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yard Sa Posto isso, onde se localiza o seatido de genérico? Cremos que apenas quando se referir a0 significado epistemolégico de questio social tendo em vista seu uso muitas vezes Impreciso e pouco claro, Falamos sobre este aspecto 20 inicio deste estudo. No entanto, quetemos teafirmar que tal imprecisio nao se faz nas diretrizes & medida que sua proposta é justa- mente trabalhar a questo social na sua complexidade histérica e teérico- metodolégica, Pereira confirma essa preocupacio — que insistimos esta ‘no texto das ditetrizes - quando diz que a questio social constitui-se num dos desafios epistemoldgicos sérios para o Servico Social “...] corendo- seo tisco de ao nfo tratd-la analiticamente, tornar-se mais inespecifica ¢ desfocada da sua verdadeira caractetistica: © protagonismo politico [..)” (Pereira, 2004, p. 58). Todavia, 2 melhor conttibuicdo de Pereira e com a qual final finalizamos esse debate - é justamente quando estabelece a diferenca conceitual entre questa © questéo social. A primeira, semanticamente, pode significar per- gunta, interrogagio, aporia, ltigios, enfim varias conotagbes diz, autora, No entanto, vale a pena conferir a compreensiio maxxista de questo social: [..] actescida do adjetivo social, a palavra questo ganha outro significado. Tadica, como vimos, a existéncia de relacdes conflituosas entre portado- xe¢ de interesses opostos ou antagénicos — dada a sua desigual posigao na estrututa social — na qual atores dominados conseguem impor-se como forsas politicas estratégicas e problematizar efetivamente necessidades € demandas, obtendo ganhos sociais telativos (Pereira, 2004, p. 59). Com essa catactetizagio a questo social surgi na Europa do século XIX, confirma a autora: Na sua base nfo estava um vazio factual, mas necessidades sociais as- sociadas & pauperizacio crescente da classe trabalhadora determinada pela tendéncia capitalista de aumentar a taxa de exploragio do trabalho independentemente da produtividade deste. E foram essas necessidades, que uma vez problematizada por atores conscientes de sua situagio de explotagio, ¢ com poder de pressio, propiciaram a passagem do problema da pobreza antes considerada natural, em explosiva questio social (Pereira, 2004, p. 59). Um conceito genérico que segundo a autora, desnaturalizou o pauperismo, desnudow-se a exploragio ¢ processou-se “[...] a transformacio da classe em si para uma classe pata si (isso ficou nitido com a revolugéo ~ ou, s€ quisermos, revolugdes - de 1848)” (2005) _ Do nosso lado, apostando no pressuposto fundamental de que as disettizes mais gue atrapalhar, podem contribuir para fortalecer o objsto ues Soe sein wba Ransomes | da profissio, cteditamos intelectuais como Peseita a competéncia ideo- politica e tedrico-metodélogica suficiente pata clarificar a questiio social, cetta de que esse debate qualificado ja comegou. |, Ligdes extrafdas... ‘As ligdes aqui condensadas foram extrafdas do longo percurso que tealizamos sobte a formacio da questo social brasileira e sua vinculagZo com 0 Servico Social. Viagem que comega na sociedade colonial e chega 4 sociedade em tempos globais o que aos permite de imediato extvais uma ligdo mais geral: a vinculagio anteriormente referida no pode ser compre- endida fora das condiges sécio-histéricas da formacao social brasileira o gue, no trajeto percorrido, nos colocou diante de uma sociedade cravejada de infortiinios. Assim é que a\primeira licdo Jextraida no inicio do percurso trilhado por atalhos e desviOsMECEEsAtios do ponto de vista metodolégico — tem origem no Brasil-colénia, onde nos deparamos com problemas sociais graves como 0 desemprego ea misézia, Problemas vivenciados por uma populacig de “vagabundos ¢ desenraizados” (Prado, 1970), via de regra, utilizados como mio-de-obra cervil e escrava, numa telacio de exploragio ¢ dominagio de negtos e indios, Momento no qual o Estado ¢ a sociedade se faziam presentes de forma