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Cartografia
A superfície terrestre é totalmente irregular, não existindo, até o momento, definições matemáticas
capazes de representá-la sem deformá-la. A forma da Terra se assemelha mais a um elipsóide, o raio
equatorial é aproximadamente 23 km maior do que o polar, devido ao movimento de rotação em torno do
seu eixo (Figura 1). O modelo que mais se aproxima da sua forma real, e que pode ser determinado através
de medidas gravimétricas, é o geiodal. Neste modelo, a superfície terrestre é definida por uma superfície
fictícia determinada pelo prolongamento do nível médio dos mares estendendo-se em direção aos
continentes. Esta superfície pode estar acima ou abaixo da superfície topográfica, definida pela massa
terrestre (Figura 2).
Para representar a superfície terrestre em um plano, é necessário que se adote uma superfície de
referência, que corresponda a uma figura matematicamente definida. O elipsóide de revolução, gerado por
uma eclipse rotacionada em torno de eixo menor, é a figura geométrica que mais se aproxima da forma real
da Terra. Para representações em escalas muito pequenas – menores do que 1:5.000.000, a diferença entre
o raio equatorial e o raio polar apresenta um valor insignificante, o que permite representar a forma a
Terra, em algumas aplicações, como uma esfera. Este modelo é bastante simplificado e o mais distante da
realidade, pois os elementos da superfície terrestre apresentam-se bastante deformados em relação às suas
correspondentes feições reais e à posição relativa. O globo terrestre é uma representação deste tipo (Figura
3).
Para a confecção de um mapa, é necessário, assim, estabelecer a superfície de referência que a será
utilizada para a representar a superfície terrestre no modelo matemático. Sobre esta superfície, são
necessárias as seguintes informações: as dimensões do elipsóide de referência melhor adaptado à região a ser
mapeada (raio do equador e raio polar), a sua orientação no espaço e a origem do sistema de coordenadas
geodésicas referenciadas a esta superfície. Com este conjunto de informações é estabelecido o datum
horizontal.
O elipsóide de melhor ajuste varia de acordo a localização da área a ser mapeada, por isto que cada
região tende a adotar um datum específico. No Brasil, até o final da década de 1970, utilizava-se o elipsóide
Internacional de Hayford e, Córrego Alegre-MG, como a origem das coordenadas. A partir de 1977, passou-se
a adotar o SAD-69 (Datum Sul-Americano), que apresenta o vértice Chuá-MG como a origem das
coordenadas, e como elipsóide de referência o recomendado pela União Astronômica Internacional,
homologado em 1967 pela Associação Internacional de Geodésia. Com o advento do GPS, tem sido comum o
emprego do datum planimétrico global WGS-84, cujo elipsóide é adotado para o mapeamento global (Tabela
1).
Tabela 1: Data planimétricos utilizados no Brasil.
Dicas SIG
Na preparação de uma base cartográfica para uso em um SIG, é comum encontrar documentos
cartográficos e imagens de sensoriamento remoto referenciados a diferentes data.
Apesar da origem das coordenadas dos sistemas Córrego Alegre e SAD-69 serem próximos, a
utilização de bases referenciadas a estes dois data em um mesmo projeto pode inferir erros da
ordem de 10 a 80 m (RIPSA, 2000). Dependendo da escala e do objetivo do trabalho, este erro não
deve ser ignorado.
Assim, caso a base de dados apresente data distintos, é necessário fazer a conversão para um
datum comum, utilizando o próprio SIG ou um outro sistema computacional que apresente esta
rotina.
O mesmo cuidado deve ser adotado ao se levantar dados com GPS. É necessário que o datum seja
devidamente configurado para o sistema de interesse do mapeamento.
Exercícios
O sistema de coordenadas geográficas considera que qualquer ponto da superfície terrestre apresenta a
mesma distância do centro da esfera. Para o posicionamento de um ponto, é necessário conhecer dois
ângulos diedros, pois o raio do vetor é constante e conhecido. O par de coordenadas neste posicionamento é
definido por uma rede geográfica formada por meridianos e paralelos (Figura 4). Um ponto na superfície
terrestre pode ser localizado, assim, pela interseção de um meridiano e um paralelo.
Os meridianos são semi-círculos gerados a partir da interseção de planos verticais que contém o eixo de
rotação terrestre com a superfície da Terra. Um semi-círculo define um meridiano que com seu
antimeridiano formam um círculo máximo (Figura 5). O meridiano de origem (0º), denominado como
Greenwich, com o seu antimeridiano (180º), divide a Terra em dois hemisférios: leste ou oriental e oeste ou
ocidental. A leste deste meridiano, os valores da coordenadas são crescentes, variando entre 0º e +180°. A
oeste, as medidas são decrescentes, variando entre 0º e -180º.
