Você está na página 1de 9

ARTIGO ARTICLE 1827

Organização das práticas de atenção


primária em saúde no contexto
dos processos de exclusão/inclusão social

Primary health care organization in the context


of social exclusion/inclusion processes

Nivaldo Carneiro Jr. 1


Cássio Silveira 1

1 Departamento de Medicina Abstract This article reports on a primary health care and training center in São Paulo, Brazil,
Social, Faculdade de Ciências
and the organization of its activities based on equity and positive discrimination. Operating in
Médicas, Santa Casa de São
Paulo. Rua Cesário Motta the city center of São Paulo, the policy aims to provide health services access to certain target
Junior 61, 5 o andar, groups (homeless, sex workers, and slum-dwellers). It also raises discussion on the various forms
São Paulo, SP
of social life found in downtown areas, mainly those of vulnerable groups lacking access to pub-
01221-020, Brasil.
nicarneirojr@uol.com.br lic goods and services. The experience demonstrates the feasibility of implementing health poli-
cies based on universal access.
Key words Health Policy; Primary Health Care; Health Services

Resumo Este artigo apresenta a experiência de organização de um serviço de saúde em atenção


primária, o Centro de Saúde-Escola Barra Funda na cidade de São Paulo, que privilegiou o aces-
so dentro dos princípios da eqüidade e da discriminação positiva, criando condições de incorpo-
rar alguns segmentos que vivem na área central da cidade de São Paulo. São eles, os moradores
de rua, as trabalhadoras do sexo e a população que habita em favelas. Promove, desse modo,
uma reflexão acerca das variadas formas de vida social encontradas em áreas centrais de centros
urbanos, em particular aquelas que vivem à margem dos processos de inclusão e sofrem graus
acentuados de vulnerabilidade e marginalidade no acesso a bens e serviços. Também aponta
para a possibilidade de se implementar políticas de saúde que promovam intervenções eficazes
junto a segmentos sociais normalmente excluídos dos serviços de saúde, efetivando dessa forma
o princípio da universalização.
Palavras-chave Políticas de Saúde; Cuidados Primários de Saúde; Serviços de Saúde

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(6):1827-1835, nov-dez, 2003


1828 CARNEIRO JR., N. & SILVEIRA, C.

Introdução dimensões envolvidas no processo saúde-doen-


ça: habitação, transporte, alimentação, traba-
A construção do Sistema Único de Saúde (SUS), lho, lazer, entre outros.
a partir de 1988, garantiu em termos legais o Sabe-se que a sociedade brasileira acumula
acesso universal, igualitário e integral aos ser- anos de políticas públicas conservadoras, que
viços e ações de saúde. Os caminhos percorri- a democracia ainda é um objetivo a ser atingi-
dos até então demonstram o quão difícil tem do e que são necessárias lutas sociais cada vez
sido criar o sentido da justiça social em uma mais amplas e articuladas com os canais de par-
sociedade tão injusta e desigual como a brasi- ticipação política para que os direitos sejam al-
leira. Essa é uma tarefa complexa, principal- cançados (Cohn, 2001).
mente em tempos de importantes transforma- A característica da construção da cidadania
ções e rearticulações sociais, políticas e econô- no Brasil tem um traço forte de concessão da-
micas, em que o papel do Estado tem sido re- da pelo Estado a grupos específicos, de acordo
pensado. com os interesses das elites dominantes. “Ci-
Este artigo tem por finalidade expor expe- dadania concedida” é a denominação dada por
riências em atenção primária em saúde desen- Sales (1994), a essa maneira de estabelecer di-
volvidas no Centro de Saúde-Escola Barra Fun- reitos na nossa sociedade.
da “Dr. Alexandre Vranjac” (CSEBF), da Facul- A conquista da legitimação do SUS, expres-
dade de Ciências Médicas da Santa Casa de São so na Constituição de 1988, ainda não repre-
Paulo (FCMSCSP), dentro do contexto de cons- sentou uma real efetivação de programas que
trução do SUS, colocando em prática os princí- transformem os padrões de morbi-mortalida-
pios constitucionais da universalidade e inte- de pretendidos por meio das ações de saúde
gralidade, articulados com a eqüidade no aces- voltadas à população em geral, embora deva
so ao serviço de saúde, e criando a possibilida- ser considerado um avanço na esfera jurídico-
de de responder às demandas heterogêneas legal.
dos diferentes grupos sociais assistidos na uni- Perante essa realidade, como operar práti-
dade, tais como: moradores, trabalhadores do cas de saúde orientadas para o exercício da ci-
mercado formal e informal, população de rua, dadania? Como promover saúde para uma po-
profissionais do sexo, entre outros. pulação bastante enferma e desprovida de re-
Parte-se da constatação da não existência cursos? Como lidar com a universalidade quan-
de modelos programáticos prontos que viabili- do temos grupos populacionais sem acesso e
zem soluções imediatas a essa realidade, fato com diferentes perfis sócio-demográficos e de
que gera a necessidade de ampliar o debate so- saúde? Que instrumentos teóricos e práticos
bre as formulações conceituais, metodológicas devem ser utilizados para fornecer respostas
e acerca das novas organizações tecnológicas mais satisfatórias às demandas de saúde?
dos serviços em saúde. Tal problema passa, ne- Essas são algumas perguntas formuladas e
cessariamente, pela discussão das transforma- debatidas no cotidiano das práticas de saúde
ções, nos planos conceitual e prático, das polí- do CSEBF, inseridas por um esforço intelectual
ticas de saúde no Brasil. Em particular, sobre que orienta a procura de novas maneiras de or-
as ações em atenção primária pelos serviços de ganização tecnológica do trabalho em saúde,
saúde e a incorporação do debate sobre a no- na perspectiva da implementação de políticas
ção de exclusão social. setorial e intersetorial equânimes e com fortes
traços de discriminação positiva.
Neste sentido, promover a inclusão social
A atenção primária em saúde significa tomar como recurso teórico-concei-
tual a categoria eqüidade. A eqüidade nas im-
O SUS é resultado de um movimento social que plementações de políticas significa não tratar
há muito vem lutando por uma sociedade me- de forma igual os desiguais, uma vez que a idéia
nos desigual, combatendo as iniqüidades no de igualdade não se sustenta em si, mas é im-
acesso às ações e aos serviços de saúde, na pers- pregnada de valores morais e historicamente
pectiva da prevenção da doença e na promo- contextualizada (Rawls, 1992; Vita, 1992). As-
ção da saúde, esta entendida como direito do sim, a eqüidade promoverá ações aos grupos
cidadão e dever do Estado para todos. diferenciados em suas demandas e necessida-
Desse modo, o SUS guarda nos seus princí- des de diferentes maneiras, organizando pro-
pios o ideário do resgate da cidadania, reco- gramas que privilegiem alguns grupos popula-
nhecendo que, para alcançar seus objetivos, é cionais identificados como mais despossuídos
necessário implementar políticas e correspon- (Porto, 1995), caminho que tem demonstrado
dentes programas que contemplem as várias uma série de desafios. Entre eles podemos des-

