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86 Teoria do Conhecimento
Filosofia
PERSPECTIVAS DO
CONHECIMENTO <Anderson de Paula Borges1
< www.census.gov
Perspectivas do Conhecimento 87
Ensino Médio
88 Teoria do Conhecimento
Filosofia
DEBATE
z Hume e a experiência no
processo de conhecimento
A principal obra filosófica de David Hume teve duas partes publi-
cadas em 1739 em Londres e chamava-se Tratado da Natureza Huma-
na (Treatise of Human Nature). A última parte foi publicada em 1740.
Hume tinha no momento pouco mais de 25 anos. As três partes trata-
vam, respectivamente, do “Entendimento”, das “Paixões” e da “Moral”.
Hume esperava que sua obra repercutisse nos meios filosóficos londri-
nos, mas a recepção foi fria e desdenhosa. Cerca de nove anos mais
< www.wga.hu
tarde Hume publica o texto Investigação Acerca do Entendimento Hu-
mano. Trata-se de uma versão mais popular do conteúdo do primei-
ro livro do Tratado. Na seção II da Investigação Hume diz que as per- < David Hume (1711-1776)
cepções podem ser divididas em duas classes: as menos fortes são as
idéias ou pensamentos. A outra categoria de percepções recebe o nome
de impressões. Hume dá um sentido bastante amplo ao termo: “(...) pe-
lo termo impressão, entendo, pois, todas as nossas percepções mais vi-
vas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos
ou queremos.” (HUME, 1973).
Hume diz que aquelas percepções chamadas “fracas”, que são as
idéias, são originadas a partir da classe de percepções “fortes”, as im-
pressões. Hume não diz o que exatamente ele entende por “forte” nes-
se contexto. Ele pretende mostrar que os pensamentos são sensações
que perderam a conexão imediata, atual, com o objeto causador da sen-
Perspectivas do Conhecimento 89
Ensino Médio
ção constante entre elas. (...) Como não se pode imputar ao acaso essa co-
nexão que se mantém constante num número infinito de casos, a existência
da relação causal é manifesta e só resta determinar o que é causa do quê.
< Bolas de bilhar.
(...) O segundo argumento procede pelo caminho inverso, partindo da au-
sência de impressões quando se tem um defeito nos órgãos dos sentidos
que os impede de funcionar. Nos cegos ou surdos, há não apenas a au-
sência de impressão, como também a da idéia correspondente. (...) Assim,
mostra-se que, sem a impressão, não há idéia e, com a impressão, tem-se
a idéia correspondente.” (SMITH, 1995)
90 Teoria do Conhecimento
Filosofia
ATIVIDADE
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A influência da filosofia de Kant foi, e continua sendo, tão profunda e tão
vasta a ponto de converter-se em algo imperceptível. A investigação filosó-
fica, no âmbito das tradições “analítica” e “continental”, é impensável sem
os recursos lexicais e conceituais legados por Kant. Mesmo fora da filoso-
fia, nas humanidades, ciências sociais e ciências naturais, os conceitos e
estruturas de argumentação kantianos são ubíquos. Quem quer que exerça
< Kant (1724-1804).
a crítica literária ou social está contribuindo para a tradição kantiana; quem
quer que reflita sobre as implicações epistemológicas de sua obra descobri-
rá estar fazendo-o dentro dos parâmetros estabelecidos por Kant. Com efei-
to, muitos debates contemporâneos, em teoria estética, Literária ou política,
mostram uma peculiar tendência para converter-se em discussões em torno
da exegese de Kant. Em suma, nos menos de 200 anos desde a morte de
seu autor, a filosofia kantiana estabeleceu-se como indispensável ponto de
orientação intelectual.. (CAYGILL, 2000).
Perspectivas do Conhecimento 91
Ensino Médio
Até agora se supôs que todo o nosso conhecimento tinha que se regu-
lar pelos objetos; porém, todas as tentativas de mediante conceitos estabe-
lecer algo a priori sobre os mesmos, através do que o nosso conhecimen-
to seria ampliado, fracassaram sob essa pressuposição. Por isso tente-se
ver uma vez se não progredimos melhor nas tarefas da Metafísica admitin-
do que os objetos têm que se regular pelo nosso conhecimento, o que as-
sim já concorda melhor com a requerida possibilidade de um conhecimento
a priori dos mesmos que deve estabelecer algo sobre os objetos antes de
nos serem dados.(KANT, 1996, p. 39)
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Filosofia
Kant diz que “até agora se supôs que todo o nosso conhecimento tinha
que se regular por objetos”, ele está lembrando toda uma tradição que
descrevia o conhecimento como resultado da relação entre uma cons-
ciência (o sujeito) e uma realidade (objetos, eventos).
