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Aspectos Fundamentais do Método dos Elementos Finitos

1 Introdução
O Método dos Elementos Finitos, doravante abreviado como MEF, tem suas origens nos anos
40, tendo sido entretanto vastamente utilizado apenas nos últimos 20-30 anos, graças aos
avanços tecnológicos ocorridos nos equipamentos computacionais. Ele consiste basicamente
numa adaptação/modificação de métodos de aproximação conhecidos já no início deste
século, como por exemplo o Método de Ritz, estabelecido em 1909. Ele é atualmente
considerado um método matemático para a solução de equações diferenciais parciais, entre
as quais se inclui a Equação de Poisson, Equação de Laplace, Equação de Helmholtz, Navier-
Stokes, etc... Devido às suas características de flexibilidade e estabilidade numérica, ele
pode ser implementado na forma de um sistema computacional (programa de computador) de
forma consistente e sistemática, fato que explica a sua grande popularidade nos dias atuais.
Um grande impulso para o seu desenvolvimento e aperfeiçoamento foi dado pela indústria
aeroespacial, onde o método vem tendo larga aplicação desde os anos 50, sendo utilizado,
entre outros, para o projeto e análise de estruturas complexas de aeronaves, as quais
certamente não poderiam ser analisadas e projetadas de forma segura usando-se apenas
técnicas tradicionais analíticas. Entre as muitas áreas em que o MEF pode ser aplicado cita-
se: projeto e análise de estruturas, análise de escoamento de fluidos, distribuição de
temperaturas, eletromagnetismo, projeto de equipamentos eletromecânicos (máquinas,
transformadores, contatores, etc...). Em muitos casos práticos, o Método dos Elementos
Finitos é a única ferramenta capaz de fornecer uma solução aceitável, ainda que sob o ponto
de vista matemático a solução seja considerada como uma aproximação. Finalmente, devido à
utilidade e interesse para diversas áreas técnicas, o MEF foi objeto de um número
incalculável de artigos e livros publicados nos últimos 20 anos, sendo também incluído como
disciplina obrigatória nos currículos da grande maioria das universidades européias e
americanas, fato que também já ocorre em muitas universidades brasileiras. À medida que
técnicas computacionais e numéricas desempenham um papel cada vez mais relevante na vida
do engenheiro, torna-se fundamental o conhecimento dos fundamentos do MEF e da sua
aplicação prática, especialmente para aqueles que trabalham em áreas de projeto e análise.
O objetivo desta apostila é apresentar de forma introdutória os aspectos mais relevantes do
método, utilizando para tanto uma abordagem em apenas uma dimensão. A abordagem envolve
conceitos elementares da teoria de funções, álgebra e cálculo, os quais são abordados nas
disciplinas básicas dos cursos de engenharia. Também são apresentados exemplos simples e
ilustrativos dos conceitos. Ao final de cada seção são propostos exercícios que poderão (na
verdade, deveriam) ser resolvidos com ajuda de softwares comerciais tais como Matlab,
Mathcad, etc... A resolução dos exercícios propostos facilitará não apenas a assimilação dos
conteúdos apresentados mas também a aplicação do métodos a outros casos práticos
semelhantes.
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2 Problema de Valor de Contorno com Dois Pontos


A fim de ilustrar a idéia básica do método dos elementos finitos, será inicialmente
considerado um caso bastante simples de um problema de valor de contorno em uma
dimensão, denominado de problema de valor de contorno com dois pontos. O problema
consiste em encontrar a solução da equação diferencial que segue:
d  du 
− p ⋅  + q ⋅ u = f(x ) 0<x<1 (1)
dx  dx 

u(0 ) = 0 u(1) = 0 (2)

Problemas de valor de contorno são caracterizados pelo fato de que as condições de contorno
são fixadas nos extremos do intervalo considerado. Por outro lado, problemas em que ambas
as condições de contorno se referem ao mesmo ponto são chamados de problemas de valor
inicial. Problemas de valor de contorno são descritos em geral por equações diferenciais
parciais, problemas de valor inicial, por outro lado, são descritos por equações diferenciais
ordinárias.
Na equação (1) p e q são constantes positivas e f(x) é uma função dada e conhecida. As
condições de contorno (2) são típicas condições de contorno homogêneas; elas são chamadas
de condições de contorno de Dirichlet homogêneas. Existem ainda outros tipos de condições
de contorno que podem igualmente ser tratadas pelos métodos apresentados nesta apostila.
A escolha da condição de Dirichlet homogênea visa aqui meramente simplificar a análise.
Uma vez que a equação (1) é do tipo linear com coeficientes constantes e não homogênea
(lado direito diferente de zero), pode-se facilmente encontrar uma solução analítica para a
mesma. Todavia, será considerada inicialmente uma solução utilizando Séries de Fourier
contendo n termos, a fim de ilustrar a idéia básica do MEF. A solução proposta terá portanto
a forma seguinte:
n
un (x ) = ∑ aj ⋅ sen(j ⋅ π ⋅ x ) (3)
j =1

Os termos em coseno da Série de Fourier foram descartados a priori, a fim de que a solução
atenda às condições de contorno (2). Para a obtenção dos coeficientes aj procede-se de
forma usual, ou seja, substitui-se a solução (3) na equação (1), multiplica-se ambos os lados da
equação por sen(k ⋅ π ⋅ x ) e integra-se entre 0 e 1. Desta forma obtém-se:
n 1 n 1
∑ a j ⋅ p ⋅(j ⋅ π )2 ⋅ sen(k ⋅ π ⋅ x ) ⋅ sen(j ⋅ π ⋅ x ) ⋅ dx +
∫ ∑ a j ⋅ q ⋅ sen(k ⋅ π ⋅ x ) ⋅ sen(j ⋅ π ⋅ x ) ⋅ dx =

j =1 0 j =1 0
1

∫ f(x ) ⋅ sen(k ⋅ π ⋅ x ) ⋅ dx
0 (4)

Por outro lado, considerando-se a igualdade:

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1
2 ⇔ k=j
1 
∫ sen(k ⋅ π ⋅ x ) ⋅ sen(j ⋅ π ⋅ x ) ⋅ dx =  (5)
0 
0 ⇔ k≠j


Obtém-se a seguinte expressão para os coeficiente aj :


1
2
⋅ f(x ) ⋅ sen(j ⋅ π ⋅ x ) ⋅ dx
(j ⋅ π)2 ⋅ p + q 0∫
aj = (6)

Substituindo-se a equação (6) na equação (3) obtém-se a solução aproximada da equação (1).