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(6):1827-1835, nov-dez, 2003


ORGANIZAÇÃO DAS PRÁTICAS DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE 1829

tacar: acordar no conjunto dos trabalhadores mária, cuja finalidade é incluir segmentos não
do serviço e nos usuários, em geral, ações que assistidos pelas políticas em saúde, têm sido ex-
privilegiem alguns grupos sociais em detri- perimentadas no território nacional.
mento de outros; manter o preceito constitu- Portanto, é no contexto urbano de uma
cional da universalidade na assistência; mane- grande metrópole, como é o caso da cidade de
jar um instrumental teórico e metodológico São Paulo, que se insere o CSEBF, desenvolven-
para identificar quais os grupos populacionais do práticas de atenção primária em saúde em
a ser atingidos; e formular tecnologias adequa- uma realidade urbana heterogênea e plena de
das para suas necessidades. relações sociais complexas que é a região cen-
O nível de atenção primária em saúde tem tral do Município de São Paulo. Alguns segmen-
se mostrado um campo fértil no desenvolvi- tos sociais que ocupam espaços na área central
mento e incorporação de novas formas de or- têm recebido desse serviço ações específicas,
ganização da assistência à saúde. Desde a Con- cuja finalidade é poder ofertar tecnologias que
ferência de Alma Ata em 1978, este nível de efetivamente saibam reconhecer problemas
atenção foi colocado como uma estratégia de em saúde, assim como dar respostas a estes. A
reorientação dos sistemas de saúde, na pers- particularidade desses segmentos, a exemplo
pectiva da diretriz “saúde para todos no ano dos moradores de rua, requer um conjunto de
2000” (Paim, 1999). ações especiais, que envolvem desde a capaci-
Segundo Elias (2001), a divisão entre os ní- tação dos agentes de saúde até a organização
veis de atenção primário, secundário e terciá- do processo de trabalho.
rio é uma forma abstrata de conceber o siste-
ma de saúde, diferenciando-os de acordo com
o grau de incorporação de tecnologia material O contexto urbano – território
e de especialização de seus recursos humanos. de inclusão e exclusão social
A atenção primária constitui a instância de me-
nor grau de incorporação destes elementos. A definição de cidade está nas origens dos fe-
Autores como Schraiber & Mendes-Gonçal- nômenos de urbanização que pressupõem a
ves (1996) e Merhy (1997), apontam para a espe- construção de áreas centrais e periféricas, nas
cificidade tecnológica do trabalho em saúde na quais as pessoas vivem, trabalham, moram,
atenção primária, ou básica, como um impor- adoecem e morrem. Desde o seu surgimento,
tante processo de produzir saúde, pois é nesse as cidades já se constituíam como espaços nos
espaço onde há possibilidade mais efetiva da quais conviviam diferentes classes sociais e ati-
promoção da autonomia do cuidado em saúde, vidades econômicas.
visto que essa modalidade de serviço está me- A preocupação com a cidadania, com a de-
nos aprisionada ao trabalho médico restrito. mocratização e, principalmente, com o aumen-
No Brasil, algumas experiências realizadas to da violência e da pobreza nas cidades vem
até então, cujas ações visam a dar cobertura à reforçando o interesse pela pesquisa sobre a
saúde da população por meio de programas ou questão urbana e a problemática dos segmen-
formas variadas de assistência dentro dos prin- tos que convivem no mesmo espaço, seja pela
cípios doutrinários e organizacionais do SUS, moradia ou pelo trabalho (Kowarick, 1995). In-
indicam os caminhos tomados na construção clui-se, neste caso, a busca de conhecimentos
do mesmo. Na atenção primária em saúde, por sobre as estratégias de sobrevivência dos vários
exemplo, foram implementados em boa parte grupos que vivenciam processos amplos de ex-
do território nacional o programa de agentes clusão econômica, social, política e cultural.
comunitários de saúde e o programa de saúde No caso particular de São Paulo, Santos
da família, na tentativa de estender ações bási- (1994) caracteriza a região metropolitana co-
cas em saúde aos segmentos da população até mo um espaço que apresenta uma acentuada
então sem acesso aos serviços de saúde. Os dois fragmentação social expressa em uma compo-
programas desdobraram-se, primeiramente, sição populacional diferenciada e que abriga a
em projetos regionais e, posteriormente, muni- convivência de diversas formas de produção,
cipais, assumindo configurações variadas den- distribuição e consumo. Por isso mesmo, é uma
tro da orientação de privilegiar as necessidades área onde se revelam inúmeros conflitos, em
em saúde de cada localidade ou região do país, uma coexistência cujos sentidos confundem-
segundo os princípios constitucionais. Ocorre se com os interesses pela ocupação de espaços
que, mesmo com a expansão de ações básicas públicos, com a delimitação dos espaços priva-
em saúde no país, ainda que muitas vezes insti- dos, com as trocas comerciais, com a prestação
tuídas sem o acompanhamento de processos de uma infinidade de serviços. No mesmo sen-
avaliativos, outras experiências em atenção pri- tido, só que incorporando o debate sobre a cul-

