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ADRIELLE CRISTINE MENDELLO LOPES

WAGNER BATISTA DE CASTRO

LIVRO DIDÁTICO: UMA ANÁLISE SOBRE O ESTUDO DAS FUNÇÕES

Belém
2011
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA, ESTATÍSTICA E INFORMÁTICA
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM MATEMÁTICA
DISCIPLINA DE INSTRUMENTAÇÃO PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA II
ALUNOS: ADRIELLE CRISTINE MENDELLO / WAGNER BATISTA DE CASTRO
TURMA: 3MATM

LIVRO DIDÁTICO: UMA ANÁLISE SOBRE O ESTUDO DAS FUNÇÕES

Trabalho apresentado à
Disciplina de instrumentação
Como requisito de avaliação
Orientado pela Prof. Ms. Antônia Edna

Belém
2011
LIVRO DIDÁTICO: UMA ANÁLISE SOBRE O ESTUDO DAS FUNÇÕES

O livro didático funciona como um forte apoio pedagógico no processo


ensino-aprendizagem e por vezes, nem sempre cumpre esse objetivo. Por este
motivo, a análise de livros didáticos de Matemática tem sido alvo de muitas
discussões em Educação Matemática. De acordo com Silva Jr. (2007), o livro de
Matemática pode ser considerado como um vínculo entre o professor e o aluno, em
que o professor é o mediador dos conteúdos e o aluno é o receptor destes.

Silva Jr. (2007) também afirma que a adoção e a utilização do livro didático
na escola, sempre são abordadas com categorizações em torno de sua estrutura,
que, a princípio, partem para uma análise de sua qualidade.

Seguindo essa ideia, o objetivo deste trabalho é a analise de livros no que


tange ao conteúdo de funções, pois Costa (2006) aponta que função é um dos
conceitos mais importantes da Matemática, utilizado como ferramenta em várias
áreas do conhecimento. Há, por parte do aluno, uma grande dificuldade na
compreensão deste conceito, que pode estar, muitas vezes, relacionado à forma
como é introduzido pelo professor, visto a capacidade de abstração exigida para
sua compreensão. Tal abordagem axiomática pode provocar no aluno uma
sensação de fracasso, criando um obstáculo que o impede de avançar em sua
aprendizagem.

Neste sentido, se referindo apenas ao conteúdo de funções, selecionamos


alguns livros para serem analisados a fim de que verificar a maneira como esse
estudo vem sendo apresentado aos alunos, levando em conta a dificuldade e a
necessidade da compreensão deste conceito matemático para a aquisição de
novos conhecimentos, seja dentro da Matemática ou em outras áreas de
conhecimento.

ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Livro 1 – Smole (2005)

SMOLE, Kátia Cristina Stocco. Matemática – ensino médio – volume 1 – 1° série –


5.ed. – São Paulo: Saraiva, 2005.
a) Aspectos teórico-metodológicos

Smole dedica um capítulo do livro para tratar de relações entre grandezas.


Como elemento de introdução, explora o sistema cartesiano a partir de um exemplo
sobre a localização de um condomínio na cidade, a partir de pontos marcados no
mapa, acrescentando ao conteúdo alguns dados históricos, entretanto, não
podemos considerar a utilização da tendência história da matemática.

O conteúdo matemático de função é apresentado a partir um gráfico que


mostra a participação do carro a álcool no mercado, articulado à porcentagem,
conteúdo apresentado no capítulo anterior. A partir deste gráfico, são apresentadas
as características de uma função e, logo após, outros exemplos são mostrados,
com recursos de tabelas e gráficos. O livro também trata de exemplo de não-
funções, onde a autora afirma que nem sempre uma relação entre duas grandezas
é uma função. Ao tratar de domínio, contradomínio e conjunto imagem, Smole
deixa a desejar, devido à linguagem demasiado abstrata, que a principio não é
explicada no livro.