Os meridianos são referência para medição da distância angular entre um ponto qualquer e o meridiano
de Greenwich. Este ângulo, denominado longitude, corresponde, assim, ao arco da circunferência, em graus,
medido do meridiano de origem ao meridiano onde se localiza um determinado ponto sobre o Equador ou
outro paralelo (Figura 6).
Figura 6: Longitude.
Fonte: http://www.dpi.inpe.br/spring/usuario/cartogrf.htm#projecoes
Fonte: http://www.dpi.inpe.br/spring/usuario/cartogrf.htm#projecoes
Os paralelos são referências para medição da distância angular entre um ponto, localizado sobre um
paralelo, e a linha do Equador. Esta ângulo, denominado latitude, corresponde, assim, ao arco da
circunferência, em graus, medido entre um ponto localizado em um paralelo qualquer e a linha do Equador o
plano do meridiano ou anti-meridiano (Figura 8).
Figura 8: Latitude.
Fonte: http://www.dpi.inpe.br/spring/usuario/cartogrf.htm#projecoes
O sistema de coordenadas cartesianas é composto por dois eixos perpendiculares: um eixo horizontal
correspondendo ao eixo das abscissas e denominado com x, e outro vertical correspondendo ao eixo das
ordenadas e denominado como y . A interseção dos eixos corresponde a origem do sistema (Figura 9). Um
ponto qualquer no sistema é definido pela interseção de duas retas perpendiculares entre si e paralelas aos
respectivos eixos, e expresso, assim, por dois valores, um correspondente à projeção sobre o eixo x, e outro
correspondente à projeção sobre o eixo y. O par das coordenadas de origem, normalmente, apresenta valor
(0,0), mas, por convenção, pode receber valores diferentes de zero.
Dicas SIG
Para que seja possível a correta sobreposição entre os planos de informação, o sistema de
coordenadas deve ser comum entre os planos, bem como as unidades das coordenadas que devem
ser mesmas. Caso contrário, é necessário se faça uma conversão para um sistema e uma unidade
comuns, utilizando o próprio SIG ou um outro sistema computacional que apresente esta rotina.
Exercícios
Escala é a relação matemática entre o comprimento ou a distância medida sobre um mapa e a sua
medida real na superfície terrestre. Esta razão é adimensional já que relaciona quantidades físicas idênticas
de mesma unidade. A escala pode ser representada numericamente e graficamente.
A documentação cartográfica com escalas de até 1/25.000 é denominada como plantas ou cartas
cadastrais. Entre 1/25.000 e 1/250.000, estes documentos são denominados como cartas topográficas (IBGE,
2005).
A escala gráfica é representada por um segmento de reta graduada em uma unidade de medida linear,
dividida em partes iguais indicativas da unidade utilizada. A primeira parte, denominada como talão ou
escala fracionária, é subdividida de modo a permitir uma avaliação mais detalhada das distâncias ou
dimensões no mapa (Figura 11).
Dicas SIG
Em um SIG, um plano de informação, desde que georreferenciado, pode ser exibido e manipulado em
qualquer escala, inclusive maiores do que o seu original. Porém, o usuário deve ficar atento, pois a
inexistência de limite técnico, não o habilita a manusear planos de informação em escalas muito
ampliadas em relação ao original e em diferentes escalas. Como o erro cartográfico é função direta
da escala do mapa, a ampliação da escala provoca igualmente a ampliação dos erros associados à
escala do mapa.
Desta forma, antes de iniciar a manipulação de mapa em formato digital, é fundamental que o usuário
tome conhecimento da escala do original e do método utilizado na elaboração do mapeamento. No
caso de um arquivo em formato raster, a resolução espacial é uma boa dica da escala adequada às
suas análises.
Exercícios
Uma ou duas destas propriedades podem estar contidas em um mapa, caso a Terra seja envolvida por
uma superfície desenvolvível, que funciona como uma superfície intermediária auxiliando na projeção dos
elementos da área a ser mapeada no plano. A seleção da superfície sobre a qual se projeta depende da
finalidade do mapa e da situação geográfica da área a ser mapeada. De acordo com a superfície
desenvolvível, as projeções podem ser classificadas em:
Projeção cilíndrica - a projeção dos meridianos e paralelos geográficos é feita num cilindro
tangente, ou secante, à superfície de referência, desenvolvendo, a seguir, o cilindro num plano.
(Figura 13).
Projeção plana ou azimutal – a projeção é construída com base num plano tangente ou secante
a um ponto na superfície de referência. (Figura 14).
Dicas SIG
Para que os planos de informação sejam corretamente sobrepostos em um SIG, é necessário que
eles apresentem a mesma projeção. Caso contrário, deve ser feita a conversão para uma projeção
comum, utilizando o próprio SIG ou um outro programa com esta rotina.
Os SIG denominam de Geográfica a projeção que utiliza como referência o sistema de coordenadas
geográficas. A superfície de referência é a esfera e a origem do sistema é o cruzamento entre a
linha do Equador e o meridiano de Greenwich. As coordenadas do hemisfério norte e do hemisfério
ocidental possuem valores positivos, enquanto as coordenadas do hemisfério sul e do hemisfério
oriental possuem valores negativos. (ESRI, 1999).