O passo de Kant, análogo ao projeto copernicano, como ele mes-
mo diz em seguida no Prefácio, é imaginar algo como a terra que gi-
ra sobre seu próprio eixo, criando a ilusão de que os objetos do pon-
to de vista da terra estão em movimento. Na consciência, diz Kant, é a
mesma coisa. É a razão humana que, girando à velocidade da necessi-
dade do saber, dá forma, aspecto e conceitos aos objetos. Desse modo,
lá onde julgamos saber como funciona o universo, na verdade realiza-
mos juízos possíveis dentro dos limites do saber que possuímos.
ATIVIDADE
z Kant e o iluminismo
Nos séculos XVI e XVII países como Inglaterra, Holanda e França
foram palco de uma revolução cultural chamada Iluminismo. Os ele-
mentos principais do Ilumismo foram: valorização da razão, valoriza-
ção do questionamento, da investigação e da experiência como forma
de conhecimento; crença nas leis naturais, crença nos direitos naturais;
crítica ao absolutismo, ao mercantilismo e aos privilégios da nobreza e
do clero; defesa da liberdade política e econômica e da igualdade de
todos perante a lei; crítica à Igreja Católica, apesar de se manter a fé
em Deus (cf. FILHO, 1993)
O iluminismo gerou a primeira Enciclopédia. Como nos conta o his-
< Michel. V. L. L. Diderot (1713-
toriador que estudou a trajetória econômica e editorial da Enciclopé- 1784) . Museu do Louvre, Paris.
dia, Robert Danton, quando os franceses fizeram a primeira impressão
da obra (1751), logo perceberam que se tratava de uma empresa “pe-
rigosa”:
Perspectivas do Conhecimento 93
Ensino Médio
z Kant e a física
Kant fez uma contribuição importante para o ramo da física quando
expôs os conceitos de espaço e tempo a partir da subjetividade humana.
Para Kant o conceito de espaço é uma noção particular do indivíduo
humano. É uma noção a priori, isto é, com essa representação pode-
mos visualizar coisas, nos situar num contexto ou adquirir habilidades
cinéticas, como a capacidade de correr, praticar esportes, etc.
Kant escreveu que o espaço é uma condição de possibilidade de
toda experiência sensível. Sem o conceito de espaço eu não poderia
situar nada espacialmente. Isso quer dizer que o conceito é inerente
ao ser humano.
No que se refere ao tempo, kant diz que o ser humano classifica fa-
tos, coisas e eventos como simultâneos ou sucessivos porque já pos-
sui em sua estrutura de pensamento o conceito de tempo. Exemplo:
se eu não tivesse o conceito de tempo como inerente ao meu modo
de pensar não me poderia compreender como adolescente ou adulto
“agora”. Não saberia, por exemplo, fazer a distinção entre estágios ou
fases da existência.
Essa concepção está bem próxima das noções de espaço e tempo
defendidas por Newton (1642-1727). Para Newton o espaço e o tempo
são absolutos, isto é, o espaço é sempre o mesmo em todo o universo,
< http://web.hao.ucar.edu
ATIVIDADE
z Referências
DARNTON, R. O Iluminismo Como Negócio. São Paulo: Companhia
das Letras, 1996.
FILHO, Milton B. B. História Moderna e Contemporânea. São Paulo,
Scipione.1993.
HUME, David. Investigação Sobre o Entendimento Humano. São Pau-
lo: Abril Cultural, 1973 (col. Os Pensadores).
KANT. Crítica da Razão Pura. Trad. Valério Rohden e Udo Baldur Moos-
burger. São Paulo : Nova Cultural, 1987-8
KANT. Dissertação de 1770. Carta a Marcus Herz. Tradução, apresen-
tação e notas de Leonel Ribeiro dos Santos e Antonio Marques. Lisboa : IN/
CM, F. C. S. H. da Univ. de Lisboa, 1985.
NEWTON, I. Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, trechos es-
colhidos, Nova Cultural, 1987 (Os Pensadores).
SMITH, P. J. O Ceticismo de Hume. São Paulo: Loyola, 1995.
ANOTAÇÕES
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