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(6):1827-1835, nov-dez, 2003


1830 CARNEIRO JR., N. & SILVEIRA, C.

tura, Canevacci (1993) chama a atenção para o ministrativos. Destes, dez constituem a região
caráter fragmentário, de justaposição confli- central: Sé, República, Santa Cecília, Bom Re-
tuosa e para o sincretismo cultural que as gran- tiro, Pari, Brás, Cambuci, Liberdade, Consola-
des metrópoles apresentaram na última déca- ção e Bela Vista. Segundo o Censo de 2000, há
da – as “cidades polifônicas”. 413.896 habitantes nessa região, sendo o distri-
O centro histórico da cidade de São Paulo to de Santa Cecília o mais populoso (71.179 ha-
demonstra características evidentes de po- bitantes) e o do Pari o menos habitado, com
pularização, empobrecimento e diversificação 14.824 habitantes (IBGE, 2000). Esses dez dis-
quando comparado ao centro tradicional do tritos ocupam uma área geográfica de 32,6km 2,
início do século. Em meados das décadas de 50 2,2% da área do município (1.509km 2 ).
e 60, começou a exibir sinais de deterioração, A zona central aglutina grande parte dos ser-
com a presença do comércio informal, da vio- viços de diferentes ramos de atividades, atrain-
lência e da pobreza. Essa tendência acentuou- do volumosos segmentos populacionais que a
se nas décadas de 70 e 80, chegando aos anos utilizam como local de consumo, moradia e/ou
90 com uma situação de extrema heterogenei- trabalho. O traçado da malha viária da cidade
dade entre os vários grupos sociais que ali con- favorece esse fluxo, concentrando na região os
vivem no dia-a-dia e que demandam serviços principais troncos rodoviário, ferroviário e me-
aos recursos existentes no local e nas áreas troviário.
mais próximas (Frugoli Jr., 1995). Segundo o ranking do Mapa da Exclusão/
A heterogeneidade e deterioração determi- Inclusão Social da Cidade de São Paulo 2000
nam, por sua vez, uma segregação espacial en- (Sposati, 2000), os dez distritos administrativos
tre pobres e ricos, centro e periferia, e uma di- da área central estão em situação mediana em
visão de “pedaço” entre os diversos grupos, que relação aos demais. Todavia, há diferenças en-
autores como Maffesoli (1987), denominam de tre eles, podendo ser, assim classificados: (a)
“tribos”, estabelecendo redes de relações so- melhores condições – Bela Vista, Cambuci e
ciais e tornando possível a própria cidade. Nes- Consolação; (b) médias condições – Bom Reti-
ses “pedaços”, as necessidades individuais con- ro, Liberdade, Pari e Santa Cecília; (c) piores
jugam-se às expectativas e às possibilidades de condições – Brás, República e Sé.
inserção social, levando à construção de “iden- Nesse diagnóstico, merecem ser feitos al-
tidades” em meio às privações e desigualdades guns destaques: a presença marcante de corti-
de oportunidades (Magnani, 1984). As desigual- ços como importante característica habitacio-
dades sócio-econômicas, a incongruência en- nal da região e os núcleos recentes de favelas e
tre os anseios e as condições concretas para sa- de população de rua. Esses são alguns aspectos
tisfazê-los, além de influenciar as diferentes que marcam definitivamente situações de ex-
experiências de adoecer e morrer entre grupos clusão social, que serão abordadas posterior-
populacionais, são ainda responsáveis pelas mente neste texto.
condições de estresse e problemas de saúde Estudo realizado pela Secretaria Municipal
mental (Nakamura, 1996). do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade,
Os estudos da área de saúde, mesmo com a da Prefeitura do Município de São Paulo, para
preocupação de definir um território para o ano de 2000 (São Paulo, 2002), classificou es-
atuação, não têm incorporado essa problemá- ses distritos de acordo com o Índice de Desen-
tica. No conjunto da população local, chega-se volvimento Humano (IDH) em três grupos: mé-
a definir grupos prioritários para a atenção, dio (Consolação, Bela Vista, Liberdade e Santa
considerando sua maior vulnerabilidade às pa- Cecília), baixo (Bom Retiro, Brás, República e
tologias, mas não se chega a constituir mode- Cambuci) e muito baixo (Sé e Pari).
los de atenção que articulem respostas diferen-
tes às demandas de grupos sociais heterogê-
neos, que dividem o mesmo espaço territorial, O CSEBF: características do serviço
econômico e cultural. e de sua área de abrangência

O CSEBF tem por objetivos: prestar assistência


Apontamentos sobre as condições à saúde, formar e capacitar recursos humanos
de vida na área central da Cidade em saúde e desenvolver investigações voltadas
de São Paulo para o campo da saúde coletiva, especialmente
no que se refere à formulação de novas tecno-
De acordo com a Lei Municipal n o 11.220 (São logias em atenção primária em saúde (FAVC/
Paulo, 1992), de 20 de maio de 1992, o Municí- Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de
pio de São Paulo é dividido em 96 distritos ad- São Paulo/SES-SP, 2001).