muito incipiente: mediante 0 trabalho de cristianizaio da Companhia de Jesus ¢ pela aplicacio d{(legisla¢io pombalina:jambes as medidas tendo como objeto a questéo indigena. # importante destacat nesse petfodo a formago de uma sociedade civil estamental ¢ fechada na qual a populaciio, aa sua maioria escrava ¢ negra, era socialmente destituida de suas zaizes. Aqui, caberia 0 uso da categoria exclusio social, na concepgio' de Martins (2002). Homens e mulhetes que tentavam formar uma nova cultura mésmo que absfada e aniquilada pelo dominio afrouxado do patriarcalismo, e que Prado Jtinior (1970) considerou como uma sociedade latente + em transformagio, servindo-nos de pista meto- dolégica para afirmatmos a existéncia das raizes latentes da nossa questio social ainda na fase colonial de formacio da sociedade brasileira. Seguindo nosso trajeto extraimos a(segurida ligho jleste trabalho, rela~ cionada 20s movimentos sociais ocortide no Império ¢ na Repiblica Ve- tha, destacando a independéncia enquanto proceso de emancipagio politica -—Scortida em TS2Z, Apesar da auséncia de uma consciéncia para si, devemos considerar que a independéncia ¢ os movimentos sociais que se seguiram niio se constitufram apenas e, tio somente, pela vontade e paza responder tuo ai ere die as necessidades das elites senhoriais e imperiais, até porque nfo se tratavam -de relagdes simétticas, Havia, sim, uma subalternidade da massa em selacio js elites senhotiais, mas também, ¢ ao mesmo tempo, havia uma dominagao da metrépole sobre a colénia o que relativizava o peso da nossa autonomia politica, E é nesse sentido, que com Prado Junior (1969) e Florestan Fer- nandes (1975) conseguimog{ilesmistificar J Independéncia do Brasil como _mero ato heréico emanado da vontade do imperados, Em outros termos: mesmo se tratando de movimentos de cariter elitista justificaram-se em Fangio da luta contra a dominacio colonial. Tdentificamos outras pressdes veladas ¢ abafadas referidas 20 mundo do trabalho escravo que soavam como o clamot de uma sociedade explorada, dominada e colonizada que, por sua vez, lntava para descolonizar-se, Natu- ralmente pela auséncia de uma consciéncia social e politica esses grupos no conseguiram tirar do cativeito - ainda depois da abolicio formal - grande fhassa de homens, mulheres ¢ criangas (negtos ¢ negras) exproptiadas do seu ptdprio set como afirmava Jani (1991). 1 inegavel pata Flotestan Fernandes (1975) que a independéncia do Brasil mesmo constituindo-se numa mera revolucio pacifica, nfo signifi- cou a simples extingio do estatuto colonial 4 medida que teve um sentido socialmente revolucionétio, Logo, consideramos sua andlise uma novidade, pois attibui um carter de ruptura 4 revolugio social da independéncia, 0 que nos autoriza questionat os registros histéricos de boa patte da historio- grafia que ainda hoje nega a dialética dessas transformagées. Vale dizer que considerat a Independéncia um processo revolucionatio, nfo tira dela seu catiter conttaditério e consetvador, em funcio mesmo de ndo ter sompido com a estrututa econdémica baseada no escravismo. Outro aspecto a ressaltar telaciona-se ao caréter liberal do movimento abolicionista que também nfo desqualifica sua contribuicéo na lata pela cmancipagéo dos negros no Brasil, jé que denunciou o descumprimento legal de uma série de diteitos desconhecido pelos escravos, negados por uma elite oligirquica, monarquista e conservadota De passagem pela Repiblica de 1889, constatamos, sem divida, um avango no plano politico e no plano das idéias no Brasil. Contudo, ao prio tizar a modernizacao administrativa, foram poucas as iniciativas realizadas com relagio & questio social jé presente na cena pitblica do pais; apenas algumas tentativas isoladas podem ser mencionadas, como por exemplo, as preocupagGes de Rui Barbosa com a causa operdria, claro que na linha do pensamento renovatista, pois se tratava de um catélico convicto.

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