Exercício Proposto 1
Utilizando a equação (6), determine os coeficientes a j para a solução por série de
Fourier da equação (1) sujeita às condições de contorno (2). Considere p=1, q=0 e
f(x)=2. Determine a solução analítica da equação (1) e compare com a solução por
série de Fourier para os seguintes pontos: x=0, x=0.25, x=0.5, x=0.75 e x=1. Faça um
gráfico de ambas as soluções.

Exercício Proposto 2
Utilizando a equação (6), determine os coeficientes a j para a solução por série de
Fourier da equação (1) sujeita às condições de contorno (2). Considere p=1, q=1 e
f(x)=2. Determine a solução analítica da equação (1) e compare com a solução por
série de Fourier para os seguintes pontos: x=0, x=0.25, x=0.5, x=0.75 e x=1. Faça um
gráfico de ambas as soluções.

3 Solução Utilizando a Série Generalizada de Fourier


O procedimento que acaba de ser delineado utilizando séries de Fourier pode ser
generalizado da forma que segue para funções genéricas, as quais podem diferir de seno e
coseno. Inicialmente escolhe-se um conjunto de funções linearmente independentes, ou seja
nenhuma delas pode ser expressa como uma combinação linear das demais. Estas funções são
chamadas de funções de base e escritas como:
ϕ j (x ) j = 1, 2, 3, K n (7)

Pode-se demonstrar que as funções de base formam um espaço linear (vetorial), o qual pode
ser estendido para um espaço de Hilbert (Banach) acrescentando-se a definição de um
produto escalar (norma) ao espaço de funções.
Para obter-se a solução, constrói-se uma solução aproximada para a equação (1) em termos de
uma combinação linear das funções de base escolhidas, conforme segue:
n
un (x ) = ∑ a j ⋅ ϕ j ( x) (8)
j =1

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A fim de que as condições de contorno (2) sejam atendidas, as funções de base devem
satisfazer às seguintes condições:
ϕ j (0 ) = 0 ϕ j (1) = 0 j = 1, 2, 3, K n (9)

As condições acima são restrições que são impostas às funções que compõem o espaço. Estas
restrições visam assegurar as condições de contorno são atendidas pela solução aproximada,
ou seja, a seguinte relação será válida:
un (0 ) = 0 un (1) = 0 (10)

Repetindo-se o procedimento anteriormente aplicado, os coeficientes aj serão obtidos


substituindo-se (8) em (1), multiplicando-se ambos os lados de (1) por ϕk (x ) e integrando-se
entre 0 e 1. Desta forma resulta:
n 1 d 2 ϕ j (x ) n 1 1
− ∑ a j ⋅ p ⋅ ∫ ϕk (x ) ⋅ dx 2
⋅ dx + ∑ aj ⋅ q ⋅ ∫ ϕk (x ) ⋅ ϕ j (x ) ⋅ dx = ∫ f(x ) ⋅ ϕk (x) ⋅ dx (11)
j =1 0 j =1 0 0

Integrando-se o primeiro termo de (11) por partes e considerando-se as condições de


contorno, obtém-se:
n  1 dϕ dϕ j 1  1
∑ a j ⋅ p ⋅ ∫
k
⋅ ∫ ∫
⋅ dx + q ⋅ ϕk ⋅ ϕ j ⋅ dx  = f(x ) ⋅ ϕk (x ) ⋅ dx k = 1, 2, 3 K n (12)
j =1  0 dx dx 0  0

Observando-se o caso anterior da Série de Fourier, verifica-se que as condições de


ortogonalidade, dadas pela equação (5), fizeram com que na apenas os termos para os quais
j=k obtivessem um valor diferente de zero para as integrais de 0 a 1. Uma vez que, a mesma
condição de ortogonalidade vale também para as derivadas da solução (3), foi possível
encontrar uma expressão analítica para os coeficientes a j , chegando-se desta forma à
equação (6). Entretanto, para funções genéricas como as funções ϕk (x ) , não existem
condições de ortogonalidade que possam ser estabelecidas a priori. Mesmo que condições de
ortogonalidade eventualmente existam para as funções ϕk (x ) , elas em geral não estão
asseguradas paras suas derivadas. Assim, mesmo que eventualmente se consiga obter funções
ortogonais, elas não trarão uma simplificação significativa ao problema.
Conforme será detalhado mais tarde, a expressão (12) define um sistema linear de equações
com n equações e n incógnitas. Ele é determinado avaliando-se as integrais para cada uma das
funções de base ϕk (x ) . Ou seja, as n equações são obtidas fazendo-se k e j variarem entre 1
e n. A solução do sistema linear existirá sempre que a matriz de coeficientes for do tipo não-
singular (determinante diferente de zero). Excetuando-se problemas atípicos, o sistema de
equações obtidos sempre possui solução única.
O método exposto para a obtenção da solução aproximada a partir de uma extensão do
método das Séries de Fourier é conhecido como Método de Galerkin. Este método
desempenha um papel primordial na Teoria de Aproximação de Funções e constitui a base da
formulação do método dos elementos finitos, o qual nada mais é do que uma modificação do

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Método de Galerkin. Funções de base que são tipicamente utilizadas são polinômios de
primeira ordem e ordem mais elevada.

Exercício Proposto 3
Determine a solução por série Fourier generalizada da equação (1) sujeita às
condições de contorno (2). Considere p=1, q=1 e f(x)=-x, n=1 e a seguinte função de
base:
ϕ1 (x ) = x ⋅ (1 − x)

A solução terá, portanto a forma:


un (x ) = a1 ⋅ x ⋅ (1 − x)

Determine a solução analítica e compare com a solução por série de Fourier


generalizada para os seguintes pontos: x=0, x=0.25, x=0.5, x=0.75 e x=1. Faça um
gráfico de ambas as soluções.

Exercício Proposto 4
Determine a solução por série de Fourier generalizada da equação (1) sujeita às
condições de contorno (2). Considere p=1, q=1 e f(x)=2, n=2 e as seguinte função de
base:
ϕ1 (x ) = x ⋅ (1 − x)

ϕ2 (x ) = x 2 ⋅ (1 − x)

A solução terá, portanto a forma:


un (x ) = a1 ⋅ x ⋅ (1 − x) + a2 ⋅ x 2 ⋅ (1 − x)

Determine a solução analítica e compare com a solução por série de Fourier


generalizada para os seguintes pontos: x=0, x=0.25, x=0.5, x=0.75 e x=1. Faça um
gráfico de ambas as soluções.

