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POLIFÔNICO DO PROFESSOR1
RESUMO
Qual o papel do professor e seu discurso na interação com os alunos em aula de leitura? Para responder a
essa pergunta, realizamos um trabalho de observação de como professores do Ensino Médio introduzem,
desenvolvem e encerram suas aulas de leitura para, a partir da transcrição dos dados, descrever a
ocorrência da polifonia, isto é, vozes que polemizam entre si, se completam ou respondem umas às outras;
as diversas perspectivas, pontos de vista que se fazem presentes, que se deixam falar nos enunciados
produzidos na interação verbal (cf. Bakhtin, 1929; Ducrot, 1984). A partir das análises, podemos afirmar
que coexistem no discurso do professor duas perspectivas polifônicas: a) perspectiva polifônica
proveniente da formação pessoal e sócio-cultural, ou seja, os juízos de valor, depoimentos pessoais,
crenças, convicções étnico-religiosas, políticas e culturais; b) perspectiva polifônica proveniente da
formação escolar e profissional, ou seja, a consciência de autoridade e do imaginário do papel ideal do
professor. Esse cruzamento de vozes, muitas vezes, conduz os alunos ao silenciamento, isto é, a sua total
subordinação ao discurso do professor, sem possibilidade de interlocução. O professor precisa permitir
que o aluno se utilize do discurso para expressar a sua contrapalavra, buscando o sentido do texto que é
construído na compreensão responsiva, na interação verbal, no processo dialógico. As atividades de sala
de aula devem ser interativas, de confrontos de saberes e conhecimentos acumulados socialmente, e não
meras atividades cristalizadas de subordinação ao texto didático e ou provocadoras do silenciamento das
vozes dos alunos.