento, representados pelos
segmentos interessados da economia como: institutos de normalização, empresas, governos,
trabalhadores, consumidores, acadêmicos e organizações não-governamentais, entre outros.
Em demonstração ao nível de parceria esperado na evolução dos trabalhos, observa-se a
realização de uma pré-conferência com participação exclusiva dos países em desenvolvimento,
objetivando um resultado final que reflita efetivamente os anseios e expectativas da sociedade
sobre a matéria.
A complexidade do tema revela a importância de uma participação equilibrada entre
as partes interessadas, enfatizando a necessidade de facilitar a adesão de países em
desenvolvimento, bem como Organizações Não-Governamentais (ONG), consumidores e
demais segmentos que possuam limitação quanto a recursos. Desta forma, decidiu-se a
aplicação de uma estrutura consistente baseada em princípios organizacionais.
Por oferecer uma demanda de interesse e aplicação a nível mundial, estabeleceu-se
que a condução das tarefas seria realizada por grupos de trabalho, com vínculo direto à alta
direção, permitindo a participação de especialistas representantes dos segmentos econômicos:
governo, indústria, trabalho, consumidores, ONG e serviço, além dos indicados por
organizações internacionais e regionais de renome.
Demonstrando envolvimento no engajamento participativo das partes interessadas,
tanto de países desenvolvidos como em desenvolvimento, em setembro de 2004, a ISO decide
inovar a condução dos trabalhos adotando o método “twinning” na constituição da liderança,
promovendo o compartilhamento do processo evolutivo da norma. Para tanto, nomeia um
líder de país desenvolvido e outro de um país em desenvolvimento para a direção dos
trabalhos, elegendo consensualmente para presidência, o Brasil, representado pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas - ABNT e para vice-presidência, a Suécia, representada pelo
Swedish Standards Institute – SIS, devendo-se alternar as posições da liderança por tempo
previamente estabelecido.
Como resultado, em janeiro de 2005, a ISO elaborou uma proposta denominada New
Work Item Proposal – NWIP, divulgando e submetendo a confirmação da participação de
seus membros.

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A ISO inicialmente propõe o desenvolvimento de uma única norma, não descartando a


possibilidade de elaborar um documento em partes, além de outros que possam servir de
suporte aos interesses de todas as partes envolvidas.
Assim, estabeleceu-se a realização de reuniões plenárias anuais internacionais para a
tomada de decisões consensuais, em locais e datas estabelecidos, determinando-se a
efetivação de discussões contínuas entre os envolvidos, a serem realizadas por meio eletrônico
durante os períodos de intervalo entre as reuniões.
Quanto à participação no processo, cabe ressaltar que:
- Cada organismo nacional de normalização pode indicar até seis especialistas como
integrantes do grupo, de forma a representarem os segmentos econômicos adotados (op cit),
concedendo direito a um voto para cada um desses “experts”, além da emissão de pareceres;
- Os observadores, previamente autorizados por institutos de normalização locais, têm
permissão para participar das reuniões, porém lhes é vetado tanto o voto quanto a emissão de
pareceres;
- Às organizações D-Liaison Organizations, com atuação reconhecida internacionalmente na
área de Responsabilidade Social, permite-se a indicação de dois “experts” cada, com direito a
um voto por especialista, bem como a emissão de pareceres.
Abaixo, são relacionadas reuniões até então realizadas, com os principais aspectos
vivenciados:

1ª Reunião Plenária
Realizada de 07 e 11 de março de 2005, em Salvador-BA, Brasil, estabeleceu a forma
organizacional para a discussão de aspectos, fundamentos e estratégias visando à promoção e
distribuição dos trabalhos.

2ª Reunião Plenária
Realizada de 26 a 30 de setembro de 2005, em Bangkok, Tailândia, estabeleceu a
estrutura da norma, considerando a discussão de 1200 (hum mil e duzentos) comentários
emitidos.