4 Funções de Base definidas Apenas em Trechos


As funções de base abordadas até este ponto são em princípio funções que são definidas e
possuem valores diferentes de zero em todo o domínio (entre 0 e 1 no exemplo anterior). A
formulação empregada anteriormente é conhecida também como Método Clássico de
Galerkin. Conforme se verifica pelos exemplos apresentados, a formulação clássica não
fornece um método sistemático para definição das funções de base, existindo para cada caso
uma infinidade de funções possíveis. Levando-se em conta que a precisão e qualidade dos
resultados depende fortemente da escolha das funções de base, isto se constitui uma séria
desvantagem. A situação é ainda mais complicada quando se considera domínios em 2 e 3
dimensões com geometrias complexas. Uma escolha inadequada das funções de base pode
levar a um sistema de equações mal-condicionado e de difícil solução ou até mesmo impossível
de resolver numericamente. Por estes motivos, os Método de Galerkin Clássico possui uso
restrito na solução de casos práticos. O MEF pode ser considerado uma modificação do
Método Clássico de Galerkin onde as funções de base são definidas de forma sistemática e

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levando a sistemas de equações numericamente


0 1
estáveis e fáceis de resolver, evitando desta h h h h h h
(a)
forma as dificuldades mencionadas. x0 x1 x2 x3 x4 x5 x6

No MEF são utilizadas funções de base que só


tem valores diferente de zero em uma pequena
parte do domínio. Conforme será visto, a escolha ϕj(x)
1.0
deste tipo de funções simplifica
h h
consideravelmente a obtenção da solução (b)
xj-1 x j xj+1
aproximada do problema. Devido à sua forma 0 1
particular, elas são também conhecidas como
funções piramidais. O uso deste tipo particular
de funções constitui-se, desta forma, numa das dϕj (x)
1.0
características principais do MEF, sendo que a dx h
sua eficácia está ligada à esta forma particular (c) h h
x j-1 xj x j+1
das funções de base. Exemplos de funções de 0 1
base piramidais em uma dimensão são mostrados
nas figuras 1 e 2.
A fim de definir conjunto de funções piramidais,
como as mostradas na figura 1b, é necessário u n (x)
primeiramente dividir o intervalo [0,1] em um
conjunto de n subintervalos, os quais por
(d)
simplicidade serão todos do mesmo tamanho.
Este conjunto de intervalos será denominado 0 1
genericamente de malha. Considerando, portanto,
intervalos de igual tamanho resulta para a dun
dimensão de cada um dos intervalos a relação dx
(figura 1a):
1−0 1 (e)
h= = (13)
n n 1
0
Adotando-se a nomenclatura comum no MEF, os
subintervalos são denominados de elementos e os
pontos comuns de cada subintervalo são figura 1 - Subdivisão do domínio e
denominados de nós. Assim, cada elemento é funções de base: (a) subdivisão do
limitado pelos seguintes nós: domínio, (b) funções de base, (c) derivada
das funções de base e (d) forma da
xk = k ⋅ h k = 0, 1, 2, 3 K n (14)
função de aproximação.

De acordo com a figura 1b, as funções de base


serão definidas como segue:

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 0 0 ≤ x ≤ xk −1

 x − xk −1
 xk −1 ≤ x ≤ xk
 h
ϕ j (x ) =  (15)
 xk −1 − x xk ≤ x ≤ xk + 1
 h

 0 xk + 1 ≤ x ≤ 1

As funções lineares definidas por (15) são chamadas de funções de base definidas por
trechos. A sua característica principal é o fato de que elas são diferentes de zero apenas em
um pequena parcela do domínio, no caso considerado o domínio é o intervalo [0,1]. Por este
motivo elas são por vezes denominadas de funções de base local. Esta característica
particular simplifica enormemente a solução do problema por métodos numéricos. As
derivadas das funções de base são mostradas na figura 1c e dadas matematicamente por:

 0 0 ≤ x ≤ xk −1

 1
+ xk −1 ≤ x ≤ xk
dϕ j (x )  h
= (16)
dx  −1 xk ≤ x ≤ xk + 1
 h

 0 xk + 1 ≤ x ≤ 1

Com as definições anteriores, a solução aproximada u n ( x) será composta de segmentos de


retas, ou seja ela será to tipo linear por trechos, conforme mostra a figura 1d. Observa-se
ainda que função de aproximação é contínua, não havendo saltos nos pontos de transição
entre um elemento e outro. Esta característica é em geral desejada na solução. Haverá
entretanto uma descontinuidade na derivada da função, conforme mostra a figura 1e. Isto
não causa, todavia, problemas. Caso seja necessário continuidade também na derivada de
primeira ordem da função de aproximação poderão ser escolhidas funções de base de ordem
maior, por exemplo um polinômio de segunda ordem. O procedimento delineado não se altera
ao ser alterada a função de base. As matrizes do sistema no entanto possuirão um número
maior de elementos diferentes de zero.

5 Construção da Função de Aproximação por EF


Uma vez definidos os tipos de funções de base para a aproximação que se deseja utilizar,
pode-se partir para a determinação da solução aproximada da equação dada. Analogamente
aos casos anteriores, a solução será estabelecida como uma combinação linear das funções de
base ϕ j (x ) :

n −1
un (x ) = ∑ a j ⋅ ϕ j ( x) (17)
j =1

Os termos j=0 e j=n foram omitidos tendo em vista as condições de contorno. Observa-se
que a solução aproximada na forma (17) consiste de linhas poligonais conforme mostrado na

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figura 1d. Uma função com esta característica é chamada de função polinomial linear por
trechos. A solução entre dois pontos é assim aproximada por meio de retas; isto decorre do
fato de se ter utilizado polinômios de primeiro grau como função de base. Caso fossem
utilizados polinômios de mais alto grau a solução aproximada entre dois pontos seria uma
curva correspondente à ordem do polinômio utilizado. Por exemplo, tomando-se polinômios de
segundo grau obter-se-ia uma parábola como aproximação entre dois pontos.

