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Adaptacao Cultural e Validacao da Versio Brasileira da Escala de Auto-estima de Rosenberg Gal Moreira Dini? Marina Rodrigues Quaresma* Lydia Masako Ferreira* 1] Mestre em Cirurgia Plistica Reparadora pela Universidade Federal de Sio Paulo -Escola Paulista de Medicina, TSBCR 2] Mestre em Epidemiologia Clinica pela Universidade McMaster do Canad. 3] Titular e Chefe da Disciplina de Cirurgia PlisticaCoordenadora do Programa de Pés-Graduagio em Cirurgia Plistica Reparadora da UNIFESP/EPM, TSBCP. ‘Trabalho realizado na Disciplina de Cirurgia Plistica da Universidade Federal de Sio Paulo - Escola Paulista de Medicina - Sao Paulo ~ Brasil Enderego para correspondéncia: Gal Moreira Dini R. Oscar Frei Sio Paulo - SP 01426-000 e-mail: drgal@uol.com.br Descritores: Auto-estima; qualidade de vida; questiondrios; testes psicolégicos; cirurgia plistica. RESUMO Osautorestiveram como objetivos: Traducir para a lingua portuguesa, adaptar aocontexto cultural brasileiro e validar a escala de auto-estima de Rosenberg para uma populagao de pacientes que iro submeter-se i cirwygia plastica. CONCLUSAO — A versio para a lingua portuguesa da escala de austo-estiona de Rosenberg (EPM/ Rosenberg) apresenton bons indices de reprodutibilidade e validade no nosso meio, podendo ser usada como instrumento para medir a auto-estima de pacientes brasileiras que irdo submeter-se & cirurgia pldstica. Rev. Soc. Bras. Cir, Plist. S40 Paulo v.19 n.1 p. 41-52 jan/abr. 2004 47 Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plistica INTRODUGAO Os cirurgides plisticos possuem a capacidade de alterar a aparéncia dos pacientes ¢, deste modo, influencié- los quanto & sua auto-imagem e auto-estima, A auto- estima pode ser definida como o sentimento, 0 aprego € a consideragio que uma pessoa sente por si propria, ou seja, 0 quanto ela gosta de si, como ela se vé € 0 que pensa sobre ela mesma. A auto-imagem € 0 centro da vida subjetiva do individuo, determinando scus pensamentos, sentimentos ¢ comportamento. Faz parte da rotina em cirurgia plastica a documentagio fotogritica pré ¢ pés-operatéria como meio para comparar resultados. Goldwyn’ chega a comparar a importincia dessa documentagio para 0 cirurgiao plistico 4 do eletrocardiograma para 0 cardiologista. Dados objetivos que geram evidéncias coneretas acerca dos resultados em cirurgia plistica so escassos. Medir resultados, portanto, € uma necessidade para que seja possivel gerar evidéncias comparar dados obtidos de maneira uniforme. Como poderemos, entio, obter mimeros objetivos a partir dessas medidas? Aanilise e a quantificagao do auto-retrato que a pessoa faz de si propria sio uma medida objetiva baseada em suas experiéncias sociais\. Alguns padroes de comportamento e aparéncia si0 determinados pela sociedade, pela midia ¢ pela propria pessoa. A consciéncia sobre a prépria aparéncia pode afetar fortemente a autoconfianga ¢ a auto-estima, Nos tltimos anos, instrumentos de medida de qualidade de vida vém sendo largamente utilizados para medir resultados em medicina de forma objetiva ‘em escala mundial, incluindo estudos internacionais multicéntricos. Para podermos comparar dados obtidos em estudos semelhantes realizados em populagGes cultural ¢ lingtiisticamente distintas, é necessiria a padronizagio dos processos de traduci0 adaptacio cultural dos instrumentos utilizados. $i0 também necessarios testes de validagio das suas propriedades de medida. Nio hé instrumentos validos ¢ adaptados a0 contexto cultural brasileiro para medir e avaliar as possiveis alteragdes na auto-estima de pacientes submetidos & cirurgia plistica. O objetivo do presente estudo foi traduzir para a lingua portuguesa as medidas (reprodutibilidade e validade) da escala de auto-estima de Rosenberg, adapté-las ao contexto cultural brasileiro e testar suas propriedades de medida. CASUISTICA E METODOS TRADUCAO E ADAPTACAO CULTURAL Para a tradugio ¢ adapragio cultural da escala de auto-estima de Rosenberg, utilizamos a metodologia proposta por Guillemin; Bombardier; Beaton “, que consistiu em: 1. Tiadugio inicial do questionario original para a lingua portuguesa por dois tradutores independentes que conheciam os objetivos do estudo, ou seja, a tradugio conceitual € no a estritamente literéria. Essas duas tradugées foram por sua vez comparadas por um grupo multidisciplinar composto por cinco médicos (4 cirurgiées plisticos ¢ 1 epidemiologista clinica), sendo criada por consenso uma tinica versio do questionario (versio N° 1 em portugués). Durante a tradugio dos instrumentos, foram avaliadas a equivaléncia semantica,idiomética, experimental ou cultural e conceitual 2. Com a versio N° 1 em portugués foram realizadas duas novas tradug6es para a lingua inglesa