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3ª Reunião Plenária
Realizada de 15 a 19 de maio de 2006, em Lisboa, Portugal, promoveu a análise
crítica da primeira minuta da norma, definindo conceitos essenciais, articulação e abrangência
de princípios gerais, substantivos e operacionais, considerando a discussão de 2140 (dois mil,
cento e quarenta) comentários emitidos.

4ª Reunião Plenária
Realizada de 29 de janeiro a 02 de fevereiro de 2007, em Sidney, Austrália, promoveu
a análise crítica da segunda minuta da norma e assuntos gerais, considerando a discussão de
5176 (cinco mil cento e setenta e seis) comentários emitidos.

5ª Reunião Plenária
Realizada de 05 a 09 de novembro de 2007, em Viena, Áustria, promoveu a análise
crítica da terceira minuta da norma e assuntos gerais, considerando a discussão de 7225 (sete
mil, duzentos e vinte e cinco mil) comentários emitidos.

Devido o aumento participativo e, por conseqüência, questões a serem analisadas


consensualmente, a ISO que, inicialmente previa a publicação da norma para 2009, resolve
estender o processo, estabelecendo a realização de uma última Reunião Plenária a realizar-se
em novembro de 2008, em Santiago, Chile, visando à análise crítica da quarta minuta da
norma, bem como a redução a um mínimo tolerável de assuntos gerais não abordados, a fim
de manter a consistência das intenções do processo.
Após esta reunião, as decisões consensuais somente serão vivenciadas entre
organismos de normalização e organizações internacionais participantes.
Isto exposto constata-se que o espírito dos envolvidos volta-se à busca do
entendimento e negociação intensos, aberto e positivo, além da preocupação com um
engajamento equilibrado de partes interessadas tanto de países desenvolvidos quanto em
desenvolvimento, considerando-se, ainda, a equanimidade dos sexos participantes.
Realmente um movimento grandioso...
Entretanto, considerando que a concentração do movimento se faz em prol da
sustentabilidade do planeta e sobrevivência das gerações futuras, sua evolução e
conscientização ainda se mostram insuficientes, uma vez que a população jovem - beneficiária

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direta dos resultados obtidos pela transformação almejada - em sua maioria parece
desconhecer a própria realidade ou até mesmo, por falta de engajamento no processo, age com
descaso ou negligência ao amanhã.
Procurando constituir bases a tais questões, a autora elabora pesquisa estabelecida
através de amostra composta por 158 (cento e cinqüenta e oito) freqüentadores de cursos
técnicos especiais, submetidos a processo seletivo com exigência de conclusão de, no mínimo,
o nível médio de ensino, revelando a precariedade de informações disponibilizadas à faixa da
população em formação, cuja atuação é imprescindível na sustentação das intenções a serem
formuladas, sem descartar a probabilidade do próprio desinteresse sobre o tema, vistas à
realidade degradante evidenciada na atualidade.
Assim, demonstram-se através dos gráficos abaixo, as características da amostra.

11%

Homens
Mulheres

89%

Gráfico 01 - Sexo dos elementos da amostra

50% 50%

De 18 a 25 anos De 26 a 40 anos

Gráfico 02 – Faixa etária dos elementos da amostra

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16%

84%
Ensino Médio Graduação

Gráfico 03 - Nível de instrução dos elementos da amostra.

38%

62%

Atuante Desempregado

Gráfico 04 – Atuação Profissional dos elementos da amostra.

Visando contribuir com a elaboração deste estudo, a autora procurou formular


questões focando o tema objeto, conforme descrição e resultados obtidos demonstrados a
seguir.

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1. Como se deu seu primeiro contato com o termo “Sistema de Gestão”?

12%
cursos específicos
35%
atuação profissional
25%
cursos
profissionalizantes
publicações e mídia
28%

Gráfico 05 – Conhecimento da Definição de Sistema de Gestão.

2. A que tipo de sistema você teve acesso?

Qualidade

30% 33% Meio Ambiente

Saúde e Segurança
Trabalho
6% Responsabilidade
Social
13%
18% Nenhum

Gráfico 06 – Sistema de Gestão mais conhecido.

3. Nos tempos atuais as empresas buscam a certificação como diferencial competitivo.


Você já atuou como colaborador?