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(6):1827-1835, nov-dez, 2003


ORGANIZAÇÃO DAS PRÁTICAS DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE 1831

A área de abrangência do CSEBF estende- e, conseqüentemente, ao CSEBF: empresas do


se por um território pertencente aos distritos setor terciário da economia passaram a ocupar
administrativos da Barra Funda, do Bom Retiro os espaços outrora habitados por antigos mo-
e de Santa Cecília, cobrindo uma população radores. Essa transformação foi impulsionada,
de aproximadamente 32 mil habitantes (IBGE, principalmente, pelo processo de reorientação
2000). urbana ocorrido na Barra Funda, com a insta-
A separação em distritos administrativos lação do Terminal Intermodal (sistemas metro-
obedece a uma divisão formal, pois as áreas ci- viário, ferroviário e rodoviário) e do Memorial
tadas são contíguas, tendo dinâmicas sócio-ur- da América Latina, caracterizando o bairro co-
banas semelhantes. Neste sentido, a região cen- mo um local de serviços e, desse modo, asse-
tral da cidade de São Paulo desponta como es- melhando-se à dinâmica da urbanização da
paço de destaque na análise e diagnóstico para área central de São Paulo.
o planejamento e as ações de saúde do serviço, Naquele momento, percebeu-se a necessi-
procurando, desse modo, entender as diferen- dade da estruturação de um programa de saúde
tes demandas e as várias possibilidades de do trabalhador em nível de atenção primária.
identificação das necessidades em saúde a ser Realizou-se um censo dos estabelecimentos co-
trabalhadas. merciais da região, para a obtenção de dados
Tradicionalmente, o CSEBF tem assistido quanto ao ramo de atividade, riscos potenciais,
os segmentos da população que habita a re- números de empregados, entre outros. Foram
gião, assim como trabalhadores do comércio, elaborados prontuários por empresa – “ficha
serviços e indústria existentes na área. O apa- empresa”, contendo a relação dos empregados.
recimento de novos grupos sociais, tais como Portanto, moradores e trabalhadores do
moradores de rua, imigrantes bolivianos, am- mercado formal são os dois grandes grupos po-
bulantes e profissionais do sexo, tem suscitado pulacionais que o CSEBF vem atendendo por
a necessidade de formular novas abordagens meio da assistência médica individual ou das
(individuais e coletivas) em saúde. ações de saúde pública, dentro do modelo as-
Essas novas abordagens conduzem, neces- sistencial da programação em saúde.
sariamente, a mudanças internas na organiza- Usuários que não se enquadram em um
ção, afirmação evidenciada, primeiramente, desses dois grupos são assistidos no pronto-
pela criação de um conjunto de reflexões com atendimento (PA). Suas queixas são acolhidas e
os agentes de saúde, especialmente sobre as procura-se reorientá-los para serviços de saú-
mudanças na dinâmica social, isto é, sobre as de localizados próximos às suas residências.
novas formas de interação e sociabilidade que Nos últimos anos, tem aumentado no PA a
vão se desenvolvendo na área central da cida- demanda oriunda de população não matricu-
de e suas conseqüências para a saúde da popu- lada – moradores de rua, migrantes em situa-
lação (Silveira, 1999). ção irregular no país, profissionais do sexo, en-
Em 1968, quando de sua instalação, foi rea- tre outros. Para o serviço, estes são os novos su-
lizado um censo demográfico da área, traçan- jeitos sociais que, ao aparecerem em cena, tra-
do um diagnóstico das condições de vida e zem singularidades muito distintas, não se
saúde da população residente, o qual objetiva- adequando às rotinas programáticas estabele-
va servir de instrumento para a concepção e cidas para os usuários tradicionais.
organização do modelo assistencial a ser ope- A heterogeneidade de necessidades de saú-
racionalizado. de desses grupos tem exigido respostas dife-
O modelo assistencial instalado foi a pro- renciadas por parte de um serviço que, tradi-
gramação em saúde (Nemes, 1990). Esse mo- cionalmente, vinha trabalhando com uma de-
delo serviu, em muitos casos, como campo de manda que se enquadrava na rotina das con-
experimentação para que a Secretaria de Esta- sultas programáticas, nas orientações preven-
do da Saúde de São Paulo (SES-SP) pudesse im- tivas e no seu “fichamento” por meio das ma-
plementar programas em sua rede de serviços. trículas, mediante comprovante de residência
No início, definiu-se como população-alvo ou de trabalho (Marsiglia & Carneiro Jr., 1997).
das ações em saúde os moradores da região. Como trabalhar com essa diversidade? Que
Foram cadastrados no serviço em prontuários tecnologias são necessárias para abordar e in-
do tipo “ficha família”, tendo acesso às modali- tervir na perspectiva da saúde coletiva para tais
dades de assistência à saúde da unidade, por grupos populacionais? Que perfil de recursos
meio de consultas agendadas e fora do agenda- humanos é exigido para trabalhar com essa
mento, no pronto-atendimento. realidade específica?
A partir da segunda metade da década de Diante da realidade sócio-demográfica da
80, uma nova realidade apresentava-se à região área de inserção do serviço, tem-se elaborado