Há um tópico dentro do capítulo, intitulado “flash matemático” (p.79), no qual


é explorada a simetria, exemplificada através de construções arquitetônicas e
animais como a borboleta. A simetria da borboleta é mostrada através de
ilustrações e, posteriormente, projetada para o plano cartesiano, aglutinada às
coordenadas dos pontos.

Em um dos exercícios resolvidos, há tabelas que representam funções, no


qual a autora descreve o domínio e o conjunto imagem. Na resolução, é utilizada a
língua natural para depois ser introduzida a formalização matemática, isto é, a lei
da função (p.87). Sobre os problemas propostos, há equilíbrio entre o uso de
tabelas e a linguagem simbólica. Contudo, há um exercício que relaciona o
conceito físico de velocidade com o tempo, no qual a autora pergunta se a relação
entre essas grandezas é ou não uma função (p.89).

Há no fim do capítulo algo a ser destacado, “O elo matemático – Ecologia”,


tópico que mostra um gráfico sobre a população em função das gerações de
espécies, e explica o comportamento semelhante de curvas diferentes (p. 103),
onde, mais uma vez, podemos observar a articulação do conteúdo a outras áreas
do conhecimento explorado como uma leitura complementar.

No geral, o livro não trata o conteúdo com uma linguagem demasiado


simbólica, prossegue com registro na língua natural com algumas definições e
representações matemáticas, construídas em cima de exemplos.

b) Formação de conceitos, habilidades e atitudes

Há no fim no capítulo um tópico intitulado “invente você” (p. 97), o qual


estimula a formulação de problemas pelo aluno. Há uma questão com um gráfico
sobre índice de analfabetismo, para o qual a autora pede ao aluno que elabore
questões sobre ele. Este exercício desempenha um papel importante no que diz
respeito à leitura e interpretação de gráficos. Em outra questão, o aluno deve
inventar uma regra para uma função qualquer e construir uma tabela, e depois
trocar informações com colegas de classe.

Esse enfoque em questões abertas propicia o aluno a utilizar diferentes


estratégias de resolução e a estabelecer relações sobre muitos conhecimentos que
aparentemente são desconexos, incentivando-o a investigar o comportamento de
determinados fenômenos que descrevem funções.

Há também um tópico dedicado ao uso da calculadora (p. 99) com


finalidades pedagógicas que, de certa forma, favorecem o desenvolvimento do
aluno sobre o conteúdo abordado, pois a partir de simples cálculos, este passa a
dar significados aos fatos matemáticos, como por exemplo, à definição de intervalo.

c) Construção da cidadania

O livro não dedica tópicos no que abrange a cidadania neste capítulo.


Todavia, alguns exemplos como a taxa de desemprego, imposto de renda,
produção agrícola, entre outros, abordam a realidade social.

d) Estrutura Editorial

No que tange à parte textual, podemos afirmar que a linguagem é adequada


ao aluno a que se destina o livro, pois são textos que apresentam diversidade de
temas, com algumas ilustrações que enriquecem a interpretação.
Livro 2 – Dante (2005)

DANTE, Luiz Roberto, Matemática, volume único. 1. Ed. São Paulo: Ática, 2005.

a) Aspectos teórico-metodológicos

Depois de um capítulo dedicado ao estudo de conjuntos números, o autor


explora intuitivamente a noção de função, em que afirma que o conceito está
presente sempre que relacionamos duas grandezas variáveis. Podemos observar o
uso de tabelas, entretanto, o conceito de função não fica totalmente claro. Logo em
seguida, são mostrados exemplos relacionados a grandezas do tipo números de
litros e preço apagar, onde o autor também não tem uma articulação entre o
conhecimento novo e o já abordado.

Neste livro, o estudo das coordenadas cartesianas aparece no decorrer do


capítulo, o que geralmente não acontece nos demais livros. Neste tópico, o
conteúdo matemático é totalmente imposto, sem um exemplo de introdução,
somente ao final do tópico, é que o autor faz um breve comentário sobre
localização no globo terrestre (p.41).