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Sim

Não

Gráfico 07 – Participação em Sistema de Gestão.

4. “A maioria das empresas tentam ser socialmente responsáveis para melhorar a própria
imagem e não por que querem realmente contribuir positivamente com a sociedade.”

10%

18%
Concordam
Não concordam
Não sabem
72%

Gráfico 08 – Realidade das Intenções Empresariais

5. Que desafio social você priorizaria a combater?

5% 4%
Pobreza e
Desigualdade
Degradação e
Exploração Amb.
53%
38% Terrorismo e
Armamento
Conflitos

Gráfico 09 – Priorização de Combate aos Desafios Sociais.

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6. Tem conhecimento sobre o movimento construtivo da ISO 26000?

10%

Conhecem e
acompanham
Não conhecem

90%

Gráfico 10 – Conhecimento da Elaboração da ISO 26000.

Nas questões aplicadas observa-se comprometimento da matéria quanto ao


conhecimento e participação. As diferenças entre as camadas sociais não são evidenciadas
apenas pelo aspecto econômico, mas também no educacional. O rol de parâmetros
sustentáveis deve iniciar-se com padrões de ensino promotores de conhecimentos, habilidades
e atitudes, de forma a proporcionar ao indivíduo o desenvolvimento amplo do modelo
educacional por competências instituído no país.

5. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

A presente proposta tem como intenção contribuir com informações de relevância


significativa à material em questão, demonstrando engajamento da autora bem como sua
expectativa de êxito à perenidade e consistência dos elementos construtivos à elaboração da
terceira geração de normas ISO voltada à Responsabilidade Social – ISO 26000.
Observa-se que no país, o movimento da Qualidade iniciado na década de 90, ainda se
encontra em fase de expansão, enquanto os demais ocupam faixa irrisória de contemplação,
seja por resistência ou desconhecimento da população ativa.
Neste aspecto, mais algumas décadas para reação podem significar a própria extinção.
Ao apresentar o panorama de desenvolvimento da norma, os múltiplos fatores e a
complexidade do movimento, o presente artigo busca incentivar a continuidade estratégica
evidenciando situação real no contexto da sociedade brasileira, demonstrando a importância
do tema como matéria de cunho obrigatório na grade curricular da educação fundamental da

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população ativa e, não uma inserção eletiva ou optativa após o ensino médio, quando o
indivíduo busca o aprimoramento ou especialização de sua formação. Tal cenário denota uma
necessária e intensa divulgação intensa atingindo os diversos segmentos da economia do país,
visando impactar positivamente a conscientização e participação da população nacional,
promovendo o fortalecimento da educação e formação dos indivíduos, de maneira a não se
prover um instrumento de atuação imediata e sim, que estabeleça soluções permanentes e
confiáveis. Assim, no atual momento crítico evidenciado por aflições e promessas, permite
almejar a equanimidade de uma sociedade universalmente sustentável, objetivando que esse
notório esforço, além de reconhecido, não seja desperdiçado pelas futuras gerações.

6. REFERÊNCIAS

ALLEDI, CID M.Sc., Gestão de Responsabilidade Social Corporativa – Apresentação -


Latec/Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, 2003.

AMORIM, MOZANA. Empresa qual o teu fim social? Disponível em:


www.pautasocial.com.br. Acesso em 30 jan. 2007.

AMOROSO, SÉRGIO. Responsabilidade Social: menos marketing e mais ações.


Disponível em: www.filantropia.org. Acesso em: 24 mar. 07.

ANTÓNIO, FIRMIN. Pela força do exemplo. Disponível em: www.filantropia.org. Acesso


em: 24 mar. 07.
ASHLEY, PATRÍCIA A. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Editora
Saraiva, 2001.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, ABNT NBR 16001 –


Responsabilidade Social – Sistemas de Gestão – Requisitos, 2004.
Disponível em: www.abnt.org. Acesso em: 23 nov. 2006.

BASTOS, MARIA CHINTIA. Evoluindo uma Linguagem Universal para


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