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(6):1827-1835, nov-dez, 2003


1832 CARNEIRO JR., N. & SILVEIRA, C.

modos de organização do trabalho em saúde, do outro como portador de direitos. Nesta pers-
cuja grande preocupação é poder compreen- pectiva, classifica a exclusão em três formas de
der e dar respostas aos problemas de saúde dos expressão: (a) discriminação de qualquer or-
vários grupos populacionais inseridos desi- dem – racial, sexual, religiosa, entre outras; (b)
gualmente na estrutura social. exclusão de direitos – os desempregados, os
Neste sentido, a problematização da noção trabalhadores do mercado informal etc. e (c)
de exclusão social tem-se colocado como cen- nova exclusão – população de rua, grupos po-
tral nesse processo, buscando seu melhor en- pulacionais sem assistência nenhuma, entre
tendimento para que se possa formular novos outros.
modos de organização das práticas que resul- O mais grave nessa caracterização é que, no
tem em eficácia social. caso brasileiro, “(...) o nosso processo de desen-
volvimento tende a produzir um novo tipo de
exclusão social, cujo resultado será a transfor-
“Exclusão/inclusão social” e modos mação do incluído incômodo, o pobre que al-
de organização do trabalho em saúde cançou o estatuto de eleitor, no excluído perigo-
so, desnecessário do ponto de vista da economia
Apesar das críticas de diversos autores sobre o (...) e ameaçador, do ponto de vista social, pois
uso do termo exclusão social para designar si- transgressor das leis” (Nascimento, 1994:44).
tuações desfavoráveis nas condições sociais e Tal debate lança a possibilidade de com-
econômicas de indivíduos e grupos sociais, a preensão da situação de determinados grupos
discussão em torno do termo exclusão social populacionais que habitam a área central da
assumiu contornos de um debate profícuo so- cidade de São Paulo, colocando-os, dentro de
bre a realidade social no capitalismo contem- uma perspectiva teórica específica, na situação
porâneo. de exclusão social, de desfiliação, ou eviden-
A principal crítica a essa forma de nominar ciando precárias formas de inserção institucio-
situações de inserções desfavoráveis na estru- nal e social. Assim, pode-se observar que a po-
tura social, as quais geram modos diferencia- pulação adulta de rua que ocupa os logradou-
dos de acesso aos bens sociais, é que tal deno- ros do centro da cidade – as profissionais do
minação cristaliza uma situação, tornando-a sexo que ocupam espaços públicos, além dos
estática no tempo e no espaço. Perde-se, por- moradores de favelas construídas sob os viadu-
tanto, a noção de dinâmica, característica cons- tos ou nas margens das ramificações hídricas
titutiva da noção de exclusão. Assim, “falar em que cruzam a cidade – constitui expressão de
termos de exclusão é rotular com uma qualifi- uma situação que promove novas formas de
cação puramente negativa que designa a falta, sociabilidade.
sem dizer no que ela consiste nem de onde pro- No contexto das várias atividades de pres-
vém” (Castel, 1997a:19). Ou seja, com essas li- tação de serviços organizadas pelo CSEBF, ob-
mitações perde-se a oportunidade de ampliar servou-se que o modelo estruturado não possi-
o potencial explicativo da noção, já que a mes- bilitava a inserção dos segmentos acima cita-
ma encerra um caráter generalizador ao enten- dos. Neste sentido, um conjunto de atividades
dimento de processos que conduzem alguns que possibilitassem a reflexão sobre as especi-
segmentos sociais menos favorecidos a viver ficidades de cada segmento social, e o encami-
em condições precárias, seja em decorrência nhamento das demandas e necessidades colo-
da diminuição dos níveis de renda, seja pela cadas ao serviço passou a ser desenvolvido na
perda de vínculos societários que mantêm o unidade.
elo de ligação entre familiares e outras formas Inicialmente, formou-se um grupo de estu-
associativas da vida social. dos coordenado pela direção da unidade. Os
Essa preocupação teórico-metodológica debates circunscreviam as potencialidades e li-
também está presente no pensamento de au- mites da aplicação da noção de exclusão social,
tores brasileiros, como Martins (1997), que co- em suas várias acepções, e, o que era funda-
loca a discussão no plano da inclusão precária, mental, seus desdobramentos no conjunto de
instável e marginal, obedecendo à própria lógi- reflexões promovidas pelo campo de estudos
ca do mundo capitalista. em saúde. Com isso, criou-se a oportunidade
Por sua vez, Nascimento (1994) chama a de refletir sobre as práticas internas, o desen-
atenção para a questão da exclusão social pelo volvimento de novas formas de atendimento
significado que o termo pode assumir de rup- que incorporassem dinâmicas sociais peculia-
turas na coesão dos vínculos sociais, ou seja, res a cada segmento e, ainda, passaram a ser
das fraturas criadas nos laços de solidariedade, construídos e executados alguns projetos de
levando a processos de não reconhecimento pesquisa que ampliassem os conhecimentos

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(6):1827-1835, nov-dez, 2003