Os exemplos são contextualizados de acordo com o cotidiano do aluno e


relacionados às outras disciplinas. Entretanto, os exercícios são diretos, nos quais
o aluno precisa das formalizações matemáticas para resolvê-los. Essa contradição
é explicada pelo fato de que o livro é volume único, logo o autor se utilizou de
exemplos contextualizados para que o aluno compreenda o assunto, e já nos
exercícios, ele subentende que este aluno já tenha passado da fase do primeiro
contato com o assunto e que já está na fase da aplicação ou fixação deste.

A construção de gráficos e interpretação destes é pouco explorada.


Somente ao final do capítulo, é inserido um pequeno resumo em que o autor faz
breves análises sobre as funções que representam esses gráficos. Esse enfoque é
diferenciado, visto que o autor aborda o gráfico a partir do conteúdo de função já
apresentado, faz a análise a variação entre duas grandezas dependentes, onde
induz o aluno a buscar o conceito dado (p.38). Esse método de abordagem,
entretanto, pode não ser muito viável quando um conceito novo é apresentado ao
aluno, pois este precisa primeiro perceber o assunto em seu dia-a-dia, para
posteriormente estudar as formalizações matemáticas.
b) Formação de conceitos, habilidades e atitudes

Depois do enfoque diferenciado, é acrescentado ao final do capítulo um


desafio em dupla sobre a equação de uma circunferência, para que o aluno
coloque em prática o que aprendeu durante o estudo do capítulo e troque
informações com outros colegas, propiciando a compreensão dos conceitos e
procedimentos matemáticos.

Há no decorrer dos capítulos pequenos tópicos “para refletir”, nos quais o


aluno é incentivado a buscar novas interpretações sobre o conteúdo. Em outros
capítulos desse livro é possível encontrar alguns trechos históricos, que
classificamos nesta análise como curiosidades matemáticas. Todavia, no capitulo
referente ao estudo de funções não encontramos nenhum texto sobre esses fatos
matemáticos.

c) Construção da cidadania

Não há nesse livro, nenhum tópico dedicado á cidadania, apenas alguns


exemplos que refletem a realidade social.

d) Estrutura editorial

No geral, percebemos a ausência de erro conceitual e um equilíbrio entre os


conceitos, procedimentos e algoritmos.

Livro 3 – Paiva (2002)

PAIVA, Manoel Rodrigues. Matemática: Conceitos, Linguagem e aplicações. 1.Ed.


São Paulo: Moderna, 2002.

a) Aspectos teórico-metodológicos

Paiva introduz o assunto com um texto breve, com o tema sobre a


linguagem das funções, cujo objetivo é facilitar a compreensão do aluno, não
considerando nessa análise o uso da história da Matemática como tendência.
Antes de apresentar o conteúdo de funções, é apresentado o sistema cartesiano de
forma detalhada, em que o autor explica o eixo real até chegar às coordenadas de
um ponto.
Logo após, são apresentados exercícios resolvidos e uma leitura
complementar intitulada “ciência, informação e tecnologia” (p.124), que foca o uso
do sistema de coordenadas no dia-a-dia. Essa leitura relaciona o conteúdo
matemático e o conteúdo de geografia, pois trata de localização a partir da
superfície terrestre, resgatando conceitos de latitude e longitude. Em seguida, são
apresentados exercícios de fácil entendimento, baseados na abordagem feita em
cima do conteúdo e a leitura complementar.

Quando o conceito de função é iniciado, o autor trata da relação entre as


grandezas informalmente, a partir de um exemplo sobre a velocidade de um
automóvel, e para tanto, constrói uma tabela e associa cada valor do tempo a um
único valor da distância, introduzindo assim, a noção de função. Posteriormente,
formaliza o conceito de função a partir do produto cartesiano e da relação entre
dois conjuntos.

Podemos observar uma apresentação clara do conteúdo e uma articulação


entre o conhecimento novo e o já abordado no momento em que, antes de
conceituar função, ele explora o sistema cartesiano seguido de exemplos e
atividades.

