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Universidade Federal FluminenseCurso psicologiaDisciplina SociologiaAlunas:
Denise Rosa Xavier e Aline Lisboa
“A casa dos Mortos” e as Instituições Totais de Goffman
Este trabalho tem por objetivo estabelecer uma relação entre algumascaracterísticas das instituições totais, descritas por Erving Goffman em seu livroManicômios, prisões e Conventos, e a realidade de um manicômio judiciário naBahia, apresentada pelo documentário “A casa dos mortos” de Débora Diniz.De acordo com Goffman, o aspecto central das instituições totais podeser descrito com a ruptura das barreiras que comumente separam as diferentesesferas da vida. Se na sociedade moderna o indivíduo tem seus espaçospróprios para trabalhar, descansar ou para seus momentos de lazer, nasinstituões totais estes ltiplos espaços desaparecem. O indiduoencarcerado realiza todas estas atividades em “
um mesmo local e sob umaúnica autoridade
”. Além disso, não há espaços para a individualidade postoque as atividades diárias sejam sempre em grupos, com horios pré-determinados e atendam a um plano estabelecido pela instituição.O documentário “A casa dos mortos” retrata muito claramente taiscaracterísticas. Durante toda a gravação, os internos estavam sempre emgrupos e/ou obedecendo às instruções de um agente da instituição. No iniciodo documentário, há um relato de um interno sobre outro, chamado Jaime,considerado um indivíduo altamente agressivo, autor de vários homicídios. Esteindivíduo, que chega a dar depoimento para o documentário, comete suicídio.De acordo com o relato, este indivíduo estava separado, em cela isolada por ter matado um outro interno quando este estava dormindo. Observa-se aí, quese encontram num mesmo espaço, legitimado como espaço para tratamento dedoentes mentais que praticaram crimes, indivíduos com rios tipos depsicopatia e outros transtornos mentais.
 
Um outro aspecto relevante é o ritual de entrada de um indivíduo nestasinstituições totais, ocorrendo o que Goffman denomina de
mortificação do eu 
.Esta mortificação é um processo onde o indivíduo vai sendo despido de suaidentidade, a partir de barreiras entre o internado e o mundo externo. Tambémhá o despojamento forçado de suas roupas, a entrega dos pertences paraserem guardadas pela instituição, a obrigação de uma higiene padronizada.Quando Annio retorna à instituão, passa por todo esse processo demortificação: troca de suas roupas pelo uniforme, a ordem de cortar suasunhas compridas e de ir para o banho. E imediatamente após, se junta aosoutros internos. É como se o indivíduo fosse “desprogramado”, para que seencaixasse no sistema pré-estabelecido, num esforço de controle
da vida diáriade um grande número de pessoas em espaço restrito e com pouco gasto derecursos.
 Outra característica que aparece no filme é o processo de adaptaçãodos internos, na figura do interno Almerindo: quando perguntam sobre seunome, responde:
 presidente do Estados Unidos
. E a enfermeira insiste:
e quemé Almerindo? 
Ele responde:
 Almerindo morreu! 
E em seu olhar, percebe-se umdistanciamento, a tática de afastamento da situação. Ele mesmo joga com aquestão da identidade, provavelmente por já não ter tanta certeza assim de seupróprio eu. Um eu que já não possui mais conexão com o mundo exterior àinstituição, um eu sem vínculos familiares ou afetivos.Por fim, relata-se um passeio que alguns internos fizeram ao zoológico.Este relato nos remete ao sistema de privigios que Goffman cita.Provavelmente, o filme não diz claramente, este passeio foi utilizado como umapremiação àqueles que se comportaram de maneira adequada ao sistema dainstituição. Este sistema de privilégios faz parte do que Goffman chama de
esquema para a reorganização pessoal 
, e que possui ainda três elementosbásicos: as regras da casa, os prêmios e os castigos.

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