ORGANIZAÇÃO DAS PRÁTICAS DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE 1833

fomentados na unidade (Andrade & Silva, 1999; de lidar com situações de agravos à saúde e a
Carneiro Jr. et al., 1998; Maezuka et al., 1999). utilização dos serviços de saúde.
Um dos grupos que mais se destacam no Com relação aos cuidados com os agravos à
debate sobre a exclusão social é a população de saúde, percebe-se a valorização, ou não, de cer-
rua. Nascimento (1994), chama-os de novos ex- tas enfermidades ou riscos de adoecer, desde
cluídos, aqueles que “não têm direito de ter di- que não impeçam a locomoção, no caso da po-
reitos”. Fenômeno marcadamente característi- pulação de rua. No caso das profissionais do se-
co de regiões centrais de metrópoles, tem-se xo, desde que os agravos não atrapalhem suas
apresentado como um fenômeno social quali- atividades de trabalho, quando apresentam
tativamente diferente nessas últimas décadas, doenças sexualmente transmissíveis sentidas.
passando de grupos constituídos de migrantes Na segunda situação, em relação à utiliza-
nordestinos, para serem cada vez mais grupos ção dos serviços de saúde, esses segmentos se-
de indivíduos originários da região sudeste, guem as propostas terapêuticas de maneira as-
principalmente do Estado de São Paulo, com sistemática e esporádica. Como exemplo desta
níveis mais elevados de escolarização e históri- situação, há o não comparecimento aos agen-
co de vida que inclui atividades de trabalho. damentos efetuados na unidade de saúde e,
Ainda que a questão econômica seja a princi- também, o uso irregular da medicação prescri-
pal explicação para o fato de estarem vivendo ta. Ambos os grupos apresentaram estas ten-
na rua, havendo hoje famílias morando em lo- dências.
gradouros públicos, várias causas de ordem fa- Um outro grupo social que se distingue dos
miliar e de doença também contribuem para a dois anteriores, mas com alta vulnerabilidade
trajetória de ir para a rua. Define-se como po- social, e que nos tem trazido questões de inter-
pulação em situação de rua aqueles que utili- face com o processo de exclusão social, são os
zam a rua como lugar de trabalho e moradia moradores da Favela dos Gatos – localizada às
(Rosa, 1995; Vieira et al., 1992). margens do rio Tamanduateí, no distrito admi-
Em 1996, pesquisa realizada constatou al- nistrativo do Bom Retiro. Possui cerca de tre-
gumas situações impressionantes em relação zentas unidades habitacionais, sendo uma boa
às formas de contato dessa população com os parte do tipo palafita, residindo lá por volta de
serviços de saúde, as quais revelaram iniqüida- mil habitantes. As seguintes características nos
des bastante claras no acesso à assistência, tais chamam a atenção: é um agrupamento habita-
como: exigência de comprovante de residência cional que reúne grupos heterogêneos; moram
para matrícula em serviços de saúde, maus tra- em uma área de invasão, com precárias condi-
tos no atendimento em decorrência de aspec- ções sanitárias e sem infra-estrutura de urba-
tos relacionados à ausência de cuidados de hi- nização, constituindo uma área de risco; apre-
giene pessoal e ao alcoolismo, dificuldade para sentam processos de rupturas sociais muito vi-
internações em hospitais de retaguarda por síveis, com sérias ocorrências de casos de vio-
não possuírem famílias que se responsabilizas- lência urbana, motivadas, principalmente, pe-
sem por eles, entre outras (Carneiro Jr. et al., lo tráfico de drogas. Por meio da assistência à
1998). saúde, principalmente às mulheres gestantes e
Muito próximo a esse grupo, mas com suas às crianças, têm sido estabelecidos contatos
particularidades, estão as mulheres que se com esses moradores, com o intuito de enten-
prostituem na região da Luz. Sujeitas à violên- der sua dinâmica social e construir pontes pa-
cia por parte de clientes, policiais e comercian- ra uma possível atuação, no sentido de buscar,
tes, entre outros, submetem-se, muitas vezes, a junto com a comunidade, outras formas de in-
relações sexuais em troca de uma noite em ho- serção desses indivíduos (Maezuka et al., 1999).
tel da redondeza, para não ficarem na rua. Des- Podemos considerar os moradores da Fave-
se modo, não se reconhecem como pertencen- la dos Gatos situados no que se denomina de
tes ao mesmo processo de inserção precária e “zona de vulnerabilidade”, caracterizada pela
de discriminação do grupo população de rua, existência de trabalhos precários e inserção so-
demonstrando também uma dinâmica dife- cial frágil. Essa zona “(...) ocupa uma posição
renciada em relação às formas do adoecer (An- estratégica. É um espaço social de instabilidade,
drade & Silva, 1999). de turbulência (...). É a vulnerabilidade que ali-
O que se percebe nas características desses menta a grande marginalidade ou a desfilia-
dois grupos sociais são constituições de modos ção” (Castel, 1997b:25-26).
particulares de vida que, de alguma forma, se Para esses três grupos sociais, a organiza-
articulam com o todo social. Podemos citar, ção da assistência à saúde pelo CSEBF tem si-
entre outras, duas situações que ilustram cer- do realizada de maneira que se possa respon-
tas particularidades desses grupos: a maneira der e/ou encaminhar as demandas de saúde

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(6):1827-1835, nov-dez, 2003