Considerando-se a forma como as funções de base foram definidas, a solução aproximada


(17) fornece o seguinte valor para os nós x k da malha, ou seja para x = xk resulta:
n −1
un (xk ) = ∑ aj ⋅ ϕj(xk ) = ak ⋅ ϕk (xk )
j =1

un (xk ) = ak (18)

O coeficiente a k é assim igual ao valor da função de aproximação no ponto x = xk . Esta


característica decorre diretamente da escolha da funções de base e é uma das
características fundamentais do MEF, sendo além disso extremamente conveniente do ponto
de vista de solução numérica. Ressalta-se ainda que esta forma de aproximação é bastante
semelhante ao conhecido Método de Interpolação de Lagrange.
Ao se tentar aplicar a solução (17) para a equação original na forma (1) verifica-se uma
dificuldade com a derivada de segunda ordem. A equação (17) possui derivada de primeira
ordem, conforme mostra a figura 1c, mas a sua derivada de segunda ordem é zero no interior
dos elementos e igual à função Delta de Dirac nos seus extremos. A derivada de segunda
ordem possui, portanto, valor infinito nos extremos do intervalo, sendo desta forma de difícil
tratamento. Este tipo de comportamento da solução não é consistente com a equação (1).
A fim de evitar a inconsistência referida, será considerada a equação (1) numa forma
alternativa equivalente, obtida conforme segue. Substituindo-se a solução aproximada u n ( x)
e multiplicando-se ambos os lados da equação (1) por ϕ k , obtém-se:

 d  dun  
−  p ⋅  + q ⋅ un  ⋅ ϕk = f(x ) ⋅ ϕk
 dx  dx  

Em seguida integra-se entre 0 e 1 e obtém-se:


1 1
 d  dun  
∫ −

p ⋅
dx  dx  

 + q ⋅ un  ⋅ ϕk ⋅ dx = f(x ) ⋅ ϕk ⋅ dx
0 0

Utilizando-se o conceito de integração por partes resulta:


1 1 1
 dun   dun dϕk 
 0 0 
∫ 

− p ⋅ dx ⋅ ϕk  + p ⋅ dx ⋅ dx + q ⋅ un ⋅ ϕk  ⋅ dx = f(x ) ⋅ ϕk ⋅ dx
0

Considerando-se que ϕ k ( 0) = 0 e ϕ k (1) = 0 , obtém-se finalmente a seguinte expressão:

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1 1
 dun dϕk 
∫ p ⋅ ⋅ ∫
+ q ⋅ un ⋅ ϕk  ⋅ dx = f ⋅ϕk ⋅ dx k = 1,2,3,K(n − 1) (19)
dx dx
0  0

A forma (19) é conhecida como forma fraca da equação (1), sendo este nome derivado do fato
de que as exigências quanto à continuidade da função serem menos rigorosas que as da
equação original. O uso da forma fraca amplia o universo de funções que podem ser
empregadas como aproximação. O uso da forma original (1), também conhecida como forma
forte , exige que a solução possua a segunda derivada, não sendo possível a utilização de
funções de aproximação lineares. Todavia, o uso da forma fraca permite que funções
possuindo apenas a derivada de primeira ordem também possam ser empregadas como solução
de aproximação. O uso da forma fraca torna, portanto, possível o uso de funções lineares, as
quais simplificam a obtenção de uma solução aproximada.
Substituindo-se agora a equação (17) na equação (19) obtém-se:
 n −1 

1 ∑ a j ⋅ dϕ j
n −1

 1
 p ⋅ j =1 d ϕ
∫ dx
⋅ k + q⋅
dx
∑ aj ⋅ ϕ j ⋅ ϕk  ⋅ dx = f ⋅ϕk ⋅ dx
 ∫
0 j =1  0
 
 

n −1 1 1
 dϕ j dϕk 
∑ ∫ 
aj ⋅ p ⋅


dx dx


+ q ⋅ ϕ j ⋅ ϕk ⋅ dx = f ⋅ϕk ⋅ dx

k = 1,2,3,K(n − 1 ) (20)
j =1 0   0

As expressões sob o sinal de integral poderão agora ser resolvidas a priori para cada uma das
funções ϕ k , uma vez que todas as funções que aparecem na integral são conhecidas.
Considerando-se todas as funções de base dentro do intervalo de 0 a 1, ou seja fazendo-se k
variar entre 1 e n-1, chega-se a um sistema de equações lineares, cuja solução determina os
valores dos coeficientes a j , os quais por sua vez determinam a solução aproximada.

6 Exemplo Prático de Solução Utilizando o MEF


A fim de ilustrar melhor o processo de obtenção dos sistema de equações, será apresentado
a seguir um exemplo onde foi assumido que o intervalo entre 0 e 1 foi dividido em quatro
subintervalos iguais (ou seja 4 elementos) com comprimento de h=1/4, conforme ilustrado na
figura 2. O índice j na equação (17) varia neste caso particular entre 1 e 3, existindo 3
funções de base que são mostradas na figura 2.
Existem também 3 coeficientes a j que serão determinados: a 1 , a 2 e a 3 . A solução
aproximada terá a seguinte forma:
3
u4 (x ) = ∑ aj ⋅ ϕ j = a1 ⋅ ϕ1 + a2 ⋅ ϕ2 + a3 ⋅ ϕ3 (21)
j =1

Considerando-se inicialmente k=1, obtém-se a partir de (20) a expressão:

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0 1
h h h h
(a)
x0 x1 x2 x3 x4

ϕ 1 (x)
1.0
0 1
h h
(b)
x0 x1 x2

ϕ 2 (x)
1.0
0 1
(c) h h
x1 x2 x3

ϕ 3 (x)
1.0
0 1
(d) h h
x2 x3 x4

a3

u4 (x) a2
a1

0 1
(e)
x0 x1 x2 x3 x4

figura 2 - Subdivisão do domínio em 4 elementos e funções de base


correspondentes: (a) subdivisão do domínio, (b), (c) e (d) funções de base,
(e) forma da função de aproximação.

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3 1
dϕ j dϕ  1
∑ 
aj ⋅ p ⋅
 ∫ ⋅
dx dx
1 
+ q ⋅ ϕ j ⋅ ϕ1 ⋅ dx = f ⋅ϕ1 ⋅ dx
 ∫ (22)
0   0
j =1

De acordo com a figura 2, o produto das funções ϕ1 e ϕ j é diferente de zero apenas para os
elementos que são vizinhos, ou seja o produto entre ϕ1 e ϕ j é diferente de zero apenas onde
ambas as funções são simultaneamente diferentes de zero. Para k=1 existem pela equação
(21) os produtos ϕ1 ⋅ ϕ1 , ϕ1 ⋅ ϕ2 e ϕ1 ⋅ ϕ 3 , dos quais apenas ϕ1 ⋅ ϕ1 e ϕ1 ⋅ ϕ2 possuem valor
diferente de zero. Esta característica vantajosa resulta da escolha do tipo de funções de
base. As mesmas considerações valem igualmente para as derivadas das funções de base.
Para k=1, será portanto necessário considerar apenas j=1 e j=2. Analisando-se a integral
entre 0 1 e tomando-se em conta as funções ϕ1 e ϕ j pode-se estabelecer a seguinte
simplificação:
2 1 dϕ j dϕ  1
∑ ∫
aj ⋅  p ⋅