por outros dois tradutores independentes, nao conhecedores do questionsrio original em lingua inglesa ou dos objetivos deste trabalho. Processo este denominado backtranslation. ‘Novamente o mesmo grupo multidisciplinar reuniu-se para discutir as diferengas € discrepancias originadas no proceso de tradugao. Dessa reunigo resultou, por consenso, uma nova versio do questionario em lingua portuguesa (versio N° 2), 3. Adaptagio cultural, quando a versio N° 2 foi submetida a uma avaliagio da equivaléncia cultural denominada de pré- teste. Nela, 0 paciente era solicitado a a) Explicar a questo segundo suas préprias palavras. b) Propor mudangas se achasse que elas tornariam o sentido das questoes mais claro, ©) Dar notas de importincia para cada uma das questoes. 48 Rev, Soc. Bras. Cir. Plist. Sao Paulo «19 n.1 p. 41-52 jan/abr, 2008 Adaptagio Cultural ¢ Validagio da Versio Brasileira da Escala de Auto-estima de Rosenberg A relevncia de cada questo foi calculada através de um indice de relevancia, o qual consistiu na multiplicagio da percentage de individuos que atribuiram a mesma nota de importincia, que variou, delas. Foram consideradas relevantes as questées que atingiram um valor acima de 3. A equipe multidisciplinar reuniur-se a cada etapa de mudanga necesséria. A avaliagio de equivaléncia cultural foi considerada completa quando um grupo de 10 pacientes consecutivos compreendeu corretamente © sentido das questdes, nao sendo mais necessérias quaisquer modificagdes no questiondrio, gerando- se a versio UNIFESP-EPM/ Rosenberg VALIDAGAO: TESTE PARA VERIFICAR A. REPRODUTIBILIDADE E A VALIDADE, A reprodutibilidade foi restada por meio de trés entrevistas. A escala de auto-estima EPM/ Rosenberg foi aplicada a uma populacio de 32 \dividuos com idade média inferior a 40 anos, de qualquer raga, que iriam se submeter 3 cirurgia plistica, selecionados consecutivamente no ambulatério de cirurgia plistica da Universidade Federal de Sao Paulo - Escola Paulista de Medicina. Foram eles entrevistados por um mesmo observador em tempos diferentes (com espago de 2 semanas entre as entrevistas e por um segundo observador ‘Tabel On the whole, I am satisfied with myself. Attimes [think I am no good at all fe that I have a number of good qualities. Tam able to do things as well as most. other people. I feel I do not have much to be proud of. 6. I certainly feel useless at times, 7. [feel that I’m a person of worth, at least on an equal plane with others. 8. I wish I could have more respect for myself. 9. Allin all, I'm inclined to feel that am a failure. 10. [take a positive attitude toward myself. Opies de Respostas: a) Strongly agree) Agree ©) Disagree 4) Strongly disagree Escala de auto-estima de Rosenberg em sua forma original na lingua inglesa, independente no tempo 1, com espago de 3 horas entre as entrevistas). Com isso obtivemos trés grupos de resultados. Com esses dados, calculamos 0 indice de correlacio intraclasse, determinando a reprodutibilidade inter e intra-observador. Foram testados trés tipos de validade: validade de face; validade de contetido, e validade de construgio. Para a avaliagio dos dados demograficos da populacio de pacientes, foram utilizados métodos de estatistica descritiva (média ¢ desvio- ¢ freqiiéncia). As reprodutibilidades intra ¢ inter- observadores foram estabelecidas calculando-se a anilise de variancia do observador 1 no tempol do O2T1 O1T2, ¢, a partir desta, 0 coeficiente intraclasse. A validade de construgio foi obtida por testes de correlagio (Pearson ¢ Spearman) ¢ ‘Tabela IL 1. De uma forma geral (apesar de tudo), estou satisfeito(a) comigo mesmo(a). 2. As vezes, eu acho que eu néo sirvo para nada (desqualificado(a) ou inferior em relagdo aos ou- tr0s). 3. Eu sinto que eu tenho um tanto (um niimero) de boas qualidades. 4, Eu sou capaz de fazer coisas tio bem quanto a maioria das outras pessoas (desde que me ensi- nada) 5. Nao sinto satisfagdo nas coisas que realize’. Eu sinto que nio tenho muito do. que me orgulhar. 6. As vezes, ch realniegia tana Caan de fazer as coisas). 7. Eu sinto que sou uma pessoa de valor, pelo me- ‘nos num plano igual (num mesmo nfvel) 3s ou- tras pessoas. 8. Nilo me dou o devido valor. Gostaria de ter mais, respeito por mim mesmo(a). 9, Quase sempre eu estou inclinado(a) a achar que sou um(a) fracassado(a) 10, Eu tenho uma atitude positiva (pensamentos, atos € sentimentos positivos) em relagio a mim ‘mesmo(a). Opgies de Respostas: ) Concordo plenamente ) Concord ©) Discordo 4) Discordo plenamente Versio da escala de auto-estima de Rosenberg apés fi zado 0 processo de tradugio € adaptagio cultural (versio EPM/ Rosenberg). Rev. Soc. Bras. Cir, Plist. So Paulo v.19 n.l p. 41-52 jan/abr. 2004

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