1834 CARNEIRO JR., N. & SILVEIRA, C.

apresentadas por eles, ou identificadas no mo- vela-se como uma metáfora, ao mesmo tempo
mento da interação entre nossa equipe de saú- individual e coletiva, pois o próprio centro da
de e indivíduos portadores de alguma queixa. cidade pode ser visto dessa maneira, sofrendo
Ou seja, procura-se resolver, o máximo possí- processos equivalentes, em um jogo especular
vel, o problema, seja nas esferas do psíquico e de infinitas ressonâncias.
do biológico – aplicação de medicamentos, co- Para Gerschman (1995:31), “a incorporação
leta de exames, atendimentos individuais, en- da eqüidade na concepção da democracia e a
tre outros –, seja na esfera da assistência soci- maneira de implementá-la (...) [parecem] ser
al – encaminhamentos para equipamentos so- uma das questões substantivas que hoje se colo-
ciais, orientação previdenciária etc. Também cam para o Brasil e outros países que atravessa-
foram organizadas inserções nas agendas dos ram regimes autoritários e se encontram com
profissionais para que se privilegiassem as enorme parcela de sua população no limite da
oportunidades de contato com o serviço, possi- pobreza absoluta”. Portanto, esse tem sido um
bilitando, dessa maneira, a criação de vagas, o grande desafio e uma grande dificuldade para
que não ocorre, em geral, com os outros segui- as políticas públicas, especialmente as de saú-
mentos populacionais, que têm de agendar de, com seu ideário universalizante.
consultas, caso não seja de urgência. Assim, o Neste sentido, a experiência do CSEBF rela-
acolhimento desses grupos populacionais con- tada anteriormente, ao identificar grupos so-
figura uma forma diferenciada e prioritária, ciais em situação de vulnerabilidade e organi-
quando comparada àquela realizada com a zar o serviço na perspectiva da eqüidade do
maioria dos usuários da unidade, os quais en- acesso por meio da discriminação positiva,
tram na rotina do agendamento na forma tra- tem-se mostrado satisfatória ao incorporar em
dicional do trabalho comumente organizada sua organização tecnológica do trabalho, seg-
no serviço de saúde pública. mentos sociais em situação de exclusão social.
Mesmo reconhecendo os limites e as armadi-
lhas dessas políticas de discriminação positiva,
Considerações finais como já assinalado por Castel (1997b), que
alerta para a elevação do grau de cristalização
Ao tratar das questões de saúde relativas a es- de preconceitos, estigmas ou mesmo o risco de
ses grupos sociais “excluídos”, faz-se necessá- não ser desenvolvida a autonomia de indiví-
rio buscar as articulações possíveis, no que duos e grupos, tornando-os dependentes de po-
tange à noção de valor da vida e da saúde nes- líticas compensatórias, acredita-se ser esta
se contexto singular. Algo que permita que a uma política necessária de inclusão, que deve
ação de saúde não seja apenas pontual, no sen- ser monitorada para que sejam reconhecidos
tido de avaliar um sofrimento agudo, mas, prin- seus fatores limitantes.
cipalmente, uma ação de saúde que sirva de Este é o cenário de atuação e de problematiza-
instrumento de resgate do valor da vida e da ção, identificando os limites e as possibilida-
saúde, da cidadania, da dignidade humana e des de lidar com as políticas públicas em uma
do centro afetivo-intelectual do indivíduo. sociedade de profundas iniqüidades sociais.
Centro esse que facilmente se deteriora, den- Todavia, acreditamos ser este o nosso papel:
tro dos processos de luta pela sobrevivência, apontar, refletir e exigir que o Estado, por meio
que acabam desumanizando as relações so- de seus recursos públicos, cumpra suas fun-
ciais. Com isso, o centro afetivo-intelectual re- ções de promover a justiça social.

Referências

ANDRADE, M. C. & SILVA, J. L., 1999. DST em traba-


lhadoras do sexo: Vulnerabilidade e exclusão. In:
VI Congresso Paulista de Saúde Pública, Livro de
Resumos, p. 18, Águas de Lindóia: Associação
Paulista de Saúde Pública.
CANEVACCI, M., 1993. A Cidade Polifônica: Ensaio
Sobre a Antropologia da Comunicação Urbana.
São Paulo: Editora Nobel.
CARNEIRO Jr., N; NOGUEIRA, E. A.; LANFERINI, G.
M.; MARTINELLI, M. & AMED ALI, D., 1998.

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(6):1827-1835, nov-dez, 2003


ORGANIZAÇÃO DAS PRÁTICAS DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE 1835