Exercícios
Cada fuso apresenta um único sistema plano de coordenadas, com valores que se repetem em todos os
fusos. Assim, para localizar um ponto definido pelo sistema UTM, é necessário conhecer, além dos valores
das coordenadas, o fuso ao qual as coordenadas pertençam, já que elas são idênticas de em todos os fusos.
Para evitar coordenadas negativas, são acrescidas constantes à origem do sistema de coordenadas,
conforme especificado abaixo (Figura 17):
10.000.000 m para a linha do Equador, referente ao eixo das ordenadas do hemisfério sul,
com valores decrescentes nesta direção;
0 m para a linha do Equador, referente ao eixo das ordenadas do hemisfério norte, com
valores crescentes nesta direção; e
500.000 m para o meridiano central, com valores crescentes do eixo das abscissas em direção
ao leste.
Como convenção atribui-se a letra N para coordenadas norte-sul (ordenadas) e, a letra E, para as
coordenadas leste-oeste (abscissas). Um par de coordenadas no sistema UTM é definido, assim, pelas
coordenadas (E, N).
Cada fuso, na linha do Equador, apresenta, aproximadamente, 670 km de extensão leste-oeste, já que
a circunferência da Terra é próxima a 40.000 km. Como o meridiano central possui valor de 500.000 m, o
limite leste e oeste de cada fuso corresponde, na linha do Equador, respectivamente, valores próximos a
160.000 m e 830.000 m (IBGE,2005).
As linhas de secância do cilindro estão situadas entre o meridiano central e o limite inferior e superior
de cada fuso, o que infere, assim, duas linhas onde a distorção é nula, ou seja, o fator escala igual a 1. Elas
estão situadas a cerca de 180 km a leste e a oeste do meridiano central, correspondendo, respectivamente,
a coordenada 320.000 m e 680.000 m. Entre os círculos de secância, fica estabelecida a zona de redução e,
externa a eles, a zona de ampliação. No meridiano central, o coeficiente de redução de escala corresponde a
0,9996, enquanto, nos limites do fuso, o coeficiente de ampliação é igual a 1,0010 (Figura. 18).
Devido à sua extensão longitudinal, o território brasileiro possui por oito fusos UTM: do fuso 18, situado
no extremo oeste, ao fuso 25, situado no extremo leste do território (Figura 19). Como quase toda a
extensão latidudinal do território está situada no hemisfério sul, as coordenadas situadas ao norte da linha
do Equador, que deveriam apresentar valores crescentes e seqüenciais a partir do 0, de acordo com a
convenção atribuída à origem do sistema de coordenadas, apresentam valores crescentes e seqüenciais a
partir de 10.000.000 m, dando continuidade às coordenadas atribuídas ao hemisfério sul.
Dicas SIG
Em um SIG, não é possível manipular conjuntamente planos de informação situados em fusos UTM
distintos, já que cada fuso apresenta um sistema de coordenadas único, com sua origem definida
pelo cruzamento do meridiano central do fuso e a linha do Equador. Para que seja possível a
manipulação, é necessário converter o sistema de coordenadas para um sistema único a todos os
planos de informação. A seguir estão descritos alguns procedimentos que podem ser adotados.
Converter a projeção dos planos de informação para uma projeção comum, passando-se a adotar o
sistema de coordenadas da respectiva projeção ou sistema de coordenadas geográficas.
Deslocar o meridiano central do fuso para que toda a área em estudo pertença a um único fuso.
Com este procedimento, não será possível sobrepor os planos de informação com o fuso deslocado a
outros planos de informação com fuso padrão.
Converter o fuso do plano de informação, com a menor área de interesse, para o fuso do plano, com
maior área de interesse. Como resultado, a área de estudo ficará inserida em um único fuso
estendido. Este procedimento é indicado quando a área do fuso estendido não ultrapassar 30’ ou, no
máximo, 1º grau, pois o coeficiente de ampliação cresce demasiadamente após transposição dos
limites leste e oeste do fuso, gerando distorções cartograficamente inadmissíveis. Neste caso,
recomenda-se utilizar um dos procedimentos anteriormente descritos.
Exercícios
BAKKER, M. P. R. Introdução ao estudo da Cartografia: noções básicas. Rio de Janeiro: D. H. N., 1965.
CRUZ, C.B.M; PINA, M.F. Fundamentos de Cartografia. CEGEOP Unidades didáticas 29 a 41. Volume 2. Rio de
Janeiro: LAGEOP /UFRJ, 2002.
RIPSA. Conceitos Básicos de Sistemas de Informação Geográfica e Cartografia aplicados à Saúde. Org:
Carvalho, M.S; Pina, M.F; Santos, S.M. Brasília: Organização Panamericana da Saúde, Ministério da Saúde,
2000.