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Cuidados no Verão

É verão, época de férias, viagens, momento de descansarmos um


pouco. Entretanto, existem alguns cuidados especiais que
devemos tomar nessa época com nossos instrumentos, para que
eles não se deteriorem nesse clima “perigoso”
Por: Edmar Luighi
Fotos: Tatyana Alves

Em virtude do calor, suamos mais intensamente e, com isso, constantemente


umedecemos ponte, parafusos, cordas, parte elétrica e a escala quando tocamos. Nosso
suor é abrasivo para o instrumento. É claro que essa abrasividade varia de pessoa para
pessoa, mas em qualquer dos casos, a tendência é o aparecimento de pontos de
ferrugem, mal contato na parte elétrica e um desgaste excessivo das cordas. O calor faz
também com que o braço do instrumento assuma uma posição mais côncava, ou seja,
ele empena, tornando a ação de cordas mais alta e “dura” - se não for corrigido logo, o
braço poderá “torcer” e, desta forma, tornar o conserto muito mais caro e difícil. Muito
comum também é a situação em que os músicos deixam instrumentos no carro, sob um
calor de 30º C, e quando percebem, eles empenaram, muitas vezes de forma irreversível.
Isso sem contar os músicos que nessa época do ano fazem shows no litoral, às vezes
próximo de praias, e que sofrem com o hardware de sua guitarra todo enferrujado.

Nessa edição, trago dicas do que fazer para que seu instrumento sobreviva ileso a esse
verão que promete ser muito quente. Primeiramente, procure seu luthier de confiança
para que ele verifique o estado em que se encontra seu instrumento - se ele precisa de
uma regulagem completa ou apenas um ajuste no tensor par adequar o braço do seu
instrumento à nova estação. Feito isso, é hora de se adaptar a novos hábitos para com
sua guitarra ou contrabaixo:

Se for ficar longe de seu instrumento por mais de 15 dias, tome algumas providências
antes de se ausentar. Substitua as cordas se estas apresentarem sinais de ferrugem,
para que não comprometa os demais componentes. Seque bem todas as partes de metal
do seu instrumento, usando uma flanela seca e limpa (foto 1), com exceção das cordas,
pois a flanela solta pêlos que prejudicam a vibração das mesmas. Posteriormente,
compre uma escova de dentes de cerdas macias, aplique algumas gotas de óleo
lubrificante (foto 2) comumente encontrados em supermercados e espalhe sobre a ponte
(foto 3) e locking nut (trava de cordas). Com o auxílio de um cotonete também embebido
em óleo, lubrifique todos os parafusos (foto 4) e as terminações superiores aparentes
dos imãs dos captadores (foto 5).
As tarraxas também devem ser lubrificadas usando-se uma flanela levemente embebida
no óleo (foto 6). Aguarde alguns minutos e depois, com a flanela, seque o excesso. Após
esses cuidados, evite tocar no seu instrumento para que seu suor não se infiltre nele e,
na sua ausência, comece a corroer as partes de metal.

Caso você vá aproveitar esse período para estudar melhor ou fazer shows, siga todos os
passos citados anteriormente. Porém, a cada vez que parar de tocar, seque as cordas e
todas as partes de metal. Para secar as cordas, sugiro um pano de limpeza do tipo Perfex
(foto 7), encontrado facilmente em supermercados.
Quanto à conservação das cordas, volto a dizer que a durabilidade das mesmas (vide CG
68) depende também do organismo do músico. A quantidade de ácido úrico contida no
suor, por exemplo, determinará quanto tempo a corda vai durar, assim como em que
velocidade será o desgaste das partes de metal do instrumento. Desconheço qualquer
líquido milagroso que possa evitar esse processo de deterioração. Os produtos
disponíveis no mercado apenas ajudam a conservação das cordas, uma vez usado
enquanto o encordoamento for novo. Isso porque quando iniciado o processo de
corrosão, fica impossível eliminá-lo. O uso de limpadores corrosivos - do tipo Kaol -
podem até deter e retirar a ferrugem, mas comprometem a afinação e a sonoridade das
cordas. A limpeza e a secagem preventiva são a melhor alternativa para a conservação
das mesmas. Nessa época de calor, se o uso do instrumento for freqüente, a lubrificação
que citei acima se faz necessária a cada duas semanas, principalmente para aqueles
músicos que transpiram em demasia e que possuam quantidade excessiva de
substâncias abrasivas no organismo.

Para músicos que irão tocar no litoral ou moram em cidades litorâneas, os


procedimentos anteriores devem ser seguidos à risca, pois além da umidade do ar ser
maior, a maresia também é um dos grandes agentes causadores da corrosão. Entretanto,
alguns músicos constatam outro tipo de problema nessas regiões: mal contato na parte
elétrica - potenciômetros “raspando”, chave e jack falhando. Existem casos comuns de
músicos passarem temporadas tocando nessas cidades litorâneas e a chave de
comutação de captadores enferrujar por completo, sendo a única solução a substituição
da mesma.

Existem algumas dicas de como minimizar esse processo de deterioração. Porém, sugiro
que após a volta para sua cidade, você procure um luthier de confiança para uma limpeza
mais minuciosa, seguida de um tratamento lubrificante. Isso vale também para quem
reside nessas cidades litorâneas: procurem periodicamente seu luthier. Um truque
bastante usado por músicos mais experientes é prender saquinhos de sílica gel no
compartimento da parte elétrica (foto 8), a fim de que ele absorva parte da umidade e
evite danos maiores. Esse saquinho deve ser colocado de forma a não pressionar
nenhum terminal da chave ou dos potenciômetros. A sílica gel pode ser encontrada em
algumas lojas de instrumentos musicais.
Caso já ocorra o mal contato e você esteja muito longe do seu luthier, proceda com os
passos de primeiros socorros a seguir e procure o profissional dessa área o mais rápido
possível, para uma limpeza mais efetiva.

• Compre uma seringa de vidro com uma agulha e álcool isopropílico ou benzina
(encontrados em farmácias). Ambos são produtos químicos voláteis, ou seja, evaporam
com facilidade. Por essa razão, são ótimos limpadores de parte elétrica, pois não deixam
resíduos de umidade.

• Injete um pouco do produto na parte superior da chave de comutação (foto 9) caso note
algum mal contato nessa região. Em seguida, movimente-a em todas as posições
algumas vezes. Faça o mesmo com os potenciômetros, só que na sua parte superior
(foto 10) e inferior (foto 11), também movimentando-os em seguida. No jack, faça os
mesmos procedimentos, só que embeba um pouco do líquido num cotonete e limpe a
extremidade do mesmo (foto 12). Com esses procedimentos, você eliminará
provisoriamente ou quase que por completo os ruídos e mal contatos de componentes
elétricos do seu instrumento. Todos esses problemas acontecem normalmente em
qualquer época do ano, embora mais freqüentemente no verão.

Outro problema comum agora no verão é o músico levar o instrumento para um luthier
ajustar o tensor para uma temperatura alta – tipo 35°C – e, em seguida, ensaiar ou gravar
em estúdio com o aparelho de ar condicionado ligado, com temperatura ambiente em
torno de 22°C. Isso já é o suficiente para o instrumento começar a trastejar nas primeiras
casas. Isso se dá pela discrepância de temperaturas. Por isso, é importante avisar seu
luthier na hora da regulagem, para que ele encontre um meio termo para essas variações
as quais você irá expor seu instrumento.
Se você seguir essas dicas, com certeza manterá seu instrumento em um bom estado de
conservação por muito mais tempo.

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