Serviços de saúde e população de rua: Contri- pológicas sobre o processo de urbanização e suas
buição para um debate. Saúde e Sociedade, 7:47- conseqüências sobre a saúde mental das crian-
62. ças. Infanto, Revista de Neuropsiquiatria da In-
CASTEL, R., 1997a. As armadilhas da exclusão. In: De- fância e Adolescência, 4:52-56.
sigualdade e a Questão Social (L. Bógus, M. C. NASCIMENTO, E. P., 1994. Hipóteses sobre a nova ex-
Yazber & M. Belfiore-Wanderley, org.), pp. 15-48, clusão social: Dos excluídos necessários aos ex-
São Paulo: Educ. cluídos desnecessários. Cadernos CRH, 21:29-47.
CASTEL, R., 1997b. A dinâmica dos processos de mar- NEMES, M. I. B., 1990. Ação programática em saúde:
ginalização: Da vulnerabilidade à “desfiliação”. recuperação histórica de uma política de progra-
Cadernos CRH, 26/27:19-40. mação. In: Programação em Saúde Hoje (L. B.
COHN, A., 2001. A saúde na previdência social e na Schraiber, org.), pp. 65-116, São Paulo: Editora
seguridade social: Antigos estigmas e novos de- Hucitec.
safios. In: Saúde no Brasil: Políticas e Organização PAIM, J. S., 1999. Políticas de descentralização e
de Serviços (A. Cohn & P. E. Elias, org.), pp. 13-57, atenção primária à saúde. In: Epidemiologia &
São Paulo: Editora Cortez/Centro de Estudos e Saúde (M. Z. Rouquayrol & N. Almeida Filho,
Cultura Contemporânea. org.), pp. 489-503, 5 a Ed., Rio de Janeiro: MEDSI.
ELIAS, P. E. M., 2001. Estrutura e organização da PORTO, S. M., 1995. Justiça social, eqüidade e neces-
atenção à saúde no Brasil. In: Saúde no Brasil: Po- sidade em saúde. In: Economia da Saúde: Con-
líticas e Organização de Serviços (A. Cohn & P. E. ceito e Contribuição para a Gestão da Saúde (S. F.
Elias, org.), pp. 59-119, São Paulo: Editora Cortez/ Piola & S. M. Viana, org.), pp. 123-140, Brasília:
Centro de Estudos e Cultura Contemporânea. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
FRUGOLI Jr., H., 1995. São Paulo: Espaços Públicos e RAWLS, J., 1992. Justiça como eqüidade: Uma con-
Interação Social. São Paulo: Editora Marco Zero/ cepção política não metafísica. Lua Nova, 25:25-
Serviço Social do Comércio. 59.
FAVC (Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho)/IR- ROSA, C. M. M. (org.), 1995. População de Rua: Brasil
MANDADE DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA e Canadá. São Paulo: Editora Hucitec.
DE SÃO PAULO/SES-SP (Secretaria de Estado da SALES, T., 1994. Raízes da desigualdade social na cul-
Saúde de São Paulo), 2001. Centro de Saúde-Esco- tura política brasileira. Revista Brasileira de Ciên-
la Barra Funda: Projeto Específico para o Ano 2002. cias Sociais, 25:26-37.
São Paulo: FAVC/Irmandade da Santa Casa de Mi- SANTOS, M., 1994. Por uma Economia Política da
sericórdia de São Paulo/SES-SP. (mimeo.) Cidade: O Caso de São Paulo. São Paulo: Editora
GERSCHMAN, S., 1995. A Democracia Inconclusa: Um Hucitec/Educ.
Estudo da Reforma Sanitária Brasileira. Rio de Ja- SÃO PAULO (Município), 1992. Lei Municipal n. 11.220,
neiro: Editora Fiocruz. de 20 de maio de 1992. Institui a divisão geográfi-
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e ca da área do Município em Distritos, revoga a Lei
Estatística), 2000. Censo Demográfico 2000 . Rio n. 10.932, de 15 de janeiro de 1991, e dá outras
de Janeiro: IBGE. providências. São Paulo: Diário Oficial do Muni-
KOWARICK, L., 1995. Investigação urbana e socieda- cípio, 21 maio.
de. In: Pluralismo, Espaço e Pesquisa (E. Reis, M. SÃO PAULO (Município), 2002. Desigualdade em São
H. T. Almeida & P. FRY, org.), pp. 45-57, São Paulo: Paulo: O IDH . São Paulo: Secretaria de Desen-
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa volvimento, Trabalho e Solidariedade, Prefeitura
em Ciências Sociais/Editora Hucitec. do Município de São Paulo.
MAEZUKA, A. T.; BELLESO, M.; RIBEIRO, M. A. & SCHRAIBER, L. B. & MENDES-GONÇALVES, R. B.,
NAVES, T. M., 1999. Estudo do Projeto “Favela dos 1996. Necessidades de saúde e atenção primária.
Gatos”. São Paulo: Centro de Saúde-Escola Barra In: Saúde do Adulto: Programas e Ações na Uni-
Funda/Faculdade de Ciências Médicas da Santa dade Básica (L. B. Schraiber, M. I. B. Nemes & R.
Casa de Misericórdia de São Paulo. B. Mendes-Gonçalves, org.), pp. 29-47, São Paulo:
MAFFESOLI, M., 1987. O Tempo das Tribos: O De- Hucitec.
clínio do Individualismo nas Sociedades de Mas- SPOSATI, A. (org.), 2000. Mapa da Exclusão/Inclusão
sa. Rio de Janeiro: Editora Forense-Universitária. Social da Cidade de São Paulo 2000. São Paulo:
MAGNANI, J. G. R., 1984. Festa no Pedaço: Cultura e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/
Lazer na Cidade. São Paulo: Editora Brasiliense. Instituto Pólis/Instituto Nacional de Pesquisas Es-
MARSIGLIA, R. & CARNEIRO Jr., N., 1997. Condições paciais.
de vida e saúde na região central de São Paulo. In: SILVEIRA, C., 1999. O Significado da Prática Profis-
V Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva & Con- sional e do Ensino em uma Unidade Básica de
gresso Paulista de Saúde Pública, Livro de Re- Saúde. Tese de Doutorado, São Paulo: Faculdade
sumos, p. 21, Águas de Lindóia: ABRASCO/Asso- de Saúde Pública, Universidade de São Paulo.
ciação Paulista de Saúde Pública. VIEIRA, M. A. C.; BEZERRA, E. M. R. & ROSA, C. M. M.
MARTINS, J. S., 1997. Exclusão Social e a Nova De- (org.), 1992. População de Rua: Quem é, Como
sigualdade. São Paulo: Editora Paulus. Vive, Como é Vista. São Paulo: Editora Hucitec.
MERHY, E. E., 1997. A rede básica como uma cons- VITA, A., 1992. A tarefa prática da filosofia política em
trução da saúde pública e seus dilemas. In: Agir John Rawls. Lua Nova, 25:5-24.
em Saúde: Um Desafio para o Público (E. E. Mer-
hy & R. Onocko, org.), pp. 197-228, São Paulo: Recebido em 26 de novembro de 2002
Editora Hucitec/Buenos Aires: Lugar Editorial. Versão final reapresentada em 30 de maio de 2003
NAKAMURA, E., 1996. Algumas considerações antro- Aprovado em 18 de agosto de 2003

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(6):1827-1835, nov-dez, 2003

Você também pode gostar