4

O ESTADO DE S. PAULO 24 A 30 DE ABRIL DE 2011

Comportamento

Conhea a medicina que alivia a dor de quem est quase partindo. E o tratamento que devolve, a quem fica, a chance de ser feliz
MRCIO FERNA NDES/AE

Novo olhar. As m dicas Adriana Th e Maria Goretti t m trabalhos que se omaz ( esq.) complementam
Keila Bis
ESPECIAL PARA O SF

o h mais nada a ser feito. Ela pode morrer a qualquer momento. A frase fria e direta proferida por um mdicooncologistaemumhospitalparticular de Ribeiro Preto, no interior, h 11 anos, no mais assustava a estudante Lissa Reis, hoje com 34 anos. Nos ltimos trs meses de vida de sua me, ela a acompanhou diariamente em seu leito e ficou calejada com as ms notcias. De mos atadas, restava-lhe darapoio eassistir scomplicaes cada vez maiores causadas pelo cncer avassalador no pncreas da me. Nunca recebi uma palavra de conforto do mdico e nem das enfermeiras. Havia dias em que eles sequer olhavam para mim, relembra. O tratamento recebido por

Lissa segue os preceitos da medicina tradicional brasileira. Uma das caractersticas dessa formao convencional est no foco da aprendizagem, voltada exclusivamente para o fsico lidar com emoes e relaes interpessoais passava longe do currculodosfuturosprofissionais de sade. A mdica pernambucana Maria Goretti Silva, de 51 anos, lutou por muitos anos para tentar reverter esse cenrio. H um ano, inseriu os Cuidados Paliativos (CP) no novo Cdigo de tica Mdica doConselhoFederaldeMedicina (CFM). Pelos princpios dos CPs, no so s a dor e a doena que so tratadas, mas todos os sintomas emocionais, espirituais, sociais e fsicos do paciente e de seus familiares. So todos esses aspectos que envolvem o trabalho na Enfermaria de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Pbli-

co do Estado de So Paulo, na capital, criada por Goretti em 2002. L, s h espao para os pacientes em estado terminal ou com doenas gravssimas. Completamente diferente das outras enfermarias pblicas do Pas, no local h dez leitos individuaiscomcamaparaochamado cuidador. Diariamente, eles recebem o auxlio de toda a equipe. O grupo formado por 36profissionais,comoassistentes sociais, psiclogos e geriatras, que conhecem a doena e a histria de vida de cada paciente, alm de cuidar de seu bem-estar, conta a mdica. A dona de casa Agda Lima vivenciou os benefcios do lugar. Sua me, Ana, de 83 anos, diagnosticada com cncer de mama, passou os ltimos dias de vida na enfermaria. L, tudo baseado no carinho e no amor. No abrao e nas palavras acolhedoras. No final, foi um desli-