O incomum no livro de Paiva é que, ao fazer a abordagem descrita acima,


reserva o capítulo seguinte para explorar as generalidades sobre funções, como o
estudo do sinal, análise gráfica e raízes da função. Para tanto, explora a
determinação do domínio e da imagem de uma função. As particularidades desses
tópicos são tratadas em outros capítulos, quando o autor descreve cada tipo de
função.

b) Formação de conceitos, habilidades e atitudes

Paiva se utiliza de leituras complementares para fixação de conceitos.


Paralelamente, há uma ênfase em exemplos e exercícios, nos quais a
contextualização e a interdisciplinaridade estão muito presentes, com o intuito de
fornecer subsídios para o aluno argumentar e estabelecer relações entre assuntos
diversos.
c) Construção da cidadania

O livro não contém em nenhum de seus capítulos questões ou exemplos que


incluam o assunto de cidadania, apesar de estar bem contextualizado não mostra
nenhuma imagem de afrodescendentes, de etnias indígenas e nem trata da
temática da violência.

d) Estrutura editorial

Não observamos nenhum erro conceitual no discernimento do assunto e no


que diz respeito ao entendimento, a linguagem está acessível ao público a que se
destina.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o PCN do Ensino Médio (BRASIL, 2006) – Parâmetros


Curriculares Nacionais –, a introdução do estudo de funções deve explorar relações
entre duas grandezas. Os três livros analisados preenchem esse requisito, contudo
Paiva e Dante não fazem articulações entre um mesmo significado de um conceito.
Todos os autores apresentam o conteúdo matemático de função a partir de noções
de funções por meio de conjuntos seguido de exercício e atividade. Há nos livros
também, a abordagem do conteúdo matemático através da contextualização e da
relação entre disciplinas.

Os PCN (BRASIL, 2006) sugerem que tradicionalmente o estudo dos


números reais e de conjuntos e suas relações, são pré-requisitos para o ensino de
funções. Entretanto, assim que a definição de função é estabelecida, todo este
percurso é abandonado, pois para análise dos diferentes tipos de funções, todo
estudo relativo a conjuntos e relações e desnecessário. Assim o ensino pode ser
iniciado diretamente com a noção de função para descrever situações de
dependência entre duas grandezas, o que permite o estudo a partir de situações
contextualizadas, descritas algébrica e graficamente.

Nesta perspectiva, podemos afirmar que o livro de Smole é o mais indicado,


pois se enquadra melhor nessas normas. Dante também preenchem essas
lacunas, porém de forma mais sucinta. Já o livro de Paiva, começa por um pouco
de história da matemática e fala de outros temas para poder formalizar o conceito
de função, mas todos seguem uma ordem similar no que diz respeito ao
discernimento do conteúdo matemático, diferindo apenas a metodologia.

É importante destacar que problemas com várias soluções ou até mesmo


nenhuma solução aparecem nesses livros, o que estimula a formulação de
diferentes compreensões do conteúdo, além de leituras complementares e
atividades que desenvolvem o cálculo mental.

Por fim, os livros analisados proporcionam aos seus alunos, de um modo


geral, o desenvolvimento de competências como a observação, a exploração de
conteúdos, a investigação e argumentação de atividades, facilitando a tomada de
decisões. Esse registro de ideias também proporciona a avaliação da metodologia
em questão, com o objetivo de verificar se os livros didáticos são escolhidos de
acordo com a concepção do aluno.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Guia de livros didáticos: PNLD 2012: Matemática / Brasília : Ministério da


Educação, Secretaria de Educação Básica, 2011. 104 p.

BRASIL. Ciências da natureza, Matemática e suas tecnologias / Secretaria de


Educação Básica. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, 2006. 135 p.

COSTA, Rosana Aparecida Pires da. O estudo de funções no ensino médio:


Uma abordagem metamatemática. In: Revista Logos, p. 98-99, n.14, 2006.

SILVA JR, Clóvis Gomes da. O livro didático de Matemática e o tempo. Revista
de Iniciação Científica da FFC, v. 7, n. 1, p. 13-21, 2007.

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