Arquivo Pessoa

http://arquivopessoa.net/textos/1470

Fernando Pessoa

[Carta a Ophlia Queiroz 11 Set. 1929]

Ophelinha: Gostei do corao da sua carta, e realmente no vejo que a fotograa de qualquer meliante, ainda que esse meliante seja o irmo gmeo que no tenho, forme motivo para agradecimento. Ento uma sombra bbada ocupa lugar nas lembranas? Ao meu exlio, que sou eu mesmo, a sua carta chegou como uma alegria l de casa, e sou eu que tenho que agradecer, pequenina. J agora uso a ocasio e peo-lhe desculpa de trs coisas, que so a mesma coisa, e de que no tive a culpa. Por trs vezes a encontrei e a no cumprimentei, porque a no vi bem ou, antes, a tempo. Uma vez foi j h muito, na Rua do Ouro e noite; ia a Ophelinha com um rapaz que supus seu noivo, ou namorado, mas realmente no sei se era o que era justo que fosse. As duas outras vezes foram recentes, e no carro em que ambos seguamos no sentido que acaba na Estrela. Vi-a, uma das vezes, s de soslaio, e os desgraados que usam culos tm o soslaio imperfeito. Outra coisa. . . No, no nada, boca doce. . . Fernando 11/9/1929

11-9-1929 Cartas de Amor. Fernando Pessoa. (Organizao, posfcio e notas de David Mouro Ferreira. Prembulo e estabelecimento do texto de Maria da Graa Queiroz.) Lisboa: tica, 1978 (3 ed. 1994): 37.

Obra Aberta 2011-02-09 05:21