⋅ 1 + q ⋅ ϕ j ⋅ ϕ1  ⋅ dx = f ⋅ϕ1 ⋅ dx
dx dx  ∫
j =1 0  0

2 2⋅h 2⋅h
 dϕ j dϕ1 
∑ aj ⋅ ∫ p ⋅
 ⋅
dx dx
+ q ⋅ ϕ j ⋅ ϕ1
 ⋅ dx = f ⋅ϕ1 ⋅ dx
 ∫ (23)
j= 1 0   0

Escrita de forma mais explícita, a equação (23) se torna:


2 ⋅h 2⋅ h 2⋅ h
 dϕ1 dϕ1   dϕ dϕ 
a1 ⋅ ∫ p ⋅ ⋅ + q ⋅ ϕ1 ⋅ ϕ1  ⋅ dx + a2 ⋅  p ⋅ 2 ⋅ 1 + q ⋅ ϕ2 ⋅ ϕ1  ⋅ dx = f ⋅ϕ1 ⋅ dx
∫ ∫
 dx dx   dx dx 
0 0 0

(24)

A avaliação dos termos da equação (23) para k=1 e j=1, resulta:


2⋅h h 2⋅h
dϕ dϕ 1 1 − 1 −1 1 1 p

0
p ⋅ 1 ⋅ 1 ⋅ dx =
dx dx ∫
0
p ⋅ ⋅ ⋅ dx +
h h ∫
h
p⋅
h h
⋅ ⋅ dx = p ⋅ 2 ⋅ h + p ⋅ 2 ⋅ h = ⋅ 2
h h h
(25)

2⋅h h 2⋅h
x x (2 ⋅ h − x) ⋅ (2 ⋅ h − x) ⋅ dx = q ⋅ 1 h3 1 h3 h

0
q ⋅ ϕ1 ⋅ ϕ1 ⋅ dx =

0
q ⋅ ⋅ ⋅ dx +
h h ∫
h
q⋅
h h h

2 3
+ q ⋅
h

2 3
= q ⋅ ⋅2
3

(26)

Tomando-se ainda k=1 e considerando-se agora j=2, resulta para o segundo termo da equação
(23):
2⋅h 2⋅h
 dϕ1 dϕ2  dϕ1 dϕ2
∫ ∫
 
a2 ⋅ p ⋅ ⋅ + q ⋅ ϕ1 ⋅ ϕ2 ⋅ dx = a 2 ⋅ p ⋅ ⋅ + q ⋅ ϕ1 ⋅ ϕ2 ⋅ dx (27)
 dx dx   dx dx 
0 h

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A simplificação anterior decorre do fato de que entre 0 e h o produto das funções ϕ1 ⋅ ϕ2 ser
identicamente zero.
De modo análogo ao caso j=1, pode-se determinar os termos da integral (27) conforme segue:
2⋅h 2⋅h
dϕ dϕ −1 1 1 p

h
p ⋅ 1 ⋅ 2 ⋅ dx =
dx dx ∫
h
p⋅ ⋅ ⋅ dx = −p ⋅ 2 ⋅ h = −
h h h h
(28)

2⋅h 2⋅h
(2 ⋅ h − x) ⋅ (x − h) ⋅ dx = q ⋅ h

h
q ⋅ ϕ1 ⋅ ϕ2 ⋅ dx =

h
q⋅
h h 6
(29)

Para a avaliação da integral no lado direito, pode-se fazer igualmente uma aproximação e
considerar a função a f(x) constante entre 0 e h e entre h e 2h. Assim, entre 0 e h será
h
assumido que a função f(x) possui o valor constante e igual a f  , ou seja é o valor no
2
3⋅h
centro do intervalo. Entre h e 2h o valor assumido será f  . Esta aproximação é em geral
 2 
justificada na prática tendo em vista que os intervalos h são pequenos. Desta forma, obtém-
se para o lado direito da equação:
2 ⋅h h 2 ⋅h
x (2 ⋅ h − x ) ⋅ dx ≅ f h  ⋅ h x ⋅ dx + f 3 ⋅ h  ⋅ 2⋅h (2 ⋅ h − x ) ⋅ dx
∫ ∫
f(x ) ⋅ϕ1 ⋅ dx = f(x ) ⋅
h
⋅ dx + ∫ f(x ) ⋅
h 2 0 h
∫  2  h
∫ h
0 0 h

2⋅h
 h  1 h2  3 ⋅ h  1 h2
∫ f(x ) ⋅ϕ1 ⋅ dx ≅ f  ⋅ ⋅
 2 h 2
+ f

⋅ ⋅
2  h 2
0

2⋅h
h h 3⋅h h
∫ f(x ) ⋅ϕ1 ⋅ dx ≅ f 2  ⋅ 2 + f ⋅
2  2
(30)
0

Portanto, considerando a equação (23) e as expressões (24) a (30), obtém-se para k=1 a
seguinte equação:
p h   p h h h 3⋅h h
a1 ⋅  ⋅ 2 + q ⋅ ⋅ 2  + a2 ⋅  − + q ⋅  = f  ⋅ + f ⋅ (31)
h 3   h 6 2 2  2  2

Considerando-se agora k=2, obtém-se de forma análoga ao caso anterior a seguinte equação:
3 1 dϕ j dϕ  1
∑ aj ⋅  p ⋅
 ∫ ⋅ 2 + q ⋅ ϕ j ⋅ ϕ2  ⋅ dx = f ⋅ϕ2 ⋅ dx
dx dx  ∫ (32)
j =1 0  0

Considerando a forma das funções de base (figura 2), pode-se escrever a equação acima da
seguinte forma:

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2 ⋅h 3 ⋅h
 dϕ1 dϕ2   dϕ 2 dϕ2 
a1 ⋅ ∫  p ⋅ ⋅
dx dx
+ q ⋅ ϕ1 ⋅ ϕ2  ⋅ dx + a2 ⋅ ∫  p ⋅ ⋅
dx dx
+ q ⋅ ϕ2 ⋅ ϕ2  ⋅ dx +
h   h 
(33)
3 ⋅h 1
 dϕ3 dϕ2 
a3 ⋅ ∫  p ⋅


dx dx
+ q ⋅ ϕ3 ⋅ ϕ2  ⋅ dx = f ⋅ϕ2 ⋅ dx


2 ⋅h 0

A primeira integral da equação (31) já foi avaliada anteriormente para k=1 e j=2, tendo como
resultado as expressões (28) e (29), repetidas abaixo:
2⋅h
 dϕ1 dϕ2  p h


a1 ⋅ p ⋅ ⋅ + q ⋅ ϕ1 ⋅ ϕ2 ⋅ dx = a1 ⋅  − + q ⋅  (34)
 dx dx   h 6
h

Avaliando-se o segundo termo da equação (32), resultará nas mesmas expressões calculadas
anteriormente para k=1 e j=1:
3⋅h
 dϕ2 dϕ2  p h 


a2 ⋅ p ⋅ ⋅ + q ⋅ ϕ2 ⋅ ϕ2 ⋅ dx = a 2 ⋅  2 ⋅ + q ⋅ ⋅ 2 (35)
 dx dx   h 3 
h

O último termo da equação (31) fornece o mesmo resultado que obtido anteriormente para
k=1 e j=2:
3⋅h
 dϕ3 dϕ2  p h


a3 ⋅ p ⋅ ⋅ + q ⋅ ϕ3 ⋅ ϕ2 ⋅ dx = a 3 ⋅  − + q ⋅  (36)
 dx dx   h 6
2⋅h

Para o termo no lado direito da equação (32), resulta de forma análoga:


3⋅h 2⋅h 3⋅h
x (2 ⋅ h − x ) ⋅ dx ≅ f 3 ⋅ h  ⋅ 1 ⋅ h2 5  1 h
2
∫ f(x ) ⋅ϕ2 ⋅ dx = ∫ f(x ) ⋅ ⋅ dx +
h ∫ f(x ) ⋅
h

2

 h 2
+ f ⋅ h  ⋅ ⋅
2  h 2
h h 2⋅h
3 ⋅h
3  h 5  h
∫ f(x ) ⋅ϕ2 ⋅ dx ≅ f 2 ⋅ h  ⋅ 2 + f 2 ⋅ h  ⋅ 2 (37)
h

Considerando-se as equações (33) a (36), resulta finalmente para k=2 a seguinte equação:
 p h p h   p h 3  h 5  h
a1 ⋅  − + q ⋅  + a2 ⋅  ⋅ 2 + q ⋅ ⋅ 2  + a3 ⋅  − + q ⋅  = f ⋅ h  ⋅ + f ⋅ h  ⋅ (38)
 h 6 h 3   h 6 2  2 2  2

A fim de completar o sistema de equações será determinado ainda a equação que resulta para
k=3. Considerando-se a forma como as funções de base estão definidas, obtém-se a
expressão que segue:
3 4 ⋅h 
d ϕ j d ϕ3  4 ⋅h
∑ aj ⋅ 

p⋅∫dx dx
⋅ 
+ q ⋅ ϕ j ⋅ ϕ3 ⋅ dx = f ⋅ϕ3 ⋅ dx
 ∫ (39)
j=2 2⋅h   2 ⋅h

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3 ⋅h 4 ⋅h 4 ⋅h
 d ϕ 2 dϕ 3   dϕ dϕ 
a2 ⋅ ∫  p ⋅ ⋅ + q ⋅ ϕ2 ⋅ ϕ3  ⋅ dx + a3 ⋅  p ⋅ 3 ⋅ 3 + q ⋅ ϕ3 ⋅ ϕ3  ⋅ dx = f ⋅ϕ3 ⋅ dx
∫ ∫
dx dx dx dx
2 ⋅h   2 ⋅h   2 ⋅h
(40)

A primeira integral da expressão (40) já foi avaliada anteriormente, para a segunda integral
resulta o mesmo valor que para j=1 e k=1 (ou j=2 e k=2). Para a expressão no lado direito
resulta de forma análoga aos casos anteriores:
4 ⋅h 2 2
5  1 h 7  1 h 5  h 7  h
∫ f(x ) ⋅ϕ3 ⋅ dx ≅ f ⋅ h  ⋅ ⋅
2  h 2
+ f ⋅ h  ⋅ ⋅
2  h 2
= f ⋅ h  ⋅ + f ⋅ h  ⋅
2  2 2  2
(41)
2⋅h

Desta forma a equação correspondente a k=3 possui a seguinte forma:


p h   p h 5  h 7  h
a3 ⋅  ⋅ 2 + q ⋅ ⋅ 2  + a2 ⋅  − + q ⋅  = f ⋅ h  ⋅ + f ⋅ h  ⋅ (42)
h 3   h 6 2  2 2  2

O sistema de equações é, assim, definido pelas equações (31), (38) e (42), as quais são
repetidas a seguir:
 p h   p h h h 3  h
a1 ⋅  ⋅ 2 + q ⋅ ⋅ 2  + a2 ⋅  − + q ⋅  = f  ⋅ + f ⋅ h  ⋅
 h 3   h 6 2 2 2  2

  p h p h   p h 3  h 5  h
a1 ⋅  − + q ⋅  + a2 ⋅  ⋅ 2 + q ⋅ ⋅ 2  + a3 ⋅  − + q ⋅  = f ⋅ h  ⋅ + f ⋅ h  ⋅ (43)
  h 6 h 3   h 6 2  2 2  2

a ⋅  p ⋅ 2 + q ⋅ h ⋅ 2  + a ⋅  − p + q ⋅ h  = f 5 ⋅ h  ⋅ h + f 7 ⋅ h  ⋅ h
 3  h 3  2
 h 6 2  2 2  2

Escrito na forma matricial, o sistema assume a forma:


{[K ] + [M]} ⋅ [A] = [F] (44)

As matrizes que aparecem em (44) são dadas pelas expressões:

 2 −1 0 
p 
[K ] = ⋅ − 1 2 − 1 (45)
h
 0 − 1 2 

4 1 0 
q⋅h  
[M] = ⋅ 1 4 1 (46)
6 
0 1 4

 1   3 
 f 2 ⋅ h  + f 2 ⋅ h  
    
h  3   5 
[F] = ⋅  f ⋅ h  + f ⋅ h   (47)
2 2  2 
 5 
f ⋅ h  + f 7 ⋅ h 
  
  2   2 

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 a1 
[A] = a2  (48)
 a3 

A solução do sistema acima fornece os coeficientes a1 , a 2 e a 3 os quais por sua vez


determinam a solução aproximada, de acordo com a equação (21).
Repetindo-se o procedimento para a montagem do sistema de equações para uma subdivisão
contendo um número arbitrário de elementos n, obtém-se matrizes de ordem (n-1) por (n-1),
as quais possuem a seguinte forma geral:

 2 −1 0 L 0 0
L
− 1 2 − 1 0 L L 0 

 0 −1 2 −1 0 L 0 
p  
[K ] = ⋅  M O O O O M  (49)
h 
M O O O O M 
 
0 L L 0 − 1 2 − 1
0 0 L L 0 − 1 2 

4 1 0 L L 0 0
1 4 1 0 L L 0 

0 1 4 1 0 L 0
q⋅h  
[M] = ⋅ M O O O O M (50)
6 
M O O O O M
 
0 L L 0 1 4 1
0 0 L L 0 1 4

 1  3  
 f ⋅ h  + f ⋅ h  
 2  2  
 3  5  
f ⋅ h  + f ⋅ h 
  2   2  
h  5  7 

[F] = ⋅  f ⋅ h  + f ⋅ h   (51)
2  2  2  
 M 
 
 M 
f 1 ⋅ h + (n − 1) ⋅ h + f 3 ⋅ h + (n − 1) ⋅ h 
  2   2  

 a1 
 a 
 2 
 a 
[A] =  3  (52)
 M 
 M 
 
an −1 

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Por motivos históricos, as matrizes [K ] e [ M] são denominadas de Matriz de Rigidez e Matriz


de Massa. As denominações decorrem do fato de que o MEF foi inicialmente aplicado à
problemas de elasticidade. A matriz [K ] + [ M] é conhecida de forma geral por Matriz de
Coeficientes.
Deve-se ressaltar que em sistemas computacionais por elementos finitos as matrizes do
sistema são montadas de forma automática. O equacionamento do problema é feito tomando-
se apenas um elemento representativo, de tal forma que os demais são feitos substituindo-se
as coordenadas correspondentes. A modelagem se resume, assim, à modelagem do sistema
dentro de um elemento apenas, sendo o procedimento em seguida estendido a todo os
elementos que compõem o domínio. Assim, um sistema computacional baseado em elementos
finitos é capaz de trabalhar com uma classe ampla de problemas envolvendo geometrias
complexas. Esta se constitui numa das maiores vantagens do MEF: a solução para domínios
complexos pode ser obtida de forma sistemática e segura.

7 Propriedades das Matrizes e da Solução por Elementos Finitos


Uma das características importantes das matrizes introduzidas anteriormente é que elas são
do tipo tridiagonal. Uma matriz tridiagonal é uma matriz cujos termos são todos zero, exceto
os termos da diagonal e os termos da subdiagonal superior e inferior. As matrizes [K ] e [M]
são exemplos de matrizes tridiagonais. No primeiro exemplo, nos quais se utilizou funções
trigonométricas como funções de base, as matrizes [K ] e [M] eram diagonais. Esta
característica decorreu do fato de que as funções de base e suas derivadas são ortogonais.
No presente caso, as matrizes não são completamente diagonais, mas quase-diagonais, ou seja
tridiagonais. Isto decorreu do fato de que as funções de base escolhidas só são diferente de
zero em uma pequena parte do domínio. De uma forma mais geral, o uso deste tipo de função
faz com que poucos termos da matriz além da diagonal possuam um valor diferente de zero. A
matriz de coeficientes torna-se assim uma matriz esparsa, ou seja com poucos elementos
diferentes de zero em relação ao número total de elementos da matriz. Esta característica é
muito vantajosa do ponto de vista de resolução do sistema de equações, uma vez que permite
que a solução possa ser encontrada de forma mais eficiente e rápida. Além disso, a
armazenagem da matriz exige menos recursos computacionais, dado que apenas os elementos
diferente de zero necessitam ser efetivamente armazenados.
Outra característica importante das matrizes [K ] e [M] é que elas são simétricas, o que
simplifica a determinação do sistema de equações. Pode-se também armazenar apenas a
parte acima da diagonal (ou abaixo), diminuindo sensivelmente o espaço de memória
necessário para o armazenamento.
Uma análise mais detalhada mostra que para p > 0 e q > 0 os sistema de equações sempre
possui solução, existindo portanto sempre um conjunto de valores para os coeficientes aj que
satisfazem o sistema de equações. A substituição destes valores na expressão (17)
determina a solução aproximada un (x ) . Esta é a exatamente a solução por elementos finitos
do problema de valor de contorno dado.
Embora o problema tratado até aqui foi um simples problema em uma dimensão, a mesma
idéia se aplica diretamente a problemas em duas e três dimensões. Por exemplo, em duas

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dimensões o domínio do problema será dividido em pequenos triângulos e as funções de base


serão polinômios os quais só possuem valor diferente de zero em um reduzido número de
triângulo adjacentes. A solução aproximada é construída a partir de uma combinação linear
destas funções de base. Em seguida é aplicado o Método de Galerkin e obtida a solução. O
conjunto dos procedimentos de subdivisão do domínio, montagem do sistema de equações e
determinação da solução para funções diferente de zero em apenas uma pequena parcela do
domínio é conhecido como Método dos Elementos Finitos, abreviadamente MEF. Pelo exposto,
fica claro que ele se constitui num caso particular do método de Galerkin.
A aplicação do MEF a casos práticos exige a solução de grandes sistemas de equações
lineares. Por esta razão a sua utilização prática só foi possível a partir do momento em que os
computadores adquiriram a necessária capacidade de processamento e memória.
Finalmente, deve ser lembrado que o MEF pode igualmente ser aplicado a equações
diferenciais parciais não-lineares e variáveis no tempo. Materiais não-lineares podem ser
igualmente considerados. Em tais casos resultarão sistemas de equações não-lineares e/ou
dependentes do tempo.

Exercício Proposto 5
Utilizando a equação (44), determine a solução por elementos finitos da equação (1)
sujeita às condições de contorno (2) utilizando 4 elementos. Considere p=1, q=0 e
f(x)=2. Determine a solução analítica da equação (1) e compare com a solução por
Elementos Finitos para os seguintes pontos: x=0, x=0.25, x=0.5, x=0.75 e x=1. Faça
um gráfico de ambas as soluções.

Exercício Proposto 6
Repita o exercício 5 utilizando 8 elementos e compare com a solução obtida para 4
elementos fazendo um gráfico de ambas as soluções..

Exercício Proposto 7
Repita o exercício 5 utilizando 16 elementos e compare com a solução obtida para 4
elementos fazendo um gráfico de ambas as soluções.

Exercício Proposto 8
Utilizando a equação (44), determine a solução por elementos finitos da equação (1)
sujeita às condições de contorno (2) utilizando 4 elementos. Considere p=1, q=1 e
f(x)=2. Determine a solução analítica da equação (1) e compare com a solução por
série de Fourier para os seguintes pontos: x=0, x=0.25, x=0.5, x=0.75 e x=1. Faça um
gráfico de ambas as soluções.

Exercício Proposto 9
Repita o exercício 8 utilizando 8 elementos e compare com a solução obtida para 4
elementos fazendo um gráfico de ambas as soluções.

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Exercício Proposto 10
Repita o exercício 8 utilizando 16 elementos e compare com a solução obtida para 4
elementos fazendo um gráfico de ambas as soluções.

8 Solução por EF com Condições de Contorno Não-Homogêneas


O equacionamento desenvolvido até este ponto considerou a equação (1) sujeita às condições
de contorno dadas pela equação (2):
d  du 
− p ⋅  + q ⋅ u = f(x ) 0<x<1 (1)
dx  dx 

u(0 ) = 0 u(1) = 0 (2)

Evidentemente que estas condições de contorno não representam o caso mais geral, uma vez
que condições de contorno não homogêneas também são comuns na prática. Além disso, deve
ser considerado o caso em que as derivadas da função u(x) possam ser especificadas como
condições de contorno. A fim de tornar a análise por EF mais genérica são apresentadas a
seguir as modificações necessárias nas matrizes do sistema a fim de abranger também os
casos citados. A abordagem não apresenta maiores detalhes matemáticos, os quais poderão
ser encontrados no item 4 da bibliografia citada ao final desta apostila.

8.1 Condições de Contorno de Dirichlet Não-Homogenêas


Neste caso as condições de contorno são dadas na seguinte forma:
u(0 ) = u0 u(1) = u1 (53)

Condições deste tipo são denominadas de Condições de Contorno de Dirichlet ou Condições de


Contorno Essenciais. A solução aproximada terá agora duas funções de base a mais: ϕ0 (x ) e
ϕn (x ) , sendo assim dada por:
n n
un (x ) = ∑ a j ⋅ ϕ j (x ) = ∑ un (xj )⋅ ϕ j (x ) (54)
j= 0 j= 0

Como os coeficientes u n ( x 0 ) = u(0) = u 0 e un (xn ) = u(1) = u1 são conhecidos e especificados


como parte do problema, pode-se expandir a equação (54):
n n −1
un (x ) = ∑ ( ) un xj ⋅ ϕ j (x ) = u0 ⋅ ϕ 0 (x ) + u1 ⋅ ϕn (x ) + ∑ un (xj ) ⋅ ϕ j (x ) (55)
j= 0 j =1

Desta forma, como no caso anterior, existem n-1 coeficientes a determinar. As matrizes [K ]
e [ M] são idênticas às anteriores. A matriz [F] possui termos adicionais na primeira e na
última linha, assumindo a seguinte forma:

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 1  3   p h h 
 f ⋅ h  + f ⋅ h  −  − + q ⋅  ⋅ u0 ⋅ 
 2  2   h 6 2 
 3  5  
 f ⋅ h  + f ⋅ h  
2  2 
 
[F] = h ⋅  5  7   (56)
f ⋅ h  + f ⋅ h 
 2  2  
 M 
 
 M 
 1  3   p h h
f 2 ⋅ h + (n − 1) ⋅ h + f 2 ⋅ h + (n − 1) ⋅ h −  − h + q ⋅ 6  ⋅ u1 ⋅ 2 
       

8.2 Problemas com Condições Mistas (Dirichlet + Neumann)


Em muitos casos práticos, torna-se necessário especificar um valor para a função em um dos
extremos e o valor da sua derivada em outro extremo. Problemas com este tipo de condições
de contorno são denominados de problemas com condições mistas.
Nestes casos é prescrito o valor da função em um dos extremos e a derivada da função no
outro extremo do domínio:
du(1) du 1
u(0 ) = u 0 = (57)
dx dx

Condições de contorno onde a derivada é prescrita são denominadas de Condição de Contorno


de Neumman, Condição de Contorno Natural ou ainda Condição Complementar.
A fim de obter a solução as matrizes deverão ser modificadas. A função de aproximação terá
um elemento a mais, sendo acrescida da função ϕ 0 ( x) :
n n n
un (x ) = ∑ aj ⋅ ϕ j (x ) = ∑ un (xj ) ⋅ ϕ j (x ) = un (x0 ) ⋅ ϕ 0 (x ) + ∑ un (xj ) ⋅ ϕ j (x ) (58)
j= 0 j= 0 j =1

As matrizes [K ] , [M] e [F] terão uma linha a mais acrescida ao final, sendo portanto matrizes
de n linhas e n colunas, mantendo no entanto a forma anterior:

 2 −1 0 L 0 0
L
− 1 2 − 1 0 L L 0 

 0 −1 2 −1 0 L 0 
p  
[K ] = ⋅  M O O O O M  (59)
h 
M O O O O M 
 
0 L L 0 − 1 2 − 1
0 0 L L 0 − 1 2 

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4 1 0 L 0 0
L
1 4 1 0 L 0 
L

0 1 4 1 0
L 0
q⋅h  
[M] = ⋅ M O O O
O M (60)
6 
M O O O O M
 
0 L L 0 1 4 1
0 0 L L 0 1 4

 1  3   p h h
f ⋅ h  + f ⋅ h  −  − + q ⋅  ⋅ u0 ⋅ 
 2  2   h 6 2
 3  5  
 f ⋅ h  + f ⋅ h  
2  2 
 
 5  7  
f ⋅ h  + f ⋅ h 
h  2 2 
[F] = ⋅     

(61)
2 M
 
 M 
 1  3 
 f 2 ⋅ h + (n − 1) ⋅ h + f 2 ⋅ h + (n − 1) ⋅ h 
 
3  2
 f ⋅ h + (n − 1) ⋅ h + p ⋅ u1 ⋅ 
 2  h 

 a1 
a 
 2
a 
[A] =  3  (62)
M 
M 
 
 an 

A consideração de condições de contorno não homogêneas exige assim apenas modificações


na matriz [F] .

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9 Bibliografia
A seguir são listados algumas obras sobre o método dos elementos finitos e suas aplicações
onde maiores detalhes sobre o exposto poderão ser encontrados.
1) The finite element method using Matlab : Y. W. Kwon; H. Bang. CRC Press. 1996.

2) An Introduction to finite element analysis : D. H. Norrie, G. de Vries ; Academic Press,


1978.

3) The mathematical theory of finite element methods : Susanne C. Brenner, L. Ridgway


Scott ; Springer Verlag, 1994.

4) The Texas finite element series : Volume I, II, III, IV e V ; E. B. Becker, G. F. Carey,
J. T. Oden; Prentice Hall, 1981.

5) The finite element method in engineering science : O. C. Zienkiewicz, McGraw-Hill,


1971.

6) The finite element method and its applications : Masatake Mori ; Macmillan Publishing
Company, 1983.

7) The finite element method for elliptic problems : P. G. Ciarlet ; North-Holland, 1978.

8) Finite elements for electrical engineers : P. P. Silvester ; Cambridge Press, 1996.

9) The finite element method in elctromagnetics : J. Jin ; John Wiley & Sons, 1993.

10) An introduction to the finite element method : J. N. Reddy ; McGraw-Hill, 1993.

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